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O Entrelaçamento entre assistência social e trabalho informal: verdades e equívocos em tempos de crise do capital

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE SERVIÇO SOCIAL

JEANE MEDEIROS DE SOUTO

O ENTRELAÇAMENTO ENTRE ASSISTÊNCIA SOCIAL E TRABALHO INFORMAL: verdades e equívocos em tempos de crise do capital

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JEANE MEDEIROS DE SOUTO

O ENTRELAÇAMENTO ENTRE ASSISTÊNCIA SOCIAL E TRABALHO INFORMAL: verdades e equívocos em tempos de crise do capital

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Drª. Rita de Lourdes de Lima

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Souto, Jeane Medeiros de.

O entrelaçamento entre assistência social e trabalho informal: verdades e equívocos em tempos de crise do capital / Jeane Medeiros de Souto. - Natal, RN, 2012.

191 f. : il.

Orientadora: Prof.ª Drª. Rita de Lourdes de Lima.

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AGRADECIMENTOS

Esse é o momento, em que se faz necessário trazer a memória, muitas experiências, circunstâncias e desafios, galgados e superados no percurso de maturação e construção dessa pesquisa, os quais foram dotados de uma vasta diversidade de sentimentos e emoções. Alguns, tristes, alegres, confusos e outros por vezes, desestimuladores e reveladores. Mas nesse paradoxo, todos eles tiveram o seu grau de importância, contribuição e superação.

Elevo ao topo da minha lista de agradecimento, a Deus, Senhor e mentor da minha vida, por tamanha graça, cuidado e zelo a mim dispensado nesse processo de construção do saber. “Porque sem Ele nada do que foi feito, se fez...”.

À minha orientadora querida, Rita de Lourdes de Lima, que desde a graduação me impulsionou e desvelou o mundo “desconhecido” e surpreendente da pesquisa. E com os seus direcionamentos na vida cotidiana, mostrou-me que na simplicidade das coisas podemos extrair frutos nobres e melhores. Ela também foi meu freio e calmaria, em meio aos diversos percalços, angustias e “agonias” vivenciados neste estudo. Palavras são poucas para expressar o quanto contribuístes nesse processo de amadurecimento intelectual. Profissional admirável, marcada por muitas conquistas porque tem em suas veias: determinação, coragem e competência profissional, portanto, digna do meu de aplauso, reconhecimento e gratidão. A quem posso categoricamente dizer: os acertos atribuídos a este trabalho devem-se muito a você! Expresso na fluidez das orientações e parceria vivenciada, em todo o percurso deste estudo. (Minha orientadora linda!).

Gratidão aos meus familiares: aos meus pais, a quem evidentemente serei eternamente grata, por todo empenho, investimento e torcida a mim depositada, durante toda a minha vida acadêmica. Pelas muitas vezes que estive ausente, mas no lugar de “cobranças”, recebia proteção e compreensão. E embora distantes (fisicamente) se mostram sempre perto. Aos meus Irmãos que apostaram em mim, quando nem eu mesma pensei que chegaria tão longe...

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comigo (comunhão, vinho e Pão), expresso nas alegrias e o prazer de sua hospitaleira acolhida. Grifo aqui, minha gratidão eterna, pelos nobres feitos à “Família Frutuoso” e “Família Araújo” a mim dispensados todos esses anos.

A todos os meus amigos construídos ao longo da vida e outros foram fomentados nesse percurso acadêmico. Em especial aos de sempre e “pra toda hora”: Drica, Kel, Rosângela, Ceiça, Julha e Oscar, gratidão pelo carinho e torcida. Destaco a “assessoria” do meu amigo Elton Marlon, que no processo difícil de enfermidade, se dispôs ajudar-me na formatação dos gráficos e mapas deste trabalho.

Registro ainda gratidão as colegas e companheiras da turma 2010 do curso de mestrado em Serviço Social da UFRN. Das aulas, extraio bons e instigantes momentos de reflexões, debates e contribuições no fomento e construção do projeto de pesquisa. Destaco a disponibilidade e esforço da minha “assessora” direta (Isabelle), em sanar as dúvidas da ABNT que circundou esse momento. À “Rayane” Araújo pelo companheirismo, não limitados aos “cafés” e conversas informais, mas que se estenderam no compartilhamento das angustias, motivações e torcidas. E a graciosa “Lucinha” por sua atenção, presteza e incentivo sempre.

Meus agradecimentos se estendem também ao corpo docente do Departamento de Serviço Social da UFRN. Em especial, à Profª. Drª. Silvana Mara e Profª. Drª. Denise Câmara pelas sinalizações e direções no fomento do nosso projeto de pesquisa. Ressalto a participação e riquíssimas contribuições no momento da qualificação da Profª. Drª. Regina Ávila e Profª. Drª. Eliana Guerra.

Destacamos ainda a importância da CAPES que, através da contribuição da “bolsa”, possibilitou-me focar e dedicar à pesquisa de maneira integral. O que no momento da pesquisa, sem a viabilidade desta ajuda financeira tornaria, sem dúvida, esse percurso mais longo e difícil.

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nesse processo acadêmico, que não se esgota nele mesmo, mas que seja um impulsionador para muitos outros. Obrigada a todos!

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O entrelaçamento entre a assistência social e trabalho informal: verdades e equívocos em tempos de crise do capital

O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem [...].

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RESUMO

A dissertação ora apresentada gestou-se do interesse de analisar a atuação do Estado, através da materialização dos cursos profissionalizantes, no processo de inserção dos usuários do CRAS-Pajuçara na informalidade. Para tanto, partimos da premissa que a pobreza e a desigualdade social atingem uma parcela significativa da população mundial, num contexto em que a família da classe trabalhadora é vista como uma das alternativas para o enfrentamento das múltiplas expressões da questão social. Assim, frente às mudanças da reestruturação produtiva, marcada pela flexibilização, terceirização e precarização das relações do mundo do trabalho, a família da classe trabalhadora deve encontrar saídas para garantir a sua sobrevivência. Nessa direção, discutimos os avanços, limites e desafios postos à Política de Assistência Social na contemporaneidade, situando neste contexto, a atuação do Estado. Além disso, debateu a funcionalidade da informalidade para o sistema capitalista, mostrando como o capital se apropria do trabalho informal, inserindo-o na sua lógica, e assim, torna a relação capital-trabalho cada vez mais predatória, desumana e desigual. Os procedimentos metodológicos adotados para elaboração desse estudo se constituem de pesquisa bibliográfica e documental, além de 10 entrevistas semiestruturadas direcionadas aos usuários do CRAS-Pajuçara, partícipes dos cursos profissionalizantes, no período de 2010-2011. À luz da racionalidade crítico-dialética, e num contexto em que o trabalho informal tem sido cada vez mais cooptado como alternativa ao desemprego descomunal, na mesma direção, em que a assistência social se eleva no enfrentamento à desigualdade social, o escopo desse estudo, discutiu e desvelou algumas as verdades e equívocos que circundam este discurso burguês, em tempos de crise do capital, no município de Natal-RN.

