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Vista do Quando tamanho é documento: um estudo sobre o pênis no aplicativo Grindr na fronteira

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Academic year: 2023

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Quando tamanho é documento: um estudo sobre o pênis no aplicativo Grindr na fronteira

Thiago Benitez de Melo1 Resumo: Performatizar comportamentos efeminados, para um homem, é a negação do direito que ele adquiriu, historicamente, de ser superior à mulher, o que resulta, socialmente, em uma abjeção àquele que possui atitudes não masculinizadas. Dessa forma, o corpo dito “sarado”, representado na figura da barriga tanquinho e dos músculos avantajados, é uma das marcas da virilidade, sendo associado a elementos relacionados à força física e, também, à potência sexual. Mas nada disso se equipara ao membro corporal mais valorizado nas sociedades contemporâneas ocidentais, sobretudo por meio das mídias digitais, o órgão que foi culturalmente tomado como um verdadeiro troféu: o pênis. Dito isto, o objetivo deste trabalho é examinar as performances de gênero e sexualidade construídas pelos discursos nos quais o pênis adquire significado de representação identitária das masculinidades dentro do aplicativo de relacionamentos Grindr, com sua localização ativa em contexto de fronteira, através dos perfis dos usuários desta plataforma e entrevista online. Especificamente, busca-se compreender os processos de subjetivação na construção da heteronormatividade masculina por meio dos papéis de gênero socioculturalmente regulamentados e simbolicamente convencionados.

Palavras-chave: Pênis; Falocentrismo; Grindr, Papéis de Gênero.

When the size is a document: a study on the penis and phalocentrism in the Grindr app on the frontier

1 Doutorando em Sociedade, Cultura e Fronteiras e mestre em Linguagem e Sociedade (UNIOESTE), pós-graduado em Cultura e Literatura e Métodos de Ensino (UTFPR), licenciado em Letras Português/Espanhol (UNIOESTE). E-mail:

Thiago_benitez@hotmail.com

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Abstract: Performing effeminate behaviors, for a man, is the denial of the right that he has historically acquired to be superior to women, which results, socially, in an abjection to those who have non-masculinized attitudes. Thus, the so-called “healed” body, represented in the figure of the six-pack belly and the large muscles, is one of the hallmarks of virility, being associated with elements related to physical strength and also to sexual potency. But none of this is on par with the body member most valued in contemporary Western societies, especially through digital media, the organ that was culturally taken as a true trophy: the penis. That said, the objective of this work is to examine the performances of gender and sexuality constructed by the discourses in which the penis acquires meaning of identity representation of masculinities within the Grindr relationship application, through the profiles of users of this platform and online interviews. Specifically, it seeks to understand the processes of subjectivation in the construction of male heteronormativity through socioculturally regulated and symbolically agreed gender roles.

Keywords: Penis; Phallocentrism; Grindr; Gender Roles.

Introdução

O pênis, no ocidente, é tomado como o principal membro corporal masculino para obter prazer sexual, independentemente de seu tamanho. Por mais que se entenda, atualmente, que os prazeres são oriundos de inúmeras relações voluptuárias e incontáveis construções eróticas – já que os desejos não estão ligados apenas a questões físico-corporais, senão que também às subjetividades de cada sujeito –, o pênis ainda é tomado como a principal zona erógena masculina. Para Bourdieu (2016), existe culturalmente uma lógica falocêntrica na formação das relações entre indivíduos cuja masculinidade vincula-se a atributos fálicos e, simbolicamente, ao próprio pênis, o qual é representado como parte do “corpo socializado” que estabelece vínculos de dominação regidas pela lógica machocêntrica: “a diferença anatômica entre os órgãos sexuais pode assim ser vista como justificativa natural da diferença socialmente construída entre os gêneros”.

(BOURDIEU, 2016, p. 24).

Por esses motivos, o órgão genital (e não o rosto) passa a ser o referencial imagético do indivíduo. Dessa forma, quando alguns usuários do aplicativo se autodenominam “machão”, esta representação do “homem-

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avantajado-ativo” é idealizada baseada em informações que envolvem a figura do pênis: tamanho, espessura, cor, grossura, comparações com objetos etc. As conversas eróticas e sexuais, então, passam a ser construídas e desenvolvidas a partir de um regime fálico, isto é, os discursos que envolvem o prazer sexual e o desejo masculino estão sempre ligados à figura do pênis, como se dele dependesse todo libido e excitação do homem.

