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Conhecimento no talhe: uma reflexão

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES. CONHECIMENTO NO TALHE Sub-título Uma reflexão.. Alexandre Miguel Homem Ramalho Piçarra. Dissertação Mestrado em Escultura Especialização em Estudos de Escultura. Dissertação orientada pelo Prof. Doutor João Castro Silva 2019.

(2) DECLARAÇÃO DE AUTORIA Eu Alexandre Miguel Homem Ramalho Piçarra, declaro que a presente dissertação / trabalho de projeto de mestrado intitulada “Conhecimento no Talhe, uma reflexão”, é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal como todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho segundo as normas académicas.. O Candidato. Lisboa, 28-10-2019.

(3) RESUMO O que é esculpir, e por sua vez o que é escultura? Que complexidade estão envolvidas numa atividade supostamente exclusivamente prática? São perguntas de difícil resposta, mas existem determinados enquadramentos que podem ser compreendidos e investigados como referentes a estas questões. Esta dissertação representa um enquadramento e tenta proporciona algumas respostas e perspetivas daquilo que pode ser referido como esculpir a partir da sua referência ontológica, o talhe. O que esta dissertação procura proporcionar, a partir de fundamentos científicos, é um entendimento do fazer escultura/talhe como um modo de pensar. Assim, a partir da neurociência e as ciências cognitivas, de fundamentos teóricos como a Ética a Nicómaco de Aristóteles e a Teoria do Rizoma de Felix Guattari e Gilles Deleuze, estruturam-se eixos em que a prática do esculpir se constitui como um ato que intervém em todas as áreas do pensar e do fazer. Esta dissertação propõe a abertura e desenvolvimento de uma linha de investigação que surge e é intrínseca ao talhe e ao esculpir. Reflete ainda um entendimento da própria linha de investigação como consequência do ato de esculpir.. Palavras-Chave: Talhe, conhecimento, prática, teoria, escultura..

(4) ABSTRACT What is sculpting, and in turn what is sculpture? What complexity is involved in a supposedly exclusively practical activity? These are difficult questions to answer, but there are certain frameworks that can be understood and investigated as referring to these questions. This dissertation represents a framework and tries to provide some answers and perspectives of what can be referred to as sculpting from its ontological reference, to carve. What this dissertation seeks to provide, from scientific foundations, is an understanding of sculpting/to carve as a way of thinking. Thus, based on neuroscience and cognitive sciences, on theoretical foundations such as Aristotle's Nicómaco Éthic and Felix Guattari and Gilles Deleuze's Theory of Rhizome, axes are structured in which the practice of sculpting is constituted as an act that intervenes in all areas of thinking and doing. This dissertation proposes the opening and development of a line of research that emerges and is intrinsic to carving and sculpting. It also reflects an understanding of the line of investigation itself as a consequence of the act of sculpting.. Keywords: Carving, knowledge, practice, theory, sculpture..

(5) AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Prof. Doutor João Castro Silva pela dedicação, disponibilidade e atenção perante as minhas inquietações. Aos professores da faculdade de belas-artes da universidade de Lisboa com os quais me cruzei ao longo do meu percurso académico. Ao meu pai, à Maria João Boaventura, irmãos e avó, família, por acreditarem em mim e pelo apoio incondicional que me prestaram a todos os níveis. Ao Escultor António José Loureiro Teixeira pela grande amizade com que sempre me acompanhou..

(6) ÍNDICE INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1 O TALHE ......................................................................................................................... 3 O TALHE EM MADEIRA E PEDRA ............................................................................. 5 Ação de esculpir ................................................................................................. 11 Aferente-somatossensorial, eferente-motor ........................................................ 16 A habilidade técnica/motora/performativa ......................................................... 20 Intenção .............................................................................................................. 22 Hábitos ................................................................................................................ 25 A ÉTICA A NICÓMACO DE ARISTÓTELES ............................................................ 28 COGNIÇÃO, E AS CIÊNCIAS COGNITIVAS ........................................................... 39 Computação da mente, processos cognitivos de aprendizagem. ........................ 42 Cognição incorporada ......................................................................................... 45 ESCULPIR E A TEORIA DO RIZOMA ...................................................................... 49 A teoria ............................................................................................................... 52 Os seis princípios da Teoria do Rizoma. ............................................................ 54 Conexão e heterogeneidade ................................................................................ 54 Multiplicidades ................................................................................................... 57 Rotura ................................................................................................................. 62 Decalcomania e Cartografia ............................................................................... 67 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 72 BIBLOGRAFIA ............................................................................................................. 75.

(7) INTRODUÇÃO Esculpir e Escultura, pode remeter a dois espectros de compreensão diferentes: Esculpir pode ser visto como uma prática de conteúdo performativo, com uma estrutura lógica de propósito subtrativo, que é desenvolvido e evoluído em paralelo com o seu praticante, isto porque praticar o ato de esculpir, implica ser o ato de esculpir. Ser o ato de esculpir é compreender, incorporar o que compõe o ato de esculpir, agir como esculpo. "we are what we repeatedly do”1 Escultura remete a um resultado ou a uma área de compreensão coletivamente partilhada a partir de objetos tridimensionais2, uma escultura pode ser vista como uma extração volumétrica de conteúdo interpretativo, que possibilita um condicionamento e criação de propósitos contemplativos, ideias, estruturas intuitivas e racionais na forma tridimensional. Só um escultor consegue ver o mundo do escultor na escultura, o observador que não é escultor não compreende referências de capacidade técnica intrínsecas na criação e desenvolvimento de uma escultura, que estão além do ato mecânico de desbastar matéria, o observador separa a escultura do escultor, mas o escultor jamais conseguirá separar o esculpir da escultura. A escultura é um corpo que reflete pensamentos e ideias, esculpir é a capacidade criar volumes representantes de pensamento e ideias. A investigação a desenvolver na presente dissertação procura refletir a perspetiva do escultor e da ação de esculpir. A técnica no esculpir, da perspetiva do escultor, está associada ao esforço físico e mental que o escultor tem que fazer para materializar as suas ideias, reduzir esse esforço vai para além do que se referencia como o ato de esculpir, esculpir na sua plenitude implica tudo ao que se pode referenciar ao mesmo.. 1. DURANT ,Will, The Story of Philosophy: the Lives and Opinions of the World's Greatest Philosophers (1926). [2019-10-16]. Disponível em https: www.universalethics.org/Ideas/Virtue_as_a_habit.htm 2 ROGERS,Leonard [2019-10-16]. Disponível em https://www.britannica.com/art/sculpture. 1.

(8) Para o desenvolvimento de uma técnica é necessário o escultor reivindicar um espaço a um volume, no esculpir este espaço refere-se ao espaço que cada pedaço de um bloco de matéria a ser esculpida ocupa, o escultor necessita determinar o valor e investimento que esse espaço requer em termos de esforço. Sem uma técnica estipulada o escultor não tem uma base de aplicação homogénea, uma regra que sirva como um meio de comparação entre as diferentes composições em que o escultor pode intervir. Uma técnica fixa, homogenia, referencia a heterogeneidade de uma composição em relação a outras composições, permite determinar a linguagem de uma matéria, devido á sua heterogeneidade específica. Na elaboração de uma escultura, diferentes ferramentas podem ser utilizadas para chegar a um resultado mais rapidamente, mas se o propósito criativo do escultor é estruturar uma referência de mudança interior que desenvolva uma mudança exterior, a técnica deve ser a mais homogénea possível, para poder fazer corresponder todas as suas estruturas racionais ao mesmo valor. Quanto mais heterogénea for a técnica aplicada, maior é a divergência de referências processuais para remeter ao mesmo volume extraído. O escultor que tenha como propósito procurar encontrar um equilíbrio entre o pensar e o fazer, também deve desenvolver um parâmetro técnico que represente um equilíbrio entre o fazer e a matéria, sobre a qual pode estruturar uma construção consciente das questões e respostas compositivas/formais que a matéria proporciona, esculpir como um pensamento, é pensar sobre o desconhecido, subtrair é descobrir.. 2.

