• Nenhum resultado encontrado

Das terras do Sem Fim aos Territórios do Agrohidronegócio: conflitos por terra e água no vale do São Francisco

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Das terras do Sem Fim aos Territórios do Agrohidronegócio: conflitos por terra e água no vale do São Francisco"

Copied!
366
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

JOSÉ APARECIDO LIMA DOURADO

DAS

TERRAS DO SEM-FIM

AOS TERRITÓRIOS DO

AGROHIDRONEGÓCIO: conflitos por terra e água no Vale do

São Francisco (BA)

(2)

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

JOSÉ APARECIDO LIMA DOURADO

DAS

TERRAS DO SEM-FIM

AOS TERRITÓRIOS DO

AGROHIDRONEGÓCIO: conflitos por terra e água no Vale do

São Francisco (BA)

Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Geografia da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho” (FCT/UNESP), como requisito obrigatório para obtenção do título de Doutor em Geografia, com orientação do Professor Doutor Antonio Thomaz Junior.

(3)

FICHA CATALOGRÁFICA

Dourado, José Aparecido Lima.

D774d Das terras do Sem Fim aos Territórios do Agrohidronegócio: conflitos por terra e água no vale do São Francisco. - Presidente Prudente: [s.n], 2015

361 f. : il.

Orientador: Antonio Thomaz Junior

Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia

Inclui bibliografia

(4)

Faculdade de Ciências e Tecnologia Departamento de Geografia

Rua Roberto Simonsen, 305 CEP 19060-900 Presidente Prudente SP. Tel (18) 3229-5650 - Fax (18) 3221-8212

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Prof. Dr. ANTONIO THOMAZ JUNIOR

Orientador

___________________________________ Prof. Dr. CARLOS ALBERTO FELICIANO Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

__________________________________ Profa. Dra. GUIOMAR INEZ GERMANI

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

__________________________________ Prof. Dr. MARCELO RODRIGUES MENDONÇA

Universidade Federal de Goiás (UFG)

_____________________________________________ Profa. Dra. SONIA MARIA RIBEIRODE SOUZA

CEGeT/CETAS

______________________________________ JOSÉ APARECIDO LIMA DOURADO

Candidato

RESULTADO: ___________________________

(5)

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, pelo amor, dedicação e respeito.

A Ednar,

camponesa “minha” rainha e guerreira, que entre rezas e preocupações torceu para que o

sonho fosse realizado. O amor, o carinho e os cuidados, mesmo à distância, foram a força propulsora para a continuidade da caminhada. A Miguel (in memoriam),

cujos ensinamentos serão sempre lembrados. Mesmo nos momentos finais (e mais difíceis) de sua vida, ensinou-me que a coragem e a fé são fundamentais para enfrentar os desafios do cotidiano.

Aos meus irmãos e irmãs, pela ajuda irrestrita e pela torcida.

Aos amigos Jackes e Carla, pela amizade e acolhida em Irecê.

A Patrícia, Erika e Minéia, amigas maravilhosas que facilitaram, sobremodo, a pesquisa.

(6)

AGRADECIMENTOS

Ao chegar ao final dessa caminhada, faz-se necessário agradecer às pessoas que, ao seu tempo e modo, contribuíram para que tal empreitada fosse realizada. De antemão, e para me eximir da possibilidade de qualquer esquecimento, quero externar a todos os meus mais sinceros e profundos agradecimentos. Ressalto que a ausência e o recolhimento ao longo dos últimos quatro anos não foram suficientes para distanciar-me de antigas amizades, ou mesmo impedir que novas fossem construídas, muitas delas em função da própria pesquisa.

O “estar aqui” e o “finalizar a pesquisa” foram possíveis em função da ajuda

de pessoas conhecidas e, também, de muitos desconhecidos que, no desenrolar da pesquisa, foram agregados, transformando-se em braços e olhos que auxiliaram na árdua empreitada de construção da tese. Seguindo uma cronologia, agradeço àqueles que são, em verdade, a minha essência, ou seja, meus pais – “Diná” e Miguel (in

memoriam) – meu todo e a melhor parte de mim, por quem tenho um amor e admiração

imensuráveis. Exemplos de ética, dignidade, sabedoria e força, possibilitaram que eu

aprendesse a “voar”, sem, contudo, retirar a responsabilidade que as minhas escolhas

exigiam. Vocês são o exemplo de que ternura e firmeza não são antagônicas no ato de educar.

Aos meus irmãos José e Floriano, e irmãs, Maria (ou Ia), Marina, Dolores, Marilene e Fau, cada um, a seu tempo e modo, contribuíram silenciosa e significativamente para que eu estudasse e conquistasse esse sonho. Assim como eu, eles angustiaram, torceram e vibraram com essa conquista.

Aos sobrinhos e sobrinhas, cuja admiração e respeito sempre impulsionaram a minha caminhada.

Aos meus cunhados e cunhadas – irmãos e irmãs postiços –, pelo apoio. Aos amigos de Irecê, Carla e Jackes, pela acolhida em sua casa, cujo zelo e amizade fizeram com que eu os amasse como se fôssemos amigos de infância. Agrego a essa família maravilhosa, a sempre meiga e sorridente Sheilla. Vocês permitiram que minha estadia em Irecê fosse mais agradável.

(7)

sofrimento. Senti-me honrado por vivenciar momentos de alegria, (re)união e de partilha com vocês.

Ao orientador, Prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior, pela orientação e compreensão em relação aos motivos que fizeram com que eu assumisse a vaga do concurso junto à Universidade do Estado do Amazonas. Sua trajetória acadêmica e seu comprometimento político fizeram aflorar sentimentos, como respeito e admiração, ao longo desses quatro anos de orientação.

À Universidade do Estado do Amazonas, pelo apoio irrestrito para que eu desse continuidade ao processo de doutoramento.

Ao amigo Thomas Bauer, pelo apoio na reta final da elaboração da tese.

A Daiane da Costa Garcia, ou simplesmente “Dai”, pela importante ajuda

com os trâmites finais de entrega da tese.

A Helena Angélica de Mesquita, pelo incentivo incansável e carinho sempre motivador.

Ao Grupo de Pesquisa GeografAR (Geografia dos Assentamentos em Área Ruaral), pelo acolhimento e por socializar resultados de pesquisas.

Ao Núcleo de Pesquisa em Estudos Agrários, Território e Trabalho (NUPEATT), pela colaboração e, principalmente, ao bolsista Edilson Peres Holanda, pela elaboração dos fluxogramas da tese.

Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP,

principalmente à Cinthia, sempre atenciosa e ágil em nossas demandas “urgentes”.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela concessão de bolsa pelo período de seis meses.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, por socializarem o conhecimento e agregar novas perspectivas à pesquisa.

Ao Grupo CEGeT, pelos momentos de discussão, amadurecimento teórico e aprendizado.

Aos professores Marcelo Rodrigues Mendonça e Marcelo Dorneles Carvalhal que compuseram a Banca do Exame de Qualificação, pela leitura crítica e pelas valiosas contribuições dadas para a pesquisa.

(8)

Aos amigos que ganhei em Presidente Prudente: Renata Prates, Andreia, Guilherme Marini, Diógenes Rabello, Fredi, Cintia Lins, Sidney Todescato, Fernando Heck, Cacá Feliciano, Soninha, Erika Moreira e Clediane.

Aos amigos Diógenes e Ana Paula, pela hospedagem em Presidente Prudente, momentos de muita alegria e companheirismo.

A distância entre o Alto Solimões e o Pontal do Paranapanema foi, muitas

vezes, encurtada por meu “amigo agroecológico” Diógenes Rabello, a quem deleguei

muitas missões secretas, todas elas cumpridas com extrema competência. Sua ajuda foi

fundamental para a “compressão do espaço”, além de ajudar com questões de ordem

psicológica com boas doses de risadas.

A Patrícia, pela hospedagem em Petrolina, sempre recheada com muito carinho, companheirismo, simplicidade e amor. Sua colaboração foi fundamental durante as visitas ao Submédio São Francisco.

A Erika e Mineia, salitreiras guerreiras, cuja ajuda permitiu que eu tivesse acesso a pessoas e informações essenciais para a pesquisa. Em diversos momentos

vocês foram meus “olhos” e “braços” em Juazeiro.

À CODEVASF, nas pessoas de Manuel Lima e Luís Alberto, pelas entrevistas concedidas.

Aos diretores do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Rio Verde I, pelas entrevistas e por autorizar nossa participação nas reuniões dos associados.

À CPT, por disponibilizar os estudos e levantamentos realizados juntos às comunidades do Baixio de Irecê.

