UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIˆENCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE F´ISICA TE ´ORICA E EXPERIMENTAL PROGRAMA DE P ´OS-GRADUAC¸ ˜AO EM F´ISICA
TESE DE DOUTORADO
PROPRIEDADES F´ISICAS DO MONOCRISTAL Fe/MgO(100) E ESTUDO DA EXPANS ˜AO T´ERMICA DA SUPERF´ICIE DA Ag(100)
por
Charlie Salvador Gon¸calves
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIˆENCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE F´ISICA TE ´ORICA E EXPERIMENTAL PROGRAMA DE P ´OS-GRADUAC¸ ˜AO EM F´ISICA
PROPRIEDADES F´ISICAS DO MONOCRISTAL Fe/MgO(100) E ESTUDO DA EXPANS ˜AO T´ERMICA DA SUPERF´ICIE DA Ag(100)
Charlie Salvador Gon¸calves
Tese apresentada ao Programa de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica do Departamento de F´ısica Te´orica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos pr´e-requisitos para obten¸c˜ao do t´ıtulo de Doutor em Ciˆencias
Orientador: Prof. Carlos Chesman de A. Feitosa
Agradecimentos
Aos meus pais Claudio Salvador Gon¸calves e Maria Ferreira Gon¸calves pelo es-for¸co, seguran¸ca e apoio dado em todas as horas. Sem d´uvida vocˆes me fortaleceram o suficiente e proporcionaram a realiza¸c˜ao deste trabalho.
Ao Orientador, Professor e Amigo Carlos Chesman, pela confian¸ca depositada. Em especial agrade¸co `a minha esposa Ikaline e minha filha Celline, pela coo-pera¸c˜ao e paciˆencia que tiveram nos momentos em que n˜ao tive.
Ao Professor Antˆonio Azevedo do Departamento de F´ısica da UFPE pelas me-didas de FMR.
Aos Professores do Laborat´orio de F´ısica de Superf´ıcies da UFMG: Edmar So-ares, Vagner Eust´aquio, Roberto Paniago, e da UFBA, Prof. Caio Castilho, pela paciˆencia, pelo grande apoio, conv´ıvio e pelas horas de lazer.
Aos amigos do Laborat´orio da UFMG: Diogo Reis, Fabio Negreiros, Wendel Sim˜oes, Guilherme, Gustavo e Thiago, pela ajuda na t´ecnica LEED e pelas boas horas de conversa nos almo¸cos do “bandej˜ao”.
Aos amigos e amigas da Moradia Ouro Preto I: Rosely, Mirlene, Juliana, Dudu e Jeffinho.
`
A dona Mirian, Seu Cristov˜ao e a Isabela Morgana pelo carinho, pela acolhida e pelas v´arias risadas que demos juntos.
Aos meus grandes amigos do Laborat´orio: Neymar Pereira, Thatyara Freire, Sanzia Alves, Ubiratan Corrˆea e Prof. Jos´e Am´erico, pelos momentos de alegria e ´otimo conv´ıvio que tivemos no laborat´orio.
Aos meus grandes amigos do SENAC: Carmem Gracielly, Josy Amorim, Edilayne Dias, Fab´ıola Pessoa, Myltson, Jair, Reginaldo, Andr´e, Daniel e Sandro, pelos felizes momenos que desfrutamos juntos nas aulas de inglˆes e momentos extraclasse.
Aos Professores do departamento: Claudionor Gomes, Dori H´elio, Paulo Fulco, Eudenilson Lins, Jos´e Dias, Enivaldo Bonelli, Gilvan Borba, Rui Tetuliano e Renan. Pelas orienta¸c˜oes, ensino, conselho e boas conversas pelos corredores do DFTE.
`
A Celina e a Carlos dos Anjos, pela amizade e prontid˜ao.
Ao meu sogro, sogra e cunhada: Al´ıpio, Rosa e Itaciara, grandes amigos que sempre me apoiaram, mesmo sem entender porque eu passava tantas horas no labo-rat´orio.
Aos demais amigos da Rua Bara´unas, da Tv. Pitanga e do DFTE
Resumo
Neste trabalho foi desenvolvida a metodologia de deposi¸c˜ao dos filmes monocris-talinos de Fe/MgO (100) viamagneto sputtering DC. Foi Investigado o crescimento de filmes na faixa de temperatura entre 100oC e 300oC. As propriedades estruturais
Abstract
In this work we have developed a way to grow Fe/MgO(100) monocrystals by magnetron sputtering DC. We investigated the growing in a temperature range among 100 oC and 300 oC. Structural and magneto-crystalline properties were
studied by different experimental techniques. Thickness and surface roughness of the films were investigated by atomic force microscopy, while magneto-crystalline properties were investigated by magneto-optical Kerr effect and ferromagnetic re-sonance. Our results show that as we increase the deposition temperature, the magneto-crystalline anisotropy of the films also increases, following the equation of Avrami. The best temperature value to make a film is 300 oC. As the main
Lista de Abrevia¸c˜
oes
MBE:Molecular Beam Epitaxy (Epitaxia por Feixe Molecular). AFM:Atomic Force Microscopy (Micorscopia de For¸ca Atˆomica).
LEED:Low Energy Electron Diffraction (Difra¸c˜ao de El´etrons de Baixa Energia). XPS:X-ray Photoelectron Spectroscopy (Espectroscopia de Fotoel´etrons por raios-X). MOKE:Magneto Optical Kerr Effect (Efeito Kerr Magneto ´Optico).
FMR:Ferromagnetic Ressonance ( Ressonˆancia Ferromagn´etica). MFM:Magnetic Force Microscopy (Microscopia de For¸ca Magn´etica). SATLEED:Simmetrized Tensor LEED.
LASER:Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation.
VSM: Vibrating Sample Magnetometer (Magnetˆometro de Amostra Vibrante). SMOKE:Surface Magneto Optical Kerr Effect.
Fator R:Reability factor.
IxV: Intensidadeversus Energia em eV.
RFA:Retarding Field Analizer (Analisador por Retardo de Campo). FCC: Face Centered Cubic (C´ubica de Face Centrada).
MEIS:Medium Energy Ion Scattering (Espalhamento de ´Ions).
Sum´
ario
Lista de Figuras vii
1 Introdu¸c˜ao 1
2 Energias Magn´eticas 3
2.1 Introdu¸c˜ao . . . 3
2.2 O Processo de Magnetiza¸c˜ao . . . 3
2.3 Energias Magn´eticas . . . 5
2.3.1 Energia Zeeman . . . 7
2.3.2 Anisotropia Magneto-Cristalina . . . 9
2.3.3 A rede cristalina c´ubica . . . 11
2.3.4 Anisotropia de Forma . . . 17
2.3.5 Anisotropia de Superf´ıcie . . . 22
2.3.6 Anisotropia Uniaxial . . . 22
2.3.7 Acoplamento de troca Bilinear . . . 24
2.3.8 A Energia Magn´etica Total . . . 25
3 T´ecnicas Experimentais 27 3.1 Introdu¸c˜ao . . . 27
3.2 Descri¸c˜ao das T´ecnicas Experimentais . . . 27
3.2.1 O m´etodo de deposi¸c˜ao por sputtering . . . 27
3.2.2 Microscopia de For¸ca Atˆomica . . . 29
3.2.3 Espectroscopia de fotoel´etrons excitados por Raios-X . . . 32
3.2.4 Magnetometria por Efeito Kerr Magneto- ´Optico . . . 38
4 O Monocristal 48
4.1 Introdu¸c˜ao . . . 48
4.2 Detalhes experimentais . . . 49
4.2.1 O substrato MgO(100) . . . 49
4.2.2 O filme de Fe . . . 51
4.2.3 Procedimento experimental . . . 52
4.3 Resultados . . . 54
4.3.1 XPS . . . 54
4.3.2 AFM . . . 56
4.3.3 MOKE . . . 57
4.3.4 FMR . . . 61
5 LEED 69 5.1 Introdu¸c˜ao . . . 69
5.1.1 Breve hist´orico . . . 70
5.1.2 Teoria . . . 71
5.1.3 Espalhamento atˆomico . . . 76
5.1.4 A simula¸c˜ao num´erica - SATLEED . . . 89
5.1.5 O Aparato experimental . . . 92
6 An´alise da prata 102 6.1 Introdu¸c˜ao . . . 102
6.2 O Modelo . . . 103
6.3 Detalhes Experimentais . . . 104
6.4 An´alise dos Resultados . . . 106
7 Conclus˜ao e Perspectivas 121 7.1 Monocristal . . . 121
7.2 Expans˜ao da Ag(100) . . . 122
Lista de Figuras
2.1 Em (a) uma amostra magn´etica, na ausˆencia de campo magn´etico, apresenta-se dividida em v´arias regi˜oes com magnetiza¸c˜oes orientadas aleatoriamente. A soma total das magnetiza¸c˜oes ´e nula. Em (b) uma imagem das paredes de dom´ınio de uma amostra comum de a¸co carbono, numa imagem feita pela t´ecnica Microscopia de For¸ca Magn´etica (MFM). . . 4 2.2 Movimento das paredes de dom´ınio. . . 5 2.3 Curva de histerese e seu pontos importantes. Ms ´e a magnetiza¸c˜ao
de satura¸c˜ao, Mr a magnetiza¸c˜ao remanente e Hc o campo coercivo. . 5 2.4 Representa¸c˜ao dos vetores H~ eM~ na intera¸c˜ao Zeeman. . . 8 2.5 Representa¸c˜ao dos cossenos diretores. . . 10 2.6 Representa¸c˜ao dos cossenos diretores em termos deαi. . . 10 2.7 Plano de deposi¸c˜ao [010]. O sistema de coordenadas utilizado ´e o
mesmo. . . 13 2.8 Comportamento da fun¸c˜ao Energia para a simetria c´ubica na dire¸c˜ao
[100]. . . 14 2.9 Plano de deposi¸c˜ao [110]. O novo sistema de coordenadas ´e diferente
do original. . . 15 2.10 Comportamento da fun¸c˜ao Energia para a simetria c´ubica na dire¸c˜ao
