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Uma análise do ponto de vista em A Hora da Estrela e Laços de Família, de Clarice Lispector, e nas traduções italianas L'ora Della Stella e Legami Familiari

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Academic year: 2017

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UMA ANÁLISE DO PONTO DE VISTA

EM A HORA DA ESTRELA E LAÇOS DE FAMÍLIA, DE

CLARICE LISPECTOR, E NAS TRADUÇÕES ITALIANAS

L’ORA DELLA STELLA E LEGAMI FAMILIARI

Belo Horizonte

UFMG – FALE – POSLIN

(2)

UMA ANÁLISE DO PONTO DE VISTA

EM A HORA DA ESTRELA E LAÇOS DE FAMÍLIA, DE

CLARICE LISPECTOR, E NAS TRADUÇÕES ITALIANAS

L’ORA DELLA STELLA E LEGAMI FAMILIARI

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Lingüística Aplicada.

Área de concentração: Lingüística Aplicada

Linha de pesquisa: Estudos da Tradução

Orientadora: Profa. Dra. Célia Maria Magalhães

Belo Horizonte UFMG – FALE – POSLIN

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(4)

À professora Célia Magalhães, pela orientação paciente e dedicada e, sobretudo, por ter acreditado em mim quando mais precisei: obrigada por ter me guiado até aqui!

À professora Adriana Pagano e ao professor Fabio Alves, por terem seguido meu percurso e pelas valiosas indicações no Exame de Qualificação.

Aos colegas do projeto CORDIALL, pela disponibilidade e ajuda nas etapas do meu trabalho.

À CAPES, por ter me oferecido a oportunidade do estágio na Universidade Autónoma de Barcelona (UAB).

Aos membros do grupo PACTE da UAB, por terem me acolhido.

A Sérgio Maurício, Tiago, Igor e Tânia, pelo suporte técnico.

A Emiliana, pelas trocas de informações e material.

A Lísius, meu constante companheiro de viagem: obrigada por ter enfrentado mais uma tempestade comigo!

Ao pequeno Luca, luz e alegria do meu caminho.

Ao meu pai e às minhas irmãs, com os quais posso sempre contar.

(5)

Esta tese está afiliada à subárea de abordagens textuais da tradução, que integra o projeto Corpus Discursivo para Análises Lingüísticas e Literárias (CORDIALL), desenvolvido no Laboratório Experimental de Tradução (LETRA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tal subárea do CORDIALL compreende trabalhos cujo foco principal é o estudo da linguagem da tradução, e, mais especificamente, a construção de personagens e a apresentação do discurso em textos ficcionais. Continuando essa tradição, o presente trabalho aborda o ponto de vista narrativo na tradução a partir da investigação de um corpus paralelo constituído pelo romance A hora da estrela (AHDE) e pela coletânea de contos Laços de família (LDF), ambos de Clarice Lispector, e suas respectivas traduções italianas L´ora della stella (LODS) e Legami familiari (LF), realizadas por Adelina Aletti. Visando contribuir para os estudos do ponto de vista na tradução, foram estabelecidos três objetivos: (i) analisar o ponto de vista narrativo nos textos-fonte (TFs) através de seus indicadores lingüísticos no romance e nos contos; (ii) observar indicadores lingüísticos no que diz respeito à construção do ponto de vista narrativo nos textos-alvo (TAs); e (iii) averiguar as mudanças entre os TFs e os TAs com relação à construção do ponto de vista. O referencial teórico adotado na investigação são estudos sobre a tradução do ponto de vista narrativo e, como pressuposto destes, trabalhos de estilística e de apresentação do discurso. Recorre-se ainda à fortuna crítica de Lispector para observar se são apontados traços do ponto de vista como características típicas da escrita clariceana. Foram também utilizados recursos descritivos da Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) como suporte na observação de algumas categorias de análise e ferramentas da Lingüística de Corpus na metodologia de análise. Para cumprir os objetivos de pesquisa, foram analisados quatro realizadores lingüísticos da focalização narrativa, a saber: dêixis, discurso indireto livre, Processos materiais e modalidade. Os resultados da análise apontam indicadores lingüísticos do ponto de vista similares nos pares AHDE-LDF e LODS-LF, porém com algumas diferenças em termos de freqüência das ocorrências em cada categoria. As mudanças observadas nas traduções se referem a todas as quatro categorias de análise em ambos os TAs, embora algumas mudanças específicas tenham sido detectadas apenas em LF. Foi constatado que taismudanças acarretam diferenças na construção do ponto de vista narrativo, especialmente no que diz respeito à focalização nos personagens. Ao mesmo tempo, a análise contrastiva entre os TFs e os TAs apontou questões que não constavam nos objetivos iniciais da investigação, como a provável explicitação por meio do uso de exclamações e interrogações.

(6)

This doctoral thesis belongs to the subarea of textual approaches to translation within the CORDIALL project (Corpus of Discourse for the Analysis of Language and Literature) carried out at LETRA (Laboratory for Experimentation in Translation), at Faculdade de Letras, UFMG. This subarea includes case studies focusing on the language of translations and, particularly, on character and speech presentation in fiction. Continuing this tradition, this thesis studies point of view in translation by exploring a parallel corpus comprising the novel A hora da estrela (AHDE) and the collection of short stories Laços de família (LDF), both by Clarice Lispector, and their respective Italian translations L´ora della stella (LODS) and Legami familiari (LF) by Adelina Aletti. Aiming at contributing to the studies of point of view in translation, three purposes were outlined: (i) to analyze the fictional point of view in the source texts (STs) in order to detect typical writing patterns of the author both in the novel and the short stories; (ii) to observe writing patterns related to the fictional point of view in the target texts (TTs); and (iii) to investigate differences between the STs and the TTs in the construction of point of view. The theoretical framework of this thesis builds on studies on fictional point of view in translation and, as a prerequisite of the latter, on stylistics and speech and thought presentation studies. Literary criticism on Lispector’s work was also resorted to in order to observe whether point of view features are said to be typical of Lispector’s writing. Simultaneously, the descriptive set of Systemic-Functional Grammar was followed as an aid to analyze some categories under investigation as well as the tools provided by Corpus Linguistics for methodological procedures. In order to achieve the purposes outlined here, four categories of linguistic indicators of fictional focalization were analyzed: deixis, free indirect speech, material Processes and modality. The major findings point out similar writing patterns in both AHDE-LDF and LODS-LF, although with a few frequency differences of the occurrences in each category. The differences observed in the translations regard all the four categories of analysis in both TTs, even though some specific differences were found just in LF. Such differences bring about dissimilarities in the construction of the fictional point of view, especially regarding the characters’ focalization. Furthermore, the analysis between the STs and the TTs led to questions other than those included in the initial purposes of this investigation such as the likely explicitation through the use of exclamations and interrogations.

(7)

FIGURA 1 – Linhas de concordância da palavra “Macabéa” em AHDE... 78

FIGURA 2 – Exemplo de lista de palavra de LDF... 79

FIGURA 3 – Janela de busca do Multiconcord®... 81

FIGURA 4 – Lista de palavra de LDF ... 87

FIGURA 5 – Lista de palavra de LF ... 87

FIGURA 6 – Linhas de concordância do advérbio agora em LDF. ... 90

FIGURA 7 – Linhas de concordância tendo como item central palavras com desinência *uto em LF... 93

GRÁFICO 1 – Análise constrastiva dos dêiticos em AHDE-LDF. ... 100

GRÁFICO 2 – Análise constrastiva dos indicadores de DIL em AHDE-LDF. ... 105

GRÁFICO 3 – Análise constrastiva dos Processos materiais em AHDE-LDF. ... 115

GRÁFICO 4 – Análise constrastiva dos modais em AHDE-LDF. ... 121

GRÁFICO 5 – Análise constrastiva dos dêiticos no par LODS-LF... 126

GRÁFICO 6 – Análise constrastiva dos indicadores de DIL no par LODS-LF. ... 131

GRÁFICO 7 – Análise constrastiva dos Processos materiais no par LODS-LF... 138

GRÁFICO 8 – Análise constrastiva dos modais no par LODS-LF... 143

GRÁFICO 9 – Análise contrastiva dos dêiticos no par AHDE-LODS. ... 149

GRÁFICO 10 – Análise contrastiva dos indicadores de DIL no par AHDE-LODS. ... 153

