MICROECONOMIA 2
Departamento de Economia, Universidade de Bras´ılia
Notas de Aula 8 – Teoria da Informa¸c˜
ao
Prof. Jos´
e Guilherme de Lara Resende
1
Economia da Informa¸
c˜
ao
1.1
Introdu¸
c˜
ao
Os modelos que vimos at´e agora sup˜oem informa¸c˜ao perfeita. Por exemplo, os consumidores possuem toda informa¸c˜ao relevante sobre a qualidade dos produtos adquiridos. J´a as firmas con-hecem exatamente a produtividade de novos empregados.
Isso permite tratar os dois problemas, consumidor e firma, separadamente e depois unificar a an´alise via pre¸cos que equilibram mercados. Modelos de equil´ıbrio geral sup˜oem intera¸c˜oes entre os agentes bastante limitadas, que se d˜ao apenas pelo sistema de pre¸cos. Isso gera v´arios problemas, como, por exemplo, justificar a existˆencia de firmas. Incluir incerteza nos modelos de equil´ıbrio geral n˜ao resolve o problema, j´a que nesses modelos a incerteza ´e modelada de modo sim´etrico. Problemas aparecem quando existe assimetria de informa¸c˜ao.
Exemplos:
1. Rela¸c˜ao empregado/patr˜ao: n´ıvel de esfor¸co, 2. Compra de produtos: qualidade do produto, 3. Venda de produtos: disponibilidade a pagar.
Modelos de informa¸c˜ao imperfeita quebram essa metodologia: assimetrias de informa¸c˜ao podem gerar comportamentos estrat´egicos, onde o agente que possui a informa¸c˜ao privada tenta tirar proveito dela. Na maioria dos casos, a assimetria de informa¸c˜ao gera uma ineficiˆencia. Logo, o primeiro teorema do bem-estar deixa de ser v´alido.
Caracter´ısticas dos Modelos de Informa¸c˜ao: 1. Na maior parte, equil´ıbrio parcial (um bem);
2. Intera¸c˜ao de um n´umero pequeno de agentes (dois, usualmente);
3. As restri¸c˜oes geradas pelo modelo s˜ao descritas por um contrato, garantido por uma terceira parte;
1.2
Classifica¸
c˜
ao dos Modelos
Os modelos de informa¸c˜ao privada podem ser classificados de diversas formas, e algumas dessas classifica¸c˜oes podem ser conflitantes. Vamos adotar a seguinte classifica¸c˜ao, que segue Salanie, quanto:
I) Ao tipo da informa¸c˜ao assim´etrica:
(a) O que o agente ´e/suas caracter´ısticas: informa¸c˜ao oculta (b) O que o agente faz/decis˜ao que toma: a¸c˜ao oculta
II) `A forma do jogo:
(a) Sele¸c˜ao adversa (ou “Screening”): uma parte ´e imperfeitamente informada sobre as caracter´ısticas da outra parte. Parte desinformada move-se primeiro.
(b) Sinaliza¸c˜ao: uma parte ´e imperfeitamente informada sobre as caracter´ısticas da outra parte. Parte informada move-se primeiro.
(c) Perigo Moral : uma parte ´e imperfeitamente informada sobre as a¸c˜oes da outra parte. Parte desinformada move-se primeiro.
Os modelos de informa¸c˜ao assim´etrica assumem barganha simples, sem intera¸c˜ao no processo de barganha, que leva a formula¸c˜ao de um contrato do tipo “pegue ou leve” (“take-it-or-leave-it ”). O cumprimento do contrato ´e assegurado por uma terceira parte (justi¸ca, por exemplo).
Os participantes da transa¸c˜ao s˜ao denominados: • Principal : Parte desinformada.
• Agente: Parte informada.
A terminologia mais usada para classificar os tipos de solu¸c˜ao ´e:
• First-Best : a solu¸c˜ao do problema para o caso em que a informa¸c˜ao ´e perfeita. Esse caso serve de compara¸c˜ao para avaliar a perda de bem-estar causada pela assimetria informacional. • Second-Best : a solu¸c˜ao do problema para o caso em que ´e considerado a assimetria
informa-cional. Usualmente, essa solu¸c˜ao apresentar´a uma perda de bem-estar, com rela¸c˜ao `a solu¸c˜ao de First-Best.
• Third-Best : a solu¸c˜ao do problema para o caso em que ´e considerado a assimetria informa-cional, restringindo os tipos de solu¸c˜ao consideradas. Mais comum de ocorrer em casos de perigo moral (por exemplo, rela¸c˜ao patr˜ao-empregado, em que contrato de sal´ario pode ser apenas do tipo pagamento fixo mais comiss˜ao e n˜ao qualquer fun¸c˜ao do sal´ario).
Um resultado pouco intuitivo que pode ocorrer em certas situa¸c˜oes de perigo moral ´e o bem-estar total associado `a solu¸c˜ao de Second-Best ser menor do que o bem-estar total associado `a solu¸c˜ao de Third-Best (obviamente, considerando apenas o principal, o seu bem-estar no Second-Best ser´a maior ou igual ao seu bem-estar no Third-Best ).
2
Sele¸
c˜
ao Adversa
2.1
Mercado de Carros Usados (Akerlof )
Vamos assumir um mercado de carros usados, com v´arios vendedores e compradores (Akerlof, 1970). Os carros podem ser de dois tipos: boa (P, peach) e m´a (L, lemon) qualidade. O propriet´ario do carro (vendedor) sabe a qualidade do seu carro. Por´em os compradores n˜ao sabem distinguir se o carro ´e de boa ou de m´a qualidade.
Vamos usar a seguinte nota¸c˜ao:
• vV(CB) = b (valor de CB para o vendedor) e vC(CB) = B (valor do CB para o comprador),
onde B > b;
• vV(CR) = m (valor de CR para o vendedor) e vC(CR) = M (valor do CR para o comprador),
onde M > m;
• q: propor¸c˜ao de carros bons no mercado.
Se a informa¸c˜ao for completa, ou seja, tanto o vendedor como o comprador souberem qual ´e o tipo do carro, ent˜ao CB ser´a vendido por um pre¸co PCB entre b e B e CR ser´a vendido por um
pre¸co pCR entre m e M .
O que ocorre se o vendedor souber a qualidade do carro, por´em o comprador n˜ao observar a qualidade? Agora teremos apenas um ´unico pre¸co p, pois n˜ao ser´a poss´ıvel diferenciar os tipos de carros. Note que os vendedores oferecem CB apenas se p > b. Logo:
• Se p < b: tipo do carro ´e revelado (CR), compradores adquirem CR se p ≤ M ;
• Se p > b: compradores achar˜ao que carro o valor esperado do carro ´e qB + (1 − q)M . Ent˜ao podem existir dois equil´ıbrios poss´ıveis:
1. p = M < b: apenas carros ruins s˜ao vendidos; e
2. p = qB + (1 − q)M ≥ b: ambos os carros s˜ao vendidos (equil´ıbrio agregador, sem revela¸c˜ao do tipo de carro vendido).
No segundo equil´ıbrio, se M for menor do que b e se q for suficientemente pequeno (poucos carros bons no mercado), ent˜ao qB + (1 − q)M < b. Neste caso, os vendedores de carros bons n˜ao est˜ao dispostos a vender. Logo o primeiro caso ´e o equil´ıbrio.
Temos ent˜ao um caso extremo, em que o mercado de um tipo de bem (carro de boa qualidade) deixa de existir. Por´em mercados de carros de boa qualidade existem, o que ocorre? Muitas vezes o pr´oprio mercado pode criar formas de revelar o tipo do bem transacionado.
No mercado de carros usados, ambos os tipos de carros j´a existem. Se tivermos um mercado onde o produtor pode escolher a qualidade do bem a ser vendido, mas onde o comprador n˜ao consegue observar o n´ıvel de qualidade desse produto, ent˜ao pode-se mostrar que a possibilidade de produ¸c˜ao de bens de baixa qualidade pode (dependendo das caracter´ısticas do mercado) destruir o mercado do bem, tanto o mercado de alta qualidade como o mercado de baixa qualidade.
2.2
Sinaliza¸
c˜
ao
Nos modelos de sinaliza¸c˜ao, o agente (vendedor do carro, no exemplo acima), de alguma maneira cr´ıvel, comunica o seu tipo para o principal (o comprador, no exemplo acima).
Por exemplo, os vendedores de carros de boa qualidade podem oferecer uma garantia, de modo a sinalizar que seu carro ´e bom. Neste caso, a sinaliza¸c˜ao serve para que estes vendedores se diferenciem dos vendedores de carros de m´a qualidade e com isso o mercado funciona melhor.