[110]. . . 16 2.11 Plano de deposi¸c˜ao [111]. O novo sistema de coordenadas est´a
rota-cionado em rela¸c˜ao ao original. . . 17 2.12 Comportamento da fun¸c˜ao energia para a simetria c´ubica na dire¸c˜ao
2.15 Comportamento da fun¸c˜ao Energia para a simetria uniaxial . . . 23 2.16 Ilustra¸c˜ao de uma bicamada acoplada ferromagneticamenteJ >0. . . 25 2.17 Ilustra¸c˜ao de uma bicamada acoplada anti-ferromagneticamenteJ <0. 25 3.1 Representa¸c˜ao esquem´atica do sistema desputtering. . . 28 3.2 Representa¸c˜ao esquem´atica do conjunto haste - sonda de um
Micros-copia de For¸ca Atˆomica. No detalhe, a sonda e suas dimens˜oes na-nom´etricas. . . 29 3.3 O potencial de Lennard-Jones. Na ´area abaixo da linha de for¸ca nula,
as for¸cas s˜ao atrativas. Acima desta linha, as for¸cas s˜ao repulsivas. . . 30 3.4 Representa¸c˜ao das duas regi˜oes que determinam os modos de opera¸c˜ao
do AFM. Em (a) - Deflex˜ao da mola operando em modo contato. Em (b) - modo n˜ao-contato. . . 31 3.5 Representa¸c˜ao da topografia da amostra medida pela varia¸c˜ao do
po-sicionamento do feixe de LASER refletido pela haste . . . 32 3.6 Representa¸c˜ao do processo de eje¸c˜ao dos fotoel´etrons. . . 33 3.7 Representa¸c˜ao do livre caminho m´edio dos fotoel´etrons ejetados em
fun¸c˜ao de energia cin´etica para v´arios elementos [34]. As regi˜oes de-limitadas representam a respectiva sensibilidade de v´arias t´ecnicas. . 34 3.8 Aparato experimental da t´ecnica XPS. . . 35 3.9 Espectro caracter´ıstico do XPS de uma das amostras. . . 36 3.10 Representa¸c˜ao do processo de emiss˜ao Auger. . . 37 3.11 As configura¸c˜oes de Efeito Kerr Magneto- ´Optico. O quadrado
ama-relo representa a amostra ferromagn´etica. Em roxo, o substrato, a li-nha vermelha representa o percurso do LASER e finalmente em verde, a dire¸c˜ao de aplica¸c˜ao do campo magn´etico externo. ˆn representa o versor normal a superf´ıcie do plano de incidˆencia. . . 39 3.12 O arranjo experimental para medidas de Efeito Kerr Magneto- ´Optico. 39 3.13 Modelo adotado quando a espessura do filme ´e menor que o
3.16 Equipamento de Ressonˆancia Ferromagn´etica (FMR). Em verde, o eletro´ım˜a. Em amarelo o guia de ondas. E em vermelho, a cavi-dade ressonante. As setas pretas indicam o percurso da onda eletro-magn´etica. E a seta verde a dire¸c˜ao do campo magn´etico externo
~
Hz . . . 46 3.17 Gr´afico da derivada da absor¸c˜ao de micro-ondas na Ressonˆancia
Fer-romagn´etica (FMR). . . 47 4.1 C´elula unit´aria do MgO. Os ´atomos de Mg est˜ao na cor verde. . . 50 4.2 Padr˜ao LEED do cristal de MgO(100). A imagem foi realizada com
incidˆencia normal do feixe eletrˆonico no valor de energia = 64 eV. . . 50 4.3 C´elula unit´aria do Fe. . . 52 4.4 Dire¸c˜ao de crescimento do Fe. Considerando os cubos de baixo como
a rede do MgO [100] e os de cima, a rede do Fe. O filme cresce na dire¸c˜ao [110]. A face lateral de baixo representa o eixo f´acil do filme, enquanto que a face lateral de baixo representa o eixo duro. . . 52 4.5 Espectro de XPS mostrando a composi¸c˜ao qu´ımica do filme antes
da limpeza. As intensidades dos picos de carbono (C) e de oxigˆenio (O)revelam camadas oxidadas na superf´ıcie. A regi˜ao maior delimi-tada pela curva mostra a localiza¸c˜ao da “assinatura” do ferroF e−2p12
eF e−2p32. A regi˜ao menor delimitada representa os picos doF e−3p 1 2
e F e−3p32 . . . 55
4.6 Espectro de XPS mostrando a composi¸c˜ao qu´ımica do filme ap´os a limpeza. A redu¸c˜ao do pico de C e a eleva¸c˜ao dos picos do Fe 2p s˜ao not´orias. . . 56 4.7 Espectro do XPS em torno das linhas do Fe 2p da amostra preparada
`a 250oC ap´os a limpeza. Evidˆencia da pureza da composi¸c˜ao qu´ımica
do filme no processo de deposi¸c˜ao. . . 57 4.8 Imagem da impress˜ao de tela do software do AFM mostrando a
rugo-sidade da superf´ıcie do filme crescido a 250oC. O valor da rugosidade
m´edia (Ra) vale 0,25nm. . . 58 4.9 Magnetiza¸c˜ao normalizada em fun¸c˜ao do campo magn´etico externo.
A medida foi efetuada no filme depositado na temperatura de 300oC.
4.10 Magnetiza¸c˜ao normalizada em fun¸c˜ao do campo magn´etico externo medida ao longo da dire¸c˜ao [110] das amostras crescidas a 100 oC,
150 oC 200 oC e 250oC. . . 60
4.11 Espectro de FMR paraθH = 90o do filme crescido na temperatura de
250 oC. . . 61
4.12 Campo de ressonˆancia em fun¸c˜ao do ˆangulo planar de uma sequˆencia de amostras crescidas `a (a)100 oC, (b)150 oC, (c)=200oC e (d)=250 oC. . . 62
4.13 Em (a) - Hsat e HRes/2 em fun¸c˜ao da temperatura de deposi¸c˜ao. A linha cont´ınua representa o ajuste feito com a equa¸c˜ao de Avrami. Em (b) - ∆Hsat em fun¸c˜ao da temperatura de deposi¸c˜ao. A linha cont´ınua representa o ajuste feito com a equa¸c˜ao de Avrami. . . 64 4.14 Os resultados deHsat eHRes/2 para FMR e MOKE, respectivamente,
em fun¸c˜ao da temperatura de deposi¸c˜ao. A linha cont´ınua representa o ajuste feito com a equa¸c˜ao de Avrami. O gr´afico interno apresenta a anisotropia uniaxial determinada na simula¸c˜ao. Seu valor foi esti-mado em 10 Oe. . . 65 4.15 Representa¸c˜ao em duas dimens˜oes do processo de forma¸c˜ao de ilhas
de Fe no substrato de MgO. . . 67 4.16 Resultado da primeira tricamada Fe/Cr/Fe desenvolvida no
departa-mento de F´ısica Te´orica e Experimental da UFRN. . . 68 5.1 Na passagem entre 2 planos adjacentes a queda na intensidade do feixe
de el´etrons pode ser de at´e 10% enquanto que em R-X, na mesma con-figura¸c˜ao, a diminui¸c˜ao da intensidade e de apenas 10−8. Assim en-quanto os R-X revelam as caracter´ısticas do interior do cristal, LEED revela essencialmente caracter´ısticas da sua superf´ıcie. . . 72 5.2 C´elula unit´aria de superf´ıcie. Os vetores ~a e ~b tem m´odulo igual
a metade da diagonal da face da correspondente c´elula de volume (representada pelas linhas tracejadas). . . 74 5.3 Difra¸c˜ao de Laue em um conjunto unidimensional de centros
espalha-dores. . . 74 5.4 Em a) a Esfera de Ewald em 3 dimens˜oes. Em b) a vista superior da
5.6 Modelo de potencial muffin tin. A barreira de energia entre os poten-ciais esf´erico e constante do cristal aparece como um potencial degrau chamado Zero muffin tin. . . 79 5.7 Aparato experimental de LEED. . . 93 5.8 Esquema da ´optica LEED. . . 97 5.9 Sequˆencia de imagens com os padr˜oes de difra¸c˜ao para os seus
res-pectivos valores de energias. Observe uma pequena janela quadrada delimitando um dos feixes. A sequˆencia mostra o deslocamento do ponto de difra¸c˜ao com o acr´escimo de energia. . . 99 5.10 Imagem em trˆes dimens˜oes de um spot LEED. . . 100 5.11 Para os valores de energias da Figura 5.9 ´e mostrado o perfil
corres-pondente de intensidade. . . 100 5.12 Curva IxV obtida pela sequˆencia de janelas de intensidade. Os pontos
marcados representam a intensidade da respectiva janela na Figura 5.11. . . 101 6.1 Vista do empilhamento das faces (110) e (111). As respectivas faces
est˜ao voltadas para cima, em dire¸c˜ao ao topo da p´agina. . . 102 6.2 Em (a) - Varia¸c˜ao percentual da relaxa¸c˜ao da primeira camada da
Ag(110) como fun¸c˜ao da temperatura do experimento [90]. Em (b) - Determina¸c˜ao experimental e simula¸c˜ao da relaxa¸c˜ao da primeira camada para a Ag(111) [91].Medidas feitas por difra¸c˜ao de el´etrons (LEED) e espalhamento de ´ıons (MEIS) e simula¸c˜oes em dinˆamica molecular (DM) e teoria do funcional densidade (DFT). Os dois gr´aficos a temperatura do experimento est˜ao normalizados pela temperatura de fus˜ao da prata. . . 110 6.3 C´elula unit´aria e o empilhamento ABAB. . . 111 6.4 C´elula unit´aria de superf´ıcie. Os vetores~a e~b tem m´odulo igual a
metade da diagonal da face da correspondente c´elula de volume. . . . 111 6.5 Indexa¸c˜ao dos feixes difratados. Os pontos (0,1), (1,0), (-1,0) e (0,-1)