GRÁFICO 11 – Análise contrastiva dos Processos materiais no par AHDE-LODS... 159

GRÁFICO 12 – Análise contrastiva dos modais no par AHDE-LODS... 166

GRÁFICO 13 – Análise contrastiva dos dêiticos no par LDF-LF. ... 170

GRÁFICO 14 – Análise contrastiva dos indicadores de DIL no par LDF-LF... 176

GRÁFICO 15 – Análise contrastiva dos Processos materiais no par LDF-LF. ... 184

(8)

QUADRO 2: Subcategorias e exemplos de DIL ... 84

QUADRO 3: Subcategorias e exemplos de Processos materiais ... 85

QUADRO 4: Subcategorias e exemplos de modalidade ... 85

(9)

TABELA 1: Dados quantitativos do corpus... 83

TABELA 2: Ocorrências de dêixis pessoal em AHDE e em LDF... 96

TABELA 3: Ocorrências de dêixis temporal em AHDE e em LDF ... 98

TABELA 4: Ocorrências de dêixis espacial em AHDE e em LDF... 99

TABELA 5: Resumo quantitativo dos dêiticos em AHDE e em LDF ... 99

TABELA 6: Ocorrências de exclamações e interrogações em AHDE e em LDF ... 102

TABELA 7: Ocorrências de advérbios indicadores de debate interior e incerteza em AHDE e em LDF... 103

TABELA 8: Ocorrências de advérbios de tempo presente e de lugar próximo co-ocorrendo com verbos no passado em AHDE e em LDF... 104

TABELA 9: Resumo quantitativo dos indicadores de DIL em AHDE e em LDF ... 104

TABELA 10: Verbos realizando Processos materiais em construções transitivas em AHDE e em LDF... 108

TABELA 11: Verbos em construções ergativas em AHDE e em LDF ... 110

TABELA 12: Construções passivas em AHDE e em LDF ... 112

TABELA 13: Resumo quantitativo dos Processos materiais em AHDE e em LDF... 113

TABELA 14: Dever em AHDE e em LDF ... 116

TABELA 15: Ter que em AHDE e em LDF... 117

TABELA 16: Poder em AHDE e em LDF ... 117

TABELA 17: Saber em AHDE e em LDF... 118

TABELA 18: Parecer... como se / talvez em ADHE e em LDF... 119

TABELA 19: Resumo quantitativo dos modais em AHDE e em LDF... 120

TABELA 20: Ocorrências de dêixis pessoal em LODS e em LF ... 123

TABELA 21: Ocorrências de dêixis temporal em LODS e em LF... 124

TABELA 22: Ocorrências de dêixis espacial em LODS e em LF ... 125

TABELA 23: Resumo quantitativo dos dêiticos em LODS e em LF ... 126

(10)

TABELA 26: Ocorrências de advérbios de tempo presente co-ocorrendo com verbos no

passado em LODS e em LF... 129

TABELA 27: Resumo quantitativo dos indicadores de DIL em LODS e em LF ... 130

TABELA 28: Verbos realizando Processos materiais em construções transitivas em LODS e em LF... 132

TABELA 29: Verbos em construções ergativas em LODS e em LF ... 134

TABELA 30: Construções passivas em LODS e em LF... 136

TABELA 31: Resumo quantitativo dos Processos materiais em LODS e em LF ... 137

TABELA 32: Dovere em LODS e em LF... 139

TABELA 33: Potere em LODS e em LF ... 140

TABELA 34: Sapere em LODS e em LF ... 141

TABELA 35: Sembra e pareva... come se / forse em LODS e em LF... 142

TABELA 36: Resumo quantitativo dos modais em LODS e em LF ... 142

TABELA 37: Dêixis pessoal em AHDE e suas traduções em LODS... 146

TABELA 38: Dêixis temporal em AHDE e suas traduções em LODS ... 147

TABELA 39: Dêixis espacial em AHDE e suas traduções em LODS... 147

TABELA 40: Equivalências e mudanças na tradução dos dêiticos no par AHDE-LODS... 148

TABELA 41: Exclamações e interrogações em AHDE e em LODS... 149

TABELA 42: Advérbios indicadores de debate interior e incerteza em AHDE e suas traduções em LODS... 150

TABELA 43: Advérbios de tempo presente co-ocorrendo com verbos no passado em AHDE e suas traduções em LODS... 151

TABELA 44: Equivalências e mudanças dos indicadores de DIL no par AHDE-LODS... 152

TABELA 45: Verbos realizando Processos materiais em construções transitivas em AHDE e suas traduções em LODS... 154

TABELA 46: Verbos em construções ergativas em AHDE e suas traduções em LODS ... 156

TABELA 47: Construções passivas em AHDE e suas traduções em LODS ... 157

TABELA 48: Equivalências e mudanças nos Processos materiais no par AHDE-LODS ... 158

TABELA 49: Dever em AHDE e suas traduções em LODS ... 160

(11)

TABELA 53: Parecer... como se / talvez em AHDE e suas traduções em LODS... 164

TABELA 54: Equivalências e mudanças na tradução dos modais no par AHDE-LODS ... 165

TABELA 55: Dêixis pessoal em LDF e suas traduções em LF ... 167

TABELA 56: Dêixis temporal em LDF e suas traduções em LF... 168

TABELA 57: Equivalências e mudanças na tradução dos dêiticos no par LDF-LF ... 169

TABELA 58: Exclamações e interrogações em LDF e suas traduções em LF ... 171

TABELA 59: Advérbios indicadores de debate interior e incerteza em LDF e suas traduções em LF... 173

TABELA 60: Advérbios de tempo presente e de lugar próximo co-ocorrendo com verbos no passado em LDF e suas traduções em LF... 174

TABELA 61: Equivalências e mudanças na tradução dos modais no par LDF-LF... 175

TABELA 62: Verbos realizando Processos materiais em construções transitivas em LDF e suas traduções em LF ... 178

TABELA 63: Verbos em construções ergativas em LDF e suas traduções em LF... 180

TABELA 64: Construções passivas em LDF e suas traduções em LF ... 182

TABELA 65: Equivalências e mudanças nos Processos materiais no par LDF-LF ... 183

TABELA 66: Dever em LDF e suas traduções em LF ... 185

TABELA 67: Ter que em LDF e suas traduções em LF ... 185

TABELA 68: Poder em LDF e suas traduções em LF ... 186

TABELA 69: Saber em LDF e suas traduções em LF ... 188

TABELA 70: Parecer... como se / talvez em LDF e suas traduções em LF... 189

TABELA 71: Equivalências e mudanças na tradução dos modais no par LDF-LF... 190

TABELA 72: Resumo da análise dos dados nos dois TFs e nos dois TAs ... 229

(12)

A+/A- Narração na primeira pessoa do singular de categoria positiva ou negativa

B+/B- Narração na terceira pessoa do singular de categoria positiva ou negativa

B(N) Narração na terceira pessoa do singular de modo narrativo

B(R) Narração na terceira pessoa do singular de modo refletor

AHDE A hora da estrela

DD / PD Discurso direto / Pensamento direto

DDL /PDL Discurso direto livre / Pensamento direto livre

DI / PI Discurso indireto / Pensamento indireto

DIL / PIL Discurso indireto livre / Pensamento indireto livre

FALE Faculdade de Letras

GSF Gramática Sistêmico-funcional

LDF Laços de família

LETRA Laboratório Experimental de Tradução

LF Legami familiari

LODS L’ora della stella

M Macabéa

MEC Ministério da Educação e Cultura (atual Ministério da Educação)

NAF / NAP Narração de ato de fala / Narração de ato de pensamento

NI Narração interior

R Rodrigo

TA(s) Texto(s)-alvo

TF(s) Texto(s)-fonte

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

(13)

