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Motivações relativas ao ato de embargo de monografias na Biblioteca Digital de Monografias da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

BRUNA RAFAELLY LIMA DA SILVA

MOTIVAÇÕES RELATIVAS AO ATO DE EMBARGO DE MONOGRAFIAS NA BIBLIOTECA DIGITAL DE MONOGRAFIAS DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

NATAL/RN 2020

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MOTIVAÇÕES RELATIVAS AO ATO DE EMBARGO DE MONOGRAFIAS NA BIBLIOTECA DIGITAL DE MONOGRAFIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO GRANDE DO NORTE

Monografia apresentada ao curso de graduação em Biblioteconomia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção

do título de Bacharel em

Biblioteconomia.

Orientadora: Profa. Dra. Mônica Marques Carvalho Gallotti

NATAL 2020

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/404 Silva, Bruna Rafaelly Lima da.

Motivações relativas ao ato de embargo de monografias na Biblioteca Digital de Monografias da Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Bruna Rafaelly Lima da Silva. – 2020.

111f.: il.

Monografia (Graduação em Biblioteconomia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Ciências da Informação. Natal, RN, 2020.

Orientadora: Profa. Dra. Mônica Marques Carvalho Gallotti.

1. Embargo – Monografia. 2. Embargo de publicação – Monografia. 3. Produção acadêmica – Monografia. 4. Comunicação científica – Monografia. 5. Autoarquivamento – Monografia. 6. Trabalho de conclusão de curso – Monografia. 7. Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Monografia. I. Gallotti, Mônica Marques Carvalho. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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MOTIVAÇÕES RELATIVAS AO ATO DE EMBARGO DE MONOGRAFIAS NA BIBLIOTECA DIGITAL DE MONOGRAFIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO GRANDE DO NORTE

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Biblioteconomia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em biblioteconomia.

Aprovada em 27 de julho de 2020.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Profa. Dra. Mônica Marques Carvalho Gallotti

Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________ Profa. Dra. Nancy Sánchez Tarragó

Membro interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________ Profa. Dra. Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus

Membro interno

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Dedico aos ativistas brasileiros das práticas abertas;

à profa. Rildeci Medeiros por me introduzir a Ciência Aberta em sala de aula; à profa. Mônica Gallotti por desde muito cedo demonstrar o auxílio irrestrito ao desenvolvimento desse trabalho e me possibilitar o entendimento do tema tratado a cada aula e orientação; à Cleidiane Guedes por conduzir os repositórios da instituição e consequentemente me auxiliar nas atividades práticas da UFRN; à profa. Gabrielle Tanus por me orientar quanto às percepções marxista na ciência da informação e à profa. Nádia Vitullo por me convidar a debater ética científica, o que me estimulou a pesquisar a temática como propósito pessoal e profissional.

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À parte de minha família que me concedeu valores e personalidade forte para enfrentar as adversidades da vida. O auxílio tímido dela é meu combustível para a vida;

Aos profissionais que partilharam suas teorias, práticas e vivências em sala de aula, na literatura, nos congressos e eventos, nos estágios obrigatórios e não obrigatórios, nos corredores, nos ambientes de trabalho, nas redes sociais. Cada incentivo, dedicação e paciência refletiram muito na minha aprendizagem;

Aos amigos que ajudaram a sustentar esse coração angustiado, e mesmo àqueles em que nos perdemos no meio dessa trajetória de tropeços, cada contato agregador eu lembro com carinho. As histórias, as colaborações, os devaneios, a coragem, a companhia, me fizeram vivenciar a amizade legítima;

Aos meus companheiros de quatro patas que me acompanharam durante toda a vida, que me ouviram reclamar ou festejar algo e me devolveram com lambeijos. Como também aos gatinhos da universidade, em especial aos do centro, que trataram de me energizar positivamente com um carinho, uma calda balançante durante as pausas nos corredores.

E ao meu amor romântico que me alimentou de afeto e segurança imensuráveis.

Quando decido não mencionar os envolvidos, livro-me da injustiça, mas sei que garanto a gratidão a todos, porque nessas palavras os que estão representados se encontrarão.

Aos encarnados ou em espírito, meu muitíssimo obrigada.

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Ler mudou, muda e continuará mudando o mundo. Quando o dia do juízo final chegar e todos os segredos forem revelados, não devemos ficar surpresos ao saber que a razão pela qual evoluímos do macaco ao homem, e deixamos nossas cavernas e depusemos nossos arcos e flechas e sentamos ao redor do fogo e conversamos e demos aos pobres e ajudamos os doente, a razão pela qual construímos, partindo da aridez do deserto e dos emaranhados da floresta, abrigos e sociedades, é simplesmente esta: nós desenvolvemos a paixão da leitura.

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Apresenta discussão referente aos movimentos favoráveis a divulgação científica e aos avanços tecnológicos que contribuem estruturalmente para a nova dinâmica produtiva de compartilhamento de conhecimento. Destaca a ciência aberta como modelo para nova conduta acadêmico-científica, uma vez que expande o desenvolvimento de ferramentas de pesquisa, de partilhas e de acessos democraticamente. Em oposição, aponta o embargo de publicação como agente de restrição à disponibilização livre desses conteúdos. Dessa maneira, a presente pesquisa objetiva indicar as motivações dos egressos de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) ao optarem pelo embargo de suas pesquisas na Biblioteca Digital de Monografias (BDM) no ato da submissão quando ainda formandos da instituição. Quanto ao percurso metodológico, inicia com uma pesquisa bibliográfica e exploratória com abordagem qualitativa e quantitativa. Foram aplicados questionários eletrônicos semiestruturados. Os dados coletados foram analisados por meio de método estatístico-descritivo bem como análise de conteúdo. As análises sugerem que as percepções acerca da ciência aberta estão aquém do esperado e não atingem a maior parte do alunado. Eles demonstram, na sua grande maioria, concordância com práticas abertas, mas paradoxalmente realizam práticas de embargo de suas pesquisas. Outros resultados indicam que 48% dos respondentes desconheciam a possibilidade do embargo de publicação, 67% considera o depósito na BDM relevante e 81% veem o acesso aberto como forma de atingir maior impacto da publicação. Quanto às motivações relacionadas ao embargo, pelo menos 7 (sete) intencionalidades foram apontadas: posterior publicação (38%); orientação docente (29%); experiência e/ou curiosidade (9%); exposição do estudo (9%); desejo individual e/ou propriedade intelectual (5%); insatisfação com o trabalho (5%); desconhecimento do embargo (5%). Portanto, pode-se inferir que publicar trabalhos posteriormente e preservar conteúdos visando o ineditismo é a principal justificativa dos estudantes.

Palavras-chave: Embargo. Embargo de publicação. Ciência aberta. Produção acadêmica. Comunicação científica. Autoarquivamento. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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This work deals with issues regarding scholarly communication, technological advances that contribute structurally to the new productive dynamics, and the practices of knowledge dissemination. It highlights open science as a model for new academic-scientific conduct, as it expands the development of research tools, sharing knowledge. In opposition, it points to the publication embargo as an agent that restricts free availability knowledge. In this way, it aims to point out on behalf of Federal University of Rio Grande do Norte undergraduates, motivations for research embargo at the Digital Library of Monographs (BDM) at the time of submission when still graduating from the institution. As for the methodological approach, it begins with a bibliographic and exploratory research with a qualitative and quantitative method. Semi-structured electronic questionnaires were applied. Data collected was analyzed by means of statistical-descriptive analysis as well as content analysis. The analysis suggest that perceptions about open science are below expectations and do not reach the majority of students. They demonstrate, for the most part, agreement with open practices, but paradoxically they perform embargo practices for their research. Other results indicate that 48% of the respondents were unaware of the possibility of a publication embargo, 67% considered the deposit at BDM to be relevant and 81% saw open access as a way to achieve greater impact of the publication. As for the reasons related to the embargo, at least 7 (seven) intentions were pointed out: subsequent publication (38%); teacher guidance (29%); experience and / or curiosity (9%); study exposure (9%); individual desire and / or intellectual property (5%); dissatisfaction with work (5%); ignorance of the embargo (5%). Therefore, it can be inferred that publishing works later and preserving contents aiming at the novelty is the main justification of the students.

