• Nenhum resultado encontrado

Tornar-se cientista: o ponto de vista de Bruno Latour.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Tornar-se cientista: o ponto de vista de Bruno Latour."

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

Tornar-se cient ist a: o pont o de vist a

de Bruno Lat our

Be c o ming a sc ie ntist: the p e rsp e c tive

o f Bruno Lato ur

1 Escola Nacion al d e Saú d e Pú b lica , Fu n d a çã o Osw a ld o Cru z . Av. Bra sil 4036, sa la 401, Rio d e Ja n eiro, RJ 21040- 361, Bra sil.

An d ré d e Fa ria Pereira N et o 1

Abst ract Th e p u rp ose of t h is a rt icle is t o ra ise som e p oin t s for a n u n d erst a n d in g of con t em p o ra ry Fren ch p h ilosop h er Bru n o La t ou r’s p ersp ect iv e on t h e p rofession a liz a t ion p rocess for scien -t is-t s. W e rev iew p a r-t of -t h e sociologica l lt era -t u re -t h a -t h a s a -t -t em p -t ed -t o con cep -t u a lly d ifferen -t i-a t e occu p i-a t ion s from p rofession s. We t h u s in t en d t o est i-a blish i-a n u m ber of com p i-a ri-a t ive p i-a ri-a m e-t ers for su ch con cep e-t s. Th e field of k n ow led ge a n d ie-t s role in e-t h e se-t a ges of e-t h e p rofession a liz a e-t ion p rocess assu m e an im p ort an t p lace in t h is reflect ion .

Key words Profession in Scien ce; Sociology of Scien ce; Hist ory of Scien ce; Ph ilosop h y

Resumo O objet iv o d est e art igo é in t rod u z ir algu n s elem en t os p ara a com p reen são d a v isão qu e o filósofo con t em p orâ n eo fra n cês Bru n o La t ou r t em a resp eit o d o p rocesso d e p rofission a liz a çã o d o cien t ist a . Pa ra t a n t o, p ercorrerem os p a rt e d a lit era t u ra sociológica q u e p rocu rou d iferen cia r co n cei t u a lm en t e u m a o cu p a çã o d e u m a p ro f i ssã o. Assi m , p ret en d em o s est a b elecer a lgu n s p a râ m et ros com p a ra t iv os en t re essa s d u a s con cep ções. O d om ín io d o con h ecim en t o e seu p a p el n a et ap a d o p rocesso d e p rofission aliz ação assu m e, n est a reflex ão, p osição d e d est aqu e.

(2)

Introdução

Co m o a lgu ém se to rn a cien tista ? Ao lo n go d o a rtigo “As p ro fissõ es”, p u b lica d o n o livro “A Ciên cia em Ação” (1989), Bru n o Latou r p reten d e d esm istifica r a resp o sta q u e se tem co m u -m en te p ara esta p ergu n ta. Para a b oa p arte d a op in ião p ú b lica, u m a p essoa torn a-se cien tista q u a n d o u sa ja leco b ra n co e d em o n stra esta r p ou co in teressad a n a p olítica in stitu cion al d e seu lo ca l d e tra b a lh o. Preo cu p a r-se co m isto n ão é coisa d e cien tista... afirm am algu n s. Se o cien tista p ro cu ra r co n segu ir verb a s p a ra seu lab oratório, n ão terá tem p o p ara d esen volver a d en om in ad a p esq u isa p u ra … alertam ou tros. Estas p on d erações, p or vezes, são feitas, in clu -sive, n os corred ores e n as reu n iões d e algu m as in stitu ições voltad as p ara p rod u ção d e p esqu i-sa b ásica n o Brasil d e h oje. No n osso en ten d er, La to u r, n este a rtigo, co n cen tra seu s esfo rço s em ten ta r d esfa zer esta visã o d e ser cien tista , tão en raizad a n o im agin ário coletivo tan to n o m eio cien tífico qu an to n a socied ad e em geral. Para torn ar-se u m cien tista, a ativid ad e n o la b o ra tó rio é su ficien te? Qu em p a ssa to d o o tem p o p rocu ran d o cap tar fin aciam en to ou re-co n h ecim en to p a ra u m p ro jeto n ã o p o d e ser con sid era d o u m cien tista ? Pa ra resp on d er es-tas q u estões, Latou r (1989) faz ou tras in terro-gações d e caráter m ais ab ran gen te, tais com o: O q u e é u m a p rofissão? Com o d iferen ciá-la d e u m a ocu p ação? Com o se caracteriza o p roces-so d e p rofission alização?

O o b jetivo d este tra b a lh o é a p resen ta r, d e form a su m ária, com o Bru n o Latou r resp on d eu a esta s p ergu n ta s. Pa ra m elh o r co m p reen d er su a s in q u ieta çõ es, su a visã o será co n tra p o sta àqu ela en u n ciad a p or Wilen sky (1970), qu an d o d efin e “p rofissão” e “p rocesso d e p rofission alização”, e a algu n s p ostu lad os d as verten tes in -tern alista e d a ex-tern alista d e com p reen são d a n atu reza d o trab alh o d o cien tista.

Co m isso, p ro cu ra rem o s d esen vo lver u m a an álise ao m esm o tem p o crítica e ep istem oló-gica so b re o ser cien tista . Co n sid era m o s esta reflexã o d e in egá vel relevâ n cia p a ra o ca m p o d a Saú d e Pú b lica, on d e atu am m u itos cien tista s, a ssim d en o m in a d o s fo rm a lm en te e reco -n h ecid os socialm e-n te.

Além d isso, p reten d em o s, m a is u m a vez, co m p rova r q u e o tra b a lh o crítico co m o co n -ceito p rofissão, an alisad o d o p on to d e vista so-ciológico e h istórico, é legítim o e im p rescin d í-vel p a ra tod os a q u eles q u e se in teressem p ela organ ização d o trab alh o n a área d a saú d e.

O estu d o d e Latou r, q u e an alisarem os a segu ir, é a p en a s u m d o s q u e to m o u co n creta -m en te a p ro fissã o co -m o o b jeto d e p esq u isa .

Seu gran d e m érito foi o d e ter in trod u zid o u m a p ersp ectiva d e an álise teórica e m etod ológica extrem am en te in ovad ora e crítica.

Na verd a d e, este a rtigo p reten d e tra ta r si-m u lta n ea si-m en te d ois a sp ectos: ressa lta a rele-vân cia e a p ertin ên cia d a ab ord agem sociológi-ca e h istórisociológi-ca sob re o ob jeto p rofissão e an alisa com o u m au tor con tem p orân eo fran cês – Bru -n o La tou r – fez este tip o d e em p ree-n d im e-n to, com p aran d o-o com ou tro, d a m esm a n atu reza, p ro m ovid o p e lo n o rte -a m e rica n o Wile n sky, vin te an os an tes.

O lugar do conheciment o: a primeira diferença

Para ser cien tista, b asta d om in ar u m d eterm i-n ad o coi-n h ecim ei-n to?

