CEN TRO D E CI ÊN CI AS SOCI AI S APLI CAD AS PROGRAM A D E PÓS- GRAD UAÇÃO EM ED UCAÇÃO
LI N H A D E PESQUI SA ESTRATÉGI AS D O PEN SAM EN TO E PROD UÇÃO D O CON H ECI M EN TO
GRUPO D E ESTUD OS D E PRÁTI CAS ED UCATI V AS EM M OV I M EN TO GEPEM
GEORGI N A N EGRÃO KALI FE CORD EI RO
A RELAÇÃO TEORI A- PRÁTI CA D O CURSO D E
FORM AÇÃO D E PROFESSORES D O CAM PO N A
UFPA
GEORGI N A N EGRÃO KALI FE CORD EI RO
A RELAÇÃO TEORI A- PRÁTI CA D O CURSO D E
FORM AÇÃO D E PROFESSORES D O CAM PO N A
UFPA
Tese apr esent ada par a avaliação ao Pr ogr am a de Pós-Gr aduação em Educação, da Linha de Pesquisa Est r at égias do Pensam ent o e Pr odução do Conhecim ent o, com o r equisit o par cial par a a obt enção do gr au de dout or am ent o em Educação, sob a or ient ação da Pr ofª Dr a. Mar t a Mar ia Cast anho Alm eida Per nam buco.
N a t a l/ RN
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Divisão de Serviços Técnicos
Cordeiro, Georgina Negrão Kalife.
A relação teoria-prática do curso de formação de professores do campo na UFPA / Georgina Negrão Kalife Cordeiro. - Natal, 2009.
199 f.: il.
Orientadora: Profª. Drª. Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco. Tese (Doutorado em Educação) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-Graduação em Educação.
1. Educação - Tese. 2. Formação de professores - Tese. 3. Educação no campo - Tese. 4. Paulo Freire - Tese. 5. Educação e Movimentos Sociais - Tese. I. Pernambuco, Marta Maria Castanho Almeida. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
AGRAD ECI M EN TOS
Fazer agr adecim ent os e não esquecer ninguém é m uit o difícil. Por isso, agr adeço de cor ação a t odas as pessoas ( am igos/ as, colegas de t r abalho, colegas de t ur m a, egr essos da Pedagogia da Ter r a) que cont r ibuír am de algum a for m a com est e t r abalho. Desde àqueles e àquelas que m e incent ivar am a fazer o Cur so de Dout or ado, at é àqueles e àquelas que, ao longo dessa t r aj et ór ia, const it uír am os colet ivos de const r ução dest a Tese.
Mas, um agr adecim ent o par t icular à Pr ofa. Dra. Mar t a Mar ia C. A. Per nam buco pela com pet ência e, pr incipalm ent e, o r espeit o que m ant ém às idéias de seus or ient andos, m uit as vezes, com o pedr as que necessit am de lapidação, par a m ost r ar seu br ilho e beleza. A você Mar t a, m inha gr at idão.
Às pr ofessor as Drª . Ana Lúcia Assunção Ar agão, Dr ª . I r ene Alves de Paiva e Dr ª . Sônia Meir e Azevedo de Jesus, pelas cont r ibuições nos Sem inár ios de For m ação Dout or al.
E, m uit o agr adeço ao GEPEM, na pessoa de cada um de seus m em br os, pela acolhida e opor t unidade de apr ender na conv iv ência fr at er na e am iga. Quiser a poder cont inuar essa convivência.
Um agr adecim ent o especial às am igas Luciane e Rosem er i que par t ilhar am com igo, as lágr im as de saudade, a convivência do dia a dia longe da fam ília e o apoio nos m om ent os m ais difíceis.
Agr adeço ao Pr ogr am a de Pós Graduação em Educação da UFRN, na pessoa dos funcionár ios da Secr et ar ia, pela pr ont idão e com pet ência no at endim ent o.
Reeducar os olhar es e as r epresent ações sobr e a diver sidade é um a t ar efa nos pr ogr am as de for m ação e diver sidade.
RESUM O
Est e t r abalho é um a r eflexão sobr e as pr át icas educat ivas desenvolvidas por alunos/ pr ofessor es no Cur so de For m ação de Educador es do Cam po, r ealizado num a par cer ia ent r e a Universidade Feder al do Par á ( UFPA) , o Movim ent o dos Tr abalhador es Rur ais Sem Ter r a ( MST) e o Pr ogr am a Nacional de Educação na Refor m a Agr ár ia ( PRONERA) , t endo com o obj et ivo est r at égico invest igar quais são os elem ent os facilit ador es da ar t iculação t eor ia- pr át ica nos pr ocedim ent os m et odológicos do Cur so, em basados em Paulo Fr eir e. Apr ofundam os r eflexões sobr e o sur gim ent o de um a pr opost a de Educação do Cam po que, ent r e out r os elem ent os, paut a- se na Pedagogia da Alt er nância, especificam ent e no que diz r espeit o às cat egor ias Tem po- Escola e Tem po- Com unidade. No pr ocesso de pesquisa, ut ilizam os com o font es os docum ent os escr it os ( pr oj et os de cur so, r elat ór ios, diár ios de cam po) , e as falas dos alunos do Assent am ent o Palm ar es I I dur ant e e após o Cur so. Na análise, ident ificam os com o elem ent os facilit ador es da r elação t eor ia e pr át ica, o Tem po- Escola e o Tem po- Com unidade opor t unizando, a r ealização do que se car act er iza com o pr áxis, ( ação- r eflexão- ação) , ut ilizando a pesquisa com o m eio de inser ção na r ealidade e a exist ência de gr upos ( colet ivos) , o que veio a possibilit ar a par t icipação colet iva na r ealização de pr át icas pedagógicas m ais significat ivas no processo de for m ação de Educador es do Cam po, com v ist as a cont r ibuir na for m ação de suj eit os const r ut or es de sua pr ópr ia hist ór ia.
RÉSUM É
Ce t r avail est une r eflexion sur les prat iques éducat ives dévelloppées par des élèves/ pr ofesseur s dans le Cours de For m at ion d’Éducat eur s de la Cam pagne, r éalisé dans un par t enar iat ent r e l’Univer sit é Fédér ale du Par á ( UFPA) , Le Movim ent o dos Tr abalhador es sem Ter r a ( MST – Mouvem ent des t r availleur s sans Ter r e) et le Progr am m e Nat ional d’Éducat ion dans la Réfor m e Agr air e ( PRONERA) , en ayant com m e son obj ect if st r at égique r echer cher les élém ent s facilit at eur s de l’ar t iculat ion t héor ie- pr at ique dans les pr océdur es m ét hodologique du Cour s, fondé sur Paulo Fr eir e. Nous appr ofondissons des r éflexions sur la pr oduct ion d’une pr oposit ion d’Éducat ion de la Cam pagne qui, ent re aut r es élém ent s, se fonde sur la Pédagogie de l’Alt er nance, spécifiquem ent en ce qui concer ne les cat égor ies Tem ps – École et Tem ps – Com m unaut é. Dans le pr ocès de r echer che, nous ut ilisons com m e r essour ces les docum ent s écr it s ( des pr oj et s de cour s, des r appor t s, des j our naux de la cam pagne - docum ent qui r egist r e le quot idien des act ivit és et des choses r éalisées) , et les discour s des élèves de l’Assent am ent o Palm ares I I , pendant et apr ès le Cour s. À l’analyse, nous ident ifions com m e élém ent s facilit at eur s de la r elat ions t héor ie et pr at ique, le Tem ps – École et le Tem ps – Com m unaut é en cr éant des oppor t unit és, la r élat ion de ce qui se car act er ise com m e pr axis ( act ion- r efléxion- act ion) , en ut ilisant la r echer che com m e m oyen d’inser t ion dans la r éalit é et l´ exist ence de gr oupe ( colect if) , ce qui a possibilit é la par t icipat ion colect ive aux r éalisat ions des pr at iques pédagogiques plus significat ives dans le pr ocès de For m at ion d’Éducat eur s de la Cam pagne, en ayant com m e obj ect if la cont r ibut ion dans la for m at ion des suj et s r éalisat eur s de leur hist oir e.
RESUM EN
Est e t r abaj o es una r eflexión sobr e las pr áct icas educat ivas desar r olladas por alum nos/ pr ofesor es en el Cur so de For m ación de Educador es del Cam po, realizado en una sociedad ent r e la Univer sidad Feder al de Par á ( UFPA) , el Movim ent o dos Tr abalhador es sem Ter r a ( MST) y el Pr ogr am a Nacional de Educación en la Refor m a Agr ár ia ( PRONERA) , t eniendo com o obj et ivo est r at ét ico invest igar cuales son los elem ent os facilit ador es de la ar t iculación t eor ía- pr áct ica en los pr ocedim ient os m et odológicos del Cur so, basados en Paulo Fr eir e. Pr ofundizar r eflexiones sobr e el sur gim ient o de una pr opuest a de Educación del Cam po que, ent re ot r os elem ent os, se apoya en la Pedagogía de Alt er nancia, especificam ent e sobr e las cat egor ías Tiem po- Escuela y Tiem po- Com unidad. En el pr oceso de invest igación, ut ilizam os com o fuent es los docum ent os escr it os ( pr oyect os de cur so, r elat or ios, diár ios de cam po ( docum ent o que r elat a el cot idiando de las act ividades en el cont ext o del cam po) , y las hablas de los alum nos del Asent am ient o Palm ares I I , dur ant e y después del cur so. En el análisis, ident ificam os com o elem ent os facilit ador es de la r elación t eor ía y pr áct ica, el Tiem po- Escuela y el Tiem po- Com unidad cr eando la ocasión par a la r ealización de lo que se car act er iza com o pr axis ( acción-r eflexión- acción) , ut ilizando la invest igación com o m edio de inseacción-r ción en la r ealidad y la exist encia de gr upos ( colect ivos) , lo que posibilit a la par t icipación colect iva en la for m ación de Educador es del Cam po, con el obj et ivo de cont r ibuir en la for m ación de suj et os const r uct or es de su pr opia hist or ia.