Keywords: Embargo. Publication embargo. Open science. Academic production. Scholarly communication. Self-archiving. Federal University of Rio Grande do Norte.

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Figura 1 – Sistema de comunicação científica de Garvey e Griffith... 18

Figura 2 – Representação de estrutura “modelo para 2020” da comunicação científica de Hurd... 19

Figura 3 – Características da evolução do capitalismo e seus estágios: fordista, pós-fordista, cognitivo... 28

Figura 4 – Análise gráfica da quantidade de documentos publicados por ano com o termo Open Science na base bibliográfica Scopus... 33

Figura 5 – Aspecto guarda-chuva da ciência aberta... 36

Figura 6 – Taxonomia da ciência aberta... 37

Figura 7 – Contributos da ciência aberta... 42

Figura 8 – Características da literatura não-convencional... 45

Quadro 1 – Benefícios alcançados por meio da implantação e a efetiva execução de um repositório... 46

Figura 9 – Fluxo de trabalho da BDM... 55

Figura 10 – Síntese metodológica da pesquisa... 56

Quadro 2 – Mapeamento realizado no ano de 2019 (primeiro semestre) sobre as monografias de graduação embargadas na BDM/UFRN... 63

Tabela 1 – Análise descritiva das variáveis referentes aos resultados obtidos por meio da pesquisa... 67

Gráfico 1 – Centros dos participantes... 70

Gráfico 2 – Cursos dos participantes... 71

Gráfico 3 – Modalidade dos TCCs dos participantes... 71

Gráfico 4 – Percepção dos egressos sobre o objetivo do TCC... 72

Gráfico 5 – Percepção dos egressos sobre a existência da BDM como fonte de informação para realização de novas pesquisas... 73

Gráfico 6 – Percepção dos egressos sobre a relevância do depósito dos trabalhos na BDM para a comunidade acadêmica... 73

Gráfico 7 – Forma de depósito (alimentação) dos TCCs dos alunos na BDM... 74

Gráfico 8 – Satisfação dos egressos com as orientações recebidas durante o autoarquivamento das suas pesquisas na BDM... 75 Gráfico 9 – Acesso dos egressos a políticas que expliquem o funcionamento da BDM. 76

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Gráfico 11 Percepção dos egressos sobre o estímulo dos docentes na disponibilização das monografias online... 77 Gráfico 12 Percepção dos egressos sobre a seguridade dos seus direitos autorais após

disponibilização do trabalho na BDM... 78 Gráfico 13 Pecepção dos egressos sobre o conhecimento do que é o acesso aberto e

a ciência aberta... 79 Gráfico 14 Percepção dos egressos sobre a confiança na BDM... 79 Gráfico 15 Percepção dos egressos quanto a vulnerabilidade dos TCCs ao plágio em

formato impresso ou eletrônico... 80 Gráfico 16 Preferência dos egressos quanto a disponibilização eletrônica ou física das

monografias... 81 Gráfico 17 Conhecimento dos egressos em embargar o conteúdo do estudo quando

ele estava sendo desenvolvido... 82 Gráfico 18 Percepção dos egressos sobre a intencionalidade do embargo... 83 Gráfico 19 Percepção dos egressos sobre a disponibilização de suas monografias

prejudicá-los na publicação de artigos... 84 Gráfico 20 Utilização de monografias, gratuitas e online, como fonte de informação

por esses egressos... 84 Gráfico 21 Percepção dos egressos sobre o impacto de uma publicação em canais

abertos e canais restritos... 85 Quadro 3 Motivações dos egressos ao embargarem suas monografias na BDM... 86 Figura 11 Motivação de 38% dos egressos – posterior publicação – ao embargarem

suas monografias na BDM... 87 Figura 12 Motivação de 29% dos egressos – orientação docente – o embargarem

suas monografias na BDM... 88 Figura 13 Motivação de 9% dos egressos – exposição do estudo – ao embargarem

suas monografias na BDM... 89 Figura 14 Motivação de 9% dos egressos – experiência/curiosidade – ao

embargarem suas monografias na BDM... 90 Figura 15 Motivação de 5% dos egressos – desconhecimento do embargo – ao

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Figura 17 Motivação de 5% dos egressos – insatisfação com o trabalho – ao embargarem suas monografias na BDM... 93

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1 INTRODUÇÃO... 12

1.1 Objetivo geral... 14

1.1.1 Objetivos específicos... 14

2 A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA RUMO À PRÁTICA COLABORATIVA... 16

3 A PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA NO CONTEXTO CAPITALISTA CONTEMPORÂNEO... 22

3.1 A atividade científica imaterial na ótica de Marx... 24

3.2 Capitalismo cognitivo em debate... 26

4 ÉTICA CIENTÍFICA: CIENTISTAS E PERIÓDICOS... 29

4.1 Responsabilidade do autor... 31

5 CIÊNCIA ABERTA... 32

5.1 “Ecologia” e responsabilidades da Ciência aberta... 39

6 REPOSITÓRIOS DE ACESSO ABERTO E LITERATURA NÃO CONVENCIONAL... 44

6.1 Embargos... 48

6.1.1 Análise da Literatura relativa aos Motivos do embargo... 52

6.2 Biblioteca Digital de Monografias da UFRN... 53

7 METODOLOGIA... 56

7.1 Métodos de abordagem e procedimento... 56

7.2 Identificação do universo... 58

7.3 Mapeamento, instrumentos e coleta dos dados... 59

8 ANÁLISE DOS RESULTADOS... 62

8.1 Análise quantitativa... 70

8.2 Análise qualitativa... 85

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 94

REFERÊNCIAS... 98

APÊNDICE A – FORMULÁRIO ONLINE DESENVOLVIDO VIA GOOGLE FORMS... 104

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1 INTRODUÇÃO

A comunicação é ferramenta indispensável para vida em sociedade. O resultado dessa atividade é materializado pela troca constante de informações. A prática comunicativa é base para a existência de variados processos em sociedade e responsável por atrelar o sujeito à sua realidade e seu entorno. Da mesma maneira, a informação científica serve de insumo para o desenvolvimento e a sobrevivência de setores de uma coletividade por meio da geração de produtos científicos e de divulgação dos resultados, somando uma grande sociedade científica, e assim testemunha-se a amplitude da comunicação científica dada as suas constatações, percepções, debates e avanços colaborativos que atingem diretamente ao meio. É indiscutível o relevante destaque exercido pela comunicação científica tradicional, mas como se não bastasse, esse trabalho tece a prerrogativa de que melhorias ainda maiores estão presentes a partir da união da ciência aberta, seus pilares, e da comunicação científica consolidada há séculos (KURAMOTO, 2006).

Hoje, a estrutura do ciberespaço aumenta o grau de participação entre público e entidades, fazendo a informação ganhar escopo de bem comum, público (LOPES; BEZERRA, 2019). No sentido da informação científica, na mesma medida em que se altera a forma de produção e expansão dos conhecimentos científicos é preciso apontar critérios de avaliação para toda a imensidão de documentos elaborados. Se por um lado a hiperinformação pode estar ligada a comportamentos questionáveis na ciência, iniciativas abertas contribuem decisivamente como estratégias para manter a integridade das pesquisas. Portanto, abrir os dados é se opor a possibilidade de desinformação, omissão, imprecisão etc, pois quando disponíveis, os estudos estão mais suscetíveis ao peso da opinião pública. O acesso aberto, pilar da ciência aberta, é um movimento que visa propor estratégias variadas que visam em conjunto a fomentar a socialização de repertórios variados de conhecimento científico, metodologias, dados de pesquisa baseado em processos de colaboração científica, uso intensivo de recursos e infraestruturas tecnológicas eficientes. Desta forma, transfigura o cenário de inércia informacional desses documentos, sustentando vias alternativas de comunicação entre cientistas e sociedade.