(3)

A p reo cu p a çã o cen tra l d e Wilen sky (1970) era estab elecer critérios su ficien tes qu e fossem cap azes d e d istin gu ir a n atu reza d o trab alh o d o carp in teiro d aqu ele exercid o, p or exem p lo, p or u m m éd ico. Neste sen tid o, o d o m ín io d o co -n h ecim e-n to era, p ara ele, u m fator q u e ad q u i-riu esp ecial im p ortân cia.

Para Wilen sky, “qualquer p rofissão que deseje exercer su a au torid ad e p rofission al d eve en -con trar u m a b ase técn ica p ara isto, su sten tad a em exclusiva jurisdição, habilidade e leis ligadas ao trein am en to p ad ron izad o, con ven cen d o o p ú blico de qu e seu s serviços são dign os de con -fian ça. O con h ecim en to p rofission al, com o to-do o con hecim en to, deve ser relativam en te táci-to, e é isto que dá às p rofissões estabelecidas sua au ra de m istério. (…) O con h ecim en to p ode ser d elib erad am en te u sad o com o u m m eio tático, com o u m recu rso p ara con stru ir p restígio e p o-d er. (…) A b ase o-d o con h ecim en to ou o-d ou trin a p ara a p rofissão é um a com bin ação do con heci-m en to p rático e in telectu al, p arte d o qu al é ex-p lícito (livros, leitu ras, d em on strações), ex-p arte im p lícito. Os asp ectos teóricos do con h ecim en -to p rofission al e os elem en -tos táci-tos do con h e-cim en to in telectual e p rático torn am n ecessário o trein am en to lon go qu e p ersu ade o p ú blico do m istério d a tarefa” (Wilen sky, 1970:483-484).

Com o acabam os de observar, Wilen sky con sid era o d o m ín io d o co n h ecim en to u m ele -m en to i-m p rescin d ível p ara a reivin d icação d e exclu sivid ad e p ara a realização d e d eterm in a-d a ta refa . Este con h ecim en to a-d eve ser, n o seu en ten d er, extrem a m en te com p lexo, orga n iza-d o e sistem a tiza iza-d o em Un iversiiza-d a iza-d es e so cie-d acie-d es cie-d e sab er. O p rofission al cie-d eve ter u m voca b u lá rio co m p reen sível a p en a s p o r seu s p a res. Co m esta s ca ra cterística s, n em to d o s te -riam acesso a este tip o d e con h ecim en to. O d o-m ín io d o co n h ecio-m en to é eso tér ico, o u seja , m in istra d o a círcu lo restrito e fech a d o d e o u -vin tes e com p reen sível ap en as p or p ou cos. Es-te é u m p on to cen tra l n a d efin içã o d o q u e ve-n h a a ser u m a p rofissão p ara Wileve-n sky.

Ma rin h o (1986) co rro b o ra co m esta co n -cep çã o. Pa ra ele é fu n d a m en ta l o p a p el q u e o d o m ín io d e u m co n h ecim en to esp ecia liza d o exerce n a ob ten ção e n a m an u ten ção d o statu s e su cesso p rofission al (d efin id o em term os d e con q u ista d e u m m on op ólio d e com p etên cia). Segu n d o o au tor, “as ocu p ações q u e p ossu em , em su a b a se co gn itiva , u m co n h ecim en to p a -ra d igm a tica m en te o rien ta d o (isto é, fo rm a l e d efin id o ), tid o co m o eso térico e su scetível d e ap licação p rática, en con tram m en ores d ificu ld ald es n a con qu ista ld e seu m on op ólio ld e com -p etên cia e co n seq ü en tem en te d o terr itó rio p rofission al exclu sivo” (Marin h o, 1986:11).

Este m esm o elem en to tid o com o essen cial p a ra Wilen sky, e reitera d o recen tem en te p o r Ma rin h o (1986), receb e d e La to u r, n o m esm o esfo rço co n ceitu a l, p eso d istin to. No seu en -ten d er, o m on op ólio d o con h ecim en to, n as ca-racterísticas ap on tad as an teriorm en te, n ão re-p resen ta elem en to n em su ficien te n em d eter-m in an te p ara a d efin ição d e u eter-m a p rofissão. Ele a firm a : “Sem o recru ta m en to d e n u m ero so s a lia d o s, sem a tá tica su til q u e p erm ite a ju sta r sim etrica m en te o s recu rso s h u m a n o s e n ã o h u m an os, a retórica d a ciên cia torn a-se im p o-ten te” (La to u r,1989:236). A q u estã o d o d o m í-n io d o coí-n h ecim eí-n to, em si, p ara Latou r, é m e-n os im p ortae-n te q u e as estratégias q u e o corp o p rofission al d esen cad eia p ara con ven cer seu s p ares, a socied ad e e o Estad o d e su a existên cia e u tilid ad e.

An alisan d o esp ecificam en te a evolu ção d as p rofissões d a saú d e n os d ias d e h oje, Mach ad o (1991) con sid era q u e “as m od ificações h istóri-co-sociais ocorrid as n a socied ad e afetaram d e m a n eira d ecisiva o ca m p o d e a çã o e a d efin i-çã o d este p ro fissio n a l”. Ela co m p lem en ta seu p on to d e vista afirm an d o: “O con ceito socioló-gico clá ssico q u e d efin e a p ro fissã o m éd ica – m on op ólio d e u m a área esp ecífica d e ativid a -d e, a p artir -d e u m a larga form ação in telectu al, ad esão d e tod os os m em b ros d a p rofissão a u m sistem a d e valores, au ton om ia d e trab alh o en -tre ou tros – com o u m a p rofissão típ ica e n ob re en tre as p rofissões, está cad a vez m ais d istan te d a situ ação atu al” (Mach ad o,1991:32).

Con cord an d o com Mach ad o (1991) e su ge-rin d o o u tro s elem en to s q u e p recisem a in d a m a is este d eb a te, co n sid era m o s im p o rta n te ressaltar du as qu estões:

Por u m lad o, a ativid ad e p rofission al, ob je-to d e in vestiga çã o d e Wilen sky n o fin a l d o s an os 60, d ifere m u ito d a referên cia p rática qu e serviu d e b ase p ara as reflexões d e Latou r, em m ea d o s d o s a n o s 80. As co n d içõ es h istó r ica s atu ais im p õem ao exercício d as p rofissões ele-m en to s q u e n ã o era ele-m o b ser va d o s, d e fo rele-m a sistem ática, h á vin te an os atrás. Hoje em d ia o tra b a lh o so cia l d e cu n h o p ro fissio n a l ca rrega exten sa e in ten sa tecn o lo gia e co n fere, p o r exem p lo, sign ifica tivo p a p el a o d o m ín io d o s m eio s d e co m u n ica çã o e in fo r m a çã o co m o m eios d e ob ter p restígio, recon h ecim en to e p o-d er.