INTRODUÇÃO ...18

CAPÍTULO 1: ARCABOUÇO TEÓRICO ...25

1.1 Localização da Pesquisa... 25

1.2 O Ponto de Vista Ficcional... 39

1.3 O Ponto de Vista na Tradução ... 51

CAPÍTULO 2: CORPUS E METODOLOGIA ...65

2.1 Seleção do Corpus... 65

2.1.1 Laços de família... 66

2.1.2 A hora da estrela... 67

2.1.3 Recepção de Legami familiari e L´ora della stella na Itália ... 68

2.2 Pesquisa Documental sobre o Corpus... 71

2.3 Metodologia de Corpus ... 76

2.3.1 Preparação do corpus... 76

2.3.2 O WordSmith Tools® ... 78

2.3.3 O Multiconcord®... 80

2.3.4 Metodologia de análise ... 82

2.3.4.1 Dados quantitativos... 82

2.3.4.2 Categorias de análise ... 84

Fonte dos exemplos: Leech e Short (1981), com exceção dos últimos, produzidos pela autora. ... 86

2.3.4.3 Passos metodológicos... 86

CAPÍTULO 3: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS NO PAR AHDE-LDF ...95

3.1 Dêixis... 96

3.1.1 Dêixis pessoal ... 96

3.1.2 Dêixis temporal ... 98

3.1.3 Dêixis espacial ... 99

(14)

3.2 Discurso Indireto Livre (DIL) ... 101

3.2.1 Exclamações e interrogações ... 101

3.2.2 Advérbios indicadores de debate interior e incerteza ... 103

3.2.3 Advérbios de tempo presente co-ocorrendo com verbos no passado... 103

3.2.4 Resumo dos resultados da análise de DIL no par AHDE-LDF... 104

3.3 Processos Materiais ... 106

3.3.1 Verbos realizando Processos materiais em construções transitivas ... 107

3.3.2 Verbos realizando Processos materiais em construções ergativas ... 110

3.3.3 Verbos realizando Processos materiais em construções passivas ... 112

3.3.4 Resumo dos resultados da análise dos Processos materiais no par AHDE-LDF 113 3.4 Modalidade... 115

3.4.1 Realizadores de modulação de obrigação de valor alto: Dever e ter que ... 116

3.4.2 Realizadores de modulação de obrigação de valor baixo: Poder ... 117

3.4.3 Indicadores de A+/B+... 118

3.4.4 Indicadores de A-/B-... 119

3.4.5 Resumo dos resultados da análise da modalidade no par AHDE-LDF... 120

CAPÍTULO 4: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS NO PAR LODS-LF122 4.1 Dêixis... 122

4.1.1 Dêixis pessoal ... 123

4.1.2 Dêixis temporal ... 124

4.1.3 Dêixis espacial ... 125

4.1.4 Resumo dos resultados da análise de dêixis no par LODS-LF... 125

4.2 DIL ... 127

4.2.1 Exclamações e interrogações ... 127

4.2.2 Advérbios indicadores de debate interior e incerteza ... 128

4.2.3 Advérbios de tempo presente co-ocorrendo com verbos no passado... 129

4.2.4 Resumo dos resultados da análise de DIL no par LODS-LF ... 130

4.3 Processos Materiais ... 131

(15)

4.3.2 Verbos realizando Processos materiais em construções ergativas ... 133

4.3.3 Verbos realizando Processos materiais em construções passivas ... 135

4.3.4 Resumo dos resultados da análise dos Processos materiais no par LODS-LF 137 4.4 Modalidade... 139

4.4.1 Realizadores de modulação de obrigação de valor alto: Dovere ... 139

4.4.2 Realizadores de modulação de obrigação de valor baixo: Potere ... 140

4.4.3 Indicadores de A+/B+... 141

4.4.4 Indicadores de A-/B-... 141

4.4.5 Resumo dos resultados da análise da modalidade no par LODS-LF ... 142

CAPÍTULO 5: ANÁLISE DO CORPUS PARALELO ...145

5.1 AHDE-LODS ... 145

5.1.1 Dêixis... 145

5.1.1.1 Dêixis pessoal ... 145

5.1.1.2 Dêixis temporal ... 146

5.1.1.3 Dêixis espacial... 147

5.1.1.4 Resumo dos resultados da análise de dêixis no par AHDE-LODS ... 148

5.1.2 DIL ... 149

5.1.2.1 Exclamações e interrogações ... 149

5.1.2.2 Advérbios indicadores de debate interior e incerteza ... 150

5.1.2.3 Advérbios de tempo presente co-ocorrendo com verbos no passado... 151

5.1.2.4 Resumo dos resultados da análise de DIL no par AHDE-LODS ... 152

5.1.3 Processos materiais... 153

5.1.3.1 Verbos realizando Processos materiais em construções transitivas... 154

5.1.3.2 Verbos realizando Processos materiais em construções ergativas... 156

5.1.3.3 Verbos realizando Processos materiais em construções passivas ... 157

5.1.3.4 Resumo dos resultados da análise dos Processos materiais no par AHDE-LODS ... 158

5.1.4 Modalidade... 159

(16)

5.1.4.2 Tradução do realizador de modulação de obrigação de valor baixo: poder

... 161

5.1.4.3 Tradução dos indicadores de A+/B+ ... 163

5.1.4.4 Tradução dos indicadores de A-/B-... 164

5.1.4.5 Resumo dos resultados da análise da modalidade no par AHDE-LODS ... 165

5.2 LDF-LF... 167

5.2.1 Dêixis... 167

5.2.1.1 Dêixis pessoal ... 167

5.2.1.2 Dêixis temporal ... 168

5.2.1.3 Resumo dos resultados da análise de dêixis no par LDF-LF ... 169

5.2.2 DIL ... 171

5.2.2.1 Exclamações e interrogações ... 171

5.2.2.2 Advérbios indicadores de debate interior e incerteza ... 173

5.2.2.3 Advérbios de tempo presente e de lugar próximo ao falante co-ocorrendo com verbos no passado... 174

5.2.2.4 Resumo dos resultados da análise de DIL no par LDF-LF ... 175

5.2.3 Processos materiais... 177

5.2.3.1 Verbos realizando Processos materiais em construções transitivas... 177

5.2.3.2 Verbos realizando Processos materiais em construções ergativas... 180

5.2.3.3 Verbos realizando Processos materiais em construções passivas ... 181

5.2.4 Modalidade... 184

5.2.4.1 Tradução dos realizadores de modulação de obrigação de valor alto: dever e ter que ... 184

5.2.4.2 Tradução do realizador de modulação de obrigação de valor baixo: poder ... 185

5.2.4.3 Tradução dos indicadores de A+/B+ ... 187

5.2.4.4 Tradução dos indicadores de A-/B-... 188

5.2.4.5 Resumo dos resultados da análise da modalidade no par LDF-LF... 190

CAPÍTULO 6: CONSIDERAÇÕES FINAIS...228

6.1 Indicadores lingüísticos do ponto de vista nos TFs e nos TAs... 228

(17)

6.3 Como as mudanças podem alterar o ponto de vista nos TAs ... 236

6.4 Síntese do percurso seguido ... 239

6.5 Balanço e perspectivas da pesquisa... 242

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...244

ANEXOS... 252

Anexo 1 ... 252

Anexo 2 ... 254

(18)

interesse é a linguagem da tradução (cf. MALMKJÆR, 2005).

Mais especificamente, esta tese é um dos produtos do grupo de pesquisa

registrado no Diretório do CNPq como “Abordagens textuais da tradução”, coordenado pela

professora Célia Maria Magalhães, que atua no Laboratório Experimental de Tradução

(LETRA) da Faculdade de Letras (FALE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

e participa do desenvolvimento do projeto Corpus Discursivo para Análises Lingüísticas e

Literárias (CORDIALL). Esse projeto começou a ser realizado em 1999 e engloba quatro

subcorpora continuamente atualizados com arquivos de textos compilados para novas

pesquisas do LETRA, a saber: (i) corpus paralelo multilíngüe de textos traduzidos (textos

originais e traduções para várias línguas), (ii) corpus comparável de português brasileiro, (iii)

corpus especializado de textos acadêmicos e jornalísticos e (iv) Corpus Processual para

Análises Tradutórias (CORPRAT).