Para que o sinal consiga de fato separar os dois tipos de carros, ´e importante que o custo de fornecer garantia para carros de m´a qualidade seja maior do que para carros de boa qualidade (“single-crossing property”, ou condi¸c˜ao de Spence-Mirrless ou condi¸c˜ao de separa¸c˜ao – “sorting condition”), de modo que n˜ao ´e vi´avel para vendedores de carros de m´a qualidade fornecerem a mesma garantia fornecida pelos vendedores de carros de boa qualidade.
2.3
Modelo de Sinaliza¸
c˜
ao de Spence
Suponha que firmas querem contratar empregados, que podem ser de dois tipos: alta produ-tividade (θH) ou baixa produtividade (θL). Vamos assumir que a propor¸c˜ao de tipos de baixa
produtividade na popula¸c˜ao ´e α.
Se a firma conseguisse observar o tipo do trabalhador, ela pagaria sal´arios diferentes para tipos diferentes, de modo que wh = θH e wL = θL. Por´em a firma n˜ao consegue distinguir o tipo do
trabalhador. O trabalhador pode sinalizar o seu tipo `a firma, por meio da quantidade de educa¸c˜ao adquirida. A utilidade do trabalhador do tipo θi, i = L, H, que estudou e anos e recebe sal´ario w
´e separ´avel em w e e:
u(w) − c(e, θi)
Vamos supor que:
• u0 > 0 (“mais ´e melhor”) e u00 < 0 (avers˜ao ao risco); • ∂c/∂e > 0: adquirir educa¸c˜ao ´e custoso;
• ∂2c/∂e2 > 0: e se torna cada vez mais custoso;
• ∂c(·, θL)/∂e > ∂c(·, θH)/∂e: adquirir educa¸c˜ao ´e mais custoso para o tipo menos produtivo
(condi¸c˜ao de Spence-Mirrless).
Note que o modelo acima e suas suposi¸c˜oes assumem duas hip´oteses importantes em termos intuitivos:
• Sinal n˜ao afeta produtividade (sinal puro),
• Tipos diferentes tˆem custos diferentes de adquirir o sinal (condi¸c˜ao de Spence-Mirrless). As hip´oteses acima implicam que as curvas de indiferen¸ca s˜ao positivamente inclinadas, j´a que educa¸c˜ao gera desutilidade, e a curva de inidiferen¸ca do indiv´ıduo de baixa produtividade ser´a maior do que a do de alta produtividade, j´a que ∂c(·, θL)/∂e > ∂c(·, θH)/∂e (essa condi¸c˜ao tamb´em
´e chamada de single crossing condition pois implica que dadas duas curvas de indiferen¸ca quaisquer dos dois tipos, elas s podem se cruzar no m´aximo uma vez). A Figura abaixo ilustra essas curvas de indiferen¸ca.
6 -w Educa¸c˜ao uH uL @ @ @ I Dire¸c˜ao na qual a utilidade aumenta
Vamos assumir que o tipo θ do indiv´ıduo n˜ao ´e observ´avel pela firma, mas que o n´ıvel de educa¸c˜ao e obtido indiv´ıduo pode ser observ´ado pela firma.
Na solu¸c˜ao de first-best, no caso em que a firma consegue observar o tipo do candidato, ela pagaria wL = θL ao tipo de baixa produtividade e wH = θH ao tipo de alta produtividade. Al´em
disso, nenhum dos tipos adquiriria qualquer n´ıvel de educa¸c˜ao (educa¸c˜ao ´e um sinal puro neste modelo!). 6 -w Educa¸c˜ao θH θL uH(w = θH, e = 0) uL(w = θL, e = 0)
Por´em, caso o principal n˜ao consiga identificar os tipos, essa solu¸c˜ao n˜ao se mant´em, pois o tipo θLtentaria se passar pelo tipo θH, para receber um sal´ario maior. Vamos assumir que os indiv´ıduos
podem utilizar educa¸c˜ao para sinalizar o seu tipo para a firma. Vamos continuar supondo que cada trabalhador recebe um sal´ario dado pela sua produtividade marginal, caso o seu tipo seja revelado para a firma corretamente.
Defini¸c˜ao: Sistema de Cren¸cas. Denote por µ(e) a cren¸ca que a firma atribui a um candidato com e anos de educa¸c˜ao ser do tipo de baixa produtividade. Ent˜ao a fun¸c˜ao µ define um sistema de cren¸cas para a firma, de tal modo que:
w(e) = µ(e)θL+ (1 − µ(e))θH
O jogo modelado ´e de informa¸c˜ao incompleta: o principal desconhece uma caracter´ıstica im-portante dos agentes. O principal ent˜ao forma um sistema de cren¸cas sobre o tipo que cada agente pode ser, dado o n´ıvel de educa¸c˜ao adquirido. Portanto, a no¸c˜ao de equil´ıbrio utilizada nesse tipo de modelo ´e mais complicada: ela define n˜ao apenas estrat´egias, mas tamb´em as cren¸cas que o prin-cipal ter´a a respeito do agente considerado. Existem diversas no¸c˜oes de equil´ıbrios com cren¸cas. Dois deles s˜ao o equil´ıbrio sequencial e o equil´ıbrio intuitivo.
Defini¸c˜ao (informal): Equil´ıbrio Sequencial para o Jogo de Sinaliza¸c˜ao. Um equil´ıbrio seguencial para o jogo de sinaliza¸c˜ao descrito acima consiste em estrat´egias (e∗L, e∗H, w∗) e cren¸cas µ∗ tais que:
1. Cada candidato escolhe e j´a antecipando o sal´ario de equil´ıbrio, de modo a maximizar o seu bem-estar:
e∗i ∈ arg max
e≥0
u(w∗(e)) − c(e, θi) , para i = L, H .
2. A firma define os sal´arios w∗ de modo a maximizar o seu lucro esperado, dada a escolha dos candidatos.
3. O sistema de cren¸cas µ(e)∗ deve ser consistente com as estrat´egias e∗, no seguinte sentido: • Se e∗ L6= e ∗ H, ent˜ao µ(e ∗ L) = 1 e µ(e ∗ H) = 0. • Se e∗ L= e ∗ H, ent˜ao µ(e ∗ L) = µ(e ∗ H) = α.
A defini¸c˜ao de equil´ıbrio acima garante em 1) que cada candidato escolhe o seu n´ıvel de educa¸c˜ao de modo a maximizar a sua utilidade, dada a pol´ıtica de sal´arios da firma, em 2) que a firma maximiza o seu lucro esperado, dada a escolha ´otima de educa¸c˜ao dos agente feitas em 1), e em 3) que o sistema de cren¸c˜as da firma ´e consistente no sentido de que se tipos distintos adquirirem quantidades de educa¸c˜ao distintas, ent˜ao a firma ir´a identificar qual o tipo correto que adquiriu cada n´ıvel de educa¸c˜ao. Ja se os doi tipos adquirirem o mesmo n´ıvel de educa¸c˜ao, ent˜ao a firma assume que est´a diante de um candidato de baixa produtividade com probabilidade α, que ´e a propor¸c˜ao de candidatos de baixa produtividade na popula¸c˜ao de candidatos.
A defini¸c˜ao acima deixa claro que existem dois tipos de equil´ıbrios: • Separador : e∗
L 6= e∗H: tipos diferentes de trabalhadores adquirem quantidades distintas de
educa¸c˜ao e firmas conseguem corretamente separar os tipos, pagando sal´arios distintos para tipos diferentes; e
• Agregador : e∗L = e∗H: tipos diferentes de trabalhadores adquirem a mesma quantidade de educa¸c˜ao e firmas pagam um mesmo sal´ario para os dois tipos de trabalhadores (igual `a produtividade m´edia dos tipos, ponderada pela propor¸c˜ao de cada tipo no mercado).
No equil´ıbrio separador, o tipo θL n˜ao obt´em qualquer educa¸c˜ao e o tipo θH obt´em uma
quanti-dade de educa¸c˜ao suficiente para garantir que ele se diferencie do tipo θL. Para esse arranjo ser de
fato um equil´ıbrio, devemos ter que as seguintes restri¸c˜oes de compatibilidade de incentivo (RCI) sejam satisfeitas:
u(θL) − c(e∗L, θL) ≥ u(θH) − c(e∗H, θL) (RCIL)
u(θH) − c(e∗H, θH) ≥ u(θL) − c(e∗L, θH) (RCIH)
A RCIL garante que o contrato ´otimo seja desenhado de tal modo que o tipo L vai de fato
adquirir o n´ıvel de educa¸c˜ao e∗L, e n˜ao e∗H, tentando se passar pelo tipo alto para desse modo receber θH > θL. Racioc´ınio similar vale para RCIH.
