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O contexto da produção e da disseminação da ciência é variante, porém é permanente o princípio de visibilidade pertencente à ciência.. No atual momento situado, constatam-se diligências relativas à problemáticas sociais complexas, haja vista o financiamento público empregado e o cumprimento da servidão da ciência à humanidade (QUINTANILHA, 2015) desde sua concepção, como também à garantia das inovações tecnológicas. É útil que se faça entender, portanto: estruturas herméticas de aprisionamento do conhecimento não auxiliam a articulação de conhecimentos multidisciplinares empenhados em colaborar no desenvolvimento tecnológico, científico, cultural, social e econômico de uma região.

A disponibilização total e irrestrita dos conteúdos produzidos em instituições públicas é reclamada, pois conduz-se ao estabelecimento do cumprimento do princípio universal das universidades em promover suas descobertas, isto é, visibilizar o conhecimento agente de transformações direcionadas ao bem comum (TABOSA; SOUZA; PAES, 2013). As iniciativas abertas percorrem o mundo digital com expressiva participação tecnológica e reconhece-se que a democratização digital não atinge escalão suficiente para efetivar a sociedade brasileira à inclusão informacional e em rede (GROSSI; COSTA; SANTOS, 2013) – principalmente quando a análise do analfabetismo digital está relacionada às habilidades do usuário com ferramentas e softwares, e não somente à obtenção desses equipamentos que são outros obstáculos existentes – este desafio, que enfrenta a ciência aberta, nos submete ao questionamento da concretude desta prática. A infraestrutura tecnológica em que se acende a ciência aberta não se estende a todos os países e, naturalmente, exige medidas alternativas para tornar pública a informação científica nos países periféricos da posição mundial.

A Scopus, base bibliográfica referência em resumos e citações, é uma ferramenta indispensável para pesquisadores que se interessem por material revisado por pares e pela disposição de informações por meio de gráficos demonstrativos idealizados por softwares baseados em análises bibliométricas. Foi possível observar que o primeiro documento registrado, com inclinações a funcionamento aberto, está datado no ano de 1979, no periódico Tendências em Ciências Bioquímicas, por título “A educação é a chave para a

ciência 'aberta'”9. Neste trabalho realizamos a busca utilizando o termo Open Science a partir do título, resumo e palavras-chave da publicação. Constata-se na figura a seguir:

Figura 4 - Análise gráfica da quantidade de documentos publicados por ano com o termo Open Science na base bibliográfica Scopus

Fonte: Scopus (2020).

No ano de 2005 em diante é possível observar grande número de publicações sobre a temática. Nos últimos anos, 2018 teve um total de 431 documentos publicados; 2019, 660 documentos e 2020 segue em andamento com 372.

Ainda ao explorar a literatura sobre ciência aberta, no período de 1979 a 2020, verifica-se que os tipos de produções vigentes pelos autores que interessam-se pela temática são: artigos (51.9%), documentos de conferência (22.9%), revisões (8.1%), editorial (4.2%), nota (3.2%), capítulo de livro (2.8%), errata (2.5%), outros (4.4%). A dinamicidade rápida e a socialização imediata dos resultados de pesquisas são justificativas passíveis de serem constatadas ao analisar essas informações (SCOPUS, 2020).10

Uma “semente” do que seria conhecido mais adiante como Open Science surge no Séc. XVI “após a revolução pós-renascentista, com a proprietização dos bens intelectuais,

9 SHARGOOL, P. D. Education is the key to 'open' science. Trends in Biochemical Sciences, v. 4, n. 3,

1979.