(4)

ciên cias q u e b u sca d irim ir as op osições, ain d a m u ito cristalizad as n o m eio acad êm ico, en tre a versão extern alista e a in tern alista d e lid ar com a h istória d a p rod u ção d o con h ecim en to cien -tífico. Su a p ostu ra m etod ológica p orta u m tom in ten sa m en te in terd iscip lin a r, u tiliza n d o -se, p o r vezes, p o r exem p lo, d a etn o lo gia e d a a n -trop ologia. Pod em os, en tão, con clu ir qu e estes d ois an alistas m ilitam em d istin tas escolas d e p en sam en to. Além d isso, os trab alh os, q u e fo-ra m o b jeto d e n o ssa in vestiga çã o n este texto, fo ra m p ro d u zid o s em m o m en to s h istó rico s d ista n tes e d iferen tes en tre si, in flu en cia d o s, p ortan to, p or referên cias teóricas e p rob lem á-ticas m etod ológicas q u e ch egam a ser, em cer-to sen tid o, an tagôn icas.

No n osso en ten d er, u m a an álise qu e p rocu -re id en tifica r a s d ife-ren ça s existen tes en t-re d u a s a b o rd a gen s d istin ta s so b re u m m esm o co n ceito d eve leva r em co n sid era çã o o m o -m en to h istórico e-m qu e elas fora-m resp ectiva-m en te ela b o ra d a s. Ca so co n trá rio, o a n a lista co rre o sério risco d e n ã o co n segu ir p erceb er seu sign ificad o m ais p rofu n d o. Um a d as p ráti-cas m ais con stan tes en tre cien tistas sociais qu e an alisam o p en sam en to d e certo au tor é fazê-lo sem levar em con sid eração as con d ições só-cio-econ ôm icas, as escolas d e p en sam en to e as in q u ieta çõ es filo só fica s q u e in fo r m a ra m a s id éias exp ostas p or ele.

O processo de profissionalização: segunda diferença

Pa rtin d o d os p ressu p ostos in trod u zid os a n te-riorm en te, p assem os agora a acom p an h ar co-m o os d ois au tores con ceb eco-m o p rocesso p elo q u a l a s a tivid a d es d o m u n d o d o tra b a lh o, so -b retu d o aq u elas q u e req u erem u m a form ação esp ecializad a em escolas criad as p ara este fim , p o d em se tra n sfo rm a r, a té a tin girem o st a t u s

p rofission al.

Wilen sky p arte d e u m a p esq u isa d esen volvid a ju n to a 18 ativolvid ad es p rofission ais d esem -p en h a d a s n o s Esta d o s Un id o s e esta b elece o s “cin co p a sso s d o p ro cesso d e p ro fissio n a liza -ção”, a sab er:

1) A ocu p ação d eve ser exercid a em regim e d e tem p o in tegra l. Pa ra q u e isso ocorra , é n eces-sá rio q u e h a ja , p o r u m la d o, a d em a n d a p elo ser viço e q u e este seja a p licá vel a situ a çõ es con cretas. Com isso, ficam exclu íd as d esta ca-tegoria as ativid ad es feitas esp orad icam en te. 2) O d om ín io d o con h ecim en to esotérico fica assegu rad o se forem criad as escolas d e trein a-m en to o n d e ele é exclu siva a-m en te veicu la d o. Assim , fica m exclu íd a s a s a tivid a d es cu jo co

n h ecim en to é tra n sm itid o d e form a h ered itá -ria, in form al ou com b ase n a sim p les ob serva-ção. A sistem atização e u n iversalização d o co-n h ecim eco-n to em ico-n stitu içõ es é a ga ra co-n tia d o m on op ólio exercid o p elo p rofission a l. No seu en ten d er “o trein am en to p ad ron izad o é req u i-sito p a ra in tegra r u m a p ro fissã o” ( Wilen sky, 1970:489).

3) A segu ir, d evem ser con stitu íd as as associa-ções p rofission ais, voltad as p ara d efen d er seu s in teresses econ ôm icos e con stru ir u m a p ad ro-n iza çã o d e co ro-n d u ta q u e d everá ser cu m p rid a p o r t o d o s o s se u s in t e gra n t e s. Co m isso, e le s se se n t irã o p a r t e d e u m co rp o p ro fissio n a l p o rt a d o r d e ce r t a id e n t id a d e. A a sso cia çã o p rofission al visa, assim , sep arar os com p eten -tes d os in com p eten -tes; d efin ir resp on sab ilid a-d e s e sse n cia is à p ro fissã o ; re gu la r o co n flit o in tern o n ão só en tre os p ratican tes com o en tre e st e s e o s a t o re s e xt e rn o s. Em a lgu n s ca so s a co m p etiçã o a gu d a co m o cu p a çõ es vizin h a s e con corren tes p od e ser ob servad a. Se este for o caso, a associação p rofission al rep resen tará os in teresses d a corp oração n o sen tid o d e garan tir o m o n o p ó lio d o exercício d a q u ela a tivid a -d e. Ela s ca ra ct e riza m -se p o r n ã o p le it e a re m e xclu siva m e n t e m e lh o ria s n a s co n d içõ e s d e t ra b a lh o. A ga ra n t ia d a a u t o re gu la çã o é e le -m e n t o i-m p re scin d íve l p a ra a co n q u ist a d e p re stígio, re co n h e cim e n to e p o d e r d a p ro fissã o ju n t o a se u s p a re s, a se u s clie n t e s e à so -cied a d e em gera l, p ré-req u isito p a ra ga ra n tia d o m o n o p ó lio d o t e rr it ó rio p a ra o e xe rcício p rofission al.

(5)

form a, terá con d ições d e ju lgar e p u n ir o coga . Este ju lcoga m en to tem va lo r lecoga l e p o d e le-va r a té a o im p ed im en to d o exercício d a a tivi-d ativi-d e.

Latou r p rop õe, igu alm en te, cin co etap as n o p rocesso d e p rofission alização, a sab er: 1) Em p rim eiro lu ga r, o p ro fissio n a l d eve ser algu ém cap az d e elim in ar os am ad ores e viver d o trab alh o. No seu en ten d er, o exercício p rofission al im p õe u m a d ed icação exclu siva e in -tegral à ativid ad e. Caso con trário, ela p od e ser ab an d on ad a a qu alqu er m om en to. O p rofissio-n al d ifere d o am ad or, p ois sob revive com o qu e gan h a d esem p en h an d o su a ativid ad e. Os am ad o res, en treta n to, ad evem ser p reser va ad o s co -m o força d e trab alh o in d isp en sável, su b -m issa e d iscip lin ad a p elo p rofission al, q u e n ão d eve p erd er tem p o com su as op in iões.

2) A veicu lação d o con h ecim en to em revistas e m u seu s e d em ais órgãos d e d ivu lgação cien -tífica leva ria a p ro fissã o a a tin gir u m p ú b lico m a is a m p lo. Co m isso, a u m en ta ria o n ú m ero d e p essoas in teressad as em ab sorver seu s p rin -cíp ios e u tilizar seu s serviços, sem q u e ele seja vu lgarizad o d e form a p an fletária. Para p rofis-sio n a liza r-se, u m a a tivid a d e d eve esta b elecer estra tégia s p a ra a tra ir o p ú b lico e sa tisfa zer a socied ad e. Com isso, con stitu ir-se-ia u m m er-cad o d e con su m o p ara seu s serviços.

3) A p ro fissã o d eve ser h á b il e ca p a z d e co n -ven cer e p rova r a o Esta d o q u e su a a tivid a d e é im p rescin d ível p a ra a so cied a d e. Ao m esm o tem p o, su a a u ton om ia d eve ser ga ra n tid a : to -d as as in gerên cias -d evem ser evita-d as.