Ao MST, na pessoa de Paulo César, por autorizar as visitas aos acampamentos e assentamento, de maneira sempre respeitosa, gentil e acolhedora, permitindo-nos visualizar novos horizontes na luta anticapital.

Para finalizar, agradeço aos salitreiros e salitreiras, por terem disponibilizado seu tempo para contar suas histórias de vida, suas angústias, permitindo-nos conhecer por dentro os desafios enfrentados pelos camponeses caatingueiros na luta pela terra e pela água.

(9)

DOURADO, J. A. L. Das terras do sem-fim aos territórios do agrohidronegócio: conflitos por terra e água no Vale do São Francisco (BA). Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Presidente Prudente, 2015.

RESUMO

As políticas públicas voltadas para o fomento à irrigação no Nordeste brasileiro promoveram, ao longo das últimas quatro décadas, profundas transformações no espaço agrário da região semiárida. Inseridos no contexto da modernização conservadora da agricultura, os projetos de irrigação criados pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Rio São Francisco e Parnaíba (CODEVASF) transformaram-se na mola propulsora para o desenvolvimento econômico regional, estando, em muitos casos, fortemente atrelados ao grande capital e aos interesses e organismos externos, como é o caso da Política Agrícola Comum (PAC) europeia. Investimentos públicos em obras de infraestrutura hídrica, terras férteis, oferta de mão-de-obra e condições climáticas favoráveis possibilitaram a territorialização do agrohidronegócio no vale do rio São Francisco, transformando a região em mais uma “Califórnia brasileira”, com diversos projetos de

irrigação em fase de produção, de implantação ou em estudo. Com os investimentos públicos, ocorreram a valorização e a especulação das terras às margens do Velho Chico, com destaque para as regiões do Médio e Submédio São Francisco, onde estão localizados, respectivamente, os projetos de irrigação Baixio de Irecê e Salitre,

considerados “duas transposições baianas” em função dos volumes de água requeridos

para a implantação desses empreendimentos. A criação desses perímetros irrigados provocou a desterritorialização e o desterreamento de centenas de famílias camponesas, que ao longo da história vivenciaram distintos processos desterritorializantes em função das ações do Estado (construção da Barragem de Sobradinho) e da grilagem de terras nos vales dos rios Verde e Jacaré, ou ainda em função da desapropriação de terras para fins sociais. Esses novos arranjos espaciais têm ocasionado conflitos pela terra e pela água por parte dos camponeses caatingueiros, que têm assumido as trincheiras do enfrentamento ao grande capital e cujas ações apresentam-se ricas em conteúdo político na luta anticapital, tornando-se fundamentais para a construção das (Re)Existências e dos espaços de esperança.

(10)

DOURADO, J. A. L. Land worm to agrohidronegócio Territories: conflicts over land and water in the São Francisco Valley (BA). Thesis (PhD in Geography), Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita Filho". Presidente Prudente, in 2015.

ABSTRACT

Public policies aimed at fostering irrigation in northeastern Brazil have promoted over the last four decades, profound changes in the agrarian space of semiarid region. Within the context of conservative modernization of agriculture, irrigation projects created by the National Department of Works Against Drought (DNOCS) and the Development Company of the Rio São Francisco and Parnaíba Valleys (CODEVASF) became the driving force for development regional economic and is, in many cases strongly linked to big business and the interests and external bodies, such as the Common Agricultural Policy (CAP) European. Public investment in water infrastructure works, fertile land, labor, labor supply and favorable weather conditions allowed the territorialization of agrohidronegócio in the valley of the São Francisco river, transforming the region into one more "Brazilian California", with several irrigation projects in production, deployment or study. With public investment, occurred recovery and speculation of land on the banks of the “Velho Chico”, especially the regions of the Middle and Lower -middle São Francisco, where they are located, respectively, irrigation projects of Baixio de Irecê and Salitre, considered "two transpositions Bahia "according to the volumes of water required for the implementation of these projects. The creation of these irrigation schemes led to the dispossession and the desterreamento of hundreds of peasant families, who throughout history have experienced different deterritorializing processes according to the state actions (construction of the Sobradinho Dam) and land grabbing in the valleys of rivers and Green alligator, or in the light of the expropriation of land for social purposes. These new spatial arrangements have caused conflicts over land and water by the caatingueiros peasants who have taken the trenches of confronting big business and whose shares are presented in rich political content in Anticapital fight, making it fundamental for the construction of (Re) Inventories and hopes spaces

(11)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Projetos de irrigação sob a gestão da CODEVASF – 2014... 56

Quadro 2: Projetos de irrigação sob a gestão do DNOCS – 2014... 57

Quadro 3: Empreendimentos de Energia Eólica da Renova... 66

Quadro 4: Caracterização dos camponeses da pesquisa (2011-2014)... 81

Quadro 5: Sujeitos Entrevistados... 84

Quadro 6: Área dos estabelecimentos agropecuários por utilização das terras na Bahia, 1996/2006... 118

Quadro 7: Metas do Programa BAHIABIO... 120

Quadro 8: Metas de Produção de Etanol nos Polos da Bahia... 122

Quadro 9: Projeção de Cultivo de Oleaginosas na Bahia para o ano de 2012... 125

Quadro 10: Conflitos por água no Brasil – 2002/2013... 167

Quadro 11: Número e causas dos conflitos pela água no Brasil, em 2013, por região geográfica... 168

Quadro 12: Conflitos pela água na Região Nordeste – 2012... 169

Quadro 13: Conflitos pela água na Bahia – 2002/2013... 169

Quadro 14: Índice de Gini – Bahia 1920/2006... 191

Quadro 15: Classificação do índice de Gini dos municípios do estado da Bahia... 192

Quadro 16: Terras improdutivas nos municípios pertencentes à Diocese de Juazeiro (BA) – 2003... 193 Quadro 17: Grau de distribuição da terra por número de municípios (1940-2006)... 196

Quadro 18: Estabelecimentos no vale do rio Salitre, por grupos de área de 0 a 20ha e de mais de 1.000ha... 197

Quadro 19: Barragens localizadas no rio Salitre e seus afluentes... 282

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Complexos Eólicos na Região Sudoeste da Bahia – 2013... 65

Tabela 2: Conflitos por Terra na Bahia (1990-2014)... 130

Tabela 3: Eixo 1 – Parcerias Público-Privadas em Irrigação... 133

Tabela 4: Eixo 2 – Implantação e Revitalização de Projetos de Irrigação... 136

Tabela 5: Eixo 3 – Agricultura Familiar e Pequenos Irrigantes... 137

Tabela 6: Eixo 4 – Estudos e Projetos... 138

Tabela 7: Estimativa das Terras Devolutas por estado da Região Nordeste... 182

Tabela 8: Terras Devolutas – Municípios da Área da Pesquisa e seu entorno (BA)... 185

Tabela 9: Cadastro de Imóveis Rurais – Xique-Xique (BA)... 188

(12)

Tabela 11: Cadastro de Imóveis Rurais – Juazeiro (BA)...

190

Tabela 12: Índice de Gini dos municípios do Vale do Salitre – Bahia – 1920-2006...

198

Tabela 13: Transações de compra e venda de terras na área do Projeto Baixio de Irecê.... 224 Tabela 14: Superfície Agrícola Útil (SAU)... 243 Tabela 15: Características Básicas do Projeto Salitre... 288

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Trabalhadores no mercado do produtor (CEASA) em Juazeiro (BA)... 144 Figura 2 Atividades agropecuárias no Acampamento Abril Vermelho (1: Criação de

caprinos, 2: Colheita de cebola, 3: Colheita de batata doce e 4: Lavoura de mandioca)...

315

Figura 3: Práticas socioculturais das comunidades salitreiras (1: Samba de Véio, 2: Samba de Braço, 3: Bumba-meu-boi e 4: Procissão de Nossa Senhora Santana)

... 323

Figura 4: Jornal Carrapicho... 324

LISTA DE FLUXOGRAMAS

Fluxograma 1: Esquema metodológico da pesquisa... 72 Fluxograma 2: Sujeitos da Pesquisa... 76 Fluxograma 3: Cadeia sucessória das terras do Projeto de Irrigação do Baixio de Irecê.. 228

LISTA DE ORGANOGRAMAS

Organograma 1: Camponês caatingueiro e a relação metabólica terra e água... 45 Organograma 2: Perspectiva (des)integradora do agrohidronegócio... 161

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Vínculos com a terra nos vales dos rios Verde e Jacaré... 239

LISTA DE MAPAS

(13)

Hidroelétricas na Bahia...