O pênis, assim, não se tornou apenas o status quo do homem e sua garantia de superioridade a qualquer outra espécie do planeta, mas passou ao estado de maximum symbol de toda criação que a linguagem foi capaz de nomear. Mais que isso, ele passou do público – como na Grécia Antiga quando foi ligado ao prazer – ao privado – como na Idade Média quando foi ligado ao pecado – e, logo depois, com as atuais tecnologias e os prazeres virtuais, ao público outra vez (PRECIADO, 2014). Quer dizer, as redes virtuais permitiram que cada usuário da web se tornasse um potencial produtor mercadológico, além de possibilitarem a ampliação das dimensões temporais e espaciais de criação de conteúdo, fazendo com que as práticas midiáticas ficassem totalmente imbricadas às práticas cotidianas (MEDEIROS, 2021). A internet, dessa forma, passou a integrar uma sociedade em rede (CASTELLS, 2011), cujas relações, majoritariamente, passaram a ser vivenciadas através de tecnologias virtuais e cada vez menos fisicamente.

Em meio a tantas transformações trazidas pela tecnologia e a internet, uma das mudanças mais radicais ocorrida foi o desmoronamento das fronteiras, isso porque hoje, com a globalização, as fronteiras espaciais físicas estão se dissolvendo por conta das redes (CASTELLS, 2011), as quais se interpenetram nos territórios em escalas locais, nacionais e internacionais, ofuscando os limites territoriais simbólicos antes vistos como intransponíveis (aduanas, rios, muros, cercas etc.).

Dessa forma, o presente trabalho, recorte de pesquisa de doutorado em andamento, busca examinar as performances de gênero e sexualidade construídas pelos discursos nos quais o pênis adquire significado de representação identitária das masculinidades dentro do aplicativo de relacionamentos Grindr em região de fronteira, especificamente na Tríplice Fronteira do Iguaçu (a qual engloba as cidades de Foz do Iguaçu no Brasil, Ciudad del Este no Paraguai e Puerto Iguazú na Argentina).

Especificamente, busca-se compreender os processos de subjetivação na construção da heteronormatividade masculina por meio dos papéis de gênero socioculturalmente regulamentados e simbolicamente convencionados.

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Pelo fato de a pesquisa estar em processo, foram analisados, ainda, aproximadamente 200 perfis do aplicativo Grindr no cenário transfronteiriço em questão, além da manutenção de diálogos online com cerca de 100 usuários deste “app-pegação” (como muitas vezes esses tipos de aplicativos de busca por relacionamentos são chamados). Destes perfis, foram selecionados apenas quatro para o presente artigo, e uma entrevista online com um dos sujeitos entrevistados autodeclarado garoto de programa, o qual vive no Brasil e atravessa a Ponte da Amizade (ponte que divide o Brasil do Paraguai por meio das cidades de Foz de Iguaçu e Ciudad del Este) em busca de clientes do outro lado da fronteira. Os perfis observados oscilavam entre 500 metros e 5 quilômetros de distância da localidade do pesquisador. Todas as conversas e perfis tiveram a autorização dos usuários para serem divulgados; aqueles que não quiseram ter suas imagens e informações expostas, sejam por motivos familiares ou profissionais, não foram aqui apresentados.

1. As construções da masculinidade: a berinjela no Grindr

Abdomes sarados, peitorais musculosos, academias de musculação, sorrisos brancos e simétricos, barbas grandes e grossas, cabelos aparados e alinhados, um verdadeiro “culto ao corpo”, um endeusamento dos músculos, resultado de mecanismos midiáticos que pregam a supervalorização do corpo e sua fortificação (LE BRETON, 2006). A descrição acima pode até parecer uma tela de cinema com um filme hollywoodiano ou uma televisão passando a novela das 21h, mas não, refere- se à tela inicial de um dos aplicativos de relacionamentos mais usados na atualidade: o Grindr.