s˜ao sim´etricos, assim nos dados experimentais consideramos um ´unico feixe representado pela m´edia entre as 4 curvas. . . 112 6.6 Comportamento do fator-R em fun¸c˜ao da temperatura de Debye da
6.7 Comportamento do fator-R em fun¸c˜ao de ΘDebay1 (eixo x) e ΘDebay2 (eixo y). . . 117 6.8 Procedimento para estimativa do erro na ΘDebye. Em (a), uma linha
paralela ao eixo x, tra¸cada no valor m´aximo do erro do Fator-R → 0.18 + 0.04 = 0,22, intercepta- a em dois pontos da curva. A regi˜ao delimitada no eixo x representa o intervalo do erro na temperatura. Veja que este intervalo ´e assim´etrico. Este mesmo comportamento aparece para as outras temperaturas. . . 118 6.9 Comportamento de ΘDebye das duas primeiras camadas atˆomicas em
fun¸c˜ao das respectivas temperaturas do experimento. No detalhe, o comportamento de ΘDebye das trˆes primeiras camadas atˆomicas em
fun¸c˜ao das respectivas temperaturas do experimento, medidas para a face (111) da Ag. [91] . . . 119 6.10 Comportamento da varia¸c˜ao da distˆancia entre as duas primeiras
ca-madas atˆomicas em fun¸c˜ao das respectivas temperaturas do experi-mento. A curva verde representa o volume. . . 120 6.11 Vista da distˆancia entre planos das faces (111), (100) e (110). As
respectivas faces est˜ao voltadas para cima. . . 120 7.1 Resultado da medida de MOKE para uma tricamada Fe/Cr/Fe/MgO
Cap´ıtulo 1
Introdu¸c˜
ao
Nas d´ecadas de 80 e 90 surgiu a possibilidade de se utilizar uma t´ecnica que ´e capaz de promover a forma¸c˜ao natural de padr˜oes peri´odicos de nanopart´ıculas. ´E o chamado crescimento ou deposi¸c˜ao auto-organizada [1, 2, 3, 4]. A obten¸c˜ao de nano-part´ıculas, espacialmente ordenadas ou monocristais mediante a auto-organiza¸c˜ao, abre um amplo leque de possibilidades para aplica¸c˜oes tecnol´ogicas, como por exem-plo, `a ´area de cat´alise [5], `a de sensores magneto-resistivos [6] e m´ıdias de grava¸c˜ao magn´etica [7]. As t´ecnicas s˜ao diversas, destacando-se entre elas a Epitaxia por Feixe Molecular (MBE) [8] e sputtering [9]. A primeira supera todas as demais no que diz respeito `a precis˜ao de deposi¸c˜ao. Est´a no topo da tecnologia de fabrica¸c˜ao e manipula¸c˜ao de filmes nanom´etricos. Contudo, devido ao seu alto custo financeiro, ´e impedida de ser utilizada em grande escala na fabrica¸c˜ao de dispositivos semicon-dutores e de sensores magn´eticos. J´a a t´ecnica desputtering vem ganhando espa¸co e merecido reconhecimento como t´ecnica de deposi¸c˜ao de monocristais relativamente barata. A grande vantagem deste processo est´a relacionada ao menor custo dos equi-pamentos e `a boa reprodutibilidade dos experimentos, o que possibilita a aplica¸c˜ao em larga escala de fabrica¸c˜ao de dispositivos.
Neste sentido, esta tese ´e composta de dois trabalhos experimentais, apresentados em 7 cap´ıtulos e que, apesar de tratarem de fenˆomenos diferentes, compreendem o tema da f´ısica de filmes finos e nanoestruturas.
e otimizar o processo de deposi¸c˜ao. Esta primeira parte est´a dividida nos cap´ıtulos 2, 3 e 4 onde, primeiramente, ´e apresentada uma revis˜ao te´orica a respeito da ener-gia magn´etica em filmes nanom´etricos. Em seguida, s˜ao apresentadas as t´ecnicas, do ponto de vista te´orico e experimental, que foram utilizadas para a caracteriza¸c˜ao das amostras. Finalizando, o quarto cap´ıtulo descreve o procedimento experimental e as discuss˜oes a respeito da metodologia de crescimento do monocristal de ferro no substrato de MgO.
O segundo trabalho da tese trata da aplica¸c˜ao da t´ecnica LEED para a inves-tiga¸c˜ao da superf´ıcie do cristal de Ag na face (100). Investigamos o comportamento da expans˜ao t´ermica do parˆametro de rede da superf´ıcie deste cristal. O objetivo proposto foi o de determinar o coeficiente de expans˜ao t´ermica da superf´ıcie que, a princ´ıpio, deve ser diferente do valor de volume. O trabalho ´e apresentado nos cap´ıtulos 5 e 6. O quinto cap´ıtulo trata da teoria da difra¸c˜ao de el´etrons e os detalhes experimentais, finalizando com metodologia da aquisi¸c˜ao e tratamento dos dados e da simula¸c˜ao num´erica. O sexto cap´ıtulo ´e dedicado ao estudo do cristal de prata, e apresenta os resultados experimentais e a metodologia utilizada na determina¸c˜ao do coeficiente de expans˜ao.
Cap´ıtulo 2
Energias Magn´
eticas
2.1
Introdu¸c˜
ao
Existe uma classe de amostras que, quando s˜ao encontradas na natureza, sempre est˜ao em um ordenamento natural, na qual sua magnetiza¸c˜ao ´e igual a zero. Este comportamento teve seu entendimento adiado por muito tempo, at´e o surgimento da teoria macrosc´opica conhecida como Campo Molecular, teoria escrita por Pierre Weiss [10]. Datada de 1907, ela afirma que os materiais magn´eticos est˜ao divididos em pequenas regi˜oes chamadas de dom´ınios, cuja magnetiza¸c˜ao permanece cons-tante em magnitude e dire¸c˜ao. Isto acontece de tal forma que as for¸cas de intera¸c˜ao s˜ao capazes de manter paralelos os momentos magn´eticos vizinhos em um ´unico dom´ınio, enquanto que a grandes distˆancias a orienta¸c˜ao de um outro dom´ınio pode ser totalmente diferente. Desta forma, a magnetiza¸c˜ao de uma amostra ´e a soma sobre todos os dom´ınios magn´eticos que a comp˜oem. Por´em, o entendimento mi-crosc´opico s´o foi poss´ıvel ap´os a teoria de Heisenberg, que mostra que este campo ´e o resultado da intera¸c˜ao de troca entre dois spins vizinhos [11].
2.2
O Processo de Magnetiza¸c˜
ao
(a) (b)
Figura 2.1: Em (a) uma amostra magn´etica, na ausˆencia de campo magn´etico, apresenta-se dividida em v´arias regi˜oes com magnetiza¸c˜oes orientadas aleatoriamente. A soma total das magnetiza¸c˜oes ´e nula. Em (b) uma imagem das paredes de dom´ınio de uma amostra comum de a¸co carbono, numa imagem feita pela t´ecnica Microscopia de For¸ca Magn´etica (MFM).
No entanto, feita a analise da interface de separa¸c˜ao entre os dom´ınios, n˜ao ´e en-contrada uma transi¸c˜ao abrupta de suas magnetiza¸c˜oes, e sim uma transi¸c˜ao suave onde os spins, respons´aveis pela magnetiza¸c˜ao de cada dom´ınio, giram sequenci-almente da orienta¸c˜ao do dom´ınio inicial para a orienta¸c˜ao do dom´ınio final, ver Figura 2.2. Esta regi˜ao ´e a chamada parede de dom´ınio [13]. A rota¸c˜ao ´e a maneira mais eficiente de ocorrer a transi¸c˜ao entre as orienta¸c˜oes dos dom´ınios magn´eticos e possuem dimens˜oes da ordem de dezenas de m´ıcrons. A Figura 2.1(b) mostra uma imagem de MFM das paredes de dom´ınio de uma amostra comum de a¸co carbono.
di-Figura 2.2: Movimento das paredes de dom´ınio.
mens˜oes. Desta forma, o estudo do comportamento da amostra, atrav´es da curva de histerese magn´etica dir´a as caracter´ısticas do material e consequentemente sua aplica¸c˜ao tecnol´ogica.
Figura 2.3: Curva de histerese e seu pontos importantes. Ms ´e a magnetiza¸c˜ao de satura¸c˜ao, Mr a magnetiza¸c˜ao remanente e Hc o campo coercivo.
2.3
Energias Magn´
eticas
para as poss´ıveis aplica¸c˜oes tecnol´ogicas de um determinado material. Quando a estrutura ´e cristalina, a magnetiza¸c˜ao pode apresentar-se em dire¸c˜oes preferenci-ais. Esta preferˆencia pode ser decorrente tanto da pr´opria estrutura atˆomica do filme, quanto da varia¸c˜ao entre os parˆametros de rede do substrato e do filme ao longo do plano de crescimento. Tais anisotropias resultam de intera¸c˜oes intr´ınsecas, que dependem de efeitos quˆanticos microsc´opicos e eletromagn´eticos, ou extr´ınsecas, associadas `a forma cristalina ou ao m´etodo de crescimento. Quando existe a ani-sotropia magn´etica, uma curva de histerese a revela a partir de medidas efetuadas em v´arias dire¸c˜oes, apresentando valores de campo de satura¸c˜ao diferentes. Ao eixo que apresenta o valor m´ınimo do campo de satura¸c˜ao d´a-se o nome de eixo-f´acil da magnetiza¸c˜ao. Ao eixo que apresenta o valor m´aximo, d´a-se o nome de eixo-duro da magnetiza¸c˜ao.
