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2 A QUESTÃO SOCIAL E A POBREZA NO BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES E IMPLICAÇÕES

2.3 CRISE DO CAPITAL E SUAS IMPLICAÇÕES NAS POLÍTICAS SOCIAIS

Na contemporaneidade, várias transformações são verificadas no mundo do trabalho, a partir dos anos de 1970, com destaque para a flexibilização dos processos de trabalho, a informalidade, a precarização das garantias sociais, a redução de postos de trabalho, dentre outros. Estas são estratégias do capital para enfrentar suas crises e assegurar sua reprodução ampliada. Consideramos que as mudanças em curso, no mundo da produção e da reprodução das relações sociais afetam diretamente o âmbito familiar, com incidência direta e particular nas condições de vida e materiais das famílias da classe trabalhadora. Diante disto, consideramos basilar o entendimento da crise do capital neste processo.

Para tanto, fazendo referência ao estudo desenvolvido por Behring e Boschetti (2006), sobre a crise do capital e suas implicações nas políticas sociais, as autoras vão expor que o enfraquecimento das bases do liberalismo24, ocorreu ao

longo da segunda metade do século XIX e perdurou até o início do século XX, como resultados de alguns processos político-econômicos ocorridos nestes períodos.

Um deles refere-se ao crescimento do movimento operário que não se deixou calar ou intimidar pela classe burguesa, passando a assumir espaços políticos e sociais de destaque como o parlamento. Em face disto, obrigou a burguesia a reconhecer direitos de cidadania política e social para segmentos da classe trabalhadora.

Destacamos, ainda, e de maneira emblemática, a atuação do “movimento socialista”, particularmente a partir de 1917, com a experiência Russa, cujo efeito implicou no fortalecimento do movimento operário internacional. Além das mudanças no âmbito da produção, o surgimento do Fordismo culminou por exigir uma atitude defensiva do capital, visto que tais mudanças suscitaram em maior poder coletivo da classe trabalhadora, passando a requisitar acordos coletivos de trabalho e participação em parte dos lucros da produção.

Outro processo que culminou no enfraquecimento das bases do liberalismo foi à concentração e monopolização do capital. De maneira que cada vez mais o mercado passa a ser liderado por grandes monopólios, ao mesmo tempo em

24 Política econômica, que nasce com o capitalismo, cujo discurso defende a intervenção mínima do

Estado na regulação da economia, defendendo a abstenção do Estado também no campo das políticas sociais. Seria a ação reguladora do mercado na sociedade, que traria o equilíbrio social e recompensaria os esforços diferenciados dos indivíduos. A este respeito ver: (BRANDÃO, 1991).

que, a criação de empresas passa a depender de grandes investimentos, empréstimos e de dinheiro dos bancos. Dando vazão a uma “verdadeira fusão entre o capital bancário e o industrial”, eclodindo assim, o lastro do capital financeiro (BEHRING e BOSCHETTI, 2006, p. 68).

Neste contexto, o sistema capitalista sofre sua primeira grande crise no “palco” do sistema financeiro americano, no ano de 1929, data que mundialmente tornou-se emblemática, como o primeiro dia de pânico da Bolsa de Nova York. Sobre isto, as autoras expõem que as implicações da crise do capital se alastram pelo mundo, reduzindo o comércio a um terço do que o era registrado antes da crise. Esta crise suscitou também a desconfiança dos pressupostos do liberalismo, repercutindo diretamente no desemprego em massa, além da legitimidade política do próprio capitalismo (BEHRING; BOSCHETTI, 2006).

Segundo Mandel (1982), o período de expansão do capitalismo se notabiliza pelo crescimento da composição orgânica do capital (K= kv+ kc)25, como também da taxa de mais-valia e ainda pela possível queda dos preços das matérias- primas. Entretanto, os avanços do capitalismo geram os seus próprios obstáculos, na medida em que se intensifica a resistência do movimento operário, ao processo crescente de exploração que tende a diminuir o capital variável (força de trabalho) e aumentar o capital constante (matéria-prima e meios de produção).

Para Salvador (2010, p. 53), o cenário da crise do capital incide em mudanças na relação capital-trabalho, trazendo implicações diretas para o financiamento da seguridade social, uma vez que as contribuições de empresas e empregados passam a ser canalizados para os fundos de pensão fora do campo estatal. O mesmo pode ser visto com a oferta dos serviços da saúde, via mercado, o que implica em uma canalização de recursos para seguradoras privadas, as quais, de maneira incisiva e estrategicamente, movimentam o sistema financeiro.