No equil´ıbrio agregador, os dois tipos adquirem a mesma quantidade de educa¸c˜ao e∗. Como a firma n˜ao consegue usar o sinal para distinguir os tipos, a cren¸ca dela ser´a dada por µ(e∗) = α, ou seja, ela utiliza a distribui¸c˜ao de tipos na popula¸c˜ao para calcular o sal´ario de equil´ıbrio. Deste modo, o sal´ario pago ser´a o mesmo para os dois tipos e igual `a produtividade m´edia da popula¸c˜ao:
w(e∗) = αθL+ (1 − α)θH.
Ocorre um problema com a solu¸c˜ao encontradas utilizando o conceito de equil´ıbrio sequencial: ´e poss´ıvel mostrar que existir´a um n´umero infinito de equil´ıbrios dos dois tipos, separador e agregador. Isto leva a um problema s´erio no poder preditivo do modelo e impede qualquer an´alise de est´atica comparativa de ser feita. Esse problema ´e causado pelo fato de que equil´ıbrios sequenciais) n˜ao disciplinam o sistema de cren¸cas para estrat´egias fora do equil´ıbrio.
Vamos impor que a no¸c˜ao de equil´ıbrio com cren¸cas utilizada acima tamb´em discipline as cren¸cas do principal para n´ıveis de educa¸c˜ao diferentes dos de equil´ıbrio.
Defini¸c˜ao: Crit´erio Intuitivo. Denote por u∗L e u∗h as utilidades de equil´ıbrio dos tipos L e H, respectivamente. O equil´ıbrio sequencial que define estrat´egias (e∗L, e∗H, w∗) e cren¸cas µ∗ satisfaz o crit´erio intuitivo se para todo e 6= e∗L, e∗H tivermos que:
• Se u(w(e)) − c(e, θL) > u∗L e u(w(e)) − c(e, θH) < u∗H, ent˜ao µ(e) = 1; e
• Se u(w(e)) − c(e, θL) < u∗L e u(w(e)) − c(e, θH) > u∗H, ent˜ao µ(e) = 0.
Um equil´ıbrio intuitivo ´e ent˜ao um equil´ıbrio sequencial que satisfaz o crit´erio intuitivo. Esse crit´erio diz que se um determinado n´ıvel de educa¸c˜ao e ´e tal que melhora apenas a utilidade do tipo L e piora a do tipo H, com rela¸c˜ao `as utilidade de equil´ıbrio, ent˜ao a firma crˆe que o ´unico tipo que adquiriria tal sinal seria o tipo L (µ(e) = 1. De modo an´alogo, se um determinado n´ıvel de educa¸c˜ao e ´e tal que melhora apenas a utilidade do tipo H e piora a do tipo L, com rela¸c˜ao `as utilidade de equil´ıbrio, ent˜ao a firma crˆe que o ´unico tipo que adquiriria tal sinal seria o tipo H (µ(e) = 0).
Quando acrescentamos o crit´erio intuitivo acima e, portanto, utilizamos equil´ıbrio intuitivo para analizar o jogo de sinaliza¸c˜ao, ´e poss´ıvel mostrar que:
• Todos os equil´ıbrios separadores s˜ao eliminados,
• Apenas um equil´ıbrio separador emerge, em que e∗L= 0 e e∗H ´e o n´ıvel de educa¸c˜ao mais baixo poss´ıvel que permite o principal separar os tipos.
Logo, neste ´unico equil´ıbrio temos que:
• Apenas uma das restri¸c˜oes de compatibilidade de incentivo est´a ativa (a que previne o tipo de baixa produtividade se passar pelo tipo de alto produtividade).
• O tipo de baixa produtividade recebe a aloca¸c˜ao eficiente (e∗L= 0 e wL= θL).
• O tipo de alta produtividade recebe uma aloca¸c˜ao ineficiente (e∗H > 0 e wH = θH).
Com rela¸c˜ao `a quest˜ao de bem-estar dos jogadores, em geral, assumindo a no¸c˜ao de equil´ıbrio sequencial, podemos apenas afirmar que o equil´ıbrio separador ´e ineficiente do ponto de vista social. Intuitivamente, isto ocorre porque o sinal ´e custoso de se adquirir e n˜ao traz nenhum benef´ıcio social, apenas benef´ıcios privados, pois o modelo assume que educa¸c˜ao n˜ao tem efeito sobre a produtividade e serve apenas para distinguir os tipos. O sinal ent˜ao serve apenas para separar os tipos e ´e um desperd´ıcio do ponto de vista social.
O trabalhador de produtividade baixa est´a pior em um equil´ıbrio separador do que em um equil´ıbrio agregador, j´a que nos dois ele adquire o mesmo n´ıvel de educa¸c˜ao, mas no segundo ele recebe um sal´ario maior (dado pela produtividade m´edia.
J´a o trabalhador de produtividade alta pode estar pior ou melhor em um equil´ıbrio separador do que estaria em um equil´ıbrio agregador. Ele adquire o sinal porque dado que todos os trabalhadores de tipo alto est˜ao se educando e recebendo sal´ario mais alto, para ele ´e melhor tamb´em adquirir educa¸c˜ao e se diferenciar do que n˜ao se diferenciar e receber o sal´ario destinado a trabalhadores de produtividade baixa. Mas diferenciar tem um custo, que ´e adquirir um n´ıvel de educa¸c˜ao suficientemente alto para poder se diferenciar do tipo de baixa produtividade.
Quanto maior for a propor¸c˜ao de trabalhadores de produtividade alta, mais prov´avel que este tipo de trabalhador esteja pior no equil´ıbrio separador, j´a que o sal´ario m´edio estar´a bem proximo de θH, n˜ao compensado ent˜ao pagar o custo de adquirir educa¸c˜ao.
J´a se utilizarmos a no¸c˜ao de equil´ıbrio intuitivo, existir´a um ´unico equil´ıbrio, o equil´ıbrio sepa-rador de menor custo para a sociedade. Ainda assim, teremos uma ineficiˆencia, quando comparada `
a solu¸c˜ao de first best, j´a que o candidato de alta produtividada adquire educa¸c˜ao, que n˜ao possui, por hip´otese, qualquer valor social neste modelo.
2.4
Separa¸
c˜
ao (Screening )
Suponha um monopolista que n˜ao observa a disposi¸c˜ao a pagar dos consumidores, que depende da seguinte utilidade:
ui(q, T ) = θiv(q) − T ,
onde v(q) ´e uma fun¸c˜ao da quantidade q (q pode ser interpretada tamb´em como a qualidade do bem produzido pelo monopolista), com v0 > 0, v00 < 0, T ´e a tarifa paga pelo consumidor e θi ´e um
parˆametro associado ao tipo do consumidor, que pode ser:
Tipo “baixo”: θL, com probabilidade 1 − β ,
Tipo “alto”: θH, com probabilidade β ,
onde θL < θH. Logo o tipo alto possui uma disposi¸c˜ao a pagar pelo bem maior do que a do tipo
baixo. Cada consumidor possui uma utilidade reserva ¯ui, que representa o maior n´ıvel de utilidade
que o consumidor do tipo i pode obter sem comprar o bem. A taxa marginal de substitui¸c˜ao entre q e T (T M Si(q, T )) para cada tipo ´e:
T M Si(q, T ) = −
∂ui(q, T )/∂q
∂ui(q, T )/∂q
= θiv0(q)
Note que como T diminui a utilidade, as curvas de indiferen¸ca s˜ao positivimante inclinadas, e a utilidade aumenta a medida que nos afastamos do eixo vertical. Al´em disso, como θL< θH, a curva
de indiferen¸ca do tipo H ´e mais inclinada do que a do tipo L e elas so se cruzam uma ´unica vez (por isso a condi¸c˜ao de Spence-Mirrless ´e tamb´em chamada “single crossing condition). A figura abaixo ilustra as curvas de indiferen¸ca dos dois tipos.
6 -T q ul constante uh constante @ @ @ R Dire¸c˜ao na qual a utilidade aumenta
O lucro do monopolista ´e π = T − cq, onde c denota o custo marginal de produzir q. Vamos analisar primeiro o caso de informa¸c˜ao perfeita, para comparar a solu¸c˜ao eficiente com o caso no qual a informa¸c˜ao ´e assim´etrica.