Existem v´arios fatores que contribuem diferentemente para a energia magn´etica em amostras magnetizadas. A distribui¸c˜ao espacial dos ´atomos, as varia¸c˜oes no parˆametro de rede ao longo do cristal, a distˆancia entre as superf´ıcies que delimitam as amostras ou ainda os acoplamentos entre duas ou mais camadas no regime na-nom´etrico. Cada uma destas manifesta¸c˜oes ´e determinada pelo comportamento das amostras quando expostas a um campo magn´etico externo. Este campo magn´etico ´e um dos parˆametros de controles do experimento, que deve possuir uma energia as-sociada suficiente para vencer todos estes tipos caracter´ısticos de energia, conforme mencionado. A energia associada ao campo externo ´e a chamada energia Zeeman e ser´a a primeira a ser abordada.
A primeira pergunta a ser realizada quando investigamos uma amostra ´e com rela¸c˜ao ao seu car´ater cristalino. Tal cristalinidade pode ser determinada pela in-vestiga¸c˜ao das anisotropias cristalinas reveladas pela curva de histerese magn´etica da amostra. Aqui, a simetria da rede define com quais orienta¸c˜oes a magnetiza¸c˜ao poder´a se apresentar na sua configura¸c˜ao de mais baixa energia. Esta se¸c˜ao ´e dedi-cada ao detalhamento desta modalidade de energia, visto que, a partir da mesma, ´e que conseguimos extrair um dos importantes resultados da tese.
Na sequˆencia, s˜ao apresentadas a anisotropia induzida, chamada tamb´em de ani-sotropia uniaxial, e o acoplamento bilinear. A primeira forma aparece quando impo-mos dire¸c˜oes preferenciais ao processo de deposi¸c˜ao, como por exemplo, a aplica¸c˜ao de um campo magn´etico externo durante o processo, ou ainda pode surgir natu-ralmente pela superposi¸c˜ao de diferentes materiais durante este mesmo processo. J´a o acoplamento bilinear, se aplica quando h´a filmes finos acoplados e s´o pode ser explicada atrav´es da mecˆanica quˆantica [15]. Tais formas de energia merecem aqui serem apresentadas porque, nesta tese, foi desenvolvida a estrutura base para a constru¸c˜ao de dispositivos compostos por multicamadas magn´eticas acopladas [16], que funcionam atrav´es do acoplamento de troca.
Finalizando o cap´ıtulo, ser´a apresentado o modelo fenomenol´ogico usado no pro-cesso de investiga¸c˜ao e o ajuste do propro-cesso de crescimento dos filmes monocristalinos de ferro, onde energia magn´etica total ´e descrita do ponto de vista da magnitude do vetor magnetiza¸c˜ao |M~ | e especialmente, do ponto de vista da dire¸c˜ao de M~ em termos dos cossenos diretores.
2.3.1
Energia Zeeman
A Energia Zeeman existir´a sempre que uma amostra magnetizada estiver subme-tida a um campo magn´etico. Ela ´e fruto do posicionamento do vetor magnetiza¸c˜ao da amostra em rela¸c˜ao ao campo externo. Isto ´e, a grandeza escalar gerada pela proje¸c˜ao do vetor magnetiza¸c˜ao na dire¸c˜ao do vetor campo magn´etico. A energia ser´a m´axima quando os dois vetores estiverem na configura¸c˜ao antiparalela, e ser´a m´ınima quando estiverem em paralelo. Sua representa¸c˜ao matem´atica ´e dada por:
EZeeman =−M~ ·H~ (2.1)
Quando ´e feita a an´alise de amostras compostas por v´arios filmes empilhados pode-se determinar a Energia Zeeman por unidade de ´area atrav´es de um somat´orio, no qual a energia de cada filme ´e proporcional `a sua espessura d. Assim, tem-se:
EZeeman=−X
i
diMi~ ·H~ (2.2)
Figura 2.4: Representa¸c˜ao dos vetores H~ eM~ na intera¸c˜ao Zeeman.
~
M =Ms(sinθcosφexb + sinθsinφeyb + cosθezb ). (2.3)
~
H =H0(sinθHcosφHexb + sinθHsinφHeyb + cosθHezb ). (2.4) Assim, a energia para um ´unico filme ser´a dada por:
EZeeman=−dMsH0sinθsinθHcos(φ−φH)−dMsH0cosθcosθH. (2.5)
Sua unidade ´e o erg/cm2 no sistema CGS de unidades ou joule/m2 no Sistema Internacional (SI). O termo Ms corresponde ao estado em que todos os spins da
amostra encontram-se alinhados com o campo magn´etico externo. Este termo ´e conhecido como magnetiza¸c˜ao de satura¸c˜ao.
Considerando agora a situa¸c˜ao em que o campo magn´etico aplicado seja paralelo ao plano do filme, isto ´e, perpendicular `a dire¸c˜ao de crescimento, podemos escolher o plano x-z, ou seja φ =φH, e assim tem-se:
EZeeman =−MsH0cos(θ−θH)d. (2.6)
2.3.2
Anisotropia Magneto-Cristalina
O mais importante tipo de anisotropia para o resultado desta tese ´e a aniso-tropia magneto-cristalina [17]. Ela ´e naturalmente menor que as demais formas de energia, no entanto, a dire¸c˜ao da magnetiza¸c˜ao ´e unicamente determinada de-vido ao seu comportamento natural de alinhar os momentos magn´eticos ao longo das dire¸c˜oes cristalogr´aficas. Quando uma amostra ferromagn´etica ´e investigada, diz-se que ela ´e monocristalina quando as curvas de histerese magn´etica mostram o comportamento preferencial por determinadas dire¸c˜oes cristalogr´aficas, repetindo seu comportamento para posi¸c˜oes equivalentes. Este efeito ´e puramente estrutural e apresenta-se sob configura¸c˜oes especiais que minimizam a energia magn´etica as-sociada. A energia magneto-cristalina ´e definida como o trabalho necess´ario para fazer a magnetiza¸c˜ao alinhar-se com determinada dire¸c˜ao cristalogr´afica comparada com o eixo-f´acil. Os eixos-f´aceis representam as dire¸c˜oes nas quais a magnetiza¸c˜ao naturalmente se alinha. No caso do ferro, como ser´a visto a seguir, estas s˜ao as dire¸c˜oes [001], [010] e [100]. A aplica¸c˜ao do campo magn´etico externo, na dire¸c˜ao em que ´e mais dif´ıcil alinhar a magnetiza¸c˜ao, determina o eixo-duro da amostra que, novamente no caso do ferro, ´e a dire¸c˜ao [111].
A dire¸c˜ao de m~ = M / ~~ |M|, com rela¸c˜ao aos eixos cristalogr´aficos, ´e dada em fun¸c˜ao dos cossenos dos ˆangulos entrem~ e cada eixo. Estes s˜ao os chamados cossenos diretores.
~
m= (α1, α2, α3). (2.7)
Sejam α1, α2 e α3 os cossenos da dire¸c˜ao da magnetiza¸c˜ao em rela¸c˜ao aos eixos cristalogr´aficos. De acordo com as Figuras 2.5 e 2.6 tem-se os seguintes cossenos diretores:
α1 = cosβ = sinθcosφ;
α2 = cosγ = sinθsinφ;
α3 = cosδ = cosθ; onde
α12+α22+α32 = 1. (2.8)
Figura 2.5: Representa¸c˜ao dos cossenos diretores.
Figura 2.6: Representa¸c˜ao dos cossenos diretores em termos de αi.
Ecris=E0+
X
i
biαi+X
ij
bijαiαj+
+X
ijk
bijkαiαjαk+X
ijkl
bijklαiαjαkαl+ X
ijklm
+ X
ijklmn
bijklmnαiαjαkαlαmαmαn+O(α7). (2.9)
A express˜ao da energia magn´etica deve ser independente, por invers˜ao, do sen-tido da magnetiza¸c˜ao, pois s´o depende de seu alinhamento com rela¸c˜ao aos eixos cristalogr´aficos. Assim, os termos de ordem ´ımpar s˜ao nulos.
E(M~) =E(−M~) (2.10)
ou
E(αi) = E(−αi). (2.11)
Logo, somente uma s´erie de potˆencias pares satisfaz a esta condi¸c˜ao. A express˜ao reduz-se ent˜ao a:
Ecris=E0+
X
ij
bijαiαj+
X
ijkl
bijkαiαjαkαl+
X
ijklm
bijklmαiαjαkαlαm. (2.12)
2.3.3
A rede cristalina c´
ubica
Para a rede cristalina de simetria c´ubica, os termos cruzados αiαj da segunda parcela da equa¸c˜ao 2.12 devem ser nulos, devido `a exigˆencia da equa¸c˜ao 2.11. No entanto, a troca de dois eixos quaisquer tamb´em n˜ao deve alterar o resultado. Assim, os termos de ´ındices iguais devem ser indistingu´ıveis devido `a simetria c´ubica do sistema. Logo, as constantes multiplicativas devem ser as mesmas, isto ´e, b11 =
b22=b33 . Aplicando estas considera¸c˜oes aos termos de segunda ordemchega-se `a:
X
ij
bijαiαj =b11(α21+α22+α23). (2.13) Aplicando estas considera¸c˜oes, agora nos termos de quarta ordem:
X
ijkl
bijklαiαjαkαl =b1111(α14+α24+α34) + 6b1122(α12α22+α12α32+α22α23). (2.14)
Finalmente, aplicando o mesmo procedimento para o termo de sexta ordem:
X
ijklmn
+15b111122(α21α24+α14α22+α12α34+α14α32 +α22α34+α24α32+
+ 90b112233α21α22α23. (2.15) O arranjo dos termos, juntamente com a equa¸c˜ao 2.8, e com as seguintes condi¸c˜oes de normaliza¸c˜ao ser´a:
(α12+α22+α32)2 = 1 (2.16) e
(α12+α22+α32)3 = 1, (2.17) que fornece a seguinte express˜ao para a densidade de energia:
Ecris=E0+b11+b1111(α14+α24+α34)+
+6b1122(α12α22+α12α22+α22α32) + 90b112233(α12α22α32)+
+ 15b111122(α12α24+α14α22+α12α34+α14α32+α22α34+α24α32. (2.18)
Ecris =k0c(α12+α22+α32) +k1c(α21α22+α12α23+α22α23) +k2c(α12α22α23) +..., (2.19) Na equa¸c˜ao anterior, kc
0, kc1 e kc2 s˜ao fun¸c˜oes dos coeficientes bijklmn, chamadas de constantes de anisotropia c´ubica de zero, primeira e segunda ordem, respectiva-mente. Nesta express˜ao, o primeiro termo em parˆenteses pode ser desprezado por ser igual a 1, al´em disso, em geral kc
1 ≫k2c ≫k3c.