A referida assertiva evidencia que a financeirização resulta em pressão sobre a política social, sobretudo, nas instituições da seguridade social. Desta forma, as propostas neoliberais incluem as transferências de proteção social do âmbito estatal para o mercado, e assim, a liberalização financeira implica na privatização dos benefícios da seguridade social, que são transformados em mais um produto

25 A composição orgânica do capital se dá a partir da junção entre Capital variável (Kv) e Capital

financeiro, tornando-os reféns das crises do sistema financeiro internacional (SALVADOR, 2010).

Em face disto, as políticas sociais como a educação, a previdência social, a assistência social e outros serviços que foram conquistados e garantidos pela Constituição de 1988, estão imbuídos nas “armadilhas” do capital e sob a ideologia neoliberal. Destarte, os serviços sociais são cotidianamente, sucateados, precarizados e estrategicamente cooptados para servir e nutrir os interesses do mercado. Nisto, o capital, nos revela exatamente ao que se propõe e para o que veio – degredar, alienar, explorar e acumular riqueza – apropriando-se do campo social, sobretudo, das políticas sociais, como uma de suas estratégias para expansão e acumulação de capital.

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2009, citado por Salvador (2010), divulgou, com base nas medidas anunciadas por 32 países contra a crise, que o montante destinado a “pacotes de estímulo” para o emprego chegou a US$ 1,19 trilhão. Destes, apenas 1,8% do total foi investido em ações de proteção social, e somente, 9,2% das despesas foram destinadas a promover o emprego. A OIT destaca ainda o Brasil como sendo um dos países em que os desempregados têm menor proteção social, apesar dos trabalhadores serem os mais atingidos pela crise. Exemplos desta afirmativa são as perdas salariais registradas ao longo dos anos e que se perpetuam, no contexto das últimas contrarreformas26 do Estado, afetando, cotidianamente e de maneira perversa, as relações e condições de vida da classe trabalhadora.

Referente a isto, Salvador (2009) expõe que no Brasil, nos três meses de maior impacto da crise foram eliminados 756 mil postos de trabalhos, revelando assim, a fragilidade das relações contratuais de trabalho, ou seja, pouca durabilidade de ocupações no mercado de trabalho, impulsionando assim, o crescimento do exército industrial de reserva e o acréscimo contínuo de contratações temporárias, com remunerações ínfimas.

O capital, então, apropria-se cada vez mais das fragilidades que circundam as relações contratuais de trabalho, para gerar “lucro fácil”, explorando mão-de-obra barata e sucateando os direitos dos trabalhadores. Oferece-lhes como

26 Esta terminologia é utilizada por Elaine Behring para denominar o processo de reforma do Estado

Brasileiro, nos anos de 1990 a 2000, enfatizando o seu caráter repressivo. Para aprofundamento ver Behring (2003).

contrapartida, apenas um salário que desqualifica a força do trabalho aplicada na realização do trabalho. Para Antunes (2005), o capital “cria, mas também subordina, humaniza e degrada, liberta e escraviza, emancipa e aliena” o trabalho humano, tornando-o cada vez mais conflituoso e contraditório.

Ainda sobre a crise do capitalismo, concordamos com o pensamento de Mandel (1990) o qual expressa que esta é mais uma crise, provocada pela acumulação do próprio capitalismo. Parafraseando as palavras de Mészáros27 (2009), trata-se, pois, de uma crise estrutural do capitalismo em sua permanente, expansionista, destrutiva e incontrolável busca por superlucros. Destarte, o capitalismo, desde sua gênese passa por crises estruturais, cujas medidas de enfrentamento, se diferenciaram mediante o seu grau de desenvolvimento, as formas de organização das classes sociais e as formas de constituição e desenvolvimento do Estado em dado momento histórico (BOSCHETTI, 2010).

No Brasil, por exemplo, a crise dos anos 70 do século XX, chega no momento em que o país vivencia “um processo de restituição do Estado democrático” (BOSCHETTI, 2010, p. 69), período marcado pela ampliação dos direitos conquistados com a constituição de 1988, logo após um longo e difícil período de regime militar (1964-1985). Há que se assinalar que o período ditatorial foi marcado pela implantação de políticas sociais caracterizadas como “tecnocratas, centralizadoras e autoritárias” (BOSCHETTI, 2010, p. 70). Deste modo, as contrarreformas28 implementadas a partir dos anos 1990, deixaram marcas profundas nas políticas de seguridade social, cujos efeitos são devastadores e os impactos também são sentidos, em tempos de crise atual.

