• Nenhum resultado encontrado

Em um ambiente fabricado pela produtividade, diante do cenário globalizado e a enorme interferência das tecnologias, as exigências científicas têm sobrecarregado os pesquisadores, fomentando um sistema impiedoso que endossa sequelas em toda cadeia produtiva. A discussão da ética científica, muitas vezes traz um paradoxo inquietante: “o que existe é um tremendo desequilíbrio, contra o progresso ético e moral, a favor do progresso científico e tecnológico” (CANDEIAS, 1999, p. 111).

O “ecossistema científico”, no qual participam, cientistas, cidadãos e entidades é permeado por normas de conduta. As boas práticas adotadas podem amparar a qualidade e a veracidade dos resultados das pesquisas, contribuindo para algo ainda mais grandioso, a notabilidade social, e a proximidade das pessoas comuns às resoluções científicas. O exercício de cada componente desse eco, requer papel indispensável: moral e ética. Apesar de algumas incoerências existentes, fatores condicionantes serão expostos como principais responsáveis pela acrescida e contínua atividade científica operantemente aprisionante.

Embora alguns cientistas estejam cientes do mecanismo ao qual estão condicionados: excessiva publicação, h-index etc; estes continuam a perpetuar o maquinário, ocorrendo de serem chamados “reféns da produtividade” (REGO, 2014). Os indicadores de eficiência dos alunos e professores está contaminado em uma “lógica gerencial-empresarial” onde “o que vale é a produtividade mensurada por números. No Brasil, produção acadêmica se transformou em sinônimo de fazer pontos” (ALCADIPANI, 2011, online, n.p.). Damatta (2014, online) alfineta com certo desânimo a contradição de que:

[...] hoje, graças ao regime imposto ao mundo da pesquisa e do ensino superior, esse publicar é requerido e medido. Dependendo do órgão no qual se publica o texto vale mais ou conta menos pontos para o autor e para o seu departamento independentemente de seu, digamos com a devida vênia, valor intrínseco. [...] Professores e pesquisadores,

entretanto, falam com justo orgulho que publicam em revistas exclusivamente devotadas à ciência nos países que inventaram esse jeito de olhar o mundo, ainda que os seus ensaios sejam às vezes contra esse mundo8. Curioso e pungente é ler um documento contra a acumulação capitalista ser preferencialmente publicado numa revista dos países que inventaram a poluição, o luxo e o lixo. (DAMATTA, 2014, online, n.p.)

8 Grifo nosso.

Os descumprimentos morais e éticos existem muito antes do exercício da iniciação científica de fato, esta questão é socialmente mais inserida em violações menos perceptíveis na academia, até atingirem a integridade científica, como: o “coleguismo” nos trabalhos em grupo, em que se mantém sujeitos agregados à atividade mesmo que eles não tenham contribuído para o resultado final do trabalho; fraudes na assinatura da folha de frequência; da mesma maneira, quando a indicação profissional é realizada mediante o grau de afinidade que se haja com o indivíduo, não levando em consideração a capacitação profissional; e até mesmo, quando um estudo é apresentado em inúmeros eventos (GARCIA; TARGINO, 2008), ou desfragmentado em tantas partes ao modo “salami science” (REINACH, 2013), dando a impressão de produtividade, claramente um índice ilegítimo.

Ao se tratar de produção científica e intelectual, autores e periódicos – editores – possuem responsabilidades cruciais na socialização da ciência. Mas antes que esses vislumbrem seus objetivos individuais, estes precisam analisar suas responsabilidades coletivas. A publicitação da divulgação dos resultados necessita ultrapassar as fronteiras da academia, estabelecendo conexões mais abertas, além do vínculo estritamente cerrado entre cientistas.

Se a comunicação científica é básica àqueles que fazem ciência, a produção da C&T não se dá alheia ao contexto social em que se insere. Como sistema social, a ciência deve ultrapassar as fronteiras da comunidade de usuários mais imediatos rumo ao grande público, sob o risco de se tornar desnecessário e inútil. (GARCIA; TARGINO, 2008, p. 38).

O perigo da propriedade pode oferecer escassez de riquezas científicas e sociais. Quando a pesquisa não está disponível a qualquer indivíduo, esta não pode ser útil para a edificação social de forma colaborativa. Suponha uma revista com poucos assinantes, essa não integra a discussão, pois está selada hermeticamente em benefício individual de um mini-monopólio das indústrias editoriais; nessas circunstâncias os estudos são determinados por aquilo que venda, isso torna a ciência tortuosa e insuficiente. A mediocridade de estudos não relevantes, em uma lógica de mercado, retira a liberdade e autonomia prevista na academia. (SUBER, 2012). A lógica das agências de financiamento públicas é responsável por estabelecer critérios na seleção de estudos, com a avaliação e a “demonstração do impacto social e econômico da pesquisa”, necessitando esta ter

potencial para próximos estudos e introduzir formas de desenvolvimento social positivo. (ALISSON; ZIEGLER, 2019).

4.1 Responsabilidade do autor

Por vezes, a divulgação dos dados de pesquisa sofre forte resistência sobre sua abertura, dificultando as sugestões propostas pela ciência aberta, por causa de “trapaças” científicas. A potencialização da TIC facilitou o acesso às informações, mas também algumas violações, por exemplo, a “facilidade para a falsificação, a adulteração ou a apropriação da criação do outro, além de maior probabilidade de equívocos editoriais” (GARCIA; TARGINO, 2008, p. 35). Porém, da mesma maneira que a internet atua como “colaboradora” nesse processo, ela tem capacidade de identificar essas ações indevidas. É evidente que o cientista se esforça para alcançar visibilidade e credibilidade na comunidade científica, e considerando a mensuração quantitativa ao qual estão subordinados, na menor das oportunidades, estes podem cometer infrações que os favoreçam. Garcia e Targino (2008) apontam casos de notória visibilidade que se destacaram pela circunstância de “fraude e má-conduta” (p. 35). Entre eles é possível identificar forja de publicações, de dados e de citações entre cientistas renomados, do mesmo modo que escândalos de autoria coletiva – tática realizada para aumentar o número de publicações e nutrir o currículo lattes de autores que socializam a autoria de seus trabalhos, embora não tenham contribuído para a realização dele – é prática denunciativa.

Diminuir a regulação proprietária obstrui a impossibilidade de se chegar às fontes informacionais aos quais necessite. Possibilitar o uso, de modo seletivo, a uma parcela, ainda assim é sufocar a comunicação. A amplitude da transmissão desenvolve multiplicação produtiva e distintas (MARTINS, 2011). Do mesmo modo que os outros elementos dessa cadeia, como editores e periódicos, tratem de desenvolverem-se organicamente, em volume de efetiva contribuição, de qualidade do canal de comunicação, primando pelo desempenho das pesquisas durante as avaliações do que fatores de outra ordem (GARCIA; TARGINO, 2008). Isto posto, os rompimentos aqui discutidos representam fatores que contribuem para o inevitável progresso da Ciência.

Documentos relacionados