Mapa 5: Polo de Produção do Sub Programa Etanol na Bahia... 121

Mapa 6: Polo de Produção do Sub Programa Biodiesel na Bahia... 124

Mapa 7: Abrangência do Programa Mais Irrigação... 134

Mapa 8: Processos Minerários no DNPM na Bahia... 171

Mapa 9: Áreas de Expansão do Agrohidronegócio na Bahia... 176

Mapa 10: Terras Devolutas na Bahia... 183

Mapa 11: Concentração Fundiária na Bahia... 194

Mapa 12: Perímetro Irrigado do Baixio de Irecê... 236

Mapa 13: Localização da Bacia do Rio Salitre... 269

Mapa 14: Projeto Irrigado do Salitre... 291

LISTA DE FOTOS Foto 1: Parque Eólico Alto Sertão I, Município de Caetité (BA) – 2014... 63

Foto 2: Stands de implementos agrícolas e da Agricultura Familiar na EXPOAGRI, em Juazeiro, 2013... 88 Foto 3: Stands de implementos agrícolas e da Agricultura Familiar na EXPOAGRI, 2013... 89 Foto 4: Reunião com camponeses atingidos pelo Projeto Baixio do Irecê, Itaguaçu da Bahia (BA)... 90

Foto 5: Reunião com camponeses atingidos pelo Projeto Baixio do Irecê no município de Xique-Xique (BA)... 90 Foto 6: Trabalhador diarista pulverizando agrotóxico em lavoura de melão – Projeto Salitre... 142 Foto 7: Camponês durante a pesca no rio São Francisco - Comunidade do Roçado, município de Xique-Xique (BA)... 145 Foto 8: Camponês em seu roçado de mandioca e melancia, às margens do rio São Francisco – Comunidade de Roçado, Xique-Xique (BA)... 146 Foto 9: Entrada da Fazenda da CODEVERDE em Xique-Xique (BA)... 208

Foto 10: Tomada de água do Projeto Baixio de Irecê. Comunidade Nova Boa Vista (Xique-Xique)... 237 Foto 11: Acampamento do MST na área do Projeto de Irrigação Baixio de Irecê – Xique-Xique... 259

Foto 12: Assentamento Vale da Conquista – Sobradinho (BA)... 301

Foto 13: Plantação de batata, milho e banana – Assentamento Vale da Conquista, Sobradinho (BA)... 303

Foto 14: Lavoura de milho irrigada por mangueiras – Assentamento Vale da Conquista, Sobradinho (BA)... 304 Foto 15: Perímetro irrigado do Assentamento Vale da Conquista, Sobradinho (BA). Ao fundo, aerogeradores do Parque Eólico da Renova Energia... 305

Foto 16: Acampamento Abril Vermelho – Município de Juazeiro (BA)... 306

Foto 17: Compra de produtos por atravessadores no Acampamento Abril Vermelho... 308

(14)

umbu durante a 24ª da FENAGRI – Juazeiro...

Foto 20: Stand da agricultura familiar na 24ª FENAGRI/Juazeiro... 321 Foto 21: Reunião, na comunidade de Baraúna, para debater sobre a importância do

Jornal Carrapicho...

325

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEEÓLICA - Associação Brasileira de Energia Eólica ACM – Antônio Carlos Magalhães

ANA - Agência Nacional das Águas

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica APP - Áreas de Preservação Permanente

APRIR - Associação dos Pecuaristas da Região de Irecê ATER - Assistência Técnica e Extensão Rural

BA – Bahia

BAHIABIO – Bahia Biocombustíveis BAMIN - Bahia Mineração

BID - Banco Mundial

BIRD - Banco Interamericano de Desenvolvimento BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Social BPA – Boas Práticas Agrícolas

CBHS - Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Salitre CBHSF - Comitê de Bacia Hidrográfica do São Francisco CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica CDRU - Concessão de Direito Real de Uso

CE – Ceará

CEASA - Centro de Abastecimento CEBs - Comunidades Eclesiais de Base

CEMIG – Companhia de Eletricidade de Minas Gerais

CETA - Coordenação Estadual de Trabalhadores Acampados, Assentados e Quilombolas

CHESF - Companhia Hidroelétrica do rio São Francisco

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CODEVASF – Companhia de Desenvolvido dos Vales dos Rios São Francisco e Parnaíba

CODEVERDE - Companhia de Desenvolvimento do Rio Verde COELBA - Companhia de Energia Elétrica da Bahia

COOPERIRECÊ - Cooperativa Agropecuária Mista Regional de Irecê CPT – Comissão Pastoral da Terra

CVSF - Comissão do Vale do São Francisco CVSF - Companhia Vale do São Francisco

DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral EIA - Estudos de Impactos Ambientais

EMSA - Empresa Sul Americana de Montagens EPI – Equipamento de Proteção Individual EUA - Estados Unidos da América

(15)

FENAGRI - Feira Nacional da Agricultura Irrigada

FETRAF - Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar FIOL - Ferrovia de Integração Oeste-Leste

FNE - Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste

FUNDIFRAN - Fundação de Desenvolvimento Integrado do São Francisco GARRA - Grupo de Apoio e de Resistência Rural e Ambiental

GEIDA - Grupo Executivo de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola GEOFRAFAR – Geografia dos Assentamentos Rurais

GGA - Gerenciamento Global Ampliado GTA - Grupo Interministerial do Açúcar GW – Giga Watts

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IFOCS - Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas IG – Indicação Geográfica

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INEMA - Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos IOCS - Inspetoria de Obras Contra as Secas

IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada ITRUL - Imobiliária de Terrenos Rurais e Urbanos

LANDSAT – Land Remote Sensing Satellite LER - Leilão de Energia de Reserva

MDA - Ministério de Desenvolvimento Agrário MG – Minas Gerais

MI - Ministério da Integração

MME - Ministério de Minas e Energia

MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra MW – Mega Watts

OIT – Organização Internacional do Trabalho ONG – Organização Não Governamental PA – Pará

PAC – Política Agrícola Comum

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento PCH - Pequena Central Hidrelétrica

PDRI - Projetos de Desenvolvimento Rural Integrado PDT - Política de Desenvolvimento Territorial PE – Pernambuco

PECSR - Projeto Especial de Colonização Serra do Ramalho PND - Plano Nacional de Desenvolvimento

PNI - Plano Nacional de Irrigação

PNSH - Plano Nacional de Segurança Hídrica

POLONORDESTE - Programa de Desenvolvimento Integrado do Nordeste POSGEO – Pós-Graduação em Geografia

PPA – Plano Plurianual

PPI - Programa Plurianual de Irrigação PPPs - Parcerias Público-Privadas

PROÁLCOOL – Programa Nacional do Álcool

PROFIR - Programa de Financiamento de Equipamentos de Irrigação PROINE - Programa de Irrigação do Nordeste

(16)

PROTERRA - Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste

PTDRS - Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável RIMA - Relatório de Impactos Ambientais

RN – Rio Grande do Norte

RPAs - Regiões Produtivas Agrícolas SAG – Superfície Agrícola Geográfica SAU - Superfície Agrícola Útil

SEAGRI - Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia

SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia SENIR - Secretaria Nacional de Irrigação

SEPLAN - Secretaria Planejamento do Estado da Bahia SINPRI - Sindicato dos Produtores Rurais de Irecê SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais

SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste SUVALE - Superintendência do Vale do São Francisco

TM - Thematic Mapper

UAVS - União das Associações do Vale do Salitre UC – Unidade de Conservação

UE – União Europeia

UFBA – Universidade Federal da Bahia UNEB – Universidade do Estado da Bahia VBP – Valor Bruto de Produção

VERACEL - Vera Cruz Celulose

SUMÁRIO

(17)