Com o avanço das tecnologias houve a melhoria das infraestruturas, organização e processamento das informações, aliado a ampliada participação multidisciplinar de atores no processo, tais como bibliotecários e demais cientistas que de forma colaborativa

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se engajam com vistas a disseminar o conhecimento produzido por especialistas. Estes novos repertórios são potencialmente capazes de fornecer novos insumos à sociedade promovendo inovação nos variados campos epistêmicos.

Neste contexto surgem os repositórios institucionais que são ambientes destinados à gestão, armazenamento, disseminação e preservação da produção intelectual pertencente a uma instituição. O impacto que os repositórios institucionais exercem sobre instituição e pesquisador é significativo. Os repositórios amplificam o acesso e reverberam os estudos, esses fenômenos ajudam para que haja novas produções acadêmico-científicas de qualidade, de modo a progredir o fazer científico. Nessa sequência, os repositórios institucionais ampliam a notoriedade e o mérito da autoria e da instituição, como também oferecem um espaço digital resguardado, responsável pelo armazenamento da produção intelectual permanentemente.

Como foi dito anteriormente, o acesso aberto impulsionou o movimento a favor dos repositórios e, ainda hoje, suscita discussões acerca da temática que não penetrou completamente nas camadas da universidade e outros canais de comunicação, pois tem encontrado um obstáculo comum: a relutância na disponibilização dos dados e resultados de pesquisa.

De acordo com o corpo social e suas alterações ao longo dos anos, a ciência também é modificada, pois sua atividade inventiva possibilita avanços sociais, econômicos. A identificação de um objeto competitivo e imaterial, de aporte intelectual concatena um novo atributo de valor que é a atividade inventiva, a difusão estratégica e a participação irrestrita. Com isso, por meio de leituras que trazem conceitos marxistas, esse estudo trará termos como: conteúdo imaterial; capital; mais-valia; trabalhador coletivo e infoproletariados do século XXI; capitalismo cognitivo.

Na vivência da instituição acadêmica pública, todo conhecimento produzido é importante. As Monografias, Dissertações e Teses são trabalhos essencialmente próprios da instituição e, portanto, ao entender o esforço e o custo envolvido nesse processo acadêmico-científico, são materiais consideravelmente aptos a estarem disponíveis, sustentando a ideia de que a cadeia produtiva científica é substancial para o desenvolvimento científico. Estes documentos possuem um potencial inovador e de relevância por se tratar de conhecimento validado por pares, original e que fornece o acesso às metodologias utilizadas, capaz de nortear outros pesquisadores.

A natureza do trabalho enfocada nesse estudo é a Monografia, conceituada por Antônio Severino como um “tipo especial de trabalho científico [...] que reduz sua

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abordagem a um único assunto, a um único problema, com um tratamento específico”. (SEVERINO, 2007, p. 200).

A problemática dessa pesquisa é definida por meio da dissertação de Medeiros (2019) que objetiva “propor ações capazes de motivar os estudantes da Faculdade de Ciências de Saúde do Trairi da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Brasil) a adotarem a disponibilização imediata dos trabalhos de conclusão de curso na Biblioteca Digital de Monografias, levando em consideração o alto índice de trabalhos de conclusão de curso embargados” (MEDEIROS, 2019, n.p.). Esse estudo dialoga com o de Medeiros em temática e em reflexões. Portanto, tendo em vista os resultados que sugerem a frequência dessa prática na FACISA, buscou-se refletir as percepções relativas ao embargo e iniciativas abertas defendidas por parte dos alunos-pesquisadores e também identificar as motivações que os instigaram à adotarem o embargo para seus trabalhos de conclusão de curso a nível de graduação (monografias) presentes na Biblioteca Digital de Monografias (BDM) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Assim, em termos metodológicos, como forma de embasar o estudo, recorremos a pesquisa bibliográfica relativa à temática descrita. Para isso pesquisamos autores que discorrem sobre os temas da comunicação científica, capitalismo cognitivo, ética científica bem como literatura relativa ao acesso aberto e repositórios institucionais. Trata-se de um estudo quantitativo e qualitativo, pois a técnica de coleta apresenta questionário semiestruturado. Os resultados quantitativos são analisados e representados por meio de um processo descritivo-explicativo-estatístico. A abordagem da análise de conteúdo propiciou a comparação dos discursos e as diferentes motivações, identificando-se identificando-semelhanças e divergências relativas ao fenômeno do embargo.

1.1 Objetivo geral

O objetivo geral dessa pesquisa é compreender as motivações presentes por parte dos alunos de graduação da UFRN ao adotarem a prática do embargo na Biblioteca Digital de Monografias (BDM).

1.1.1 Objetivos específicos

• Realizar uma revisão de literatura relativa aos assuntos da Ciência Aberta, Produção técnico-científica e Embargo.

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• Identificar na literatura fatores motivadores da prática do Embargo.

• Analisar aspectos adjacentes relativos ao fenômeno do Embargo ao contexto do Acesso Aberto à informação científica.

Durante um primeiro contato com a biblioteca, no cargo de bolsista de apoio técnico já no terceiro semestre da graduação, adquiri vivência com o Repositório Institucional da UFRN, o que me fez se interessar por este assunto e norteou as minhas escolhas no decorrer acadêmico. A experiência de representar e alimentar a coleção de odontologia da instituição, no período em que fui designada para esta atividade, me motivou a explorar a temática da ciência aberta ao analisar e refletir sobre os múltiplos recursos que estão atrelados ao acesso aberto, questionando e defendendo a causa em prol de uma ciência que é direcionada ao desenvolvimento social. Este interesse surge ao retratar a necessidade urgente de aberturas nas práticas científicas; posto isso, torna-se necessário ampliar estes aspectos no âmbito acadêmico, institucional e social.

Este estudo se justifica academicamente uma vez que levanta discussões que incentivam o debate de uma ciência mais aberta, possibilitando a propagação desse conhecimento, evidenciando as vantagens dessas ações. Dessa forma, torna-se possível o debate entre discentes e docentes rumo a boas práticas por meio do envolvimento íntegro entre pesquisador, pesquisa e sociedade.

Institucionalmente, o trabalho visa a ampliação da divulgação de pesquisas e de atores científicos, acarretando notoriedade à instituição e aos pesquisadores, resultando em acesso, preservação digital e reuso dos dados; ou seja, garantia de uma comunicação científica mais ampla.

A contribuição social dessa pesquisa se volta a defender a existência de atividades que viabilizem o desenvolvimento coletivo. Afinal, o acesso aberto é um tipo de “altruísmo” científico-social, a partir do momento em que promove não apenas resultados, mas a melhoria de vida dos cidadãos. É o investimento público sendo posto à prova com transparência. A abertura do acesso às pesquisas (nesse caso, tratando-se de Monografias) promove produção, riqueza, qualidade de vida e coesão social (QUINTANILHA, 2015).

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2 A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA RUMO À PRÁTICA COLABORATIVA

A comunicação científica, desde sua condição mais remota, sustenta a informação científica e possibilita a dinâmica entre a produtividade, os resultados das pesquisas, a promoção da ciência e o incentivo da responsabilidade social que é a função primeira da ciência. Sob essa perspectiva, comunicação é um elemento integrante de todo o fazer científico, sobretudo na manutenção da própria atividade científica (MEADOWS, 1999). Desde os primórdios, seus objetivos são relacionados ao benefício social, pois visa compreender a sociedade e suas problemáticas, galgando mudanças inesgotáveis em uma sucessão de novos contextos.