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ABSTRACT

The thesis presented here is of interest management to analyze the performance of the State, through the materialization of the professional courses, the process of integration of users CRAS-Pajuçara informal. Therefore, we assume that poverty and inequality reach a significant portion of the world population, in a context where the working class family is seen as an alternative to face the multiple expressions of social issues. Thus, before the changes of Productive Restructuring, marked by flexibility, outsourcing and casualization of labor relations in the world, the working class family must find ways to ensure their survival. In this direction, we discuss the advances, limitations and challenges posed to the Social Assistance Policy in contemporary, situating this context, the role of the state. Furthermore, we discussed the functionality of informality to the capitalist system, showing how capital appropriates of informal work, placing it in its logic, and thus makes the capital-labor ratio increasingly predatory, inhuman and unequal. The methodological procedures for the preparation of this study constitute a literature and documentary, beyond 10 semi-structured interviews directed to users of CRAS-Pajuçara, participants of training courses for the period 2010-2011. In light of the critical-dialectical rationality, and in a context where informal work has increasingly been co-opted as an alternative to huge unemployment in the same direction in which the welfare rises in tackling social inequality, the scope of this study, discusses and reveals the truths and misconceptions that surround this bourgeois discourse, in times of crisis of capital, the city of Natal, Brazil.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Incidência da população brasileira em situação de extrema

pobreza por domicílio 58

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Quantidade de CRAS em âmbito nacional, estadual e

municipal 124

Quadro 2 - Especificação dos CRAS por área de abrangência 125 Quadro 3 - Número de CRAS por quantidade de família referendada e

por porte de município 127

Quadro 4 - Equipe técnica do CRAS-Pajuçara 147

Quadro 5 - Programas, projetos, serviços e benefícios realizados no

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Faixa etária dos entrevistados/CRAS-Pajuçara 132

Tabela 2 - Grau de escolaridade 133

Tabela 3 - Responsável pela renda familiar 136

Tabela 4 - Números de filhos 138

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LISTA DE SIGLAS

ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social ASG - Auxílio em Serviços Gerais

ATIVA - Associação de Atividade de Valorização Social BPC - Benefício de Prestação Continuada (BPC). CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social CRAS - Centro de Referência de Assistência Social CREAS - Centro Especializado de Assistência Social

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos DQP - Departamento de Qualificação Profissional

DRU - Desvinculação Receitas da União EAD - Ensino à Distância

EUA - Estados Unidos da América FGV - Fundação Getúlio Vargas

FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

FONSEAS - Fórum Nacional de Secretários de Estado da Assistência Social IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH-M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IFDM - Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal IFRN - Instituto Federal do Rio Grande do Norte IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MDS - Ministério do Desenvolvimento Social eCombate à Fome MEC - Ministério da Educação

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

NOB/RH - Norma Operacional Básica/Recursos Humanos

NOB/SUAS - Norma Operacional Básica/Sistema Único da Assistência Social OIT - Organização Internacional do Trabalho

OMC - Organização Mundial do Comércio

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PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego SEMTAS – Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social

SEMURB - Secretaria do Meio Ambiente e Urbanismo SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SETHAS - Secretaria de Estado do Trabalho, da habitação e da Assistência Social SINDPPD-RS - Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados/RS SINE - Sistema Nacional de Emprego

SUAS - Sistema Único da Assistência Social SUS - Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 17

2 A QUESTÃO SOCIAL E A POBREZA NO BRASIL: ALGUMAS

CONSIDERAÇÕES E IMPLICAÇÕES 35

2.1 DO PAUPERISMO À EMERGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL 35 2.2 NOVAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL

CONTEMPORÂNEO: UM CONCEITO QUE SE RENOVA 48

2.3 CRISE DO CAPITAL E SUAS IMPLICAÇÕES NAS POLÍTICAS SOCIAIS 60 3. ESTADO, ASSISTÊNCIA SOCIAL E INFORMALIDADE: VERDADES,

EQUÍVOCOS E CONTRADIÇÕES 73

3.1 HISTORICIZANDO A ATUAÇÃO DO ESTADO NA TRAJETÓRIA DA

ASSISTÊNCIA SOCIAL 73

3.2 TRABALHO INFORMAL: UMA REALIDADE COMPLEXA EM

MOVIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES NA VIDA SOCIAL 86

3.3 ASSISTÊNCIA E TRABALHO: CONGRUÊNCIA OU CONTRAPOSIÇÃO? 98 3.4 A INTERSEÇÃO ENTRE ASSISTÊNCIA E TRABALHO INFORMAL 105 4 NATAL: CONTORNOS DE POBREZA E CONDIÇÕES DE VIDA DOS

USUÁRIOS DO CRAS-PAJUÇARA 118

4.1 NATAL: “TÃO BELA E DESIGUAL” 118

4.2 O CRAS E SUA MATERIALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE NATAL/RN 123 4.2.1 Quem são os usuários dos CRAS-Pajuçara? Onde e como vivem? Em que trabalham e sob que condições?

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4.2.2 CRAS-Pajuçara em foco: a dinâmica de uma realidade complexa 142

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 162

REFERÊNCIAS 171

ANEXOS 183

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1 INTRODUÇÃO: “A PESQUISA EM MOVIMENTO”

A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas prática. É na práxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno do seu pensamento.

(Marx e Engels)

O projeto de pesquisa é construído como um conjunto de análise, o qual pode ser utilizado pelos sujeitos sociais para conhecer e intervir mais eficazmente na realidade social. E à medida que nos aproximamos do objeto, desvelamos várias outras relações que o circundam, e assim, damos concretude ao mesmo. Para tanto é preciso entender que a realidade social é complexa, é heterogênea, é contraditória - apresenta diversas facetas, particularidades” (IANNI, 1986, p. 1).

Em face disso, a realidade social não é transparente, portanto, necessita ser desvendada, a partir da passagem do momento de abstração do concreto (real), ao “concreto pensado”. Nesse movimento dialético, o pesquisador deve atentar para não manter-se no nível das aparências ou no imediatismo das análises. A realidade social então, não pode ser decifrada mediante uma “investigação empírica convencional”, tal como sinaliza Ianni (1986), é preciso apreender outros determinantes e implicações da vida social, imbuído em uma perspectiva crítica e dialética, na tentativa de desvelar os elementos que circundam o objeto em análise em toda a sua riqueza, diversidade e complexidade.

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Assim, dentre as idas e vindas, em busca do objeto de análise, e diante das muitas tentativas em construí-lo, a temática deste estudo “parecia não querer sair”. Os ecos teóricos, apreendidos em toda a nossa trajetória acadêmica e profissional, sobre o tema escolhido, não nos pareciam suficientes para delimitá-lo e por fim defini-lo. Até que, por meses, “a síndrome do objeto perdido” não apenas fora a nossa sina, mas se revelou como um grande desafio no processo da pesquisa, dentre muitos outros que surgiram.

Entretanto, cônscios que um trabalho dissertativo, não apenas exige disciplina e vontade para fazê-lo, mas também decisão, por vezes, objetos transversais ao tema desejável, iam e vinham ao “campo das nossas ideias”, mas ainda era dotado de inconsistência e indecisão. Precisávamos pensar em algo que contemplasse um tema de nosso interesse, e ao mesmo tempo, fosse relevante ao debate do Serviço Social brasileiro. Nisto, dentre os encontros e desencontros do tema escolhido, nos convencemos que mais do que delimitá-lo, era preciso debruçar com afinco e persistência sobre o mesmo, tal como nos aconselha Eco (1983, p. 5):

Fazer uma tese significa, pois, apreender a pôr ordem nas próprias ideias e ordenar os dados: é uma experiência de trabalho metódico:

[...]. Assim não importa tanto o tema da tese quanto a

experiência de trabalho que ela comporta. [...]. Embora seja melhor fazer uma tese sobre um tema que nos agrade, ele é secundário com respeito ao método de trabalho e a experiência daí advinda. Ainda mais: trabalhando-se bem, não existe tema que seja verdadeiramente estúpido. Conclusões úteis podem ser extraídas de um tema aparentemente remoto ou periférico. [grifo nosso]

Nesse emaranhado de indecisões “teórico-metodológicas”, deparamo-nos com o artigo de Maria Augusta Tavares, intitulado: “O trabalho informal deslocado da economia para a assistência social”, o qual fora decisivo para adentrar-nos nas “aproximações primeiras” do objeto deste estudo. O referido texto suscitou-nos inquietações, anteriormente, já sinalizados e vivenciados em parte da nossa trajetória acadêmica e experiência profissional, na área da Assistência Social, no município de Natal/RN.