LI STA D E I LUSTRAÇÕES
Quadr o I – Dem onst r at ivo do núm er o de escolas e m at r ículas na zona r ur al em classes m ult isser iadas.
Quadr o I I - Dem onst r at ivo da dist r ibuição de car ga hor ár ia t ot al das disciplinas, dias let ivos e núm er o de dias par a aulas pr esenciais e sem ipr esenciais.
Quadr o I I I - Dem onst r at ivo dos hor ár ios dest inados a conclusão das disciplinas com at ividades r ealizadas no Tem po Com unidade.
Quadr o I V - Or ganização do hor ár io/ per íodo das disciplinas no Tem po-Escola..
Quadr o V - Pr ogr am ação de at ividades não pr esencial ( I et apa do Cur so) . Quadr o VI - Plano de cur so j á na I I Et apa.
Quadr o VI I - Cont inuidade do plano de cur so acim a, enfocando os
obj et ivos.
Quadr o VI I I - Cont inuação do plano de Cur so com ênfase nas at ividades do TC.
Quadr o I X - Cont inuação do plano e at ividades par a o TC.
Quadr o X - At ividades do Tem po- Com unidade – disciplina Fundam ent os Teór icos Met odológicos de Educação I nfant il.
Quadr o XI - Tex t o poét ico expr essando o sent im ent o das m íst icas vivenciadas na t ur m a.
Quadr o XI I - Or ient ações do MST ( colet ivo de educação) par a o TC. Quadr o XI I I - Or ient ações do MST par a o TC na 5ª Et apa.
Quadr o XI V - Or ient ações do MST par a o TC, 6ª et apa.
Quadr o XV - Cont inuação da ficha de or ient ação par a a 6ª et apa. Quadr o XVI - Or ient ações da Disciplina par a o TC.
Quadr o XVI I I - Par t es de um pr oj et o de Nucleação de alunos na Escola Cr escendo na Pr át ica.
Mapa 1 - Localização do Assent am ent o Palm ar es no Município de Par auapebas
Fot ogr afia 1 - Visão par cial das r uas e casas em Palm ar es I I
Fot ogr afia 2 - Visão ext er na par cial da Escola Cr escendo na Pr át ica Fot ogr afia 3 - Paisagem int erna da Escola Crescendo na Prát ica Fot ogr afia 4 - Ár ea de acesso a par t e adm inist r at iva da Escola Fot ogr afia 5 - A Mar cha, com o at ividade de lut a do m ovim ent o Fot ogr afia 6 - Mut ir ão r ealizado no Assent am ent o Palm ar es I I
Fot ogr afia 7 - Vist a da ent r ada pr incipal da Escola Cr escendo na Pr át ica Fot ogr afia 8 - Bar r acos de lona no Acam pam ent o Educat iv o
Fot ogr afia 9 - At ividades de Raciocínio Lógico Fot ogr afia 10 – Oficina for m ando Cr ianças leit or as
Fot ogr afia 11 - For m a de or ganização int er na das at ividades nos bar r acos Fot ogr afia 12 - At ividades envolvendo for m andos, pr ofessor es de educação infant il e as cr ianças
Fot ogr afia 13 - At ividades de Pr át ica de Ensino de Educação I nfant il envolvendo for m andos, educador es infant is e as cr ianças
Fot ogr afia 14 - Visão int er na par cial da Escola Cr escendo na Pr át ica Fot ogr afia 15 - Mom ent o de saída do ônibus escolar
Fot ogr afia 16 - Visão ext er na do ent or no da Escola no dia da eleição par a Dir et or
LI STA D E ABREV I ATURAS E SI GLAS
ANFOPE - Associação Nacional par a For m ação dos Pr ofissionais da Educação
ANPED - Associação Nacional de Pós Gr aduação e Pesquisa na Educação APROCPAR - Associação de Pr odução e Com er cialização do Assent am ent o Palm ar es
ARCAFAR - Associação Regional das Casas Fam iliar es Rur ais CBE - Confer encia Brasileir a de Educação
CCP - Cent r os de Cult ur a Popular CEB - Câm ar a de Educação Básica CEBs - Com unidades Eclesiais de Base CEE - Conselho Est adual de Educação CFE - Conselho Feder al de Educação
CONED - Congr esso Nacional de Educação
CONARCFE - Com issão Nacional de Refor m ulação dos Cur sos de For m ação dos Educador es
CONSEP - Conselho Super ior de Ensino
CONTAG - Confeder ação Nacional dos Tr abalhador es na Agr icult ur a CNBB - Confer ência Nacional dos Bispos do Brasil
CNE - Conselho Nacional de Educação
CNTE - Confeder ação Nacional dos Tr abalhador es em Educação CPC - Cent r o Popular de Cult ur a
CPT - Com issão Past or al da Ter r a CVRD - Com panhia Vale do Rio Doce
DCNP - Dir et r izes Cur r icular es Nacionais do Cur so de Pedagogia DOEBC - Dir et r izes Oper acionais par a a Educaação Básica do Cam po EFAS - Escolas Fam ília Agr ícola.
ENERA - Encont r o Nacional da( o) s Educador a( e) s da Refor m a Agr ár ia FORUMDI R - For um de Dir et or es de Faculdades de Educação
I NCRA - I nst it ut o Nacional de Colonização e Refor m a Agr ár ia
I TERRA - I nst it ut o Técnico de Est udos e Pesquisas da Refor m a Agr ár ia MAB - Movim ent o de At ingidos por Bar r agens
MEB - Movim ent o Educacional de Base MCP - Mov im ent o de Cult ur a Popular MEC - Minist ér io da Educação
MDA - Minist ér io do Desenvolvim ent o Agr ár io MPA - Movim ent o de Pequenos Agr icult or es
MST - Movim ent o dos Tr abalhador es Rur ais Sem Ter r a NMS - Nov os Mov im ent os Sociais
NBs - Núcleos de Base
ONGs - Or ganizações Não Gover nam ent ais PROCAMPO - Pr oj et o Educação do Cam po
PRONERA - Pr ogr am a Nacional de Educação na Refor m a Agr ár ia
SECAD - Secr et ar ia de Educação Cont inuada,Alfabet ização e Diver sidade SEDUC - Secr et ar ia Est adual de Educação
SEMED - Secr et ar ia Municipal de Educação
SI SCA - Sist em a I nt egr ado de Cont r ole Acadêm ico SR - Super int endência Regional
STRs - Sindicat o dos Tr abalhador es Rur ais UFPA - Univer sidade Feder al do Par á
UNB - Univer sidade de Br asília
UNESCO - Or ganização das Nações Unidas par a a Educação, Ciência e Cult ur a
UNI CAMP - Univ er sidade de Cam pinas
UNI CEF - Fundo das Nações Unidas par a a I nfância UNI POP - Univer sidade Popular
UNI JUI - Univer sidade Regional do Nor oest e do Est ado do Rio Gr ande do Sul
SUDENE - Super int endencia de Desenvolvim ent o do Nor dest e SUDESUL - Super int endencia de Desenvolvim ent o do Sul
AN EX OS
1. Par ecer CNE/ CEB nº 1/ 2006 do Conselho Nacional de Educação que r egulam ent a a Pedagogia da Alt er nância no Br asil.
2. Ficha de or ient ação do Tem po- Com unidade.
3. Plano de Cur so da disciplina Psicogênese da Linguagem Or al e Escr it a 4. Folha t ar efa da disciplina Fundam ent os Teór icos Met odológicos da
SUM ÁRI O
I nt r odução ... 17
1 For m ação de educador es do cam po – t r aj et ór ias ... 37
1.1 Por que educação do cam po – m ar cos legais e polít icos... 37
1.2 O MST e a pr opost a educacional ... 51
1.2.1 A Pedagogia da Alt er nância – t em po- escola x t em po- com unidade . 59 1.3 A for m ação de pr ofessor es – a t r aj et ór ia na Univer sidade Feder al do Par á ... 63
2 As int encionalidades da UFPA e do MST ... 81
2.1 O cur so de Pedagogia da Ter r a ... 87
2.1.1 A pr opost a cur r icular ... 89
2.1.2 Det alhando a or ganização didát ica do cur so ... 95
2.2 A int encionalidade da for m ação ( pr át ica anunciada) ... 106
3 Pr át icas educat ivas: t em pos e espaços em int er r elação ... 121
3.1 Cont ext ualizando o assent am ent o Palm ar es I I ... 121
3.2 As pr át icas educat ivas t ecidas na r elação t em escola e t em po-com unidade ( pr át icas v iv enciadas) ... 126
3.3 Det alhando a exper iência das disciplinas de pr át ica de ensino ... 150
3.4 Os m ovim ent os ger ados pelas ações pedagógicas na escola Cr escendo na Pr át ica ... 166
3.5 Os pr im eir os fr ut os da par t icipação na escola Cr escendo na Pr át ica, após o cur so ... 174
Consider ações finais ... 181
Ent ão ( o cam ponês) descobr e que, t endo sido capaz de t r ansfor m ar a t er r a, ele é capaz t am bém de t r ansfor m ar a cult ur a. Renasce não m ais com o obj et o dela, m as t am bém com o suj eit o da Hist ór ia.