O comportamento de comunicar informação se inicia desde o período da antiguidade. Alguns estudiosos fortaleceram esse processo de colaboração, alguns deles foram “Francis Bacon, Galileu, Descartes, Robert Boele, Spinoza, Leibniz, Newton e muitos outros” (SPINAK; PACKER, 2015, online):

na busca de um núcleo em comum de sabedoria, isto é, um núcleo filosófico no qual o conhecimento poderia se basear, que lhes permitiria enfrentar a tradição filosófica que receberam. Buscavam novas vias para obter a unidade do conhecimento sob um novo paradigma, que

incluísse a experimentação e a comunicação posterior dos resultados aos colegas1 [...] (SPINAK; PACKER, 2015, online).

Porém, é apenas no século XV, no primeiro mundo, em território europeu, que o Renascimento cultural invoca transformações singulares na cultura de disponibilização da informação (MUELLER; CARIBÉ, 2010), migrando de um modo de produção manual e artesanal às tipografias, com característica técnica e industrial, colaborando quantitativamente na disseminação do saber e na diminuição de custos referentes ao acesso à informação. A inédita ferramenta de impressão rompe com a produtividade informacional manuscrita e penetra “como instrumento de mudança [...] para a emergência da ciência, religião, cultura e política. [...]” como também “para o surgimento de um novo modelo [...] a era moderna” (RIBEIRO; CHAGAS; PINTO, 2007, p. 30).

Com o surgimento do Journal des Sçavans e da Philosophical Transactions em 1665, devido a demanda de um alicerce estrutural de compartilhamento científico entre cientistas, as revistas científicas viabilizaram o papel de canal de comunicação formal

1 Grifo nosso.

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eficiente, reclamado e exigido pelos estudiosos, obedecendo aos critérios de atualização e legitimidade das informações (WEITZEL, 2006). O periódico científico, então, é a ferramenta responsável por publicizar as notícias científicas fazendo-as transitar, caracterizado pela rapidez de propagação que necessitavam as pesquisas científicas e os cientistas. Igualmente nesse período, as conferências científicas públicas se concentram em países europeus com auxílio de instrumentos que tornam possível a experimentação dos estudos em desenvolvimento com encenação, em uma espécie de espetáculo, capaz de elucidar as descobertas científicas para a comunidade.

Com o aumento da complexibilidade adquirida devido a eficiência impulsionada pelas grandes guerras mundiais, a comunicação científica se fortalece. Além de livros, periódicos e conferências, o crescimento audiovisual, como o rádio e o cinema, puderam penetrar o público. Uma demarcação acentuada dessa evolução ocorre com a integração dos computadores no processamento de informação bibliográfica. Surgidos na década de 40, mas empregados propriamente em atividades bibliográficas 20 anos depois, os computadores continham vantagens: alta memória de armazenamento, ordenamento eficiente e eficaz das informações, recuperação facilitada por meio de palavras-chave.

John Desmond Bernal é o pesquisador que inicia efetivamente o termo comunicação científica em 1939 em seu livro “A função social da ciência”. Dessa maneira, o conceito de comunicação científica é refletido de diversas maneiras por diferentes autores durante as décadas seguintes2.

Entre os modelos mais citados da comunicação científica, está o proposto por Garvey e Griffith (1979) que trata da troca informacional como todos os esforços responsáveis pelo desenvolvimento da ciência, pois esta está diretamente associada às atividades de produção, de disseminação e de uso dos resultados ou metodologias científicas (TARGINO, 2000; GALLOTTI, 2017). Sendo assim, o conhecimento científico está presente:

[...] desde o momento em que o cientista concebe uma idéia para pesquisar até que a informação acerca dos resultados é aceita como constituinte do estoque universal de conhecimentos. A comunicação científica é indispensável à atividade científica, pois permite somar os

2 Entre os estudiosos, estão: Menzel (1958), Garvey e Griffith (1972), Merton (1973), Ziman (1981),

Mikhailov (1984), Boyer (1990), Le Coadic (1996), Chartier (1998), Meadows (1999), Castells (2002; 2009), Nentwich (2003; 2012), Hurd (2004), Findlen (2004), Popper (2005), Borgman (2007), Borges (2007), Weller (2011), Fjällbrant (2012), Burke (2016). (GALLOTTI, 2017).

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esforços individuais dos membros das comunidades científicas. Eles trocam continuamente informações com seus pares, emitindo-as para seus sucessores e/ou adquirindo-as de seus predecessores. (TARGINO, 2000, p. 10).

Todos os processos estimuladores do fazer científico são elementos indispensáveis ao fenômeno da comunicação científica, e vice e versa, seja em uma trajetória ao modo formal ou informal de difusão. Por meio da realidade da Psicologia, os estudiosos, Garvey e Griffith, traçaram mecanismos de investigação e descreveram os fluxos existentes na comunicação científica em seu modelo clássico, podendo ao documento científico, no curso, alterar-se de acordo com a especificidade da pesquisa e do público alvo (GOMES, 2013). Desse modo, os autores citam que a definição de comunicação científica é “o campo de estudo do espectro total de atividades informacionais que ocorrem entre os produtores da informação científica” – haja vista a amplitude da ciência partilhada entre os pares – “desde o momento em que eles iniciam suas pesquisas até à publicação de seus resultados e sua aceitação e integração a um corpo de conhecimento científico” (GARVEY; GRIFFITH, 1972 apud GALLOTTI, 2017, p. 10) – devidamente referenciado e revisado, garantindo-lhe credibilidade científica, para então ser aplicado às inovações.

Figura 1 – Sistema de comunicação científica de Garvey e Griffith

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Hurd (2000), no contexto de inserção tecnológica, rompe com os padrões estabelecidos e principia a adaptação de modelos representados por autores em épocas dessemelhantes. Essas alterações relacionam-se com a nova comunicação em rede, com maior abertura para discussões, e a participação de sujeitos excluídos do sistema, embora seja igualmente necessário a obtenção de ferramentas e itens para boas conectividades (GOMES, 2013), o que prejudica a participação e aumenta a segregação científica por meio dessas barreiras econômicas. As análises de Hurd, interage com as novas vazões contemporâneas, democráticas, economicamente viáveis.

Figura 2 – Representação de estrutura “modelo para 2020” da comunicação científica de Hurd

Fonte: Adaptado de Hurd (2000).

Parte genérica do todo, a difusão científica é entendida por Caribé como “qualquer processo ou recurso utilizado na veiculação de informações científicas e tecnológicas […], códigos ou linguagens universalmente compreensíveis à totalidade do universo receptor disponível, em determinada unidade geográfica, sociopolítica ou cultural” (CARIBÉ, 2015, p. 93). Difusão essa que está relacionada com o usuário, sujeito especializado; e divulgação quando há esforços na busca de fazer com que o cidadão

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comum esteja a par dos desenvolvimentos científicos. Identifica-se nesse conceito de Caribé a abrangência e o impacto que a ciência provoca no meio social e como esta deve manter-se acessível, quanto mais legível, no prosseguimento de comunicar às pessoas, principalmente, leigas, pois na maioria das vezes os subsídios empregados às instituições de pesquisa são públicos e a transparência, clareza e objetividade são fundamentais na “prestação de conta” para retornar ao meio social com avanços relevantes, sempre integrando o cidadão comum até então distanciado desse cenário (CARIBÉ, 2015).

A possibilidade do acesso e a proximidade do contato homem-tecnologia ressalta a existência da Tecnologia da informação (TI) que ganha força em 1980. Em comparação às publicações impressas, a inteligência artificial propõe maiores flexibilidades e serviços mais avançados, no caso do ser humano demorar mais tempo para examinar e selecionar esse conteúdo informacional. No entanto, a velocidade da busca coincide também com a abrangência da busca. Julga-se que as diferenças técnicas entre os sistemas da rede diminuíram gradativamente, mas as diferenças relacionadas ao conteúdo são questões delicadas e difíceis, pois dizem respeito ao uso do usuário (MEADOWS, 1999).