Segundo Boschetti, a crise do início do século XX (1929) foi a primeira grave crise estrutural do capitalismo após a Revolução Industrial, colocando em xeque o que ainda restava do capitalismo concorrencial. Naquele momento, as medidas adotadas para conter a crise somavam-se ao abandono do liberalismo ortodoxo29 e a adoção de algumas medidas econômicas e sociais.

27 A rigor, este autor em sua obra “a crise estrutural do capital”, faz uma profícua e substanciosa

análise sobre a crise do capital no contexto globalizado. Para maiores aprofundamentos ver: Mészáros (2009).

28 Para um maior aprofundamento sobre as contrarreformas, implementadas desde 1990, no âmbito

da seguridade social ver Behring e Boschetti (2006), Araújo (2004) e Boschetti (2003). Em tempo discorreremos sobre os efeitos destas contrarreformas na conjuntura atual.

29 Defendia a não intervenção do Estado na sociedade, em que o mercado seria o auto-regulador das

Nesta conjuntura, as medidas criadas para conter a crise se sustentaram em três pilares clássicos: o primeiro, já apontado anteriormente, objetivava garantir o consumo e para isso foi necessário produzir mercadoria barata e em larga escala, a fim de que “todos” se tornassem um consumidor em potencial. Para tanto, o consumo em massa precisava ser garantido a partir da produção em massa. Esta estratégia manteria a “lógica de produção e reprodução das mercadorias” (BOSCHETTI, 2010, p. 66), o que foi obtido através do modelo fordista.

O segundo pilar, apontado por Boschetti (2010) trata-se do padrão Keynesiano de regulação econômica e social, o qual contribuiu satisfatoriamente para assegurar o consumo em massa, instituindo políticas de regulação econômica, mediante intervenção estatal na geração de empregos, seja, no setor público ou privado, garantindo a ampliação dos rendimentos, por via direta, com a geração de empregos, aumento dos rendimentos e salários, e ainda pelo viés indireto, por meio das políticas sociais. Assim, as políticas sociais se tornaram medidas essenciais na resposta à crise de 1929 e após a Segunda Guerra Mundial, a partir dos pressupostos do Keynesianismo, constroem-se os Welfare States europeus.

Neste contexto, a ampliação do papel do Estado na prestação de serviços vinculados as políticas sociais com destaque para a saúde, previdência social, educação e programas sociais, asseguraram não apenas o emprego no setor público, mas também a ampliação indireta dos salários. Com isto, o acesso às políticas sociais (serviços sociais públicos e gratuitos) liberaria “parte dos salários”, impulsionando, assim, o consumo em massa.

O terceiro pilar, sinalizado pela autora, decorre do anterior, pois tais direitos não poderiam comprometer o padrão de acumulação capitalista, ou seja, esses direitos assegurariam e legitimariam acumulação e reprodução do capital. Desta maneira, os direitos de cidadania não são incompatíveis com os interesses do capitalismo, antes serviram de base para sustentá-lo e mantê-lo.

Nesse sentido, as políticas sociais e a ampliação dos direitos se deram por embates de forças sociais em disputa, entre a perspectiva social-democrática de gestão da crise de 1929 e a perspectiva de luta coletiva, organizada pela classe trabalhadora para a ampliação dos direitos e melhorias das condições de vida e de trabalho. Referente a isto, Boschetti (2010, p. 68) acrescenta:

Foi no limite entre a conquista de direitos e a (re)estruturação do capital que os direitos sociais foram reconhecidos e legalmente as políticas sociais se expandiram. Isso significa reconhecer que os direitos sociais são capitalistas e sua ampliação não assegura a emancipação humana, mas podem contribuir para criar as condições materiais para a melhoria das condições de vida.

Marx, dentre as suas muitas contribuições teóricas, já previa que as conquistas dos direitos sociais não eliminam o capitalismo, nem tão pouco, possibilita a sua superação, “mas reconhecia que os ganhos do trabalho impõem limites aos ganhos do capital” (BOSCHETTI, 2010, p. 69). Destarte, as conquistas da classe trabalhadora implicaram em reduções de lucros do circuito do capital, eclodindo pequenas crises entre a década de 1930 e o final de 1960 e a partir disso, uma nova e aguda crise estrutural assola o sistema capitalista, em meados dos anos 1970.