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equívocos que permeiam a relação entre a assistência social e o trabalho informal, na contemporaneidade. Nisto, por tratar-se de um objeto que se assenta em dois focos de análises: assistência social e informalidade houve um esforço para dar coesão e sincronia à análise, sem perder a essência da nossa investigação.

No trilho desse objeto, adentramos em “escavações teóricas” já conhecidas e outras que foram descobertas durante o processo de construção da pesquisa. Aliás, há escassa produção teórica que discorrem acerca do nosso objeto, o que também justifica a importância de debruçarmo-nos neste estudo. De maneira que buscamos a interlocução com diversos autores, com destaque para os estudos recentes de Marcelo Sitcovsky, Berenice Couto, Haidée Rodrigues, Maria Augusta Tavares e Ana Elizabete Mota. O que nos possibilitaram uma melhor aproximação teórica ao tema proposto, dando-lhe mais amplitude e consistência, mas, sem perder de vista, o referencial teórico adotado e defendido na construção desta pesquisa.

A propósito foi frente ao discurso burguês, o qual defende o trabalho informal como alternativa ao desemprego descomunal, na mesma direção, em que a assistência social se eleva no enfrentamento à desigualdade social, que o objeto da pesquisa ganhou direção e formato. Diante disto, indagamos: haveria, então, alguma relação na materialização dos cursos profissionalizantes, realizados nos CRAS/RN, com esse duplo discurso?

Na busca por respostas, realizamos, aliado a leituras e tessituras textuais, um levantamento dos cursos profissionalizantes, consolidados nos CRAS em Natal, nos anos de 2010 e 2011, por meio dos Relatórios de Gestão da SEMTAS/Coordenação dos CRAS.

Assim, em face desses questionamentos e inquietações, deu-se a escolha do tema em questão, aquecido e motivado pela nossa trajetória acadêmica, principalmente, no trabalho de conclusão de curso em Serviço Social na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no ano de 2008. Este trabalho monográfico denominado: Possibilidades e limites da ação do PETI junto à família: a realidade do núcleo de ação social da Cidade da Esperança (RN)1,

também instigou questionamentos não esclarecidos durante o processo monográfico, porém, deixou “pistas fecundas” para despertar o interesse em investigar a temática proposta.

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Agregamos a isso, a nossa atuação profissional, na área da Assistência Social, nos anos de 2008-2011, na Secretaria Municipal do Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) deste município, em um contexto em que o assistente social é chamado a desenvolver estratégias frente ao desemprego e pobreza via a proposta de “inclusão produtiva”.

A inserção no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN oportunizou-nos uma maior aproximação ao objeto de estudo, através das leituras e debates tecidos nas aulas do mestrado, possibilitando-nos um maior aprofundamento de conhecimentos, reflexões e concepções, necessárias para o fomento de um melhor entendimento, delimitação e apreensão do objeto proposto.

E convencendo-nos que não há “ineditismo” no objeto que propusemos investigar, percebemos que há outros elementos que precisavam ser desvelados e outros que requeriam maiores aprofundamentos. Nisto, o primeiro questionamento suscitou-nos a investigar se o trabalho informal adentra na Política de Assistência Social, tomando como referência os “cursos profissionalizantes”, realizados pelo Departamento de Qualificação Profissional (DQP/SEMTAS) no CRAS-Pajuçara. O segundo, decorrente do primeiro, buscou desvelar, se de fato, os cursos profissionalizantes, desenvolvidos nos CRAS, contribuem para a inserção de trabalhadores no mercado de trabalho, buscando identificar se esta forma de inserção tem relação com o processo de expansão da informalidade.

A presente pesquisa instigou-nos ainda, a desvelar de que maneira o capitalismo2 se apropria do trabalho informal para dinamizar a sua reprodução e acumulação, relacionando à ação do Estado neste processo.

Assim, contribuir no debate em torno do entrelaçamento entre assistência social e o trabalho informal, se constitui como uma das motivações propulsoras desse estudo, além de ser uma oportunidade singular, de analisar o discurso da empregabilidade via a proposta de “inclusão produtiva” que ganha destaque na cena contemporânea.

2 O capitalismo, ao longo de sua história, passou por diversos estágios a saber: o capitalismo

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Endossamos como objetivo geral desta pesquisa, analisar a atuação do Estado via a assistência social, no processo de inserção dos usuários dos CRAS/RN na informalidade. Delimitamos ainda como objetivos específicos:

 Caracterizar o público assistido no CRAS em análise (Quem são? Onde vivem? O que fazem? Quais e quantos desses estão inseridos no trabalho informal?).

 Desvelar a relação entre a produção/reprodução e acumulação capitalista e o crescimento da informalidade.

 Apreender as configurações do trabalho informal e sua interseção com a Política de Assistência Social pela via dos cursos profissionalizantes, realizados no CRAS-Pajuçara.

 Caracterizar e analisar os cursos profissionalizantes, desenvolvidos nos CRAS/RN e sua relação com a informalidade.

Para tanto o presente estudo precisou analisar o trabalho informal além de um mecanismo de sobrevivência da classe aviltada pela pobreza, analisando-o, sobretudo, como estratégia funcional à reprodução do capital. E na mesma direção, fez-se necessário analisar a atuação do Estado via a assistência social, em um sentido duplo: quando atende as solicitudes da classe subalterna (mesmo que de forma ainda residual e pulverizada) e quando a insere, pela via do consumo, através das políticas e programas sociais.

Nesse sentido, o trabalho ora apresentado, também se debruçou na discussão dos avanços, limites e desafios postos à Política de Assistência Social na contemporaneidade, situando nesse contexto, a atuação do Estado. Problematiza a funcionalidade da informalidade para o sistema capitalista, mostrando como o capital também se apropria do trabalho informal, inserindo-o na sua lógica, e assim, torna a relação capital-trabalho cada vez mais predatória, desumana e desigual.

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resta aos trabalhadores e a suas famílias incluírem-se no mercado de trabalho de forma precarizada.

Agregamos neste arcabouço teórico, a composição do cenário que promove a desresponsabilização do Estado, transfere à sociedade civil3 funções antes legitimadas como de competência pública e, nesse processo, a família é chamada a ser parceira. Como afirma Carvalho (2005), família e políticas públicas compartilham funções semelhantes e indispensáveis ao desenvolvimento e à proteção social dos sujeitos sociais. Entretanto, a realidade demonstra que não se efetivam condições reais capazes de garantir a reprodução da classe subalternizada. Antes, o que se confirma, por parte do Estado na atualidade, são iniciativas que contribuem para a manutenção da pobreza e da miséria, atenuando apenas as situações mais graves.

Fruto dessa relação desigual resta aos “excluídos”, integrarem-se na sociedade através de formas perversas de inclusão. Um retrato desse cenário pode ser evidenciado no cotidiano das famílias usuárias do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), as quais se inserem nos meandros da informalidade para complementar renda, e assim, garantir a sobrevivência de seus membros.

A propósito, sobre “exclusão”, José de Souza Martins (2002), em seu livro intitulado: A sociedade vista do abismo suscita vários questionamentos acerca do termo “exclusão social”, expressão essa utilizada para fazer referência a uma diversidade de situações que se constituem, de fato, expressões da questão social4.

O autor considera que a referida categoria denota uma orientação conservadora, portanto, não toca nas contradições da sociedade capitalista. Afirma ainda que “basicamente, exclusão é uma concepção que nega a história, que nega a práxis e que nega à vítima a possibilidade de construir historicamente o seu próprio destino

3

Respaldamo-nos no pensamento Gramsciano para afirmar que essa categoria expressa “[...] a existência de uma relação plena de contradições, e, portanto, terreno de conflitos e não de colaboração, face à racionalidade dos dominantes (AMARAL, 2009, p. 87). Desse modo, o referido termo, nem de perto se apresenta como um espaço de consenso e homogeneização de interesses. Antes, porém, “mais do que „neutralidade‟, ela expressa luta, os conflitos e articula, conflitiva e contraditoriamente, interesses estruturalmente desiguais” (DIAS apud AMARAL, 2009, p. 87).