(9) O TALHE Esculpir é originalmente denominado como talhar3, como técnica de excelência da escultura é utilizado o talhe, a ação de talhar em escultura cinge-se a um prisma de intervenção subtrativa sobre pedra, madeira ou outras matérias. O termo talhar, diz respeito ao ato de cortar, dando uma certa forma, um contorno4, criar algo a partir do processo de cortar, um resultado que surge de uma intervenção. O talhe como a técnica do esculpir, será a técnica referenciada ao longo da dissertação, a partir da qual serão estruturados argumentos, e exemplos para compreender o conhecimento que existe no ato de esculpir. Um pensamento estruturado a partir do esculpir será um pensamento estruturado a partir do ato subtrativo do talhar. Em escultura o talhe é um ato subtrativo que elabora relações entre quantidades, uma subtração entre unidades envolve uma quantidade que é retirada de outra, uma quantidade pode remeter a um valor, a ideia de valor é subjetiva a cada um, o que pode fazer falta a alguém pode ser um excesso para outra pessoa, no talhar um pedaço de matéria dá-se a mesma ideia de relação entre a matéria e o escultor, diferentes matérias refletem diferentes medidas de valor. A nível superficial, um valor que a matéria “discute” com um escultor, que aplica as suas intenções sobre ela, está no espaço ocupado pelo volume de matéria, por vezes uma parte mais dura de um pedaço de matéria tem de ser desbastada com o dobro da intensidade ainda que o volume ocupado por esses dois espaços desbastados seja idêntico. O refletir o espaço ocupado por uma matéria como um valor, proporciona compreender de que a partir da relação do escultor com diferentes matérias, é desenvolvida uma relação com diferentes valores. Ao dialogar com diferentes matérias, o escultor que. Origin Late Middle English from Latin sculptura, from sculpere ‘carve’. [2019-10-16]. Disponível em https://www.lexico.com/en/definition/sculpture 4 "TALHE", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, [2019-10-16]. Disponível em https://dicionario.priberam.org/talhe 3. 3.

(10) transfere a sua técnica para diferentes espaços ocupados por matérias com diferentes composições aprende valores diferentes5. Um valor de que o escultor usufrui ao realizar uma escultura é evidente em termos monetários quando uma escultura é vendida, entre outros que remetem a uma validação social, histórica, cultural, em termos estéticos ou como meio de contemplação. Mas o valor trocado/dialogado entre a matéria e o escultor, um valor que se reflete em poder de intervenção, a partir da troca de energia e da estrutura racional do escultor em relação á estrutura compositiva da matéria, como o interferir na composição da matéria, a matéria interfere na composição do escultor, no que o escultor pretende interferir em termos da sua composição racional e circunstancial, que faz parte de um mundo privado. O que tem a ganhar o escultor que se propõe a transformar um pedaço de matéria com o seu conteúdo de pensamento, os seus sentimentos, as suas intenções, o esforço e desgaste do seu corpo, e o próprio tempo. De que forma se relaciona o esculpir com um mundo interior próprio do escultor, como o esculpir alimenta e dá vida a esse mundo e que por sua vez é alimentado por ele. Um escultor que atinge o domínio de uma técnica sobre uma matéria, tem a possibilidade de expandir a técnica para outras matérias, e relacionar o seu poder de intervenção entre diferentes matérias. Uma técnica única está para o esculpir, assim como um individuo está para as suas circunstâncias, o individuo é o eixo de referência de interpretação da sua própria perçepção. Quanto mais desenvolvida é uma técnica mais esta passa a corresponder à matriz do comportamento do escultor, em termos de interpretação das circunstâncias por parte do escultor. Que conhecimento implica e contém o ato de esculpir, o que é que esculpir implica no corpo humano do escultor, e no escultor ser humano, e como essa realidade do esculpir abrange a realidade em que o escultor se insere, tanto a nível da sua relação com o seu mundo interior, como a nível da sua relação com o mundo exterior.. 5. ROGERS,Leonard [2019-10-16]. Disponível em https://www.britannica.com/art/sculpture. 4.

(11) O TALHE EM MADEIRA E PEDRA O talhe em madeira. Talha-se madeira por corte. Por vezes após o primeiro talhe surge o cheiro aromático da madeira que irá acompanhar o processo da escultura até ao fim. A madeira absorve a energia da pancada e prende a goiva se o escultor não tiver preestabelecido essa possibilidade. De modo a evitar a absorção da goiva por parte da madeira, tem que haver uma libertação da força da mão e do braço para não aprofundar o talhe além do ponto de retorno sem resistência, ou uma perícia técnica que permita a que a goiva entre e saia da madeira num único esforço. Quando a goiva entra na madeira são cortadas várias camadas de densidade diferentes da madeira (os anéis de crescimento de uma árvore). A força necessária para a goiva atravessar essas diversas camadas que comprimem a goiva ao aproximar-se do núcleo do tronco, sujeita o escultor inexperiente a ter que aplicar um esforço tremendo para tirar a goiva de um centímetro de madeira depois de ter atravessado três centímetros sem grande esforço. A madeira direciona a goiva consoante os veios, trabalhar madeira requer uma ponderação do ângulo de inserção da goiva, a direção dos veios e a sua densidade. A madeira trabalhada por talhe só permite que seja retirado um pedaço de cada vez, por vezes se a madeira tiver uma direção com veios não lineares, como a raiz, a goiva entra de forma rotativa, obrigando a que o nível de camadas a ser talhado seja bastante inferior ao que seria possível se os veios fossem contínuos como os do pinho. Por vezes mesmo respeitando a direção dos veios de um tronco de madeira, esta tem um comportamento imprevisível, existem madeiras especificas em que se não for préestabelecido um limite para a quantidade de madeira a retirar a partir do talhe, com um corte prévio perpendicular ao núcleo do tronco e dos veios à frente do segmento a ser talhado, o talhe poderá levantar o segmento de madeira até ao fim do tronco. Por vezes aparecem nós no meio do tronco que podem ser tão duros que no seu desbaste a madeira se fragmenta à escala de areia, ao ponto de deformar o fio da goiva e se não 5.