Os neoliberais, portanto, responsabiliza por esta nova crise, a ampliação dos direitos sociais, das políticas sociais e das conquistas da classe trabalhadora no âmbito do trabalho, no período conhecido como “anos de ouro do capitalismo” (BOSCHETTI, 2010).

Assim, as medidas tomadas para conter as crise de 1969/73, nem de longe tocou nos fundamentos de regulação do capitalismo, antes remonta os princípios liberais, instituindo o avanço nefasto do neoliberalismo. Desta maneira, os ideais neoliberais culminaram em fortes retrocessos aos direitos conquistados pela classe trabalhadora, com implicações diferenciadas nos países do capitalismo central e periféricos.

Nesta envergadura de superação de crise do capital, Freire (2010), tecendo análises referentes ao processo de reestruturação produtiva afirma que este se solidifica no Brasil, na vigência do governo Collor de Melo em 1989, em uma face de intensa competitividade, ocasionado pelo mercado globalizado no cerne do estágio da acumulação flexível do capital. É, pois, neste processo em que a flexibilidade em graus variados torna-se palavra de ordem em oposição ao modelo rígido fordista.

A partir disto, se estabelece uma nova cultura e ações políticas sob a direção de ideais neoliberais no mundo do trabalho, através das quais buscam flexibilizar não apenas as estratégias de produção e racionalização do trabalho, mas para, além disso, provoca alterações nas condições de trabalho, no acesso dos

direitos sociais e trabalhistas, e no compromisso do Estado para com a população que dele depende para ter assegurado tais direitos. Neste sentido, é sobre o intento da reprodução ampliada do capital que se acentua a problemática da relação capital- trabalho, além das contradições e retrações das relações sociais que se estabelece no cenário da produção.

Aqui é pertinente acrescentar que, dentre o contexto da reprodução produtiva, as propostas neoliberais serão úteis e estrategicamente incorporadas neste processo. Tal como expressa Amaral e Mota (1998, p. 30):

O neoliberalismo como ideário econômico e político, é expresso nos princípios da economia de mercado, na regulação estatal mínima e na formação de uma cultura que deriva liberdade política da liberdade econômica. O pragmatismo econômico é expresso na subordinação dos processos sociais às necessidades de reestruturação (ajustes e reformas), neutralizando, na prática, as questões que dizem respeito aos projetos sociais [...].

Assim, os impactos resultantes da crise, são sentidos pelos trabalhadores, principalmente no desemprego, na precarização das condições de trabalho, além do rebaixamento do valor da força de trabalho e desmonte do sistema de proteção social. Neste contexto, constituem-se novas formas de sociabilidade apontadas como iniciativas de enfrentamento à crise, estratégias essas pensadas e criadas pela ordem do capital (AMARAL; MOTA, 1998). Sendo, pois, neste “solo” de inflexões, desmonte e contradições, em que o trabalho informal ganha destaque. Deste modo, o trabalho informal passa a ser cooptado como alternativa de superação ao desemprego, complementação de renda para as famílias de baixa renda, e ainda como uma nova modalidade para expandir a capacidade acumulativa de lucros em favor do capital.

Souza (1994, p. 38-39), tecendo comentário sobre o principal propósito da reestruturação produtiva expõe:

[...] é fazer o movimento dos trabalhadores – e suas forças sociais e políticas coligadas – recuar para o terreno econômico-corporativo, abrindo mão, portanto, dos elementos ético-culturais que permitiriam dar forma e sustentação a uma nova fase expansiva da construção das classes trabalhadoras como força autônoma e revolucionária.

Destarte, a sincronia existente entre o processo de reestruturação produtiva e os ideais neoliberais se evidenciam pela retração dos direitos sociais e trabalhistas, pela inconsistente defesa à informalidade como alternativa de enfrentamento ao desemprego, a banalização atribuída à questão da cidadania, reduzindo-a a oferta e consumo de serviços e, de igual modo, pela simplificação da concepção do termo emancipação à ideia de autonomia. Além disso, este processo tende não apenas a destruição da organização dos trabalhadores, mas também mostra capacidade de desviar e de enfraquecer os objetivos de reivindicação da classe trabalhadora, incutindo outros significados, originários do projeto do capital, nas reivindicações da classe trabalhadora (AMARAL; MOTA, 1998).