4 Na seção que segue, traremos para o debate esta questão, apresentando aspectos do seu

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[...]” (p. 45). Para Martins (2002, p. 124), não existe exclusão no sistema capitalista, antes defende a utilização do termo “inclusão perversa”5, assim explicitada:

[...] O que a sociedade capitalista propõe hoje aos chamados excluídos está nas formas crescentemente perversas de inclusão, na degradação da pessoa e na desvalorização do trabalho como meio de inserção digna da sociedade. [...] O trabalhador [...] se degrada como pessoa por que passa a ser marginalizado, em termos de mercado, um consumidor marginal, que assim mesmo é essencial à reprodução do sistema econômico.

Sob o prisma desse entendimento, podemos dizer que, do âmago da sociedade capitalista, brota uma formação social que exclui e que também inclui, porém, de modo precário, mesmo que seja pela via do consumo mínimo. Assim, ao mesmo tempo e pelo mesmo movimento alimenta a reprodução do circuito do capital. Isto mostra-nos que tal questão tem lastro no processo da contradição, inerente ao sistema societário vigente, ao criar formas desumanas de participação, e torná-las privilégios e não direitos (MARTINS, 2002). De maneira que, temos uma sociedade com sujeitos sociais que ora são precariamente incluídos do ponto de vista social, ora são úteis e incluídos do ponto de vista econômico, ainda que essa inclusão seja bastante limitada e/ou precarizada. Exemplos que evidenciam essa assertiva pautam-se nos diversos programas de renda mínima, operacionalizados pela Política de Assistência Social.

Nessa envergadura, Soares (2010) analisando as atuais políticas de emprego e renda no Brasil, afirma que elas surgem e se legitimam como uma alternativa de sobrevivência para uma grande parcela da população, as quais compõem a massa de superpopulação relativa6. E complementa ratificando que as

políticas que estão postas no espectro atual se conformam a:

[...] reatualização de formas precárias de trabalho e constituem o autoemprego, colocando a responsabilidade no indivíduo por sua

situação de desemprego, mas com a aparência de liberdade aos

trabalhadores, que podem conquistar autonomia ao não se

5 Termo utilizado e discutido por José de Souza Martins (1997), para caracterizar as pessoas que

estão inseridas de maneira precária no mercado de trabalho, a exemplo de péssimas condições de trabalho, baixíssimos salários e sem nenhuma garantia de proteção social.

6 Corroboramos com Maranhão (2009), o qual afirma que a criação desta categoria não deve ser

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submeterem a subsunção real do Capital (SOARES, 2010, p. 282). [Grifo da autora].

Nesse processo, as iniciativas estatais atuais mediante os programas, projetos e serviços socioassistenciais, “pretendem estabelecer uma diminuição nos índices de desemprego” (SOARES, 2010, p 283), para assim, se constituir como uma grande estratégia econômica, capaz de alavancar a “extração do excedente” (o lucro), através de artimanhas político-ideológicas e por sua vez consolidar a exploração mediante o consenso.

De sorte que, as políticas de emprego e renda que se perpetuam na atualidade, pretendem alcançar a promoção de um desenvolvimento justo e solidário, prevalecendo às chamadas “parcerias”. Além disso, essas políticas visam tornar consensual o discurso que “a causa do desemprego deve-se a falta de empregabilidade e de capacitação” dos trabalhadores [...] (SOARES, 2010, p. 286). Entretanto, quando as políticas desempenham o seu papel ideológico, disseminando a ideologia que a qualificação profissional é fundamental para a inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho, culmina por mascarar que o percentual de desempregados, da superpopulação relativa ou do exército industrial de reserva, tornou-se inerente e funcional a dinâmica capitalista.

Aliás, à luz da orientação Marxiana, consideramos “ideologia” como um instrumento de dominação que atua através do convencimento (ou incorporação de ideias), de forma a alienar a consciência humana, e assim, mascarar a realidade. Salientando que a “ideologia”, denominada por Marx (2002) como “falsa consciência”, camufla a realidade, para os intentos e ideais da classe dominante. Tal Ideologia se insere no discurso da empregabilidade anunciada com “fervor”, pela sociedade burguesa, e que cada vez mais ganha cena, vez e lugar nas estratégias de enfrentamento ao desemprego e pobreza, e ao mesmo tempo, se assenta no campo da assistência social, através da modalidade de “inclusão produtiva” e os serviços de “integração ao mercado de trabalho”.

Trilhando nessa linha de análise, com o avanço Neoliberal7, a partir da

reformulação do Estado e do constante déficit público, a reestruturação produtiva8 e

7

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a precarização das relações de trabalho, vai configurar um cenário de retorno às redes de solidariedade e de sociabilidade em que, as famílias da classe trabalhadora, são chamadas a atuar como parceiras na proteção e inclusão social. Destarte, cobra-se da família uma sobrecarga de responsabilidades, nas quais, cabem-lhe as despesas referentes à moradia, à saúde, alimentação, transporte, a geração de renda etc.

Ainda sobre as estratégias do capital, para Tavares (2004), a informalidade aparece como válvula de escape e possibilidade de sobrevivência, mas para, além disso, essa atividade se expande de forma integrada e subordinada aos ditames da produção capitalista. Nesta dialética, “o impulso da lei do valor ora convoca, ora libera os trabalhadores, ora os assalaria, ora explora sua força de trabalho na clandestinidade [...]” (TAVARES, 2004, p. 41). De maneira que, graças à terceirização9, a informalidade se torna uma estratégia funcional ao capital, haja vista que participa efetivamente da produção, sem atrair para si os custos do trabalho formal. Tornando, desse modo, a grande massa de excedentes e supérfluos para o capital, uma condição extremamente útil e lucrativa à acumulação capitalista.

Diante desses pressupostos teóricos, buscamos nos aproximar e apreender a dinâmica do objeto pesquisado, nos perguntando: Quem são os sujeitos do CRAS-Pajuçara? Como vivem? O que fazem? Os cursos profissionalizantes, desenvolvidos nos CRAS, contribuem para a inserção de trabalhadores na informalidade? O trabalho informal traz modificações para as condições sociodemográficas dos usuários dos CRAS? Se sim, quais? Em que e quais dimensões?

Na busca por delimitarmos o objeto deste estudo, os parâmetros utilizados para seleção dos CRAS foram os números de atendimentos e de cursos profissionalizantes, realizados nos oito CRAS existentes em Natal, no ano de 2010.

rebatimentos desastrosos no gerenciamento e condução das políticas sociais, na qual as privatizações, cortes drásticos nos investimentos dos recursos públicos e acirramento da desigualdade, são umas de suas principais marcas.

8 Tomando por base o conceito de Dias (1997, p. 14), o processo de reestruturação produtiva diz

respeito à permanente necessidade do capital de dar respostas as suas crises. Para tanto, é necessário “redesenhar não apenas a estruturação econômica, mas, sobretudo, reconstruir permanentemente a relação entre as formas mercantis e o aparato estatal que lhe dá coerência e sustentação”.

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(Ver APÊNDICE A). Ao cruzarmos os dados, constatamos que os CRAS-África e CRAS-Salinas, ambos localizados na zona Norte de Natal, se destacaram em relação ao número de cursos realizados; já os CRAS-Pajuçara e Guarapes realizaram o maior número de atendimentos. Feito isto, a fim de diversificar a amostra, decidimos expandir a pesquisa em zonas distintas dessa Capital.