(12) forem tratados com a atenção e sensibilidade devida, a força do talhe sobre um nó pode arrancar um bocado do tronco imprevisto com ele. Ao fim de algum tempo a trabalhar madeira o maço parece que se funde com a mão e após acabar de esculpir é preciso utilizar a outra mão para abrir os dedos presos à forma do cabo do maço. O talhe em pedra. A pedra, é trabalhada por corte perfuração e raspagem, cada pancada do ponteiro aplicado sobre a pedra é uma rejeição, cada incisão do ponteiro tem um limite de profundidade a que se consegue chegar com um máximo de força, depois de passado esse ponto ou a ferramenta ou o bloco de pedra parte. Por cada pancada a distância de pedra percorrida pela ponta do ponteiro é extremamente limitada refletindo por norma uma nuvem de fragmentos constante, o que remete a uma troca de valor de espaço em termos de energia bastante diferente da madeira, a pedra não absorve a energia ao contrario da madeira, a energia de cada pancada entra pelos ossos do corpo do escultor e pelo suporte da pedra até se dissipar, se os dentes estiverem serrados, vibram assim como tudo o que for rígido ligado à pedra, o que estipula um ritmo de perseverança e autocontrole perante a energia apicada, é necessário um respeito à pedra incontornável. “Percorrendo circularmente aquele trabalho, sentimos perturbação, angústia, sofrimento, mas também, por vezes, alguma tranquilidade dada pela força da repetição.”6 A pedra tem uma estrutura interna constituída por um composto de estratos que se fundem num bloco praticamente homogéneo7, essa estrutura permite que a partir de uma triangulação de pancadas possa ser retirado um pedaço de pedra, com uma precisão limitada, sem que a ferramenta tenha que percorrer todo o espaço de um pedaço retirado, a pedra tem uma direção que deve ser respeitada e pode ser sentida, se a direção dos estratos da pedra não for respeitada, a energia de uma pancada mal direcionada pode ir. 6. PERIENES, Luísa O Fragmento na Escultura Portuguesa no Séc. XX pag 154. 6.

(13) parar a uma parte mais frágil que contenha a uma divergência de estratos, de modo a que a pedra não seja completamente homogénea, e abrir a escultura ao meio sem que nada evidente o previsse. O pó de pedra invade o espaço a sua volta e pode danificar os olhos e os pulmões. A pedra na sua relação densidade/volume é bastante alta comparada com a madeira, é pesada e dificilmente manobrável, o que condiciona o desenvolvimento de cada vista na posição em que está, a pedra expulsa o ponteiro da sua superfície, cada pancada é rejeitada continuamente, o barulho que provoca pode ser alto ao ponto que se a pedra estiver a ser trabalhada num espaço fechado, os ouvidos podem ficar a vibrar se não forem protegidos. Tanto no esculpir a pedra ou madeira é essencial um ritmo, uma matriz de esforço contínuo que tem em conta as respostas e possibilidades da matéria, um ritmo que permite ao escultor respeitar o tempo que vai dedicar à matéria e estruturar todos os fatores que pode condicionar dentro desse ritmo. Qualquer erro pode significar um ponto sem retorno, a estrutura interna original da madeira e da pedra é algo que só a natureza consegue desenvolver e “reestruturar”, trabalhar estas matérias requer uma projeção assertiva por de trás da intenção de cada talhe, lidar com a ideia de um erro sem retorno implica uma atitude prática igualmente assertiva, esculpir desenvolve um hábito de respeito, compreensão, projeção, objetividade e sensibilidade perante a matéria ou qualquer estrutura que possa ser igualmente sujeita a uma intervenção. Compreender o que abrange o universo do esculpir está para além de um simples referente prático ou teórico8, estas duas formas de aprendizagem, a prática e a teórica, servem de suporte para a assimilação de conhecimento, a aprendizagem prática envolve uma experiência de ação, do fazer, em correspondência com o mundo físico, a aprendizagem teórica, o projetar mentalmente, compreender, significar, desenvolve-se através da razão argumentativa e informativa.. 8. Journal of Knowledge Management, 2009 [2019-10-16]. Disponível em https://www.academia.edu/8618983/What_is_practical_knowledge. 7.

(14) FORMAS DE APRENDIZAGEM, TIPOS DE CONHECIMENTO. Existem diferentes tipos de conhecimento, que sustentam a aprendizagem do ser humano. O conhecimento está dividido em cinco categorias principais9: conhecimento explícito e implícito, conhecimento tácito conhecimento declarativo e conhecimento processual.. FIG.110. O conhecimento explícito surge como contraste ao conhecimento tácito e, ao mesmo tempo como complementar às outras formas de conhecimento. O conhecimento explícito é denominador da informação que pode ser facilmente partilhada e codificada por diferentes tipos de média, tal como vídeo, livros, histórias etc., é um tipo de conhecimento que existe na camada exterior da partilha e aquisição de informação.. 9. NICKOLS, F. W. (2000). The knowledge in knowledge management. In Cortada, J.W. & Woods, J.A. (Eds) The knowledge management yearbook 2000-2001 (pp. 12-21). Boston, MA: Butterworth-Heinemann. [2019-10-16]. Disponível em https://www.nickols.us/Knowledge_in_KM.htm 10 ibidem 8.

(15) O conhecimento tácito surge como representante de uma estrutura que descreve o desenvolvimento do conhecimento implícito, o conhecimento tácito corresponde ao conhecimento implícito que não pode ser transmitido na sua totalidade através da articulação verbal ou por meios de informação como o conhecimento explícito.11 "we can know more than we can tell."12 Parte do conhecimento tácito pode ser descodificado em conhecimento explícito, mas na sua totalidade só pode transmissível a partir de contextos de experiência referenciados comunitariamente como estruturadores do saber implícito.13 O conflito entre o saber como fundamento do fazer, cessa de existir se for compreendido que o fazer e saber fazer, não se cinge a uma ação motora, mas sim à aplicação e apreensão de uma estrutura lógica. Estrutura essa que desenvolve conhecimento implícito através do fazer e que, por sua vez, poderá servir para sustentar por sua vez o desenvolvimento de uma ação justificada a partir de um fundamento teórico.. O conhecimento declarativo é essencial para estabelecer o conhecimento procedimental.. O conhecimento declarativo refere-se a informação factual, como a informação que alguém partilha ao falar sobre escultura ou uma dissertação sobre uma investigação referente a uma prática. É uma forma de conhecimento que se refere a um conteúdo de informação que estabelece o que se refere à cultura geral14. “the primary exercise of minds consists in finding the answers to questions and that their other occupations are merely applications of considered truths”15. 11. POLANYI, Michael (1966), The Tacit Dimension, University of Chicago Press: Chicago, 4. ibidem 13 WENGER, E. (1998). Communities of practice: Learning, meaning, and identity. New York, NY, US: Cambridge University Press. 14 FANTL, Jeremy, "Knowledge How" [2019-10-16]. Disponível em https://plato.stanford.edu/entries/knowledge-how/#ProDecKnob https://nathanworks.com/knowledgetypes/ 15 RYLE,Gilber. The Concept of Mind1949 capitulo ii 12. 9.

(16) O conhecimento processual ou procedimental também denominado como “o saber fazer” reflete uma prática que não é meramente uma aplicação de conhecimento declarativo, mas sim uma manifestação de um estado não proposicional. O conhecimento procedimental é adquirido através de um procedimento, até se formar como conhecimento implícito16, que pode ou não ser expresso em conhecimento declarativo. Existem múltiplas atividades que se desenvolvem no fazer, que não requerem uma lógica previamente estabelecida como essencial ao seu desenvolvimento, o conhecimento teórico, declarativo, permite avançar etapas de compreensão e dinamizar uma aprendizagem, é possível aprender a esculpir a partir da prática, sem compreender que músculos do corpo ou estruturas de processo lógico estão implicadas no esculpir. O fundamento de um trabalho teórico como a presente dissertação faculta parâmetros de desenvolvimento que complementam a prática do esculpir assim como proposições significantes da prática do esculpir, é possível a partir do conhecimento procedimental que um escultor sem conhecimento teórico prévio chegue aos mesmos parâmetros de compreensão que proporcionam as constatações descritas na presente dissertação. O conhecimento procedimental está presente no esculpir, como no aprender a falar ou andar, é possível afirmar que um escultor sabe esculpir ainda que não saiba o que implica saber esculpir, o saber fazer acarreta várias etapas de aprendizagem até se tornar uma ação de procedimento implícito que reflete um padrão, um hábito.. 16. ibidem. 10.