4) O p rofission al con stitu ise q u an d o se su b -m ete a u -m ritu al rigid a-m en te estab elecid o p e-lo en sin o u n iversitário, qu e p ad ron iza e im p õe n orm as rígid as p ara a form ação d e joven s cole-gas.

5) Fin a lm en te, a p ro fissã o d eve ser ca p a z d e d efin ir n orm as d e con d u ta en tre os p ares, q u e visem p ro m over m eio s d e reso lver co n trovér-sias in tern as, d eixan d o os am ad ores d o lad o. A p u n ição d e u m colega está p revista, p ois ob je-tiva, sob retu d o, p reservar a im agem e o p restí-gio d o corp o p rofission al ju n to aos clien tes, ao Estad o e à socied ad e em geral.

Com p aran d o as d u as ab ord agen s con figu -rar-se-á a segu in te tab ela:

An a lisa n d o a ten ta m en te o q u a d ro q u e se con figu rou , d ificilm en te algu ém seria cap az d e id en tificar d ivergên cias ou d isp arid ad es en tre as ab ord agen s d e Wilen sky e Latou r. As con ver-gên cia s, a p a ren tem en te, p red o m in a ria m , n a m ed id a em q u e q u a tro d a s cin co a tivid a d es p revistas são com u n s aos d ois au tores. A qu tão, en tretan to, n ão é qu an titativa, ap esar d es-ta d im en são n ão p od er ser m en osp rezad a.

No n o sso en ten d er, a q u estã o cen tra l q u e d iferen cia o p on to d e vista d e Wilen sky (1970) d aqu ele in trod u zid o p or Latou r (1989) é d e n a-tu reza d u p lam en te m etod ológica.

Por u m lad o, cab e ressaltar q u e, p ara o so-ciólogo n orte-am erican o, as cin co etap as p ro-p o sta s co m ro-p o ria m u m a ro-p ro gressã o u n iversa l d e acon tecim en tos: u m cam in h o q u e tod as as a tivid a d es d everia m cu rsa r p a ra co n q u ista r o estatu to d e p rofissão. Assim , p ara Wilen sky, to-d as as ocu p ações qu e estivessem em vias to-d e se p rofission alizar d everiam atin gir as etap as p or ele en u n ciad as n a ord em q u e foram d escritas. Su a visão in d ep en d e d a n atu reza d a ativid ad e, d o m o m en to h istó rico o u d a rea lid a d e so cia l em q u e ela b u sca va se p ro fissio n a liza r. Pa ra Latou r, estes cin co fatores in tegran tes d o p ro-cesso d e p rofission alização, seriam , sob retu d o, “p on tos d e p assagem ob rigatórios”, “fren tes si-m u ltâ n ea s” e n ã o o b ed ecer ia si-m a u si-m a o rd esi-m p reestab elecid a.

Po r o u tro la d o, en q u a n to Wilen sky a co m p an h a o d esem p en h o d e 18 p rofissões ao lon -go d o tem p o, am p arad o em d ad os estatísticos, e co n stró i u m m o d elo a b stra to e a d a p tá vel a tod a e qu alqu er con d ição, Latou r n os ap resen -ta a s su a s “regra s d o m éto d o”, p en etra n d o d e form a qu ase qu e an trop ológica n o lab oratório, d esven d an d o su a rotin a.

Neste asp ecto, resid e, n o n osso en ten d er, a sin gu la rid a d e m a is in stiga n te d a p ersp ectiva an alítica p rop osta p or Latou r, u m a vez qu e tri-lh a u m ca m in h o d istin to, in ova d o r e in teressa n te. Em vez d e p a rtir d e 18 p ro fissõ es d ife -ren tes e criar u m m od elo qu e ten h a a in ten ção d e d ar con ta d e tod as as d iferen ças con stitu ti-va s d o p ro cesso d e p ro fissio n a liza çã o, La to u r acom p an h a algu n s p esq u isad ores ao lon go d e seu d ia-a-d ia d e trab alh o n o in terior d e u m la-b oratório. Da p arte, ele n ão p reten d e criar u m a

Etap as – Auto r W ile nsky Lato ur

Prime ira Eliminar amad o re s Eliminar amad o re s

Se g und a Fo rmaç ão p ad ro nizad a Satisfaze r a so c ie d ad e

Te rc e ira Asso c iaç õ e s p ro fissio nais Pro var ao Estad o

Q uarta Pro var ao Estad o Fo rmaç ão p ad ro nizad a

(6)

regra a p licá vel a o to d o. Da p a rte, ele co n stró i u m a m a n eira d e o lh a r o u tra s sin gu la rid a d es sem elh a n tes (m a s d iferen tes) à q u ela p o r ele ob servad a.

À p rim eira vista, a ob ten ção d e u m d ip lom a d e n ível su p erior seria u m elem en to su ficien te p a ra q u e a p ro fissã o d e cien tista receb esse aten ção, d in h eiro e con fian ça d a socied ad e. O qu e ele p rocu ra n os m ostrar é qu e estes fatores sã o d eterm in a n tes, m a s n ã o su ficien tes. Do is ca so s d escrito s p o r ele serã o a p resen ta d o s a segu ir: o caso d o geólogo e o d e u m ch efe d e la -b o ra tó rio. Ao rep ro d u zir p a rte d e su a n a rra ti-va , tem o s o in tu ito d e d esven d a r e a n a lisa r o olh ar in ovad or qu e Latou r n os ap resen ta.

O caso do geólogo

Um d os in vestim en tos d e p esqu isa im p lem en -tad os p or Latou r n esta ob ra relacion a-se com a a n á lise q u e fa z d e u m geó lo go, n a ép o ca em q u e n ão existiam n em a d iscip lin a (Geologia), n em a p rofissão. Com o u m h istoriad or, sofren -d o fo rte in flu ên cia -d a a n tro p o lo gia , La to u r a co m p a n h o u o d ia -a -d ia d o tra b a lh o d e u m certo sen h or ch am ad o Lyell, q u e, em 1820, d e-sejava estu d ar a “História d a Terra”. Em m ead os d o sécu lo XIX, este tip o d e in vestigação relacio-n a va -se ta relacio-n to co m a Teo lo gia , q u a relacio-n to co m a Paleon tologia, ou seja, n ão h avia u m cam p o d e co n h ecim en to d efin id o vo lta d o esp ecifica -m en te p a ra os estu d os d a orige-m , for-m a çã o e d as su cessivas tran sform ações d o glob o terres-tre, com o existe atu alm en te. As in stitu ições, os p arceiros e os aliad os n ão estavam ain d a con s-titu íd os.

Pa ra La to u r, n ã o b a sta d efin ir e d o m in a r certa á rea d o sa b er. H á q u e im p lem en ta r si-m u lta n ea si-m en te si-m ovisi-m en to s p ersu a sivo s esi-m d u a s d ireçõ es: p o r u m la d o ca b e co n q u ista r a aceitação e o recon h ecim en to ju n to à com u n i-d ai-d e cien tífica e ao Estai-d o. Por ou tro lai-d o, i-d e-ve-se co n ven cer a so cied a d e so b re a n ecessi-d a ecessi-d e ecessi-d a existên cia ecessi-d esta a tiviecessi-d a ecessi-d e. Pa ra q u e ob ten h am êxito, estes d ois m ovim en tos d evem p ro m ove r a lia n ça s p o lítica s e in stitu cio n a is, fora d o lab oratório, q u e garan tam su a p róp ria sob revivên cia.