Assim, o lócus da pesquisa empírica compreenderia, inicialmente, as zonas Norte e Oeste, os quais correspondiam aos Pajuçara e CRAS-Guarapes, respectivamente. Entretanto, frente aos longos cinco meses de espera, por um “parecer” favorável do Comitê de Ética da UFRN e, mediante outras interpolações que eclodiram no transcorrer do percurso dessa pesquisa, a exemplo da dificuldade de acesso ao CRAS-Guarapes, haja vista a distância do bairro, além do tempo-limite de que dispúnhamos para concluir o mestrado, optamos por trabalhar somente com um CRAS. Elegemos o que está localizado no Bairro Pajuçara, zona Norte do Natal, como campo empírico da referida pesquisa.

Frente a todas essas interpolações, decidimos focar as análises no CRAS-Pajuçara por termos iniciado, antes mesmo da aprovação do Comitê, as primeiras aproximações ao nosso objeto, no espaço socioinstitucional do referido CRAS. Nesse percurso, também pré-selecionamos os sujeitos da pesquisa e traçarmos estratégias para a localização dos entrevistados.

Optamos também por trabalhar no espaço socioinstitucional do CRAS, porque nele se inserem no Programa de Atenção Integral às Famílias (PAIF), tendo como uma de suas matrizes a atenção a todos os membros da família (mulher, idoso, jovem, criança e adolescente), e principalmente, por serem oferecidos nesses espaços, cursos profissionalizantes, a fim de “preparar” e/ ou “qualificar” a população usuária dos serviços dos CRAS, no enfrentamento da pobreza e desemprego. Aqui é pertinente esclarecer que esse não é o papel dos CRAS, nem muito menos, o que propõe os princípios e diretrizes da Política de Assistência Social. Assim, frente ao discurso ideológico da empregabilidade, cabe-nos investigar a quem, de fato, esse discurso atende e interessa. Seria mesmo, fazer frente ao desemprego e pobreza, ou fazer desse discurso, mais uma estratégia funcional a reprodução e acumulação do capital?

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emprego (pela via de atividades informais) e buscam nos CRAS, a materialização dos “cursos profissionalizantes”, como uma saída possível de superação ao desemprego. Para tanto, demarcarmos como recorte temporal da pesquisa empírica, os cursos profissionalizantes realizados no CRAS-Pajuçara, no intervalo de janeiro de 2010 a julho de 2011. Salientando que tal recorte temporal se deu por termos iniciado a coleta das informações, no referido CRAS, nesse intervalo. Do mesmo modo, por considerá-lo suficiente para abstrairmos as informações necessárias acerca do tema investigado.

As bases empíricas desta pesquisa foram viabilizadas por um recorte da realidade concreta de 10 sujeitos, partícipes dos serviços do CRAS-Pajuçara, lócus dessa análise, o qual é subsidiado e operacionalizado pela equipe da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), no Município do Natal, através do Departamento de Qualificação Profissional (DQP). Esses dez sujeitos foram pré-selecionados, dentre os participantes dos cursos profissionalizantes do CRAS-Pajuçara, no período de 2010 a 2011.

Registramos ainda que, as entrevistas da pesquisa em foco foram realizadas entre os meses de março a abril de 2012, e cada uma delas, teve, em média, 1 hora de duração. Utilizamos o recurso de gravação de áudio, com prévia autorização das entrevistadas, sendo formalizadas através da assinatura do “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” (TCLE) e, subsidiadas por anotações e informações in loco. (Ver APÊNDICE B).

A questão central que circundou essa pesquisa refere-se aos cursos profissionalizantes, no processo de inserção dos usuários do CRAS-Pajuçara, no trabalho informal. Buscou também apreender que direção social orienta as ações desenvolvidas com os usuários do CRAS/RN. Frente a isto, questiona: tais ações os libertam? Ou os escravizam, alienam e degradam?

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saída, mas sim, encontrar formas de dar funcionalidade e dinamicidade ao sistema, ajustando as engrenagens que estão a margem e que, dessa perspectiva, precisam se adequar a ordem, mesmo que de forma subalternizada e precária.

A perspectiva teórica que adotamos para a construção e apreensão do objeto de estudo se fundamenta na perspectiva histórica e de totalidade inaugurada por Karl Marx, por ser, até agora, a nosso ver, a única perspectiva teórica, capaz de apontar às contradições inerentes ao modo de acumulação, espoliação e dominação da sociedade capitalista.

Na tentativa de nos aproximarmos da realidade pesquisada, nos reportamos à análise quali-quantitativa, por entendermos que não há uma dicotomia entre elas, mas sim, uma fusão dialética no processo de pesquisa, de maneira que uma não exclui a outra. Embora haja, no âmbito da pesquisa social, a predominância de uma modalidade sobre a outra, sem, portanto, resultar em prejuízos na relação dialética entre ambas.

Recorremos aos estudos de Santos e Gamboa (2007) para ratificar a viva relação dialética, e não de incompatibilidade, entre as referidas modalidades de análise, no âmbito da pesquisa social, assim expressas:

[...] os métodos quantitativos e qualificados não são incompatíveis, pelo contrário, estão intimamente imbricados e, portanto, podem ser usados pelos pesquisadores sem caírem na contradição

epistemológica (SANTOS; GAMBOA, 2007, p. 51).

A presente pesquisa contou ainda, com análises bibliográficas (forma convencional e via acesso eletrônico), entrevistas semiestruturadas, mediante o uso de questões abertas e fechadas; além da utilização de dados quantitativos secundários (quadros, tabelas e estudos estatísticos).

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construção do perfil sociodemográfico das famílias usuárias do CRAS-Pajuçara. (Ver APÊNDICE C).

Além disso, no corpo desse trabalho, expomos grande parte das falas das entrevistadas, a fim de torná-las mais visíveis e inteligíveis ao leitor, que não acompanhou o momento da realização das entrevistas e nem a compilação dos seus dados. De maneira que oportunizasse uma melhor apreciação do leitor com as análises tecidas e apresentadas neste estudo.

Codificamos as falas das entrevistadas, com as letras do nosso alfabeto, variando de “A a J”. Elegemos esse código, de modo aleatório, visando garantir um tipo de identificação das falas dos entrevistados, e de mesmo modo, preservar o sigilo de suas identidades originais, tal como nos propusemos ao Comitê de Ética da UFRN. A estratégia de usarmos o roteiro de entrevistas se deu na tentativa de formularmos questões que possibilitassem alcançar ou nos aproximasse dos objetivos traçados na pesquisa. Através das falas dos sujeitos, partícipes dos cursos profissionalizantes do CRAS-Pajuçara, buscamos analisar se tais cursos contribuem para a inserção desses sujeitos no trabalho informal, apreendendo assim, algumas verdades e equívocos que circundam essa tênue relação.

Por tratar-se também de uma pesquisa documental, partimos de textos de várias naturezas: textos de referências conceituais, históricos, informações institucionais, estudos técnicos e relatórios estatísticos.

Dentre as diversas técnicas, indicadas como metodologias de uma pesquisa social, optamos fazer uso de “notas de campo”, a fim de nos subsidiar na sistematização das informações quanto à materialização dos cursos profissionalizantes, no âmbito do CRAS-Pajuçara. Entretanto não conseguimos fazer uso dessa técnica, para esse fim, tal como planejamos.

Uma das primeiras dificuldades, durante a fase da pesquisa empírica no CRAS, foi que nenhum curso profissionalizante fora realizado. Nisto, registramos anotações (diário de campo) referentes à dinâmica do CRAS, bem como algumas impressões vivenciadas na coleta das entrevistas, mas as sinalizações para o uso dessa técnica fora pensado, inicialmente, no acompanhamento dos cursos.