10 Da mesma maneira, áreas de estudos a qual ocupam-se em discutir e promover, na prática, a Ciência

Aberta, são: Ciência da Computação (17.8%), Ciências Sociais (15.4%), Medicina (8.2%), Bioquímica, genética e biologia molecular (7.9%), Psicologia (5.9%), Neurociência (5.8%), Engenharia (4.0%), Matemática (3.6%), outros (35.1%).

a partir do surgimento da imprensa (sic)11 e ressurgiu nas últimas décadas como um grande esquema emergido do movimento de acesso aberto” (OLIVEIRA, 2016, p. 36). Mais adiante, estas discussões avançam por meio de um projeto denominado de Gutenberg em 1971. Este projeto tinha como objetivo a larga difusão de informação científica entre pares e sociedade. Contudo, na mesma medida em que este êxito na comunicação acontecia por meio das revistas científicas, estas assumiram o papel de monopólio. A restrição acometida ao acesso desses documentos era designada ao cidadão comum, incapaz de acompanhar os valores estabelecidos pela indústria do conhecimento que insiste em cobrar altas taxas onde apenas os mais privilegiados são capazes de custear essas informações (CHAN; OKUNE; SAMBULI, 2015, p. 94).

O sistema de comunicação científica esteve prejudicado quando a crise de periódicos e o elevado custo das assinaturas impedia o acesso de interessados às publicações científicas, a chamada crise de periódicos. Discute-se que a pesquisa deve ser aberta de maneira gratuita e irrestrita, pois essas cobranças justificam os custos elevados que rendem aos cofres públicos o financiamento de pesquisas. O espírito público empenha-se além da disponibilização gratuita e acessível, processável e interpretável, a transparência. Assim a avaliação eficaz dos métodos aplicados e dos resultados alcançados gera excelência dos estudos.

Inegavelmente, componentes tecnológicos condicionaram a nova dinâmica de difusão das pesquisas, a partir do momento em que possibilitaram “maiores níveis de colaboração, internacionalização, transparência e impacto do trabalho científico” (CARDOSO; JACOBETTY, 2010, p. 10). A promoção dos recursos tecnológicos, por meio das utilidades que a TIC oportuniza, colaborou significativamente para a consolidação de uma infra-estrutura colaborativa e aberta, sem custos. “A e-Science supõe a construção de uma infraestrutura informática computacional de uso distribuído, capaz de permitir a colaboração à distância de equipes de pesquisa, envolvendo uso intensivo e o compartilhamento de dados e recursos computacionais” (ALBAGLI; APPEL; MACIEL, 2014, n.p.) A influência tecnológica impacta na variabilidade de suportes e na rapidez com que a aplicação dos recursos tecnológicos atraem a atenção da comunidade científica que sempre firmou-se pela urgência das descobertas ― as bases de dados online, a World Wide Web, fóruns de discussão e bibliotecas digitais são algumas das tendências (CARDOSO; JACOBETTY, 2010, p. 11-12).

11 O correto seria prensa.

A Ciência da Informação, área investigadora da circulação do conhecimento e do processamento técnico desta, acompanha continuamente as alterações que desempenham benefícios desde o progresso na ciência, quanto à mudança social. Da mesma maneira que a sociedade transforma-se com maneiras criativas, e acima de tudo, permissivas, novas expressões e perspectivas surgem garantindo a democracia informacional. Uma definição que resume a ciência aberta e explicita o aspecto do rompimento é o de Ribeiro, Oliveira e Araújo:

A Ciência Aberta é um fenômeno disruptivo com uma amplitude que abrange práticas científicas, envolvendo desde o acesso aberto à literatura científica e aos dados abertos de pesquisa, perpassando pela ciência cidadã, por códigos, software e hardware abertos, entre outras. Ela é conduzida por uma metodologia adepta à filosofia da cultura digital aberta, valorizando a colaboração e o compartilhamento das praxis e conteúdos científicos (RIBEIRO; OLIVEIRA; ARAÚJO, 2019, p. 168).