(17) Ação de esculpir “O próprio pensamento só por si, não põe nada em movimento: apenas quando se dirige para um determinado fim numa determinada ação.”17 Esculpir em ação corresponde a uma intervenção sobre uma matéria, a matéria é um componente que é possível decompor até a uma unidade de referente conceptual, isto é, a matéria sobre a qual um escultor pode intervir está na denominação de uma estrutura compositiva, esculpir é intervir sobre as regras de uma estrutura compositiva. A ação de esculpir exercida conscientemente por um ser humano, está sujeita a uma linha de controle. Essa linha de controle utiliza o sistema nervoso como interligação do pensamento a uma correspondência de movimento muscular, faz a correspondência entre o cérebro e os músculos18 que propiciam o controlo de funcionalidades motoras. A simplicidade intuitiva com que o ser humano utiliza o corpo para expressar pensamentos na forma de ações não deixa transparecer o nível extremo de complexidade inerente a um movimento19. Os movimentos do corpo humano correspondentes à ativação e coordenação dos músculos são referidos como funções motoras20, essas funções motoras contêm áreas de maioria delimitadas no cérebro, como áreas de origem na aplicação de uma intenção. A partir das áreas que refletem intenções musculares especificas é transmitida informação, através de estruturas nervosas até aos locais exatos das funções motoras pretendidas. Uma ação motora, tem diferentes componentes estruturais a ter em conta quando acontece, o corpo humano tem limitações compositivas e estruturais. O corpo de um ser humano corresponde a uma matriz biológica, composta por cabeça, tronco e membros,. 17 18. ARISTOTELES, Etica a Nicomato 1139b1 CHUDLER [2019-10-16]. Disponível em https://faculty.washington.edu/chudler/organ.html. 19. TE H. Dai · Jing Z. Liu · Vinod Sahgal,Robert W. Brown, Guang H. Yue [2019-10-16]. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/11672264_Relationship_between_muscle_output_an d_functional_MRI-measured_brain_activation. 20. ibidem. 11.

(18) essa matriz é estabelecida desde o estado embrionário até a sua morte (salvo casos de amputação ou mutações de cariz subtrativo). Todas as ações efetuadas por um ser humano estão delimitadas às configurações da sua estrutura biológica, o poder criativo com que o ser humano aplica intenções sujeitas à sua matriz embrionária advém da plasticidade neurológica. A estrutura neuronal disponível para efetuar ações a que o corpo se pode sujeitar não é estática, o cérebro tem a capacidade de se reestruturar biologicamente devido a experiência ou dano21. A ação de esculpir usufrui criativamente desta capacidade intrínseca do cérebro humano, a plasticidade neuronal. Ação de esculpir no cérebro.. Em termos de ação a estrutura clássica do talhe direto, implica duas ferramentas principais, uma para cada mão, a maceta e o ponteiro para a pedra, o maço e goiva para a madeira, o maço exerce a energia necessária para ultrapassar o ponto de rotura da matéria sincronicamente com a segunda ferramenta na outra mão, o maço é utilizado de forma mecânica exclusivamente na ação de supinação e pronação do antebraço, a segunda ferramenta direciona a energia aplicada pelo maço para um ponto de intervenção específico, formalizando a intenção do escultor sobre a matéria a ser esculpida. Utilizando a tecnologia de FMRI22 é possível referir partes do cérebro23 que correspondem a uma concentração de atividade perante atividades motoras específicas. As seguintes imagens com origem em artigos de desenvolvimento científico na área da neurociência, refletem imagens de scans FMRI que mostram áreas do que é ativado em termos de maioria de irrigação cerebral, perante funções específicas, que procurei delimitar as funções motoras principais do que poderá corresponder o talhe, o agarrar, e o movimento martelo.. 21. [. What Is Neural Plasticity? 2019-10-16]. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29080018 22 ALLEN, Peter [2019-10-16]. Disponível em https://www.invivonmr.ualberta.ca/Education/fmri.php 23 HINES, Tonya [2019-10-16]. Disponível em https://mayfieldclinic.com/pe-anatbrain.htm. 12.

(19) As imagens não refletem a atividade total do cérebro, apenas a área que é delineada como principal interveniente em termos de intenção correspondente a funções motoras especificas, pois existem múltiplas camadas de atividade de processamentos cognitivos paralelos e contínuos, como cheiro som, visão, etc Não foi possível encontrar referentes de exames “FMRI”, que digam respeito única e exclusivamente ao talhe no esculpir, deixando em aberto se a prática do esculpir corresponde a ativação de estruturas de linguagem no cérebro, assim como se existe a possibilidade de haver um desenvolvimento de habilidade no esculpir a partir de funções motoras específicas, como por exemplo: se desenhar com precisão se reflete ao mesmo domínio do segurar o ponteiro na ação de esculpir, assim como do cruzamento de diferentes funções no esculpir, se esculpir desenvolve a precisão do desenho assim como, se a coordenação espacial de trabalhar com uma intenção formal um volume, corresponde a uma ativação maioritária no que diz respeito ao gesto, se pela prática, após um gesto se tornar intuitivo entra em ativação o desenvolvimento de outras partes, como a visão, ou o pensamento abstrato.. 13.

(20) As atividades de processamento cognitivo delineadas no cérebro para refletir o talhe são: 1- Ação de agarrar com precisão, e agarrar com força. Agarrar-”grip”.24. Fig. 125 Brain activity during precision gripping (green) and power gripping (red), superimposed on a normalized template brain.. “In a first condition, subjects lightly and repetitively pressed and released the tips of the right thumb and index finger (precision grip). In a second condition, participants were asked to repetitively close and open the fist (power grip). In the no-vision condition, the precision grip task activated the left primary sensorimotor cortex (M1/S1), left dorsolateral premotor cortex, the SMA, bilateral cerebellum, and bilateral foci in the insular and opercular cortex (Table 2). During the power grip task without visual feedback, the thalamus, basal ganglia, and the right supramarginal gyrus were activated bilaterally, and in addition to the aforementioned regions. The same regions were also active when visual feedback of grip force was provided. Visual processing led to bilateral activations of occipital and bilateral posterior parietal areas that were absent in the no-vision condition.”26. 24. J.P.Kuhtz-Buschbeck,[2019-10-16]. Disponível em https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1053811908000852?dgcid=api_sd_search-apiendpoint 25 FIG.1[2019-10-16]. Disponível em https://www.semanticscholar.org/paper/Brain-activity-is-similarduring-precision-and-with-Kuhtz-BuschbeckGilster/e630c4dfee9002317327364560501d791bd19436/figure/4 26 ibidem. 14.