Além da retração dos interesses comuns de classe, os impactos da reestruturação produtiva, não apenas são sentidas pelas mudanças que se dão no aparato técnico do trabalho, no âmbito das empresas, no Brasil, particularmente, a reestruturação produtiva visa “abrir capital, privatizar empresas estatais, terceirizar, demitir trabalhadores e aumentar a produtividade em até 100%” (AMARAL; MOTA, 1998, p. 34). Isto implica em efeitos nefastos e destrutivos na vida dos trabalhadores e dos demais segmentos da sociedade.

Para tanto, os novos ganhos de produtividade, sentidos nestes últimos anos, não resultou da aplicação de investimentos em maquinários, ou tão somente, pela automação industrial, mas, sobretudo, da criação de novos processos de trabalho, formas de gestão e racionalização de milhares postos de trabalhos. Marcas deste processo se evidenciam pela redução dos postos de trabalho, o aumento do desemprego entre trabalhadores antes empregados em trabalhos formais, ao mesmo tempo em que, se alastra o número de trabalhadores por conta própria, sem carteira assinada e em contratações cada vez mais precárias e com implicação direta na desproteção dos direitos sociais e trabalhistas.

Assim, cônscio com as referidas autoras, as mudanças verificadas no mundo da produção e organização social culminaram no reordenamento da intervenção do Estado, pela via dos mecanismos de regulação de produção, da gestão estatal e privada da força de trabalho. Este reordenamento é marcado por medidas de ajustes econômicos e reformas institucionais, com destaque para as privatizações, burocratização dos serviços públicos e minimização da intervenção do Estado, ao mesmo tempo em que, a supressão dos direitos sociais e os conflitos aquecidos na relação capital-trabalho, tornam-se cada vez mais acentuados.

Isto nos ajuda a entender que, o objetivo de reduzir o papel do Estado, no âmbito da proteção social e na regulação das condições de produção se alia ao que Dias (1996, p. 17) defende:

O capitalismo necessita, no seu momento atual, de flexibilizar brutalmente as relações de trabalho e de expulsar o trabalho vivo dos ordenamentos jurídicos, para poder, potenciar o máximo sua intervenção na história.

De maneira que, dentre as estratégias para o capital ampliar sua hegemonia na sociedade, esse se utiliza de um conjunto de intervenções socioinstitucionais que abarca todas as formas de controle e subordinação das relações de trabalho sob o capital. Para tanto, a racionalização da produção, a intervenção reducionista estatal e controle das condições de trabalho são bastante úteis.

No que se refere aos efeitos da mundialização do capital, Chenais (1996) expressa que esse revela sua face mais perversa, cujos impactos são sentidos em todas as áreas da vida humana. Mas, por ora, pautamos na “agenda do dia”, o arrocho do orçamento público brasileiro.

Sobre isto, no orçamento de 2012, aprovado pelo Congresso Nacional e divulgado pelo SINDPPD-RS (2011)30, está prevista a destinação de R$ 1,014 trilhão para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, o que representa 47,19% de todo o orçamento anual. A despeito disso, cortes de 55 milhões no orçamento público já foram confirmados. Em contrapartida, serão destinados apenas 18,22% para a Previdência Social, 3,98% para a saúde, 3,18% para a Educação, e ínfimos 2,55% para a assistência social. Conforme podemos visualizar no gráfico 2 a seguir:

Gráfico 2: Aplicação de recursos públicos previstos em 2012

Fonte: Site do SINDPPD-RS (2011). Disponível em: <http://www.sindppd-rs.org.br/noticias/geral/2218- orcamento-de-2012-do-governo-federal-prioriza-pagamento-aos-bancos-os-servicos-publicos-vao-piorar-

mais>.

Os dados denunciam ainda que em 2010, o pagamento da dívida pública brasileira comprometeu 45% do orçamento da União (o equivalente a R$ 635 bilhões). Já em 2011, chegou a representar 49,15% do orçamento. Isto revela-nos que a grande “fatia do bolo” do orçamento público de 2012, mais uma vez foi destinada para o pagamento da dívida, ao mesmo tempo em que, frente às sucessivas crises do capital, a “conta” da dívida externa do Brasil, além de parecer