No p rim eiro ca so, p o r exem p lo, Lyell d eve “d esp ertar o in teresse n ão ap en as d a n ob reza, com o tam b ém d as altas au torid ad es d o Estad o, con ven cen d o certos organ ism os d e qu e a Geo-lo gia tra d u z seu s in teresses, p ro d u zin d o u m gra n d e n ú m ero d e fa to s n ovo s e in esp era d o s, q u e p od eriam ser con sid erad os solu ções p ara certo s p ro b lem a s” (La to u r, 1989:242). No se gu n d o ca so, a p rofissã o d eve p rova r q u e o co -n h ecim e-n to qu e d etém carrega altos í-n d ices d e

b en efício so cia l. Assim , o Esta d o p a ssa rá a fi-n afi-n ciá-la e ela terá cofi-n d ições d e com p etir com o u tra s d iscip lin a s, ch ega n d o a co n q u ista r o m on op ólio tão d esejad o.

Segu in d o a p ersp ectiva p ro p o sta p o r La -tou r, n a Geologia, assim com o em ou tras áreas d o co n h ecim en to, h á q u e se a n a lisa r d e q u e m a n eira u m a a tivid a d e co n segu iu co n ven cer as au torid ad es acad êm icas, o Estad o e os clien tes d e su a u tilid ad e, ergu en d ose e sob rep u jan -d o -se co n tra a s co n vicçõ es a té en tã o a ceita s, co n trá ria s à su a existên cia . Da m esm a fo rm a h á qu e se b u scar com p reen d er com o certa p ro-fissão estab elecid a e recon h ecid a p elo Estad o, p ela so cied a d e e p ela co m u n id a d e cien tífica p erd eu seu p restígio, p od er econ ôm ico e p olí-tico, torn an d o-se u m a ocu p ação.

O diret or de um laborat ório

A área d a Saú d e Pú b lica n ão é m u ito d iferen te d a s d em a is. En q u a n to a lgu n s cien tista s p a s-sam os d ias in vestigan d o, len d o ou escreven d o, ou tros atu am , p rocu ran d o levan tar verb as su -p lem en ta res -p a ra o m esm o -p ro jeto. Qu a l d o s d ois faz p esqu isa?

Para d escrever o p rocesso d e p rofission ali-zação d o cien tista, Latou r acom p an h a o d ia-a-d ia ia-a-d e u m ia-a-d iretor ia-a-d e lab oratório ia-a-d e p esq u isas, rep rod u zin d o, ao m esm o tem p o, as ativid ad es qu e u m gru p o d e p esqu isad ores d esem p en h ou d u ran te u m a sem an a. Ele con stata, assim , q u e este d ireto r o cu p o u to d o o seu tem p o im p le -m en tan d o estratégias p ara recru tar in vestid ores, in teressar e con ven cer p essoas d a relevân -cia, origin alid ad e e p ertin ên cia d a p esqu isa d e-sen volvid a em seu lab oratório. En q u an to isto, os p esq u isad ores d irigid os p or ele p assaram a m esm a sem a n a , 12 h o ra s p o r d ia , tra n ca d o s em u m lab oratório.

Afin al d e con tas, ele se p ergu n ta, qu em são os q u e fazem realm en te p esq u isa? On d e se faz p esqu isa d e verd ad e?

(7)

e extern alistas, m u ito p resen te ain da em algu n s fóru n s on d e se d iscu te a h istória d as ciên cias e das técn icas. Para Latou r, se você segu ir u m dos cam in h os, con tará u m a h istória. Se escolh er o ou tro, a h istória será com p letam en te d iferen te. La to u r co n d en a ta n to o s “in tern a lista s” q u an to os “extern alistas”. A crítica q u e faz aos in tern alistas relacion a-se ao fato d e p reten d e-rem an alisar o p rocesso d e p rod u ção cien tífica com o sen d o exclu sivam en te fru to d o trab alh o d e p esq u isa d o res, co n stru in d o u m a im a gem id ílica , p u ra e d esin teressa d a d a a tivid a d e cien tífica . Qu a n d o se fa la d e ciên cia , o s leito-res, con ven cid os p or esta p ersp ectiva, p en sam logo em sáb ios céleb res, em d iscip lin as e u n i-versid ad es com p restígio q u e p rod u zem n ovas id éias e con h ecim en tos com p letam en te d isso -ciad os d o q u e se p assa n a socied ad e. Acom p a-n h aa-n d o a m aa-n eira com o o au tor estru tu ra su a crítica aos in tern alistas, m ais u m a vez n os su r-p reen d em os. Latou r recorre às estatísticas ofi-cia is e co n sta ta o red u zid o n ú m ero d e p ro fis-sio n a is in scrito s n o recen sea m en to fed era l, n o s Esta d o s Un id o s, co m o “cien tista s”,a ssim com o a q u a n tid a d e, m en or a in d a , p ossu id ora d e u m d o u to ra d o. Ele u sa esses d a d o s p a ra d esm o n ta r a ló gica in tern a lista , q u e a cred ita q u e aq u eles q u e trab alh am n o lab oratório são os ú n icos qu e fazem realm en te ciên cia: “Não é p ossível qu e esta m in oria con siga, sozin h a, re-cru tar os fu n d os n ecessários p ara p rod u zir co-n h ecim eco-n to e coco-n veco-n cer tod a a p op u la çã o d e su a eficácia” (Latou r, 1989:246). Os in tern alis-tas d efen d em , p or ou tro lad o, qu e os cien tisalis-tas, ap esar d e serem tão p ou cos, fazem tan to e in -flu en ciam tan ta gen te p orq u e são os m elh ores e o s m a is b rilh a n tes, e q u e, p o r essa ra zã o, a s p essoas acred itam n eles. Assim , Latou r p rocu ra a p resen ta r n ã o a p en a s o s p ró p r io s a rgu m en tos, m as tam b ém in trod u z aqu eles su sten -tad os p elos in tern alistas.

A crítica q u e fa z a o s extern a lista s vin cu la -se ao fato d e con ceb erem o trab alh o cien tífico com o sen d o fru to exclu sivo d as d eterm in ações so cia is, p o lítica s e eco n ô m ica s q u e so fre d u -ra n te su a ela b o-ra çã o. Os extern a lista s, n o seu en ten d er, erra m q u a n d o cu id a d osa m en te n e-gligen cia m a a n á lise d os con teú d os d a s d isci-p lin as e a realid ad e d os lab oratórios.

Para Latou r, a qu alid ad e d a p esqu isa qu e se d esen volve n o in terior d o lab oratório n ão é d e-term in ad a ap en as p ela cap acid ad e d e articu la-ção p olítica d o d iretor, em seu exterior. A d eci-são d o Min istro, p or su a vez, n ão é in flu en cia-d a exclu sivam en te p elo qu e se faz n o lab oratório. No seu en ten d er, n ã o existem d u a s h istó -ria s: u m a d a s co isa s e o u tra d a s p esso a s. Só existe u m a.