Informa¸c˜ao Perfeita
Vamos assumir que o monopolista observa o tipo do consumidor. O contrato, denotado por (q, T ), quantidade e tarifa cobrados, pode ent˜ao depender do tipo do consumidor. Para simplificar a nota¸c˜ao, vamos assumir que a utilidade reserva dos consumidores ´e zero. Logo, o problema do monopolista ´e:
max
(q,T ) T − cq s.a. θiv(q) − T ≥ 0 ,
onde a restri¸c˜ao de participa¸c˜ao ´e satisfeita com igualdade na solu¸c˜ao, ou seja, θiv(q) = T .
Substi-tuindo essa restri¸c˜ao na fun¸c˜ao objetivo do monopolista, obtemos: max
q θiv(q) − cq
A condi¸c˜ao de primeira ordem desse problema resulta em: θiv0(q∗) = c ,
ou seja, o benef´ıcio marginal θiv0(q∗) ´e igual ao custo marginal c de produ¸c˜ao, para cada tipo de
consumidor. Portanto, temos que q∗i(θi). Como θL < θH e V0 ´e uma fun¸c˜ao decrescente (v00 < 0),
temos que: v0(qL∗ = c θL > c θH = v0(qH∗ ⇒ qL∗ < qH∗ ,
ou seja, o indiv´ıduo com maior disposi¸c˜ao a pagar obt´e um q maior. Al´em disso, Como a taxa marginal de substitui¸c˜ao entre q e T ´e:
T M Si = −
∂ui(q, T )/∂q
∂ui(q, T )/∂T
= θiv0(q) ,
temos que a curva de indiferen¸ca do consumidor do tipo alto ser´a mais inclinada do que a do tipo baixo. A Figura a seguir ilustra graficamente a solu¸c˜ao para os dois tipos de consumidores.
6 -T q s TL∗ q∗L UL0 s TH∗ qH∗ UH0
Ent˜ao a solu¸c˜ao de first-best consiste no principal oferecer dois contratos, um desenhado para o tipo com maior disponibilidade a pagar, denotado por (q∗H, TH∗), com n´ıvel de qualidade e pre¸co mais altos do o contrato desenhado para o tipo com menor disponibilidade a pagar, denotado por (qL∗, TL∗).
Informa¸c˜ao Assim´etrica
Vamos supor agora que o monopolista n˜ao consegue distinguir os tipos de consumidores, mas sabe que com probabilidade β o indiv´ıduo ´e do tipo alto e com probabilidade 1 − β o indiv´ıduo ´e do tipo baixo.
O contrato de first-best, para o caso em que a informa¸c˜ao ´e perfeita, n˜ao funcionar´a agora: o tipo alto compraria o pacote desenhado para o tipo baixo, caso o monopolista oferte (qL∗, TL∗) e (qH∗ , TH∗) (ver figura abaixo). Isso ocorre por que o tipo baixo possui uma disposi¸c˜ao a pagar menor. Logo o monopolista deve propor dois contratos, (TL, qL) e (TH, qH), desenhado para cada tipo, com
qL< qH e TL < TH e de modo que maximize o seu lucro.
6 -T q s TL∗ q∗L U0 L s TH∗ qH∗ U0 H UH(TL, qL) > UH0
Dizemos ent˜ao que o contrato (TH∗, qH∗) n˜ao ´e mais compat´ıvel de incentivos para o tipo alto, j´a que este tipo n˜ao ir´a adquirir o contrato desenhado para ele, preferindo o contrato desenhado originalmente para o tipo baixo, (TL∗, qL∗). Uma possibilidade seria o monopolista baixar a tarifa TH∗ cobrado do tipo alto para ˆTH∗, de modo a tornar esse contrato em que qL∗ e q∗H s˜ao as qualidades ofertadas torne novamente vantajoso para o tipo H adquirir o contrato desenhado para ele, (qH∗, ˆTH∗). Por´em o menu de contratos (q∗H, ˆTH∗) e (q∗L, TL∗), ilustrado na figura abaixo, apesar de ser com-pat´ıvel de incentivo, n˜ao necessariamente maximiza o lucro do monopolista. Vamos analisar agora o problema do monopolista de desenhar contratos (TL, qL) e (TH, qH) compat´ıveis de incentivo que
maximizem o seu lucro esperado, dado por:
β(TH − cqH) + (1 − β)(TL− cqL) ,
e de tal modo que os dois contratos induzam os dois tipos de consumidores a compr´a-los (ou seja, devem satisfazer as restri¸c˜oes de participa¸c˜ao dos dois tipos) e de modo que um tipo n˜ao adquira o contrato desenhado para o outro (ou seja, compat´ıveis de incentivo).
6 -T q s TL∗ q∗L UL0 s ˆ TH∗ qH∗ UH(TL, qL) > UH0
Logo os dois contratos (qH, TH) e (qL, TL) devem satisfazer as seguintes restri¸c˜oes de
compati-bilidade de incentivo para cada tipo de consumidor:
RCIL : UL(qL, TL) ≥ UL(qH, TH) ⇒ θLv(qL) − TL≥ θLv(qH) − TH
RCIH : UH(qH, TH) ≥ UH(qL, TL) ⇒ θHv(qH) − TH ≥ θHv(qL) − TL
A primeira restri¸c˜ao, RCIL, garante que o tipo L ir´a de fato escolher o contrato desenhado para
o seu tipo, (qL, TL) e n˜ao o contrato desenhado para o tipo H, (qH, TH). De modo similar, RCIH
garante que o tipo H ir´a de fato escolher o contrato desenhado para o seu tipo, (qH, TH) e n˜ao o
contrato desenhado para o tipo L, (qL, TL).
O problema do monopolista no caso de assimetria informacional ´e ent˜ao dado por: max (TH,qH),(TL,qL) β(TH − cqH) + (1 − β)(TL− cqL) s.a. θLv(qL) − TL ≥ 0 , (1) θHv(qH) − TH ≥ 0 , (2) θLv(qL) − TL ≥ θLv(qH) − TH, (3) θHv(qH) − TH ≥ θHv(qL) − TL. (4)
O problema acima possui quatro restri¸c˜oes. Podemos mostrar que: 1) RPL e RCIH s˜ao
satis-feitas com igualdade no ´otimo (dizemos ent˜ao que essas duas restri¸c˜oes s˜ao “binding”), 2) qH ≥ qL
no contrato ´otimo, e 3) RPH e RCIL ser˜ao sempre satisfeitas, quando as outras duas restri¸c˜oes do
problema do monopolista, RPL e RCIH, forem satisfeitas.
Vamos mostrar o item 3) acima, que RPH e RCILser˜ao sempre satisfeitas, quando RPLe RCIH
forem satisfeitas:
• RPH ´e redundante quando assumimos que RPL e RCIH s˜ao v´alidas:
θHv(qH) − TH ≥ θHv(qL) − TL > θLv(qL) − TL ≥ 0 ,
onde a primeira desigualdade ´e consequˆencia de RCIH, a segunda, de θH > θL e a terceira de
RPL. Logo, sempre que RCIH e RPL forem satisfeitas, valer´a que θHv(qH) − TH ≥ 0, ou seja,
RPH ser´a tamb´em satisfeita (´e com esse sentido que dizemos que RPH ´e redundante quando
• RCIL´e redundante quando assumimos que RPL e RCIH s˜ao v´alidas: note que RCIH,
satis-feita com igualdade, pode ser reescrita com TH− TL= θH(v(qH) − v(qL)). ´E poss´ıvel mostrar
que no ´otimo valer´a ainda que qH∗ ≥ q∗
L. Como θH > θL, obtemos que:
TH − TL= θH(v(qH) − v(qL)) ≥ θL(v(qH) − v(qL))
Logo obtivemos que:
TH − TL≥ θL(v(qH) − v(qL)) ⇒ θLv(qL) − TL≥ θLv(qH) − TH,
ou seja, RCIL ser´a v´alida sempre que RPL e RCIH forem satisfeitas.