INTRODUÇÃO... 25

CAPÍTULO I - TECENDO OS FIOS DA “MEADA”: A TRAJETÓRIA

METODOLÓGICA DA TESE... 33

1.1 Sobre tecelões, teares e fios: a pesquisa na Ciência Geográfica... 34

1.2 Quando o território da vida se confunde com o território da pesquisa:

entendendo os porquês do Semiárido baiano... 48

1.3Trajetórias caatingueiras: a construção metodológica da pesquisa... 70

1.4 Os sujeitos da pesquisa: perspectivas híbridas... 74

1.5 A organização das informações... 92

CAPÍTULO II - POLÍTICAS PÚBLICAS DE IRRIGAÇÃO E A GEOGRAFIA DO AGROHIDRONEGÓCIO NO SEMIÁRIDO BAIANO... 96

2.1 Política de Irrigação no Brasil: resgate histórico e fundamentos polítcos.... 97

2.2 Novo Modelo de Irrigação: transferência disfarçada do papel do Estado para o capital privado... 105

2.3 Programa Estadual de Bioenegia - BAHIABIO: (des)construção de

consensos... 114

2.4 Programa Mais Irrigação: retalhos do tecido desenvolvimentista... 131

2.5 As águas do Semiárido brasileiro correm para o mercado global... 148

CAPÍTULO III - TRAMAS DO AGROHIDRONEGÓCIO E A QUESTÃO AGRÁRIA NA BAHIA... 155

3.1 Tramas do Agrohidronegócio e reorganização territorial do Semiárido baiano... 156

3.2 Avanço das fronteiras do capital e os conflitos por água no Brasil... 165

3.3 Polígono do Agrohidronegócio na Bahia e a usurpação dos territórios camponeses...

172

3.4 Questão fundiária e terras devolutas na Bahia:dualidade “terra de ninguém”

versus propriedade privada... 180

3.5 Estrutura fundiária e os desafios para o acesso à terra no Vale do Salitre... 195

3.6 Grilagem de terras públicas, expropriação camponesa e violência no Baixio de Irecê (BA)... 200

3.7 O campo movediço da legalização da grilagem de terras no Semiárido baiano: o

movimento das “peças” no tabuleiro, sob o controle do Estado e do capital... 210

(18)

CAPÍTULO IV - PROJETO DE IRRIGAÇÃO BAIXIO DE IRECÊ:

REORDENAMENTO DO TERRITÓRIO PELO AGROHIDRONEGÓCIO... 230

4.1 Caracterização da rede hidrográfica da região do Projeto de Irrigação Baixio de Irecê... 231

4.2 Usos do território e disputas territoriais no Semiárido baiano... 233

4.3 Organização, resistência e contradições: o desafios da luta pela terra das

famílias camponesas do Projeto de Irrigação Baixio de Irecê... 249

4.4 Ocupação do MST no Projeto de Irrigação Baixio de Irecê: conflito e estranhamento de classe no contexto da luta pela terra e pela água... 260

CAPÍTULO V - PROJETO SALITRE: FACES CONTRADITÓRIAS DO AGROHIDRONEGÓCIO NO SEMIÁRIDO BAIANO... 267

5.1 Breve histórico da ocupação e dos conflitos no Vale do rio Salitre... 268

5.2 Projeto Salitre, agrohidronegócio e disputas territoriaise de classe no Submédio São Francisco... 288

5.3 A chegada do “estranho”: a conflitualidade entre o MST e os salitreiros... 294

5.4 Acampamento Abril Vermelho: expressões polissêmicas da luta pela terra e pela água no vale do rio Salitre... 297

5.5 Mobilização social e múltiplas resistências no Submédio São Francisco... 316

5.5.1 Territorialização do campesinato na FENAGRI: disputas veladas no território do agrohidronegócio em Juazeiro/Petrolina... 318

5.5.2 Resgate das práticas socioculturais e (Re)Existência camponesa no vale do

Salitre... 321

CONSIDERAÇÕES FINAIS AGROHIDRONEGÓCIO E LUTA

ANTICAPITAL: PENSANDO A CONSTRUÇÃO DOS ESPAÇOS DE ESPERANÇA... 328

REFERÊNCIAS... 341

(19)

APRESENTAÇÃO

Vocês que fazem parte dessa massa Que passa nos projetos do futuro É duro tanto ter que caminhar E dar muito mais do que receber E ter que demonstrar sua coragem À margem do que possa parecer E ver que toda essa engrenagem Já sente a ferrugem lhe comer O povo foge da ignorância

E sonham com melhores tempos idos Esperam nova possibilidade

De verem esse mundo se acabar.

(Zé Ramalho, “Admirável gado novo”)

As alterações no desenho espacial e territorial no campo brasileiro no pós-1970 têm exigido novas interpretações do espaço agrário no Semiárido nordestino, com vistas a entender as tramas do capital e do trabalho, materializadas nos territórios em disputa entre o agrohidronegócio e o campesinato. A crise do sistema sociometabólico do capital (MÉSZÁROS, 2007) impôs aos países capitalistas profundas transformações e ajustes nos mais diferentes setores, principalmente na economia. A junção entre a crise do padrão de acumulação mundial (e a consequente reestruturação produtiva do capital) e as políticas públicas implantadas pelo Estado no Nordeste brasileiro exerceram papel central para a conformação do fenômeno analisado nesta pesquisa, ou seja, a expansão do agrohidronegócio (MENDONÇA e MESQUITA, 2007; THOMAZ JUNIOR, 2009) e as disputas territoriaisno Semiárido baiano.

A justificativa política e ideológica utilizada pelo Estado perante a população era o discurso forjado a partir da necessidade de superar o atraso e o isolamento do Nordeste em relação ao restante do país bem como de potencializar o desenvolvimento brasileiro. Nos anos de 1970, as necessidades de expandir a oferta de energia para atender a demanda do recente parque industrial instalado no Centro-Sul e de integrar regionalmente o país colocavam-se como prioridades para o governo daquela época.

(20)

diversos perímetros irrigados, aos quais atribuiria a responsabilidade de alavancar a economia regional e reduzir os efeitos das secas. Assim, em toda extensão semiária nordestina, novas paisagens foram criadas em virtude do fomento, por parte das políticas públicas, à irrigação, surgindo “ilhas de desenvolvimento” em meio a um

sertão repleto de mazelas sociais, muitas delas decorrentes da histórica concentração da terra, tão marcante nessa região.

Contraproducentes, a implantação dos perímetros irrigados e a modernização da agricultura foram, ao longo dos anos, provocando a expulsão das

“velhas” formas de uso e exploração da terra, frente à imposição de novos modelos de

organização espacial pautados na lógica da produção de mercadorias. Ainda como efeito dessa modernização, entendida aqui como conservadora, cabe destacar seus efeitos

nefastos sobre o “ethos de campesinidade” (WOORTMANN e WOORTMANN, 1997)

dos camponeses caatingueiros (em seus diferentes matizes), levando muitos a incorporar o discurso da empregabilidade e do assalariamento como solução para a pobreza rural. Os perímetros irrigados, muitos deles transformados em polos frutícolas integrados ao mercado global, como é o caso de Juazeiro/Petrolina, passaram a polarizar investimentos públicos e privados, sob forte influência do grande capital, de organismos e de normas internacionais, como é o caso da Política Agrícola Comum (PAC) e do Banco Mundial.

Ao longo das últimas quatro décadas, a opção por parte do Estado em priorizar a construção de obras de infraestrutura hídrica no Semiárido nordestino permitiu as condições adequadas para a territorialização do capital, aproveitando-se dos grandes incentivos fiscais, da disponibilidade de mão de obra, de terras férteis, água e condições climáticas favoráveis. O expansionismo do capital nessa fração do território nordestino deu-se, inclusive, mediante a incorporação de terras “improdutivas”

ocupadas pelos camponeses, transformadas em terra de negócio (MARTINS, 2004) no

circuito da produção de mercadorias. A modernização capitalista promoveu a chegada

do “estranho”, atraído pelo discurso midiático da empregabilidade e das facilidades

oferecidas à reprodução do capital.

Como resultado da modernização conservadora da agricultura, muitas famílias camponesas foram expulsas de suas terras (em virtude da grilagem, da indenização por interesse social, ou da especulação fundiária), tendo como destino as

periferias urbanas, as áreas de terras devolutas afastadas dos cursos d’água ou, ainda, as

(21)

pelas atividades agrícolas dos perímetros irrigados como assalariados rurais ou diaristas, assimilando o discurso da empregabilidade e da geração de renda, tão bem defendido e propalado pelo Estado e pelo capital. Na contramão dessa história, outros tantos sujeitos desterritorializados/desterreados passaram a vivenciar a experiência da luta pela terra através dos movimentos sociais do campo, protagonizando importantes ações de enfrentamento e resistência ao modelo hegemônico colocado em execução para o campo brasileiro.