O corpus paralelo multilíngüe do CORDIALL fomenta a realização de trabalhos

cujo foco principal é a representação de personagens e a apresentação do discurso em textos

ficcionais, ambos os aspectos de interesse para a presente pesquisa, que visa estabelecer uma

correlação entre os elementos lingüísticos investigados na representação de personagens e na

apresentação do discurso com o ponto de vista narrativo.

Mais especificamente, a investigação ora apresentada tem como objeto de estudo

o corpus paralelo constituído pelo romance A hora da estrela (AHDE) e pela coletânea de

contos Laços de Família (LDF), ambos de Clarice Lispector, e suas respectivas traduções

italianas L’ora della stella (LODS) e Legami familiari (LF), realizadas por Adelina Aletti.

O foco de análise, como antecipado, é a representação do ponto de vista narrativo

(19)

O interesse por esse assunto surgiu como conseqüência do trabalho de dissertação

sobre a construção das personagens femininas no par LDF-LF (cf. MAURI, 2003) e da leitura

da fortuna crítica de Lispector, utilizada para contextualizar tal trabalho, a qual aponta

características da escrita clariceana relacionadas ao ponto de vista narrativo, como, por

exemplo, a representação do discurso, o uso de repetições lexicais e de construções passivas e

o emprego peculiar da pontuação.

A decisão de incluir no corpus o par AHDE-LODS foi determinada por duas

razões principais: (i) o desejo de estender a análise a um romance da autora; e (ii) o fato de

AHDE ser o último romance (e também último livro) escrito pela autora, o que poderia levar a

uma comparação interessante com LDF, primeira coletânea de contos clariceana publicada

por uma editora comercial.

O objetivo geral da investigação aqui apresentada é contribuir para os estudos do

ponto de vista na tradução. A partir dele, têm-se três desdobramentos, ou objetivos

específicos, desta pesquisa, quais sejam:

1. Analisar o ponto de vista narrativo em AHDE e LDF visando detectar seus

indicadores lingüísticos no romance e nos contos;

2. Observar indicadores lingüísticos no que diz respeito à construção do ponto

de vista narrativo nos TAs; e

3. Averiguar mudanças e equivalências entre os TFs e os TAs com relação ao

ponto de vista.

Tais objetivos foram concretizados nas três perguntas iniciais de pesquisa que

nortearam a análise, a saber:

1. Quais são os indicadores lingüísticos do ponto de vista dos contos e do

(20)

2. Quais são as mudanças nas realizações lingüísticas da focalização narrativa

nos TAs?

3. Como as mudanças podem alterar o ponto de vista nos TAs?

Para responder a tais perguntas, foi necessário procurar um embasamento teórico

que pudesse dar suporte para a metodologia a ser seguida na análise dos dados.

Após uma busca prévia de estudos sobre o ponto de vista ficcional na tradução,

constatou-se que ainda se trata de um tema pouco explorado em tradução e sobre o qual

poucos trabalhos foram realizados (e.g., LEVENSTON; SONNENSCHEIN, 1986; MAY,

1994; BOSSEAUX, 2004; 2007). Essas pesquisas pressupõem estudos de estilística e de

apresentação do discurso ficcional, cuja leitura mostrou-se fundamental para o

desenvolvimento da presente investigação. Dentre esses estudos, vale destacar o modelo para

a análise do ponto de vista ficcional de Simpson (1993) e os modelos de apresentação do

discurso de Leech e Short (1981) e de Semino e Short (2004).

Ao mesmo tempo, recorreu-se à leitura da fortuna crítica de Lispector para

confirmar a intuição inicial de que o ponto de vista constitui um traço-chave nos textos do

corpus da presente pesquisa. Os textos de crítica literária consultados apontam diversas

características da escrita clariceana relacionadas ao ponto de vista narrativo, tais como

apresentação do discurso, uso de repetições lexicais e de construções passivas e emprego de

pontuação peculiar.

O modelo de análise de Bosseaux (2007) foi escolhido para ser aplicado na

presente investigação por ser o mais abrangente e por especificar de forma mais detalhada

quais realizadores lingüísticos analisar para detectar contrastivamente o ponto de vista nos

TFs e nos TAs. Porém, como explicado ao longo desta tese, diferentemente do modelo da

(21)

Gramática Sistêmico-Funcional, além de ter sido realizada uma análise contrastiva entre os

dois TFs e entre os dois TAs, não contemplada na pesquisa de Bosseaux (2007).

Para a análise das quatro categorias de realizadores do ponto de vista apontados

por Bosseaux (2007), isto é, (i) dêixis, (ii) discurso indireto livre (DIL), (iii) Processos

materiais e (iv) modalidade, foram utilizadas ferramentas da Lingüística de Corpus (mais

especificamente, os programas WordSmith Tools® e Multiconcord®).

No que tange à dêixis foram analisadas as repetições dos dêiticos pessoais

eu/ele/ela (português) e io/lui/egli/lei/ella (italiano) e dos dêiticos espaço-temporais (e.g. aqui,

lá), além das co-ocorrências destes com aqueles.

O foco da análise da seção dedicada ao DIL foram as exclamações e as

interrogações (e.g., ah, é?), os advérbios indicadores de debate interior e incerteza (e.g. talvez,

provavelmente) e os advérbios de tempo presente e de lugar próximo ao falante em

co-ocorrência com verbos no passado (e.g., agora...fui, cá... caiu).

No que diz respeito aos verbos realizadores de Processos materiais, observou-se a

realização desses processos em construções transitivas (e.g., ela fazia riscos), ergativas (e.g.,

parou no beco escurecido) e passivas (e.g., está sendo exterminada).

Com relação à modalidade, foram analisadas as instâncias dos verbos realizadores

de modulação de obrigação de valor alto (dever/ter que e dovere) e de valor baixo (poder e

potere). Ademais, foram observadas as repetições dos verbos que realizam os Processos

mentais saber/sentir e sapere/sentire e as co-ocorrências de parecer... como se/talvez,

sembrare/parere... come se/forse, indicadoras, respectivamente, de trechos de narração

A+/B+ e A-/B- (cf. SIMPSON, 1993), categorias amplamente detalhadas no capítulo teórico

desta tese.

Vale ressalvar que, em um primeiro momento, para complementar a análise da

(22)

potencialmente produtivos para uma investigação do ponto de vista. Entretanto, devido

principalmente à falta de literatura sobre a avaliatividade tanto para o português como para o

italiano, decidiu-se concentrar a atenção nos elementos modais, que, de qualquer maneira,

incluem vários aspectos atitudinais próprios da avaliatividade.

Os resultados da análise apontaram indicadores lingüísticos do ponto de vista

parecidos nos pares AHDE-LDF e LODS-LF, porém com algumas diferenças em termos de

freqüência das ocorrências em cada categoria.

As mudanças observadas nas traduções se referem a todas as quatro categorias de

análise em ambos os TAs, embora algumas mudanças específicas tenham sido detectadas

apenas em LF.

Ademais, a análise contrastiva entre os TFs e os TAs apontou questões cuja

observação não constava entre os objetivos iniciais da investigação, como a explicitação (cf.

BAKER, 1993; 1996) por meio do uso de exclamações e interrogações nas traduções e

mudanças nas cadeias coesivas. Esses dois fenômenos acabam tendo repercussões na

construção do ponto de vista narrativo nos TAs devido ao fato de que, no caso da

explicitação, a voz dos personagens é ressaltada e, ao contrário, no caso das mudanças na

coesão, a repetição enfática (própria da linguagem falada pelos personagens, constituindo um

dos traços típicos da escrita clariceana) é, por assim dizer, apagada nas traduções.

Foi também constatado que as mudanças observadas, não instanciando ou

modificando os padrões lingüísticos dos TFs, acarretam diferenças na construção do ponto de

vista narrativo, especialmente no que diz respeito à focalização nos personagens.