I n t r od u çã o
Com o decor r ência de um a pr eocupação, pr esent e num a cam inhada feit a enquant o educador a, o t em a aqui apr esent ado t r az à t ona, m ais um a vez, a det er m inação que t em nor t eado m inhas ações e decisões no cam po pr ofissional nos últ im os anos: a r eflexão sobr e a m inha pr át ica educat iva ar t iculada sem pr e com a r ealidade social por m eio da inser ção nos m ovim ent os sociais. Sendo essa t em át ica um dos inst r um ent os de t r ansfor m ação social, lanço m ão de buscar um pouco de m inha hist ór ia.
A or igem dessa pr eocupação dat a de 1969, quando ocor r eu m inha inser ção nos m ovim ent os sociais, at r avés da par t icipação em gr upos de j ov ens que eclodir am nessa década. O gr upo, do qual par t icipei, t inha com o pr incipal lider ança um j ovem padr e salesiano1 que dissem inou ent r e nós a paixão pela m udança social. Esse gr upo er a com post o por j ovens das cam adas popular es que t inham em D. Bosco, fundador dos Salesianos, suas inspir ações.
Esse m ovim ent o deu or igem à República do Pequeno Vendedor que, na época, pr eocupava- se em at ender cr ianças e adolescent es que t r abalhavam nas r uas, acolhendo- os no int er valo do t r abalho par a r ecr eação e alm oço, com a int enção de envolvê- los num pr ocesso de for m ação que os t or nassem suj eit os de sua pr ópr ia hist ór ia. Essa or ganização foi fundada em 1970, em Belém , com o nom e de Rest aur ant e do Pequeno Vendedor , passando a denom inar - se Movim ent o República do Pequeno Vendedor , t ão logo abr iu out ra fr ent e de t r abalho, denom inada de Cam panha de Em aús.
Foi a par t ir desse m om ent o que se desencadeou, par a m im , o pr ocesso de conhecim ent o que a escola, at é ent ão, não havia opor t unizado ( cur sava o 2º gr au) . Com ecei a est udar Mar x, a ler sobr e
1
Cuba e Fidel, além de out r as ex per iências. Ao m esm o t em po, iniciei a busca por for m as e m ét odos de t rabalho, t ent ando aplicar as idéias apr eendidas na at uação com as cr ianças que t r abalhavam nas r uas, na época, cham adas de m enor es car ent es.
Dur ant e esse pr ocesso, apr endem os que er a necessár io m uit o m ais que nossas ações par a m udar a sit uação de pobr eza e abandono daquelas cr ianças, pois não bast ava or ient á- las, dar - lhes com ida e educação se a sit uação de m isér ia de suas fam ílias er a per m anent e.
Com o aluna do Cur so de Pedagogia, na década de 1970, e m ilit ant e do Movim ent o República do Pequeno Vendedor2, j á m e inquiet ava com a for m ação r ecebida na Univer sidade, que não cont em plava as quest ões r efer ent es às cam adas popular es, inclusive as cr ianças que est avam for a da escolar ização for m al. Tudo que se apr endia no cur so dizia r espeit o ao espaço da escolar ização inst it ucional, às cr ianças e adolescent es na faixa et ár ia r egular de ser iação, com car act er íst icas de desenvolvim ent o cognit ivo est udadas nas t eor ias psicológicas, t endo a fam ília, legalm ent e const it uída, com o supor t e e com condições financeir as de m ant ê- las at é a fase da j uvent ude, quando est avam pr epar adas par a o m er cado for m al de t r abalho.
Ainda aluna do Cur so de Pedagogia, com ecei a t r abalhar com o pr ofessor a nos Cur sos de For m ação de Pr ofessor es de nível m édio. Realizava um a pr át ica que t eim ava em não r epet ir os m odelos de pr ofessor es pelos quais eu havia passado, evit ando t r ansfer ir conhecim ent os, dar fór m ulas, aplicar provas, et c. Essa m inha t eim osia er a int uit iva, com um for t e elem ent o m ot ivador , or iundo da exper iência adquir ida com o educador a social de r ua, das leit ur as das obr as de Paulo Fr eir e, em especial a Pedagogia do Opr im ido, de Eduar do Galeano e suas “ Veias aber t as da Am ér ica Lat ina” , da Coleção da Past or al da Juvent ude “ Ver , Julgar e Agir ” e out r as leit ur as que inspir avam um a pr át ica docent e com int encionalidades liber t ador as.
2
Assim , das t r ês opções do Cur so, que per m it iam escolher duas habilit ações, Adm inist r ação Escolar , Super visão Escolar e Or ient ação Educacional, escolhi a Or ient ação Educacional, volt ada par a “ t r abalhar com os alunos” , e Super visão Escolar , que er a v olt ada par a “ t r abalhar com os pr ofessor es” .
Nesse per íodo, ent re os anos 1973 e 1977, os obj et ivos do cur so levavam a um a for m ação t écnica, a qual requer ia que o pr ofissional soubesse planej ar suas aulas, fazer os pr oj et os, obedecendo aos dom ínios da t axionom ia de Bloom3, e t r abalhando com inst r ução pr ogr am ada confor m e Mager4. Fui pr epar ada par a at uar não com o pr ofessor a, m as com o t écnica, fazendo a super visão do t r abalho dos pr ofessor es, cor r igindo planos de aulas, dando vist os nas cader net as, fazendo gr áficos com par at ivos de desem penho dos alunos, et c..
Enquant o isso, nas at ividades com o educador a de r ua, de cr ianças e adolescent es t r abalhador as, const at ava, angust iada, o quant o a escola est ava longe da r ealidade daquelas cr ianças, daqueles adolescent es e vislum br ava out r as per spect ivas de ação com o pedagoga.
Essa angúst ia m at er ializou- se na m inha decisão em fazer o Tr abalho de Conclusão de Cur so ( TCC) for a da t em át ica usual dos alunos de Pedagogia, que er a a educação form al, e iniciar um a área de invest igação a par t ir do t r abalho desenvolvido pela República do Pequeno Vendedor, onde eu encont r ava, clar am ent e, no cot idiano, a necessidade da ação do Pedagogo e não apenas do Assist ent e Social, com o a quest ão er a t r at ada na época.
Meu TCC t r at ava sobr e o t r abalho infant il a par t ir de m inha exper iência com o educador a de r ua com gr upos de t r abalho de cr ianças e adolescent es que se or ganizavam em for m a de cooper at iva.
3
A t axionom ia de Bloom é um a est r ut ur a or ganizacional hier ár quica de obj et ivos educacionais. Benj am im Bloom , par t idár io da pedagogia t ecnicist a, consider ava fundam ent al definir , de for m a clar a e pr ecisa, o obj et ivo a ser alcançado ao final de um a ação educacional.
4
É im por t ant e, aqui, r em em or ar a im por t ância de m inha inser ção no Movim ent o Social, pois nessa inser ção eu r eflet ia com o pedagoga, m as apr endia m uit o com o m ilit ant e. Foi ali que conheci as idéias de Paulo Fr eir e, as quais em basavam as pr át icas pedagógicas das Com unidades Eclesiais de Base ( CEBs) com o ações da I gr ej a e de padr es que com ungavam com a Teologia da Liber t ação. Essas idéias não for am apenas conhecidas com o t am bém vivenciadas com gr upos de adult os analfabet os e com gr upos de cr ianças e adolescent es em sit uação de r isco. Nessa linha de at uação, as ações desenvolvidas com as cr ianças e adolescent es t inham com o per spect iva a liber t ação, não de alguém liber t ando, de for a, m as de t odo um processo de busca desenvolvido pelos pr ópr ios suj eit os ao r eflet ir sobre sua pr ópr ia sit uação, seu pr ópr io m undo, com o nos fala Fr eir e, ( 1979, p. 9) :
Dist anciando- se de seu m undo vivido, pr oblem at izando- o, ‘decodificando- o’ cr it icam ent e, no m esm o m ovim ent o da consciência o hom em se r e- descobr e com o suj eit o inst aur ador desse m undo de sua exper iência. Test em unhando obj et iv am ent e sua hist ór ia, m esm o a consciência ingênua acaba por desper t ar cr it icam ent e, par a ident ificar - se com o per sonagem que se ignor ava e é cham ada a assum ir seu papel.
Enquant o isso, na Univer sidade, eu lidava com m anuais, com aspect os t eór icos de concepções t ecnicist as e psicologist as da educação. Mas, t am bém , pude conhecer o sur gim ent o de out r a cor r ent e de pensam ent o defendida pelos aut or es da Teor ia Cr ít ica da Sociedade, suscit ando idéias que davam out r a fundam ent ação a essa pr áxis de lut a pela t r ansfor m ação da sociedade.