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explorado”, exigiram da pesquisadora, persistência nas “escavações teóricas”, coragem e afinco no trato da aproximação do real, além de disciplina e vontade, na tentativa de apreender as minúcias que constitui o objeto investigado.

Entendendo que “a realidade é sempre infinita” (LÖWY, 2008, p. 16), portanto, inesgotável, a realidade social deve ser analisada como uma totalidade contraditória e articulada. Deste modo, não se pode entender um fenômeno ou qualquer dimensão da vida social, sem considerar o princípio teórico-metodológico da totalidade, historicidade e contradição.

Iniciamos a quarta seção deste trabalho dissertativo, apresentando aspectos estruturais e o índice sociodemográficos da cidade do Natal, bem como tentamos elevar as suas belezas e riquezas naturais, as quais trazem vida e admiração aos olhos de quem a vê. Entretanto, para além do deslumbre e contemplação de imagens ditas “cartões postais” da capital, há uma realidade complexa, perversa, feia, sem cor e brilho. Essa não aparece nos encartes de propaganda ou slogans para atrair turistas. Tal é o cenário com o qual nos deparamos na realidade cotidiana da comunidade do Pajuçara, campo empírico dessa pesquisa. Semelhantes aos demais bairros periféricos da capital, ali também residem, os que mais sofrem com as agruras da pobreza, ineficiência ou quase inexistência de serviços públicos, gratuitos, contínuos e de qualidade.

Na perspectiva de aproximação ao objeto em análise, adentramos no Bairro Pajuçara imbuídas de expectativas diversas. O medo do que iríamos encontrar em um bairro pouco conhecido pela pesquisadora, uniam-se as muitas incertezas do universo institucional. Como seríamos recebidos? Tanto pela comunidade quanto pela equipe do CRAS? Encontraríamos ali, as saídas e sinalizações necessárias para o arcabouço do objeto em análise?

Somada a todas essas apreensões, o referido bairro, deixou-nos marcas profundas, frutos da violência urbana, sendo, pois, cenário da morte de um amigo, no ano de 2009. O que durante a fase da pesquisa empírica, remontou a dor de uma perda, aguçou saudades de um “irmão-camarada”, que aos 24 anos teve sua vida violentamente ceifada, de modo fútil e injustificável...

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Assim, na tentativa de apreender o real, partimos do pensamento de Yazbek (2012, p. 292) no trato da aproximação do universo empírico:

Abordar aqueles que socialmente são constituídos como pobres é penetrar num universo de dimensões insuspeitadas. Universo marcado pela subalternidade, pela revolta silenciosa, pela humilhação e fadiga, pela crença na fidelidade das gerações futuras, pela alienação e resistência e, sobretudo pelas estratégias para melhor sobreviver, apesar de tudo.

Em face desse entendimento, no que concerne a fase das entrevistas, essa transcorreu de modo inusitado, não planejado, mas surpreendente e enriquecedor. Haja vista que, frente aos muitos percalços enfrentados juntos ao Comitê de Ética da UFRN, protelamos mais do que o previsto, o contato com os sujeitos da pesquisa. Agregado a isto, contávamos realizar as entrevistas na própria unidade do CRAS, no entanto, tivemos dificuldades em contatá-los, através dos endereços e contatos viabilizados nas fichas de cadastro do CRAS-Pajuçara. Isso, porque muitos deles mudam frequentemente de endereço e não atualizam os novos dados junto a Instituição. Então, a saída possível para encontrarmos os sujeitos dessa pesquisa, fora “lançar à sorte” e sair em busca deles, tendo como norte, apenas, o endereço do cadastro e um “mapa guia” do Bairro-Pajuçara.

Desse momento externamos: “mais difícil que delimitar o objeto em análise, é localizar os sujeitos da pesquisa”, tamanho era o interesse em encontrá -los. Somente, a partir da primeira entrevista marcada e realizada, “a maré foi baixando”, e entre um contato aqui, uma indicação acolá, e após longas andanças em vielas, ruas e avenidas do Bairro-Pajuçara, os sujeitos foram sendo localizados e as entrevistas concretizadas. Sobre os sujeitos desse estudo, reportamo-nos a Zaluar (1985, p.15), para dizer:

[...] Se nada nos garante o direito de perturbar-lhe a vida no espaço que eles concebem como o de sua liberdade (a casa, o bairro), só nos resta concluir que contamos também com a paciência e a generosidade do nosso objeto.

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objeto proposto. Suas lutas diárias frente à pobreza, o desemprego e o descaso diante da problemática da segurança pública foram questões mais evidenciadas e percebidas naquela comunidade. Além disso, os “muros invisíveis” do tráfico de drogas também têm vez, comando e espaço no referido bairro.

Cenas de um sábado ensolarado, ainda estão vivas em nossa memória, quando na busca por mais uma entrevista, adentramos na chamada “Baixada do Pajuçara”, ou seja, um dos “guetos do tráfico”, e como muito temor, sentíamo-nos “vigiados” por olhares firmes e “amarelados”, enquanto localizávamos a residência de mais uma entrevistada.

O medo da pesquisadora se acentua, ao se deparar com uma escolta policial que, naquele momento, checava uma denúncia de “ponto de droga”. Situação corriqueira para os que ali residem, mas para a pesquisadora, tratava-se de um estopim da violência, prestes a desvencilhar a qualquer momento. Até que, um pouco mais a adiante da “batida policial”, ouvimos o chamado da entrevistada a qual estávamos à procura, que disse: “entre, entre, minha filha”. Ao nos proteger por trás de um muro de concreto, experimentamos certo alívio. Esperamos a “poeira baixar” e, só assim, começamos a entrevista. Registramos que as demais entrevistas transcorreram de modo tranquilo e sem nenhum temor e tremor a vista.

Durante as entrevistas, ouvimos dramas diários, tendo o cuidado de não nos levar pela piedade e muitas solicitações, que desemboca das relações firmadas no paternalismo e assistencialismo, ao mesmo tempo em que, recusa a dignidade deles (ZALUAR, 1985). Ao nos apresentar como assistente social, diversos questionamentos nos eram feitos, quase sempre em torno de orientações e esclarecimentos da oferta dos cursos profissionalizantes, condicionalidades e benefícios do Programa Bolsa Família.

É interessante acrescentar que, em quase todas as entrevistas in loco

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medo aparente, por parte dos companheiros das entrevistadas, que elas relatassem algo que comprometesse o recebimento do benefício.

A referida reação nos suscitou a pensar: que iniciativa estatal é esta que amedronta e engessa os seus usuários? Os obriga e constrange a dizer até quanto ganham e como administram o seu rendimento mensal? Categoricamente, podemos afirmar: esse não é o modelo de política social pelo qual o Serviço Social brasileiro defende e luta. Muito embora, práticas semelhantes a essas, ainda contornam os moldes da assistência social na conjuntura atual, inclusive, na capital natalense. É preciso, então, posicionar as políticas sociais para além da “gestão da pobreza”, aliás, teceremos algumas incursões sobre isto ao longo deste trabalho dissertativo.

A exposição dos resultados alcançados com o objeto de estudo desta pesquisa estará estruturado e organizado em cinco seções. Sendo que nessa primeira seção, além de contar com os pontos introdutórios, aqui apresentados, estão expostos os objetivos elencados nessa pesquisa, além da justificativa que nos levaram a dedicar-nos ao tema proposto.

Na segunda seção, abordamos algumas considerações sobre a questão social e a pobreza no Brasil, ao mesmo tempo em que, buscamos apreender os efeitos da crise do capital e suas implicações nas políticas sociais na conjuntura brasileira.

