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8 ANÁLISE DOS RESULTADOS

8.2 Análise qualitativa

Fundamentado no questionamento subjetivo que consistiu investigar a tendência do embargo pelos egressos, possibilitando complementar os pontos de vistas já coletados, as falas analisadas são confrontadas com dados anteriores e categorizadas em ilustrações que visam facilitar o entendimento da explanação.

O quadro a seguir retrata resumidamente o conteúdo dos discursos dos egressos, diversificados entre (1) posterior publicação; (2) orientação de docente; (3) experiência / curiosidade; (4) exposição do estudo; (5) desejo individual / propriedade intelectual; (6) insatisfação com o trabalho; (7) desconhecimento do embargo.

Quadro 3 – Motivações dos egressos ao embargarem suas monografias na BDM

Qual foi a sua intenção ao embargar o conteúdo da sua pesquisa? (perguntas abertas)

Posterior publicação 8 38%

Orientação docente 6 29%

Experiência / Curiosidade 2 9%

Exposição do estudo 2 9%

Desejo individual / propriedade intelectual 1 5%

Insatisfação com o trabalho 1 5%

Desconhecimento do embargo 1 5%

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Para a maioria dos participantes, o embargo se justificaria por causa das intenções futuras com os dados utilizados na pesquisa – posterior publicação36. Alguns egressos citam desejo em publicar artigos, livros, e disponibilizar o trabalho em acesso aberto pode deixá-lo vulgarmente conhecido, o que implica na condição do ineditismo, porém, como já discutido neste estudo, algumas pesquisas demonstraram que editores não tornam a disponibilização um fator implicante no procedimento de publicação, muito embora outrora isso pode ter sido tão severo que se mantém encravado até hoje (AL SALMI, 2014). Além disso, por estar acessível na rede de computadores, a maioria dos discentes creem que o trabalho sofrerá algum prejuízo na publicação de seus trabalhos. Esses dois fatores são determinantes na escolha.

Também foi possível observar que os 8 (oito) egressos que responderam dessa mesma maneira pretendem continuar a carreira acadêmica, citando o envolvimento ou possível iniciação em um mestrado, e que a pesquisa da graduação é ponto de partida para dar continuidade à dissertação. Para outros, o embargo é uma garantia de que algum dia a publicação poderá acontecer, mas não há esforço direto, apenas conveniência indireta.

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Figura 11 – Motivação de 38% dos egressos – posterior publicação – ao embargarem suas monografias na BDM

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

A segunda motivação com maior percentual é a orientação docente37. Outras 6 (seis) pessoas responderam que a recomendação do orientador foi responsável para a utilização do embargo. Alguns dos respondentes sequer sabiam da possibilidade de disponibilizar em acesso aberto seus trabalhos, imaginando que o procedimento padrão é justamente restringir o acesso a pesquisa. Alguns casos necessitam realmente de ações estratégicas que podem explicar isso: o embargo pode proporcionar competitividade das tecnologias, produtos e serviços gerados por Monografias, Dissertações e Teses. Outra ação que pode fazer com que aluno e orientador compactuem com a restrição do acesso é a discrição dos dados de entidades e pessoas entrevistadas.

Teoricamente a ciência aberta é uma manifestação acertada entre orientadores, mas na prática a maioria deles decidem por embargar: “Docente 4 [...] É curioso né? Se os professores não estão concordando em embargar, e como quase 100% embarga?” (MEDEIROS, 2019, p. 104). O orientador faz parte do fluxo de trabalho de depósito da BDM. A verificação do arquivo depositado é feita por ele e consequentemente aprovada ou negada. As sugestões dos orientadores quase sempre concordam com os egressos que querem seguir carreira acadêmica, publicar livro e artigo, o que justificaria o embargo.

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Mas embora pesem as recomendações do orientador, os alunos são quem efetivamente efetuam ou não a prática.

Figura 12 – Motivação de 29% dos egressos – orientação docente – o embargarem suas monografias na BDM

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Da mesma maneira em que muitos alunos desconhecem a possibilidade de optar pelo acesso aberto, outros desconsideram (ou também não compreendem) que se suas intenções são dar visibilidade a um trabalho, o acesso aberto é o meio mais adequado. Ao embargarem, fazem justamente o oposto.

Dois respondentes (9%), estranhamente, responderam que embargar seus trabalhos tinha a ver justamente com a pretensão de dar publicidade, exposição do estudo38. É bem verdade que alguns indivíduos pensam que ao publicar seus trabalhos em revistas destaques, de acesso restrito, contribuirão mais para a comunicação científica, pois entendem que esse cenário é mais propício ao diálogo científico, porém também não se inteiram das possibilidades que seus estudos possuem de cair em um fosso, tornando- se produto infrutífero.

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Figura 13 – Motivação de 9% dos egressos – exposição do estudo – ao embargarem suas monografias na BDM

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Para 9% das respostas, 2 (dois) alunos especificamente, o embargo surge a partir de um despertar curioso associado a uma manifestação de experiência. Algo semelhante a “saber embargar”, “embargar porque alguém embargou” ou “embargar porque é diferente e parece ser importante” – experiência/curiosidade39. Como na grande maioria das vezes bons trabalhos são restritos para eventos futuros, essa associação pode emitir juízo de valor presunçoso para alguns indivíduos, mesmo que a intenção de futura publicação nunca existisse.

