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Rotinas produtivas flexíveis: as tendências e perspectivas do telejornalismo em redes televisas no contexto da convergência no Brasil

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

TENAFLAE DA SILVA LORDÊLO

ROTINAS PRODUTIVAS FLEXÍVEIS:

As tendências e perspectivas do telejornalismo em redes televisivas no contexto de convergência no Brasil

RECIFE 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

TENAFLAE DA SILVA LORDÊLO

ROTINAS PRODUTIVAS FLEXÍVEIS:

As tendências e perspectivas do telejornalismo em redes televisivas no contexto de convergência no Brasil

Texto para defesa de tese, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação do Centro de Artes e Comunicação da UFPE, sob a orientação do Prof. Dr. Alfredo Vizeu Pereira Júnior.

RECIFE 2015

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Catalogação na fonte

Bibliotecário Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204

L866r Lôrdelo, Tenaflae da Silva

Rotinas produtivas flexíveis: as tendências e perspectivas do telejornalismo em redes televisas no contexto da convergência no Brasil / Tenaflae da Silva Lôrdelo. – Recife: O Autor, 2015.

208 f.: il., fig.

Orientador: Alfredo Eurico Vizeu Pereira Júnior

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Artes e Comunicação. Comunicação, 2015.

Inclui referências e apêndice.

1. Comunicação de massa. 2. Jornalismo. 3. Telejornalismo. 4. Convergência (Telecomunicações). 5. Televisão – programas. I. Pereira Júnior, Alfredo Eurico Vizeu (Orientador). II.Título.

302.2 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2015-60)

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TENAFLAE DA SILVA LORDÊLO

TÍTULO DO TRABALHO: Rotinas Produtivas Flexíveis: as tendências e perspectivas do telejornalismo em redes televisas no contexto de convergência no Brasil.

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação. Aprovada em: 26/02/2015

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________ Prof. Dr. Alfredo Eurico Vizeu Pereira Júnior

Universidade Federal de Pernambuco _______________________________________ Prof. Dr. Heitor Costa Lima da Rocha Universidade Federal de Pernambuco _____________________________________ Prof. Dr. Thiago Soares Universidade Federal de Pernambuco _____________________________________ Prof. Dr. Paulo Carneiro da Cunha Filho Universidade Federal de Pernambuco _____________________________________ Prof. Dr. Flávio Antônio Camargo Porcello Universidade Federal de Pernambuco

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À Família,

Dedico esta tese a minha amada companheira Renata Florêncio de Vasconcelos e meus também amados filhos, Maria Regina Lordêlo de Vasconcelos e João Guilherme Lordêlo de Vasconcelos.

Estendo esta dedicatória a minha querida Mãe, a meu Pai, minha irmã Alice e aos meus irmãos Alexandre e Talyson.

In memória a inesquecível Tia Diana, Tia

Conchita, ao Tio Othon, a Professora Águeda Cabral, e ao Professor André Setaro.

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AGRADECIMENTOS

A Deus que conduz com inteligência e abre oportunidade para alcançar meus objetivos.

A minha família que soube me fortalecer nos momentos de dificuldades.

Ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE pela oportunidade e meios para conquistar mais um título acadêmico e ampliação de conhecimento.

A Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco – FACEPE pelo recurso material, por meio de bolsa de doutorado indispensável para realização da presente tese.

Ao meu Orientador Alfredo Vizeu que com sua experiência e compreensão contribuiu para a realização desta Tese.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação pelos conselhos pertinentes a este trabalho, que foram de grande importância para a consolidação deste momento.

Aos professores da minha banca de qualificação Edna Mello e Heitor Rocha pelos apontamentos necessários para a melhoria da presente Tese.

Aos funcionários da Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Comunicação: Zé Carlos, Cláudia e Lucy por toda ajuda e apoio durante estes 4 anos.

Ao grupo de pesquisa de Jornalismo e Contemporaneidade - UFPE pelas sugestões fundamentais para a organização deste presente trabalho.

A todos os meus amigos e colegas do PPGCOM, da UNIFAVIP e da VIDA pela compreensão e apoio.

Agradeço aos entrevistados que se dispuseram a colaborar para a elaboração deste trabalho e aos profissionais que contribuíram com a coleta de dados no percurso do doutorado.

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RESUMO

Esta tese tem como preocupação central identificar e compreender as rotinas produtivas das notícias nas redações dos telejornais de início de noite nas redes televisivas, em contexto de convergência jornalística, considerando a produção, distribuição e perfil profissional. Nesta abordagem, apresenta-se a Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis em que nos

primeiros quinze anos deste século, as rotinas produtivas noticiosas vêm se reconfigurando por meio de canais digitais de integração verticais nas redações dos telejornais de início de noite, em redes televisivas. Em que o fazer jornalístico é realizado por profissionais polivalentes multimídia e distribuído de modo multiplataforma, entre meios televisivos e digitais, flexibilizando como tendência o modelo de produção dos anos 70, na perspectiva conservadora de uma produção convergente. Tal enfoque amplia a abordagem de modelo de integração horizontal física apontada por alguns autores, tais como López-García e Fariña (2010); Salaverría (2010); Jenkins (2010); Corbière (2010); bem como fornece precisão as fases da TV de Mattos (2010) e do telejornalismo de Rezende (2010). Para fundamentar a hipótese foi

necessário refletir sobre alguns conceitos chaves: a) integração de redações; b) construção social da realidade; c) notícia; d) jornalismo de TV e e) convergência. Na análise foi realizada uma pesquisa de campo nas redações em quatro telejornais das duas principais redes televisivas do país: Jornal da Record (São Paulo); Jornal da Clube (Recife); NETV 2ª edição (Olinda); ABTV 2ª edição (Caruaru); de forma relacionada com os portais R7 (Record) e G1 (Globo). Para executar tal pesquisa foram utilizados, basicamente, quatro instrumentos metodológicos: 1) pesquisa de referencial teórico; 2) observação e monitoramento dos quatros principais noticiários nacionais; 3) entrevistas com jornalistas e gestores das emissoras e dos noticiários relacionados à produção e distribuição de notícias, formação de modelos e oportunidades de reconfiguração, para compor a pauta empírica; 4) pesquisa e análise qualitativa comparativa. Como resultados obtidos, apontam uma tendência nas redes televisivas de flexibilização na perspectiva para o processo de convergência de forma conservadora, por meio das estratégias de integração, na adoção das mídias digitais para manutenção da rentabilidade, ofuscando a credibilidade dos telejornais nas sociedades liberais democráticas.

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ABSTRACT

This thesis has as its central concern, identify and understand the productive routines of news in the newsroom, the evening newscasts of television networks in the journalistic convergence context, considering the production, distribution, and professional profile. This approach presents the Flexible Production routines Hypothesis in which the first fifteen years of

this century the news production routines has been reconfiguring via digital channels of vertical integration in the newsroom of the evening TV news, in television networks. The journalistic job, is done by multimedia versatile professionals and distributed multi-platform mode, between television and digital media, easing trend as the production model of the 70s, in the conservative outlook of a convergent production. This approach expands the physical horizontal integration model approach considered by some authors, such as López-García and Fariña (2010); Salaverría (2010); Jenkins (2010); Corbière (2010); and provide precision stages of TV Mattos (2010) and the television news of Rezende (2010). In support of the hypothesis was necessary to reflect on a few key

concepts: a) newsrooms integration, b) social construction of reality, c) News, d) TV journalism e) convergence. This analysis was conducted through a field research in newsrooms in four newscasts, the two major television networks in the country: Jornal da Record (São Paulo); Jornal da Clube (Recife); NETV 2nd edition (Olinda); ABTV 2nd edition (Caruaru); in a way related to the R7 portals (Record) and G1 (Globo). To perform such research it was used primarily four methodological tools: 1) theoretical framework of research; 2) observation and monitoring of the four main national news; 3) interviews with journalists and managers of radio stations and news related to the production and news distribution, training models and reconfiguration opportunities to compose the empirical agenda; 4) research and comparative qualitative analysis. The results point to trends in television networks, easing the vision for the conservatively convergence through integration strategies, the adoption of digital media to profitability maintenance, overshadowing the credibility of news programs in liberal democratic society.