O suporte eletrônico inserido nos diferentes canais de comunicação pode:

otimizar o acesso dos usuários, facilitar a leitura hipertextual, modernizar sua interface com o público, agregar valor ao site eletrônico, desenvolver uma relação mais interativa com o usuário e utilizar os recursos multimídia. Pretende-se, com o uso adequado de tais recursos, favorecer a

disseminação do conhecimento científico3. (LÜBECK; SILVEIRA, 2003, p. 87)

Portanto, há um intensivo processo de dinâmica informacional, principalmente quando se trata de conteúdos científicos “e todos os avanços técnicos acumulados pela sociedade são considerados, antes de tudo, um patrimônio histórico destinado ao uso universal [...] para que possa ser útil à sociedade.” (LÜBECK; SILVEIRA, 2003, p. 88).

A informação informatizada e a mudança do suporte tendenciou uma experiência mais dinâmica desencadeando espaços colaborativos criados em conjunto. A promoção do fazer científico colaborativo, proporciona a co-criação do conhecimento; isto é, por meio de estudos desenvolvidos é possível iniciar outras pesquisas de caráter mais complexo. Para tanto, a troca informacional acontece com utilidade quando há, por

3 Grifo nosso.

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intencionalidade do cientista e necessidade da comunidade, a divulgação dos resultados de pesquisas irrestritamente, em acesso aberto (WEITZEL, 2006, p. 83).

No mais, com a “explosão bibliográfica” a produção científica acumula-se em nível nunca ocorrido. Desde então, a “promoção da carreira acadêmica” é entendida por meio da produção científica (WEITZEL, 2006, p. 84). Com a adoção da internet novas vias alternativas concretizaram importantes inovações, novos processos e comportamentos. É neste período mais recente que se encaminha e se cumpre a interação entre a comunicação científica e o ambiente eletrônico e digital. A produtividade e o dinamismo potencializado por esse mecanismo em rede transforma a divulgação da informação científica e a insere como elemento primordial para o formato colaborativo, consolidando a visibilidade científica e incentivando o seu reuso imediato. Dessa maneira, as tendências colaborativas emergem como a possibilidades de adaptação à um paradigma inovador e democrático, capaz de dar visibilidade aos estudos e proporcionar o desenvolvimento social, inclinando-se em direção oposta ao fazer científico tradicional, conservador e restritor do acesso à informação.

A obsessão pela propriedade intelectual, desde as duas últimas décadas do século XX, levou ao alargamento dos mecanismos de apropriação privada da produção intelectual e cultural, ampliando e aprofundando relações capitalistas de mercado para áreas que até então constituíam uma reserva social. [...] deu nova proeminência à figura do autor

individual, desconsiderando o fato de que todo novo conhecimento advém de conhecimento prévio e é portanto uma produção social4 (ALBAGLI, 2015, p. 10-11).

Portanto, considerando a potência da internet e partindo do pressuposto de que as publicações eletrônicas emergem junto à ação do acesso aberto e das possibilidades no reuso das informações sem precedentes, entende-se que atividades tradicionais de sigilo e restrição científica retardam o desenvolvimento das publicações e consequentemente os reflexos dessas barreiras despencam sobre a sociedade atrasando sua trajetória.

4 Grifo nosso.

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3 A PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA NO CONTEXTO CAPITALISTA CONTEMPORÂNEO

O sistema capitalista desenvolveu-se ao ponto de provocar turbulências estruturais, sociais, econômicas e culturais com (maior) parte mundial de adeptos, resultando em novos procedimentos, novas concepções, novos comportamentos e novas mentalidades; as mudanças socioeconômicas alteraram-se com o paradigma do capitalismo industrial, afetando produtos e processos. Neste processo de forte penetração onde as concepções do capitalismo duram até hoje, resultando em um aparelhamento significativo de forte alicerce.

Essa seção não pretende se aprofundar em contextualizações quanto ao sistema econômico de amplitude popular de modo geral. Objetiva dar ênfase a fase capitalista pós-comercial, entendida hoje como um período de produção imaterial atrelada ao conhecimento. Dessa maneira, admite-se que as fronteiras históricas alusivas ao capitalismo são complexas e, portanto, necessita-se fugir da abstração e inserir-se em uma submersão mais aprofundada. Essa atividade requer grande compromisso, pois entender os marcos históricos, seja qualquer mudança, confere à história a ocorrência de vestígios, onde nenhuma transição é capaz de extinguir totalmente os elementos que estiveram alinhados aos sistemas anteriores.

Assim, a existência do Capitalismo esteve iniciada entre os séculos XV e XVIII, com influência do Renascimento Cultural; durante o período citado, alguns autores exemplificam esse intervalo de Manufatureiro, neste momento é lançada a partir da expansão marítima a existência de um mercado com produtos e valores – a circulação de mercadorias – à nível mundial. A produção em grande escala e a divisão técnica do trabalho aumentou a capacidade de exploração e diminuição do valor da produção, o que consequentemente refletia no valor competitivo dos produtos. A unificação do mercado nacional (colônias e colonizados) ocorre por meio do domínio político, capaz de eliminar os competidores que ameaçassem iniciar qualquer concorrência (SINGER, 1990).

Durante a Revolução Industrial (XVIII-XIX) a organização esteve pautada em uma “[...] importância [...] essencialmente econômica, apresentando um reflexo dramático menos importante, porém nunca desprezível, sobre a esfera política” (DOBB, 1987, p. 28). É neste estágio que o Capitalismo Industrial se protagoniza pela inserção de maquinário capaz de substituir a atividade humana que agora, apenas regula as ações mecânicas (SINGER, 1990). Esse modelo, diferente do anterior, rejeita a participação do

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Estado, o que podemos reconhecer como Liberalismo Econômico. É com esta doutrina que a burguesia irá esgueirar-se e conquistará a “hegemonia econômica e política” (SINGER, 1990, p. 19).

Em consequência do avanço sistemático-econômico, a produção científica também é afetada, pois é principalmente ela quem provê a invenção e a inovação tecnológica. Hoje discutem-se formas de financiamento, produção e garantias de retorno que estas descobertas possam oferecer, pois há um cenário de interesses que interfere nos propósitos dos estudos: “os resultados da atividade do conhecimento são progressivamente monopolizados e se transformam em instrumento de luta interempresarial” (SANTOS, 1987, p. 11). Nesses casos de financiamento e restrições informacionais que costumam impedir o progresso científico e social para alcançar capital financeiro individual é preciso assinalar que a interferência do Estado se torna fundamentalmente necessária para sustentar a produção, a aplicação e a difusão do conhecimento científico de qualidade. Afinal, as descobertas científicas “provocam profundos efeitos na economia e na sociedade” (SANTOS, 1987, p. 12).

Os três elementos que se relacionam com a acumulação capitalista contemporânea e o capitalismo acadêmico – invenção, inovação, difusão – são apresentados por Santos (1987) como fontes, interligadas, de crescimento econômico, que têm vínculo com as etapas de produção do conhecimento. Essas etapas se propõem a provocar novas descobertas. O capitalismo acadêmino, um termo que se relaciona com a acumulação capitalista, refere-se a “um conjunto de iniciativas e comportamentos economicamente motivados para garantir a obtenção de recursos externos” (COLADO, 2003, p. 1059, tradução nossa).

As invenções primárias (também há as secundárias e as terciárias) por terem caráter sofisticado de alto risco, e consequentemente alto investimento, costumam utilizar recursos públicos no seu desenvolvimento:

é evidente que as invenções primárias são produto de situações excepcionais e altamente perigosas devido à sua novidade. Numa situação normal, as firmas individuais preferem dedicar-se a melhorar a aplicação de princípios já descobertos, quer dizer, a procurar invenções secundárias ou terciárias, que implicam riscos muito menores (SANTOS, 1987, p. 15).