Na terceira seção, ainda na busca em nos aproximar do nosso objeto de pesquisa, debruçamo-nos em apreender, o que consideramos o pano de fundo desse estudo: as implicações das verdades e equívocos que permeiam o discurso da empregabilidade o qual ganha cena no campo da assistência social. Para tanto, trouxemos para o debate a atuação do Estado na trajetória da assistência social, como também apresentamos incursões referentes à problemática do trabalho informal, para assim tratar da curiosa interface entre a informalidade e a assistência social, buscando identificar se essa relação, de fato, é funcional aos interesses do capital e quais elementos constituem tal afirmativa.

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pobreza acentuada, em um cenário, em que o Estado pouco aparece e quando o faz, aparece de modo residual, pulverizado e insipiente. E, por conseguinte, na quinta e última seção, teceremos as nossas considerações finais do estudo proposto.

Ressaltamos que a realização da pesquisa empírica, deste estudo, não poderia ser concretizada, sem a disponibilidade das entrevistadas, usuárias dos serviços do CRAS-Pajuçara. Desses sujeitos sociais, apreendemos relatos emocionantes, outros surpreendentes e até estarrecedores, frente às condições de privações de vida que muitos deles vivenciam. Porém, dotados de autenticidade e sinceridade, a esses devemos total reconhecimento, gratidão e respeito.

Frisamos ainda que os relatos apresentados, bem como a análise dos dados empíricos, não serão tratados com a intenção de tecer nenhum julgamento de valor aos profissionais inseridos na dinâmica do CRAS, nem muito menos, culpabilizar a classe aviltada pela pobreza, que a esse espaço institucional recorrem, em busca de respostas e aquisição de seus direitos. Contrariamente a isso, o presente estudo visa refletir, de maneira geral, sobre a efetividade dos cursos profissionalizantes oferecidos aos usuários da assistência social, e os desdobramentos dessa intervenção estatal, no enfrentamento da pobreza e desemprego, na conjuntura natalense.

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2 A QUESTÃO SOCIAL E A POBREZA NO BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES E IMPLICAÇÕES

Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.

(Karl Marx)

Tratar a questão da pobreza e da desigualdade na sociedade capitalista, sociedade que tende a despolitizar e naturalizar tais fenômenos configura-se como um grande desafio. Isso porque, na sociedade brasileira, as ações relacionadas à questão da pobreza e da inclusão precária de milhares de pessoas via políticas sociais, se mostram ainda tímidas e focalizadas, desse modo, abrem espaço para práticas filantrópicas cada vez mais expressivas. Diante disto, partimos da discussão do surgimento da questão social nas formações sociais capitalistas e, em particular no Brasil, para buscarmos evidenciar as mudanças, avanços, limites e possibilidades que circundam as estratégias de “enfrentamento da pobreza” pela via das políticas sociais.

2.1 DO PAUPERISMO À EMERGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL

Considerando pobreza10 e desigualdade inerentes a constituição da questão social, tomamos essa última como categoria de análise na perspectiva de desvendar sua particularidade na realidade social brasileira. Compreender o modo como a sociedade (re)produz a vida e as relações sociais de produção é condição fundamental para o desvelamento da (re)produção da pobreza e desigualdade social na contemporaneidade.

Ao analisar o surgimento da expressão “questão social”, Netto (2001a) afirma que esse termo existe há cerca de 170 anos, e começa a ser utilizado, por

10 Para Martins (1991), a pobreza excede as carências de bens materiais. É, portanto, uma categoria

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volta da terceira década do século XIX. Eclode, para dar conta do fenômeno do

Pauperismo, considerado como o fator mais evidente da história da Europa Ocidental, no momento em que se experimentavam os primeiros impactos da industrialização, mais precisamente na Inglaterra, em meados do século XVIII.

O fenômeno do pauperismo refere-se à situação de empobrecimento em que se encontrava grande parte da população trabalhadora, no contexto da industrialização, na mesma proporção em se dava o aumento descomunal da riqueza. Assim, “a pauperização massiva da população trabalhadora constitui o aspecto mais imediato do capitalismo em seu estágio industrial-concorrencial” (NETTO, 2001a, p. 42).

Com o capitalismo e o desenvolvimento da indústria, se acirra a exploração no mundo do trabalho. Mudam-se as relações de trabalho e as formas de sociabilidade. Sobre essa questão Netto (2001a, p. 42) vai dizer:

[...] se não eram explícitas as desigualdades entre as várias camadas sociais, se vinha de muito longe a polarização entre ricos e pobres, se era antiquíssima a diferente apropriação e fruição dos bens sociais, era radicalmente nova, a dinâmica da pobreza que então se generalizava.

Isso nos esclarece que no contexto da industrialização, a pobreza crescia em uma razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas. De modo que quanto mais a sociedade se mostrava capaz de produzir bens e serviços, mais crescia o contingente de “despossuídos” das condições materiais de vida (NETTO, 2001a). Portanto, quanto mais a sociedade do capital se desenvolve, ou seja, produz bens e riquezas, em maior quantidade e diversidade, mais se intensifica a pobreza.

Ainda no âmbito dessa questão, nos amparamos em Marx (1985, p. 209)

para demonstrar que o pauperismo expressa:

[...] o asilo dos inválidos do exército ativo de trabalhadores e o peso morto do exército industrial de reserva. Sua produção está incluída na produção da superpopulação relativa, sua necessidade na necessidade dela, e ambos constituem uma condição da existência da condição capitalista e o desenvolvimento da riqueza.

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fundada nos interesses do capital. Dito isso, o estudo da pobreza não deve ser reduzida ao resultado da distribuição de renda, antes, deve ser associada diretamente ao processo produtivo que se instituiu na dinâmica do capitalismo.

Em face da consolidação do modo de produção capitalista, a luta de classes representava uma ameaça à ordem instituída, quando os trabalhadores começaram a se organizar e reivindicar melhores condições de vida e salário. O protesto dos pauperizados também explicitava a indignação com as múltiplas formas de exploração no mundo do trabalho. A fase de mobilizações e protestos contrariava os interesses da ordem burguesa que se consolidava desde o início do século XIX, configurando-se, desta forma, como “uma ameaça real às instituições sociais existentes” (NETTO, 2001a, p. 43).

Assim, o cerne da questão que designa a passagem do termo pauperismo para questão social, se dá a partir do inconformismo de exploração e dominação, instituída pelos pauperizados à ordem burguesa, somado a preocupação dos conservadores com a repercussão das reivindicações da classe trabalhadora. Sob essa ameaça, a ala conservadora-burguesa, logo procurou um termo que suavizasse a questão da pobreza, a fim de amenizar ou obscurecer os efeitos dela. A partir disso, é que o termo questão social passa a ser usado, inicialmente, pelo pensamento conservador, tornando-se conhecido também pelos pensadores de esquerda.

Ainda sob essa perspectiva, o processo de acumulação capitalista, o aumento da produtividade operado, em parte, pela incorporação de aparatos tecnológicos tem engendrado mudanças na composição técnica e de valor do capital, haja vista, que reduz, proporcionalmente, o emprego da força viva do trabalho (IAMAMOTO, 2004). Essa incorporação técnico-científica, ao processo produtivo, contribui para automatizar a produção do trabalho e a rotação do capital, permitindo assim, uma ampliação na taxa de lucratividade, e desse modo, há concentração e centralização de capitais, impulsionados pelo crédito e pela concorrência. E nessa direção, se amplia a escala da produção, “reduz-se o tempo de trabalho socialmente necessário à produção de mercadorias” (IAMAMOTO, 2004, p. 14), ampliando simultaneamente, o tempo de trabalho excedente ou mais-valia11.

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Nessa envergadura, a pobreza e miséria são fenômenos complexos e multifacetados, que dizem respeito a situações em que, em determinados contextos socio-históricos, as necessidades básicas não são atendidas de forma adequada.