O Grindr, aplicativo de relacionamentos amorosos e sexuais, foi criado em 2009, nos Estados Unidos, restrito a aparelhos móveis e compatível apenas com tecnologias iOS e Android. Seu direcionamento majoritário é para homens que se relacionam sexoafetivamente com outros homens. São mais de 5 milhões de usuários ativos, os quais permanecem, em média, 54 minutos diários conectados. O sucesso do aplicativo deu-se, principalmente, pela facilidade em que homens que se relacionam com homens, sobretudo homossexuais e bissexuais, encontraram para conhecerem outras pessoas, para diferentes propósitos, seja para amizade, namoro, encontros casuais, “pegação” ou apenas “relação sexual sem compromisso”.

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O aplicativo em questão permite aos seus membros escolher imagens de perfil, codinomes (falsos ou verdadeiros), colocar o peso, altura, porte físico, hobbies, preferências sexuais entre outros. No momento em que o perfil é criado, torna-se possível visualizar 99 membros que também estão ativos para os mais diversos fins. Todos ficam ordenados de acordo com a localização do dono do perfil que está online no momento de entrada no aplicativo, já que tal mecanismo funciona por meio da geolocalização. Um usuário pode saber se o dono do perfil ativo com o qual ele conversa está a poucos passos ou a quilometro de distância.

A maioria das descrições dos perfis analisados do aplicativo estavam escritas língua portuguesa, o que não quer dizer que os usuários em questão, necessariamente, fossem brasileiros ou estivessem no Brasil. Vale ressaltar isso porque existem muitos brasileiros vivendo em Ciudad del Este, no Paraguai, majoritariamente estudantes de medicina (WEBBER, 2018); bem como há muitos argentinos e paraguaios que utilizam o português para criar seus perfis. Por isso, nas entrevistas realizadas, sempre se perguntava ao usuário se ele preferiria manter um diálogo em português ou espanhol.

Ao observarmos os perfis desse aplicativo, uma comunidade virtual de relacionamentos, percebemos a digitalização dos corpos e dos desejos reconfigurados no meio virtual para a busca de relações sexoafetivas. Dentre as inúmeras possibilidades que tais meios virtuais oferecem, um dos principais recursos utilizados pelos usuários é o sigilo, isto é, muitos deles elaboram técnicas e estratégias para não mostrar suas “verdadeiras identidades”, sobretudo o rosto e o nome. Contudo, performatizar comportamentos efeminados, no aplicativo, é uma sentença de morte, pois é o corpo dito “sarado” e todas as performances masculinizadas (BUTLER, 2010), como pelos, músculos, voz grossa etc., que imprimem a marca da virilidade, sendo ela associada a elementos relacionados à força física e, também, à potência sexual. Mas nada disso se equipara ao membro corporal mais valorizado nas sociedades contemporâneas heteronormativas, o órgão que foi socioculturalmente tomado como a medalha masculina: o pênis.

Apesar de ser autorizado mostrar o rosto no aplicativo, mas o pênis não, são poucos os usuários que optam por colocar a foto da face, possivelmente para manter o anonimato (mascarar-se), já que “a face é a visualidade que apresenta os traços pessoais, por meio da qual é possível identificar uma pessoa. A questão é que ainda poucos usuários desejam ser reconhecidos como homens que têm práticas homossexuais” (MEDEIROS, 2021, p. 57). Popularizou-se, por isso, no aplicativo, um símbolo gráfico específico para designar a figura do pênis grande-avantajado no aplicativo: o emoji de berinjela.

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Figura 1: Interface do Grindr (Perfil Grindr Beringela)

Fonte: Print screen do aplicativo no sistema operacional Android.

A figura da berinjela associa-se a uma masculinidade possuidora de uma identidade viril, a qual possui correspondência na imagem construída em torno de seu pênis. A berinjela, ainda que fortemente relacionada à enunciação de um órgão sexual avantajado, também funciona como marcador de uma masculinidade normativa, já que o falo serve como elemento central na formação de uma masculinidade cisheteronormativa, mantendo o binarismo estrutural e essencializado entre o “ativo penetrador másculo” e “passivo penetrado afeminado”. Sendo assim, os perfis acima apresentam uma relação estereotipada entre masculinidade e tamanho do órgão genital, relacionando o corpo masculino aos conceitos de virilidade e masculinidade.