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LISTA DE FIGURA

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Fases da TV e do jornalismo televisivo estruturado com base na distribuição 46

TABELA 2 – Predisposição para convergência horizontal 99

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO……… 12

2. SOCIEDADE, TELEVISÃO E TELEJORNALISMO …………... 25

2.1 A TV E O JORNALISMO TELEVISIVO NASCEM JUNTOS ………... 28

2.2 FORMAÇÃO DAS ESTRUTURAS DAS REDES TELEVISIVAS ……….... 31

2.3 SISTEMAS CONCORRENTES E A SUSTENTAÇÃO DA TV ABERTA …….... 37

2.4 INTERNET E NOVOS RUMOS DA TV ………...………... 39

3. JORNALISMO E CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE ... 46

3.1 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE E OS ACONTECIMENTOS ….... 47

3.2 A NOTÍCIA E RELAÇÃO TECNOLÓGICA ………... 48

3.3 ACONTECIMENTOS, FATOS E NOTÍCIAS ………... 50

3.4 CARACTERÍSTICA DA NOTÍCIA COTIDIANA E O SUPORTE ……….... 51

3.5 ROTINAS PRODUTIVAS DAS NOTÍCIAS ………... 53

3.6 O JORNALISTA DE TV ………... 55

3.7 RELAÇÃO TECNOLÓGICA, NOTICIÁRIO E NOTÍCIA ………... 58

3.8 O FAZER DO JORNAL DE TV E AS PERSPECTIVAS ………... 60

4. O CONTEXTO TECNOLÓGICO: CONVERGÊNCIA E ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO... 65 4.1 A CONVERGÊNCIA JORNALÍSTICA ………... 68 4.2 TELEVISÃO E CONVERGÊNCIA ………... 75 4.3 A POLIVALÊNCIA JORNALÍSTICA ………... 81 4.4 AS NOTÍCIAS MULTIPLATAFORMAS ………... 85 4.5 INTEGRAÇÃO DE REDAÇÕES ………... 90

4.6 ROTINAS PRODUTIVAS DA NOTÍCIA E CONVERGÊNCIA ……….... 93

5. UM OLHAR SOBRE OS TELEJORNAIS ... 97

5.1 SOBRE OS GRUPOS E TELEJORNAIS ... 100

5.2 AS DINÂMICAS E CONFIGURAÇÕES DAS REDAÇÕES ………... 101

5.2.1 Dinâmicas e configurações na Rede Record ……….... 102

5.2.2 Dinâmicas e configurações na Rede Globo...…... 105

5.3 ROTINAS PRODUTIVAS ………... 108

5.3.1 Rotinas produtivas na Rede Record...…... 109

5.3.2 Rotinas produtivas na Rede Globo………... 117

5.4 ROTINAS E TECNOLOGIA………... 125

5.4.1 Rede Record ………... 126

5.4.2 Rede Globo ………... 136

5.5 ROTINAS, INTEGRAÇÃO DE REDAÇÕES E CONVERGÊNCIA ……….. 147

5.5.1 Rede Record ………... 149

5.5.2 Rede Globo………... 166

5.6 OBSERVANDO O RESULTADO DAS ROTINAS PRODUTIVAS…....……..…. 181

5.6.1 Rede Record ………... 181

5.6.2.Rede Globo ………... 185

5.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA ANÁLISE... 189

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REFERÊNCIAS... 200

APÊNDICES………... 209

APÊNDICE A - Roteiro para entrevistas... 210

APÊNDICE B - Roteiro de observação de campo... 216

APÊNDICE C - Roteiro de monitoramento... 217

APÊNDICE D - Fotos das redações ... 218

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1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as novas tecnologias da informação e comunicação – NTIC’s vêm proporcionando uma reorganização das práticas profissionais em um complexo processo de adoção social, relacionado aos fatores culturais, políticos e econômicos, em meio à coexistência de meios tradicionais e digitais, elementos estes configuradores do atual contexto de convergência. Neste contexto, profissionais dos grupos de comunicação, desde o jornalista até o técnico de som, estão vivenciando alterações nas rotinas produtivas, bem como diminuindo os limites que separam os perfis, espaços e atividades profissionais (SCOLARI, 2008), abrindo caminho para as flexibilizações dos perfis profissionais de comunicação, dos ambientes produtivos e da distribuição de conteúdos.

Dentre os vários âmbitos da comunicação social e organizacional em que se aplicam as NTIC’s, por meio dos processos de convergência e estratégias de integração dos espaços de produção, distribuição multiplataforma e perfis polivalentes, surgiu o interesse sobre os estudos, debates e publicações recentes que vêm identificando e tentando compreender as tendências, perspectivas e agentes sociais das adoções tecnológicas nas rotinas produtivas noticiosas das redações do telejornalismo de início de noite, em rede televisiva aberta comercial no Brasil1, em contexto de convergência. O tema coloca no centro dos processos de

convergência, por meio das estratégias de integração de redações, as rotinas produtivas do veículo jornalístico2 que completando 65 anos, desde a exibição do primeiro telejornal é “a principal fonte de informação da sociedade brasileira: mais barata, mais cômoda e de fácil acesso [...]. O telejornalismo ocupa hoje um lugar central na vida dos brasileiros” (PORCELLO, 2006, p.13), colaborando para a compreensão da realidade social com credibilidade.

Nesse sentido, as inovações e invenções das NTIC’s pavimentam perspectivas para a reconfiguração/redesenho dos meios tradicionais, como a televisão, em que se insere o telejornal, por meio da adoção tecnológica nas rotinas produtivas dos grupos de comunicação, que constituem as redes televisivas. Essa adoção tecnológica possibilita alterações nas atribuições profissionais jornalísticas, nas integrações dos processos produtivos e distribuição da notícia nos telejornais de início de noite em rede, como parte de uma migração gradual do processo de produção analógica para o digital. Fato este, que se evidenciou, no final dos anos

1 A expressão “telejornalismo de início de noite em rede televisiva aberta comercial no Brasil” doravante será

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90, com as primeiras iniciativas de convergência nos veículos de comunicação tradicionais: por meio das operações das emissoras de televisão na internet que passaram a distribuir os conteúdos para mídias digitais, como uma extensão dos processos produtivos (LOPEZ, 2009). Neste sentido, os grupos de comunicação, em rede televisiva, frente às gradativas inovações e invenções tecnológicas, às adoções das mesmas nas sociedades liberais democráticas, e aos fluxos migratórios de público dos meios tradicionais para os digitais, recolocam as integrações de redações como estratégias para atender as demandas de um público cada vez mais multiplataforma, com menor custo operacional. As estratégias de conservação destes grupos empresariais, em que se inserem as integrações de redação, distribuição de conteúdos para mídias digitais e a polivalência profissional estão relacionadas às reconfigurações que colocam a convergência em uma perspectiva basicamente empresarial de gestão de custos e produção. Essa tentativa de conservação do modelo de sustentação atual destes grupos empresariais em rede televisivas coloca em justaposição os meios televisivos e as operações em novos veículos de estruturas digitais, como os portais, para preservar as receitas e a relevância social, aferida por índices de audiência.