Segundo Mendonça (2003) são duas as linhas com as quais podemos conceituar a pobreza e a miséria. No que concerne à primeira, seria a condição na qual o indivíduo não detém a renda mensal necessária para arcar com os custos considerados mínimos à sua sobrevivência, como alimentação, moradia, transporte e vestuário. Estariam no patamar da miséria ou indigência, as pessoas cujo rendimento não supre nem a necessidade primária da alimentação. Cabe ratificar que as necessidades anteriormente indicadas são determinadas histórica e socialmente. Já a desigualdade social diz respeito não apenas a distribuição de produtos - embora tenha a “malha” da renda como a variante mais importante - remete ao lugar que os indivíduos ocupam na sociedade regida pela exploração do trabalho (KRAYCHETE, 2005).

Assim, tais noções permitem explicitar as condições de vida de uma parcela significativa da população brasileira que, por meio da venda de sua força de trabalho, não tem suas necessidades básicas atendidas. São fenômenos intrínsecos, portanto, à denominada questão social que:

[...] diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação privada da própria atividade

humana – o trabalho [...]. É indissociável da emergência do

„trabalhador livre‟ que depende da força de trabalho como meio de satisfação de suas necessidades vitais (IAMAMOTO, 2004, p. 17).

É, pois, no contexto da Revolução de 1848, que a discussão sobre questão social, paulatinamente, perde força, tanto do ponto de vista do pensamento laico como das bases mais tradicionais da sociedade, e aos poucos foi sendo naturalizada. Netto (2001a), afirma que a explosão de 1848 não afetou somente as expressões ideais (culturais, teóricas, ideológicas) do campo burguês, mas feriu as bases da cultura política que norteava até então, o movimento dos trabalhadores. Um dos resultados dessa Revolução foi à “passagem em nível histórico-universal do

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proletariado, da condição de classe em si à classe para si” (NETTO, 2001a, p. 44). A partir daí, os trabalhadores ascenderam no seu processo de luta à consciência política, percebendo então, que a questão social está diretamente relacionada à organização da sociedade burguesa. Cabe-nos afirmar, portanto, que os trabalhadores entenderam que somente a supressão dessa última conduz a supressão da questão social (NETTO, 2001a).

Assim, o entendimento dos fundamentos da questão social, sua complexidade, seu caráter intrínseco ao desenvolvimento capitalista em todos os seus estágios, pressupõe a análise da “lei geral de acumulação”. Para tanto, reportando-nos a NETTO (2001a, p. 45), é preciso considerar que:

O desenvolvimento capitalista produz, compulsoriamente, a „questão

social‟ – diferentes estágios capitalistas produzem diferentes manifestações da „questão social‟; esta não é uma sequela adjetiva ou transitória do regime do capital: sua existência e suas manifestações são indissociáveis da dinâmica específica do capital tornado potência social dominante. A „questão social‟ é constitutiva do desenvolvimento do capitalismo. Não se suprime a primeira conservando-se o segundo

Essa análise mostra-nos a estreita relação da questão social com a organização da produção capitalista, que gera exploração, competição e acentua a desigualdade na apropriação da riqueza socialmente produzida. Além disso, Netto (2001a) destaca que a questão social é continuamente gerada na relação capital-trabalho, ou seja, sob o prisma da exploração.

A partir dessas considerações, inferimos que, historicamente, a questão social relaciona-se à emergência da classe operária e seu ingresso no cenário político por meio das lutas sociais, em defesa dos direitos trabalhistas, exigindo o seu reconhecimento como classe pelo bloco no poder, principalmente, pelo Estado. De fato, as lutas sociais contribuíram para o rompimento do domínio privado das relações entre o capital e o trabalho, expandindo a questão social para a área pública. Isso significou que os trabalhadores passaram a exigir a interferência do Estado no reconhecimento e legalização dos seus direitos como sujeitos sociais.

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O surgimento das políticas sociais foi gradual e diferenciado entre os países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças produtivas, e das correlações e composições de força no âmbito do Estado. Os autores são unânimes em situar o final do século XIX como o período em que o Estado Capitalista passa a assumir e a realizar ações sociais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade.

Nesse contexto histórico, as políticas sociais se multiplicaram lentamente e se generalizaram no início do período da expansão do capitalismo, após a Segunda Guerra Mundial, o qual teve como substrato a própria guerra e o fascismo (BOSCHETTI E BEHRING, 2006, p. 69). As classes dominantes percebem também que as ações sociais do Estado poderiam dinamizar a economia. Assim, na tentativa de encontrar formas para incrementar a rotação e manutenção do capital e, ao mesmo tempo, responder às reivindicações das classes trabalhadoras é desenvolvido os modelos de proteção social.

Aqui é pertinente retornarmos ao receituário Keynesiano, cujo mentor Jonh Maynard Keynes, defendia que o equilíbrio entre oferta e demanda só seria assegurada se o Estado pudesse intervir ou regular a economia, a fim de garantir os gastos dos consumidores, investidores e do poder público. Para Keynes não era a liberdade do mercado que faria com que a oferta criasse a sua própria demanda, mas somente, as condições peculiares do “pleno emprego”, movido pelo mercado. Segundo Brandão (1991), isso significava que se uma dada economia se encontrasse com a produtividade inferior a capacidade de gerar trabalho na sociedade, o Estado, por meio de uma política econômica poderia elevar as taxas de produtividade. Essa política visava, então, o aumento de consumo, haja vista que a alta taxa de consumo, implicaria em incentivos de investimentos no âmbito da produção.

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No entendimento de Keynes, o Estado, atuando como um agente externo em nome do bem-comum teria legitimidade para intervir por meio de um conjunto de medidas econômicas e sociais, visando disponibilizar meios de pagamentos e dar garantias aos investimentos, até mesmo, contraindo déficit público, para controlar o volume de moeda disponível e as flutuações econômicas. Sobre isso BEHRING e BOSCHETTI (2006, p. 8), ainda acrescentam:

[...] cabe, portanto, ao Estado, a partir de sua visão de conjunto, o papel de restabelecer o equilíbrio econômico por meio de uma política fiscal, creditícia e de gastos, realizando investimentos ou inversões reais que atuem nos períodos de depressão como estímulo à economia.

O Estado, portanto, na perspectiva Keynesiana passa a ter um papel ativo na administração macroeconômica, ou seja, na produção e regulação das relações econômicas e sociais. Isso significa que, o “bem-estar” deveria ser buscado, individualmente, no mercado. Embora continue sendo legítima a intervenção do Estado na área econômica, a fim de garantir a produção, e no âmbito social, sobretudo, no atendimento das pessoas consideradas incapazes para o trabalho. Fruto dessa intervenção global permite-se e incentiva-se o incremento das políticas sociais.

Assim, na busca pela otimização da produção, o Fordismo tinha como perspectiva combinar produção em massa com consumo de massa. Isso suscitava um novo sistema de reprodução da força de trabalho, aliada “a uma política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia”, ou seja, um novo tipo de sociedade, racionalizada e moderna (HARVEY, 1993, p. 212). Já Gramsci (2001), percebe o Fordismo para além da dimensão econômica, com seu impulso voltado ao processo de extração da mais-valia-relativa12.

Para Behring e Boschetti (2006), a articulação existente entre o consumo de massa e produção em massa, incidiu no controle sobre a vida de consumo dos trabalhadores. De maneira que, em 1916, Heuri Ford contratou assistentes sociais para garantir esse controle objetivando “gerar entre os trabalhadores padrões de

12 É o que fez do capitalismo o modo de produção mais dinâmico de todos os tempos, transformando

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Gráfico 1: Incidência da população brasileira em situação de extrema pobreza  por domicílio
Tabela 6: Formas de inserção no mercado de trabalho
Figura  4:  Praçinha  de  lazer  -  Bairro:  Pajuçara  (Fonte:  pesquisa  de  campo,  abril/2012)
Tabela 1: Faixa etária dos entrevistados - CRAS/Pajuçara
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