O a u to r reto m a o exem p lo d o d ireto r q u e sai à b u sca d e fin an ciam en to e recon h ecim en -to, e o d os p esq u isad ores q u e p erm an ecem n o in terior d o lab oratório. Para ele, u m p esq u isa-d or só é cap az isa-d e p erm an ecer exclu sivam en te d en tro d o lab oratório p orq u e ou tro está con s-ta n tem en te fo ra p ro cu ra n d o n ova s fo n tes d e recu rsos. No seu en ten d er, h á u m a relação d i-reta en tre a in ten sid ad e d o trab alh o exterior d e recru tam en to e a ten são sofrid a n o in terior d o lab oratório. Mu itas vezes, u m a p esqu isa só tem con d ições d e se d esen volver se o am b ien te on -d e a in vestiga çã o está in sta la -d a fo r eq u ip a -d o ad equ ad am en te. Ou tras vezes u m a p esqu isa só con segu e in stalações ad eq u ad as se estiver d esen volvid a o su ficien te e ap reesen tar argu m en -tos con vin cen tes às agên cias fin an ciad oras.

Co m p õ e-se, a ssim , u m q u a d ro d e d u p la p ressão. Um a vem d os qu e p erm an ecem n o la-boratório e volta-se sobre os qu e articu lam com as fon tes fin an ciad oras e qu e estão n o exterior. Se o fin an ciam en to n ão for ob tid o, o am b ien te n o la b ora tório torn a -se ten so, p ois o tra b a lh o terá p o u ca s co n d içõ es d e ter co n tin u id a d e. A ou tra p ressão origin a-se d os qu e estão n o exterior. As in ovações cien tíficas p rod u zid as n o in -terior d e u m lab oratório d evem estar cercad as d e p rova s. Os q u e a rticu la m co lega s, revista s cien tífica s d e d ivu lga çã o, a u to rid a d es e in sti-tu ições n ão p od em ter seu s p rod u tos p assíveis d e críticas ou con testações. Assim , os q u e p er-m an eceer-m d o lad o d e fora exerceer-m p ressão so-b re os q u e fica m n o la so-b ora tório p a ra q u e p ro-d u za m ro-d a ro-d os con fiá veis e com p rová veis. Pa ra Latou r, as ciên cias têm u m in terior p orqu e têm u m exterior. Qu an to m ais im p ortan te, sólid a e p u ra for a ciên cia p rod u zid a n o in terior, tan to m ais os ou tros p esqu isad ores, agen ciad ores d e p restígio e verbas, devem ir lon ge em direção ao exterio r. Assim , o a u to r n ã o vê co n d içõ es d e u m a fa ce existir se n ã o estiver a p oia d a n a ou tra. São d ois trab alh os d istin tos. Um , en tretan -to, n ão sobrevive sem o ou tro.

Utilizan d o o m étod o qu e d en om in ou “lógi-ca d a trad u ção”, Latou r se p rop õe a con tar u m a ú n ica h istó ria , q u a lq u er q u e seja o p o n to d e en trad a. Se você segu ir o p esq u isad or n a b an -cad a, ch egará ao d iretor d o lab oratório qu e n e-go cia fin a n cia m en to. Se vo cê a co m p a n h a r o d ia -a -d ia d o d ireto r, ch ega rá a o la b o ra tó rio, su a b a n ca d a , m icro scó p io s, len tes e to d o s o s u ten sílio s n ecessá rio s. Pa ra ele, a ca p a cid a d e d e tra b a lh a r n u m la b o ra tó rio d ep en d e d o su -cesso ob tid o p or ou tros p esqu isad ores n a cole-ta d e recu rsos e vice e versa.

(8)

iceb erg. No seu en ten d er, é n ecessá rio m u ito m a is gen te n o exterio r p a ra to rn a r p o ssível o trab alh o d aqu eles qu e ach am qu e fazem “ciên -cia p u ra”. Segu in d o a “lógica d a trad u ção”, p ro-p osta ro-p elo au tor, ro-p od em os con clu ir qu e os qu e con trib u em p ara a d efin ição, a d ifu são, a d ivu l-ga çã o, o co n ven cim en to d a u tilid a d e, a n ego-ciação, a gestão, a regu lam en tação, a in sp eção, o en sin o, a ven d a e a m a n u ten çã o d o s p ro d u -tos gerad os n o lab oratório, ap esar d e n ão p erm a n ecereerm n o in terio r d este, sã o p a rte in te -gran te d a p esqu isa.

Assu m in d o esta p ersp ectiva, su rge u m p ro-b lem a m eto d o ló gico. Co m o fa zer este tip o d e an álise, já qu e, p or d efin ição, as estatísticas so-b re força d e traso-b alh o só d en om in am cien tistas

as p essoas oficialm en te en gajad as n a ciên cia e q u e d esen vo lvem su a a tivid a d e em la b o ra tó -rios ou cen tros d e p esqu isa? Para Latou r, a an á-lise d o s o rça m en to s, m esm o se estiverem d e-fo rm a d o s p ela s esta tística s, é u m d o s ca m i-n h os p ossíveis p ara resolver esta q u estão. Eles rep resen ta m , d e m a n eira gera l, u m b o m ter-m ô ter-m etro p a ra q u e se a va lie a té q u e p o n to o s p esq u isad ores foram cap azes d e su scitar in te-resse d as au torid ad es e d as agên cias fin an ciad oras com seu trab alh o. Para con segu ir o m on -tan te d e verb a firm ad o n os orçam en tos, o p es-q u isad or n ão p od e ficar fech ad o em seu lab o-ratório. Em su a equ ip e, u m a p arte fará o trab a-lh o d e p ersu a sã o e n ego cia çã o co m o Esta d o, as agên cias fin an ciad oras e a socied ad e em ge-ra l, en q u a n to o u tge-ra se m a n terá p ró xim o o u d en tro d o lab oratório.

Considerações finais

Com o algu ém se torn a cien tista?

Esta fo i a p ergu n ta q u e a b riu este a rtigo. En ten d em o s q u e n o sso in tu ito fo i cu m p r id o, ou seja, n a an álise q u e fizem os, a visão d e La-tou r foi su ficien te p ara d esm istificar a resp osta qu e se tem com u m en te p ara esta p ergu n ta. Pa-ra b oa p arte d a op in ião p ú b lica, u m cien tista é algu ém qu e se d ed ica in tegral e exclu sivam en -te a seu trab alh o d e p esqu isa e, além d isso, d om in a u om co n h eciom en to so fistica d o e in co om -p reen sível -p or leigos. A con ce-p ção d e Wilen sky sob re o p rocesso d e p rofission alização coin ci-d e, a n osso ver, com aq u ela p resen te n o sen so com u m . Para Wilen sky, u m a ocu p ação p od e se torn ar u m a p rofissão se d om in ar u m con h eci-m en to esotérico, coeci-m p lexo, in stitu cion alizad o e a p licá vel. Pa ra ele, co m o p a ra a o p in iã o p ú -b lica em geral, esta con d ição é d eterm in an te e im p rescin d ível p a ra a ca ra cteriza çã o d e u m a p rofissão, sob retu d o a d e cien tista.