De acordo com Zago (2013), a exposição do pênis nas relações entre homens que se relacionam com homens é imprescindível antes do ato sexual, isso porque as partes íntimas de macho são pré-condição para a existência e reconhecimento do “sujeito-homem”. Assim, ao requisitar que os usuários com os quais o sujeito conversa seja “macho” e tenha pênis grande (por isso a referência da berinjela: grossa, lisa e cumprida), essa representação simbólica do “macho-ativo” reitera a hegemonia cishetoronormativa das masculinidades. O pênis grande, representado pelo emoji de berinjela, é

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associado a uma masculinidade detentora de uma virilidade específica, a qual possui correspondência na imagem construída em torno do pênis avantajado.

Percebemos, também, no perfil de “Solitário 27” as imagens das bandeiras do Paraguai e, ao lado, a do Brasil, o que significa, no aplicativo, que o usuário busca sexo – sinalização esta afirmada por meio do emoji de chama de fogo – com pessoas de ambos os países. Atravessar a fronteira para manter relações sexuais torna-se, neste sentido, um mero detalhe. Isso se dá ao fato de as travessias sexoafetivas, sobretudo homossexoafetivas, presentes em contextos de fluxos migratórios, se tornarem ainda mais intensas na atual era de sociedades em rede (CASTELLS, 2011), formadas por multiterritorialidades e superdiversidade (MATTELART, 2005), (CANCLINI, 2011).

Para Bauman (2001), estamos presenciando o fim do nomadismo, as fronteiras físicas e simbólicas, já tomadas um dia como estáticas e delimitadas, passaram a ser relativas, fluidas, movediças e deslocadas, com o constante e intenso processo globalizatório. Em uma sociedade onde as redes e tecnologias digitais, além de permitirem a quase dissolução dessas fronteiras também forçam a reformulação dos conceitos de espaço e território, notamos novas práticas de sociabilidade, as quais estimulam o surgimento de plataformas virtuais que estão modificando nossos modos de se relacionar, tanto social quanto sexualmente.

2. Falocentrismo e o sagrado masculino

Uma das definições basilares da masculinidade na cultura ocidental para a construção gênero é que o masculino é sempre e totalmente ativo, o introdutor, o dominador (PRECIADO, 2014). O homem másculo precisa ser, por isso, agressivo, bruto, viril, de acordo com o modelo de masculinidade hegemônica em nossa cultura, na qual o ser masculino é representado pelo ser agressivo. Daí, por exemplo, o surgimento da frase

“homens não choram”. As emoções, os sentimentos de ternura, compaixão, sensibilidade e amor deveriam ficar restritos ao gênero feminino; enquanto aos homens caberia o desejo da força, da bravura, da luta e do poder (BUTLER, 2010). Não é à toa que, em muitas sociedades, o conceito de masculinidade sempre teve associado às conquistas de territórios por meio de lutas e guerras.

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Para Bourdieu (2016), existe uma espécie de dominação masculina, a qual ultrapassa uma mera diferença de posição entre homens e mulheres.

Não é somente um lugar de prestígio ou de poder que favorece homens e subjuga mulheres; mais do que isso, é uma forma simbólica de dominação, a qual está inscrita no corpo e no imaginário social, como se fosse parte da ordem natural e universal das coisas. Homens e mulheres são socializados de acordo com esse princípio estrutural e, à medida que atuam conforme as expectativas de seus receptivos papeis sociais de gênero e sexualidade, acabam cristalizando essa diferença. Isso significa dizer que os homens também estão subjugados a uma porção de expectativas de gênero, como o uso da força viril, o papel de provedor do lar, a imposição de atividade e disposição sexual incessantes, a recriminação de qualquer demonstração de afeto, entre outras (BOURDIEU, 2016).

Tornam-se visíveis, nos perfis do Grindr, representações que associam o “homem com H maiúsculo” ao sujeito bruto, viril, voz grossa, corajoso, um típico cowboy estadunidense (ZAGO, 2013), homem rude, astuto, musculoso, forte e solitário (uma tentativa de representá-lo como independente o suficiente para não precisar estar com uma mulher ao seu lado). Mas tudo isso não faria sentido se este sujeito não tivesse, além de todos esses atributos, o pênis grande. Por isso a calça apertada, volumosa entre as pernas, mancando e insinuando a presença de um membro avantajado.