Desta feita, o risco oculto da justaposição de meios tradicionais e digitais, que envolve as estratégias de integração, está destinado prioritariamente, no atual contexto de convergência, à redução de custos operacionais e maximização da produção e distribuição de conteúdos, para recuperar as contínuas perdas de audiência e receitas publicitárias dos grupos de comunicação em rede televisiva, em detrimento da função do jornalismo nas sociedades liberais democráticas na construção social da realidade, que resvala da credibilidade do telejornal. Neste cenário de recursos digitais e processo de convergência, abrem-se reflexões sobre a possibilidade de Rotinas Produtivas Flexíveis – que apresentam as características do atual estágio do fazer nas redações dos telejornais em rede televisiva, que tenciona o modelo produtivo consolidado nos anos 70 à configuração de um modelo convergente, em que se evidenciam diferenças, neste interstício de assimilação do digital nos grupos de comunicação em redes televisivas. Tal distinção se apresenta por três elementos chaves: a) Produção – no modelo consolidado nos anos 70, a configuração da produção nas redações do meio televisivo se caracteriza de forma própria e separada de outros meios analógicos, como impresso e rádio. Entretanto, a integração de redações não é uma estratégia recente, no percurso dos meios analógicos ocorreram tentativas pontuais de unificação das rotinas produtivas. Desta forma, no atual cenário apresenta-se uma tendência renovada das estratégias de integração pela adoção dos meios digitais, configurados como canais de integração (veículos e meios) e interação (profissionais e fontes); b) Distribuição – a distribuição tradicionalmente está

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centrada no meio televisivo, na configuração atual aponta-se uma flexibilização da produção entre o meio televisivo e digitais; c) Perfil profissional - no modelo tradicional a orientação empresarial pela polivalência estava relacionada à flexibilização circunstancial temática e funcional. No modelo corrente, a polivalência passa pela flexibilização de forma estrutural, dos temas e funções dos profissionais nas redações, somado a orientação de naturalização da atuação em variados meios, funções e temas: polivalência multimídia.

Desta maneira, aponta-se o desafio de estudar as práticas jornalísticas do meio televisivo para identificar e compreender como ocorrem as rotinas produtivas dos telejornais nas duas principais redes de comunicação televisiva do Brasil, Rede Globo e Record, com base na integração das redações, no contexto de convergência jornalística, para suprir as necessidades destas mesmas redes: a) de cobrir os acontecimentos no território nacional e compartilhar notícias dentro da própria rede, para abastecer os telejornais, em uma escala que integra o local, o regional e o nacional; e b) otimizar as rotinas produtivas para competir com a distribuição de conteúdos em mídias digitais, em meio a renovar/atualizar o modelo de sustentação corrente.

O desenvolvimento das tecnologias digitais, em que se destaca a internet, permeia a discussão em relação às diversas possibilidades de aplicações dos recursos digitais, tais como a rotina produtiva, canais digitais de integração e interação, distribuição multiplataforma e perfil profissional na cadeia produtiva do jornalismo em rede televisiva. As estruturas digitais permitem uma abordagem, que apontam para as possibilidades de alterações, na compreensão do próprio telejornalismo contemporâneo.

Os estudos e debates relacionados à convergência aplicada às práticas jornalísticas vêm identificando e tentando compreender as transformações e alterações pavimentadas pelas infraestruturas tecnológicas, socialmente adotadas, na produção de notícias; em que se inserem as abordagens sobre rotinas produtivas, estruturadas por canais digitais de integração de redações, distribuição multiplataforma e polivalência multimídia. Os estudos acerca das práticas jornalísticas nos telejornais de início de noite, em rede televisiva, abrem um relevante debate sobre: a) o desenvolvimento sócio-tecnológico das redes de comunicação televisivas e as reconfigurações das rotinas produtivas jornalísticas em contexto de convergência; b) a compreensão da produção da notícia televisiva em rede; c) produção de um noticiário de TV, para além da TV, ou seja, multiplataforma; e d) reconfiguração das redações, canais digitais e redesenho das funções/flexibilização do perfil jornalístico. O processo de convergência tecnológica presente no jornalismo de TV no Brasil vem necessitando de um recorte temático específico para conferir consistência às questões que envolvem as atuais rotinas produtivas,

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tais como: se as rotinas produtivas no jornalismo de TV estão em processo de transformações/reconfigurações. É preciso identificar e compreender o que está mudando, para que, por que, e o mais relevante, o que é esta rotina produtiva do jornalismo de TV no momento atual, suscitando a percepção de que tais rotinas podem ser definidas como Rotinas

Produtivas Flexíveis. Para construir uma abordagem referente ao presente estudo é relevante,

também considerar as dimensões: a) externa ao telejornalismo; b) organizacional dos grupos de comunicação, que compõem as redes televisivas; e c) produção e cultura profissional, em virtude de tais dimensões serem inter-relacionadas. Neste sentido, o presente estudo colabora com a ampliação da literatura em torno da relação convergência jornalística e telejornalismo em rede televisiva, abrindo caminhos para uma qualificada compreensão do problema, por meio de um estudo em quatro telejornais das duas principais redes de comunicação televisivas do país: Rede Globo e Rede Record, que iniciaram a formação no dia 26 de abril 1965 e 27 de setembro de 19533, respectivamente.

Nesse sentido, o objetivo geral da presente tese é identificar e compreender, por meio de revisão atualizada, de discussão conceitual e estudo de caso prático nas duas principais redes televisivas do país, apresentando a hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis no telejornalismo de início de noite em rede, no atual contexto de convergência jornalística, ampliando a literatura e o debate em torno deste tema. Para efetivar o objetivo geral e compor a tese, os objetivos específicos se apresentam, como: a) Considerar, com base na teoria do jornalismo e nos estudos de comunicação e convergência, por meio das estratégias de integração de redações, que correspondem ao argumento sobre a hipótese das Rotinas

Produtivas Flexíveis; b) Analisar as rotinas nas redações no que se refere à produção,

distribuição e perfil profissional nas duas principais redes televisivas de capital privado, de TV aberta do Brasil; c) Identificar e sistematizar, através de análise dos telejornais, como as

Rotinas Produtivas Flexíveis, por meio dos canais digitais de integração de um mesmo

grupo de comunicação em rede, abrem discussões sobre: autonomia dos veículos e profissionais; jornalista polivalente; modelo de sustentação; e divergência tecnológica; d) Argumentar sobre Rotinas Produtivas Flexíveis no telejornal de início de noite, na perspectiva dos jornalistas sobre os processos de convergência.

Os telejornais, como corpus analítico, em que se observaram as Rotinas Produtivas

Flexíveis no telejornalismo de início de noite das duas maiores redes de comunicação

televisiva do Brasil, são: Jornal da Record (São Paulo); Jornal da Clube (Recife); NETV 2ª

3 Informações disponíveis sobre a história da Rede Globo (http://memoriaglobo.globo.com/) e sobre a Rede

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edição (Olinda); ABTV 2ª edição (Caruaru); bem como a relação com R7 (Record) e G1 (Globo). A inclusão periférica dos portais e escolhas das redes está na consideração de que na Rede Globo e na Rede Record, os portais G1 e R7, respectivamente, estão relacionados com um projeto interno destes grupos de comunicação para atuação na internet, e reconfiguração das rotinas televisivas, por meio da distribuição de conteúdos produzidos pelo setor de jornalismo.

As outras duas Redes, SBT e Band, que juntamente com a Rede Record e Rede Globo, concentram quase 70% das emissoras afiliadas e retransmissoras do sistema de distribuição de conteúdo televisivo aberto do Brasil (ANATEL, 2010), não possuem este desenho estratégico de distribuição de conteúdo, os mesmos não se concentram de formas restritas aos portais das Redes SBT e Band, mas em ambientes digitais de outros grupos empresariais como o portal UOL, IPTVs como os disponíveis em televisores Smart da Sony. Desta maneira, Rede Record e Rede Globo têm um projeto, para as operações em mídia digital, mais concentrado para a distribuição multiplataforma restrita aos veículos digitais do próprio grupo, diferentemente do SBT e Band. Na configuração dos jornais de começo de noite (everynews) escolhidos, aponta-se que tanto a TV Record (Jornal da Record) e a TV Globo Nordeste (NETV 2ª

edição) operam com dois meios: TV e portal (internet). As afiliadas destas redes, em que os processos de integração com a emissora ocorrem, estão configuradas com mais de dois veículos, a TV Clube (Jornal da Clube) do Diário Associado possui TV, rádio, portal e impresso e a TV Asa Branca (ABTV 2ª edição) do Grupo Nordeste de Comunicação, possui TV, Rádio e Portal. Assim, a análise ocorre na relação emissora e afiliada, pertencentes às duas principais redes de comunicação do país, que segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia de 2014, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, as duas redes possuem juntas os dois principais telejornais do Brasil com 61% da audiência, sendo o Jornal Nacional com 45% e o Jornal da Record com 16% (BRASIL, 2014a). Bem como também, detém os dois portais de grupos de comunicação televisiva, segundo a mesma pesquisa, G1 com maior acesso 5,0% e R7 2,5% (BRASIL, 2014a).