Isso implica que o problema de maximiza¸c˜ao do lucro do monopolista pode ser simplificado para: max (TH,qH),(TL,qL) β(TH − cqH) + (1 − β)(TL− cqL) s.a. θHv(qH) − TH ≥ 0 , θLv(qL) − TL ≥ θLv(qH) − TH,
As duas restri¸c˜oes RPH e RCIL ser˜ao satisfeitas com igualdade no ´otimo. Isso significa que
θLv(qL) = TL e que TH = θH[v(qH) − v(qL)] + θLv(qL). Substituindo RPH e RCIL satisfeitas
com igualdade na fun¸c˜ao objetivo do monopolista, obtemos que: max
(qL,qH)
β(θH[v(qH) − v(qL)] + θLv(qL) − cqH) + (1 − β)(θLv(qL) − cqL)
As condi¸c˜oes de primeira ordem para esse problema resultam em:
(qL) : β (−θHv0(qL∗∗) + θLv0(qL∗∗)) + (1 − β)(θLv0(qL∗∗) − c) = 0
(qH) : β (θHv0(qH∗∗) − c) = 0
A CPO para (qH) resulta em:
θHv0(qH∗∗) = c ,
a mesma condi¸c˜ao obtida para a quantidade do tipo alto no problema sem assimetria informacional. Logo, temos que qH∗∗= qH∗ , ou seja, o contrato para o consumidor com disposi¸c˜ao a pagar mais alta continua ofertado com o mesmo n´ıvel eficiente de q. J´a a CPO para qL resulta em:
θLv0(q∗∗L) = c + β(θH − θL)v0(qL) 1 − β | {z } >0 > c = θLv0(q∗L) ,
onde o termo indicado como maior do que zero ´e de fato positivo pois 0 < β < 1, θH > θL e
v0(·) > 0. Temos ent˜ao que v0(qL∗∗) > v0(qL∗). Como v00 < 0, ent˜ao v0 ´e decrescente e obtemos que q∗∗L < qL∗, ou seja, o contrato ´otimo de second-best para o consumidor com disposi¸c˜ao a pagar mais baixa oferta um q menor do que era quando n˜ao havia assimetria informacional.
Isso significa que para o contrato ´otimo que maximiza o lucro esperado do monopolista, assu-mindo a presen¸ca de assimetria informacional, n˜ao ocorre distor¸c˜ao no “topo”: o indiv´ıduo com maior disposi¸c˜ao a pagar obt´em a mesma quantidade do que antes (obtida na solu¸c˜ao de first-best). Por´em o tipo com menor disposi¸c˜ao a pagar recebe um contrato com uma quantidade menor do que receberia caso n˜ao houvesse assimetria informacional.
Al´em disso, como RPL ´e satisfeita com igualdade, o indiv´ıduo com baixa disposi¸c˜ao a pagar
tem um contrato ofertado tal que ele fica indiferente em comprar ou n˜ao o produto. J´a para o tipo de alta disponibilidade a pagar, como vimos acima, obt´em um utilidade maior do que zero (sua utilidade reserva) no contrato ´otimo. Dizemos ent˜ao que o tipo θH obt´em uma renda informacional,
no sentido de que a utilidade de equil´ıbrio ´e maior do que zero, que ´e a utilidade de equil´ıbrio na solu¸c˜ao de first-best. Ter uma informa¸c˜ao privada relevante para a transa¸c˜ao analisada gera essa renda informacional para o tipo θH. Al´em disso, o tipo θH ´e indiferente entre o seu contrato ou
o desenhado para o tipo θL (RCIH satisfeita com igualdade no ´otimo) e o tipo θL prefere o seu
contrato estritamente ao contrato desenhado para o tipo θH (RCIL satisfeita com folga, ou seja,
com desigualdade estrita). A figura abaixo ilustra o contrato ´otimo.
6 -T q s TL∗∗ q∗∗L < qL∗ U0 L s TH∗∗ < TH∗ q∗∗H = qH∗ UH∗ > UH0
3
Perigo Moral
3.1
Introdu¸
c˜
ao
Perigo moral est´a presente em transa¸c˜oes onde uma da partes (principal ) n˜ao consegue monitorar as a¸c˜oes da outra parte, e essas a¸c˜oes s˜ao relevantes para a transa¸c˜ao negociada.
Exemplo: Seguro de autom´oveis: motorista pode deixar de tomar cuidado com o carro ap´os adquirir o seguro. Esse comportamento afeta o resultado do contrato (a probabilidade de o carro ser roubado pode aumentar, por exemplo) e n˜ao ´e poss´ıvel (ou ´e muito custoso) `a firma observar esse comportamento.
Vamos usar a seguinte terminologia em que o termo principal se refere `a parte desinformada, no exemplo que desenvolveremos, `a firma, e o termo agente se refere `a parte informada, no exemplo que desenvolveremos, ao trabalhador.
O agente toma uma a¸c˜ao que afeta a sua utilidade e a utilidade do principal. O principal n˜ao observa a a¸c˜ao tomada, apenas o resultado da a¸c˜ao. Quando a a¸c˜ao que o agente escolhe espontaneamente n˜ao ´e Pareto-´otima (o que o principal gostaria), dizemos que existe um problema de perigo moral.
O problema do principal-agente refere-se ao problema de como o principal pode desenhar um esquema de incentivos que induza o agente a tomar a a¸c˜ao desejada pelo principal.
Exemplos:
• Firma e Empregado – esfor¸co vs produ¸c˜ao; • Acionistas e Gerentes;
• Servi¸cos – M´edico e Paciente, Advogado e Cliente; • Fazendeiros e Arrendat´arios (sharecropping decision);
• Seguros – seguro contra roubo, seguro contra incˆendio, seguros em geral de propriedades/bens. Na solu¸c˜ao de “First-Best ”, o principal observa a a¸c˜ao do agente, de modo que ´e poss´ıvel implementar a a¸c˜ao ´otima diretamente.
Em geral, sup˜oe-se que:
• Principal: neutro ao risco (principal consegue diversificar o risco associado com a sua rela¸c˜ao com o agente);
• Agente: avesso ao risco (“pequeno”, n˜ao consegue diversificar o risco).
A Divis˜ao ´otima de risco (optimal risk sharing) ocorre quando o principal fornece um seguro total para o agente (por exemplo, sal´ario fixo para o agente) e com isso assume todo o risco da atividade produtiva. A divis˜ao ´otima de risco nem sempre ´e poss´ıvel quando existe problema de perigo moral, pois o agente pode n˜ao escolher a a¸c˜ao desejada pelo principal.
Solu¸c˜ao: principal oferece um contrato ao agente. Trade-off entre: • Divis˜ao de riscos (sal´ario do agente n˜ao deve depender do produto); • Incentivos (principal deve condicionar o sal´ario do agente ao produto).
3.2
Modelo
Vamos desenvolver o modelo padr˜ao de risco moral, na vers˜ao discreta com apenas dois n´ıveis de esfor¸co que o indiv´ıduo possa escolher. Suponha um indiv´ıduo (agente) e uma firma (principal). A firma deseja contratar um trabalhador, que pode se esfor¸car (e = 1) ou n˜ao (e = 0) no trabalho. A probabilidade de obter um bom resultado no trabalho (pode ser que seja o valor de vendas desse indiv´ıduo) depende do esfor¸co empregado.
Vamos supor L resultados poss´ıveis, l ∈ {x1, x2, . . . , xL}, onde xldenota o l-´esimo valor de venda
poss´ıvel, e de modo que esses resultados est˜ao ordenados em ordem crescente: x1 < x2 < · · · < xL.
A probabilidade de ocorrer a venda xl ´e πl(e) > 0, para todo l e e, onde e ´e o n´ıvel de esfor¸co do
agente. Temos ent˜ao que P
lπl(e) = 1, tanto para e = 0 quanto para e = 1.
Vamos supor tamb´em que o agente possui uma utilidade u estritamente crescente e estritamente cˆoncava sobre riqueza w. Al´em disso, d(e) denota a desutilidade do n´ıvel de esfor¸co e. Logo, a utilidade ´e separ´avel: U (w, e) = u(w) − d(e), onde d(0) < d(1): se esfor¸car (e = 1) causa mais desutilidade do que n˜ao se esfor¸car (e = 0).
A firma deve desenhar um esquema de incentivos que induza o trabalhador a escolher por vontade pr´opria o n´ıvel de esfor¸co desejado pela firma. Na presen¸ca da assimetria informacional, a firma observa o resultado l ocorrido, mas n˜ao o n´ıvel de esfor¸co do trabalhador. Logo, o sal´ario pago pode depender apenas do resultado ocorrido, e n˜ao do n´ıvel de esfor¸co. Um contrato ´e representado ent˜ao por (w1, w2, . . . , wL), em que wl, para l = 1, 2, . . . , L, denota o sal´ario recebido se o resultado
xl ocorrer.
Hip´otese das Taxas de Probabilidade Mon´otonas (HTPM). A raz˜ao πl(1)
πl(0)
´e estritamente crescente em l, l = 1, 2, . . . , L.