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Figura 14 – Motivação de 9% dos egressos – experiência/curiosidade – ao embargarem suas monografias na BDM

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Outro aluno (5%) desconhecia completamente a temática inviabilizando qualquer discussão válida para essas adoções, ou seja, nesse caso sequer houve motivação, houvera apenas o próprio desconhecimento do embargo40 que ele executou. Medeiros (2019) cita, em algumas falas coletadas em entrevistas com alunos, a experiência deles com o conceito embargo:

Discente 1 - vim conhecer essa parte de embargo e acesso aberto no final do curso e, mais especificamente, na sua pesquisa, essas diferenças de acesso aberto e embargo e o que implica. [...] Discente 3 - Sobre o assunto em si e o que significava, não. Eu sabia que existia essa questão de alguns estudos não serem liberados para todo mundo, mas essa palavrinha em específico, não. (MEDEIROS, 2019, p. 89).

Portanto, quando decisões extremamente importantes são tomadas de maneira arbitrária ou indicada é que se entende a importância de tornar tais conceitos notadamente conhecidos do público acadêmico. Assim, estes sempre estarão preparados para tomadas de decisão independentes e genuínas.

Discente 3 - Eu acho que deveria ser revista essas questões, principalmente do embargo, e principalmente isso ser discutido na

faculdade (sic). Porque, até então, eu nunca tinha ouvido falar sobre.

Não é um assunto que seja debatido dentro das grades da disciplina de metodologia da pesquisa, e aí a gente acaba sabendo que isso existe, mas não sabe o porquê e, quando sabe, é muito pouco. Só sabe que não

é disponibilizado e pronto (sic). (MEDEIROS, 2019, p. 100)

Figura 15 – Motivação de 5% dos egressos – desconhecimento do embargo – ao embargarem suas monografias na BDM

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Questões legais que envolvem direito de propriedade intelectual ajudam no processo de restrição da informação. Alguns autores defendem que por tratar-se de documentos desenvolvidos em ambiente público é direito da universidade exigir o acesso desse documento, embora isso possa ser postergado por até 3 (três) anos. Outros entendem que o corpo docente é quem deve ser pressionado quanto a isso, mas o alunado não, pois ele não é pago para realizar suas produções, portanto podem determinar o que fazer com suas pesquisas (MEDEIROS, 2019). Nesse caso, um aluno (5%) respondeu ter realizado o embargo por ter autoridade para decidir com quem disponibilizar seu trabalho. Assim, a motivação parte de desejo individual/propriedade intelectual41.

Talvez a situação mais conflitante no cenário da universidade pública esteja ligada à propriedade intelectual que restringe a publicização dos dados. Porém algumas justificativas para o embargo são questionáveis, pois não apresentam confiança; de qualquer maneira, o embargo para alguns indivíduos pode ser representado como ato de

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superioridade científica e soberba estritamente pessoal. A figura 16 conversa com algumas falas trazidas pela pesquisa de Medeiros (2019) quando discentes foram perguntados se prefeririam disponibilizar o trabalho de conclusão de curso em acesso aberto ou se optariam pelo embargo.

Discente 2 - Não. Eu não embargaria. Foi engraçado que eu estava aqui na biblioteca e eu vi uma pessoa que falava ‘pra’ outra que

embargava porque, se alguém quisesse, teria o mesmo trabalho que ela42. Eu acho que isso não é a favor da ciência, não é a favor da universidade pública, porque a gente não tá aqui só pra se formar, mas também pra contribuir com a ciência, pra trazer inovações, e eu acho que o que é investido na gente, enquanto dinheiro público, deve dar algum retorno pra sociedade. Eu não embargaria por esses dois motivos (MEDEIROS, 2019, p. 108-109).

Por isso, a função social da universidade se perde por meio às atitudes individualistas dos que nela se constituem.

Figura 16 – Motivação de 5% dos egressos – desejo individual/propriedade intelectual – ao embargarem suas monografias na BDM

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

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Outro aluno respondeu estar insatisfeito com o andamento e o resultado da pesquisa, emitindo certo constrangimento e irritação. Portanto, sua opção pelo embargo (5%) resulta de uma insatisfação com o trabalho43.

Algumas vezes a intenção da pesquisa do aluno e a proposta do orientador podem conflitar: questões temáticas e procedimentos formam um conflito de interesses em que não existe um consenso. Essa situação, gera insatisfação do alunado que prefere restringir o acesso à sua pesquisa. Outras vezes, os impasses que sofrera a pesquisa ou o resultado desta pode culminar no desagrado do autor. Além disso, outro ponto debatido sobre optar pelo embargo é a qualidade do trabalho. A obrigatoriedade do acesso aberto incentiva alunos a dedicarem-se com maior esforço, desenvolvendo pesquisas relevantes e de qualidade, pois eles podem não se dedicarem o suficiente visando a restrição legal; nesse caso, o embargo pode ser cúmplice de trabalhos mal elaborados.

Figura 17 – Motivação de 5% dos egressos – insatisfação com o trabalho – ao embargarem suas monografias na BDM

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

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