Associado a este assunto existem os tais como “ciber-ciência, ciber-infraestrutura, e-science, e-research” (QUINTANILHA, 2015, p.14). A Ciência Aberta abrange toda estrutura na qual está permeada a discussão do acesso aberto ao conhecimento científico, variando apenas pelos elementos ao qual está ligada e das ferramentas necessárias ao alcance da prática aberta. Cardoso e Jacobetty (2010) indicam a open science como modelo estruturado em três principais níveis, sendo o primeiro a “partilha de ferramentas de pesquisa”, o segundo a “partilha de dados” e o terceiro a “partilha de acesso na forma de publicações” (2010, p. 11).

Figura 5 – Aspecto guarda-chuva da ciência aberta

Fonte: FioCruz (online, n.p.).

Os novos modos de produção e organização da pesquisa científica são:

mais abertos, transparentes e colaborativos, [...] impactam toda a cadeia de produção e avaliação do conhecimento que, em conjunto, confluem para o movimento da Ciência Aberta, que pressupõe a abertura e o compartilhamento de todo o processo científico. Nesta perspectiva a Ciência Aberta promove o acesso não somente ao resultado da pesquisa na forma de publicações, mas também aos dados utilizados como fonte ou coletados nas pesquisas, a abertura dos cadernos de pesquisa, a participação do cidadão como sujeito produtor de conhecimento, entre outros mecanismos que visam reforçar o impacto na sociedade e a responsabilidade social-científica. O conjunto destas novas práticas está sistematizado na Taxonomia da Ciência Aberta (XAVIER , 2018, n.p.)

Assim, o conceito da ciência aberta sofistica-se na literatura ao:

[...] caracterizar-se [...] como processos que envolvem o

compartilhamento de planos de pesquisa, dados e publicações, ciência cidadã participativa, formas crowdsourced de coleta de dados [...], e novas formas de colaboração científica internacional,

tornadas possíveis por tecnologias em rede e produção peer-to-peer12 [...]. (CHAN; OKUNE; SAMBULI, 2015, p. 92).

A Ciência possui uma taxonomia própria tais como:

12 Grifo nosso.

Figura 6 – Taxonomia da ciência aberta

Fonte: Pontika; Knoth (2015).

A expressão do acesso aberto13 é concebido efetivamente em fevereiro de 2002,

quando é lançada a Declaração de Budapeste, de grande valia política; em 2003, ocorre um aperfeiçoamento em Berlim do documento disponibilizado no ano anterior que passou a articular a abertura da ciência a nível mundial; mais adiante, em 2007, para fortalecer o movimento da abertura dos dados, são criados oito princípios que reforçam a prática de uso e reuso dos dados de pesquisa (MACHADO, 2015).

A disponibilização em acesso livre de conteúdos científicos à usuários interessados é a definição primordial que sintetiza o processo da ciência aberta. A restrição comumente enfrentada no acesso e reuso dos dados resultantes de pesquisas (públicas) dissocia do objetivo pela qual se realizam estudos científicos com vista a solucionar as problemáticas da localidade. Além disso, acondicionar o conhecimento e distribuí-lo a um grupo seleto, como tem sido sistematizado: desestimula a promoção e a ética científica. Embora seja uma embaraçosa situação que acomete a produção da informação, o intercâmbio dos resultados científicos não é uma discussão recente; porém, ganha força, principalmente, na sociedade da informação na atual era tecnológica contemporânea.

13 Tendo em vista o escopo do trabalho direcionado ao embargo, o pilar do acesso aberto é o enfoque que

irá conversar com o objetivo deste trabalho, pois trata-se de uma discussão que está relacionada com o acesso aos trabalhos de conclusão de cursos da graduação.

Mesmo antes do marco central em 2003, em Berlim, a agenda científica mundial ansiava há tempos pelo modo de produção que encoraja o desenvolvimento social preponderantemente. O Livro Verde, publicado em 2000, por intermédio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), onde posteriormente lança-se o Livro Branco, 2002, consolidação do anterior, demonstra um debate em articular conteúdos teóricos, diretrizes, políticas e planos estruturais, tratando-se sempre de aspetos relevantes ao progresso da Sociedade da Informação. Debatendo com Ministérios, empresas e comunidade científica desenvolvimento econômico e inovação (TAKAHASHI, 2000).