Foi, desde ent ão, que com ecei a pensar em com o m e engaj ar em um pr oj et o de cur so de for m ação de professor es que fosse difer ent e, que est ivesse m ais pr óxim o da r ealidade social, m as com o fazer isso? Eu? Aluna concluint e diant e dos cat edr át icos pr ofessor es da Academ ia! Com o alt er ar aquilo? Er a um sonho!
Per cebi que m inha pr át ica cot idiana, r eflet ida e m odificada const ant em ent e à luz de leit ur as j á cit adas e das ocor r ências diár ias no t r at o com a sit uação de exclusão daquelas fam ílias e suas cr ianças, exigia um a pr át ica difer ent e daquela vivida no Cur so de Pedagogia.
Em 1977, após a conclusão do Cur so de Pedagogia, assum i, dur ant e t rês anos, a função de Or ient ador a Educacional e, por dez anos, a função de Super visor a Escolar . Tr abalhei em escolas públicas est at ais e pr ivadas, nas duas funções, sem pr e procur ando dialogar com as par ceir as. Algum as vezes, fazendo o t r abalho de t al for m a int egr ado por não aceit ar a divisão que havia ent r e quem devia t r abalhar com os alunos e quem devia t r abalhar com os pr ofessor es, pois a r ealidade m ost r ava o quão equivocado er a t r at ar duas quest ões t ão int er ligadas com o dist int as, a escola, os alunos, os pr ofessor es, não er am depar t am ent os est anques, er am um t odo, com suas especificidades, m as a pr opost a cur r icular do Cur so de Pedagogia “ fabr icava” especialist as. As agências em pr egador as cont r at avam esses especialist as, as escolas se est r ut ur avam em SOE5 e 6SOP. Enfim a com par t im ent alização e a fr agm ent ação est avam pr esent es
nas pr át icas educat ivas desenvolvidas. At é aquele m om ent o eu não conseguia ver o por quê dessa for m ação fr agm ent ada, at é com eçar a par t icipar das Associações de Or ient ador es Educacionais e de Super visor es Escolar es.
Minha at uação com o educador a se for t alecia na pr át ica desenvolvida com m eninos e m eninas de r ua, segm ent o excluído, m ar ginalizado, o que dava opor t unidade de, além das r eflexões, a
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Serv iço de Orient ação Educacional.
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par t icipação concr et a em m ovim ent os na lut a pelos dir eit os hum anos e, em especial, pelo dir eit o à educação, o que desper t ava em m im o desej o de cont r ibuir par a a const r ução de um novo m odelo de escola, pois aquele que ali est ava não ser via par a o alcance de nossos ideais. Esses ideais exigiam um a escola volt ada par a a r ealidade daqueles m eninos, que levasse em cont a a vida dur a de infância t r abalhador a, que acor davam pela m adr ugada par a vender j or nal, que andav am pela cidade, noit e adent r o em busca de fr egueses par a engr axar o sapat o, que t inham de volt ar par a casa com o dinheir o da venda par a com pr ar alim ent o e r oupas, enfim , um a escola que fosse at r aent e par a cr ianças e adolescent es que não viam fut ur o im ediat o indo à escola.
A idéia de um a escola volt ada par a a r ealidade, que fosse discut ida com os pais, com os alunos, sobr e que t ipo de conhecim ent o eles quer iam apr ender , com at ividades que incluíssem coisas concr et as de seu dia a dia e que desse a eles oport unidade de se m anifest ar em , de t er em voz, de t er em vez, enfim de ser em suj eit os de sua pr ópr ia hist ór ia, confor m e nos inspir ava Fr eir e ( 1979, p. 11) :
Na obj et ivação t r anspar ece, pois, a r esponsabilidade hist ór ica do suj eit o: ao r epr oduzi- la cr it icam ent e, o hom em se r econhece com o suj eit o que elabor a o m undo; nele, no m undo, efet ua- se a necessár ia m ediação do aut o-r econhecim ent o que o peo-r sonaliza e o conscient iza com o aut or r esponsáv el de sua pr ópr ia hist ór ia.
Par alelam ent e, eu par t icipava da Associação dos Or ient ador es Educacionais, cuj a pr ofissão er a r econhecida e lut ava por m eio da Associação dos Super visor es Escolar es, pela r egulam ent ação da pr ofissão, cuj a função, cr iada par a aj udar a m ant er o r egim e inst it uído, pr esent e na LDB - Lei nº . 5692/ 71, t om ava r um os difer ent es ao quest ionar o sist em a e pr ovocar a r ealização dos Encont r os Nacionais de Super visão Escolar ( ENSES)7.
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Nesses encont r os, pr ocur ava- se r eflet ir sobr e o papel da escola na r ealidade br asileir a e gar ant ir , j unt o ao MEC, a legit im ação das pr opost as apr esent adas at r avés das vár ias cat egor ias de pr ofissionais da educação8 e a for m ação do educador , que er a a t ônica pr incipal.
Nesse per íodo, const it ui- se com o expr essão dessa lut a, a Com issão Nacional dos Cur sos de For m ação do Educador que, em 1990, t r ansfor m ou- se na ANFOPE9. Fazia par t e da pr opost a da ANFOPE, a
pr eocupação com a r elação t eor ia e pr át ica que se m anifest ava explicit am ent e no docum ent o pr oduzido no Encont r o Nacional da Com issão, ocor r ido em 1983, que assim dizia: “ a t eor ia e a pr át ica devem ser consider adas o núcleo int egr ador da for m ação do educador ” ( ALVES, 1998, p. 52)
Minha par t icipação nessa lut a er a at r avés das r euniões nas Associações de Super visor es e Or ient ador es Educacionais. Assim , com o fr ut o dessa m ilit ância e da necessidade sent ida pelo colet ivo, de const r uir um a escola que at endesse t am bém às car act er íst icas das cr ianças e adolescent es t r abalhador as, a par t ir de 1982, o gr upo de j ovens do Movim ent o de Em aús, com apoio de adult os que lhe er am sim pat izant es, im plant ou a Escola Cidade de Em aús, no bair r o de Bengui10,
car act er izando- a com o out r a expr essão do Movim ent o com a finalidade de at ender as cr ianças t r abalhador as do bair r o.
Naquele m om ent o, dada a r ealidade do bair r o - que er a um a ár ea de ocupação, com fam ílias, em sua m aior ia, vindas do int er ior dos Est ados do Par á e do Mar anhão, sem escolar ização - per m it ia- nos pr oj et ar um a escola que par t ia da r ealidade, das aspir ações das fam ílias e dos nossos ideais, em basados em Paulo Fr eir e.
A cr iação da escola foi um m ar co im por t ant e naquela com unidade, t or nando- se r efer ência no Município de Belém , t ant o pelo
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Nessa época divididas em Associações específicas.
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ANFOPE- Associação Nacional pela For m ação dos Pr ofissionais da Educação.
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m odelo de gest ão com o pelo núm er o de cr ianças que est avam for a da escola11.
Com a necessidade evident e de for m ar pr ofessor es, cr iam os um Cur so de Magist ér io de Nível Médio12 par a for m ar os pr ofessor es par a a Escola Cidade de Em aús e par a a com unidade em ger al. Nest a escola - que funcionav a com aut onom ia pedagógica e dependia do Est ado som ent e par a o pagam ent o dos pr ofessor es - t ive a opor t unidade de, j unt o com out r os pr ofessor es, colocar em pr át ica aquela idéia de um Cur so de Magist ér io13 m ais inser ido na r ealidade, com pr át icas de ensino
vivenciadas nas escolas do bair r o e na pr ópr ia Escola Cidade de Em aús, com cont eúdos que pr ivilegiavam a educação popular de base fr eir eana.
Nesse aspect o, pr ocur ando consolidar os gr upos com o or ganização dos m or ador es, est udávam os Gr am sci, buscando r eflet ir sobr e o papel que a escola desem penhava na for m ação daqueles j ovens e adult os do bair r o, num a per spect iva de for m ar o int elect ual or gânico do bair r o, de incent ivar a or ganização dos gr upos de j ovens, de m ães, de cr ianças e adolescent es, de t r abalhador es, t udo com vist as a sua inser ção num pr ocesso de liber t ação at r avés da par t icipação e decisões colegiadas, a par t ir da exper iência da Escola Cidade Em aús. Mas, fundam ent alm ent e, quem nos inspir ava, for t em ent e, eram as idéias de Paulo Fr eir e, que em basavam o t r abalho r ealizado nas t ur m as de alfabet ização de adult os nos cent r os com unit ár ios do bair r o.
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No prim eir o ano de funcionam ent o, hav ia 13 t urm as de 1ª . Série, com crianças na faixa et ária dos 9 aos 14 anos de idade e apenas um a t ur m a de segunda sér ie. A car ência de pr ofessor es er a t ão gr ande, que o pr ópr io Est ado, at r avés da Secret ar ia de Educação, abr iu exceção par a que fossem cont r at ados pr ofessor es sem concur so par a at ender a escola, vist o t r at ar - se de local de difícil acesso, sem t r ansport e colet ivo.
12 Um a das dificuldades encont r adas foi o fat o de não exist ir em pr ofessor es for m ados
m or ando no bair r o, daí t er sur gido a necessidade do ensino m édio par a for m ação de pr ofessor es, e dada a for t e par t icipação da com unidade que se or ganizava em busca de seus dir eit os, o cur so de for m ação de pr ofessor es t am bém ser vir ia par a qualificar o debat e naquela com unidade e dar opor t unidade de avanço na escolar idade aos j ovens ali r esident es. Muit os deles j á at uavam com o educador es de adult os – nos cur sos de alfabet ização de j ovens e adult os - que aux iliav am no processo de fort alecim ent o polít ico do gr upo e das com unidades, or ganizados em CEBs. e Associações de Mor ador es.