(21) 2- Braço, movimento martelo- “hammer movement”.27. Fig228 ” Under the observation condition, the subjects viewed the action via a computer monitor placed directly in front of them. Under the imagery conditions, the subjects focused on the tools, i.e., chopsticks or a hammer, placed in front of them. During the task phases, the subjects were instructed to imagine the movement required to operate the tool placed in front of them (first-person imagery)” “The hammer movement required that a hammer was operated using the right hand, and the subject had to strike against a nail inserted into a piece of wood placed in front of the subject.” “Studies have shown that the dorsolateral prefrontal cortex, inferior frontal gyrus, premotor cortex, primary motor cortex, primary somatosensory cortex, and inferior parietal lobule are activated during the execution of hand movements or the handling of tools.”29. 27. NAKANO, Hideki,[2019-10-16]. Disponível em https://www.intechopen.com/books/neurologicalphysical-therapy/motor-imagery-and-action-observation-as-effective-tools-for-physical-therapy 28 Ibidem. 29 NAKANO, Hideki [2019-10-16]. Disponível em https://www.omicsonline.org/open-access/brainactivity-during-the-observation-imagery-and-execution-of-tool-use-an-fnirs-eeg-study-2165-7025.S1009.php?aid=9008 15.

(22) Uma ação sujeita a um referente de composição física.. A ação de esculpir nos termos mecânicos acima descritos pode ser estabelecida em parâmetros de coordenação motora do esculpir: para o maço está implícito o agarrar e o exercício de levantar e baixar o braço(movimento martelo) conforme a sua aplicação num ponto da segunda ferramenta na outra mão, que consiste no agarrar e direcionar a goiva, ou outra variante das ferramentas de talhe, neste exemplo a ação de esculpir está delimitada a estas duas particularidades principais. Na totalidade de referentes motores da ação de esculpir, os fatores físicos a serem apurados em termos de discernimento estrutural do cérebro, corresponderiam ao corpo por inteiro, como o estar de pé, cheirar, ver etc. esses fatores também podem ser desenvolvidos consciente ou intuitivamente. Aferente-somatossensorial, eferente-motor No facultar ao pensamento a perceção do corpo humano está o sistema nervoso. O sistema nervoso divide-se em duas partes principais: o cérebro e medula espinal, que está interligada de modo a cobrir o corpo todo de células nervosas. O sistema nervoso contém diferentes tipos de neurónios, os que recebem informação do corpo para o sistema nervoso central no cérebro “input” de órgãos sensoriais como, olhos pele, etc. esses neurónios são denominados de neurónios recetores sensitivos “aferentesreceber”. Os neurónios que transmitem informação do sistema nervoso central no cérebro “output” para os músculos e comportamento de órgãos sensoriais, são os neurónios motores efetuadores “eferentes-atuar” 30. No efetuar uma ação é correlacionada a aferência e efetuação no sistema nervoso através dos neurónios associativos denominados de interneurônios31, que relacionam, a transmissão de informação para os músculos que refletem a ação designada, assim como a informação transmitida ao sistema nervoso do resultado das ações produzidas pelos. 30. LAKNA,[2019-10-16]. Disponível em https://pediaa.com/difference-between-afferent-and-efferent/ TAMAS Freund and Szabolcs Kali [2019-10-16]. Disponível em http://www.scholarpedia.org/article/Interneurons. 31. 16.

(23) músculos, neste processo está o sistema somatossensorial. O sistema somatossensorial contém recetores espalhados pelo corpo todo, e medeia a informação recolhida através do tato, do sentido propriocetivo e da dor, o sentido propriocetivo é por vezes referido como o sexto sentido do corpo humano, envolve o corpo em ação. “…touch (mechanoception), pain (nociception), temperature (thermoception) and the position and movement of parts of the body (proprioception).”32 O sentido do tato permite discernir entre texturas vibração e pressão, o sentido do tato está espalhado pelo corpo todo, com diferentes densidades de células nervosas para a mesma. quantidade. de. área,. tendo. em. conta. o. local. referido.. Fig.333. 32. Somatosensory system ,[2019-10-16]. Disponível em https://www.nature.com/subjects/somatosensorysystem 33 MANCINI et al., 2014: ANN NEUROL 2014;75:917–924 [2019-10-16]. Disponível em https://askabiologist.asu.edu/understanding-touch “Each part of the body has a different ability to detect touch. Areas of the body with more touch receptors are able to better discriminate touch. This figure shows a test called the two-point discrimination test. A person will be poked lightly with two small pen-shaped objects. The distance between the two objects is slowly made larger or smaller. The person is asked to say when they feel the difference between these two objects. This is the person’s discrimination threshold, or the distance between the objects when the person can feel that there are two rather than one. This is shown on the vertical, or y-axis. Parts of the body we use to explore the world around us, like our face and hands, have a very low threshold. This means that a person can feel the touch of two objects even if they are very close together. Other areas, like the back or calf, don’t have as many touch receptors. Because of this, the objects need to be much farther apart for a person to feel them.”. 17.

(24) Diferentes áreas requerem menor ou maior densidade de nervos, que transmitem informação sobre a superfície ou sensação com que o corpo entra em contacto. Na imagem seguinte do homúnculo está demonstrada área do cérebro é utilizada para o sentido do tato.. Fig.434 “Highly sensitive areas such as the fingertips and tongue can have as many as 100 pressure receptors in one cubic centimetre.”35 O sentido de propriocepção por vezes denominado como cinestesia (quando retirado o sentido de equilíbrio, ou balanço), permite a consciencialização do movimento no corpo, e a correlação posicional de diferentes partes do corpo em movimento. Essencial na atividade do esculpir, a propriocepção é um sentido que evolui com a habilidade técnica, e sensibilidade tátil. Esculpir em talhe sobre uma pedra requer a habilidade performativa de propriocepção, e de desenvolvimento tátil. Em termos de habilidade performativa, uma ação objetiva discrimina no seu desenvolvimento o que é irrelevante, estipulando sequências de. 34. FIG.4 [2019-10-16]. Disponível em https://www.ebmconsult.com/articles/homunculus-sensory-motorcortex 35 Science of touch,[2019-10-16]. Disponível em https://learningcenter.homesciencetools.com/article/skin-touch/. 18.

(25) atividade para um exercício progressivamente mais eficaz, no caso do esculpir um relacionamento evolutivo de parcelas propriocetivas está implícito, incluindo gestão do esforço físico em relação à densidade do material perante o objetivo tanto a nível de resistência do material como do próprio escultor. O corpo do escultor tem de estar coordenado com as premissas compositivas da matéria como se a própria matéria fizesse parte do corpo do escultor, procurar fazer com que uma matéria reaja exatamente de uma forma, é como procurar ser o mais consciente possível de um movimento do próprio corpo do escultor, um movimento feito com precisão reflete a precisão da consciência por trás desse movimento. Um movimento com precisão eficiente sobre uma matéria sem que esta o sujeite a desvios da intenção do escultor, revela o conhecimento da matéria que esta consciente no movimento, o movimento de talhar de um escultor experiente contém e transmite conhecimento. Quanto mais desenvolvida estiver, a correspondência entre a vontade do escultor e a sua perceção somatossensorial, melhor será a correlação entre a intenção e o resultado da ação. O estatuto da propriocepção como um sentido em correlação com o sentido do tato valida uma estrutura de base prática amplamente complexa na escultura36. Que implica como implícito no esculpir, o desenvolvimento e consciencialização desses dois sentidos. “If you have more receptors on one part of the body, the brain will need to have more neurons to process information from that body region. “37 A dança como exemplo é uma atividade física em que o sentido da propriocepção é evidente ao ser possível constatar movimentos calibrados com o máximo de precisão por parte de um bailarino, mesmo com os olhos fechados38.. 36. Proprioception [2019-10-16]. Disponível em https://www.physio-pedia.com/Proprioception Making Sense of Touch,[2019-10-16]. Disponível em https://askabiologist.asu.edu/understandingtouch 38 HARGROVE,Todd [2019-10-16]. Disponível em https://www.bettermovement.org/blog/2008/proprioception-the-3-d-map-of-the-body 37. 19.