Os pontos estabelecidos essencialmente para apoiar os esforços do open access em Berlim, citam:

Suporte às publicações em Open Access e apoio à investigação e publicação neste formato por parte de investigadores e bolseiros de investigação científica; apoio e estímulo à publicação, tirando partido de plataformas de largo alcance (Internet); apoio ao desenvolvimento de formas de avaliação em Open Access, por forma a garantir qualidade científica e boas práticas de produção de conhecimento; e o pressuposto de compensação menos focada na propriedade e direitos autorais, e mais em termos de prestígio e alcance da produção. (QUINTANILHA, 2015, p. 14).

A Budapest Open Access Initiative (BOAI) busca tornar a ciência cada vez mais colaborativa e gratuita, sendo responsável por iniciar uma campanha de alcance mundial com diálogos pertinentes a favor do comportamento aberto entre cientistas, propondo recomendações para que essa ação aparentemente benéfica a todos os envolvidos possa não ficar apenas no discurso. A BOAI que:

Acesso aberto à literatura científica revisada por pares significa a disponibilidade livre na Internet, permitindo a qualquer usuário ler, baixar, copiar, distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar o texto integral desses artigos, recolhê-los para indexação, introduzi-los como dados em software, ou usá-los para outro qualquer fim legal, sem barreiras financeiras, legais ou técnicas que não sejam inseparáveis ao próprio acesso a uma conexão à Internet. As únicas restrições de reprodução ou distribuição e o único papel para o direito autoral neste domínio é dar aos autores o controle sobre a integridade do seu trabalho e o direito de ser devidamente reconhecido e citado. (BOAI, [201-?], online).

Para tanto, a sociedade ao atingir o quarto paradigma científico - baseado na “valorização do compartilhamento dos dados de pesquisa” - (OLIVEIRA; SILVA, 2016, p. 10), se reestrutura, convocando junto com ela, os demais intermediadores da prática

científica. Essas transformações decorrem, naturalmente, pois a dinamicidade presente em quase tudo que exista também confere atuação na ciência, pois esta é unidade transformadora e mutável, passível de sofrer com imprescindíveis revalidações e rompimentos tradicionais.

O novo fazer científico [...] pressupõe o trabalho colaborativo, a preocupação com o partilhamento dos dados de pesquisa, sensibilização para tal fazer, processo de educação e postura ética dos pesquisadores e outros profissionais diante das novas práticas científicas (OLIVEIRA; SILVA, 2016, p. 8).

O resultado de uma ciência mais comunicativa interfere diretamente nas necessidades essenciais das comunidades e regiões, caracterizando esses estudos como investimento útil. Ultrapassar as fronteiras da academia, reforça o choque ao monopólio do pagamento, da acumulação e da subserviência ao mercado; termos que destoam da lógica científica.

5.1 “Ecologia” e responsabilidades da Ciência aberta

Os conjuntos de iniciativas abertas alcançam noções democráticas em um fazer público, favorecendo não apenas o desenvolvimento social, como também a comunicação científica como um todo. O movimento da ciência aberta compreende que o individualismo científico é anacrônico e insensato, tendo em vista que a colaboração científica ocorre direta ou indiretamente, portanto o acesso e reuso irrestrito dos dados de pesquisa (parcial e total) é um bem comum aos cidadãos.