A análise evidencia as Rotinas Produtivas Flexíveis em um contexto de convergência jornalística, abrindo caminho para a compreensão das tendências e perspectivas de produção nas redações, modo de distribuição da notícia e perfil profissional. Esta abordagem permite caracterizar as atuais rotinas produtivas do noticiário de TV, no estágio de migração do analógico para o digital, em meio aos experimentos e busca de um modelo de produção e sustentação, na reconfiguração dos grupos de comunicação. Nesta perspectiva, instala-se a necessidade de compreender como as rotinas produtivas noticiosas televisivas em rede, que

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integram o local, o regional e o nacional das duas principais redes televisivas do país, estão se relacionando com a transição das estruturas e características do modelo consolidado, nos anos 70, com as reconfigurações e processos de produção, perfil profissional e distribuição dos conteúdos noticiosos.

Para fundamentar o debate e análise das Rotinas Produtivas Flexíveis no telejornalismo é necessário refletir sobre alguns conceitos chaves: a) integração de redações; b) construção social da realidade; c) notícia; d) jornalismo de TV e e) convergência, bem como os elementos correlacionados. Desta maneira, buscam-se compreender primeiramente a própria relação entre a sociedade, televisão e telejornalismo, em uma perspectiva sócio-técnica, em que a tecnologia de comunicação se apresenta para além de mero recurso material, como um recurso lógico4 adotado, que pavimenta as alterações e (re)configurações dos sistemas sociais, como os sistemas produtivos da notícia no telejornalismo. Neste sentido, a presença das tecnologias de comunicação na sociedade permite delinear os processos complexos, que envolvem fatores econômicos, políticos e culturais, de modo não equânime, não autônomo e não determinante, na compreensão, interpretação e construção social da realidade, em que se situa o fazer jornalístico, por meio das rotinas produtivas. Rotinas estas, que são o conjunto de processos e tarefas necessárias, para a construção de notícias que permitem pôr o telejornal no ar, seis dias por semana5, na periódica transformação dos fatos

em notícias. Desta feita, abre-se uma reflexão do processo de convergência de forma sócio-técnica, de um ponto de vista que considere a teoria do jornalismo e a construção social da realidade.

A notícia é compreendida como um produto construído por um processo que envolve o contexto social da produção (elementos internos à redação) e suas relações econômicas, culturais, organizacionais, as características técnico-expressivas (elementos externos à redação), próprias de cada meio de comunicação, colaborando para a compreensão da realidade social (VIZEU, 2005). Neste sentido, as notícias são convenções que permitem ou auxiliam a tornar a realidade cotidiana social legível (SCHUDSON, 2010; GOMES, 2011).

4 A lógica, no presente trabalho, é compreendida nas perspectivas de Groth (2011) e Innis (2011), como algo

compatível à ideia de cultura, em que lógica e cultura são as maneiras dinâmicas, cotidianas de construção do pensar em sociedade.

5

O uso do termo rotinas produtivas está associado à abordagem de Tuchman (1983) e Vizeu (2002), que apontam que as rotinizações do trabalho nas empresas jornalísticas aperfeiçoam os modos de produzir a notícia entre os profissionais. Desta forma, as rotinas produtivas são operações cotidianas de reconstrução da realidade como notícias, em que estão realizadas com as regras e as atividades dos profissionais nas redações, como local de institucionalização da produção da notícia (VIZEU, 2002), e a periodicidade de distribuição das mesmas nos telejornais. Esta periodicidade nos telejornais analisados ocorre na fixação do horário na grade de programação das emissoras em seis dias da semana.

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Na produção das notícias estão colocadas a cultura profissional; a estrutura tecnológica; as questões de autonomia na organização do trabalho, sobre as quais residem as convenções profissionais que definem a notícia e legitimam o processo produtivo, desde a captação do acontecimento, passando pela produção, edição até a distribuição (VIZEU, 2005). As notícias são produzidas de modo a se adaptarem ao mundo social dos jornalistas, bem como às reconfigurações das rotinas produtivas, e ao público, porque as convenções de uma sociedade organizada pelas maneiras dinâmicas cotidianas de compreender, interpretar e construir a realidade social, de modo não fixa.

A construção da realidade é um processo socialmente determinado, intersubjetivamente e institucionalizado pelas práticas, pelos papéis e agentes da vida cotidiana (ALSINA, 2009). Porque o mundo da vida cotidiana é algo que o público constrói nas relações sociais de forma dinâmica que estabelece o convencional e não necessariamente verdadeiro. (SCHUDSON, 2010). É neste sentido que o jornalismo se apresenta como um dos fatores da construção do espaço público, exercendo um importante papel na elaboração das regras de visibilidade e transparência, sociabilizando informações para construção da realidade social (MARQUES, 1997). Como um processo dinâmico e complexo, o jornalismo de TV também se alimenta, compreende e interpreta a realidade social. Desta forma, a prática jornalística também pode ser considerada como um recurso de interpretação sucessiva da realidade social.

Na perspectiva de Rodrigo Alsina (2009), a representação social da realidade é construída institucionalmente, considerando as características que o processo produtivo estabelece: Obviamente, o processo depende da estrutura tecnológica que o condiciona, bem como os agentes sociais que adotam e operam tal estrutura. Desta feita, a notícia é resultante “da cultura profissional, da organização do trabalho, dos processos produtivos, dos códigos particulares (as regras de redação), da língua e das regras do campo das linguagens, da enunciação jornalística e das práticas jornalísticas” (VIZEU, CORREIA, 2008, p.13).

Estes conceitos chaves, ancorados na teoria do jornalismo e na construção social da realidade, norteiam a compreensão do conceito de convergência no jornalismo. Conceito este que a presente tese trabalha na perspectiva de convergência de Salaverría et al (2010), como um processo de integração de redações, ferramentas e rotinas produtivas, em meio a adoção tecnológica digital no fazer jornalístico, que engloba os âmbitos tecnológicos, empresariais, profissionais e editoriais dos meios de comunicação anteriormente separados.

O referencial, que compõe os capítulos iniciais da presente pesquisa, é a lupa conceitual para identificar e analisar o objeto estudado e os dados coletados nos quatros telejornais analisados, das duas principais redes de comunicação televisiva do país. Em que na

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atual configuração dos grupos de comunicação, a indumentária tecnológica digital na produção jornalística de TV, podem tornar-se um desafio para os processos de produção integrada e distribuição multiplataforma de notícias, executadas por perfis profissionais polivalentes, nas redes televisivas. Por isso, as cadeias produtivas de notícias nas mídias tradicionais, com a junção das mídias digitais, caminham na tentativa de estruturar um novo modelo organizativo e de sustentação (SALAVERRÍA, 2010). Para uma produção integrada de notícias mutiplataforma faz-se necessário o perfil do jornalista polivalente multimídia. Entretanto, essa nova posição do profissional não representa, necessariamente, a melhoria na produção da notícia (LOPEZ, 2009). Desta feita, as rotinas do jornalista no processo de construção da notícia estão sendo alteradas por este entorno convergente, e também pela relação que o público tem com as tecnologias de interação, as quais geram demandas por atualização e participação que desafiam a produção e distribuição de conteúdos das redes televisivas.

Salaverría (2010) aponta a convergência como uma perspectiva de rumo empresarial do jornalismo, como estratégia de sustentação e sobrevivência renovadora, no cerne das cadeias produtivas de notícias, por meio da infraestrutura tecnológica socialmente adotada, abrindo caminho para o debate sobre as Rotinas Produtivas Flexíveis. Neste cenário, em que os grupos de comunicação em redes televisivas caminham, em uma perspectiva de busca de um novo modelo de produção e sustentação, pela adoção das mídias digitais, reorganizando-se as estruturas horizontais (entre meios diferentes) e verticais (entre meios equivalentes).