Os investimentos públicos em obras de infraestrutura hídrica viabilizaram a introdução da fruticultura irrigada no Semiárido nordestino, anteriormente ocupado com os currais e algodoais, transformando a realidade de muitos lugares, que passaram a conviver com uma agricultura moderna, relativamente tecnificada e altamente dependente do pacote tecnológico da revolução verde. Em decorrência desse avanço do capital sobre as terras do Nordeste seco, os camponeses e seus modos de vida tornaram-se obsoletos e passaram a repretornaram-sentar um entrave para a produção de mercadorias. Assim, muitos camponeses vivenciaram a desterritorialização e o desterreamento, processos coexistentes no cerne dos projetos desenvolvimentistas executados na região semiárida nordestina. Nesse sentido, os conceitos de território (OLIVEIRA, 2003), desterritorialização (HAESBAERT, 2009) e desterreamento (THOMAZ JUNIOR,

2009) são recorrentes para fazermos as “leituras” do espaço agrário no Semiárido

baiano, frente às profundas mutações ocorridas na organização espacial e nas relações de trabalho e de produção.

Como forma de não capitularmos aos discursos midiáticos e aos consensos sociais deles decorrentes, buscamos, a partir do enfrentamento capital versus trabalho e

(22)

As disputas por terra e água no Semiárido baiano expressam o dinamismo e a complexidade inerentes à questão agrária, bem como os resultados nefastos das políticas públicas voltadas para a irrigação nessa região, pois estas assumem relevante papel no tocante à territorialização do agrohidronegócio, condição reveladora de seu

componente de classe. A organização desta tese, intitulada “DAS TERRAS DO

SEM-FIM AOS TERRITÓRIOS DO AGROHIDRONEGÓCIO: conflitos por terra e água no vale do São Francisco (BA)”,representa o devir da construção do conhecimento, o movimento das ideias, impossíveis de serem organizadas de forma hermética, pois sua essência traz a dialética e as contradições do movimento do real.

Trata-se de uma pesquisa com horizontes abertos, pois fugimos da concepção de produto acabado, ante a natureza dos fenômenos em análise. A abordagem dialética não nos permite pinçar os fatos da realidade e entendê-los separadamente, como se fossem independentes. O ir e vir expressos no corpo dos capítulos representa a própria essência dos sujeitos e dos fenômenos pesquisados, entrelaçados por saberes-fazeres (MENDONÇA, 2004) e por agentes externos.

Propusemos “costurar” a teoria e a empiria, de modo a revelar a pluralidade e a

complexidade da realidade vivenciada pelos camponeses caatingueiros, seus desafios para se manterem na terra de trabalho bem como a reproduzir seus modos de vida.

Ademais, ao esgarçar os territórios em conflito, constatamos que as áreas onde estão atualmente localizados muitos dos polos frutícolas no Semiárido nordestino foram os mesmos locais de embates entre indígenas e colonizadores, como é o caso do vale do rio Salitre no Submédio São Francisco, revelando quão nefasto, desigual e contraditório é o

processo de “desenvolvimento” sob os ditames do capital.

Do mesmo modo, ao analisarmos os desdobramentos das políticas públicas de incentivo à irrigação no Semiárido baiano, concluímos que estas vão espalhando os conflitos pelo território, ora como filetes e outras vezes como uma inundação (como nos bons tempos do Velho Chico). Em cada canto e recanto vão produzindo efeitos repetidos e deturpações novas, aos quais estão expostos os camponeses a quem cabe a luta para romper com os grilhões do modelo de desenvolvimento que, embora privilegie a produção de riqueza, é incapaz de suprimir a pobreza, pois essa é gerada para alimentar o sistema sociometabólico do capital.

(23)

locus da reprodução ampliada do capital, onde a crença-fetiche da modernidade

escamoteia a barbárie expressa, por um lado, pelo uso de modernas técnicas e máquinas e, de outro, pela utilização de práticas arcaicas, como as condições precarizadas de trabalho ou a superexploração do trabalhador, fatos registrados desde os primórdios do período da industrialização na Inglaterra, que continuam atuais e repaginados sob o verniz da tecnologia e do desenvolvimento.

Ao se tratar das políticas públicas, entendidas por nós como pilares para os projetos desenvolvimentistas postos em execução pelo Estado, evidenciamos os desafios postos para as pesquisas em geografia, ante a necessidade de desvelar as contradições expressas no pensamento hegemônico pautado na perspectiva de um modelo único de desenvolvimento para o Semiárido. Ao perpetuar essa lógica, coloca-se por terra toda a riqueza inerente às práticas socioculturais dos camponecoloca-ses caatingueiros, envolvendo seus saberes-fazeres e sua relação com a terra. Ainda é latente, no conteúdo dos projetos desenvolvimentistas implantados pelo Estado no Semiárido nordestino, a concepção de colonialidade do poder (QUIJANO, 2000), pois os sujeitos que historicamente ocuparam as áreas a serem modernizadas pelos

investimentos públicos não são considerados “aptos” ou não têm expertise para

ocuparem os perímetros irrigados.

Assim, as disputas territoriais no Médio e Submédio São Francisco recolocam no debate a necessidade de se rever o modelo de irrigação implantado pelo Estado, visto que tais investimentos acabam criando espaços altamente tecnificados e sob o domínio de agentes externos (capitais, organismos financiadores, instituições normatizadoras, etc.),priorizando a exportação de commodities, excluindo das lavouras

e/ou nelas incluindo, de forma marginalizada, os camponeses como mão de obra barata. A (re)conquista do território pelos camponeses, por meio da luta pela terra e pela água, representa uma importante ação emancipatória, como forma de enfrentamento da despossessão e do desterreamento gerados pela territorialização do agrohidronegócio nessa região.

(24)

transformando esse espaço num território de disputa entre o agrohidronegócio e o campesinato. É por meio dessas ações que os camponeses vão construindo seus espaços de esperanças, rumo à emancipação social, ou ainda, criando “modernidades alternativas” (VELHO, no prelo) aos projetos hegemônicos ao vislumbrar outras formas

de relação com o trabalho e com a natureza.

Nascer no Sertão baiano e pesquisar os sujeitos nele residentes exigiu de nossa parte abdicação e desprendimento de (quase) tudo o que se sabia sobre a realidade vivenciada pelos camponeses caatingueiros, para enfim, reinterpretar as nuances contraditórias envolvendo a modernização conservadora do Semiárido baiano e a consequente expansão do agrohidronegócio nas regiões do Médio e Submédio São Francisco. Revelar os enunciados falseadores que fazem reluzir o discursivo do

“progresso” e do “desenvolvimento” foi, desde o momento inicial dessa pesquisa, um

desafio para o pesquisador porque exigiu menções frequentes aos projetos desenvolvimentistas implantados pelo Estado na região semiárida nordestina, principalmente a partir dos anos de 1970, com o propósito de inserção da economia regional nos mercados nacional e internacional. Ao denegar as práticas oficiosas e os modos de vida dos camponeses caatingueiros, as políticas e projetos públicos relacionados à expansão da irrigação no Semiárido nordestino deixam evidentes os pactos de classe entre o Estado e os agentes do capital e a sua condição de não-modernidade ao perpetuar a continuidade das estruturas de poder bem como a manutenção da concentração fundiária. Ou seja, a expansão do agrohidronegócio no vale do São Francisco apenas corrobora a ideia de que ainda não somos modernos porque a ação do Estado sobre os territórios ocorre à revelia daqueles que serão diretamente impactados com os seus desdobramentos, atribuindo à terra um duplo

sentido, ou seja, “cativeiro” e “sonho de liberdade”, sendo que esse último representa,

para uma parcela significativa dos camponeses, a necessidade da luta e da resistência. Por último e não menos importante, cabe destacar que estar na Amazônia e desenvolver a pesquisa no Semiárido colocou-nos o constante contato com a mistura, com as dicotomias, levando-nos a estabelecer o duplo-vínculo entre a “Terra das Águas” e o Sertão seco, as distintas relações entre os sujeitos com seus espaços de

(25)

INTRODUÇÃO

A cada mudança técnica, as verdades científicas do passado devem ceder lugar a novas verdades científicas. (Milton Santos, 2008, p. 33).

Os perímetros irrigados representam, sob o ponto de vista da política do Estado, a alternativa mais viável para promover o desenvolvimento regional do Semiárido nordestino. Por outro lado, trata-se de uma aproximação com os modelos globalizantes pensados para o campo (pacote tecnológico da Revolução Verde e a Política Agrícola Comum – PAC1), com forte interferência externa em função dos mecanismos de

controle impostos por organismos internacionais e pelos mercados consumidores. Em seu sentido mais profundo, essa opção política e econômica deve ser analisada no contexto da reestruturação produtiva do capital, cujas fronteiras são redesenhadas (e rasgadas) em busca das condições necessárias à sua reprodução ampliada. É mister acrescentar que as políticas públicas executadas pelo Estado são imprescindíveis para atrair o grande capital porque tem desdobramentos importantes no tocante ao acesso à terra e à água. Sem os subsídios governamentais, as dificuldades de implementar a irrigação no Semiárido seriam consideravelmente superiores, mesmo porque as áreas ocupadas pela irrigação privada estão atreladas aos investimentos públicos. O princípio trinário terra-água-trabalho constitui um elemento catalisador para a reorganização espacial do Semiárido, assumindo função importante na divisão territorial do trabalho.