Ecris =kc1(α21α22+α21α23+α22α23). (2.20) As energias relacionadas `a anisotropia magneto-cristalina para as dire¸c˜oes [100], [110] e [111] podem ser obtidas em rela¸c˜ao aos cossenos diretores da seguinte forma:
Para um filme de ferro crescido na dire¸c˜ao [100], [010] ou [001] (ver Figura 2.7), em uma das faces do cubo a magnetiza¸c˜ao ´e paralela a um dos eixos cristalinos. Escrevendo a equa¸c˜ao 2.20 em coordenadas esf´ericas e arranjando os termos, tem-se:
Figura 2.7: Plano de deposi¸c˜ao [010]. O sistema de coordenadas utilizado ´e o mesmo.
Ecris =kc1(sin4θcos2φsin2φ+ sin2θcos2φcos2θ+ sin2θcos2θsin2φ)
Ecris =k1c(sin4θsin22φ+ sin22θ) (2.21) Existem outras anisotropias em filmes magn´eticos que atuam no sentido de apri-sionar a magnetiza¸c˜ao ao plano do filme, como ser´a mostrado mais `a frente. A magnetiza¸c˜ao est´a presa ao plano x-y do filme, assim, θ = π2 e a energia da aniso-tropia c´ubica passa a ser escrita como:
Ecris=k1c1
4sin
22φ. (2.22)
Derivando 2 vezes com rela¸c˜ao a φ encontra-se os pontos cr´ıticos da fun¸c˜ao energia. Estes ˆangulos indicar˜ao os eixos-f´aceis e duros. Os pontos de inflex˜ao da fun¸c˜ao energia cristalina dEcris
dφ = 0, s˜ao portanto: φ= 0
o, 45o, 90o, 135◦, 180o, 225o,
270o, ou 315o.
dE2
c dφ2 =k
c
1 1
4[2 cos(2φ)·cos(2φ)−2 sin(2φ)·sin(2φ)] = kc1 1 4[2 cos
2(2φ)
−2 sin2(2φ)].
Para os ˆangulos φ = 0◦, φ = 90◦, φ = 180◦ e φ = 270◦, temos dE2
ac
dφ2 = 2. Estes
valores minimizam a energia e, por isso, s˜ao considerados os eixos-f´aceis do filme de ferro.
Para os ˆangulosφ = 45◦, φ= 135◦, φ= 225◦, φ= 315◦, temos dE2cris
dφ2 =−2.
Tais valores agora maximizam a energia e, por isso, s˜ao considerados os eixos-duros do filme de ferro. Devido `as quatro repeti¸c˜oes do comportamento dentro de uma volta completa, esta simetria ´e tamb´em chamada de simetria tipo C4 [93].
Figura 2.8: Comportamento da fun¸c˜ao Energia para a simetria c´ubica na dire¸c˜ao [100].
Pode-se analisar o comportamento desta fun¸c˜ao energia para outros dois casos. Um, quando a dire¸c˜ao do crescimento do filme ´e [110] e, outra quando ´e [111].
Suponha um filme no qual o plano de crescimento ´e [110], neste caso os novos cossenos diretores ser˜ao, de acordo com a Figura 2.9:
α′1 =α3, α′2 = 1 √
2(α1+α2);α
′
3 = 1 √
Figura 2.9: Plano de deposi¸c˜ao [110]. O novo sistema de coordenadas ´e diferente do original.
assim, a energia devido a anisotropia c´ubica em fun¸c˜ao dos novos (sistema de re-ferˆencia com linha, ver Figura 2.9) cossenos diretores pode ser escrita como:
Ecris =kc1[(α′1α′2)2+ (α1′α′3)2− 1 2(α
′
2α′3)2+ 1 4(α
′
2)4+ 1 4(α
′
3)4] (2.24) J´a que a magnetiza¸c˜ao permanece no plano do filme, teremos φ′ = 0o, ou seja, α′
2 = 0. Agora, com os cossenos diretores em coordenadas esf´ericas, a express˜ao para a energia devido a anisotropia c´ubica ´e:
Ecris=k1c1
4[sin
4θ′+ sin22θ′] (2.25)
A Figura 2.10 mostra o comportamento angular desta anisotropia. Os eixos-f´aceis est˜ao localizados nos valores θ′ = 90o e θ′ = 270o, enquanto que em θ′ = 0o
e θ′ = 180o existe um m´ınimo local representando os eixos-duros. No entanto, para θ ∼= 35o existe um m´aximo global que ´e chamado de eixo duro-duro. Devido `a duplica¸c˜ao do mesmo padr˜ao a cada volta completa, diz-se que a simetria ´e do tipo C2.
Suponha agora, um filme no qual a dire¸c˜ao de crescimento ´e ˆe′′
y = [111]( veja
Figura 2.11). Para tanto, o eixo ˆe′′
z do novo sistema de coordenadas estar´a agora
paralelo `a dire¸c˜ao [110] :
Os cossenos diretores passam a ser dados, em fun¸c˜ao dos cossenos diretores n˜ao rotacionados, da seguinte forma:
α1′′= √1
6(α1+α2) + 2 √
Figura 2.10: Comportamento da fun¸c˜ao Energia para a simetria c´ubica na dire¸c˜ao [110].
α′′2 = √1
3(α1+α2+α3);
α′′3 = √1
2(α1−α2).
Os cossenos diretores escritos em coordenadas esf´ericas ser˜ao:
ˆ
e′′x = 1
2cosφ(ˆex+ ˆey)−sinφez,ˆ (2.26) ˆ
e′′y = √1
3(ˆex+ ˆey + ˆez) (2.27) e
ˆ
e′′z =
1 √
2(ˆex−eyˆ ). (2.28)
Figura 2.11: Plano de deposi¸c˜ao [111]. O novo sistema de coordenadas est´a rotacionado em rela¸c˜ao ao original.
A energia devido a anisotropia c´ubica escrita em fun¸c˜ao dos cossenos diretores tem a seguinte forma:
Ecris=kc1[( 1 4α
′′
1)4+ ( 1 3α
′′
2)4 + ( 1 4α
′′
3)4+ 1 2(α
′′
1α′′3)2] +k1c[
√ 2 3 (α
′′3
1 )(α′′2)− √
2(α1′′)(α′′2)(α′′3)] (2.29) Lembrando que a magnetiza¸c˜ao est´a presa no plano, tem-se novamente θ′′ = 0,
isto ´e,α′′
2 = 0. A energia devido a anisotropia c´ubica em termos das coordenadas esf´ericas para um filme crescido na dire¸c˜ao [111], ´e:
Ecris= 1 4k
c
1(sin4θ′′+ cos4θ′′+ 1 2sin
22θ′′) = 1
4k
c
1, (2.30)
onde o termo entre parˆenteses ´e igual a 1.
Este resultado indica que a energia n˜ao tem rela¸c˜ao com a dire¸c˜ao da magne-tiza¸c˜ao da amostra, devido `a alta simetria do sistema crescido na dire¸c˜ao [111], significando dizer que, somente com a curva de magnetiza¸c˜ao, n˜ao pode-se determi-nar o campo de satura¸c˜ao de uma amostra deste tipo.
2.3.4
Anisotropia de Forma
Figura 2.12: Comportamento da fun¸c˜ao energia para a simetria c´ubica na dire¸c˜ao [111].
dipolos magn´eticos n˜ao possuem pr´oximos vizinhos. Diz-se ent˜ao que s˜ao dipolos magn´eticos n˜ao compensados e induzidos na superf´ıcie do material. As linhas de campo geradas pelos dipolos se fecham na extremidade oposta, gerando um campo magn´etico em sentido contr´ario ao campo externoH~0. Isto reduz sua intensidade no interior da amostra e, por isto, este campo ´e chamado de campo desmagnetizante
~ Hd.
O campo desmagnetizante ´e dado por:
~
Hd=−D ~fM . (2.31)
No geral Df ´e uma grandeza tensorial chamada de fator de desmagnetiza¸c˜ao e depende da forma da amostra. Se a amostra n˜ao for esfericamente sim´etrica, um ou mais eixos poder˜ao ser privilegiados, assim, existir´a uma anisotropia associada a sua geometria.
Figura 2.13: Amostra inserida em um campo magn´etico.
pela integral volum´etrica do produto escalar entre este campo H~ e a magnetiza¸c˜ao
~ M:
Ed = 1 2
Z
volµ0 ~
M ·Hddv,~ (2.32)
No geral, este c´alculo ´e complexo, mas muito ´util quando se tem simetrias en-volvidas. Para o elipsoide da Figura 2.14 o campo desmagnetizante ´e dado por:
Figura 2.14: Representa¸c˜ao de uma amostra elipsoidal e seus eixos a,b e c.
Ed= 1 2
Z
µ0M~ ·D ~fM dv, (2.33)
Ed= 1
2V µ0M~D ~fM , (2.34)
onde V ´e o volume da amostra e Df´e um tensor diagonal, com os semieixos a, b e
c do elips´oide representando os eixos do sistema de coordenadas. Assim, o tra¸co do tensor ser´a:
No geral, o tensor escrito para uma dire¸c˜ao arbitr´aria da magnetiza¸c˜ao em rela¸c˜ao aos semieixos e em termos dos cossenos diretores α1, α2 e α3 ´e dado por:
f D=
Dα1 0 0
0 Dα2 0
0 0 Dα3
,
onde os ´ındices 1, 2 e 3 representam respectivamente os eixos a, b e c.