O financiamento obtido de firmas individuais no fomento a pesquisas é incapaz de alcançar os recursos cedidos por instituições públicas. Como Santos diz anteriormente,

(26)

invenções secundárias e terciárias costumam ser o alcance delas. Arcar com os custos necessários para invenções significativas ao uso comercial que interesse ao público e gere capital, quase sempre está associado ao uso de recursos públicos. No campo da competitividade tecnológica, o sistema de patentes incube-se em garantir o desenvolvimento social, protegendo e retribuindo invenção e inventor, mas acaba também por sustentar o monopólio da apropriação total dos resultados obtidos, pois promove a ocultação da atividade inventiva (SANTOS, 1987).

Tal como a economia da informação e a economia do conhecimento, o capitalismo cognitivo se refere ao novo modo de produção da informação e do conhecimento. Autores conceituam que ele trata-se de uma “[...] transformação radical das formas de produção, acumulação e organização social abertas pelas NTIC5” (COCCO, 2003, p. 8). Mais ainda, essa nova abordagem é a “[...] produção de algo que foge às regras anteriores de apropriação; uma produção de algo que não pode passar pelos mesmos padrões de troca material”. E essa configuração afeta algumas transformações como: “a mudança de uma produção de mercadorias por meio de mercadorias para uma produção de conhecimentos por meio de conhecimentos” (VILARIM; COCCO, 2008, p. 4).

3.1 A atividade científica imaterial na ótica de Marx

Entre o apanhado teórico de Karl Marx e o fenômeno da informação e do conhecimento é possível levantar questões seja sobre o desenvolvimento social e econômico, quanto a mais, à produtividade imaterial. A compreensão da amplitude que cerca a sociedade e sua relação com o conhecimento e a informação denota uma nova dimensão social – a era do conhecimento. Essas explanações conversam com os autores do capitalismo cognitivo e da ciência aberta, muito embora estes possam conflitar-se na medida em que se estipule o conceito de valor da atividade e do produto imaterial.

Algumas atividades podem não estar diretamente vinculadas a produção capitalista, mas se relacionam com ela devido ao grau de subordinação ao capital, embora elas não sejam definidas como totalmente produtivas. Alguns exemplos são: escritor que trabalha para um corpo editorial ou um médico que faz consulta e o professor que dá aulas. Estas são consideradas atividades suscetíveis a negociações, trocas; são serviços que geram riqueza (MARQUES, 2016). Marx define mercadoria, inclusive na forma não

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tangível, ou seja, imaterial como: “[...] um objeto externo, uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia” (MARX, 1968, p. 41).

Marx também se ocupa no estudo do termo trabalhador coletivo, que seria um corpo de trabalho dinâmico combinado por diferentes sujeitos ocupando um trabalho manual e intelectual, propiciando ao máximo “o crescimento da produção” e o “maior volume do capital” (MARQUES, 2016, p. 56-57). Nesse ponto, observa-se uma semelhança combinada com a ciência aberta e instituições de fomento à pesquisa, pois da mesma maneira que a ciência é “fator decisivo na capacidade de transformar a natureza [...] pelo trabalho humano (científico ou empírico)” (SANTOS, 1987, p.31), o método de trabalho multidisciplinar, conversado entre os pares, na sua relação comum ou formal, gera produtividade, resoluções aprimoradas e decisivamente o capital. A riqueza está relacionada à apropriação do conhecimento como já levantado anteriormente. O caráter do trabalhador coletivo caracteriza-se pela “cooperação e pela divisão do trabalho”, uma socialização que emite efeito eficaz ao trabalho (SANTOS, 1987, p.71), mas que não deixa de ser um ramo de produtividade explorado pelo modus operandi.

A produção imaterial advém de um esforço investido. Seja o tempo consumido na capacitação intelectual a priori e na dedicação durante o desenvolvimento desses serviços. Pois, primeiro necessitou-se de investimento anterior para o progresso intelectual referente a capacitações técnicas, superiores e afins; segundo, implica dizer que para realização das atividades não exista tempo regulável. Dessa maneira, deve ser atribuído maior valor a esse serviço que consome força de trabalho complexo (MARX, 1968). No caso do cientista, este ainda que dedique grande tempo de trabalho na execução do processo para obtenção de um resultado, a este é direcionada uma ajuda de custo condicionado a remuneração de um assalariado, que executa força de trabalho simples, ou menor (SANTOS, 1987).

Cientes de que a riqueza do mundo advém do trabalho do proletariado e todo capital industrial é resultado dos produtos e serviços decorrentes da execução capitalista, entende-se que o trabalho, desde o simples ao mais complexo, gera impulso capital. Muito embora, para o indivíduo comum, o fordismo contemporâneo seja um modo de produção que aflige os indivíduos classificando-os em infoproletariados do séc. XXI que caminham para uma transição ao cibertariado (MARQUES, 2016), pois os autores sustentam que o cenário atual apresenta uma “taylorização” de qualificações rasas, genéricas e substituíveis (MARQUES, 2016).

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3.2 Capitalismo cognitivo em debate

Considerando as mudanças socioeconômicas na dinâmica histórica capitalista, Antunes (2000) aponta uma redefinição social, no que se refere ao trânsito da Sociedade Industrial para a Sociedade do Conhecimento. Antes disso, na década de 1960, a sociedade dava indícios de que a força produtiva estaria em progresso intelectual, verificando novos procedimentos produtivos. Já naquele período, Antunes cita tendências sugeridas por Drucker, na década de 1970, entre elas a de que o conhecimento é recurso fundamental na nova configuração social:

[...] O conhecimento, nestas últimas décadas, tornou-se o capital principal, o centro de custo e o recurso crucial da economia. Isso muda as forças produtivas e o trabalho; o ensino e o aprendizado; e o significado do conhecimento e suas políticas. Mas também cria o problema das responsabilidades dos novos detentores do poder, os homens do conhecimento (ANTUNES, 2000, p. 24).

A aplicabilidade do conhecimento às novas tecnologias e o reuso cíclico, são avanços que “produzem benefícios intangíveis, que lhes agregam valor às mesmas”. (ANTUNES, 2000, p. 18). Entretanto, o movimento que manifesta o elemento conhecimento como fonte primordial – o entendimento do capitalismo cognitivo, contemporâneo –, é um inusual aspecto socioeconômico. Como assinala a corrente cognitiva, o ressignificado ao valor, nulo, este que não assume valia, é entendido como a própria agregação do uso intelectual às organizações. E assim, instaura uma construção colaborativa que ignora o vigente cenário de valor atribuído à bens imateriais, mas traçando discussões que podem ser enxergadas como atingíveis para melhor aproveitamento público e social. Assim, incentiva-se novos processos produtivos ao conhecimento e novas condições de trabalho (MARTINS, 2011).

Fumagalli (2009) descreve que no capitalismo cognitivo:

[...] o processo de valorização perde a unidade de medida quantitativa ligada à produção material. Tal medida era, de algum modo, definida pelo conteúdo de trabalho necessário para a produção da mercadoria, mensurável com base na tangibilidade da própria produção e do tempo necessário para a produção. Com o advento do capitalismo cognitivo, a valorização tende a ficar atrelada a formas diversas de trabalho, que ultrapassam a jornada formal de trabalho para coincidir cada vez mais com o tempo total de vida. Hoje, o valor do trabalho baseado na acumulação capitalista é também o valor do conhecimento, dos afetos,

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das relações, do imaginário e do simbólico. (FUMAGALLI, 2009, p. 30).