(26) Uma perspetiva de desenvolvimento da capacidade de esculpir fundamentada no sentido de propriocepção, reflete as ações por parte de um escultor que efetua um talhe como uma coordenação motora equivalente à de uma dança, em que o espaço que a matéria ocupa é alterado a partir de uma performatividade em que os músculos do escultor envolvidos, estão interligados e calibrados com o propósito de um movimento específico, que no caso da escultura corresponde a um resultado formal sobre a matéria. Uma escultura vista dessa perspetiva lógica pode ser comparada a um registo de uma dança, uma dança refletida numa forma, um código desenvolvido pelo escultor, e que este contém a consciencialização de todas as coordenadas da forma esculpida. A habilidade técnica/motora/performativa O domínio sobre a performatividade do esculpir que o escultor desenvolve a partir da prática, tem diferentes graus de referência em termos de habilidade. A evolução da habilidade motora é descrita como uma evolução de três estágios principais, no modelo de aquisição de habilidade desenvolvido por Fitts and Posner´s 1967, esses três estágios são denominados de estágio cognitivo, estágio associativo, e o estágio autónomo.39 O estágio cognitivo está configurado no desenvolvimento da habilidade do talhe inicial. Corresponde à informação que pode ser predisposta de modo a poupar tempo e esforço, como efetuar a manutenção nas ferramentas, como as utilizar, os cuidados a ter na iteração com a matéria, compreender ao que deve corresponder a ação que está prestes a ser desenvolvida. De uma perspetiva autodidata este estágio pode corresponder a um desenvolvimento de tentativa e erro baseado numa deriva, que pode implicar erros de compreensão técnica que por muito desenvolvida que seja a habilidade mantém-se desgastante e dispendiosa, em comparação a um acompanhamento ou introdução informal.. 39. HUBER,Jeffery,[2019-10-16]. Disponível em. https://uk.humankinetics.com/blogs/excerpts/understanding-motor-learning-stages-improves-skillinstruction. 20.

(27) O estágio associativo corresponde à continuidade da linha do estágio cognitivo, também denominado de estágio motor40. Ao nível do esculpir, este estágio corresponde à fase de tentativa e erro que procura definir a resposta do corpo perante as intenções, esta fase ainda que possa conter uma linha de acompanhamento, o seu desenvolvimento parte exclusivamente do praticante que calibra as respostas estruturais que esculpir o material implica, assim como outras camadas de influência estruturadoras da prática como o foco e determinação. É neste estágio que o conhecimento declarativo se transforma em conhecimento procedimental, em que são estruturadas a partir da prática linhas de desenvolvimento evolutivo que podem ser aperfeiçoadas ilimitadamente. Este estágio procura estabelecer um programa metodológico de correspondência técnica e motora. O estágio autónomo corresponde à passagem do conhecimento procedimental consciente que aprende a associar e corrige, para uma prática de correspondência autónoma, o escultor já não precisa de estar consciente dos cuidados de correspondência estrutural da matéria e interage com a mesma de forma intuitiva em que a sua evolução técnica dentro desta perspetiva corresponde a pequenos reajustes, fatores desconhecidos que impliquem uma correspondência consciente a este nível de habilidade surgem com menos frequência. Uma habilidade de nível avançado no estágio autónomo, faz com que uma ação com variantes de adaptação motora seja intuitiva. A este nível de habilidade tanto o estágio cognitivo, como o estágio associativo compreende as suas reflexões estruturais intuitivamente, o que se torna intuitivo não está delimitado à prática em si, a metodologia de desenvolvimento que proporciona a compreensão destes mesmo estágios pode ser correspondida como uma estrutura de referência que é desenvolvida numa prática e pode ser utilizada no desenvolvimento e estruturação de desenvolvimento de outra prática.. 40. Ibidem.. 21.

(28) Seja qual for a prática desenvolvida ao nível autónomo, esta surge como base do que é possível intuir no que corresponde uma evolução em termos de metodologia. A habilidade está em confluência com a intenção de uma ação, a intenção sobre uma ação sugere que para exercê-la é preciso um conhecimento estrutural prévio das etapas constituintes dessa mesma ação. A intenção de uma ação está entre a união da habilidade performativa/motora e estruturas de atividade teórica.41 Intenção Em relação à matriz estruturadora do esculpir, a habilidade avançada a desenvolver mais profundamente para que o esculpir com critérios de eficiência possa ser aplicado de forma intuitiva, é a intenção. Por outro lado, já o agir, e, na verdade, o agir bem, é um fim em sim mesmo, e a intenção é o princípio da mudança especifica que vai na sua direção.”42 A intenção é fulcral no desenvolvimento e compreensão do que o esculpir pode proporcionar. Uma intenção implica um sentido crítico perante uma ação, uma intenção vem de um pensamento premeditado e pode por si só refletir uma ação. Inversamente, se uma intenção no pensamento pode corresponder a uma ação, como pode uma ação através dos sensores de aferência no esculpir, na observação, e na presença do escultor com a matéria, refletir uma consequência que parte da matéria sobre o escultor. A consequência que uma matéria proporciona sobre uma intervenção na sua composição pode ser refletida como uma intenção passiva por parte da matéria, uma intenção que difere em relação à matéria-prima a ser esculpida. “Psychophysical studies show that biological motion is processed as a special category, to which humans from an early age attribute mental states such as intention.”43. 41. HUBER,Jeffery,[2019-10-16].Disponível em https://uk.humankinetics.com/blogs/excerpts/understanding-motor-learning-stages-improves-skillinstruction 42 ARISTOTELES, Etica a Nicomato 1139b1 43 DECETY ,Jean[2019-10-16]. Disponível em https://www.nature.com/articles/35086023. 22.

(29) Estipular diferentes propósitos que determinam uma intenção, é o mesmo que estruturar parâmetros que estruturam o propósito de uma ação e as consequências da mesma. Compreender o que pode significar uma intenção pode ser estabelecido em três grandes estruturas de referência, que propõem o significar de uma intenção como: - A intenção de vir a fazer algo, uma proposição de futuro, ou seja, uma projeção; - A intenção presente que reflete a razão de fazer algo, o porquê de o fazer, a razão e significado por trás do fazer; - A intenção que vai de encontro a um propósito contínuo de uma intenção atuante, o estar a fazer algo contém uma intenção implícita.44 Compreender estas três estruturas, é compreender três formas possíveis de interpretar um significado por trás da ação de esculpir. O objetivo do escultor reflete a intenção implícita do esculpir sobre a qual todas as outras perspetivas de intenção se desdobram. Utilizando uma perspetiva de referência no talhe, do escultor e do esculpir como o seu denominador, no talhe quando a lógica compositiva da estrutura da matéria estipulada é compreendida implicitamente, em que os pressupostos e variáveis da composição de uma matéria abrangem um parâmetro de previsibilidade, a intenção da força a aplicar(maço, maceta, martelo, etc.) sobre a ferramenta perfurante, (escopro, formão etc.), tal como o ângulo e força de aplicação desta segunda, é pré-definido e adaptável de modo que a ação sobre a matéria reflita o objetivo do escultor com o máximo de precisão possível. A intenção condicionante do esculpir está no objetivo / formal final, que estabelece as regras para o resultado de uma ação assim como o pensamento ativo do escultor, que ao pré-estabelecer o objetivo formal que pretende materializar está a definir uma matriz que vai condicionar todas as ações a efetuar perante a matéria.. 44. Ibidem.. 23.