A execução de inúmeras políticas públicas permitiu que a terra e a água continuassem concentradas e atreladas ao capital financeiro, via conglomerados agro-químico-alimentares-financeiros (THOMAZ JUNIOR, 2009), pois o setor de insumos químicos e agrotóxicos, as agroindústrias processadoras de frutas e as cadeias de supermercados no Brasil e no exterior são os maiores beneficiados, apropriando-se da riqueza produzida nas terrassemiáridas irrigadas. Criar perímetros irrigados não representa uma democratização do acesso à terra e à água, exercendo um efeito contraproducente àquele propalado pelos inflamados discursos de seus idealizadores

1 A PAC foi criada em 1962 pela União Europeia (UE), tendo como objetivos proporcionar aos cidadãos

(26)

bem como pelas políticas públicas direcionadas para incentivar a agricultura irrigada no Nordeste semiárido.

Após um século de efetiva atuação do Estado no “combate” às secas, o Nordeste

semiárido continua a vivenciar o avanço da agricultura irrigada sobre terras até então pouco valorizadas economicamente e sob o domínio dos camponeses e povos tradicionais. De acordo com Silva e Martins (2006, p. 91),

Despontando como trajetória tecnológica hegemônica no bojo da chamada Revolução Verde, o modelo euro-americano de modernização agrícola caracterizou-se fundamentalmente pela prática de uma agricultura altamente especulativa, voltada para o cultivo contínuo de produtos com maiores níveis de rentabilidade.

Dessa forma, a agricultura irrigada no Semiárido exerce um papel central no tocante à integração da região Nordeste ao mercado global, pois parte da produção de frutas tem como destino os mercados europeu e estadunidense, conforme destacam Sousa (2013) e Bezerra (2012). Enclaves são criados em meio ao Semiárido, com infraestrutura hídrica voltada para culturas com elevado valor agregado no mercado internacional, como é o caso das frutas, vinhos e produção de cana-de-açúcar e etanol,

construindo uma “nova” face para a região historicamente retratada como aquela em

que a seca era um obstáculo ao crescimento econômico.

Segundo levantamento feito pelo Banco Mundial (2004), entre os anos de 1970, 1980 e 1990, foram investidos mais de R$2 bilhões de reais em obras de irrigação, abrangendo uma área aproximada de 600 mil hectares irrigados, divididos entre a iniciativa privada (400.00 ha) e o setor público (200.00 ha). Devido a esses investimentos, foram criados polos frutícolas de grande envergadura econômica, com destaque para o Polo Juazeiro/Petrolina (maior polo frutícola da América Latina) e o Polo Jaguaribe-Apodi (CE). Segundo dados da Agência Nacional de Águas (2003), a região Nordeste ocupa a terceira posição no ranking de área irrigada, com destaque para

o estado da Bahia, o estado nordestino com a maior área irrigada, posição mantida ao longo dos anos. A área irrigada na Bahia (aproximadamente 300 mil hectares) representa 30,4% da irrigação da região Nordeste, sendo a irrigação por aspersão o método mais utilizado no estado, tanto aspersão sem pivô (30,6%) quanto com pivô-central (23,1%).

(27)

recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Programa Mais Irrigação, ambos do governo federal, para a criação de novos projetos de irrigação ou para a modernização dos já existentes, além da oferta de assistência técnica voltada para incutir entre os irrigantes o modelo de agricultura empresarial. Essa parece ser uma tendência que perdurará pelos próximos anos, pois somente os perímetros irrigados Senador Nilo Coelho e Bebedouro, em Pernambuco, receberam em 2013 investimentos da ordem de R$ 60 milhões, oriundos do Programa Mais Irrigação, destinados a melhorias na infraestrutura existente e à ampliação da área cultivada. Ressalte-se que os investimentos em modernização dos perímetros irrigados não contemplam todos aqueles em fase de produção2, sendo determinante para a escolha a capacidade de estes espaços

transformarem-se em polos produtores de frutas para os mercados interno e externo. Considerando a mobilidade do capital e sua irrefreável necessidade de incorporação de novos espaços para viabilizar sua reprodução ampliada, a expansão da agricultura irrigada no Semiárido baiano revela a seletividade espacial quando se trata de direcionar recursos financeiros para melhorias desse setor. O redesenho espacial é definido por agentes externos, com a introdução de novas relações de produção e com a imposição de padrões de produção, de acumulação e de consumo, totalmente alheios à realidade local,

[...] introduzindo relações novas no arcaico e reproduzindo relações arcaicas no novo, um modo de compatibilizar a acumulação global, em que a introdução das relações novas no arcaico libera força de trabalho que suporta a acumulação urbano-industrial e em que a reprodução de relações arcaicas no novo preserva o potencial de acumulação liberado exclusivamente para os fins de expansão do próprio novo. (OLIVEIRA, 2006, p. 60).

Contraditoriamente, muito da estrutura social, política e econômica arcaica é mantida intacta, como forma de garantir a perpetuação da acumulação de capitais e de manutenção do status quo. Assim, os investimentos públicos em irrigação não atendem

às demandas dos camponeses a quem, historicamente, foi negado o acesso à terra e à

água, pois, conforme as diretrizes do “Novo Modelo de Irrigação” implementado na

década de 1990, a proposta é fomentar cada vez mais a agricultura empresarial nos perímetros irrigados, através da celebração das parcerias público-privadas (PPPs). Esse

2 Entre os projetos escolhidos para receber recursos do PAC para obras de modernização estão o Projeto

(28)

direcionamento dado à irrigação em perímetros públicos expressa o idealismo neoliberal em que o Estado

passa a priorizar a promoção de um ambiente favorável aos negócios com vistas a atrair novos investimentos em detrimento de sua intervenção direta na economia, seja por meio de empresas estatais, seja por meio do controle sobre o processo econômico baseado em instrumentos e políticas regulatórias. Inaugura-se um período sob a dominância de práticas político-econômicas e do pensamento neoliberal, que defendem um arcabouço institucional caracterizado por direitos de propriedade privada fortalecidos, mercado livre e comércio livre. Desregulação, privatização e a retirada do Estado de muitas áreas de provisão social tornam-se processos comuns. O Estado se torna um ator a serviço do capital e de sua estratégia de globalização. (MARQUES, 2011, p. 4).

Seguindo essa lógica neoliberal, duas grandes obras hídricas foram executadas nas regiões do Médio e Submédio São Francisco3, na Bahia, consideradas as “transposições baianas do São Francisco” devido à magnitude destes empreendimentos.

Os projetos de irrigação Baixio de Irecê (em fase de implantação) e o Salitre (em fase de produção) são as maiores obras de irrigação executadas atualmente no Brasil, somando ambas um total aproximado de 100 mil hectares irrigáveis. Atendendo aos

direcionamentos do “Novo Modelo de Irrigação”, estes perímetros irrigados são

destinados, principalmente, para a agricultura sob os moldes empresariais, com foco na fruticultura e na cana-de-açúcar. Produzir agrocombustíveis em projetos de irrigação passa a ser uma realidade já no Projeto Salitre, com a presença da empresa AGROVALE, maior produtora de cana-de-açúcar do Nordeste, perspectiva essa vislumbrada para o Projeto Baixio de Irecê. Ou seja, os pequenos produtores vão gradativamente sendo eliminados desses empreendimentos, demonstrando cada vez mais que os investimentos públicos em obras dessa natureza estão atrelados à produção de commodities agrícolas.

Assim, todas as travagens são eliminadas para que o capital possa apropriar-se da infraestrutura hídrica e da terra, decorrentes de investimentos públicos. A expansão do agrohidronegócio no Semiárido reforça e evidencia as contradições acerca da organização espacial e do reordenamento do território do nordestino em virtude de interesses econômicos e de políticas agrícolas externas. O fomento de atividades agrícolas com forte dependência de água reforça e intensifica o controle sobre a terra e a

3 Para efeito de regionalização, utilizaremos nessa pesquisa a regionalização feita a partir da bacia do rio

(29)

água, gerando disputas territoriais e de classe nessa fração do território brasileiro. Desse modo, os territórios camponeses passam a enfrentar um forte processo de especulação em decorrência de os discursos propagandearem as virtudes unilateralmente benéficas da irrigação no Semiárido, cujo resultado é a expansão e integração das atividades agrícolas ao mercado globalizado. Nesse contexto, as lavouras cultivadas nos perímetros irrigados possuem pouca ou nenhuma relação com os mercados regionais, desconsiderando as tradições alimentares das populações locais. Ou seja, a produção de alimentos passa a ser integrada aos mercados globais, sobrepondo-se às práticas agrícolas locais, cujas tradições advêm de gerações passadas e cuja perpetuação se deu pelo trabalho familiar.