No início da década de 1990, segundo Fumagalli (2009), no meio de sucessivas crises econômicas está traçado o capitalismo cognitivo, evidenciando-se em um período de “crise de crescimento” prolongado e custoso, pois não decorre de uma transformação repentina. Nesse processo, dois são os fatores produtivos: o conhecimento e o espaço. Com o conhecimento institui-se a formação básica, o saber especializado, know how e o saber sistêmico. Logo, esta produção não pode estar ligada à uma “vida material, mas à vida simbólica”. (informação verbal, 2015)6. Ou seja, a riqueza não é o capital, mas a

aplicação do conhecimento. Essa perspectiva destoa completamente da máxima taylorista (ANTUNES, 2000), principalmente quando se aborda o valor do bem imaterial mediante o uso. Isso atinge a difusão, a comunicação científica e a visibilidade e participação social irrestrita.

A avançada utilização da tecnologia de informação e comunicação (TIC) constituiu um aspecto cooperativo, pois o trabalho imaterial pode ser concebido em ambientes digitais, por exemplo, redes sociais, e não ter a obrigatoriedade do víeis lucrativo, pois nestes ambientes suas produções são socializadas e suas redes retroalimentadas. Considerando essa partilha, alguns autores7 dirigem-se aos hackers como agentes que interferem na “circulação do conhecimento” que é, nessa ocasião, justamente, o entendimento de valor (COCCO; VILARIM, 2009).

Com base nisso, nessa fase de ativo informacional-cognitivo, o que mais importa são processos que garantam qualidade ao produto. O quantitativo não é fator preponderante, mas a atividade inventiva, sim, assume-se como estratégica. Nesse caso, a “equipe da qualidade fica responsável por centralizar e criar nos usos para informação, de modo que esta se transforme em valor para a organização.” (JORGE; ALBAGLI, 2015, p. 251):

6 Considerações fornecidas em uma Conferência ministrada pelo Prof. Dr. Andrea Fumagalli – Università

di Pavia – Itália, no dia 23 de setembro de 2015. Disponível em: https://cutt.ly/Hoi0LPU. Acesso em 19 ago. 2019.

(30)

Figura 3 – Características da evolução do capitalismo e seus estágios: fordista, pós-fordista, cognitivo

(31)

4 ÉTICA CIENTÍFICA: CIENTISTAS E PERIÓDICOS

Em um ambiente fabricado pela produtividade, diante do cenário globalizado e a enorme interferência das tecnologias, as exigências científicas têm sobrecarregado os pesquisadores, fomentando um sistema impiedoso que endossa sequelas em toda cadeia produtiva. A discussão da ética científica, muitas vezes traz um paradoxo inquietante: “o que existe é um tremendo desequilíbrio, contra o progresso ético e moral, a favor do progresso científico e tecnológico” (CANDEIAS, 1999, p. 111).

O “ecossistema científico”, no qual participam, cientistas, cidadãos e entidades é permeado por normas de conduta. As boas práticas adotadas podem amparar a qualidade e a veracidade dos resultados das pesquisas, contribuindo para algo ainda mais grandioso, a notabilidade social, e a proximidade das pessoas comuns às resoluções científicas. O exercício de cada componente desse eco, requer papel indispensável: moral e ética. Apesar de algumas incoerências existentes, fatores condicionantes serão expostos como principais responsáveis pela acrescida e contínua atividade científica operantemente aprisionante.

Embora alguns cientistas estejam cientes do mecanismo ao qual estão condicionados: excessiva publicação, h-index etc; estes continuam a perpetuar o maquinário, ocorrendo de serem chamados “reféns da produtividade” (REGO, 2014). Os indicadores de eficiência dos alunos e professores está contaminado em uma “lógica gerencial-empresarial” onde “o que vale é a produtividade mensurada por números. No Brasil, produção acadêmica se transformou em sinônimo de fazer pontos” (ALCADIPANI, 2011, online, n.p.). Damatta (2014, online) alfineta com certo desânimo a contradição de que:

[...] hoje, graças ao regime imposto ao mundo da pesquisa e do ensino superior, esse publicar é requerido e medido. Dependendo do órgão no qual se publica o texto vale mais ou conta menos pontos para o autor e para o seu departamento independentemente de seu, digamos com a devida vênia, valor intrínseco. [...] Professores e pesquisadores,

entretanto, falam com justo orgulho que publicam em revistas exclusivamente devotadas à ciência nos países que inventaram esse jeito de olhar o mundo, ainda que os seus ensaios sejam às vezes contra esse mundo8. Curioso e pungente é ler um documento contra a acumulação capitalista ser preferencialmente publicado numa revista dos países que inventaram a poluição, o luxo e o lixo. (DAMATTA, 2014, online, n.p.)

8 Grifo nosso.

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Os descumprimentos morais e éticos existem muito antes do exercício da iniciação científica de fato, esta questão é socialmente mais inserida em violações menos perceptíveis na academia, até atingirem a integridade científica, como: o “coleguismo” nos trabalhos em grupo, em que se mantém sujeitos agregados à atividade mesmo que eles não tenham contribuído para o resultado final do trabalho; fraudes na assinatura da folha de frequência; da mesma maneira, quando a indicação profissional é realizada mediante o grau de afinidade que se haja com o indivíduo, não levando em consideração a capacitação profissional; e até mesmo, quando um estudo é apresentado em inúmeros eventos (GARCIA; TARGINO, 2008), ou desfragmentado em tantas partes ao modo “salami science” (REINACH, 2013), dando a impressão de produtividade, claramente um índice ilegítimo.

Ao se tratar de produção científica e intelectual, autores e periódicos – editores – possuem responsabilidades cruciais na socialização da ciência. Mas antes que esses vislumbrem seus objetivos individuais, estes precisam analisar suas responsabilidades coletivas. A publicitação da divulgação dos resultados necessita ultrapassar as fronteiras da academia, estabelecendo conexões mais abertas, além do vínculo estritamente cerrado entre cientistas.

Se a comunicação científica é básica àqueles que fazem ciência, a produção da C&T não se dá alheia ao contexto social em que se insere. Como sistema social, a ciência deve ultrapassar as fronteiras da comunidade de usuários mais imediatos rumo ao grande público, sob o risco de se tornar desnecessário e inútil. (GARCIA; TARGINO, 2008, p. 38).

O perigo da propriedade pode oferecer escassez de riquezas científicas e sociais. Quando a pesquisa não está disponível a qualquer indivíduo, esta não pode ser útil para a edificação social de forma colaborativa. Suponha uma revista com poucos assinantes, essa não integra a discussão, pois está selada hermeticamente em benefício individual de um mini-monopólio das indústrias editoriais; nessas circunstâncias os estudos são determinados por aquilo que venda, isso torna a ciência tortuosa e insuficiente. A mediocridade de estudos não relevantes, em uma lógica de mercado, retira a liberdade e autonomia prevista na academia. (SUBER, 2012). A lógica das agências de financiamento públicas é responsável por estabelecer critérios na seleção de estudos, com a avaliação e a “demonstração do impacto social e econômico da pesquisa”, necessitando esta ter

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potencial para próximos estudos e introduzir formas de desenvolvimento social positivo. (ALISSON; ZIEGLER, 2019).

4.1 Responsabilidade do autor

Por vezes, a divulgação dos dados de pesquisa sofre forte resistência sobre sua abertura, dificultando as sugestões propostas pela ciência aberta, por causa de “trapaças” científicas. A potencialização da TIC facilitou o acesso às informações, mas também algumas violações, por exemplo, a “facilidade para a falsificação, a adulteração ou a apropriação da criação do outro, além de maior probabilidade de equívocos editoriais” (GARCIA; TARGINO, 2008, p. 35). Porém, da mesma maneira que a internet atua como “colaboradora” nesse processo, ela tem capacidade de identificar essas ações indevidas. É evidente que o cientista se esforça para alcançar visibilidade e credibilidade na comunidade científica, e considerando a mensuração quantitativa ao qual estão subordinados, na menor das oportunidades, estes podem cometer infrações que os favoreçam. Garcia e Targino (2008) apontam casos de notória visibilidade que se destacaram pela circunstância de “fraude e má-conduta” (p. 35). Entre eles é possível identificar forja de publicações, de dados e de citações entre cientistas renomados, do mesmo modo que escândalos de autoria coletiva – tática realizada para aumentar o número de publicações e nutrir o currículo lattes de autores que socializam a autoria de seus trabalhos, embora não tenham contribuído para a realização dele – é prática denunciativa.