A HTPM garante que a raz˜ao da probabilidade de ter se esfor¸cado muito sobre a probabilidade de ter se esfor¸cado pouco ´e crescente no valor do resultado. Intuitivamente, quanto maior o resultado observado, mais prov´avel o trabalhador ter se esfor¸cado muito e n˜ao pouco.
Vamos descrever os contratos de sal´ario oferecidos pela firma e as propriedades de eficiˆencia desses contratos. Primeiro, para efeito de compara¸c˜ao, vamos analisar a solu¸c˜ao de first-best, em que o principal consegue observar o n´ıvel de esfor¸co do agente.
3.3
Informa¸
c˜
ao Sim´
etrica
Vamos supor que o principal observa o n´ıvel de esfor¸co do agente. Logo, o principal pode implementar diretamente a a¸c˜ao que deseja, no sentido de que o contrato ´e diretamente condicionado ao n´ıvel de esfor¸co desejado pela firma. Nesse caso, n˜ao existe problema informacional – as a¸c˜oes do trabalhador s˜ao observadas sem custo pela firma.
O problema do principal ´e: max e,w1,...,wL L X l=1 πl(e) (xl− wl) s.a. L X l=1 πl(e)u(wl) − d(e) ≥ ¯u ,
onde ¯u denota a utilidade reserva (ou custo de oportunidade em assinar o contrato de seguro) do consumidor. Essa restri¸c˜ao do problema ´e chamada restri¸c˜ao de participa¸c˜ao.
Vamos separar o problema em dois, um onde e = 0 e o outro onde e = 1. Determinamos o contrato ´otimo em cada caso, e depois encontramos o n´ıvel de esfor¸co ´otimo para o principal.
O Lagrangeano do problema da firma ´e: L = L X l=1 πl(e) (xl− wl) + λ " L X l=1 πl(e)u(wl) − d(e) − ¯u #
Vamos encontrar a solu¸c˜ao resolvendo as CPOs. ´E poss´ıvel mostrar que as condi¸c˜oes de segunda ordem (CSOs) ser˜ao quando o indiv´ıduo for averso ao risco u00(·) < 0. As condi¸c˜oes de primeira ordem (CPOs) resultam em:
∂L ∂wl = −πl(e) + λπl(e)u0(wl) = 0 , ∀ wl (5) ∂L ∂λ = L X l=1
πl(e)u(wl) − d(e) − ¯u = 0 (se λ 6= 0) (6)
Temos um sistema de L + 1 equa¸c˜oes com L + 1 vari´aveis a serem determinadas. As CPOs em (5) implicam que λ > 0, j´a que probabilidades s˜ao positivas e u0(w) > 0, para todo w. Logo, temos que:
u0(wl) =
1
λ, ∀ l ≥ 0 , o que por sua vez implica que:
u0(wl) = u0(wˆl) , ∀ l, ˆl .
Como u00(·) < 0, ent˜ao u0 ´e decrescente, ou seja, ´e uma fun¸c˜ao injetiva. Neste caso, a igualdade acima s´o ocorre se os argumentos das duas fun¸c˜oes forem iguais, o que resulta em:
wl= wˆl ∀ l, ˆl .
Portanto, no caso de informa¸c˜ao perfeita, o contrato ´otimo provˆe um sal´ario fixo para o agente, denotado por ¯w, qualquer que seja o n´ıvel de esfor¸co que o principal deseje implementar (a utilidade do indiv´ıduo n˜ao varia – permanece constante em todos os estados da natureza). Esse resultado ´e esperado: a firma ´e neutra ao risco e o indiv´ıduo ´e avesso ao risco, logo obtemos uma divis˜ao ´otima de risco, em que a firma arca com todo o risco do neg´ocio.
Note que como para qualquer n´ıvel de esfor¸co considerado, o contrato ´otimo provˆe um sal´ario fixo, a utilidade esperada do indiv´ıduo se torna:
L
X
l=1
πl(e)u( ¯w) − d(e) = u( ¯w) − d(e) ,
j´a que as probabilidades somam 1 para qualquer e. Ent˜ao a restri¸c˜ao (6) simplifica para:
u( ¯w) = d(e) + ¯u
Essa restri¸c˜ao define o sal´ario pago pela firma: esse sal´ario ´e o menor valor que a firma consegue pagar para o trabalhador, que deixa este indiferente entre aceitar o emprego ou n˜ao.
Observe que como d(1) > d(0), temos que:
u( ¯w(1)) = d(1) + ¯u > d(0) + ¯u = u( ¯w(0)) ,
onde ¯w(1) e ¯w(0) denotam os sal´arios ´otimos se e = 1 e se e = 0, respectivamente. Como u ´e crescente, obtemos que:
¯
w(1) > ¯w(0) ,
ou seja, o sal´ario pago necess´ario para o agente se esfor¸car ´e maior do que o sal´ario pago caso ele n˜ao se esfor¸casse. Isso ´e intuitivo: se esfor¸car causa uma desutilidade maior do que n˜ao se esfor¸car. A firma ent˜ao tem que pagar um sal´ario maior quando deseja que o agente se esforce.
Finalmente, a companhia de seguro escolhe e ∈ {0, 1} que maximiza o seu lucro esperado:
L
X
l=1
πl(e)xl− ¯w(e)
Existe um trade-off para o principal na escolha entre e = 0 e e = 1: como d(0) < d(1), exigir e = 0 permite `a firma pagar um sal´ario mais baixo, o que aumenta o lucro esperado (restri¸c˜ao de participa¸c˜ao). Por outro lado, exigir e = 1 aumenta a probabilidade esperada de resultados maiores (HTPM) e, portanto, tamb´em aumenta os lucros.
A a¸c˜ao ´otima para o principal depende do caso em quest˜ao. Se for a a¸c˜ao menos custosa para o agente (e = 0 no modelo), e estivermos em uma situa¸c˜ao de assimetria informacional, ent˜ao n˜ao haver´a conflito de interesses entre o principal e o agente e, portanto, n˜ao ocorrer´a perda de eficiˆencia.
De qualquer modo, em ambos os casos, e = 0 ou e = 1, no caso de informa¸c˜ao perfeita, o agente obt´em sal´ario fixo e o resultado ´e eficiente.
3.4
Informa¸
c˜
ao Assim´
etrica
Agora vamos supor que a escolha do n´ıvel de esfor¸co do indiv´ıduo n˜ao ´e observada pela firma, que deve ent˜ao desenhar um contrato que implicitamente induza o indiv´ıduo a escolher o n´ıvel de esfor¸co que a firma deseja implementar.
Para isso, uma nova restri¸c˜ao deve ser adicionada ao problema da firma. Essa restri¸c˜ao, chamada restri¸c˜ao de incentivos (ou restri¸c˜ao de compatibilidade de incentivos), assegura que o indiv´ıduo escolher´a de fato a a¸c˜ao desejada pela firma.
O problema da firma agora pode ser escrito como:
max e,w1,...,wL L X l=1 πl(e)(xl− wl) s.a. (RP) L X l=1 πl(e)u(wl) − d(e) ≥ ¯u , (RCI) L X l=1 πl(e)u(wl) − d(e) ≥ L X l=1 πl(e0)u(wl) − d(e0) , onde e, e0 ∈ {0, 1}, e 6= e0.
A restri¸c˜ao de incentivos garante que o n´ıvel de esfor¸co desejado pela firma seja de fato o n´ıvel de esfor¸co escolhido pelo consumidor no contrato ´otimo.
Novamente, vamos resolver o problema da firma para cada n´ıvel de esfor¸co e depois encontrar o n´ıvel de esfor¸co ´otimo.
Pol´ıtica ´
Otima para e = 0
Suponha que a seguradora deseja induzir o agente a escolher o n´ıvel baixo de esfor¸co (e = 0). Entre todas as pol´ıticas poss´ıveis que implementam e = 0, qual a melhor para a firma? Vamos mostrar que, neste caso, a firma deve apenas pagar um sal´ario que garanta a participa¸c˜ao do agente e que n˜ao ´e necess´ario se preocupar com a restri¸c˜ao de incentivos.