Esse interesse demonstrado pelo grande capital por regiões incorporadas, de forma marginal, à economia global tem sua origem na reestruturação produtiva do capital, momento em que coincide com o início de maciços investimentos públicos no Semiárido para viabilizar a agricultura irrigada. Nesse sentido, as formas espectrais e regressivas inerentes à expansão do agrohidronegócio no Semiárido baiano colocam-se como um problema de pesquisa ante a territorialização e a monopolização do território pelo capital e todos os desdobramentos decorrentes desse fenômeno.

A centralidade dessa tese é a indissociável relação entre a expansão do agrohidronegócio no Semiárido baiano e as disputas pelo controle da terra e da água, tendo como elementos analíticos os conflitos decorrentes da execução dos projetos desenvolvimentistas nessa fração do território nordestino, bem como seus desdobramentos materializados nos territórios camponeses. Ademais, a presente pesquisa abarca os impactos dos projetos de irrigação e sua materialidade no contexto da luta de classes inerente ao processo sociorreprodutivo do capital no Semiárido baiano, atentando para os estranhamentos no interior dos movimentos contrários aos megaprojetos de segurança hídrica voltados para a irrigação.

(30)

Públicas de desenvolvimento regional/territorial, implantadas pelo Estado a partir da década de 1990, contribuem para a expansão do agrohidronegócio no Semiárido baiano; c) cartografar as áreas de expansão do agrohidronegócio na Bahia; d)identificar quais setores do agrohidronegócio despontam no Semiárido baiano; e) analisar como se estabeleceu o conflito pela terra e pela água no Submédio São Francisco; g) entender como ocorreu o processo de grilagem das terras atualmente ocupadas pelo Projeto de Irrigação Baixio de Irecê; h) identificar as principais formas de luta pelo acesso à terra, à água bem como as formas de resistência dos Movimentos Sociais/sujeitos caatingueiros para se manterem na terra de trabalho.

Nessa perspectiva, a hipótese da presente investigação é que as políticas públicas implantadas pelo Estado no Semiárido baiano para garantir a segurança hídrica acabam fomentando a expansão do agrohidronegócio e as disputas territoriais (terra e água), colocando em risco a manutenção dos modos de vida das populações camponesas localizadas na faixa semiárida do estado da Bahia. Dessa forma, destacamos a necessidade de conhecer profundamente a dinâmica do agrohidronegócio no Semiárido, suas estratégias, alianças de classes e contradições, como medida para repensar o modelo de desenvolvimento adotado para o campo brasileiro, pautado na produção de

commodities, de modo a correlacionar o contexto brasileiro com a realidade do Nordeste

semiárido, cada vez mais centrado na fruticultura irrigada e na produção de agrocombustíveis.

Fazendo o caminho inverso daquele traçado pelos idealizadores e apologistas do atual modelo de desenvolvimento territorial adotado para o Nordeste semiárido, buscou-se entrelaçar a teoria aos resultados obtidos durante a imersão no universo pesquisado, de modo a trazer à tona a voz daqueles que historicamente foram silenciados pelos discursos hegemônicos e invisibilizados pela imagem de desenvolvimento atrelada ao agrohidronegócio.

(31)

os desdobramentos da expansão do agrohidronegócio no Semiárido baiano.

O Capítulo II, intitulado Políticas públicas de irrigação e a geografia do agrohidronegócio no Semiárido baiano,buscou fazer um resgate sobre a trajetória das políticas públicas voltadas para a irrigação no Nordeste brasileiro, de modo a comprovar como tais ações desempenhadas pelo Estado foram (e ainda são) determinantes para a territorialização e expansão do agrohidronegócio no Nordeste semiárido. Evidenciou-se como essas políticas públicas fazem parte de um projeto maior, cujo intuito é o reordenamento do território para atender às demandas do grande capital em escala global. Para tanto, foram considerados três programas governamentais voltados para a irrigação, sendo dois em escala nacional e um em nível estadual, a saber: o Novo Modelo de Irrigação e o Programa Mais irrigação, em escala nacional e o Programa Bahia Biocombustíveis, implantado na Bahia.

No Capítulo III,Tramas do agrohidronegócio e a questão agrária na Bahia, são tratadas questões relacionadas à estrutura fundiária da Bahia e, de modo particular, como ocorreu o processo de apropriação de terras nos vales dos rios Jacaré e Verde. Ademais, evidenciam-se as estratégias utilizadas pelo Estado para viabilizar o acesso à terra e à água por parte dos agentes do capital, colocando em destaque as disputas territoriais e de classes no campo, a partir da constituição do Polígono do Agrohidronegócio na Bahia.

O Capítulo IV,Projeto de Irrigação Baixio de Irecê: reordenamento do território pelo agrohidronegócio, apresenta as alterações verificadas ao longo das décadas na formatação desse empreendimento, seus objetivos e possíveis desdobramentos para a região, bem como os desafios enfrentados pelas comunidades, no tocante à organização social das famílias expropriadas, para fazer o enfrentamento ao Estado. Ademais, são analisadas as dissidências ocorridas entre os movimentos de luta pela terra e pela água encampados pelos camponeses caatingueiros e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Intitulado Projeto Salitre: faces contraditórias do agrohidronegócio no Semiárido baiano, o Capítulo V volta-se à “modernização” da agricultura praticada no

(32)

utilizadas pelos camponeses e por organizações sociais para disputar território com o agrohidronegócio.

(33)

CAPÍTULO I

TECENDO OS FIOS DA “MEADA”: A TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DA TESE

(34)

tempo. (KHUN, 2011, p. 61).

Este capítulo trata das questões metodológicas da pesquisa, buscando situar a discussão sobre o agrohidronegócio no contexto da ciência geográfica. São apresentados os marcos teórico-conceituais, bem como os parâmetros norteadores para a escolha do tema, do recorte espaço-temporal e dos sujeitos da pesquisa, buscando categorizá-los a partir de suas especificidades. Ademais, são explicitadas as técnicas utilizadas e como contribuem para o levantamento das informações necessárias para sustentar as reflexões a partir do entrelaçamento entre a teoria e a empiria, numa opção deliberadamente política, com o intuito de fazer ecoara voz aos sujeitos que, em tantos momentos, foram silenciados pelas personas do capital ou tiveram seus gritos negligenciados pelo Estado.

1.1 Sobre tecelões, teares e fios: a pesquisa na ciência geográfica

A convicção de que um fenômeno não foi ainda tão bem analisado ou que é possível analisá-lo com maior aprofundamento é o que move a trajetória da elaboração de uma Tese de Doutorado. Para alguns, trata-se de um posicionamento sensivelmente modesto, enquanto para outros, de uma postura demasiadamente arrogante, dependendo do ponto de vista como tal afirmação é analisada. De fato, a elaboração do conhecimento científico requer uma gama considerável de adesões e pactos – teóricos, metodológicos e conceituais –, de modo a revelar a natureza de um dado fenômeno (seja ele social ou natural) cujas nuances sejam postas sob o crivo de determinações e regras, com a finalidade de identificar, desconstruir ou validar aspectos que permitam generalizar e/ou particularizar a materialidade daquilo que se configura como um problema de pesquisa.

A busca pela construção de conhecimento acerca de um dado fenômeno significa igualmente a adoção de uma opção política vinculada ao universo vivenciado pelo pesquisador, cujas decisões e parâmetros de pesquisa validam um método próprio de conceber os fenômenos, processos sociais e suas interações com a natureza.

O ato de pesquisar coloca múltiplos desafios porque condiciona a ação do pesquisador à descoberta da realidade. Demo (2011, p. 22) destaca que a

(35)

partida e do ponto de vista, ou da ideologia subjacente, ou de circunstâncias sociais condicionantes ou condicionadas por interesses históricos dominantes.

Ao longo de sua história, a Ciência Geográfica tem passado por profundas e sensíveis transformações, caracterizada por rupturas e permanências, ratificando a complexidade do pensar e analisar o espaço produzido e apropriado pelo homem. A divisão entre Geografia Humana e Geografia Física não tornou o fazer-Geografia uma

tarefa fácil, levando a fragmentações/compartimentações que acabam por impedir aos geógrafos uma leitura totalizante de como se processa a produção capitalista do espaço.