A hipótese é de que nos primeiros quinze anos deste século as rotinas produtivas

noticiosas vêm se reconfigurando por meio de canais digitais de integração verticais nas redações dos telejornais de início de noite, em redes televisivas. Em que o fazer jornalístico é realizado por profissionais polivalentes multimídia e distribuído de modo multiplataforma entre meios televisivos e digitais, flexibilizando como tendência o modelo de produção dos anos 70, nas perspectivas conservadoras de uma produção convergente. Tal enfoque amplia a abordagem de modelo de integração horizontal física apontada por alguns autores, tais como López-García e Fariña (2010); Salaverría (2010); Jenkins (2010); Corbière (2010); bem como fornece precisão as fases da TV de Mattos (2010) e do telejornalismo de Rezende (2010).

Nesta flexibilização das rotinas produtivas, as potencialidades do digital ainda estão em curso, primeiramente em virtude da tradicional característica de conservação, por parte dos grupos de comunicação que formam as redes de TV brasileiras, no que se refere à produção e sustentação financeira, com base no modelo centrado nas mídias tradicionais (impresso, rádio

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e TV). Tal posição conservadora6 se reforça também pela ausência de um modelo confiável de integração, bem como modelos convergentes que envolvam o telejornalismo, na relação qualidade jornalística (credibilidade) e custos operacionais (rentabilidade). Desta maneira, a adoção tecnológica digital nas rotinas produtivas é marcada por experimentos, em busca de alternativas, remontando a própria história das transformações no telejornalismo brasileiro, em que as alterações são aparentemente sutis, mas que seguem ritmos e altos investimentos de transformações peculiares ao veículo jornalístico. No atual estágio, o que se identifica no fazer do telejornalismo de início de noite nas redes, não se caracteriza com um modelo convergente de fato e muito menos um fazer jornalístico resistente preso aos anos 70, momento inaugural do modelo corrente, mas em um interstício migratório de assimilação do digital, de flexibilização da produção, distribuição e perfis profissionais. Neste sentido, estabeleceu-se a opção de denominação da Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis.

Com o intuito de identificar e compreender a produção de notícias do jornalismo de TV em Rotinas Produtivas Flexíveis abrem-se seis questões norteadoras da pesquisa: a) Como se apresentam os processos de convergência jornalística, nas redações dos telejornais de rede de início de noite, por meio das estratégias de integração? b) De que forma os processos de convergência jornalística, nas redações dos telejornais de rede, influenciam as rotinas produtivas? c) Como as estratégias de integração, em uma mesma rede televisiva, formada por distintos grupos empresariais de comunicação, abrem discussões sobre: autonomia dos veículos e profissionais e divergência tecnológica? d) Em que medida há uma orientação empresarial de produção integrada de notícias multiplataformas, realizada por jornalistas polivalentes, nas redes televisivas? e) Como as integrações podem refletir os anseios empresariais por redução de custos, manter e ampliar a produção noticiosa dos veículos integrados? e f) No que se refere ao produto final das redações, como as estratégias de integração interferem na percepção da qualidade das notícias?

Para a execução da presente pesquisa qualitativa, de método hipotético-dedutivo, com base na hipótese e questões norteadoras, realizou-se um arranjo metodológico, estruturado em quatro instrumentos: 1) pesquisa de referencial teórico; 2) observação etnográfica e monitoramento dos quatro noticiários das duas principais redes televisivas de capital privado, de início de noite da TV aberta brasileira: Jornal da Record, Jornal da Clube, NETV 2ª edição e ABTV 2ª edição; 3) entrevistas com jornalistas e gestores das emissoras e dos noticiários relacionados às perspectivas das rotinas de produção das notícias e estratégias de integração,

6 O termo conservador para a presente tese está relacionado ao caráter de preservação de um modelo, em

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para compor a pauta empírica; 4) pesquisa e análise qualitativa, comparando os telejornais da mesma rede em si, no que se refere ao compartilhamento de conteúdos verticais, considerando aspecto transversal entre as redes, e horizontais nas justapostas ao meio digital.

Instrumento 1: O primeiro instrumento de investigação consiste em um levantamento teórico das referências clássicas e contemporâneas que trabalham com a questão da tecnologia televisiva de abordagem sócio-técnica, da produção da notícia, do telejornalismo na teoria do jornalismo e nos estudos de comunicação e convergência, que correspondem ao argumento sobre estratégias de integração, distribuição de notícias multiplataformas e polivalência multimídia, que reforçam a Hipótese das Rotinas

Produtivas Flexíveis. Deve-se ressaltar que as leituras foram realizadas com a devida

atenção ao longo da trajetória do doutorado, sendo utilizadas na elaboração de artigos, na participação no Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade (PPGCOM/UFPE), na realização do estágio-docência e nos debates e publicações em eventos e revistas da área. Outros dois reforços para o aperfeiçoamento da leitura das obras e textos fundamentais consistiram nas disciplinas ofertadas no âmbito do Programa de Pós-graduação em Comunicação e do acesso contínuo e atualizado ao Portal de Periódicos da Capes e Harvard Business Publishing. As leituras contribuíram para a tese, da seguinte forma, em: a) fundamentar a compreensão sobre convergência, telejornalismo, notícia e construção social da realidade e integração de redações; b) compreender como se realiza a adoção da estratégia de integração e as rotinas jornalísticas, nas duas principais redes de comunicação televisivas do país, em uma perspectiva sócio-técnica; c) revisar a literatura clássica inerente ao jornalismo e telejornalismo; d) identificar, compreender, relatar e criticar as perspectivas, no que se refere ao que está mudando, para que, por que, e o mais relevante, o que é esta rotina produtiva do jornalismo de TV, estruturada por canais de integração, distribuição multiplataforma de notícias e como a mesma pode ser definida, considerando as dimensões: a) externa ao telejornalismo; b) organizacional dos grupos que compõem as redes de comunicação televisivas; e c) produção e cultura profissional.

Instrumento 2: monitoramento e observação etnográfica dos telejornais de rede nacionais: monitoramento das reportagens, veiculadas nos telejornais entre novembro de 2013 a novembro de 2014, e na observação das redações dos quatros telejornais. As observações etnográficas ocorreram: no Jornal da Record, em janeiro de 2014, os demais: Jornal da Clube, NETV 2ª edição, ABTV 2ª edição, em agosto de 2014. A partir do contato e

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acompanhamento desses noticiários de TV em rede foi possível: a) delimitar de maneira consistente que rotinas, práticas e processos permitiram maiores contribuições à pesquisa; b) destacar os modos mais adequados para se estudar tais rotinas, práticas e processos e c) fundamentar e adequar os parâmetros basilares para a formulação da análise empírica.

Instrumento 3: Entrevistas com 17 jornalistas e gestores das emissoras e dos noticiários relacionados às perspectivas nas rotinas produtivas de notícias e integração de produção das notícias multiplataformas, realizadas por jornalistas polivalentes. Além de esclarecer dúvidas e de fornecer informações importantes que contribuíram para o momento posterior de considerações sobre as práticas nos jornais de TV, as entrevistas ofereceram, no desenvolvimento da tese, a possibilidade de confrontar os dados e as impressões coletadas na fase de observação e análise.

Instrumento 4: A última técnica de investigação apresentada consiste em uma avaliação qualitativa dos telejornais, por meio de um estudo analítico das redes televisivas. Foi realizada uma análise: a) das perspectivas de produção da notícia em integração vertical das redações com vistas à compreensão de temas, como: autonomia dos veículos e profissionais: jornalista polivalente; distribuição multiplataforma; e divergência tecnológica; b) da forma pela qual os gestores e jornalistas se mostram abertos aos processos de integração das redações e convergência, a atividade de um jornalista polivalente; e c) das maneiras pelas quais a integração, distribuição multiplataforma, novos perfis profissionais podem configurar as Rotinas Produtivas Flexíveis.