O texto desta tese está organizado em seis capítulos, além desta Introdução, em

que são apresentados os objetivos de pesquisa e a justificativa para a realização da presente

(23)

No Capítulo 1, é apresentado o referencial teórico que forneceu o suporte

necessário para a análise. Esse capítulo é subdividido em três seções, a saber: (1.1)

localização da pesquisa; (1.2) o ponto de vista ficcional; e (1.3) o ponto de vista na tradução.

O Capítulo 2 apresenta o corpus de investigação e a metodologia de análise em

três seções principais. Na primeira (2.1), explica-se como foi selecionado o corpus e faz-se

uma apresentação de LDF (subseção 2.1.1) e de AHDE (subseção 2.1.2), além de algumas

recensões de LF e LODS escritas na Itália na época da publicação das traduções italianas. Na

segunda seção (2.2), apresenta-se a fortuna crítica da obra de Lispector, principalmente no

que diz respeito a AHDE e a LDF. Na terceira e última seção (2.3), é ilustrada a metodologia

utilizada ao longo da pesquisa. Na subseção 2.3.1, são relatados os procedimentos de

preparação do corpus para o arquivo do CORDIALL e de aplicação dos programas

WordSmithTools© e Multiconcord® (subseções 2.3.2 e 2.3.3, respectivamente). Antes de

explicar a metodologia de análise propriamente dita (subseção 2.3.4.3), é feito um

levantamento dos dados quantitativos do corpus (subseção 2.3.4.1) e são apresentadas, de

forma sistemática (em quadros), as categorias de análise introduzidas no capítulo teórico

(subseção 2.3.4.2).

Os Capítulos 3, 4 e 5 apresentam a análise e discussão dos dados. O Capítulo 3 se

refere à análise comparativa de AHDE-LDF; o Capítulo 4, à análise comparativa de

LODS-LF; e o Capítulo 5, ao exame do corpus paralelo AHDE-LODS e LDF-LF. Cada capítulo é

dividido em quatro seções, cada uma reservada à análise de uma categoria de realizadores de

ponto de vista: (i) dêixis, (ii) DIL, (iii) Processos materiais e (iv) modalidade. Ao final de

cada seção são resumidos os resultados de cada categoria. Ademais, com o intuito de

contextualizar os dados quantitativos apresentados na análise, são reproduzidos, ao final do

Capítulo 5, alguns trechos comentados do corpus, os quais contêm exemplos contextualizados

(24)

Nas Considerações finais, faz-se, primeiramente, um resumo geral dos achados

dos capítulos de análise, retomando-se e respondendo-se às perguntas iniciais de pesquisa. Em

um segundo momento, sintetiza-se o percurso seguido ao longo da tese e, por fim, apontam-se

as limitações da presente pesquisa, suas desejáveis contribuições e algumas perspectivas de

(25)

CAPÍTULO 1: ARCABOUÇO TEÓRICO

1.1 Localização da Pesquisa

A presente pesquisa é de tipo descritivo-textual e tem como foco a linguagem da

tradução. O interesse está nas realizações lingüísticas do ponto de vista ficcional no corpus

paralelo AHDE/LDF-LODS/LF, sendo os primeiros dois textos de autoria de Clarice

Lispector e os dois últimos suas traduções italianas produzidas por Adelina Aletti.

Cabe aqui fazer uma síntese dos modelos teóricos utilizados direta ou

indiretamente na análise.

Com o intuito de localizar a investigação dentro dos Estudos da Tradução, vale

destacar, em primeiro lugar, a classificação de Holmes (1972/1988), que distingue entre

estudos teóricos, descritivos e aplicados da tradução, os quais se subdividem em grupos

distintos segundo o foco de interesse. No que se refere aos estudos descritivos, Holmes

(1972/1988) distingue entre aqueles orientados para o produto (i.e., a análise e a comparação

de traduções já existentes, como o caso da presente pesquisa), para a função (ou a área da

tradução) e para o Processo (ou as estratégias utilizadas pelo tradutor na hora de traduzir).

Dentre os estudos teóricos, Holmes (1972/1988) indica os estudos gerais e os parciais. Estes

podem ser restringidos ao meio (tradução realizada por ser humano ou tradução automática), à

área (língua ou cultura), ao nível (palavras, orações etc.), ao tipo de texto (literário, científico

etc.), ao período histórico ou ao tipo determinado de problema (equivalência, metáfora etc.).

Com referência aos estudos aplicados, Holmes (1972/1988) explica que se trata de uma

aplicação prática dos estudos descritivos e teóricos e também de outras disciplinas para outros

objetivos, como, por exemplo, o ensino da tradução, o desenvolvimento de ferramentas

(26)

Como explica Hurtado Albir (2001), a abordagem discursiva representa só uma

das várias abordagens do que a autora denomina “Tradutologia”, isto é, a disciplina que se

ocupa do conjunto de estudos com diferentes focos sobre a tradução e que, devido ao seu

amplo objeto de estudo, é por definição multidisciplinar. A autora considera a proposta de

Holmes (1972/1988) como a primeira reflexão metateórica sobre a tradução e como aquela

que contribuiu para uma visão da disciplina como independente. Hurtado Albir (2001) ressalta

a relação entre os três tipos de estudos da tradução indicados por Holmes em seu modelo e

aponta a importância dos estudos descritivos, os quais ela considera “a base empírica

imprescindível que proporciona dados e serve para verificar hipóteses” (HURTADO ALBIR,

p.141)1. Citando Toury (1980), Hurtado Albir (2001) afirma que os estudos descritivos se

referem aos casos concretos e fornecem dados empíricos, sem, contudo, deixar de lado a

necessidade de situar tais descrições dentro de um determinado arcabouço teórico. A partir de

tais observações, Hurtado Albir (2001) propõe uma reformulação do modelo de Holmes que

ressalte o vínculo entre os estudos teóricos, descritivos e aplicados e entre estudos gerais e

parciais e que leve em conta, também, que todos os estudos são realizados à luz de

determinados enfoques empíricos e métodos de pesquisa. Dessa forma, a tradução é vista por

Hurtado Albir (2001) na sua tríplice natureza de ato de comunicação, operação textual e

atividade cognitiva, constituindo, pois, “um processo interpretativo e comunicativo de

reformulação de um texto com os meios de outra língua o qual se desenvolve em um contexto

social e com uma finalidade determinada” (HURTADO ALBIR, 2001, p. 147)2.

Dentre os modelos de análise surgidos após a proposta de Holmes, Hurtado Albir

(2001) ressalta os estudos descritivos de tipo empírico orientados ao produto que analisam

comparativamente as traduções, como no caso da pesquisa ora apresentada.

1 Nossa tradução de “[...] la base empírica imprescindible que proporciona datos y sirve para verificar

hipótesis”.

2

(27)

Munday (2001) também ressalta o mérito do modelo de Holmes (1972/1988) em

ter esclarecido o status dos Estudos da Tradução e de suas áreas e de ser suficientemente

flexível para permitir a incorporação de novos avanços tecnológicos. Munday (2001), todavia,

especifica que, devido à realidade da época da elaboração do modelo de Holmes (1972/1988),

este não considerou, entre as áreas dos Estudos da Tradução, aquela centrada no tipo de

discurso nem o estilo, o processo de tomada de decisão e outras práticas tradutórias. O

trabalho de Munday (1998; 2001; 2002), além de ser de tipo descritivo, se insere na interface

Estudos da Tradução e GSF (HALLIDAY, 1994), cujos aspectos relevantes para a presente

pesquisa serão apresentados ao final desta seção. Ademais, Munday (1998; 2001; 2002),

assim como realizado na presente pesquisa, utiliza os recursos metodológicos da Lingüística

de Corpus3 para realizar sua análise.

Dentre os teóricos que adotaram uma abordagem discursiva de cunho hallidayano,

Munday (2001) lembra Blum-Kulka (1986/2000), Baker (1992), Hatim e Mason (1990; 1997)

e House (1997).