A coalização de interesses entre o grande capital e o Estado – sujeitos mediadores do modelo hegemônico de desenvolvimento, mascarado de sustentável –

escamoteia a barbárie intrínseca aos mecanismos utilizados para viabilizar a apropriação das terras e das águas na América Latina, nas últimas décadas e oblitera a consciência da população no sentido de legitimar os projetos desenvolvimentistas4 em execução.

Conforme Silva (2011, p. 3, grifo do autor), a

[...] ‘idéia de desenvolvimento’ instituída como meta a ser alcançada por todas as sociedades nos mantém reféns da dicotomia superior-inferior, criada a partir da noção de raça, que no passado classificou a humanidade em civilizados-primitivos e no presente nos divide em desenvolvidos- subdesenvolvidos.

Novas epistemologias ocidentalizadas sobre desenvolvimento pulverizam ainda mais a totalidade espacial, num entrincheirado e fugidio processo de invisibilidade das

populações, para quem o “desenvolvimento” significa opressão e cujo consentimento se

faz a partir da interiorização de discursos externos, com o propósito de gerar opacidades e silêncios em relação às desigualdades sociais. Por outro lado, o enclausuramento aparentemente desaparece em virtude das mudanças espaciais provenientes dos investimentos em infraestrutura e tecnologia. Procura-se, por meio de ações dessa natureza, eliminar a imagem envelhecida de um determinado espaço, livrando-o de enraizamentos ressentidos, mas, em contrapartida, promove uma linearidade das formas, dos modos de vida e de sua função ante as demandas do mercado globalizado.

4 Há uma gama de autores (ALVES, 2014; GONÇALVES, 2012; CASTELO, 2012; SAMPAIO JR, 2012;

(36)

No que tange à América Latina, entender as disputas pelos/nos territórios requer a capacidade de fazer correlações e mediações para dar conta da totalidade dos fenômenos e/ou processos, de modo a frear o anacronismo histórico e, por outro lado,

ressaltar os “antagonismos sistêmicos insuperáveis” (MÉSZÁROS, 2007, p. 21) do

sistema sociometabólico do capital. Ao priorizar, como recorte temático, as disputas territoriais devido ao acesso à água,

[...] poderemos abordar facetas ainda mais complexas para o futuro da sociedade, situações específicas do trabalho, novos vínculos e significados para o espaço geográfico, especificidades das disputas territoriais intrínsecas à luta de classes. (THOMAZ JUNIOR, 2011a, p. 20).

A preocupação com o método no âmbito da Ciência Geográfica não é um fenômeno recente. Humboldt (1845)5 procurou valorizar o método empírico e indutivo,

baseado em experimentos e observações. Ritter (1818)6, por sua vez, procurou

estabelecer um método para a Geografia baseado na simplificação e redução, caracterizado por ser globalizador e não analítico. Passado todo esse tempo, essa questão ainda não foi resolvida, não cabendo aqui uma digressão sobre o método na ciência geográfica7. Todavia, faz-se necessário destacar que, do método

descritivo-quantitativo ao materialismo histórico-geográfico (HARVEY, 2012), a geografia sempre conviveu com a necessidade de aproximação com outras áreas do conhecimento.

No contexto atual, essa aproximação visa a atender, em parte, a irrevogável tarefa da Geografia de interpretar os fenômenos à luz das próprias condições históricas e sociais, bem como a dimensão espacial dos fenômenos e até mesmo a materialidade das forças produtivas/destrutivas no seio do capitalismo. Claval (2011, p. 305) nos lembra que o

movimento que conheceram as ciências sociais desde o início dos anos 1970 prossegue e aprofunda. Admite-se doravante que elas se enganam quando tentam se assemelhar à física ou a biologia: a sociedade não é uma máquina cujos movimentos seriam fáceis de descrever e de modelar; não é um organismo semelhante às plantas e aos animais. É feita de seres conscientes, que agem em função das representações que se fazem do real; o investigador tem mais a ganhar, aprofundando-se nas humanidades do que copiando as ciências materiais e da vida.

O caminho percorrido durante a elaboração desta tese levou em consideração os

5 Cosmos, composta por quatro volumes (Cf. CAPEL, 2008, p. 34). 6 Erdkunde (cf. CAPEL, 2008, p. 57).

7 Sposito (2004) faz uma síntese de como ocorreu a evolução do método na ciência geográfica e sua

(37)

domínios das novas formas de reparo social e temporal, por reconhecer a natureza provisória e fluída das configurações espaciais, sociais, econômicas e culturais que envolvem o fenômeno em questão, ou seja, a expansão do agrohidronegócio8 e as

disputas territoriais no Semiárido baiano. A nova lógica de concepção do espaço, pautada no movimento e na fluidez, torna, por um lado, obsoletos os espaços, os sujeitos e os modos de vida que não estejam em conformidade com os projetos desenvolvimentistas pós-modernos e/ou que não projetem as luzes de tais projetos (HARVEY, 2010). Por outro, o entrecruzamento contraditório e conflituoso entre o

moderno e o “arcaico”, entre o território camponês e o território do agrohidronegócio

coloca em evidência a sobreposição de sujeitos e de perspectivas político-econômicas distintas, compondo um quadro extremamente complexo no cerne da geografia, centrada na preocupação com o espaço social. O espaço como materialidade do movimento e do conflito9, e o ser social como sujeito das transformações em sua

constante relação com a natureza, constituem a expressão da totalidade-síntese dos contrários, condição essa extremamente desafiadora para os geógrafos que se propõem a pensar a produção/apropriação do espaço a partir do desenvolvimento em espiral (SPOSITO, 2004, p. 63).

O Semiárido baiano com suas transmutações em virtude da territorialização do capital torna-se uma condição histórico-geográfica no processo de desvelamento do cenário construído/apropriado pelos sujeitos que nele vivem e se reproduzem, exigindo do pesquisador um esforço epistemológico para capturar o movimento da totalidade socioespacial (a estrutura, a organização, as estratégias e as disputas). Pretende-se, assim, colocar em debate as tramas e urdiduras do capital no território do Semiárido

baiano, reconhecendo que “não há esforço crítico sem risco” (SANTOS, 2008a, p. 25), tendo como ponto de partida a organização dos espaços de vida e de reprodução dos

“camponeses caatingueiros.” (DOURADO, 2010).

Atualmente, no âmbito da geografia, as pesquisas qualitativas têm ganhado

8 Nossa inspiração para a discussão sobre o conceito de agrohidronegócio tem sua gênese nas obras de

Torres (2007), Mendonça e Mesquita (2007) e Thomaz Junior (2009). O avanço sobre a compreensão e consolidação conceitual daquilo que entendemos como agrohidronegócio tem nos desafiado a considerar as rupturas e disputas no cerne da expansão do grande capital no campo e seus rebatimentos sobre a cidade, mais especificamente sobre os trabalhadores no contexto da reforma agrária e da soberania alimentar, sem desconsiderar, todavia, o papel do Estado por meio das políticas públicas, haja vista que estas são instrumentos mediadores importantes para o agrohidronegócio.

9 De acordo com Fernandes (2008b, p. 198, grifo do autor), o conflito “é o estado de confronto entre

Referências

Documentos relacionados

Os subitens anteriores apresentaram a estimativa da projeção de demanda de carga para a Área de Influência da Hidrovia do São Francisco - a qual é resultado da projeção do PNLT

No mês de Março de 2010 a estrutura de transporte da equipe da UNIVASF para o atendimento do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do

Se fossem sinceros, eles deveriam ir até os inimigos de Deus, e, como São Francisco, pregar a eles a religião verdadeira com destemor, e atacando as falsas religiões, assim como

Neste sentido, a Agência Nacional de Águas - ANA está empenhada em estabelecer um sistema de outorga (direito de utilizar os rios), em articulação com os governos estaduais,

O ministro Aluízio Alves, ao discorrer sobre o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco para o semi-árido nordestino – “Quatro respostas sobre a transposição,

O atacante não pode pisar na linha de três metros ou na parte frontal da quadra antes de tocar a bola, embora seja permitido que ele aterrisse nesta área após o ataque. O ataque

Os resultados obtidos do grau de infestação (GI) em porcentagem para ninfas e adultos foram transformados para arco seno da raiz quadrada para análise

Estudar o comportamento fenológico, a exigência térmica e a evolução da maturação das bagas dos cultivares de uva 'BRS Morena', 'BRS Clara' e 'BRS Linda', bem como as