Diminuir a regulação proprietária obstrui a impossibilidade de se chegar às fontes informacionais aos quais necessite. Possibilitar o uso, de modo seletivo, a uma parcela, ainda assim é sufocar a comunicação. A amplitude da transmissão desenvolve multiplicação produtiva e distintas (MARTINS, 2011). Do mesmo modo que os outros elementos dessa cadeia, como editores e periódicos, tratem de desenvolverem-se organicamente, em volume de efetiva contribuição, de qualidade do canal de comunicação, primando pelo desempenho das pesquisas durante as avaliações do que fatores de outra ordem (GARCIA; TARGINO, 2008). Isto posto, os rompimentos aqui discutidos representam fatores que contribuem para o inevitável progresso da Ciência.

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5 CIÊNCIA ABERTA

O contexto da produção e da disseminação da ciência é variante, porém é permanente o princípio de visibilidade pertencente à ciência.. No atual momento situado, constatam-se diligências relativas à problemáticas sociais complexas, haja vista o financiamento público empregado e o cumprimento da servidão da ciência à humanidade (QUINTANILHA, 2015) desde sua concepção, como também à garantia das inovações tecnológicas. É útil que se faça entender, portanto: estruturas herméticas de aprisionamento do conhecimento não auxiliam a articulação de conhecimentos multidisciplinares empenhados em colaborar no desenvolvimento tecnológico, científico, cultural, social e econômico de uma região.

A disponibilização total e irrestrita dos conteúdos produzidos em instituições públicas é reclamada, pois conduz-se ao estabelecimento do cumprimento do princípio universal das universidades em promover suas descobertas, isto é, visibilizar o conhecimento agente de transformações direcionadas ao bem comum (TABOSA; SOUZA; PAES, 2013). As iniciativas abertas percorrem o mundo digital com expressiva participação tecnológica e reconhece-se que a democratização digital não atinge escalão suficiente para efetivar a sociedade brasileira à inclusão informacional e em rede (GROSSI; COSTA; SANTOS, 2013) – principalmente quando a análise do analfabetismo digital está relacionada às habilidades do usuário com ferramentas e softwares, e não somente à obtenção desses equipamentos que são outros obstáculos existentes – este desafio, que enfrenta a ciência aberta, nos submete ao questionamento da concretude desta prática. A infraestrutura tecnológica em que se acende a ciência aberta não se estende a todos os países e, naturalmente, exige medidas alternativas para tornar pública a informação científica nos países periféricos da posição mundial.

A Scopus, base bibliográfica referência em resumos e citações, é uma ferramenta indispensável para pesquisadores que se interessem por material revisado por pares e pela disposição de informações por meio de gráficos demonstrativos idealizados por softwares baseados em análises bibliométricas. Foi possível observar que o primeiro documento registrado, com inclinações a funcionamento aberto, está datado no ano de 1979, no periódico Tendências em Ciências Bioquímicas, por título “A educação é a chave para a

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ciência 'aberta'”9. Neste trabalho realizamos a busca utilizando o termo Open Science a partir do título, resumo e palavras-chave da publicação. Constata-se na figura a seguir:

Figura 4 - Análise gráfica da quantidade de documentos publicados por ano com o termo Open Science na base bibliográfica Scopus

Fonte: Scopus (2020).

No ano de 2005 em diante é possível observar grande número de publicações sobre a temática. Nos últimos anos, 2018 teve um total de 431 documentos publicados; 2019, 660 documentos e 2020 segue em andamento com 372.

Ainda ao explorar a literatura sobre ciência aberta, no período de 1979 a 2020, verifica-se que os tipos de produções vigentes pelos autores que interessam-se pela temática são: artigos (51.9%), documentos de conferência (22.9%), revisões (8.1%), editorial (4.2%), nota (3.2%), capítulo de livro (2.8%), errata (2.5%), outros (4.4%). A dinamicidade rápida e a socialização imediata dos resultados de pesquisas são justificativas passíveis de serem constatadas ao analisar essas informações (SCOPUS, 2020).10

Uma “semente” do que seria conhecido mais adiante como Open Science surge no Séc. XVI “após a revolução pós-renascentista, com a proprietização dos bens intelectuais,

9 SHARGOOL, P. D. Education is the key to 'open' science. Trends in Biochemical Sciences, v. 4, n. 3,

1979.

10 Da mesma maneira, áreas de estudos a qual ocupam-se em discutir e promover, na prática, a Ciência

Aberta, são: Ciência da Computação (17.8%), Ciências Sociais (15.4%), Medicina (8.2%), Bioquímica, genética e biologia molecular (7.9%), Psicologia (5.9%), Neurociência (5.8%), Engenharia (4.0%), Matemática (3.6%), outros (35.1%).

(36)

a partir do surgimento da imprensa (sic)11 e ressurgiu nas últimas décadas como um grande esquema emergido do movimento de acesso aberto” (OLIVEIRA, 2016, p. 36). Mais adiante, estas discussões avançam por meio de um projeto denominado de Gutenberg em 1971. Este projeto tinha como objetivo a larga difusão de informação científica entre pares e sociedade. Contudo, na mesma medida em que este êxito na comunicação acontecia por meio das revistas científicas, estas assumiram o papel de monopólio. A restrição acometida ao acesso desses documentos era designada ao cidadão comum, incapaz de acompanhar os valores estabelecidos pela indústria do conhecimento que insiste em cobrar altas taxas onde apenas os mais privilegiados são capazes de custear essas informações (CHAN; OKUNE; SAMBULI, 2015, p. 94).

O sistema de comunicação científica esteve prejudicado quando a crise de periódicos e o elevado custo das assinaturas impedia o acesso de interessados às publicações científicas, a chamada crise de periódicos. Discute-se que a pesquisa deve ser aberta de maneira gratuita e irrestrita, pois essas cobranças justificam os custos elevados que rendem aos cofres públicos o financiamento de pesquisas. O espírito público empenha-se além da disponibilização gratuita e acessível, processável e interpretável, a transparência. Assim a avaliação eficaz dos métodos aplicados e dos resultados alcançados gera excelência dos estudos.

Inegavelmente, componentes tecnológicos condicionaram a nova dinâmica de difusão das pesquisas, a partir do momento em que possibilitaram “maiores níveis de colaboração, internacionalização, transparência e impacto do trabalho científico” (CARDOSO; JACOBETTY, 2010, p. 10). A promoção dos recursos tecnológicos, por meio das utilidades que a TIC oportuniza, colaborou significativamente para a consolidação de uma infra-estrutura colaborativa e aberta, sem custos. “A e-Science supõe a construção de uma infraestrutura informática computacional de uso distribuído, capaz de permitir a colaboração à distância de equipes de pesquisa, envolvendo uso intensivo e o compartilhamento de dados e recursos computacionais” (ALBAGLI; APPEL; MACIEL, 2014, n.p.) A influência tecnológica impacta na variabilidade de suportes e na rapidez com que a aplicação dos recursos tecnológicos atraem a atenção da comunidade científica que sempre firmou-se pela urgência das descobertas ― as bases de dados online, a World Wide Web, fóruns de discussão e bibliotecas digitais são algumas das tendências (CARDOSO; JACOBETTY, 2010, p. 11-12).

11 O correto seria prensa.

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