Pa ra La to u r, o d o m ín io e a d elim ita çã o d o co n h ecim en to é fu n d a m en ta l a o p ro cesso d e p rofission alização, sem ser, en tretan to, d eter-m in an te ou ieter-m p rescin d ível.

Pa ra a p resen ta r su a visã o, La tou r p ercorre u m cam in h o ao m esm o tem p o sin u oso e in sti-ga n te. Ta n to n o ca so d o geólogo Lyell, q u a n to n o d o d iretor d e u m lab oratório, o au tor im p le-m en tou u le-m a d escrição etn ográfica, qu e con fir-m o u su a h ip ó tese p rin cip a l. La to u r a cred ita q u e, p a ra q u e seja m a n a lisa d a s a s ra zõ es d o su cesso d e u m a ativid ad e q u e se p rofission ali-za , d eve-se tra b a lh a r sim u lta n ea m en te co m d u a s d im en sõ es: o la d o d e d en tro e o d e fo ra d o p ro cesso d e p ro d u çã o d o co n h ecim en to p ro p ria m en te d ito. Ele a d m ite q u e p o d eria ad otar e rep rod u zir a lógica d os qu e acred itam n u m a real d iferen ça en tre estes d ois lad os, ou m esm o d os q u e en ten d em q u e exista u m a d e -term in ação d e u m lad o sob re o ou tro. Para ele, “em b o ra esta ló gica seja a ceita p ela m a io ria d os an alistas, ela n os é ab solu tam en te p roib id a” (La to u r, 1989:258). Segu n id o La to u r, n e -n h u m fa to r d eve ser p rivilegia d o q u a -n d o u m p ro cesso d e p ro fissio n a liza çã o fo r a n a lisa d o. Um a in vestiga çã o so b re o tra b a lh o cien tífico d eve recom p or tod os os seu s m ean d ros, d u vi-d a n vi-d o ta n to vi-d a s ciên cia s so cia is q u a n to vi-d a s ciên cia s d ita s só lid a s. Nã o se tra ta d e d ecid ir q u e fatos p erten cem ao social e q u ais ao cien -tífico. Ao con trário, Latou r p ostu la q u e os d ois cam in h os sejam segu id os sim u ltan eam en te. O p ró p rio a u to r, en treta n to, ch ega a d u vid a r d o su cesso d e seu em p reen d im en to. “Tería m o s n ós p ercorrid o tod o esse cam in h o e con segu i-d o escap ar à frigii-d eira i-d a ciên cia som en te p ara cair n o fogo d a socied ad e? Sairem os algu m d ia d os d escam in h os d o in tern alism o p ara recair a ca d a vez n a s a b erra çõ es d o extern a lism o ? Serem os ob rigad os a escolh er u m m eio term o en -tre in te rn a lism o e e xte rn a lism o, m e io te rm o e ste q u e cu m u la ria o s a b su rd o s?” (La to u r, 1989:285).

(9)

m esm o tem p o, n ão d á ên fase n em ao d om ín io d o con h ecim en to, com o fazem os in tern alistas, n em p rivilegia a so b era n ia d o so cia l, co m o q u erem os extern alistas. Cab e m en cion ar q u e, ap esar d e ap aren tem en te resolvid a, esta op osi-çã o – visã o in tern a lista X visã o extern a lista – p erm a n ece extrem a m en te viva . Su p era r esta op osição artificial rep resen ta u m d os gran des e in stiga n tes d esa fio s p a ra a q u eles q u e p reten -d am fazer h istória -d as ciên cias e -d e su a p rofis-sio n a liza çã o, n o s vá rio s ra m o s d o co n h eci-m en to.

Com o algu ém se torn a cien tista?

Recorrem os à m esm a p ergu n ta p ara fazer-m o s o u tra . Qu a l fo i o fazer-m éto d o u tiliza d o p elo s au tores qu e foram ob jeto d e n ossa an álise?

Ao lo n go d este texto, a cred ita m o s ter sid o p ossível com p reen d er su as d ivergên cias e con -vergên cia s n o p la n o teó rico e co n ceitu a l co m b a se n a s resp ectiva s con stru ções e op era ções co n creta s a d o ta d a s. Meto d o lo gica m en te, La -tou r p en etra n o lab oratório p rocu ran d o resga-ta r seu d ia -a -d ia , seu s co n flito s e in teresses d istin tos. Wilen sky, p or seu lad o, p arte d a con s-ta s-ta çã o d a s es-ta p a s co m u n s 18 p ro fissõ es n o s Esta d o s Un id o s e, co m isso, cria u m esq u em a teórico ab ran gen te, ap licável, n o seu en ten d er, a tod as as ativid ad es d o m u n d o d o trab alh o.

Tivem o s o cu id a d o d e ressa lta r q u e ca d a u m d estes a u to res p ro d u zira m tra b a lh o s em m o m en to s h istó rico s d istin to s, ten d o sid o, p o rta n to, in fo rm a d o s p o r p reo cu p a çõ es e es-co la s d e p en sa m en to b a sta n te d iferen cia d a s. Este p on to d e p artid a n ão d esqu alificou , a n os-so ver, o em p reen d im en to qu e n os d isp om os a en fren ta r. Mu ito p elo con trá rio, a con tra p osi-çã o a p resen ta d a teve o m érito d e a gu ça r a p ersp ectiva crítica, im p rescin d ível p ara trab a-lh os d esta n atu reza.

A h istoricid ad e d o p rocesso d e p rofission a-lização n ão foi, p ara n ós, ob jeto d e in teresse d e n en h u m d os d ois au tores. Nem p od eria ter si-d o si-d iferen te. Esta n ã o era a p reo cu p a çã o si-d e n en h u m d eles. Latou r p rocu rou d ilu ir a op osi-ção existen te en tre in tern alistas e extern alistas, en q u an to Wilen sky b u scou estab elecer u m ti-p o id eal d e “ser ti-p rofission al”. Du as in iciativas lo u vá veis e q u e co n tr ib u íra m en o rm em en te p a ra a ca ra cteriza çã o d o q u e ven h a a ser u m a p rofissão em term os sociológicos. Am b as ab or-d a gen s in tegra m a tu a lm en te a h istó ria or-d a con stru ção d este con ceito.

Mas, o qu e seria in trod u zir a d im en são h is-tórica às an álises sob re p rocessos d e p rofissio-n alização?

Recen tem en te, au tores com o Starr (1982) e Herzlich (1995) b u scaram associar as h istórias d e seu s p aíses com a h istória d a p rofissão m

é-d ica em ca é-d a rea lié-d a é-d e esp ecífica . Len é-d o e a n a lisa n d o esta s d u a s o b ra s, tivem o s co n d i-çõ es d e p erceb er q u e “o lu ga r d a ciên cia n a co n figu ra çã o d a p ro fissã o fo i, p a ra a m b o s o s au tores, tid o com o secu n d ário ou p ou co sign i-fica n te. (...) Os a u to res co m b in a ra m , em su a s a n á lises, u m a fa ce só cio -h istó rica co m o u tra voltad a p ara o p róp rio d esen volvim en to cien -tífico d o co n h ecim en to m éd ico e su a s rep er-cu ssões sociais”(Pereira, 1995a:24).