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Essa er a a abr angência que t om ava o t r abalho do Movim ent o de Em aús, que a par t ir das pr át icas educat ivas desenvolvidas com os m eninos de r ua, am pliava seu r aio de ação par a um pr oj et o de bair r o e de cidade14. I sso for t alecia- nos com o m ovim ent o social.
Essa r efer ência aos m ovim ent os sociais faço por cont a de ser essa a inser ção vivida naquele m om ent o, for t em ent e envolvidos na Teologia da Liber t ação, um a inser ção que nos m ot ivava à lut a, a lut a em pr ol da r ealização na t er r a, daquilo que a I gr ej a cham a de Reino de Deus. Esse er a o m ot e de nosso t r abalho, lut ar por um a sociedade j ust a, dest it uída de t odas as for m as de violência est r ut ur al e sim bólica. Lem br o que isso nos dist inguia, com o gr upo de j ovens, daqueles que lut avam apenas m ovidos por um ideal de j ust iça ent r e os hom ens, sem o alicer ce dado pela r eligião.
Esse alicer ce a que m e r efir o par t ia de quest ões fundam ent adas na Teologia da Liber t ação15, que consider ava a Ciência com o aliada nas
ações do t r abalho past or al, pois se consider ava que, ao descr ever , com a fidelidade possível, os m ecanism os e pr ocessos que explicam a condut a dos hom ens, a ciência possibilit a um a ação m ais fir m e e or ient ada. Dessa for m a, t r abalhávam os sem pr e na per spect iva da liber t ação, na liber t ação dos opr im idos em r elação aos opr essores, e, par t icular m ent e, inspir ados no Evangelho, pr ocur ávam os nos libert ar do opr essor que exist ia dent r o de nós m esm os, pois, par a isso, pr ecisávam os ent ender pr im eir o que não bast ava fazer um a opção pelos pobr es, er a necessár io ent ender os pr ocessos que cr iavam e fom ent avam a m isér ia. Assim , com essa
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Cidade Em aús foi um pr oj et o de Cidade, organizado com bases socialist as, envolvendo um gr upo de fam ílias que não t inham casa nem em pr ego, passando a const r uir suas casas at ravés de m ut irão e com um proj et o de hor t a, m ar cenar ia e cr iação de anim ais de pequeno por t e, par a dali t ir ar a m anut enção das m esm as. A or ganização er a feit a no sist em a de cooper at iv as e funcionou ao longo de dois anos, que er a o período pr evist o par a que as pr im eir as fam ílias se t or nassem capazes de cont inuar organizadas e ceder o espaço para out ras fam ílias iniciarem a experiência. Aprendem os que um a organização dessas num sist em a capit alist a pr ecisavam de out r as ações par a sair em for t alecidas.
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m ot ivação dada pela r eligião e, em basados em Paulo Fr eir e, que falava a m esm a linguagem da Teologia da Liber t ação, nele fundam ent am os a ação nos pr ocessos de alfabet ização at r avés das com unidades eclesiais de base.
Er a nessa Escola de Em aús que eu t r abalhava com o or ient ador a educacional quando fiz m eu pr im eir o Cur so de Especialização, em Adm inist r ação Escolar , na Univer sidade do Est ado do Pará, em 1989, cuj a m onogr afia m at er ializava a pr eocupação e angúst ia com as cr ianças que chegavam par a a 1ª . sér ie com m uit a defasagem idade/ sér ie e sem est ar em alfabet izadas, em difer ent es faixas et ár ias.
A m onogr afia com o t ít ulo “ Alfabet ização das cr ianças das cam adas popular es: o caso da escola Cidade Em aús” ( 1989) foi um t r abalho de pesquisa, r ealizado com pr opost a de int er venção e com um a var iação na for m a de or ganização cur r icular , subst it uindo o sist em a ser iado, j unt ando as cr ianças das t ur m as de alfabet ização e 1ª sér ie, denom inando- as de asser iadas, o que m ais t ar de veio a se cham ar de ciclos. Os dados levant ados e os r esult ados alcançados m ost r ar am a necessidade de m aior t em po do que o ano let ivo oficial ofer ecia par a as cr ianças se alfabet izar em . Dessa for m a as at ividades er am planej adas, de m odo que no per íodo de dois anos, a cada ciclo, as cr ianças desenvolviam at ividades com pat íveis com seu nível e m udavam de t ur m a/ sér ie confor m e adquir issem habilidades de leit ur a e escr it a. Assim , am pliava- se o per íodo par a as cr ianças t r abalhador as vencer em suas dificuldades iniciais e poder em avançar sem o r isco da r epr ovação no fim do ano, o que só ser vir ia par a excluí- las do pr ocesso for m al de ensino.
Nesse pr ocesso, acom panhava- m e, assim , a angúst ia por encont r ar saídas par a os pr oblem as vinculados ao ofício do pedagogo, com o lacunas em sua for m ação, pr incipalm ent e no que diz r espeit o a sua for m ação polít ica, a sua visão de m undo e de sociedade. I sso im plicava um a per spect iva de for m ação de pr ofessor es, dir ecionada par a a r eflexão de sua pr át ica pedagógica par a que pudessem dar cont a das necessidades concr et as do pr ocesso de escolar ização/ educação da população das cam adas popular es.
Enquant o isso, no ano de 1989, em consonância com as discussões pr om ovidas pela ANFOPE, o Cent r o de Educação da Univer sidade Feder al do Par á r ealizou um pr ocesso de r efor m ulação de sua pr opost a cur r icular par a a for m ação do pedagogo, est abelecendo com o obj et ivo pr incipal a for m ação do pr ofessor , sendo o Magist ér io a pr incipal habilit ação do Cur so, sem a qual não se poder ia cur sar as out r as habilit ações.
Nesse per íodo, j á na década de 90, at ravés de concur so público, ingr essei no quadr o de docent es daquela univer sidade, t r azendo t oda a exper iência j á r elat ada do m ovim ent o social e pr ocur ando int er vir com o pr ofessor a de Didát ica, no dir ecionam ent o das pr át icas educat ivas, incluindo est ágios e visit as às ent idades que t r abalhav am num a per spect iva liber t ador a, com o: Universidade Popular ( UNI POP) , Escola Cidade de Em aús, Núcleo de Educação Popular Paulo Freir e, República do Pequeno Vendedor , Movim ent o Nacional de Meninos e Meninas de Rua e Associações de Morador es dos Bair r os par a que os alunos pudessem sent ir e conhecer a r ealidade da população com as quais ir iam t r abalhar nas escolas.
Na docência do ensino super ior , m ant ive pr esent e essa pr eocupação e sem pr e pr ocur ei int r oduzir , nas disciplinas com que t r abalhava, a ar t iculação do cont eúdo específico com a quest ão das exclusões im post as à par cela consider ável da população.
Assim , cada vez m ais m e convencia de que as pr át icas pedagógicas só ir iam fazer sent ido se fossem desenvolvidas num pr ocesso que envolvesse a com unidade e a pr oblem at ização, da sua r ealidade.
Minha par t icipação acont ecia sem pr e na m ilit ância, em espaços com o or ganizações de bair r o, associações de or ient ador es educacionais, de super visor es escolar es e sindicat os de pr ofessor es. Nesse sent ido, at é m esm o com os alunos concluint es, nos cur sos dos cam pi da UFPA, eu pr ocur ava incent ivar a cr iação de associações com vist as ao for t alecim ent o de um a pr át ica educat iva colet iv a nas escolas rurais, hoj e, do cam po.
Nessa t r aj et ór ia de vida profissional, na for m ação de educador es, desde que ingr essei, em 1990, na Univer sidade, t ive m uit as opor t unidades de t r abalhar com alunos de t ur m as do Pr oj et o de I nt er ior ização16 da Univer sidade Feder al do Pará, nos cam pi de Cast anhal
e Br agança, que at endiam à m aior ia dos alunos que v inham da cir cunvizinhança, dos m unicípios e dist r it os vizinhos aos polos. Essas t ur m as dever iam ser car act er izadas com o t ur m as que vinham da r ealidade do cam po, m as o t r at am ent o er a o m esm o dado às t ur m as ur banas. Muit os desses alunos er am professor es das escolas r ur ais, alguns er am pr ofessor es que t r abalhavam na sede do m unicípio e out ros nos dist r it os, nas com unidades r ur ais. As disciplinas com as quais eu t r abalhava sem pr e est avam no eixo da or ganização e gest ão da escola, fosse at r avés do or ient ador educacional, do super visor escolar e, por últ im o, do pedagogo com o coor denador do pr ocesso pedagógico, at r avés da elaboração e im plem ent ação do Pr oj et o Polít ico Pedagógico das
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escolas, o que exigia o envolvim ent o da com unidade a par t ir do diagnóst ico de cada escola ou gr upam ent o/ núcleo de escolas r ur ais17.
Num a t r aj et ór ia de dez anos, ao acom panhar t ur m as de Pr át ica de Ensino e Est ágio Super visionado, nesses m esm os m unicípios, pude const at ar o enor m e fosso que se abr ia ent r e a pr át ica desenvolvida pelos egr essos do Cur so de Pedagogia e o m ar co t eór ico de um a pedagogia pr ogr essist a liber t ador a que per m eava o discur so dos ainda for m andos ou concluint es.