Cronologicamente posterior a Munday (2001) e, por essa razão, apresentado logo

após esse autor, mas referência fundamental para a presente pesquisa no que diz respeito ao

interesse pelos fenômenos tradutórios, é o livro Linguistics and the Language of Translation,

de Malmkjær (2005). A autora faz um mapeamento dos Estudos da Tradução remetendo a

Holmes (1972/1988) e adicionando ao modelo do autor o ato de traduzir em si, o qual envolve

tomadas de decisões tradutórias que podem ser facilitadas por meio dos Estudos da Tradução

(e.g., normas, objetivos, contextos).

Malmkjær (2005) distingue entre quatro abordagens dos Estudos da Tradução

(lingüística, descritiva, funcional e cultural) e frisa que seguir qualquer uma delas implica

diferentes posturas. Em outras palavras, é possível abordar os Estudos da Tradução a partir de

3

(28)

uma teoria de outro campo e alargá-la para incluir os fenômenos tradutórios dentro da esfera

das suas aplicações. Desse modo, afirma a autora, se contribuirá também para o

fortalecimento da teoria utilizada, aumentando o campo da sua abrangência, como, por

exemplo, no caso de Gutt (1991), em que os fenômenos tradutórios são considerados casos

especiais a serem estudados dentro da Teoria da Relevância. A autora também ressalta que é

possível desenvolver uma teoria da tradução aplicando uma teoria de outra disciplina, isto é,

considerando-se os Estudos da Tradução como subcategoria de outras disciplinas,

principalmente da Lingüística Aplicada, como feito por Catford (1965). Malmkjær (2005)

afirma que é também possível aplicar o conhecimento de outras disciplinas à tradução

considerando-se que, ao mesmo tempo, os Estudos da Tradução possuem seu próprio status

teórico. A autora relembra que, em seu livro, o interesse principal é a linguagem das traduções

e que utilizará tanto teorias lingüísticas como filosóficas como suporte.

Dentre as abordagens lingüísticas, Malmkjær (2005) cita Catford (1965) e Nida

(1964). A autora esclarece que a teoria de Catford se baseia em uma primeira versão da GSF

de Halliday (1961 apud MALMKJÆR, 2005), influenciada, por sua vez, por Firth (1957).

Malmkjær (2005) apresenta as noções básicas da teoria de Catford (1965) a partir da

afirmação de que cada língua é sui generis – e, portanto, duas línguas não podem realizar os

mesmos significados formais (lingüísticos) – e de que a tradução é a substituição de material

textual em uma língua por material textual equivalente em outra língua. A autora ressalta que

a intenção principal de Catford é definir a noção de “equivalência” em tradução,

reconduzindo-a às formas lingüísticas em vez do significado. Isso acarreta conseqüências na

noção de intraduzibilidade, atribuível, segundo Catford, a fatores lingüísticos como, por

exemplo, colocações inusitadas na língua-alvo. Na opinião de Malmkjær (2005), o fato de

(29)

autor de aumentar a autonomia da teoria da tradução e de estimular a criação de traduções

automáticas.

No que se refere a Nida (1964), Malmkjær (2005) aponta que ele adota a

tripartição de Jakobson (1959) entre tradução intralingüística, intersemiótica e interlingüística

e que seu ponto de partida é a lingüística gerativa chomskyana. A autora frisa que, embora a

teoria de Nida seja mais interdisciplinar que a de Catford, aquela é ainda considerada uma

abordagem lingüística pelo fato de o próprio Nida apontar a importância da análise lingüística

na tradução. A autora lembra a famosa distinção de Nida entre “equivalência formal” (de

forma e conteúdo) e “equivalência dinâmica” (dependente do contexto cultural) e o interesse

de Nida pela resposta do leitor ao texto traduzido como um todo, o que o difere de Catford,

cujo interesse se limita essencialmente às sentenças.

Em se tratando das abordagens descritivas, Malmkjær (2005) afirma que elas, por

um lado, testam as teorias nos dados e, por outro, explicam esses dados. A autora apresenta a

teoria de Toury (1980; 1995), que compreende a noção de “normas”, isto é, explicações dos

fenômenos observados na tradução, como exemplo de abordagem descritiva dos Estudos da

Tradução orientada para o TA. Na visão de Toury, a noção de “equivalência” remete à relação

entre o TF e o TA e leva em conta a existência de outras possíveis relações de equivalência

relevantes no âmbito de cada relação de tradução.

O terceiro tipo de abordagem indicado por Malmkjær (2005) é o funcional, cujo

interesse está na produção das traduções, como é o caso da teoria dos skopos formulada por

Vermeer (1978 ⁄ 1983), cujo foco é o objetivo específico, a função, de cada tradução. A autora

lembra que esses princípios são retomados por Reiss e Vermeer (1984/1991) e por Nord

(1995).

Com relação às abordagens culturais, Malmkjær (2005) explica que se

(30)

pós-estruturalistas do discurso, com sua visão da linguagem como construtora e transmissora

de significados. A autora distingue entre dois tipos diferentes de abordagens culturais dos

Estudos da Tradução: (i) os baseados nos estudos pós-coloniais, como, por exemplo, o

trabalho de Bassnett e Trivedi (1999), e (ii) os baseados nos estudos de gênero social, como,

por exemplo, o trabalho de Simon (1996).

O interesse de Malmkjaer (2005) está na linguagem da tradução em seu contexto,

e seu propósito é mostrar como teorias lingüísticas podem ser utilizadas no estudo dessa

linguagem para observar fenômenos lingüísticos. A relevância do estudo da autora para a

presente pesquisa é apontada ao longo deste texto, principalmente no que se refere à

importância do “uso, na Lingüística, de dados de tradução derivados de situações de

comunicação real” (MALMKJÆR, 2005, p. 59)4 e à observação da linguagem dos TFs:

Aqui, a Lingüística é aplicada aos Estudos da Tradução como um modo de examinar a linguagem usada nas traduções e em seus textos fonte: intuições lingüísticas, conceitos teóricos e categorias descritivas são levadas em conta na discussão da criação, descrição e crítica construtiva de tais textos. (MALMKJÆR, 2005, p. ix)5

Dentre os Estudos da Tradução de tipo descritivo-textuais baseados em corpora

que, de alguma forma, utilizam a GSF como uma das teorias lingüísticas em sua análise,

Bosseaux (2007) foi escolhido como modelo para a análise do ponto de vista narrativo, foco

da presente pesquisa. O trabalho da autora representa um dos poucos estudos sobre o ponto de

vista ficcional na tradução e, dentre eles, é o mais abrangente, embora, como explicado na

subseção 1.3 (em que seu livro é apresentado detalhadamente), passível de aprofundamento

dos aspectos da GSF.

4 Nossa tradução de “[...] the use in linguistics of translation data derived from situations of actual

communication”.

5 Nossa tradução de “Here, linguistics is applied to translation studies as a way of attending to the language in

(31)

No âmbito nacional, Pagano e Vasconcellos (2005) apontam o potencial da

interface Estudos da Tradução, Lingüística Sistêmico-Funcional6 e Lingüística de Corpus. As

autoras ressaltam, sobretudo, a importância da Lingüística Sistêmico-Funcional, com sua

orientação descritiva e com sua noção fundamental de significados potenciais, como um

auxílio importante na tradução (vista como operação textual entre línguas, contextos e

culturas).

Pagano e Vasconcellos (2005) afirmam que o próprio Halliday aponta a interface

da Lingüística Sistêmico-Funcional com os Estudos da Tradução em várias ocasiões. Dentre

elas, Halliday (1994) indica uma das possíveis aplicações da GSF para treinar tradutores e

criar programas de tradução automática. Outra vez, Halliday (1964 apud PAGANO;

VASCONCELLOS, 2005, p. 181) define a tradução como um processo em que é realizada

uma seleção de categorias e elementos lingüísticos equivalentes aos do TF dentro de uma

série de possíveis outros potenciais equivalentes. Outro aspecto relevante, apontado pelas

autoras em Halliday (1964) e diretamente ligado ao conceito de tradução como uma das tantas

possíveis retextualizações, é a noção de tradução como fenômeno inserido em um

determinado contexto de uso em um determinado âmbito cultural.