A presente tese está estruturada em quatro capítulos, que apresentam subsídios para as questões norteadoras, e corroboram para a realização dos objetivos e argumentação da hipótese da presente tese. Os três primeiros capítulos traçam os pressupostos teóricos que fundamentam a pesquisa, e o quarto capítulo operativo empírico, em que são analisadas as redes televisivas e identificadas as Rotinas Produtivas Flexíveis.

O primeiro capítulo – Sociedade, Televisão e Telejornalismo – apresenta um percurso reflexivo sobre a relação entre sociedade, televisão e telejornalismo, que atualmente estão sendo reconfigurados, com base na adoção social das novas tecnologias digitais. Tal percurso fornece abordagens e contribuições para o debate sobre a produção da notícia televisiva em rede, auxiliando a compreensão de conceitos e abordagens relacionadas ao jornalismo de TV. Bem como argumenta no sentido de compreensão das duas primeiras questões norteadoras da

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tese, que consideram os telejornais de rede de início de noite, e o atual contexto, e as influências nas rotinas produtivas. Estas abordagens permitem, por meio de um percurso histórico, atender ao objetivo especifico de analisar as rotinas produtivas de notícias em sua configuração estrutural, produção e modos de distribuição, nas duas principais redes televisivas de capital privado, de TV aberta do Brasil.

O segundo capítulo – Jornalismo e Construção Social da Realidade – dedica-se a revisar as bases do jornalismo, para consolidar um repertório sobre as rotinas produtivas do telejornalismo, no atual contexto de convergência. As reflexões e abordagens apresentadas subsidiam elementos para as questões norteadoras da presente tese, que se referem ao produto final das redações, e a relação das estratégias de integração na percepção da qualidade das notícias. Tais reflexões reforçam o objetivo específico de analisar as rotinas produtivas de notícias em sua configuração estrutural, produção e modos de distribuição, nas redes televisivas.

O terceiro capítulo – O contexto tecnológico: Convergência e estratégia de integração – permite debater sobre reconfiguração das redações, canais digitais e redesenho das funções/flexibilização dos jornalistas, bem como a produção de um noticiário de TV multiplataforma; relacionados aos conceitos de integração e convergência. Tal debate fornece subsídios e argumentos para as questões norteadoras da tese, que envolvem os processos de convergência jornalística, por meio das estratégias de integração nas redações, com atenção as rotinas produtivas e discussões sobre: autonomia dos veículos, profissionais; divergência tecnológica; redução de custos e maximização de produção noticiosa. Assim, corrobora-se com os objetivos específicos, da presente tese, que: considera as bases teóricas do jornalismo e os estudos de comunicação e convergência, para compreender a hipótese, e identifica e sistematiza as discussões sobre pontos, tais como: autonomia e polivalência.

O quarto e último capítulo – Um olhar sobre os telejornais – apresenta as análises, o fazer nas redações dos telejornalismos brasileiros, por meio das Rotinas Produtivas Flexíveis, através do estudo de quatro redações das duas principais redes de comunicação televisiva do país: Jornal da Record (São Paulo) e Jornal da Clube (Recife) constituintes da Rede Record; e NETV 2ª edição (Olinda) e ABTV 2ª edição (Caruaru) com telejornais da Rede Globo; bem como a relação com os portais R7 (Record) e G1 (Globo), justapostos nas redes com proximidade de produção integrada horizontal e com um suporte de distribuição para além da TV. Desta forma, as análises corroboram com o objetivo de compreender as alterações nas rotinas de produção que referem-se as Rotinas Produtivas Flexíveis, em contexto de convergência no telejornalismo contemporâneo. Bem como apontam os subsídios para as

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questões norteadoras referentes à compreensão dos processos de convergência jornalística, e a influência nas rotinas produtivas, por meio da discussão sobre: autonomia dos veículos, profissionais, divergência tecnológica, modelo de sustentação, redução de custos, maximização de produção, orientação empresarial para produção integrada de notícias multiplataformas, e a percepção da qualidade da notícia produzida.

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2. SOCIEDADE, TELEVISÃO E TELEJORNALISMO

Neste primeiro capítulo, apresenta-se o percurso reflexivo sobre a relação entre sociedade, televisão e telejornalismo, desde a veiculação do primeiro telejornal no Brasil até as atuais reconfigurações, com base na adoção social das novas tecnologias digitais. Tal percurso situa o estado atual, corroborando com as perspectivas de fase de convergência e da qualidade digital e fase da portabilidade, mobilidade e interatividade digital da televisão brasileira de Mattos (2010) e fase da busca de novos modelos de telejornalismo de Rezende (2010). Deste modo, fornecem-se abordagens e contribuições para o debate sobre a produção da notícia televisiva em rede, auxiliando a compreensão de conceitos e abordagens relacionados ao jornalismo de TV, permitindo atender ao objetivo especifico de analisar as rotinas produtivas de notícias e modos de distribuição, nas duas principais redes televisivas do país.

No atual contexto, a adoção de veículos de comunicação estruturados em mídias digitais7, propicia alterações no público8 da TV, nas formas de obtenção de notícias na sociedade. Na perspectiva deste cenário é comum verificar informações sobre corrosão no atual modelo de sustentação econômica da TV, calcado na relação índices de audiência e verbas publicitárias. A Folha de São Paulo On-line publicou uma notícia sobre a redução gradativa da audiência nas principais redes de televisão do Brasil, entre os anos de 2012 e 2013: Rede Globo (-0,4 pontos com atuais 14,3 pontos); Rede Record (-0,1 pontos com atuais 6,1 pontos); Rede SBT (-0,3 pontos com atuais 5,3 pontos) e a Rede Band manteve 2,5 pontos nos dois anos (JIMENEZ, 2013). Em 2014, o Jornal Brasil 247 publicou que a maior perda de público entre os telejornais das quatro grandes redes televisivas no Brasil, ocorreu no Jornal Nacional, a audiência, que era de quase 50 pontos nos anos 1990, atualmente se mantem em 29 pontos de média; e na baixa, registra 25,4 (BRASIL247, 2014). As causas para migração de público para outros meios, em especial os meios de base digitais, residem em dois pontos:

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O termo mídia digital está relacionado à abordagem de Monovich (2011), em que os novos meios são reproduções digitais, que compartilham o mesmo código digital, que podem ser distribuídos diferenciados suportes de apresentação multimídia, com acesso aleatório (MANOVICH, 2011). Desta forma, os meios tradicionais podem ter o conceito e a função alterados, com a adoção e difusão social das mídias digitais. Em virtude dos novos meios de representação numérica, converte os meios em dados computacionais programáveis, diferentemente dos meios analógicos. (MANOVICH, 2011). Em que o atual cenário apresenta o digital como elemento de produção, que a adoção e difusão social das estruturas computacionais, transcendendo a etapa da cadeia produtiva da informação, adentrando aos processos/etapas de distribuição.

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a internet informa antes dos noticiários9 televisivos, e as alterações nos formatos dos telejornais, ainda estão muito próximas ao modelo implantado desde os anos 1970 (BRASIL247, 2014). A questão é que tal migração resvala na base do modelo de sustentação e desenvolvimento da televisão e os grupos de comunicação, em redes televisivas, na relação com a fonte primária.

No início da TV, a fonte primária de manutenção e desenvolvimento era o patrocinador que orientava a produção dos programas e as emissoras veiculavam. Com base nesta relação, os programas “eram identificados pelo nome do patrocinador. Em 1952, e por vários anos subsequentes, os telejornais tinham denominações como: Telenotícias Panair, Repórter Esso, Telejornal Bendix, Reportagem Ducal ou Telejornal Pirelli” (MATTOS, 2010, p. 75-76). No segundo momento, o Regime Militar pós-1964 contribui para um aumento dos investimentos publicitários e ao desenvolvimento do meio de comunicação televisivo, favorecendo uma migração da atuação das multinacionais, e o governo se tornou o maior anunciante individual, nos níveis federal, estadual e municipal (MATTOS, 2010). Desta forma, ao longo do percurso televisivo, alterou-se a fonte primária de financiamento, mas não o modelo de sustentação dos grupos de comunicação.