No Município de Br agança, por exem plo, quando do acom panham ent o de pr át icas de ensino de alunos for m andos em escolas que er am adm inist r adas e coor denadas pedagogicam ent e por pr ofissionais, ex- alunos m eus, per cebia a pr át ica aut or it ár ia que haviam adot ado, apesar de t odo discur so ant er ior . Const at ar isso er a segur am ent e desalent ador e fr ust r ant e, ocasionando per gunt as do t ipo: o que faz um pedagogo, que dur ant e seus t r abalhos finais de cur so ( pr át icas, est ágios e m onogr afias) levant a a bandeir a e adot a o discur so da educação liber t ador a, t r ansfor m ar - se, no exer cício da pr ofissão, em um bur ocr at a, execut or de or dens e t ar efas da Secr et ar ia de Educação, adot ando as m esm as post ur as ant es cr it icadas por eles própr ios?
E o Cur so? Quais as bases t eór ico- m et odológicas que pr oduzem / for m am esse pr ofissional? Naquele m om ent o eu não conseguia fazer est e t ipo de quest ionam ent o, j á que a pr opost a cur r icular e a m et odologia ut ilizada davam cont a do discur so, e, na época, não se t inha com o acom panhar e avaliar as ações dos ent ão egr essos do Cur so.
Em 1997, com a cr iação da Ar t iculação Nacional por um a Educação Básica do Cam po, congr egam - se diver sos m ovim ent os sociais do cam po, ent r e eles o MST, além de out r as ent idades da sociedade civil, com o por exem plo, a Confer ência Nacional dos Bispos do Br asil ( CNBB) . Essa art iculação - que lut a em pr ol de um novo pr oj et o de
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desenvolvim ent o par a o país e em par t icular par a os povos do cam po - inicia um pr ocesso de lut as e conquist as, inser indo no panor am a educacional br asileir o a educação do cam po.
Ent r e essas conquist as, inclui- se o Pr ogr am a Nacional de Educação na Refor m a Agr ár ia ( PRONERA) cr iado em 1998, pelo I nst it ut o Nacional de Colonização e Refor m a Agr ár ia ( I NCRA) / Minist ér io do Desenvolvim ent o Agr ár io ( MDA) , com o r espost a às r eivindicações, ent r e elas, a educação nos assent am ent os r ur ais.
Dest ar t e, quando coor denador a do Cur so de Pedagogia, na Univer sidade Feder al do Par á, fui cham ada a planej ar com o Movim ent o dos Tr abalhador es Rur ais Sem - Ter r a ( MST) um cur so de pedagogia par a os pr ofessor es de ár eas de assent am ent o r ur al. A idéia er a que o cur so at endesse às especificidades da r ealidade do cam po e, ent ão, t om ei conhecim ent o da pr opost a pedagógica desenvolvida pelo MST. Não exit ei em enfr ent ar o desafio que ser ia im plem ent ar um cur so dessa nat ur eza. Acr edit ei est ar diant e de um a possibilidade que poder ia cont em plar o m odelo de cur so t ão sonhado, j unt ando a t eor ia e a pr át ica, o sonho, a ut opia, t ant as vezes pensada na t r aj et ór ia da for m ação de educador es e, em especial, de educador es do cam po.
I niciei a exper iência com o coor denador a, e nela, fui obser vando que exist iam for m as difer ent es de pr odução das pr át icas educat ivas, a depender dos espaços e da for m a de or ganização dos alunos/ educandos do cur so. No Tem Escola ( TE) quando r et or navam do Tem po-Com unidade ( TC) , t raziam um a r iqueza de exper iências que alim ent avam as disciplinas t eór icas, a pont o de est im ular os dem ais est udant es do cur so r egular de Pedagogia a se int er essar em por um a r elação m aior ent r e t eor ia e pr át ica.
Por out r o lado, os pr ofessor es t am bém se sent iam desafiados a ar t icular m elhor as t eor ias com as ex per iências vividas pelos est udant es.
A par t ir de ent ão, com ecei a quest ionar sobr e o que acont ecia no Tem po- Com unidade ( TC) , o que os est udant es ar t iculavam ent r e a t eor ia e a pr át ica, a pont o de desest abilizar nossa for m a de or ganização do t r abalho pedagógico na Univer sidade?
A inquiet ação e o quest ionam ent o t or nar am - se fr equent es no decor r er do cur so, sendo a pr incipal m ot ivação que deu or igem a est a t ese, pr ocur ando saber o que acont ecia, a par t ir da Met odologia da Alt er nância - TE e TC- com o os alunos ar t iculavam as necessidades encont r adas a par t ir de suas ações e inser ções na r ealidade dos assent am ent os e as t eor ias que passavam a t er acesso no cur so. Out r a quest ão que m e inst igava er a, saber com o se davam as pr át icas pedagógicas desenvolvidas dur ant e e após o cur so, nas escolas do assent am ent o.
ar t iculação t eor ia pr át ica nos pr ocedim ent os m et odológicos par a elabor ação e condução das at ividades for m at ivas, ocor r idas na “ Escola Cr escendo na Pr át ica” .
Pr essuponho que o pr ocesso de for m ação de educador es em nível super ior , em especial de educador es do cam po, vem pr oduzindo out r os saber es, or iundos das pr át icas desenvolvidas em colet ivos, nos espaços específicos de for m ação que se dão no Tem po- Escola ( TE) e m ais especificam ent e no Tem po- Com unidade ( TC) .
Nesse sent ido, a t ese par t iu da seguint e quest ão: nos cur sos de For m ação de Pr ofessor es, em especial na educação do cam po, quais elem ent os são facilit ador es da ar t iculação da t eor ia e pr át ica, no sent ido de cont r ibuir par a a cr iação e im plem ent ação de novas pr át icas pedagógicas?
Com par t ilho com Paulo Fr eir e, cuj o pensam ent o é um a r efer ência par a os pr incípios que fundam ent am as pr át icas educat ivas do MST e da m aior ia dos pr ofessor es do Cur so em quest ão a idéia de enfat izar um conceit o de educação, que cont r ibua par a a t r ansfor m ação da sociedade e não par a a sua cont inuidade, com o um a sociedade desigual e inj ust a. Nesse sent ido, dest aca- se o conceit o que depr eende um a educação que exige ant es de t udo, r eflet ir sobr e o pr ópr io hom em . Um conceit o de hom em com o um ser inacabado e que se sabe um ser inacabado. A educação, por t ant o, im plica um a busca r ealizada pelo hom em , suj eit o de sua pr ópr ia educação. Nesse sent ido, o hom em , sendo um ser de r elações, pr ecisa r eflet ir sobr e sua pr ópr ia r ealidade par a, ao r eflet i- la, com pr eendê- la e assim pr ocur ar soluções par a t r ansfor m á- la.
Essa é um a das razões que m e fazem invest igar as pr át icas educat ivas na for m ação de pr ofessor es, cuj o acúm ulo, em nív el nacional, t em envolvido pesquisador es e suj eit os dos m ovim ent os sociais em t or no da m at er ialização da Educação do Cam po.
no Cur so, r euni os docum ent os disponíveis sobr e o m esm o, com o a Resolução 2669/ 99 - CONSEP/ UFPA e o Pr oj et o Polít ico Pedagógico do Cur so de Pedagogia, as At as das r euniões r ealizadas com os pr ofessor es e m ovim ent o social, a pr opost a escr it a do MST, os planos de cur sos de algum as disciplinas. At r avés dos r elat ór ios18 das et apas sem est r ais,
pr oduzidos pela coor denação do Cur so, dos t r abalhos pr oduzidos pelos alunos, car act er izei com o se deu o cur so e as int encionalidades dos difer ent es at or es.
A t ur m a de Pedagogia da Ter r a er a for m ada por 45 alunos or iundos de diver sos assent am ent os de r efor m a agr ár ia, vinculados à Regional Am azônica do MST que engloba os Est ados do Par á, Mar anhão, Tocant ins e Cear á. Ent r e esses alunos, escolhi o gr upo do Assent am ent o Palm ar es I I por ser o que abr igava o m aior núm er o de alunos do Cur so, dez ( 10) , e possuir um a escola na qual os m esm os exer ciam suas at ividades pr ofissionais.
Out r a font e na qual busquei as infor m ações sobre o ocor r ido no Tem po- Com unidade for am os Diár ios de Cam po pr oduzidos pelos alunos ao longo do cur so, os quais r egist r am o pr ocesso de int egr ação das at ividades desenvolvidas no Tem po- Escola e no Tem po- Com unidade. Os Diár ios de Cam po er am um dos inst r um ent os de acom panham ent o dos alunos por par t e do Movim ent o Social, elabor ados dur ant e t odo o t em po do cur so, e avaliados pelo colet ivo de educação a cada et apa. Os Diár ios de Cam po selecionados cor r espondem aos alunos r esident es no Assent am ent o Palm ar es I I .
As at ividades r efer ent es à Escola Cr escendo na Pr át ica, após o t ér m ino do Cur so, for am r egist r adas a par t ir das ent r evist as e obser vações r ealizadas no per íodo de vivência no Assent am ent o.