Vimos que a solu¸c˜ao ´otima w1, . . . , wL para o problema com informa¸c˜ao perfeita (i.e., sem
considerar a restri¸c˜ao de incentivos) quando e = 0 ´e pagar um sal´ario fixo, ou seja, wl = ¯w(0). A
RCI neste caso em que wl= ¯w(0) para todo l se torna: L X l=1 πl(0)u( ¯w(0)) − d(0) ≥ L X l=1 πl(1)u( ¯w(0)) − d(1) ⇒ d(0) ≤ d(1) ,
ou seja, a restri¸c˜ao de incentivos, com e = 0, se reduz a d(0) ≤ d(1), que ´e v´alido por hip´otese. Logo, para induzir o consumidor a escolher o n´ıvel de esfor¸co m´ınimo, a firma n˜ao precisa adotar nenhum esquema de incentivos especial, basta selecionar o mesmo contrato ´otimo usado no caso onde n˜ao existe problema de informa¸c˜ao. Como esse contrato maximizava o lucro esperado da seguradora na solu¸c˜ao de first-best (sem considerar a restri¸c˜ao de incentivo), ent˜ao ele continua maximizando o lucro esperado agora. Portanto, para implementar e = 0, nada muda se consideramos informa¸c˜ao sim´etrica ou informa¸c˜ao assim´etrica. Isso ´e intuitivo, pois o n´ıvel de esfor¸co m´ınimo ´e o que o agente sempre escolher´a no caso em que n˜ao sejam dados incentivos para ele escolher n´ıveis de esfor¸co mais altos.
Pol´ıtica ´
Otima para e = 1
Suponha agora que a seguradora queira induzir o agente a escolher o n´ıvel alto de esfor¸co (e = 1). Entre todas as pol´ıticas poss´ıveis que implementam e = 1, qual a melhor para a firma?
Primeiro observe que a pol´ıtica ´otima de first-best, que provˆe sal´ario fixo ¯w(1) ao agente, n˜ao satisfaz a restri¸c˜ao de incentivos, j´a que se wl = ¯w(1) para todo l, a restri¸c˜ao de incentivos do
problema se torna: L X l=1 πl(1)u( ¯w(1)) − d(1) ≥ L X l=1 πl(0)u( ¯w(1)) − d(0) ⇒ d(1) ≤ d(0) ,
o que n˜ao ´e v´alido (pois d(0) < d(1)). Intuitivamente, se fosse oferecido um sal´ario fixo, o agente escolheria o menor n´ıvel de esfor¸co. Portanto, para que o principal consiga implementar e = 1, o contrato n˜ao pode fornecer um sal´ario fixo para todos os resultados poss´ıveis.
Vamos resolver o problema de maximiza¸c˜ao do principal em que ele deseja implementar o n´ıvel de esfor¸co alto (e = 1). Como a RCI pode ser reescrita do seguinte modo:
L
X
l=1
(πl(1) − πl(0)) u(wl) − d(1) + d(0) ≥ 0 ,
ent˜ao o Lagrangeano do problema pode ser escrito como: L = L X l=1 πl(1) (xl− wl)+λ " L X l=1 πl(1)u(wl) − d(1) − ¯u # +β " L X l=1 (πl(1) − πl(0)) u(wl) − d(1) + d(0) #
As condi¸c˜oes de primeira ordem do problema s˜ao: ∂L ∂wl = −πl(1) + [λπl(1) + β(πl(1) − πl(0))] u0(wl) = 0 , ∀ wl ∂L ∂λ = L X l=1 πl(1)u(wl) − d(1) − ¯u ≥ 0 ∂L ∂β = L X l=1 (πl(1) − πl(0))u(wl) − d(1) + d(0) ≥ 0
As CPOs em wl podem ser reescritas do seguinte modo:
1 u0(w l) = λ + β 1 − πl(0) πl(1) , ∀ wl. (7)
Podemos provar que as duas restri¸c˜oes RP e RCI est˜ao ativas no ´otimo, ou seja, que β 6= 0 e λ 6= 0 (mais ainda, que s˜ao positivos), e que no ´otimo, o indiv´ıduo obt´em um contrato que especifica sal´arios que gera utilidade igual a sua utilidade reserva e de modo que ele seja indiferente entre se esfor¸car muito ou se esfor¸car pouco.
Como λ e β s˜ao positivos, o lado direito da equa¸c˜ao (7) ´e estritamente crescente em l, pela HTPM. Como u0 ´e decrescente (o agente ´e avesso ao risco, u00(·) < 0), ent˜ao 1/u0(wl) ´e estritamente
crescente em wl. Isso significa que quanto maior l, maior wl, ou seja, wl ´e estritamente crescente
Portanto, o contrato ´otimo ´e tal que:
wl ´e estritamente crescente no resultado xl.
O contrato ´otimo de sal´arios para e = 1 ent˜ao n˜ao provˆe mais um sal´ario fixo para o trabalhador. Pelo contr´ario, ele especifica que o trabalhador assuma parte do risco, e que o quanto maior o resultado, maior a parte do risco assumida pelo trabalhador (pode ser que em termos percentuais seja igual: o trabalhador recebe um sal´ario que possui uma parte fixa e um componente fixo em termos percentuais do resultado obtido).
O agente deve ent˜ao arcar com parte do risco, para que ele de fato se esfor¸ce. Note que a restri¸c˜ao de compatibilidade de incentivos, satisfeita com igualdade no ´otimo, pode ser reeescrita como: L X l=1 (πl(1) − πl(0))u(wl) = d(1) − d(0) > 0 Ent˜ao: L X l=1 (πl(1) − πl(0))u(wl) > 0 ⇒ L X l=1 πl(1)u(wl) > L X l=1 πl(0)u(wl)
No contrato ´otimo, o indiv´ıduo possui um ganho de utilidade em se esfor¸car, igual ao custo em se esfor¸car muito, dado por:
d(1) − d(0) > 0 .
Logo, no contrato ´otimo, o benef´ıcio l´ıquido de se esfor¸car muito se iguala ao custo l´ıquido desse esfor¸co.
Para determinarmos a solu¸c˜ao que o principal implementa, verificamos qual o n´ıvel de esfor¸co que maximiza o seu lucro esperado.
Se no caso de informa¸c˜ao perfeita o n´ıvel de esfor¸co ´otimo for baixo, ent˜ao o contrato ´otimo quando consideramos a assimetria informacional tamb´em implementa e = 0. Neste caso n˜ao ocor-rer´a, obviamente, perda de eficiˆencia causada pela assimetria informacional.
Por´em, se no caso de informa¸c˜ao perfeita o n´ıvel de esfor¸co ´otimo for alto, ent˜ao pode ocorrer que para o caso de informa¸c˜ao assim´etrica a firma decida implementar o n´ıvel baixo de esfor¸co. Isso ocorrer´a se for muito dispendioso para a firma induzir o trabalhador, por meio do contrato, a se esfor¸car muito.
Nesse caso, temos uma situa¸c˜ao claramente ineficiente, em que a utilidade do consumidor con-tinua igual a sua utilidade reserva, por´em a firma obt´em lucro menor do que obteria na situa¸c˜ao de informa¸c˜ao sim´etrica, pois implementa o n´ıvel de esfor¸co sub-´otimo e = 0.
Finalmente, se no caso de informa¸c˜ao perfeita o n´ıvel de esfor¸co ´otimo for alto, e tamb´em para o caso de informa¸c˜ao assim´etrica a decis˜ao ´otima da firma seja implementar o n´ıvel alto de esfor¸co, temos mais uma vez uma situa¸c˜ao claramente ineficiente – a utilidade do trabalhador continua igual a sua utilidade reserva (por´em ele n˜ao obt´em um sal´ario fixo, ou seja, n˜ao ocorre divis˜ao ´otima de riscos), e a firma obt´em lucro menor do que obteria na situa¸c˜ao de informa¸c˜ao sim´etrica, pois precisa induzir o agente a se esfor¸car (implementar e = 1 via a restri¸c˜ao de incentivos).
Leitura Sugerida
• Varian, cap´ıtulo 37 (Informa¸c˜ao Assim´etrica).
• Nicholson e Snyder, cap´ıtulo 18 (Asymmetric Information).
Exerc´ıcios
1. Suponha uma ´unica revendedora de carros e um ´unico consumidor que deseja comprar apenas um carro. A empresa pode ser uma revendedora de carros de boa qualidade com probabilidade α ou uma revendedora de carros de m´a qualidade. O consumidor ´e neutro ao risco e n˜ao observa a qualidade do carro. A valora¸c˜ao do consumidor ´e dada por vH se o carro ´e bom e
vL se o carro ´e ruim. Os custos para a firma de um carro s˜ao cH, se o carro for bom, ou cL, se
o carro for ruim. Suponha que o pre¸co do carro ´e regulado em p (ou seja, nenhum carro pode ser vendido por nenhuma revendedora por um pre¸co diferente de p, seja ele de boa qualidade ou de m´a qualidade) e que valem as seguintes desigualdades: vH > p > vL > cH > cL.
a) Que condi¸c˜ao deve ser v´alida para que o consumidor compre o carro?
b) Suponha que a firma decide fazer propaganda, que custa A (a propaganda em si n˜ao cont´em nenhuma informa¸c˜ao relevante para o problema). Para esse exemplo, propaganda pode servir como um sinal para a existˆencia de um equil´ıbrio separador? (ou seja, um equil´ıbrio onde os consumidores esperam que firmas com carros de diferente n´ıveis de qualidade gastem diferentes valores na propaganda?) Explique a intui¸c˜ao do seu resultado e a relacione com a condi¸c˜ao de Spence-Mirrless.