Figura 2: Interface do Grindr (Perfil GP Dot 21cm e Thiago 23cm)

Fonte: Print screen do aplicativo no sistema operacional Android.

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Analisando-se os perfis acima, percebe-se que tanto

“Thiago23cm36” quanto “GP Dot 21cm” optam por enfatizar em seus perfis as medidas exatas de seus membros sexuais. GP Dot 21cm não faz nenhuma questão de escancarar seu peitoral sarado e sua barriga tanquinho para, muito provavelmente, atingir seu objetivo: conseguir clientes para fazer programa. Normalmente, na comunidade gay masculina, a sigla GP é usada no aplicativo como abreviação de “garoto de programa”, profissional do sexo. Já “Dot” é abreviação de “dotado”, um adjetivo que caracteriza na totalidade desses perfis uma pessoa com pênis grande, usualmente em comprimento e perímetro. Em ambos os perfis, os usuários querem chamar a atenção para o fato de possuírem membro peniano avantajado, o que significa que as corporeidades, suas medidas, normas e estéticas sociais instauradas, são fatores tomados como positivos nesses perfis (MEDEIROS, 2021).

Como não é autorizada pelos aplicativos de relacionamentos a exibição de fotos do pênis, é a metragem que cumpre a função de chamar a atenção dos usuários que buscam prazer sexual, ou seja, o tamanho avantajado do pênis aparece nos perfis dos apps como garantia de realização sexual. A masculinidade, assim, é construída ao redor do falo (BUTLER, 2010). Palavras como “dotado”, “grande”, “grosso”, “pauzão”, “cavalo”, cacetudo”, “cacetão”, “pirocudo”, “pirocão”, “picão”, “varão”,

“avantajado”, “caralhão”, “rolona”, “rolão”, “roludo”, entre outras, representam discursivamente o que o Bourdieu (2016) definiu como estratégias linguísticas (e por isso simbólicas) da dominação masculina, as quais legitimam a figura do homem-masculino-heterossexual-penetrador, detentor do falo e poder viril, um falo simbólico. Essa centralidade falocêntrica, em associação ao predomínio dos corpos hiperviris, é o que permite, entre os usuários, o compartilhamento de fotos íntimas proibidas em seus perfis abertos (o que popularmente é chamado de nudes no aplicativo). Por isso, os regimes de controle da sexualidade tendem a exaltar as masculinidades hegemônicas cisheteronormativas por meio de construções identitárias e representações sociais que estigmatizam e invisibilizam o feminino (FOUCAULT, 2002).

Para Bourdieu (2016), não é o falo (ou a falta dele) que é o fundamento da visão de mundo androcêntrica, isto é, tendência de colocar o masculino como sendo o único paradigma de representação coletiva, estando ele acima de todos os outros; mas é a visão de mundo que, estando organizada segundo a divisão em gêneros excludentes, masculino e feminino, pode instituir o falo, constituído simbolicamente no pilar da virilidade, ponto de honra caracteristicamente masculino, instituindo “a diferença entre os

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corpos biológicos em fundamentos objetivos da diferença entre os sexos, no sentido de gênero, construídos como duas essências sociais hierarquizadas”

(BOURDIEU, 2016, p. 43).

Derrida (2006), também discorrendo sobre a criação cultural da hierarquia dos gêneros, superando a conceituação de “falo” desenvolvida teoricamente por Lacan, como significante primordial na organização do complexo de Édipo freudiano, propõe que a noção de falo é própria da ordem masculina, uma manifestação da razão do patriarcado. Por isso, o autor cunha o termo “falogocentrismo”, unindo a noção de logocentrismo (a lógica de uma única verdade universal na tradição ocidental, especificamente o “logos paterno”) com a ideia de falo como objeto privilegiado no corpo, no caso o corpo masculino. Resulta-se, assim, para Derrida (2006), que os discursos ocidentais são entendidos como uma fonte fidedigna de construção do sentido, fazendo com que nada exista fora da linguagem. Portanto, não há nada fora do texto, não há nada nem ninguém que possa fixar o sentido de um texto para além do próprio texto.