Pagano e Vasconcellos (2005) apontam também outro texto de Halliday (2001)

em que o autor fornece parâmetros para uma tradução bem-sucedida dentro de uma

perspectiva descritiva: a estratificação da linguagem em vários níveis (fonético, fonológico,

6 O termo “Lingüística Sistêmico-Funcional” se refere ao âmbito teórico mais amplo no qual se insere a GSF do

(32)

léxico-gramatical, semântico, contextual); as três metafunções que organizam o conteúdo da

linguagem; e a ordem (rank) dos estratos fonológicos e léxico-gramaticais.

Ainda dentro do panorama acadêmico brasileiro, vale lembrar os trabalhos de Gil

(1995) e Vasconcellos (1995; 1998).

Gil (1995) analisa a transitividade no conto A Very Short Story de Hemingway e

em sua tradução para o português. A partir da afirmação de Montgomery (1993) de que as

escolhas no sistema da transitividade contribuem para a construção dos personagens, Gil

(1995), ao analisar os Processos no TF, chega à conclusão de que o principal personagem

masculino é representado como passivo e sentimental, ao passo que a principal personagem

feminina é representada como ativa, menos sentimental e mais manipuladora. Dentre os 80

Processos analisados, Gil (1995) afirma que, na tradução só, mudaram 11, tratando-se, na

maioria dos casos, de Processos relacionais traduzidos por Processos verbais.

Utilizando o mesmo corpus paralelo de Gil (1995), Vasconcellos (1995) apresenta

uma análise contrastiva das escolhas da modalidade. Mais especificamente, dentre os

elementos realizadores de modalidade, a autora focaliza sua atenção nos auxiliares modais

que realizam as atitudes dos falantes com relação ao que é dito. Vasconcellos (1995) indica

seus passos metodológicos, a saber: (i) análise das orações que realizam modalidade no TF,

seguida por uma discussão sobre os significados gerados por tais escolhas; (ii) apresentação

das opções disponíveis para realizar os mesmos significados no TA; (iii) análise das opções

escolhidas pelo tradutor entre aquelas disponíveis; e (iv) avaliação dos efeitos das escolhas do

tradutor. Os resultados apontam que, dentre 15 orações com auxiliares modais no TF, 5 e 10

realizam, respectivamente, modalização (interpretação da realidade em termos de certeza,

probabilidade e possibilidade por parte do falante) e modulação (intervenção direta do falante,

que utiliza as expressões modais para impor obrigação, proibir ou expressar permissão ou

(33)

diferenças formais decorrentes não apenas dos sistemas lingüísticos distintos do inglês e do

português, como também das escolhas do tradutor dentre as opções disponíveis. Vasconcellos

(1995) afirma que, com a exceção de 2 casos de não tradução da modulação, o TA realizou os

mesmos significados do TF.

Vasconcellos (1998) apresenta uma análise contrastiva entre Araby, um dos

contos da coletânea Dubliners, de Joyce, e suas duas traduções brasileiras, a partir da

observação de dois aspectos da transitividade: os Processos materiais e os Processos mentais.

A autora lembra que, nessa perspectiva, além dos Processos e dos participantes (Ator e Meta

para os Processos materiais, e Experienciador e Fenômeno para os Processos mentais) devem

ser levadas em conta a agentividade e a causalidade para analisar a organização das orações

em termos ergativos, isto é, de causa-efeito. A autora explica que, em Araby, o uso de

estruturas ergativas contribui para a realização de uma atmosfera mágica em que os Processos

parecem não ser induzidos por nenhuma causa externa ou Agente e em que o protagonista está

à mercê de suas impressões em um mundo de objetos inanimados. Todavia, Vasconcellos

(1998) afirma que, ao longo do texto, padrões léxico-gramaticais, como o uso de construções

transitivas, apontam uma perspectiva narrativa centrada na consciência do personagem até se

chegar, na sentença final, à conscientização da ilusão da percepção do mundo encantado do

começo. A análise contrastiva aponta a tendência para a seleção nos TAs dos mesmos padrões

do TF, com algumas diferenças principalmente no que diz respeito às instanciações da

agentividade e à explicitação ou não tradução de repetições .

Ainda no que diz respeito ao panorama brasileiro, devem ser mencionados os

trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores do projeto CORDIALL, no qual se situa a

presente pesquisa. As investigações do CORDIALL se inserem na interface Estudos da

Tradução–Estudos Lingüísticos e utilizam uma abordagem sistêmica seguindo um modelo

(34)

foram aspectos da transitividade e de apresentação do discurso, ambos de interesse para a

presente investigação.

Cruz (2003) analisa os verbos de elocução em um corpus paralelo bilíngüe

constituído por Harry Potter and the chamber of secrets e sua tradução brasileira. Os

resultados apontam o predomínio do verbo neutro say, um maior uso de Processos

comportamentais utilizados para indicar elocução e frisar os aspectos animalescos de alguns

personagens no TF e uma maior variedade de verbos de elocução e de Processos mentais

indicando elocução no TA.

Mauri (2003) também estuda os verbos de elocução, porém em um corpus

diferente (a coletânea de contos Laços de família e sua tradução italiana). Mais

especificamente, o foco são os verbos indicadores de Processos mentais das personagens

femininas. Os resultados apontam algumas diferenças que, às vezes, contribuem para uma

construção distinta da introspecção das personagens no TA.

Assis (2004) analisa a transitividade no corpus Beloved–Amada como recurso na

construção da protagonista. Mais especificamente, são estudados os Processos nos quais a

personagem está envolvida como participante no TF e suas instanciações no TA. Os

resultados mostram padrões diferentes no que diz respeito aos tipos de Processos utilizados e

à apresentação do discurso (DD no TF, e DIL no TA).

Jesus (2004) pesquisa os Processos mentais prototípicos think/pensar e o sistema

lógico-semântico da projeção no corpus paralelo Point counter point, de Adolf Huxley, e sua

tradução brasileira Contraponto, de Érico Veríssimo, e no corpus comparável Contraponto e

Caminhos cruzados (de autoria de Veríssimo). Os resultados apontam padrões lingüísticos

distintos no TF e no TA e diferenças na forma de utilizar o verbo pensar por Veríssimo autor

(35)

Cançado (2005) analisa a apresentação do discurso através dos verbos de elocução

introdutores do DD do entrevistador e do entrevistado no corpus Interview with the vampire–

Entrevista com o vampiro. A conclusão a que chega a autora é que os padrões observados no

TA remetem ao uso mais acentuado de elementos normalmente utilizados nas entrevistas em

comparação com o TF.

Alves (2006) observa a apresentação do discurso em citações paratáticas no

corpus The Adventures of Huckleberry Finn e suas duas traduções brasileiras com o intuito de

verificar a tendência de não tradução dos Processos verbais nos TAs. Os resultados

confirmam tal tendência além da diversificação dos Processos em uma das traduções. Em

contrapartida, o autor observou uma preocupação na tradução mais recente em se aproximar

dos padrões do TF.

Jesus (2008) realiza uma tríplice análise em corpus combinado. Mais

especificamente, descreve as funções das orações verbais realizadas por say/dizer em textos

de ficção não traduzidos e observa as relações de tradução de say/dizer em corpus paralelo

sob a perspectiva de análise das propriedades de textos traduzidos. Os resultados mostram que

say/dizer realizam funções experienciais e interpessoais na introdução do discurso com

padrões diferentes em inglês e em português. Ademais, a autora aponta os equivalentes

possíveis de say/dizer.

Com relação a outros trabalhos dos Estudos da Tradução focalizados na obra de

Lispector, vale lembrar alguns que aplicaram a metodologia daLingüística de Corpus em sua

análise.