Sarita Albagli, ativista do movimento da ciência aberta, uma das principais colaboradoras brasileiras sobre o tema que atua também como professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) do IBICT/UFRJ, relata em suas publicações a importância do cientista moldar-se às novas demandas e espaços, substituindo as retrógradas práticas condicionadas à um fazer privado, à um ambiente de circulação da informação livre. Infelizmente, o trajeto científico enfrentado demonstra- se, por partes, relutante e hermético. A priori, o argumento conferido à visibilidade da produção do conhecimento em propor-se como vantajoso elemento para a produtividade com qualidade e complexidade nessa esfera, concorda com grande parte dos cientistas. Entretanto, entende-se que na teoria a ciência aberta é um discurso visualizado como relevante e útil; na prática, porém, observa-se um regime protecionista do bem público

como privado. Em discordância ao passo qual caminha a ciência, esse conflito objetiva diminuir a privatização e/ou mercantilização da educação e do conhecimento, atingindo a maturidade da Ciência cidadã.

A principal funcionalidade da ciência aberta é proporcionar a construção do que já foi resultado de outros cientistas. Dessa maneira, as inovações abertas aceleram e expandem o desenvolvimento aberto (CHAN; OKUNE; SAMBULI, 2015), sendo não apenas limitado ao cientista institucionalizado a possibilidade de alterar o cenário em que vive, como também do próprio cidadão comum dotado da experiência e da inteligência coletiva14. A visibilidade dessa abertura garante à academia estudos em maior qualidade, justamente pela facilidade do acesso; os materiais de outras universidades estão acessíveis e se pode acompanhar como estão acontecendo as produções científicas e acadêmicas em diferentes regiões, “para comparar e contrastar formatos padrão e estilos de escrita do trabalho dos alunos” (AL SALMI, 2014, p. 43). Além disso, as tendências das temáticas podem ser vistas e utilizadas para sugestões de novos estudos

O fazer colaborativo e multidisciplinar, além da garantir melhorias da produção, incentiva-a, pois:

a abertura de resultados da pesquisa financiada aumenta muito o

retorno do investimento em pesquisa, não apenas em termos econômicos, mas também na criação de novas formas de impacto social e político15. Estas podem incluir novas oportunidades de empreendedorismo, de participação de cidadãos em processos políticos e de novas formas de colaboração inclusiva, todas constituindo benefícios potenciais para além dos objetivos originais do financiamento (CHAN; OKUNE; SAMBULI, 2015, p. 95).

Naturalmente, as tecnologias envolvidas na disponibilização desse conteúdo devem aprimorar-se na preservação dos objetos digitais que estão expostos online e sofrem intempéries de ataques cibernéticos, atualizações ou migrações ao longo do tempo. Sem a racionalização consciente do ambiente na qual os documentos são inseridos, torna-se difícil a existência de um canalestável – algo que demanda o trabalho coletivo de uma equipe rica em conhecimentos técnicos em áreas afins (AL SALMI, 2014).

Nos países subdesenvolvidos, do hemisfério sul, as inovações, ocasionadas devido o desenvolvimento aberto são valiosas, tendo em vista que esses países são, com

14 Crowdsourcing. 15 Grifo nosso.

frequência, regiões descuidadas por representantes políticos e por “diversos contextos institucionais”. (CHAN; OKUNE; SAMBULI, 2015, p. 109). Portanto, estabelecendo a ideia commons é possível que cientista e sociedade trabalhem mutuamente, cooperando para um bem social. Quando todos os indivíduos do ambiente social encorajados a participar, “as comunidades locais são empoderadas com maior autonomia e habilidade de criar meios de vida melhores e mais sustentáveis” (CHAN; OKUNE; SAMBULI, 2015, p. 109). E “essas interações, por sua vez, podem gerar novos benefícios sociais em áreas tão diversas como educação, saúde, ciência e inovação, governo e participação de cidadãos e empresas médias e pequenas” (CHAN; OKUNE; SAMBULI, 2015, p. 97).