Escrevendo a energia por volume em termos dos cossenos diretores tem-se:
Ed= 1 2µ0M
2(Dα
1α
2
1) + (Dα2α
2
2) + (Dα3α3
2), (2.36)
Para o caso de uma esfera tem-se:
f
Desf era =
1
3 0 0 0 13 0 0 0 13
,
onde a densidade de energia para esta configura¸c˜ao ser´a:
Edesf era = 1 2µ0M
21 3(α
2
1+α22+α32). (2.37) Simplificando, teremos
Edesf era= 1 6µ0M
2. (2.38)
Isto significa dizer, que todas as dire¸c˜oes de uma esfera s˜ao energeticamente equiva-lentes.
Pode-se ainda escrever a densidade de energia em coordenadas esf´ericas:
Ed= 1 2µ0M
2(D2
α1θcos
2φ+D2
α21θ
2φ+Dα
3cos
2θ). (2.39) Para o caso de um esfer´oide com os semieixos menores exibindo o mesmo tama-nho, a=b < c, a diagonal do tensor Dfapresenta Dα1 =Dα2 e Dα3 = 1−2Dα1.
A express˜ao para a densidade de energia para esta configura¸c˜ao ´e, em coordena-das esf´ericas, dada por:
Edesf eroide = 1 2µ0M
2(D2
α1θcos
2φ+D2
α1θ
2φ+ (1
−2Dα1) cos
2θ)
= 1 2µ0M
2(Dα
1 + (1−3Dα1) cos
dependendo somente do fator de forma.
Para o caso de um cilindro infinitamente longo tem-se, a = b, e c = ∞. As extremidades do cilindro est˜ao muito afastadas e n˜ao ”sentem” uma `a outra. Desta forma, o tensor Dfse apresenta como:
f Dcilindro = 1
2 0 0 0 12 0 0 0 0
.
A express˜ao para a densidade de energia para esta configura¸c˜ao ´e, em coordena-das esf´ericas:
Ecilindro
d =
1 2µ0M
2(D2
α1θcos
2φ+D
α1sin
2θ2φ)
Edcilindro = 1 4µ0M
2θ2. (2.41)
Finalmente, para um filme fino, crescido no plano x-z (dire¸c˜aoeyb ), e levando em conta que as distˆancias entre as superf´ıcies nas dire¸c˜oes exb e ezb s˜ao muito grandes quando comparadas a espessura do filme, isto ´e, α1 =α2 =∞, a ´unica componente significativa agora ser´a Dα3. Desta forma, pode-se escrever o tensor de forma como:
f
Df ilme =
0 0 0 0 0 0 0 0 1
.
A energia ´e ent˜ao expressa pela seguinte equa¸c˜ao,
Edf ilme = 1 2µ0M
2cosθ2, (2.42)
ondeθ ´e o ˆangulo entre o vetor magnetiza¸c˜ao e o eixoeyb de crescimento da amostra. Para minimizar esta energia ´e suficiente tomar o valor de θ= π2 ou 32π. A busca natural pela minimiza¸c˜ao da energia mostra que, para um filme simples crescido na dire¸c˜ao eyb , o vetor magnetiza¸c˜ao ser´a perpendicular a este.
Edf ilme= 1
2µ0(M~ ×bez)
2. (2.43)
2.3.5
Anisotropia de Superf´ıcie
Resultados experimentais mostram que, em amostras magn´eticas com ordem de grandeza em nanˆometros para suas espessuras, possuem um tipo de intera¸c˜ao que torna a magnetiza¸c˜ao de satura¸c˜ao de um filme fino, menor que o correspondente valor da de um filme espesso. Esta intera¸c˜ao se torna cada vez mais pronunciada `a medida que a espessura da amostra diminui. Fenomenologicamente, este compor-tamento ´e associado `a presen¸ca de uma anisotropia de superf´ıcie. Devido `a quebra de simetria na interface, as energias devido a todas as anisotropias, para filmes, apresentam sua constante k anisotr´opica descrita em termos de uma constante kef
composta de 2 parcelas:
kef =kv+ 2ks
d , (2.44)
onde kv e ks representam as dependˆencias da anisotropia cristalina devido ao vo-lume e `a superf´ıcie, respectivamente. Nesta equa¸c˜ao, d ´e a espessura do filme e a constante 2 representa o fato do filme possuir duas interfaces. Esta segunda par-cela mostra a propor¸c˜ao inversa da magnitude desta anisotropia com a espessura d do filme. Por isso, ela somente aparece em filmes finos. Na pr´atica, a anisotropia de superf´ıcie possui a mesma formula¸c˜ao matem´atica da anisotropia de forma, por apresentar as mesmas caracter´ısticas comportamentais e ainda por contribuir com o aprisionamento da magnetiza¸c˜ao no plano do filme. A energia desta anisotropia ´e definida como:
Es =X
i ks
~ M2
si
(Ms~·ezbi)
2, (2.45)
onde θ´e o ˆangulo entre a magnetiza¸c˜ao e o versorezb corresponde `a normal ao plano do filme.
2.3.6
Anisotropia Uniaxial
est´a intimamente relacionada com o que ocorre durante o processo de crescimento do filme. De uma maneira geral pode-se dizer que a anisotropia uniaxial tem sua origem devido a uma desordem na distribui¸c˜ao dos ´atomos em um substrato crista-lino. Pode-se criar uma anisotropia uniaxial numa amostra aplicando-se um campo magn´etico externo para orientar a magnetiza¸c˜ao durante o processo de crescimento. Neste mesmo processo, pode-se ainda aquecer o substrato dando energia cin´etica e mobilidade aos ´atomos da rede (annealing), desde que n˜ao ultrapasse o valor da temperatura de Curie, neste caso a do Ferro. A anisotropia ent˜ao aparece quando se faz um r´apido esfriamento ap´os um processo deposi¸c˜ao, retendo a orienta¸c˜ao da magnetiza¸c˜ao para cada ´atomo em cada s´ıtio da nova rede cristalina constru´ıda.
A express˜ao para a energia desta anisotropia ´e dada por:
Euni =kunicos2θ. (2.46)
Figura 2.15: Comportamento da fun¸c˜ao Energia para a simetria uniaxial
eixo-f´acil se apresenta para θ = π
2e θ = 3π
2 , j´a os eixos-duros aparecem em θ = 0◦ e
θ =π.
2.3.7
Acoplamento de troca Bilinear
A intera¸c˜ao de troca est´a relacionada ao alinhamento das magnetiza¸c˜oes dos filmes que comp˜oem a amostra e, ao contr´ario do que ocorre nas anisotropias magn´eticas, o acoplamento n˜ao privilegia nenhum eixo cristalino. Quando se tˆem dois filmes finos magn´eticos, separados por um espa¸cador condutor n˜ao magn´etico, ocorrem dois fenˆomenos interessantes. A magnetiza¸c˜ao do filme superior pode alinhar-se paralelamente, diz-se aqui, acoplamento ferromagn´etico, ou a magne-tiza¸c˜ao pode se alinhar de forma antiparalela, agora chamada de acoplamento anti-ferromagn´etico. Estes dois efeitos s˜ao denominados de acoplamento de intercˆambio bilinear e somente atrav´es de mecˆanica quˆantica ´e poss´ıvel interpret´a-los. H´a ainda outras energias, como por exemplo, a relacionada ao acoplamento de intercˆambio biquadr´atico [16, 18], fenˆomeno no qual as magnetiza¸c˜oes se alinham perpendicular-mente, mas ser˜ao deixadas de lado neste momento.
De acordo com o modelo de Heisenberg da Mecˆanica Quˆantica, a hamiltoniana do sistema de dois filmes finos pode ser escrita como:
EBil =−J ~S1·S~2, (2.47) onde J ´e o fator que mede esta intera¸c˜ao e ´e chamado de integral de troca. S~1 e S~2 s˜ao osspins dos ´ıons vizinhos. Trocando-se osspins do modelo de Heisenberg pelas respectivas magnetiza¸c˜oes dos filmes, chega-se a:
EBil =−JBilM~1 ·M~2 M1M2
. (2.48)
O denominador desta express˜ao foi acrescentado para que a equa¸c˜ao se torne di-mensionalmente correta e represente a densidade de energia em [erg/cm2]. Quando
Figura 2.16: Ilustra¸c˜ao de uma bicamada acoplada ferromagneticamenteJ >0.
Figura 2.17: Ilustra¸c˜ao de uma bicamada acoplada anti-ferromagneticamenteJ <0.
Em coordenadas esf´ericas, a energia do acoplamento bilinear, pode ser expressa por,
EBil =−JBil[senθ1senθ2cos(φ1−φ2) +cosθ1cosθ2]. (2.49)
2.3.8
A Energia Magn´
etica Total
A energia magn´etica total que deve ser considerada para interpretar os resul-tados deste trabalho ´e composta pela soma de todas as contribui¸c˜oes energ´eticas mencionadas anteriormente. Desta forma, a express˜ao da energia total ´e,
ET otal =EZeeman+EDesmag+ESup+EU ni+ECubica+EBil, (2.50) representando respectivamente: a energia Zeeman, energia de forma, energia devido `a anisotropia de superf´ıcie, energia devido `a anisotropia uniaxial, energia devido `a anisotropia c´ubica e a energia devido ao acoplamento bilinear. De uma forma expl´ıcita, a energia total pode ser expressa por:
ET otal =− 2
X
i=1
di[MiH0cos(φH −φ)−2π(M~ ·ekˆ)2+
ksup
M2(M~ ·ekˆ)] + 2
X
i=1
[kcub1(a
2
´
E comum ainda, expressar a energia total em termos dos campos efetivos. Esta ´e uma forma muito pr´atica de se estudar as propriedades est´aticas da magnetiza¸c˜ao de filmes. Isto facilita a compara¸c˜ao das intensidades relativas de cada energia.