Os discursos construídos por Thiago23cm36 e GP Dot 21cm buscam transformá-los em portadores de masculinidades estritamente ligadas à virilidade e à varonilidade, pois partem de uma cadeia de adjetivos que tentam posicioná-los em identidades masculinizadas. Para Green (1999,), na separação bipolarizada dos papéis sexuais (ativo e passivo), a passividade sempre esteve ligada à efeminação:

Enquanto o homem “passivo”, sexualmente penetrado, é estigmatizado, aquele que assume o papel público (e supostamente privado) do homem, que penetra, não o é. Desde que ele mantenha o papel sexual atribuído ao homem

“verdadeiro”, ele pode ter relações sexuais com outros homens sem perder seu status social de homem (GREEN, 1999, p. 28).

A preocupação em autoafirmar-se e autor representar-se, por meio da linguagem, como portador de masculinidades, é uma questão estritamente ligada à virilidade e à heteronormatividade, formando uma rejeição por identidades homossexuais que se aproximem à efeminação, o que Cuche (2002) classificaria como identidades negativas. De acordo com o autor, as identidades negativas são formadas por meio de representações estigmatizadoras e discriminatórias que os sujeitos constroem no discurso.

O sujeito que decide aceitar tal identidade, assumindo-a (isso quando o indivíduo tem a possibilidade de escolha dessa identidade), é tido como

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diferente das referências dominantes e passa a se reconhecer (ou passam a reconhecê-lo) como inferior, infame, ao passo que interioriza a identidade que lhe é imposta pelos outros, passando a ter vergonha e rejeição por ela.

3. Afinal, tamanho sempre foi documento?

Após análise dos perfis do aplicativo na fronteira, parto agora para as discussões relacionadas às entrevistas com um dos usuários do Grindr, o qual aceitou conversar comigo por algumas horas. Ao observar os perfis que inseriam o tamanho do órgão sexual na descrição, selecionei aqueles que utilizava, logo na tela inicial, esse tamanho em destaque (caixa alta, negrito, itálico, com imagens etc.). Decidi, então, abrir uma conversa com o usuário intitulado GP Dot 21cm, o qual em sua descrição dizia ser garoto de programa (GP), e fazer uma entrevista online com ele. O usuário se autodeclarou profissional do sexo e afirmou viver no Brasil e atravessar a Ponte da Amizade pelo menos quatro vezes na semana em busca de clientes do outro lado da fronteira. Perguntei a ele sobre a importância de se colocar no perfil do aplicativo o tamanho do pênis para conseguir clientes:

Thiago: Já te contrataram para sexo do outro lado da fronteira?

GP Dot 21cm: Às vezes eu vou pra lá, pro Paraguai, mas é bem mais comum eles me procurarem e virem pra cá [Brasil]. Às vezes eu chego lá e pode ser fake, muito gasto pra mim ir até lá.

Só pra ir pra lá de mototáxi eu gasto uns quarenta reais.

Thiago: E por que você acha que os paraguaios te procuram?

GP Dot 21cm: Pode falar tudo? [risos]

Thiago: Sim

GP Dot 21cm: Paraguaio tem pinto pequeno. Brasileiro tem mais pegada. Todo mundo fala que paraguaio não sabe transar.

Na real, eles gostam de pauzão, por isso eles me procuram e pagam o que for. Sem falar que muitos caras são casados com mulheres, né? Então imagina. Eles têm que se reservar e não dá muita pinta pelo Paraguai.

Como dito anteriormente, o tamanho do pênis se torna um elemento importante na maioria das buscas afetivo-sexuais de homens que se relacionam com outros homens. Isso é enfatizado por ele ao afirmar que os paraguaios atravessam a fronteira para procurá-lo para sexo, sob a alegação de que eles “têm pinto pequeno” e que “não sabem transar”. Ou seja, criou-

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se a ideia de que um pênis grande sempre resultará em mais prazer para os parceiros sexuais, colocando a ênfase do desejo na penetração, ignorando outras formas de dar e sentir prazer. Homens com pênis pequeno, portanto, são vistos como “menos homens”, “menos viris” e “menos capazes” de dar prazer, o que, muitas vezes, resulta em problemas de autoestima, depressão e ódio ao corpo (PARANHOS, 2019).