A ciência cidadã também integra a ciência aberta exercendo a atividade participativa de pessoas comuns para a efetivação de resultados, dados e conhecimento científico. A característica primeira de envolver o público externo, não academicista, no mesmo plano de contribuição dos pesquisadores, ativa na sociedade a importante tarefa do esforço e engajamento público ao tentar, junto com instituições de pesquisas, sanar problemáticas e beneficiar impactos positivos e úteis para fins multidisciplinares em diferentes setores.16

Do mesmo modo, a inovação aberta é uma abordagem da ciência aberta que reforça o valor de um produto ou serviço por meio de práticas abertas. Embora ainda seja um desafio para empresas optar por “quebra de sigilo etc”, a responsabilidade dessa abordagem aberta objetiva gerar:

redução nos custos de pesquisa e desenvolvimento, melhorias na produtividade, envolvimento dos clientes desde o início do processo de desenvolvimento, maior direcionamento para as necessidades do mercado, sinergias entre desenvolvimentos internos e externos, potencial para marketing viral. (FIOCRUZ, online, n.p.).

Suber (2012) cita “barreiras de acesso significativas” (p. 17) propulsoras de restrições aplicáveis a conteúdos científicos e que influenciam na diminuição do impacto

16 Formalmente, registros pioneiros na causa Cidadã integram relacionamento com Christmas Bird Count

(contagem de aves no Natal), em 1900, projeto que com auxílio de colaboradores possibilitou a contagem de aves por meio da observação, e que encorpava em um banco de dados online seus registros (SCHUBERT, 2016). Da mesma maneira que qualquer abordagem de pesquisa, logicamente, são avaliados os métodos e os resultados controlados. Boa parte desses resultados servem para implantação de novas políticas. Outra iniciativa reconhecida é a Galaxy Zoo, apoiado pela NASA, em que pessoas foram encorajadas a apresentar imagens astronômicas, com objetivo de com esse material classificar as galáxias. O número espantoso de mais de 150.000 participantes no projeto só aumentou o diálogo sobre a importância do trabalho voluntário. Coletivamente, com feedbacks, a pesquisa progrediu em um período curto expondo abertamente descobertas inéditas (FIOCRUZ, online; GALAXY ZOO, online).

potencial que uma pesquisa, devido ao avanço tecnológico, sofreria caso estas barreiras não sentenciassem a comunicação científica negativamente. Para ele: o preço e os direitos autorais respondem a impossibilidade de acesso. O direito autoral prejudica tanto autor como usuário, pois em alguns casos a transmissão dos direitos a editores é nocivo para a visibilidade da pesquisa, do autor e instituição (SUBER, 2012).

Para tanto, conteúdos licenciados por meio de licenças abertas emitem disponibilidade sem a ocorrência do sumiço dos direitos sobre o conteúdo. A Creative Commons é uma das mais reconhecidas no contexto.

Os cientistas que enveredam pelo caminho aberto, devem optar por adotar ações tais:

1- Publicar em acesso aberto: publicações, dados, métodos, software; 2- Colocar estes resultados de pesquisa em repositórios - institucionais ou disciplinares - que garantam a sua integridade e preservação; 3- Sempre que possível, usar formatos abertos, software open-source e normas e interfaces abertas; 4- Usar licenças abertas, por ex. CC0 ou CC-BY; 5-Garantir a citação clara e correta de todas as fontes utilizadas; 6- Registar e descrever workflows, equipamentos e infraestruturas utilizadas no processo de pesquisa; 7- Produzir metadados para descrição dos resultados de pesquisa, assegurando a sua replicabilidade; 8- Promover a interoperabilidade; 10- Atribuir licenças e identificadores permanentes para partilha e uso da informação; 11- Verificar que as exigências da entidade de fomento são cumpridas; 12- Assegurar a ligação à sociedade e às empresas, de modo a que todos os que o desejem possam participar do desenvolvimento das pesquisas e delas beneficiar. (FIOCRUZ, online, n.p.).

Figura 7 – Contributos da ciência aberta

O princípio dessas ações faz da ciência um lugar mais democrático e justo. E esta é a responsabilidade da ciência aberta: integrar radicalmente os setores sociais em todos os ciclos cíclicos de interação e produção científica. Tal como é possível observar na

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