Neste sentido, é relevante perceber os desdobramentos tecnológicos da televisão na sociedade brasileira, como suporte de distribuição das práticas jornalísticas de TV10,

relacionadas ao modelo de sustentação econômico. Elementos estes, que fornecem abordagens para compreender as alterações, que reconfiguram as atuais rotinas produtivas dos telejornais. As atuais estratégias de reconfiguração podem dar novos sentidos ao tradicional, bem como evidenciar, renovar ou manter práticas consolidadas, em uma perspectiva conservadora de flexibilização da produção, distribuição e perfil profissional do fazer no jornalismo de TV contemporâneo, em rede televisiva.

Para identificar e compreender as mudanças na atual TV e do telejornalismo brasileiro, em Rotinas Produtivas Flexíveis, é preciso perceber também as influências dos distintos fatores culturais, econômicos e políticos, da histórica da adoção tecnológica11, que perpassam o meio televisivo e o noticiário desde 1950. Desta maneira, o debate permeia as influências que as NTIC’s produzem sobre a televisão tradicional, no que se refere à formação

9 Para a presente tese os termos: telejornal, jornal de TV e noticiário têm o mesmo sentido.

10 Para a presente tese os termos: telejornalismo, jornalístico de TV e jornalismo de TV têm o mesmo sentido.

11 O surgimento de uma tecnologia passa por várias etapas: a) inovação - um grupo social percebe a novidade; b)

invenção - o novo se configurando, em meio ao caos interpretativo de teorias, experimentos, protótipos e paradigmas; e c) adoção - o novo se estabiliza e pode ser levado ao mercado com maior ou menor êxito (SCOLARI, 2008). Estes três momentos (inovação, invenção e adoção) servem para poder determinar a difusão de uma nova tecnologia e sua relação social de adoção (SCOLARI, 2008).

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e ao desenvolvimento do meio original do telejornalismo, que atualmente se apresenta como renovada e revigorada, mediante a adaptação do meio e produtos, como o telejornal (HOHLFELD, 2010).

Para Williams (2011) e Gomes (2011), na perspectiva sócio-técnica12 a televisão é uma tecnologia e uma forma cultural, e o jornalismo é uma instituição social, de produção da notícia. O telejornal é um dos formatos mais importantes e um dos mais produtivos da televisão, em âmbito mundial (HOHLFED, 2010). Visto que este produto jornalístico é

uma construção social, no sentido de que se desenvolve numa formação econômica, social, cultural particular e cumpre funções fundamentais nessa formação. A concepção de que o jornalismo tem como função institucional tornar a informação publicamente disponível e de que o faz através das várias organizações jornalísticas é uma construção (GOMES, 2011, p.19).

Assim, as possibilidades tecnológicas não são determinantes para a prática jornalística, pois o jornalismo, como instituição social, não se configura somente a partir das possibilidades tecnológicas oferecidas, mas na correlação das possibilidades tecnológicas com as condições históricas, os agentes sociais, fatores econômicos e culturais, em que no Brasil a esfera política tem uma ativa presença no desenvolvimento e manutenção do suporte original do telejornalismo. Contudo, isso não permite configurar o jornalismo como algo imobilizado, frente a tais fatores, mas sim salientar e reforçar uma perspectiva de complexidade de aspectos sociais, culturais, econômicos, políticos e tecnológicos, presentes no fazer jornalístico brasileiro. Desta maneira, é prudente evidenciar as diferenças existentes entre as diversas sociedades, políticas, econômicas, culturais, tecnológicas e rotinas produtivas jornalísticas – do ponto de vista dos valores, convenções e processos (GOMES, 2011).

12 Para a presente tese a visão tecnologia, se dá na perspectiva sócio-técnica, defendida por Williams (2011).

Assim, tecnologia é mais que instrumentos é uma lógica que (re)configura sistemas, como os sistemas produtivos da notícia no telejornalismo, sua relação com a sociedade depende da adoção social da mesma. Desta maneira, os processos tecnológicos são constituídos por diferentes artefatos, que configuram sistema. As mídias digitais são adotadas ou usadas, e deste modo abrem possibilidades, mas não as determina, esta perspectiva dá um novo fôlego às práticas sociais e profissionais como agente deste processo – para Williams (2011), a sociedade e os agentes sociais podem controlar os efeitos dos processos tecnológicos – neste sentido, a relação sociedade e tecnologia é uma construção em movimento – passível de representações e perspectivas ideológicas. Com base na perspectiva de prática social, pode se considerar que a tecnologia é de algum modo um subproduto de um processo social determinado por outras circunstâncias e fatores, que só adquire sua condição efetiva quando utilizada com a finalidade que já estava relacionada aos processos sociais conhecidos, e tecnologias precedentes, configurando-se como lógica (WILLIAMS, 2011). Desta forma, a tecnologia, a adoção e os usos são uma questão de prática social, que coloca tecnologia como causa, sendo possível modificar ou controlar os efeitos da mesma (WILLIAMS, 2011).

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2.1 A TV E O JORNALISMO TELEVISIVO NASCEM JUNTOS

No Brasil, a TV e o noticiário televisivo surgiram juntos, em meio a um percurso marcado por propostas, rotinas de produção e distribuição das notícias, experimentos e apropriação de formatos e estilos de outros meios, na formação e consolidação no modelo de sustentação e desenvolvimento. Em 18 de setembro de 1950, a televisão brasileira ou “cinema a domicílio”, foi inaugurada oficialmente, em estúdios improvisados, instalados em São Paulo. A TV Tupi-Difusora (PRF-3) surge num período em que o rádio era o veículo de comunicação de maior relevância e credibilidade no país. Neste cenário, a TV brasileira teve o rádio como referência, utilizando inicialmente a lógica e estrutura de produção, formatos de conteúdos, além de artistas e profissionais do sistema radiofônico, e principalmente o modelo que o rádio se sustentava financeiramente. Nos primeiros momentos de difusão, a programação televisiva brasileira constituiu-se de algumas horas noturnas, de imagens em preto e branco.

Tais reflexões preliminares remontam a necessidade de compreender as referências do noticiário brasileiro, para perceber o processo de produção, perfil profissional e possibilidade de distribuição da notícia, bem como os desdobramentos sócio-tecnológicos e formação dos modelos de sustentação anteriores ao atual contexto de convergência jornalística. Assim, no dia seguinte à estreia da TV brasileira, foi ao ar o primeiro noticiário de TV - Imagens do Dia. O noticiário, lançado há 65 anos, em 19 de setembro de 1950, as rotinas produtivas e apresentação das notícias já apontavam o aspecto de polivalência funcional pela forma ainda experimental da fazer Televisivo. Desta maneira, era comum um mesmo profissional ser locutor, produtor e redator das notícias (PATERNOSTRO, 2006). Neste primeiro momento, os telejornais “eram produzidos precariamente e careciam de um nível mínimo de qualidade. A repercussão do programa na sociedade era pequena, pelo limitadíssimo número de pessoas que tinham acesso às imagens de TV” (REZENDE, 2010 p. 57).

A televisão brasileira, meio original de distribuição dos telejornais, no período inicial no Brasil, não existia nenhuma indústria do seguimento televisivo, o que implicava na importação de componentes e televisores, que custavam pouco menos que um carro, e somente membros da elite econômica tinham acesso aos televisores. Esta condição formou um sistema com apenas duzentos televisores para distribuição de conteúdos do telejornal (MATTOS, 2010). Um ano após o primeiro produto jornalístico de TV, os jornais televisivos passaram a ser batizados com o nome dos patrocinadores, como forma de sustentar economicamente os programas noticiosos no ar. Desta maneira, em 1952, a Tupi apresentou o

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Telejornal Panair, patrocinado por uma companhia de aviação. Entretanto, o Telenotícias

Panair, de curta veiculação, não teve impacto nos processos de produção das notícias

televisivas, que ainda eram próximos ao rádio. Para Mattos (2010), esta era a fase elitista da TV brasileira, e no âmbito do telejornalismo era a fase do jornalismo televisivo de influência radiofônica (REZENDE, 2010).