Segundo Paranhos (2019),

O “pinto pequeno” figura-se em um exemplo da depreciação masculina, trazendo todo o estigma relacionado ao homem tido como “inferior”, de masculinidade/virilidade questionável, já que o pênis grande se consagrou como a expressão máxima da masculinidade/virilidade ocidental. […]. Na nossa cultura, o pênis está diretamente associado à inscrição de um corpo generificado como masculino, em um domínio totalmente sexuado. O erotismo masculino é centralizado, definitivamente, no pênis, enquanto um instrumento de status, vitória e prestígio. Simbolicamente, o pênis é apresentado nos aplicativos de relacionamento como um objeto de consumo, que necessita ser “penetrante”, “potente”, “forte” e, muitas vezes, em imagens que o apresente enquanto “ereto”, “longo”,

“comprido”, “grosso”, “dotado”, enquanto credenciais necessárias para a correspondência com a masculinidade hegemônica. O pênis, quando ereto, se torna o símbolo central, no qual os atributos da masculinidade convergem, enquanto uma representação simbólica e física da virilidade, do “ser homem”. (PARANHOS, 2019, p. 188).

O tamanho do pênis, assim, acaba por reforçar o estereótipo de que

“tamanho é documento” e, consequentemente, quanto maior seu volume, maior o símbolo de poder. Este órgão instaura-se, então, como elemento de corporeidade relevante nas performances de si, seu comprimento e circunferência servem como base para o status de maior ou menos penetrador. São as medidas penianas que constroem o imaginário popular de força e virilidade masculina e, por isso, é quase unânime, nos perfis dos aplicativos de relacionamentos, a requisição e a exposição de medidas penianas superiores a 18 centímetros. Como não são permitidas fotos que mostrem partes íntimas, a metragem de tal membro serve como parâmetro de hierarquia da masculinidade. Para Master e Johnson (1984), cristalizou-se

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a ideia de que quanto maior é o pênis mais eficiente é o homem em uma conexão coital.

Entretanto, devemos lembrar que nem sempre o tamanho avantajado do pênis foi sinônimo de masculinidade, virilidade e força. Basta analisamos as esculturas greco-romanas para percebermos que, por mais que os gregos antigos fetichizassem o corpo masculino em esculturas que representam homens cheios de músculos (por isso, quase sempre a representação do corpo nu), o pênis, quando não coberto por panos, era sempre esculpido de forma pequena em comparação à média da humanidade, dando a impressão de que seu tamanho não correspondia simetricamente com os corpos maciços de personalidades míticas fortes (heróis, deuses e semideuses) que eles representam.

Figura 3: Esculturas masculinas

Fonte: Google Imagens. (Hércules Farnésio, IV a. C. – autor desconhecido; Laocoonte, 68 a. C. – Agesandro, Atenodoro e Polidoro; Davi, 1504 – Michelangelo Buonarroti).

De acordo com Chrystal (2016), na arte clássica da Antiga Grécia, retomada depois pelos renascentistas europeus do século XVI, as características corporais de um grande homem eram representadas como amplas, firmes e musculares, porém os pênis dos ilustres homens eram representados como minúsculos, isso porque a beleza estética do órgão masculino estava ligada à inteligência, ou seja, os gregos viam os pênis pequenos como um sinal de sabedoria, modéstia, racionalidade e

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autocontrole. Os pênis grandes, pelo contrário, simbolizavam homens tolos, frequentemente associados a características animalescas, seres bárbaros, brutos, irracionais e grotescos. Homens com pênis avantajado, então, eram associados a animais que prezavam pela libertinagem e a obscenidade ao invés da inteligência, por isso, nas comédias teatrais, os homens idiotas tinham sempre membros gigantes, pois isso era um “sinal da estupidez, mais uma besta do que um homem” (CHRYSTAL, 2016, p. 147).

Portanto, “os grandes pênis eram vulgares e fora da norma cultural, algo exibido pelos bárbaros do mundo” (CHRYSTAL, 2016, p. 147). Os gregos denominados luxuriosos e depravados eram descritos com órgãos genitais grandes e eretos (isto é, já em posição para o ato sexual, o que os desassociavam do ato de pensar), às vezes quase tão grandes quanto seus torsos; tanto que, na mitologia clássica, esses “homens com grande pênis”

eram associados a criaturas bárbaras, parte homem, parte-animal, e isso era uma característica menosprezada, digna de ofensa, pela alta sociedade da Grécia Antiga.