(30) Existem múltiplas variantes imprevisíveis em certos espectros da ação de esculpir, tanto a nível da heterogeneidade da matéria assim como na sequência subtrativa a ser aplicada/utilizada. Dentro dos vários e diferentes caminhos possíveis para chegar ao objetivo / formal final, a forma pré-estabelecida é o limite condicionante da ação, a intenção condicionante no esculpir. O pensamento do escultor na ação de esculpir, faz com que, o que pode ser interpretado como uma ação mecânica, seja um ato de intenção consciente constante, pois, se esculpir não for um ato consciente constantes poderá significar um erro que no caso de imprevisibilidades na composição material, como a pedra ou madeira, por vezes corresponde a um erro sem retorno, a pedra e da madeira depois de “quebradas” não permitirem artificialmente adição de matéria, de modo a voltar á sua composição original. O que separa uma ação intencional de uma ação casual, ou de uma ação em que a intenção é proporcionar outra intenção, é uma questão fulcral para definir o papel da intenção no ato de esculpir. “One need not intend one’s doing A to promote some further end in order to count as doing A intentionally. It is sufficient to intend, of something one is doing, that it promotes or constitute one’s doing A.”45 Um ponto de vista que distingue alguém que trabalhar pedra para uma obra de construção civil e alguém que trabalha pedra para o desenvolvimento de uma escultura, surge na intenção como mediador do significado de uma ação. O que diferencia o significado na ação de cada um - entre múltiplas variantes referenciáveis como o trabalhar para alguém ou trabalhar por dinheiro, etc.-, uma perspetiva que define o papel do escultor do papel de um outro qualquer atuante, é de que todas as ações que proporcionam o desenvolvimento de uma escultura representam a intenção de esculpir.. 45. Intending as doing [2019-10-16] https://plato.stanford.edu/entries/intention/. 24.

(31) A intenção de esculpir estende-se ao que proporciona o ato na íntegra, assim como as suas consequências, a escultura formalizada é um espaço-tempo atuante de um todo que se complementa numa forma de pensar, o trabalhador “civil” também passa por circunstâncias que o levam a praticar o ato mecânico de desbastar matéria, mas não seriam as mesmas circunstâncias que o levariam a praticar o ato de esculpir. O trabalhador civil também pode ser um escultor, quando carrega a intenção de esculpir em todas as suas ações. Quando se faz uma escultura valida-se todas as intenções anteriores como complementares do fazer escultura. Compreender a intenção como uma escala de consequência, em que o fazer uma ação leva a um resultado que proporciona outro resultado, é uma parte do leque percetivo que pode envolver uma intenção. A intenção como uma construção unitária implica um estado mental unitário igualmente constante, o porquê de uma intenção, define a intenção unitária como um conhecimento ou crença na ação. A intenção pode ser interpretada como uma frequência, uma constante que define uma estrutura significante, e uma estrutura quantos mais parâmetros abranger mais estável será, um escultor consciente de uma estrutura contínua que abrange todos o seu parâmetro de ação terá um equilíbrio entre as suas intenções e os seus resultados a um nível aprofundado. A intenção que nivela o esculpir condiciona a ação, essa estrutura reflete-se no pensar no andar no falar, no compreender, no acreditar. Hábitos A intenção formal a atingir como “guia” do processo de esculpir diz respeito ao resultado pretendido, mas no que diz respeito ao atingir esse propósito diferentes parâmetros de conhecimento pelo qual se pode definir o processo de esculpir, tal como saber afiar bem as ferramentas de modo a refletirem uma resposta assertiva e continua, segurar a matéria a um suporte para não sujeitar o escultor a imprevistos, saber o comportamento da ferramenta em relação ao material, etc., esses processos são desenvolvidos de modo que o resultado desejado seja atingido com mais fluidez e precisão, estabelecer esses padrões procedimentais estão no criar hábitos.. 25.

(32) Hábitos são comportamentos padronizados, que se expressam intuitivamente numa ação expressão ou comportamento. Esculpir é uma prática com padrões mecânicos contínuos, esses padrões mecânicos são assimiláveis como constantes, mas no caso do esculpir as variantes da composição material é inevitavelmente heterogénea, o que faz com que o hábito de talhar contenha a um nível mais profundo uma variabilidade compositiva imprevisível. O aparecimento de máquinas e outros meios tecnológicos avançados reduzem a variabilidade compositiva da matéria, tornam o procedimento de esculpir cada vez mais homogéneo no diz respeito às regras e linguagem implícita da matéria, um escultor com uma rebarbadora e um disco de corte não assimila a mesma informação, que um escultor que utilize ferramentas manuais como maceta e ponteiro, o maço e goiva. Um hábito que reflete um padrão homogéneo ou heterogéneo, é uma estrutura que permite o escultor utilizar, intuitivamente um nível de habilidade avançada em relação a uma qualquer matéria ou material. Um hábito está relacionado com uma ação tanto como a um pensamento: ao efetuar uma ação até que se torne um hábito também se desenvolve o hábito de pensamento em relação a essa ação. Quando um escultor esculpe, efetua a ação de esculpir, e reflete sobre a forma como o faz, está a assimilar o padrão de pensamento que corresponde a essa ação. Como quando se talha um pedaço de um volume de pedra: o escultor sabe quanta pedra gostaria de tirar em correspondência ao objetivo final, mas está condicionado pelo comportamento da pedra em relação a sua intenção, a sua intenção tem de se habituar e adaptar à estrutura da matéria(pedra). A intenção como um pensamento objetivo, adquire um hábito igualmente estruturado em relação à composição da matéria, a estrutura processual utilizada pelo pensamento no compreender uma estrutura de uma matéria é uma constante, que após se tornar um hábito que não precisa de ser regularizado conscientemente, pode ser referenciado intuitivamente como uma ferramenta teórica de fundamento prático a utilizar sobre outras intenções. 26.

(33) Ao tornar um hábito a compreensão de diferentes estruturas compositivas de uma matéria, é tornar um hábito compreender qualquer estrutura lógica comparável à linearidade da composição de uma matéria. A atividade teórica surge como projeção de uma intenção, a compreensão da resistência da matéria perante o talhe requer estabelecer um efeito da ação sobre a matéria para poder projetar sobre uma ação futura e, assim estabelecer o efeito da ação sobre a intenção do escultor.. 27.