Os campos efetivos s˜ao definidos por:
HSup = 2kSup
dMSat, HU ni=
2kU ni
MSat, HCub =
2kCub
MSat, HBil = JBil
dMSat (2.52)
Ainda ´e v´alido escrever a equa¸c˜ao da energia total em termos apenas das parcelas de energia que contribuem para a posi¸c˜ao de equil´ıbrio da magnetiza¸c˜ao. A energia para dois filmes pode ser expressa ent˜ao por:
Etotal dMSat =−
2
X
i=1
H0cos(φH −φ) + 1
2HU nicos 2(θi
−θu) + 1
8Hcubsen 22θi
−HBilcos(θ1−θ2) (2.53) Tendo em vista todas as formas de energias pass´ıveis de existˆencia, devido ao processo de crescimento empregado, e tendo descrito o modelo fenomenol´ogico geral abordado, pode-se finalmente deixar de lado algumas destas energias que, apesar de estarem presentes, n˜ao entram nas simula¸c˜oes. As anisotropias de forma e de su-perf´ıcie j´a fizeram seu papel aprisionando a magnetiza¸c˜ao no plano do filme. Como somente um ´unico filme ´e considerado, n˜ao existe o termo de acoplamento bilinear. Desta forma, todo o estudo fica centralizado na an´alise do comportamento da se-guinte express˜ao: Etotal dMSat =− 2 X i=1
H0cos(φH −φ)− 1
2HU nicos 2(θi
−θu)− 1
8Hcubsen
22θi (2.54)
Cap´ıtulo 3
T´
ecnicas Experimentais
3.1
Introdu¸c˜
ao
Neste cap´ıtulo ´e feita a descri¸c˜ao das t´ecnicas experimentais utilizadas na pri-meira parte da tese, referente `a fabrica¸c˜ao do monocristal de Fe/MgO. A t´ecnica de Difra¸c˜ao de El´etrons de Baixa Energia ser´a descrita no cap´ıtulo 5, contemplando em mais detalhes, a sua teoria, o aparato experimental e a simula¸c˜ao num´erica.
As medidas foram efetuadas com a coopera¸c˜ao de v´arios laborat´orios de diferen-tes pardiferen-tes do Brasil. Os resultados de magnetometria a Efeito Kerr Magneto- ´Optico foram realizadas neste departamento, os de Ressonˆancia Ferromagn´etica, feitas no Departamento de F´ısica da UFPE. As medidas de Espectroscopia de Fotoel´etrons Excitados por R-X foram no laborat´orio de F´ısica de Superf´ıcies da UFMG e as me-didas de Microscopia de For¸ca Atˆomica no laborat´orio de microscopia desta mesma universidade.
3.2
Descri¸c˜
ao das T´
ecnicas Experimentais
3.2.1
O m´
etodo de deposi¸c˜
ao por sputtering
A colis˜ao destes ´ıons favorece a eje¸c˜ao de material do alvo, que ´e pulverizado em todas as dire¸c˜oes e pode se depositar de maneira organizada em uma superf´ıcie cristalina (substrato), colocada imediatamente oposta ao alvo, sob determinadas condi¸c˜oes de temperatura e press˜ao. O aparato experimental ´e mostrado na Figura 3.1.
Figura 3.1: Representa¸c˜ao esquem´atica do sistema desputtering.
3.2.2
Microscopia de For¸ca Atˆ
omica
Em 1986, Binnig, Quate e Gerber [20] desenvolveram um aparato experimental para medir for¸cas em escala atˆomica. O princ´ıpio b´asico desta t´ecnica consiste em medir a deflex˜ao de uma haste (de 100 a 200 µm de comprimento) que possui uma extremidade onde est´a montada uma sonda. A sonda consiste de uma ponta de sil´ıcio [21], no formato de pirˆamide invertida (ver detalhe na Figura 3.2), possuindo dimens˜oes nanom´etricas. Ao passar a sonda por uma superf´ıcie rugosa as for¸cas de intera¸c˜ao entre os ´atomos da superf´ıcie da amostra e da ponta da sonda geram deflex˜oes na haste. Estas oscila¸c˜oes podem ent˜ao ser medidas e representar˜ao a rugosidade da superf´ıcie. A t´ecnica ´e uma poderosa ferramenta topogr´afica gerando imagens em 3 dimens˜oes de superf´ıcies com resolu¸c˜ao atˆomica [22, 23], por isso chamada de Microscopia de For¸ca Atˆomica (AFM - Atomic Force Microscopy) ou nanoscopia.
Figura 3.2: Representa¸c˜ao esquem´atica do conjunto haste - sonda de um Microscopia de For¸ca Atˆomica. No detalhe, a sonda e suas dimens˜oes nanom´etricas.
s˜ao dominantes.
Para entender o funcionamento de um AFM deve-se ter o conhecimento das for¸cas que agem entre os sistemas nanosc´opicos a distˆancias muito pequenas. Na Figura 3.3, est˜ao representadas as for¸cas que agem entre a sonda e a amostra em fun¸c˜ao da distˆancia que as separa. Este tipo de for¸ca ´e proveniente do potencial de Lennard-Jones entre dois ou mais ´atomos, ou qualquer outro potencial de intera¸c˜ao com uma dependˆencia deste tipo na vari´avel r.
Figura 3.3: O potencial de Lennard-Jones. Na ´area abaixo da linha de for¸ca nula, as for¸cas s˜ao atrativas. Acima desta linha, as for¸cas s˜ao repulsivas.
sua posi¸c˜ao para um valor negativo. As varia¸c˜oes da posi¸c˜ao do feixe do LASER no sensor s˜ao portanto, proporcionais `a topografia da superf´ıcie da amostra.
Figura 3.4: Representa¸c˜ao das duas regi˜oes que determinam os modos de opera¸c˜ao do AFM. Em (a) - Deflex˜ao da mola operando em modo contato. Em (b) - modo n˜ao-contato.
Existem diferentes t´ecnicas de se obter imagens de superf´ıcies usando AFM. Os modos de opera¸c˜ao, tamb´em chamados modos de varredura, referem-se basicamente `a distˆancia mantida entre a sonda e a amostra, no momento da varredura, e `as formas de movimentar a sonda sobre a superf´ıcie da amostra.
A t´ecnica de AFM pode ser classificada em 2 modos de for¸ca distintos: Contato e n˜ao-contato [25]. Quando operado no modo de n˜ao-contato, a separa¸c˜ao entre a ponta e superf´ıcie da amostra ´e da ordem de 10-100 nm. As for¸cas como Van der Waals, eletrost´atica, magn´eticas, capilares e outras, podem ser medidas, fornecendo informa¸c˜oes sobre a superf´ıcie. Nesta regi˜ao de opera¸c˜ao, a haste do AFM se dobra na dire¸c˜ao da amostra.
Com separa¸c˜oes da ordem de ˆangstrons, a ponta est´a em contato com a su-perf´ıcie da amostra. Neste modo, a for¸ca de repuls˜ao eletrˆonica faz a haste dobrar-se, afastando-se da amostra e permitindo que a topografia da superf´ıcie seja mapeada com alta resolu¸c˜ao. A Figura 3.4 mostra a deflex˜ao da mola em ambos os modos.
um cristal piezoel´etrico, podemos controlar a deforma¸c˜ao de sua rede cristalina no regime nanom´etrico. O sistema haste-sonda acoplado a um dispositivo com esta caracter´ıstica pode fornecer resolu¸c˜ao de ˆangstrons nos eixos x, y e z do sistema cartesiano.
Figura 3.5: Representa¸c˜ao da topografia da amostra medida pela varia¸c˜ao do posicionamento do feixe de LASER refletido pela haste .
3.2.3
Espectroscopia de fotoel´
etrons excitados por Raios-X
Os primeiros experimentos acerca da Espectroscopia de Fotoel´etrons (XPS- X-Ray Photoelectron Spectroscopy) nasceram do trabalho de Hertz [26] em 1887. Por´em, a explica¸c˜ao para o processo de emiss˜ao eletrˆonica s´o veio ap´os o trabalho de Eins-tein sobre o efeito foto-el´etrico [27]. A consolida¸c˜ao da t´ecnica como m´etodo de an´alise sofisticada da superf´ıcie dos materiais apareceu muito tempo depois com o resultado de um trabalho meticuloso feito por Kai Seigbahn [28] em 1967, mas os primeiros trabalhos bem documentados a respeito dos espectros do XPS s˜ao devidos a Robinson [29, 30]. O desenvolvimento hist´orico do XPS desde Hertz, em 1887, at´e Seigbahn, descrevendo a emergˆencia da t´ecnica entre o per´ıodo 1900 - 1960, ´e bem descrito em [31] e [32] por Jenkin et al .
el´etron de uma camada interna do ´atomo. Este n´ıvel de energia ´e excitado e, em um processo de perda de energia, emite um el´etron de um determinado n´ıvel eletrˆonico com energia cin´etica Ek. Considerando o processo como el´astico, a energia cin´etica do el´etron ejetado ´e:
Ek=ν−Elig−φ, (3.1)
onde, ´e a constante de Plank, ν ´e a frequˆencia da radia¸c˜ao e φ´e a fun¸c˜ao trabalho. Se a energia do f´oton, for maior que a fun¸c˜ao trabalho do material esse el´etron escapar´a do ´atomo, sendo emitido da superf´ıcie do material. O el´etron emitido com energia Ek, ´e chamado de fotoel´etron. Uma representa¸c˜ao do efeito ´e mostrada na Figura 3.6.
Figura 3.6: Representa¸c˜ao do processo de eje¸c˜ao dos fotoel´etrons.
Os f´otons usados para a excita¸c˜ao, nesta t´ecnica, est˜ao na faixa de raios-X e pelo fato de n˜ao possu´ırem carga el´etrica, sua se¸c˜ao de choque ´e muito pequena, assim possuem um comprimento de penetra¸c˜ao (λp) [33] grande, penetrando profunda-mente no material. No entanto, os fotoel´etrons ejetados possuem um livre caminho m´edio da ordem de ˆangstrons, devido `a sua grande se¸c˜ao de choque (promovida pela carga eletrˆonica). Assim os ´unicos el´etrons que podem escapar do material e serem coletados para an´alise s˜ao os ejetados pelas primeiras camadas atˆomicas da superf´ıcie do material. A Figura 3.7 mostra o livre caminho m´edio do el´etron em fun¸c˜ao de sua energia cin´etica.
a estequiometria da composi¸c˜ao qu´ımica da uma amostra, bem como, o estado eletrˆonico da superf´ıcie deste material. Por isso, XPS ´e uma t´ecnica de estudo de superf´ıcie.