Algumas considerações

A facilidade e a normalização da ação de atravessar as fronteiras geográficas/físicas em busca de relacionamentos afetivos ou apenas sexo casual intensificou-se com o processo de globalização do final do século XX, fazendo com que limites antes vistos como instransponíveis passassem e ser repensados, possivelmente porque as fronteiras rígidas, estabelecidas pelos Estados modernos, se tornaram porosas, fluídas (BAUMAN, 2001). Poucas fronteiras, na contemporaneidade, podem ser descritas como unidades estáveis, com demarcação e limites precisos baseados na ocupação de um território delimitado (CANCLINI, 2011). É fato que “em todas as fronteiras há arames rígidos e arames caídos. As ações exemplares, os subterfúgios culturais, os ritos são maneiras de transpor os limites por onde é possível”

(CANCLINI, 2011, p. 349). As redes sociais, potencializadas pela internet, aceleraram essa evaporação relativa das fronteiras físicas, sobretudo porque as atuais sociedades em rede tendem a transformar o tempo-espaço em condições indissociáveis, transformando até mesmo o mais banal dos prazeres em mercadoria, ou seja, “tempo (e lugar) é dinheiro”. E dentre os prazeres mais desejados, vendidos, cobiçados, apreciados, exaltados e comercializados está o falo, não apenas o pênis como membro sexual, mas o signo/objeto como representação de poder e símbolo de prazer.

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O tamanho do órgão sexual masculino, tanto no estado flácido quanto no ereto, tem sido considerado como capaz de refletir a bravura sexual do indivíduo masculino” (MASTER e JOHNSON, 1984, p. 158). Isto é, há uma forte associação entre o falo e a representação identitária da masculinidade. Esta, por sua vez, não existe sem contrastar com

“feminilidade”, já que a primeira é carregada de clichês de virilidade e sempre tida como oposta ao feminino, ou seja, tudo que não é masculino é “coisa de mulherzinha” e tudo que é feminino “não é coisa de macho” (CONNELL, 1995).

Esse modelo hegemônico de masculinidade falocêntrica é tão dominante que se acredita que essas características e condutas sejam

“naturais”, biológicas do ser humano. Contudo, não há como imaginarmos uma única masculinidade, essencializada e coesa, pois elas são múltiplas, as diversas masculinidades existentes são configurações de “prática em torno da posição dos homens na estrutura das relações de gênero, existindo mais de uma configuração desse tipo em qualquer ordem de gênero de uma sociedade” (CONNELL, 1995, p. 68).

Assim, as representações construídas em cima do emoji de berinjela, as imagens de um corpo escultural, forte e musculoso, a descrição do tamanho do pênis, entre outras performances identitárias das masculinidades, são reproduções de uma dominação simbólica, perpetuando os sentidos da virilidade e da heteronormatividade hegemônica por meio da exaltação fálica. Tais características e representações são cada vez mais visíveis nas mídias digitais, capas de revista (principalmente aquelas com assuntos sobre saúde, alimentação e exercícios físicos), outdoor de roupas masculinas (sobretudo íntimas) e, também, em aplicativos de pegação. Por mais que esses enunciativos masculinistas pareçam se ligar apenas à heteronormatividade, vemos em muitas comunidades gays, ou de homens que se relacionam sexualmente com outros homens, a reiteração e cristalização de discursos de hegemonia masculina, sejam por palavras verbais ou não-verbais, assim como nos perfis do Grindr.

Além das imagens e dos discursos aqui analisados, muitos outros perfis do Grindr nos trazem as seguintes descrições: “macho”, “malhado”.

“dotado”, “pirocudo”, “pauzão”, “pintão” etc. Observamos, nesses discursos auto representativos, a busca pela exaltação do pênis e a glorificação da sua sobrepujança por meio da (re)afirmação da masculinidade hegemônica, sobretudo da heteronormatividade. O tamanho do órgão sexual masculino, então, torna-se uma espécie de passaporte dos usuários dos aplicativos de relacionamentos, como o Grindr, onde aqueles homens que

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não têm o pênis avantajado – leia-se acima de 18 centímetros – não são autorizados a entrar na Casa da Sagrada Masculinidade.

Referências

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