O Repórter Esso, patrocinado por uma distribuidora de combustível, da TV Tupi, São Paulo e Rio (1952 a 1970), “foi veiculado pela primeira vez no dia 1o de abril de 1952, permanecendo no ar até o dia 31 de dezembro de 1970, época em que os anunciantes passaram a comprar espaço entre os programas, em vez de patrocinar o programa como um todo” (MATTOS, 2010, p.90). O Repórter Esso era constituído por profissionais conhecidos do rádio, mas a produção jornalística começava a esboçar notícias com linguagem e narrativa mais televisiva, os textos objetivos, com o apresentador enquadrado no plano americano, e horário fixo: oito da noite (PATERNOSTRO, 2006). As primeiras notícias do noticiário televisivo eram estruturadas em imagens de filme preto e branco, quase que um radiojornal de TV. As imagens eram provenientes de agências de notícias americanas e “as notícias eram lidas pelos locutores no estúdio e havia pouquíssimas imagens para ilustrar as informações” (BISTANE; BACELLAR, 2005, p. 106). Neste período, da década de 50, ainda não existia o VT e o recurso do filme 8 mm era usado de forma escassa na produção noticiosa televisiva, o jornalismo “ao vivo” direto do estúdio era “parte extremamente representativa da produção das emissoras, no mínimo como alternativa simples e econômica” (REZENDE 2010 p. 57). Ao final da década, o desenvolvimento do sistema brasileiro de televisão já contava com dez emissoras em funcionamento, entre elas a TV Record, fundada em 1953, que viveu o período de ouro com os programas musicais e o sucesso dos festivais de música, chegando a ocupar a liderança da audiência no país (MATTOS, 2010)

Em 1960 chegaram os aparelhos em VT, as primeiras câmeras de

videoteipe tinham dois metros de altura, e as fitas, enormes, mediam duas polegadas de largura [...]. Por um bom tempo o uso ficou restrito aos estúdios e às gravações de shows e jogos de futebol. O filme 8 mm só foi definitivamente aposentado no início dos anos 1980 (BISTANE; BACELLAR, 2005, p. 106).

Desta maneira, até a introdução da tecnologia do videoteipe, a televisão brasileira só existia onde estavam erguidas as antenas de transmissão (PRIOLLI, 2003). Com o videoteipe a “veiculação de um mesmo programa em vários dias da semana criou o hábito de assistir televisão rotineiramente, prendendo a atenção do telespectador e substituindo o tipo de programação em voga até então, de caráter vertical, com programas diferentes todos os dias”

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(MATTOS, 2010, p.93). O videoteipe abre caminho para novas possibilidades de produção e distribuição do fazer jornalístico de TV, entre as cidades em que as emissoras operavam.

Com a adoção social de novos processos produtivos, o Jornal de Vanguarda13, TV Excelsior Rio (1962 até AI-5), inovou na rotina produtiva da notícia, por apresentar um jornalismo que abandonou o estilo radiofônico, e iniciou a fase de busca por uma linguagem própria, no telejornalismo brasileiro (REZENDE, 2010).

O Jornal de Vanguarda se constitui em outro marco significativo na história do telejornalismo brasileiro. Ele foi inovador por ter instituído a participação de jornalistas, a exemplo de Vilas Boas Corrêa, Newton Carlos e Cid Moreira, em programas televisivos. Na época, Cid Moreira era chamado de Sombrinha, porque juntamente com Célia Moreira e Luís Jatobá fazia a leitura em off de notícias veiculadas no programa. (MATTOS, 2010, p.93)

No noticiário Show de Notícias, TV Excelsior São Paulo, (1963 a 1964), as rotinas produtivas mantiveram a mesma linha inovadora do Jornal de Vanguarda. Na perspectiva dos fatores sociais e culturais, que relaciona a adoção e uso da TV brasileira, Bucci (2003) apresenta que a TV e seus produtos, “nos anos 60 e 70, tratavam-se de um imaginário nacional – e nacionalista” (BUCCI, 2003, p.9), mas tal nacionalismo era radicado na região “sudeste, mas exógeno, voltada para a Europa e os Estados Unidos, de onde acredita provirem todo o progresso e a civilização que a espécie humana pode almejar” (PRIOLLI, 2003, p. 15). O maior mercado de produção e distribuição, do conteúdo televisivo do Brasil, está ancorado, até os dias atuais, no Eixo Rio - São Paulo, desta maneira a indústria televisiva.

expandiu-se para todos os outros estados e vem produzindo um determinado imaginário – por meio, sobretudo, das telenovelas e dos noticiários – que se pretende nacional e que acaba sendo assim apreendido, com consequências profundas na política, na economia e nas relações sociais (PRIOLLI, 2003, p. 15).

A questão é que para colocar “uma emissora de televisão em funcionamento são necessários grandes investimentos. Além disso, o custo de manutenção também é alto. Hoje só quem tem essa capacidade são os grandes capitais ou o Estado” (VIZEU, 2005, p.32). Assim, o paradigma de radiodifusão no Brasil,

tradicionalmente privado, evoluiu para o que se pode chamar de um sistema misto, onde o Estado ocupa os vazios deixados pela livre iniciativa, operando canais destinados a programas educativos (MATTOS, 2010, p.24).

13

“O Jornal de Vanguarda, mesmo tendo sido premiado na Espanha como um dos melhores jornais de informação do mundo, não conseguiu sobreviver após o Golpe de 1964, quando foi retirado do ar. Seu modelo, contudo, foi copiado por várias outras emissoras”. (MATTOS, 2010, p.93)

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Desta forma, a TV brasileira foca nos índices de audiência, de alto custo operacional e regulado por uma legislação frágil,

O Código Brasileiro de Telecomunicações promulgado pela Lei 4.117, de 1962, inovou na conceituação jurídica das concessões de rádio e televisão, pois amenizou as sanções, e permitia garantias às concessionárias. Contudo continuou atribuindo ao Executivo o poder de julgar e decidir, unilateralmente, a aplicação de sanções ou a renovação de concessões (MATTOS, 2010, p.92).

Fatores estes que favoreceram a consolidação de monopólios, concentrando a mídia brasileira nas mãos de poucos grupos empresariais de comunicação.

Ao longo do desdobramento, as empresas que compõem a TV brasileira evitaram os erros e incorporaram os acertos das experiências das emissoras anteriores, como a pioneira Rede Tupi. Neste sentido, a Rede Globo importou um modelo de produção e sustentação que migrou da comercialização “à moda do rádio” criando patrocínios, vinhetas de passagem, e breaks, que ainda hoje são utilizadas (MATTOS, 2010). Neste período, também se inicia a busca da qualidade técnica dos programas como fator de diferenciação, denominado “Padrão Globo”, que ainda é presente na estrutura nos telejornais atuais, e porque até então existiam poucos noticiários, em virtude da instantaneidade do rádio. Com os desdobramentos tecnológicos nos processos de revelação de filmes e a mobilidade das câmeras sonoras foram abrindo caminhos centrados na qualidade e otimização (MATTOS, 2010). Assim, entre 1972 e 1977, a Rede Globo completou a migração para a TV colorida de 100% da produção e transmissão (TOURINHO, 2009).

2.2 FORMAÇÃO DAS ESTRUTURAS DAS REDES TELEVISIVAS

Ao longo da história do jornalismo de TV brasileira a adoção tecnológica, modernização da produção nas redações, alterações das práticas profissionais, ampliação da distribuição e interferências políticas, condicionaram avanços e recuos (VIZEU et al. 2009). No dia 1o de setembro de 1969, a TV Globo, às 19h56, colocou no ar o Jornal Nacional,

primeiro programa de jornalismo de TV produzido e apresentado nas três principais cidades brasileiras (Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo), e transmitido ao vivo para o Brasil (VIZEU

et al., 2009). O Jornal Nacional –

primeiro noticiário em rede nacional da televisão brasileira, gerado no Rio de Janeiro, sede da TV Globo, para as suas emissoras em vários pontos do país, ao

Referências

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