Scott (1998) é de duplo interesse para a presente pesquisa, tanto para o estudo dos

padrões de dêixis como da polaridade, ambos aspectos aqui analisados na construção do ponto

de vista. Em seu estudo sobre a tradução de AHDE para o inglês, a autora aponta que

(36)

como no TA. Entretanto, a negação não, palavra-chave em AHDE, muitas vezes não foi

traduzida no TA ou, neste, foi instanciada por orações de polaridade positiva. Dessa forma,

afirma Scott (1998), alguns efeitos literários podem ter se perdido no processo de tradução

com conseqüências na recepção do TF na língua-alvo.

Dentro do cenário acadêmico nacional dos Estudos da Tradução, cumpre lembrar

os trabalhos dos pesquisadores do projeto PETra (Padrões de Estilo de Tradutores),

desenvolvido na Universidade Estadual de São Paulo, como os de Lima (2004) e de Bonalumi

(2006), ambos sobre traduções de textos de Lispector, embora com focos distintos. O primeiro

tem como objetivo a observação de aspectos de normalização nas traduções de A descoberta

do mundo e de Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, as quais foram realizadas por

tradutores diferentes. O segundo analisa similaridades e diferenças no uso de marcadores de

reformulação e nos padrões lexicais em obras de Lispector, dentre as quais se encontra a

tradução inglesa de Laços de família.

Esses trabalhos apresentados sumariamente são de grande contribuição para a

descrição dos fenômenos tradutórios. Mais especificamente, aqueles de Gil (1995),

Vasconcellos (1995; 1998) e do CORDIALL representam um válido suporte para a presente

pesquisa no que diz respeito à análise de aspectos da transitividade, modalidade e

apresentação do discurso, e os de Scott (1998) e do PETra constituem relevante referencial no

que diz respeito a padrões da escrita clariceana. Todavia, nenhum deles focaliza o ponto de

vista ficcional ou faz a correlação dos aspectos lingüísticos investigados com o ponto de vista

narrativo. Algumas referências indiretas podem ser captadas ao longo da análise ou da

discussão dos resultados, como, por exemplo, no que tange ao uso do DIL, porém não de

forma sistemática. Cumpre tentar suprir aqui essa necessidade de aprofundar o estudo dos

(37)

Como já antecipado, deve-se aqui explicar alguns aspectos da GSF relevantes para

a presente investigação. Tais aspectos serão aplicados de maneira mais sistemática em

comparação com o que foi feito no modelo de Bosseaux (2007) aqui seguido.

Na terceira edição de An Introduction to Functional Grammar, Halliday e

Matthiessen (2004) afirmam que o sistema da TRANSITIVIDADE7 diz respeito à

representação do mundo. Tal sistema faz parte da metafunção ideacional através da qual a

percepção de algo é verbalizada por meio da linguagem. Segundo os autores, os principais

elementos que constroem lingüisticamente significados dentro de uma oração são três, a

saber: o Processo, realizado por um verbo ou grupo verbal; os participantes, realizados

normalmente por um grupo nominal; e as circunstâncias, realizadas geralmente por advérbios.

Os Processos podem instanciar seis tipos diferentes de significado: material (ações, e.g., do e

make), mental (cognição, percepção e pensamento, e.g., know, see e think, respectivamente),

verbal (elocução, e.g., say), relacional (e.g., be/have), existencial (e.g., there is/there are) e

comportamental (e.g., laugh e cry). Dependendo do tipo de Processo, mudam os termos

utilizados para indicar os participantes. No caso dos Processos materiais, os principais

participantes são o Ator, o Agente que realiza a ação, e a Meta à qual se dirige o Processo.

Dentre os outros participantes, vale mencionar o Beneficiário, isto é, aquele que se beneficia

do Processo. No que se refere aos Processos mentais, dois são os participantes: o

Experienciador, que sente, pensa ou percebe, e o Fenômeno, isto é, o que é sentido, pensado

ou percebido. Com relação aos Processos relacionais, Halliday e Matthiessen (2004)

especificam que podem ser de tipo atributivo ou identificativo. No primeiro caso, os

participantes são o Portador (substantivo) e o Atributo (qualidade ou Epíteto referente ao

7

(38)

Portador), e, no segundo, têm-se o Identificado e o Identificador (Alice is the clever one), cuja

posição na oração é reversível (The clever one is Alice). Os principais participantes dos

Processos verbais são o Dizente, quem diz, e o Receptor ao qual é direcionado o que é dito.

Os Processos comportamentais são Processos de “comportamento fisiológico e psicológico

[...] que, semântica e gramaticalmente, se encontram no meio entre os Processos mentais e

materiais” (EGGINS, 1994, p. 250-251).8 Os participantes são o Comportante e o

Comportamento. Finalmente, nos Processos existenciais, só há um participante, o Existente,

isto é, o objeto ou o fato que existem.

Halliday e Matthiessen (2004, p. 281) afirmam que a “ ‘transitividade’ é o nome

do sistema inteiro que inclui tanto o modelo transitivo como o ergativo”9. Segundo os autores,

o Processo é realizado, no modelo transitivo, por um participante ativo e, no modelo ergativo,

através do Meio e causado por um Agente externo ao Processo. A relação entre o modelo

ergativo e o sistema da voz é ressaltada na distinção entre orações médias (middle) e efetivas

(effective). Nas primeiras, a agentividade não é explicitada (the glass broke) e, nas últimas, é

realizada, embora nem sempre de forma explícita, por um Agente, sendo que a voz pode ser

ativa (The cat broke the glass) ou passiva (The glass was broken [by the cat]).

No âmbito da metafunção interpessoal, Halliday e Matthiessen (2004, p. 143)

situam o sistema da POLARIDADE e da MODALIDADE. O primeiro é “a oposição entre

positivo e negativo”, e o segundo “a opinião do falante, ou o pedido de opinião do ouvinte,

sobre o que está sendo dito”10. Embora, em seu estudo, Bosseaux (2007) não considere o

sistema da POLARIDADE, ele é levado em consideração na análise dos dados da presente

pesquisa, já que a MODALIDADE é definida por Halliday e Matthiessen (2004, p. 147) como

8

Nossa tradução de “physiological and psychological behaviour [...] half-way mixes both semantically and gramatically between mental and material processes”.

9 Nossa tradução de “[...] ‘transitivity’ is the name of the whole system, including both the ‘transitive’ model

and the ‘ergative’ one”.

10

(39)

o sistema que realiza “os graus intermediários entre o pólo positivo e o negativo”11 e,

portanto, imprescindível ao estudo da MODALIDADE. Os autores especificam que,

dependendo das proposições (afirmações e perguntas, função semântica da oração na troca de

informação) e das propostas (ofertas e comandos, função semântica da oração na troca de

bens e serviços), tais posições intermediárias se realizam de maneira diferente, a saber:

modalização e modulação. A primeira constrói graus de probabilidade e de usualidade através

de grupos verbais e de Adjuntos modais (probably, usually), ao passo que a segunda constrói

graus de obrigação (em comandos) e de inclinação (em ofertas) através de verbos modais

(must, can) e expansões do Predicado (I’m anxious to help them).

Depois de esclarecidos os termos da GSF que serão utilizados na pesquisa, são

apresentados, na próxima seção, estudos sobre o ponto de vista ficcional e a apresentação do

discurso na narrativa, indispensáveis para contextualizar os estudos sobre a tradução do ponto

de vista narrativo, foco da presente investigação. Dentre esses trabalhos, figura o de Simpson

(1993), seguido de perto por Bosseaux (2007). Por essa razão, e não por ordem de relevância,

remete-se à apresentação do modelo de Bosseaux (2007) na última seção (1.3) deste Capítulo.

1.2 O Ponto de Vista Ficcional

Fowler (1986) analisa as estruturas lingüísticas com base na GSF hallidayana. O

autor ressalta a importância de uma análise textual que leve em conta o contexto e a situação

comunicativa para explicar a escolha de determinadas opções lexicais em vez de outras.

Fowler (1986) frisa que só uma análise desse tipo é capaz de explicar determinadas escolhas

comunicativas por partes dos escritores, além de como o léxico remete ao mundo da maneira

como este é percebido pelos usuários da linguagem e como as escolhas lexicais feitas por

esses usuários influenciam a formação e a veiculação das idéias. O autor remete a Halliday

Referências

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