Sta rr (1982) e Hezlich (1995) co n clu íra m q u e a an álise h istórica e sociológica d a p rofis-são n ão p od e ser vista d issociad a d a socied ad e e d o m ovim en to cien tífico qu e n ela se in screve (Pereira , 1994). A n ecessid a d e d a a sso cia çã o d esta s d im en sõ es tem sid o u m a d e n o ssa s p reocu p ações em p rod u ções recen tes. No n osso en ten d er, a d im en são h istórica d eve ser in -trod u zid a n a an álise d as p rofissões em fu n ção, p elo m en o s, d e d u a s co o rd en a d a s q u e co n sid eram os fu n sid am en tais: “Por u m lasid o cab e fa -zer u m a referên cia à h istória social em q u e es-ta p ro fissã o está in serid a e d a q u a l fa z p a r te. Por ou tro lad o cab e recon h ecer a h istoricid ad e d o p rocesso p rofission al” (Pereira, 1995b :612). Este esfo rço d e d efin içã o co n ceitu a l e d e a sso cia çã o d esta s vá r ia s d im en sõ es, n a á rea d as ciên cias sociais, acab ou d e ser revitalizad o co m o la n ça m en to d a co letâ n ea o rga n iza d a p o r Ma ch a d o (1995a ). Nela , o s d iverso s a u to-res, in serid os n a área d a sociologia d as p rofis-sões, b u scam estab elecer u m a “con exão en tre a b ase cogn itiva, o m ercad o d e trab alh o, os asp ecto s d o a m b ien te (Esta d o, so cied a d e, a sso -ciações civis, in stitu ições etc.), os avan ços tec-n ológicos – seu s efeitos tec-n o m u tec-n d o p rofissiotec-n al, a d im en são d as aren as con flitivas e d e com p e-tição en tre elas e n o in terior d elas” (Mach ad o, 1995b :11).

(10)

Agradecimentos

Agra d eço à p ro fesso ra Dra . Vera Po rto ca rrero (Ca sa d e Oswald o Cru z/ Fiocru z e Uerj), p elos com en tários e su gestões d u ra n te a ela b ora çã o d este texto. Os er-ros e om issões qu e ele con tém são, en tretan to, d e m i-n h a ii-n teira resp oi-n sab ilid ad e.

Referências

BARBOSA, M. L., 1993. A so cio lo gia d a s p ro fissõ e s: em torn o d a legitim id ad e d e u m ob jeto. Bolet im Bibliográfico d e Ciên cias Sociais, 36:3-30. DURKH EIM, E., 1984. A Div isã o d o Tra b a lh o Socia l.

Porto: Ed itorial Presen ça.

H ERZLICH , C., 1995. A e vo lu çã o d a s re la çõ e s e n tre m éd icos fran ceses e o Estad o, d e 1880 a 1980. In : Profissões d e Saú d e: Um a abord agem Sociológica (M. H. Mach ad o, org.), p p. 75-89, Rio d e Jan eiro: Ed itora Fiocru z

HOCHMAN, G., 1994. A ciên cia en tre a com u n id ad e e o m ercad o: leitu ras d e Ku h n , Bou rd ieu , Latou r e Kn o rr-Cetin a . In : Filosofia , Hist ória e Sociologia d a s Ciên cia s. Ab ord a gen s Con t em p orâ n ea s( V. Po rto ca rre ro, o rg.) p p. 199-232. Rio d e Ja n e iro : Ed itora Fiocru z.

LATOUR, B., 1989. Les p rofession s. In : La Scien ce en Act ion (B. La to u r, o rg.) p p. 236-286. Pa ris: Éd i-tion s La Décou verte.

MACH ADO, M. H ., 1991. So cio lo gía d e la s p ro fe-sio n e s: u n n u e vo e n fo q u e. Ed u ca ción M éd ica y Salu d, 25:28-36.

MACH ADO, M. H ., 1995a .Profissões d e Sa ú d e: Um a Ab ord a gem Sociológica .Rio d e Ja n eiro : Ed ito ra Fiocru z.

MACHADO, M. H., 1995b. Sociologia d as p rofissões: u m a co n trib u içã o a o d e b a te te ó rico. In : Profis-sões d e Sa ú d e: Um a Ab ord a gem Sociológica .( M. H. Mach ad o, org.) p p. 13-33. Rio d e Jan eiro: Ed i-tora Fiocru z.

MARINH O, M. J., 1986. Profission a liz a çã o e Cred en -ciam en to: A Política d as Profissões. Rio d e Jan eiro: Sen ai.

PEREIRA, A., 1994. A h istória d a p rofissão m éd ica n os Estad os Un id os: o p on to d e vista d e Pau l Starr. Es-tu d os em Saú d e Coletiva, 101:23.

PEREIRA, A., 1995a . A h istó ria d a p ro fissã o m éd ica : a lgu m a s co n sid era çõ es m eto d o ló gica s. Est u d os em Saú d e Coletiva,122:28.

PEREIRA, A., 1995b. A p ro fissã o m éd ica em q u estã o (1922): d im en são h istórica e sociológica. Cad er-n os d e Saú d e Pú blica, 11:600-615.

SCHRAIBER, L. B., 1993. O M éd ico e seu Trabalh o. Li-m ites d a Liberd ad e. São Pau lo: Hu citec.

STARR, P., 1982. Th e Social Tran sform ation s of Am er-ican Med icin e. New York: Basic Books

WEBER, M., 1982. A Ciên cia com o Vocação. En saios d e Sociologia. Rio d e Jan eiro: Gu an ab ara.

Referências

Documentos relacionados

Nesse contexto, o presente estudo foi realizado com o intuito de avaliar o crescimento e o desempenho econômico de plantios de Eucalyptus dunnii em diferentes sítios no

Comolia ovalifolia (DC.) Triana, Trans. Na região de estudo foi encontrada em áreas de tabuleiro com solo úmido e bastante arenoso, sendo este seu primeiro registro

Amzalak (Moses Bensabat)-«História das doutrinas econó- Platão e a economia da Cidade ››. Artística Vimaranense). do Banco de Portugal). do Autor). do Autor). da

Trata-se de um relato de pesquisa e experiência prática, de natureza descritiva, sobre a vivência em um projeto de extensão universitário multidisciplinar realizado na

Em 1999, publiquei um pequeno texto que, entre outras coisas, abordava as ambiguidades apresentadas pela sentença O ladrão tirou a chave da porta da frente, apresentada na forma

fatores externos, não só como estímulo, mas como uma base para a participação em ativid ad es físicas de forma positiva, realm ente voltada para a

a) O polícia disse um palavrão, após ter saído da casa de Adrian. Corrige as falsas.. A mãe também está com gripe. “Quase que não consegui ficar calado quando vi que não

Audiência pública sobre direitos e deveres Pela Resolução nº 1.229, de 30.11.05, a Agência Nacional de Transportes Terrestres fixou proce- dimentos para utilização de ônibus