A obser vação foi r ealizada na Escola Cr escendo na Pr át ica, no Assent am ent o Palm ar es I I . As ent r evist as for am r ealizadas com os alunos
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egr essos do cur so, no r espect ivo Assent am ent o, assim com o os com ponent es da equipe t écnica da escola.
Ent r e eles, for am ent r evist ados, t am bém , egr essos do Cur so de Pedagogia, r esident es no Assent am ent o, j á afast ados do m ovim ent o, m as t r abalhando em out r as escolas do m unicípio.
Out r a abor dagem foi r ealizada ent re as pr ofessor as de Pr át ica de Ensino que r ealizar am um a exper iência no assent am ent o.
De posse do m at er ial escr it o, pr ocur ei analisar os pr oj et os e planos de cur so, assim com o pr ocedi à seleção nos Diár ios de Cam po, dos r egist r os das pr át icas pedagógicas desenvolvidas pelos alunos, dur ant e a r ealização do Cur so, especificam ent e no Tem po- Com unidade.
Assim , est a t ese est á assim est r ut ur ada: no capít ulo I , faço um a cont ext ualização do obj et o, no panor am a da educação do cam po, sit uando o MST e sua pr opost a educacional, explicando o que é a Pedagogia da Alt er nância e a r elação ent r e o Tem po- Escola e Tem po- Com unidade. Ainda faço r efer ência ao pr ocesso hist ór ico no qual se inser e a for m ação de pr ofessor es e a pr opost a desenvolvida pela Univer sidade Feder al do Par á.
No capít ulo I I , t r at o das int encionalidades da Univer sidade Feder al do Par á e do Movim ent o dos Tr abalhador es Rur ais sem Ter r a na For m ação do Pr ofessor , dialogando com Paulo Fr eir e em sua proposição de um a educação liber t ador a, a par t ir da r elação t eor ia e pr át ica. Apr esent o as int encionalidades de for m ação pr esent es nos pr oj et os e planos de cur so e nas or ient ações do m ovim ent o social ( pr át ica anunciada) , pr oj et o polít ico- pedagógico do Cur so e diár ios de cam po dos alunos ( egr essos) .
Ter r a, que for am t r abalhadas com o elem ent os for m ador es ao longo do Cur so e, por últ im o, apr esent o os pr im eir os fr ut os nas r elações e t ecit ur as engendr adas no assent am ent o a par t ir da inser ção desses suj eit os, for m ados com o pedagogos, na Escola Cr escendo na Prát ica, ilum inados pela t eor ia de base fr eir eana.
Na t r ilha do Tem po- Com unidade, Est udam os, Reflet im os, sor r im os, cant am os, chor am os, t ivem os m edo, caím os, lev ant am os, abr açam os, separ am os, am am os, cont inuam os a VI DA.
1 For m a çã o de e du ca dor e s do ca m po – t r a j e t ór ia s
1 .1 Por qu e e du ca çã o do ca m po – m a r cos le ga is e polít icos
Par a sit uar o obj et o dest e est udo necessár io se faz apr esent ar um panoram a sobr e as idéias e aut or es que v em t r at ando o t em a da educação do cam po e da for m ação de pr ofessor es.
No panor am a educacional br asileir o é r ecent e a ver t ent e que t r at a sobr e educação do cam po.Dat a a par t ir dos anos de 1980 e 1990, os avanços na dir eção de um a educação que at enda aos dir eit os da população do cam po. Tais avanços t em sido m anifest ados nas iniciat ivas de pr om over a equidade na ofer t a, na cr iação de m ais escolas e de cont inuidades da escolar ização - um a vez que a m aior ia das “ salas de aula” aqui ent endidas com o “ escolas” at endem at é à 4ª sér ie - e as r efor m ulações cur r icular es, e m ais que isso, num conj unt o ar t iculado de polít icas afinadas com um pr oj et o de desenvolvim ent o par a o País.
Esse pr ocesso é fr ut o da or ganização dos m ovim ent os sociais, at r avés dos Sindicat os dos Tr abalhador es da Educação nos Est ados, os Sindicat os dos Tr abalhador es Rur ais e suas Feder ações, Or ganizações Não Gover nam ent ais- ONG´ s, alguns gover nos m unicipais e est aduais, por m eio das suas Secr et ar ias de Educação, Past or ais, Escolas de For m ação Sindical e do Movim ent o dos Tr abalhador es Rur ais Sem Ter r a.
hum anos par a o at endim ent o t ecnológico do processo de indust r ialização a ser im plem ent ado.
No ent ant o, essa visão ut ilit ar ist a da educação j á vinha de ant es, confor m e dest aca o aut or ,
a par t ir do final da década de 20, j á se ident ifica um a consciência da necessidade de r ecur sos hum anos adequados par a o sucesso de qualquer pr opost a de desenvolvim ent o nacional. Tant o os int elect uais da Escola Nov a, quant o a r efor m a de ensino de 1932, a cr iação do SENAI , a Escola I ndust r ial em 1942 e a Lei de Dir et r izes e Bases m anifest am a necessidade de a escola se const it uir com o lugar da for m ação de t r abalhador es apt os à pr om oção do desenvolv im ent o social e ao pr ogr esso indiv idual ( RODRI GUES, 1982, p. 20) .
Por ém , o Est ado assum iu posição por um proj et o de desenvolvim ent o indust r ial capit alist a, que clar am ent e se posicionava ao lado dos det ent or es do poder , vist o que, cabia ao Est ado dar o supor t e necessár io par a a im plem ent ação do pr oj et o de desenvolv im ent o nacional, e m ais que isso, assum ir o cont r ole e o papel pr incipal de agent e do pr ocesso.
Diant e disso, m ar cadam ent e, o Est ado se alinha com os “ bur gueses capit alist as” e adot a m edidas que vão m ascar ar a sit uação, fazendo com que se acr edit e est ar o m esm o defendendo um a causa de nação e, por t ant o, à ser viço de t odos.
Esse “ est ar à ser viço de t odos” , exigia m edidas de conciliação ent r e as classes det ent or as do poder e as classes t r abalhador as. Essa conciliação vai levá- lo a adot ar m edidas que gar ant am apenas as condições básicas de sobr evivencia da classe t r abalhador a, ocasionando com isso, é clar o, a insat isfação da classe t r abalhador a, dando m ar gens ao sur gim ent o de m ovim ent os de or ganização popular .
t em ser vido com o inst r um ent o de veiculação e for m ação de opinião favor ável ao novo m odelo social e polít ico.
Assim é que, nas Leis Or gânicas da Educação Nacional19, pr om ulgadas a part ir de 1942, explicit am ent e se coloca a dist inção ent r e as classes, quando se diz que o obj et ivo do ensino secundár io e nor m al é “ for m ar as elit es condut or as do país” e do ensino pr ofissional, ofer ecer “ for m ação adequada aos filhos dos oper ár ios, aos desvalidos da sor t e e aos m enos afor t unados, aqueles que necessit am ingr essar pr ecocem ent e na for ça de t r abalho” .
Quant o a educação da população do m eio r ur al, especificam ent e da classe t r abalhador a, na visão do gover no, paut ava- se na valor ização do t r abalho no cam po com vist as ao desenvolvim ent o do país e a sua vocação par a a agr icult ur a, segundo nos r elat a Wer le ( 2007) . Com essa pr eocupação é que se est abeleciam os pr ogr am as das escolas e as pr opost as de for m ação de educadores, com o a for m ulada por Lour enço Filho, a par t ir do est udo feit o a pedido da UNESCO int it ulado: “ Pr epar ação de pessoal docent e par a as escolas prim ár ias r ur ais” , publicado no Br asil na Revist a Br asileir a de Est udos Pedagógicos, volum e 20, núm ero 52, em 1953.
Assim r efer e- se Wer le ( 2007, p. 12) sobr e Lour enço Filho no r efer ido t r abalho:
Convict o do fr aco r endim ent o pedagógico e social das escolas r ur ais suger e que, depois de 1930, t al debat e dever ia ser abor dado por dois eixos de ar gum ent ação. O pr im eir o, ( ...) focalizava a necessidade de for m ação específica de pr ofessor es par a escolas r ur ais, fundam ent ada em conhecim ent os de t écnicas agr ícolas, de higiene e pr ofilax ia, v er t ent e est a ligada à r ur alização do ensino. O segundo consider ava aspect os am plos da sociedade e das condições r ur ais br asileir as, o pr oblem a da escola e do
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pr ofessor r ur al num cont ext o m ais am plo, com o a r efor m a do r egim e agr ár io, a necessidade de apoio na for m a de cr édit o agr ícola, apoio à pr odução, m elhor ia dos ser viços de assist encia agr ícola e de com unicação, m issões r ur ais, m elhor ia das inst alações escolar es, or ganização r egional da for m ação de pr ofessor es, dent r e out r os.
Per cebe- se nest a últ im a, a pr esença de um pensam ent o de que não bast ava apenas a educação par a fix ar o hom em no cam po, por ém , que as out r as polít icas se faziam necessár ias enquant o conj unt o, m as, isso ficou nas int encionalidades.
Já nos anos de 1940/ 50 a idéia de educação volt ada par a a população do cam po ainda er a ent endida com o educação r ur al. Ainda nessa ver t ent e, no cam po econôm ico, a queda do café pr ovoca um a cr ise no cam po, ocasionando com isso um aum ent o significat ivo nas t axas de ur banização pr ovocando, por par t e do gover no, m edidas par a a “ fixação do hom em no cam po” , um a vez que est avam apenas pr eocupados com o esvaziam ent o populacional do cam po e com o “ inchaço” nas m et r ópoles, ger ando pr oblem as de t oda or dem .