2. Considere o modelo de sinaliza¸c˜ao de Spence. Fa¸ca uma demonstra¸c˜ao gr´afica e dˆe a intui¸c˜ao de porque pode ocorrer que em um equil´ıbrio separador, os dois tipos de agentes estarem pior do que estariam em um equil´ıbrio agregador. O que pode ser dito em geral sobre o bem-estar de cada tipo de agente, em cada equil´ıbrio?
3. (P3-2/18) Considere o mercado de seguro de carros. Suponha que existam quatro grupos de pessoas nesse mercado, cada grupo diferindo com a probabilidade de sofrer um acidente. Cada grupo cont´em um n´umero grande e igual de pessoas, mas as companhias de seguro n˜ao conseguem identificar a qual grupo uma pessoa pertence. Todo indiv´ıduo corre o risco de gas-tar R$ 10.000,00 se sofrer um acidente. A tabela abaixo descreve o quanto um indiv´ıduo est´a disposto a pagar por um seguro total no caso de acidente, para cada grupo (linha “WTP”).
Risco 20% 40% 60% 80%
WTP R$2.500 R$5.200,00 R$6.800,00 R$8.200,00 Seguro Justo
Prˆemio ao Risco
a) Complete a tabela acima com os pre¸cos do seguro justo para cada grupo (linha “Seguro Justo”), supondo uma companhia grande o suficiente para diversificar os riscos em cada grupo. Como esses valores se comparam com a WTP de cada indiv´ıduo?
b) Suponha agora que a informa¸c˜ao ´e assim´etrica - as companhias de seguro n˜ao observam o tipo da pessoa. Qual ´e o risco m´edio de uma pessoa? Qual ´e o pre¸co do seguro justo nesse caso?
c) Todos os agentes v˜ao adquirir seguro ao pre¸co encontrado no item b)? Caso n˜ao, qual ser´a a composi¸c˜ao de risco que vai se deparar nesse caso? O pre¸co de seguro justo encontrado em b) seria suficiente para cobrir o risco que a companhia assegurou? d) Usando a l´ogica em c), o que ocorre com o pre¸co justo de equil´ıbrio? Quem adquire
seguro nesse caso?
e) O resultado encontrado em d) ´e eficiente? Discuta sucintamente.
4. O dono de uma firma (principal) quer contratar um trabalhador (agente). O trabalhador pode se esfor¸car pouco, e = 0, ou muito, e = 1. A receita r obtida pela firma ´e aleat´oria, mas com maior chance de ser alta caso o trabalhador se esforce. Mais especificamente, se e = 0, ent˜ao: r = 0, com probabilidade 2/3 4, com probabilidade 1/3 . J´a se e = 1, temos que: r = 0, com probabilidade 1/3 4, com probabilidade 2/3 .
A utilidade esperada do agente ´e u(w, e) = √w − e, onde w denota o sal´ario recebido e e o n´ıvel de esfor¸co. O lucro da firma ´e π = r − w quando as vendas s˜ao r e o sal´ario do agente ´e w. Um contrato de sal´ario (w0, w4) especifica o sal´ario wr≥ 0 que o agente receber´a
quando r = 0 ou r = 4. O sal´ario n˜ao pode ser negativo, no m´ınimo ele pode ser zero. A utilidade reserva do agente ´e ¯u = 0. Determine o contrato ´otimo (w0, w4) que maximiza o
lucro esperado da firma em cada uma das situa¸c˜oes descritas a seguir.
a) O principal observa o esfor¸co do agente e portanto o contrato pode ser condicionado diretamente em e. Qual o n´ıvel de esfor¸co que ser´a exercido no contrato que maximiza o lucro esperado da firma?
b) O principal n˜ao observa o esfor¸co do agente e portanto o contrato n˜ao pode ser condi-cionado em e. Qual o n´ıvel de esfor¸co que ser´a exercido no contrato que maximiza o lucro esperado da firma?
5. Tony contratou Renata para vender goiabas. Tanto Tony quanto Renata s˜ao neutros ao risco. Renata pode ficar em p´e na beira da rua, no sol, se dedicando bastante a venda de goiabas ou simplesmente sentar na sombra de uma ´arvore. A demanda por goiabas pode ser baixa, m´edia ou alta, com a mesma probabilidade. A tabela abaixo descreve o valor de vendas de goiabas em cada caso de demanda, caso Renata se dedique ou n˜ao a tarefa de vender goiabas.
Comportamento de Renata Demanda Baixa Demanda M´edia Demanda Alta
Em p´e no sol R$ 100,00 R$ 150,00 R$ 200,00
Sombra R$ 50,00 R$ 100,00 R$ 150,00
Se Renata trabalhar no sol, a demanda por goiabas ´e m´edia e Tony paga `a Renata R$ 30,00, o lucro de Tony ´e R$ 150, 00 − R$ 30, 00 = R$ 120, 00. Tony s´o se importa com o seu lucro. Renata, por´em, se importa com duas coisas, quanto Tony ir´a pagar a ela e qu˜ao duro ser´a o trabalho. A utilidade de Renata ´e dada pelo sal´ario que ela recebe, menos R$ 10,00 se ela tiver que trabalhar no sol. Logo, se Tony paga a Renata R$ 35,00 e ela trabalhar duro, sua utilidade ser´a R$ 35, 00 − R$ 10, 00 = R$ 25, 00. Se por outro lado, Renata n˜ao trabalhar duro, sua utilidade ser´a R$ 35, 00 − R$ 0 = R$ 35, 00. Al´em disso, para que Tony conven¸ca Renata a trabalhar para ele, a utilidade de Renata deve ser de no m´ınimo R$ 30,00 na m´edia.
a) Se Tony pagar `a Renata R$ 30,00 fixo, quanto Renata vender´a na m´edia?
b) Ap´os muita reflex˜ao, Tony decide estruturar a remunera¸c˜ao de Renata da seguinte forma. Tony pagar´a a Renata R$ 120 se a venda de goiabas alcan¸car R$ 200,00. Se a venda de goiabas for menor que R$ 200,00, Renata receber´a apenas R$ 30,00. Esse esquema de pagamento ´e uma boa id´eia para Tony?
c) Qual ´e o menor prˆemio que Tony pode instituir que induz Renata a trabalhar no sol, supondo que se Renata n˜ao receber o prˆemio, seu sal´ario ser´a R$ 30,00?
d) Sua resposta em c) mudaria caso Renata seja avessa ao risco? Explique sucintamente. 6. Considere o seguinte problema de Perigo Moral, onde o principal ´e um dono de loja e o
agente ´e um vendedor dessa loja. A utilidade do agente ´e u(w, e) = √w − e, onde w ´e o s´alario recebido e e a dedica¸c˜ao ou n´ıvel de esfor¸co do agente. O vendedor pode escolher apenas e = 0 (n´ıvel zero de esfor¸co) ou e = 5 (n´ıvel m´aximo de esfor¸co). A utilidade reserva desse agente ´e 9. Se o agente n˜ao se esfor¸car (e = 0), ele vende:
0 com probabilidade de 60% 100 com probabilidade de 30% 400 com probabilidade de 10% Caso ele se esforce, ele vende:
0 com probabilidade de 10% 100 com probabilidade de 30% 400 com probabilidade de 60%
Suponha que o principal resolve adotar uma pol´ıtica de sal´arios tal que que induza o agente a escolher o n´ıvel de esfor¸co desejado pelo principal.
a) Qual a receita esperada do principal para cada n´ıvel de esfor¸co do agente?
b) Qual deve ser o sal´ario m´ınimo do agente para cada n´ıvel de esfor¸co que ele emprega? c) Qual a pol´ıtica de sal´arios ´otima que resolve o problema de perigo moral que o principal
enfrenta? Explique as restri¸c˜oes do problema e dˆe a intui¸c˜ao de cada uma delas. Quantas restri¸c˜oes existem? Por que?
d) O que ´e melhor para o principal, implementar o n´ıvel de esfor¸co alto ou baixo?
e) Suponha que o agente agora possa escolher entre trˆes n´ıveis de esfor¸co diferentes. O que muda no problema do principal?