(34) A ÉTICA A NICÓMACO DE ARISTÓTELES Para enquadrar o processo de esculpir como uma via de desenvolvimento que interliga o pensar e o fazer, - á prática do fazer escultura - escultor ser humano que racionaliza e sente, é preciso confrontar o esculpir com o pensamento do escultor. Diferentes atividades correspondem a diferentes níveis de habilidade, hábitos e intenções, mas o sujeito que as pratica que é transversal a todas as atividades, neste âmbito de reflexão, é o escultor. A ética a Nicómaco de Aristóteles, permite estabelecer critérios racionais e procedimentais, transversais aos desafios do dia a dia na prática do saber fazer escultura. A ética a Nicómaco surge como um princípio de referência que permite desenvolver uma estrutura processual, que faz uma correspondência de intenções desenvolvidas no esculpir, com intenções de uma forma de agir constante. O escultor que age e pensa de acordo com as estruturas lógicas da prática do talhe, domina o eixo de referência da sua perçepçao. As estruturas de compreensão e metodologia daquilo que condiciona a intenção e o domínio de um eixo de referência, estão nos princípios éticos que refletem a conduta e os costumes do escultor. ““Ethics…” …Its subject consists of the fundamental issues of practical decision making, and its major concerns include the nature of ultimate value and the standards by which human actions can be judged right or wrong.”46 Utilizando o exemplo de ética a Nicómaco de Aristóteles, procuro exemplificar um princípio que equilibra o homem que racionaliza e age, com o homem que racionaliza e esculpe. Um homem que não destrói e não está preso, um homem que compreende e relaciona as coisas, como o escultor que recebe e dá à matéria, que modifica e condiciona a matéria com os mesmos princípios éticos que utiliza para condicionar e modificar a si. 46. SINGER,Peter [2019-10-16]. Disponível em https://www.britannica.com/topic/ethics-philosophy. 28.

(35) mesmo, tal como à sua forma de estar no mundo, como faz corresponder o mundo à sua prática. A ética de Aristóteles propõe os seus princípios éticos como estruturadores do homem excelente, um homem que age e pensa como o que procura o melhor de si mesmo , como o escultor que procura aperfeiçoar uma técnica perante uma matéria, os princípios éticos procuram aperfeiçoar o ser humano, o homem que corresponde ao melhor de si mesmo. Se a matéria pretende refletir princípios éticos é questionável, mas o homem que desenvolva e contenha princípios éticos perante a matéria não deixará de os ter perante diferentes atividades, um princípio ético, é um estado de deliberação que surge da alma. O estado ideal do carácter do ser humano, o homem excelente, está no meio, não está no excesso nem no defeito.47 O que caracteriza a alma o homem excelente surge como um conteúdo que se compreende teoricamente e se desenvolve na prática. Para Aristóteles a alma é determinada em duas dimensões, uma capaz de razão e outra incapacitante de razão, como os princípios imutáveis à vida como o alimento, necessidades fisiológicas, etc., a dimensão da alma que existe em todos os seres vivos e nos afasta da razão da alma do homem excelente48. A dimensão da alma capaz de razão é dividida em duas partes que refletem dois processos específicos, um que determina princípios imutáveis, e que possibilita o ponto de vista científico(epistêmonikon), e um outro que desenvolve as relações possíveis entre diferentes princípios imutáveis, o cálculo(logistikon).49 A forma como se relacionam os princípios imutáveis da alma e os princípios capazes de transformação pela razão surgem como a matéria que estrutura o desenvolvimento do homem excelente.. 47. ARISTÓTELES, Ética a Nicómaco Vi ibidem 49 ARISTÓTELES, Ética a Nicómaco 1139a1 48. 29.

(36) Na escultura o talhe como um ato subtrativo enquadra-se na perspetiva do cálculo, pois é um ato que advém de um desenvolvimento racional e não uma necessidade biológica imutável (natural). Os princípios imutáveis que apoiam a perspetiva científica são evidentes na matéria, os fatores compositivos que determinam a diferença de uma matéria de outra não são mutáveis. Tal como uma fórmula matemática que determina um resultado específico, a matéria corresponde a uma matriz, sobre a qual no caso do talhe em escultura, corresponde as possibilidades de interferência estrutural por parte do escultor. Esculpir é uma ação racional, o que condiciona essa ação racional e ao que pode corresponder essa ação racional está evidente na prática, essa prática reflete em si a verdade por trás dessa mesma ação, em que surge a ideia de razão. A prática revela a verdade da razão que condiciona a prática. Aristóteles estrutura a alma em operações racionais como linha guia das ações, e divide a alma em três partes, a perceção, o poder de compreensão e a intenção.50 Estas três operações racionais complementam-se na prática em escultura, procurar, e agir de acordo com a disposição de verdade na razão a nível da perçepçao, do poder de compreensão e da intenção, estabelece a excelência de carácter do ser humano, é uma disposição que decide, e a decisão como uma intenção deliberada e séria tem de corresponder a uma intenção correta e verdadeira.51 No exercício do talhe uma intenção é deformada perante a matéria, se um conhecimento referenciável não tiver sido experienciado, a matéria em relação ao vínculo de verdade por trás da racionalização surge como um fator de imprevisibilidade. Ou seja, uma intenção nos parâmetros do talhe, só mente em termos práticos perante o desconhecido, quanto menos o escultor conhecer uma matéria, mais desconhecido é o resultado de uma intenção sobre a mesma.. 50 51. ibidem ibidem. 30.

(37) Na intervenção do escultor sobre uma matéria desconhecida, para que o resultado reflita o melhor possível, a intenção do escultor deverá corresponder a um cálculo que o escultor faz a partir do seu poder de compreensão interativo, compreender a linguagem da matéria sobre a qual se exerce uma intenção é compreender como pode a verdade adaptar-se e ser encontrada no desconhecido, quanto mais desenvolvida for a compreensão da matéria, melhor a verdade da intenção se expressa sem limitações. A procura da verdade é um objetivo do pensamento, no caso do pensamento prático52, a verdade/mentira que corresponde a uma intenção está na imprevisibilidade ou previsibilidade da matéria e no poder de compreensão por parte do interveniente. O escultor que perante o desenvolvimento de uma escultura a partir de uma modelo, a desenvolva sem domínio da matéria ou com as proporções incorretas está a incorrer uma mentira na relação entre o que vê e aquilo que expressa, ou consegue expressar. Este exemplo reflete dois parâmetros de verdade, a verdade da razão por trás do agir, técnica, e a verdade por trás da sua compreensão racional da realidade. Quando a matéria não é fator de imprevisibilidade perante a intenção do escultor, entra em desenvolvimento um outro nível de verdade, a perceção. Ninguém discute o que já aconteceu, mas sim sobre o futuro e o que é possível.53 A perceção das proporções corretas é evidente na reflexão consciente que um escultor pode fazer em relação ao modelo que está à sua frente, que corresponde à perçepçâo estrutural de um volume num espaço, a forma como consegue expressar as mesmas é passível de incorreções. A verdade embora evidente na observação, pode estar oculta na perceção prática, estruturas e medidas de referência funcional, e na capacidade de expressão do escultor. A “desocultação” da verdade é a função de ambas as partes da dimensão da alma humana através do ponto de vista científico e do cálculo, o que existe, a verdade do agir e a verdade da razão, a verdade a ser “desocultada” não está em reformular o passado, mas. 52 53. Fronesis* ARISTÓTELES, Ética a Nicómaco 1139b1. 31.

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Fig.  1 25   Brain  activity during precision gripping (green) and power gripping (red), superimposed on a normalized  template brain

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