Essa pr eocupação se m at er ializa na Lei de Dir et r izes e Bases da Educação Nacional ( LDB) de 1961, at r avés do art igo 105, que est abelecia “ os poder es públicos inst it uir ão e am par ar ão ser viços e ent idades que m ant enham na zona r ur al escolas capazes de favor ecer a adapt ação do hom em ao m eio e est ím ulo de vocações pr ofissionais” .
A par t ir daí, t r abalha- se a educação r ur al num a per spect iva const ant e de gar ant ir a m anut enção da m ão - de - obr a, pr ocur ando sem pr e adequar ao cam po as polit icas ur banas, sendo t r at ada a educação r ur al no boj o da educação ger al, pensada no m odelo ur bano, pois nem a LDB nº 4.024/ 61, r efer ia- se a especificidade da escola do cam po.
denom inada de educação r ur al, er a apenas adj et ivada de r ur al. Assim , na r ealidade, o que se via er a um a r epet ição ou t r ansposição do m odelo ur bano feit a pelo poder público local, com poucas, par a não dizer quase nenhum a especificidade, a não ser a pr ecar iedade de r ecur sos, pois segundo Leit e ( 2002, p. 39) assim se posicionava o poder público,
Deixando a car go das m unicipalidades a est r ut ur ação da escola fundam ent al na zona r ur al, a Lei 4.024 om it iu- se quant o à escola do cam po, um a vez que a m aior ia das pr efeit ur as m unicipais do int er ior é despr ovida de r ecur sos hum anos e, pr incipalm ent e, financeir os. Dest a feit a, ( ...) o sist em a for m al de educação r ur al sem condições de aut o- sust ent ação – pedagógica, adm inist r at iva e financeir a – ent r ou num pr ocesso de det er ior ação, subm et endo- se aos int er esses ur banos.
Diant e dessa r ealidade, a educação r ur al at ua com a m esm a pr opost a desenvolvida nas escolas da cidade, sem qualquer adequação, visando unicam ent e a pr epar ação da m ão- de- obr a par a gar ant ia da acum ulação do capit al, m arcadam ent e, com um a visão que não r espeit a as difer enças cult ur ais e sociais, ou m elhor , sem qualquer apr oxim ação com as necessidades r eais e int er esses da população do cam po.
necessidades básicas, cont r ibuiu par a o sur gim ent o das Ligas Cam ponesas20.
Esse m ovim ent o cam ponês, aliado ao m ovim ent o dos oposicionist as e int elect uais, culm inou no apar ecim ent o de m ovim ent os popular es de lut a pela Refor m a Agr ár ia, por j ust iça, cont r a a violência e pela educação, t ais com o o Cent r o Popular de Cult ur a ( CPC)21, o Movim ent o de Cult ur a Popular22, cr iado em 1960, em Recife, do qual Paulo Fr eir e par t icipou, e m ais t ar de o Movim ent o de Educação de Base ( MEB)23 que se apoiavam ideologicam ent e nas Ligas Cam ponesas24 e nos par t idos de esquer da.
É nesse cont ext o que sur ge o educador Paulo Fr eir e, for t em ent e influenciado pelas idéias de Mar cuse, Gr am sci, Sar t r e e out r os, am pliando sua int er locução à m edida que avançava no pr ocesso de conscient ização, confor m e nos m ost r a Calado ( 2008, p. 70) ao r efer ir - se à ele,
Aí t am bém r eside sua m ar ca de hom em do diálogo. Não cost um av a lim it ar seu exer cício de int er locução a um cír culo r est r it o de aut or es, ou a um a única cor r ent e de pensam ent o. Pr efer ia, t am bém nisso, por t ar - se com o andar ilho dialogant e que, par t indo de seu quadr o pr ópr io de r efer ência, não hesit ava em est ender sua t enda dialogant e à dist int as gr ades de for m ulação t eór ica. Sem pr e por ém o fazia a par t ir de sit uações concr et as.
Assim , com a evolução e divulgação do pensam ent o de Paulo Fr eir e, m uit as ações for am sendo encam inhadas por difer ent es m ovim ent os sociais, no sent ido de r evolucionar o conceit o de educação a
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Segundo a aut or a, há diver gências ent r e os aut ores, quant o ao m ot iv o inicial.
21 Sur gir am em 1961 a par t ir da UNE e flor escer am ent r e 1962 e 1964. 22
Com o iniciat iv a de est udant es univ ersit ár ios, ar t ist as e int elect uais per nam bucanos que se aliaram ao esforço da prefeit ura da capit al no com bat e ao analfabet ism o e elevação do nível cult ur al do povo, buscando apr oxim ar a j uvent ude e a int elect ualidade, do povo, sob a influência de idéias socialist as e cr ist ãs.
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Ligado a Confer ência Nacional dos Bispos do Br asil ( CNBB) , financiado pelo Gov er no da União, em 1961.
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ser desenvolvido no cam po, com exper iências m uit o significat ivas no Nor dest e br asileir o25.
Par alelam ent e, o gover no inst it uia pr ogr am as set or iais que, segundo Leit e ( 2002, p. 41) , buscavam desar t icular o m ovim ent o or ganizat ór io cam ponês. Assim ele se r efer e:
A lut a pela r efor m a agr ár ia e pela educação de base t eve, em cont r aposição, novos conv ênios assist enciais e educacionais ent r e Br asil/ EUA, com o a Aliança par a o Pr ogr esso, a cr iação da SUDENE, SUDESUL e I NCRA, t odos com a finalidade de cont er o expansionism o dos m ovim ent os agr ár ios e das lut as cam ponesas.
Toda a efer vescência desse per íodo foi abafada pelo Golpe Milit ar de 1964, ocasionando o silenciam ent o de m uit as vozes na per spect iva de const r ução de um a educação popular e liber t ador a. Assim , no período da década de 1960 at é m eados da década de 1970, per íodo da dit adur a m ilit ar , as or ganizações popular es ficar am pr oibidas de exist ir , de se m anifest ar , havendo, com isso, um r ecr udescim ent o da sit uação de abandono, no que diz r espeit o à educação, not adam ent e a educação do cam po, ainda t ida com o r ur al.
Com a Lei de Dir et r izes e Bases da Educação Nacional, a 5.692/ 71, vam os encont r ar m enções nos art igos 11 § 2º , quando se r efer e à or ganização dos per íodos let ivos com pr escr ição de fér ias nas épocas de plant io e colheit a de safr as, e no 49 ao r efer ir - se à obr igat or iedade das em pr esas e pr opr iet ár ios r ur ais de m ant er em suas glebas escolas par a os em pr egados e filhos e/ ou facilit ar a fr equência dos m esm os em escolas pr óxim as
Mas a exequibilidade disso t or nava- se difícil, face às condições efet ivas do sist em a escolar , que or ganizava os per íodos let ivos, t endo com o par âm et r o a cidade e, ainda, devido a ausência de escolas nas com unidades r ur ais.
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A Const it uição de 1988 abr e espaço par a a discussão da educação do cam po, o que vai se m at er ializar na Lei de Dir et r izes e Bases da Educação, a Lei 9.394/ 96, que assim est abelece no ar t . 28:
Na ofer t a da educação básica par a a população r ur al, os sist em as de ensino pr om ov er ão as adapt ações necessár ias à sua adequação, às peculiar idades da vida r ur al e de cada r egião, especialm ent e:
I - cont eúdos cur r icular es e m et odologias apr opr iadas às r eais necessidades e int er esses dos alunos da zona r ur al; I I - or ganização escolar pr ópr ia, incluindo a adequação do calendár io escolar às fases do ciclo agr ícola e às condições clim át icas;
I I I - adequação à nat ur eza do t r abalho na zona r ur al.
Consider ando o descaso ou om issão nas legislações passadas, j á se const it uir a um avanço “ pr om over adapt ações necessár ias à sua adequação às peculiar idades da vida rur al” , ou sej a, as palavr as de or dem são: adapt ar , adequar .
subsídios do Minist ér io da Educação e Cult ur a ( MEC) , um a vez que não passa disso a ofer t a nas classes m ult isser iadas.
Quadr o I – Dem onst r at iv o do núm er o de escolas e m at rículas na zona rural em classes m ult isser iadas.
Font e: Cader nos SECAD Educação do Cam po, MEC- Mar ço/ 2007, pag. 22.
No quadro acim a, podem os const at ar o pr edom ínio de escolas exclusivam ent e m ult isser iadas.
Out r a iniciat iva que car act er iza a educação do cam po – exat am ent e par a at ender às especificidades da população do cam po não at endida, no seu direit o de escolar ização – são as Casas Fam ilias Agr ícolas e as Casas Fam iliar es Rur ais, que adot am a Pedagogia da Alt er nância26 com o for m a de gar ant ir a per m anencia do agr icult or no cam po.
Tam bém são pr esent es out r as iniciat ivas que visam m inor ar a ausência do Est ado no at endim ent o das necessidades de escolar ização da população do m eio r ur al e essas iniciat ivas, a pr incípio por par t e de iniciat ivas par t icular es, vão pr ovocar, em m eados dos anos de 1990, a or ganização e lut a da população do cam po em busca de m elhor es condições de vida e, ent r e elas, a educação.
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