Figura 3.7: Representa¸c˜ao do livre caminho m´edio dos fotoel´etrons ejetados em fun¸c˜ao de energia cin´etica para v´arios elementos [34]. As regi˜oes delimitadas representam a respectiva sensibilidade de v´arias t´ecnicas.
Na fonte de raios-X, utiliza-se alvos de Mg e Al. As linhas mais intensas e frequentemente mais utilizadas s˜ao as linhas principais do M gKα=1253,6 eV e a do AlKα=1486,6 eV. Estes valores s˜ao suficientes para excitar pelo menos um fo-toel´etron do n´ıvel mais interno de praticamente quase todos os elementos da tabela peri´odica [34].
posteriormente chegam ao detetor (channeltron). No detector os fotoel´etrons s˜ao contados e identificados conforme a energia cin´etica que possuem. A contagem de fotoel´etrons que incidem no detector em fun¸c˜ao da energia cin´etica, convertida em energia de liga¸c˜ao eV, gera o espectro caracter´ıstico do XPS. As Figuras 3.8 e 3.9 mostram o aparato experimental e o seu espectro caracter´ıstico, respectivamente.
Figura 3.8: Aparato experimental da t´ecnica XPS.
Figura 3.9: Espectro caracter´ıstico do XPS de uma das amostras.
do ´atomo deixando um estado eletrˆonico vazio, eventualmente, pode ocorrer o pre-enchimento deste buraco por um el´etron de uma camada superior, emitindo um f´oton. Este processo ´e conhecido como fluorescˆencia de raios-X. Pode ainda, haver o preenchimento do buraco, juntamente com a emiss˜ao de um segundo el´etron. Os el´etrons emitidos atrav´es deste mecanismo s˜ao chamados de el´etrons Auger [35]. Este fenˆomeno ´e representado na Figura 3.10.
A energia do fotoel´etron emitido de um estado de energia ligado, que deixou seu estado eletrˆonico sem alterar a configura¸c˜ao antes da fotoioniza¸c˜ao (Elig), ´e dada por:
Figura 3.10: Representa¸c˜ao do processo de emiss˜ao Auger.
A express˜ao ´e conhecida como teorema de Koopman [36]. A fun¸c˜ao trabalho do elemento ´e compensada pelo espectrˆometro, que adiciona pequenos valores ao valor da energia de liga¸c˜ao do elemento analisado.
Outros mecanismos de emiss˜ao aparecem neste processo. El´etrons de valˆencia ligados a um ´atomo que tiveram um de seus el´etrons internos ejetados, sofrem uma perturba¸c˜ao levando a banda de valˆencia a uma reorganiza¸c˜ao. Os demais el´etrons ao se adaptarem `a nova configura¸c˜ao podem promover a excita¸c˜ao de um el´etron ou sua eleva¸c˜ao a um n´ıvel n˜ao preenchido de mais alta energia. A diferen¸ca na energia devido a esta configura¸c˜ao ´e representada por uma altera¸c˜ao de relaxa¸c˜ao intra-atˆomica Ea, que ´e adicionando ao teorema de Koopman:
Ek =ν−Elig +Ea. (3.3)
Como resultado disto, um estado de energia abaixo do estado fundamental ´e gerado e um pico sat´elite aparece no espectro caracter´ıstico. Este pico ´e chamado de shake-up e devido ao surgimento originado na camada de valˆencia e n˜ao na camada principal do processo de fotoemiss˜ao, ´e considerado secund´ario. Sua intensidade ´e menor que a linha de emiss˜ao da energia de banda analisada. A linha de emiss˜ao ´e geralmente de poucos eV abaixo da linha de emiss˜ao principal.
3.2.4
Magnetometria por Efeito Kerr Magneto- ´
Optico
A t´ecnica de investigar as propriedades magn´eticas de filmes finos e ultrafinos mais utilizada atualmente ´e a magnetometria por efeito Kerr. Esta t´ecnica pode apresentar uma sensibilidade duas ordens de grandeza maior, quando comparada a m´etodos indutivos como VSM, por exemplo. Pode ainda ser usada para mapear a magnetiza¸c˜ao em pequenas regi˜oes, bastando para isso focalizar o feixe LASER na regi˜ao desejada [38]. O grande interesse por este tipo de investiga¸c˜ao deriva do recente crescimento e comercializa¸c˜ao de dispositivos de armazenamento de in-forma¸c˜oes de alta densidade, mais especificamente no sistema de leitura, no qual s˜ao usadas multicamadas magn´eticas.
Em 1876, o f´ısico Jonh Kerr [39, 40], descobriu que havia uma rota¸c˜ao do plano de polariza¸c˜ao de um feixe de luz linearmente polarizado, quando este refletia numa amostra magnetizada. ´E o efeito semelhante ao Efeito Faraday [41] para a reflex˜ao e foi denominado de Efeito Kerr Magneto- ´Optico (MOKE- ”Magnet-Optical Kerr Effect”). Este efeito nasce da intera¸c˜ao dos f´otons com os el´etrons das camadas do material que foram penetradas pela radia¸c˜ao.
A magnetometria a efeito Kerr Magneto- ´Optico baseia-se na rota¸c˜ao do plano de polariza¸c˜ao da luz refletida por uma amostra, quando est´a inserida em campo magn´etico externo control´avel. O resultado ´e uma curva de histerese magn´etica do filme medido, na qual o eixo x do gr´afico representa o campo magn´etico externo e o eixo y representa a magnetiza¸c˜ao em unidades arbitr´arias.
Incidindo luz polarizada em um filme ferromagn´etico, pode-se observar trˆes dife-rentes tipos de Efeito Kerr [42]. O Efeito Kerr longitudinal ´e sens´ıvel `a componente paralela da magnetiza¸c˜ao em rela¸c˜ao `a superf´ıcie do filme e ao plano de incidˆencia da luz. O efeito sens´ıvel `a componente paralela da magnetiza¸c˜ao em rela¸c˜ao `a superf´ıcie do filme, mas ortogonal ao plano de incidˆencia, chama-se efeito Kerr transversal. J´a o efeito devido `a componente ortogonal do vetor magnetiza¸c˜ao com rela¸c˜ao ao plano da superf´ıcie do filme chama-se feito Kerr polar. Uma representa¸c˜ao gr´afica destas configura¸c˜oes ´e apresentada na Figura 4.3.3.
Figura 3.11: As configura¸c˜oes de Efeito Kerr Magneto- ´Optico. O quadrado amarelo representa a amostra ferromagn´etica. Em roxo, o substrato, a linha vermelha representa o percurso do LASER e finalmente em verde, a dire¸c˜ao de aplica¸c˜ao do campo magn´etico externo. ˆnrepresenta o versor normal a superf´ıcie do plano de incidˆencia.
Figura 3.12: O arranjo experimental para medidas de Efeito Kerr Magneto- ´Optico.
Matematicamente, este feixe de luz incidente ´e representado por:
~
E(~r, ~k, t) =E0ei(~k·~r−ωt). (3.4) Este feixe, ao passar pelo primeiro polarizador, fica com seu plano de oscila¸c˜ao do campo el´etrico E~i determinado. (O ´ındice i significa incidente). O polarizador
em fase nas dire¸c˜oes ˆp e ˆs.
~
E =Esi~s+Epi~p (3.5)
O feixe, ap´os ser refletido pela superf´ıcie do filme, perde intensidade devido `a parcela de luz refratada internamente (aqui s˜ao levadas em considera¸c˜ao as condi¸c˜oes de contorno [33] para os campos el´etrico e magn´etico na superf´ıcie do filme). As am-plitudes dos feixes refletido e incidente nas polariza¸c˜oes~pe~spodem ser relacionadas atrav´es dos coeficientes de Fresnel [33]:
Epr
Er s
=R
Epi
Ei s (3.6) onde R=
rpp rps
rsp rss
. (3.7)
Os elementos da matriz R s˜ao dados pela raz˜ao entre as amplitudes refletida e incidente em suas polariza¸c˜oes.
rpp = E
r p Ei p
, (3.8)
rps = E
r p Ei s
, (3.9)
rsp = Er s Ei p (3.10) e
rss = Er
s Ei s
. (3.11)
A onda refletida ´e ent˜ao escrita na forma:
~
experimento, investigando filmes de ferro crescidos epitaxialmente em substrato de ouro na dire¸c˜ao [100] (detalhes na referˆencia [44]). Para o entendimento do SMOKE ´e preciso considerar a Figura 3.13.
Figura 3.13: Modelo adotado quando a espessura do filme ´e menor que o comprimento de pene-tra¸c˜ao da luz - SMOKE.
Neste regime de espessuras, existe uma reflex˜ao interna devido `a interface filme/substrato que contribui com uma parcela de efeito Faraday durante sua propaga¸c˜ao atrav´es
do filme e que deve ser levada em considera¸c˜ao. O c´alculo dos coeficientes de Fres-nel para este sistema consiste em aplicar as equa¸c˜oes de Maxwell e satisfazer `as condi¸c˜oes de contorno nas interfaces ar/filme e filme/substrato, tantas vezes quanto o n´umero de camadas da amostra no qual o feixe de luz penetra. Este problema foi resolvido por J. Zak et al considerando algumas aproxima¸c˜oes [46], os coeficientes encontrados s˜ao:
rpp=
n3cosθ1−n1cosθ2
n3cosθ1+n1cosθ2
, (3.13)
rss = n1cosθ1−n3cosθ2
n1cosθ1+n3cosθ2
, (3.14)
rps =−4π
λ
n1dcosθ1(cosθ2n22mz−n3n1senθ1my)Q (n1cosθ1+n3cosθ2)(n3cosθ1+n1cosθ2)