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Esta tese se apresenta no momento em que os processos de convergência jornalística se encontram em um interstício de assimilação do digital, nos 65 anos de telejornalismo no Brasil. Neste sentido, ao longo dos desdobramentos tecnológicos da televisão na sociedade brasileira, como suporte primário de distribuição das práticas jornalísticas de TV, relacionadas ao modelo de sustentação econômico que conciliou rentabilidade e credibilidade, favoreceram as atuais estratégias de reconfiguração dando novos sentidos as tradicionais rotinas produtivas, em uma tendência conservadora de flexibilização, dentro dos modos de produção, distribuição e perfil profissional do fazer no jornalismo de TV contemporâneo. Neste cenário, residem os esforços empreendidos para a construção de um referencial teórico que permitiram cumprir os objetivos traçados e confirmar a hipótese, bem como responder as questões norteadoras de forma articulada com o estudo empírico realizado nos quatro telejornais analisados das duas principais redes televisiva do país, levando a identificação a

Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis, no atual contexto de convergência jornalística.

A mesma afirma que: nos primeiros quinze anos deste século, as rotinas produtivas

noticiosas vêm se reconfigurando por meio de canais digitais de integração verticais nas redações dos telejornais de início de noite, em redes televisivas. Em que o fazer jornalístico é realizado por profissionais polivalentes multimídia e distribuído de modo multiplataforma, entre meios televisivos e digitais, flexibilizando como tendência o modelo de produção dos anos 70, na perspectiva conservadora de uma produção convergente. Tal enfoque amplia a abordagem de modelo de integração horizontal física apontada por alguns autores, tais como López-García e Fariña (2010); Salaverría (2010); Jenkins (2010); Corbière (2010); bem como fornece precisão as fases da TV de Mattos (2010) e do telejornalismo de Rezende (2010).

Neste sentido, a confirmação da hipótese ocorreu pela compreensão de que no atual estágio do telejornalismo contemporâneo em rede de início de noite, em que se inserem a adoção tecnológica e estratégias de integração no atual contexto de convergência jornalística. O atual estágio flexível nas rotinas se evidencia pelo tencionamento entre o modelo consolidado na década de 70, que não foi plenamente abandonado nas atuais rotinas produtivas, nem ocorreu a adoção de um novo modelo convergente, embora se evidenciem alguns experimentos e práticas que apontem para a convergência, como a integração horizontal entre os meios digitais e a mídia televisiva. Esta configuração que concentra traços do fazer da década de 70 e sinais que apontam para a convergência reforça o estado flexível

das rotinas produtivas no telejornalismo contemporâneo. A perspectiva conservadora das

Rotinas Produtivas Flexíveis dar-se pela busca, pelos grupos de comunicação, que formam

as redes televisivas, de um modelo de sustentação e produção, que configura as mídias digitais na lógica dos meios tradicionais, como compensação das perdas de público e receitas publicitárias por meio da redução de custos operacionais e maximização da produção, em detrimento ao papel dos telejornais nas sociedades liberais democráticas, de construção social da realidade, informando com credibilidade em uma relação de confiança os acontecimentos cotidianos por meio das notícias. Rotinas estas que são caracterizadas pela: a) a integração vertical das redações, por canais digitais de uma mesma rede televisiva; b) distribuição de notícias multiplataformas entre suporte televisivo e mídias digitais, e c) realizadas por profissionais polivalentes multimídia.

Outros tipos de rotinas produtivas face a convergência – no percurso de elaboração

da tese, ainda foi percebido outros tipos de rotinas produtivas nos telejornais em rede de início de noite. Foram possíveis de ser consideradas na caraterização do fazer nas redações do telejornalismo contemporâneo, em dois polos que cercam as Rotinas Produtivas Flexíveis, que contempla o modelo produtivo corrente consolidado nos anos 70 e o modelo convergente:

a) Rotinas produtivas resistentes – As rotinas produtivas se caracterizam como resistentes quando a integração ocorre apenas no ambiente de trabalho, nas redações. Assim, a integração é meramente física, em que as redações estão concentradas em um mesmo espaço físico, mas a produção e distribuição são independentes dos demais meios, ficando a produção orientada para um meio específico. Neste tipo de rotina produtiva, as atividades estão mais ancoradas na lógica produtiva consolidada nos anos 70, para cada meio um tipo específico de rotina, notícia e profissional.

b) Rotinas produtivas convergentes – A produção é centrada na integração horizontal de meios diversos e a distribuição é multiplataforma de caráter amplo, envolvendo TV, rádio, impresso e mídias digitais. No que se refere ao fazer jornalístico, o mesmo sofre adaptações conforme a veiculação de meios, ou seja, polivalência de midiática. Nestas rotinas produtivas, as notícias e profissionais assumem os formatos e atribuições dos distintos veículos de distribuição de conteúdos, entre os meios integrados horizontalmente. Assim, na rotina produtiva convergente dilui a ideia de rotinas produtivas veiculadas a um determinado veículo jornalístico ou suporte específico.

A manutenção da flexibilidade e a colaboração com outros autores – Os grupos de

comunicação, em rede televisiva, buscam modelos confiáveis para implantarem novos processos tecnológicos. Contudo, esta busca não é uma urgência, principalmente pelo fato dos

atuais números de quantitativo de público dos principais telejornais da rede, ainda serem aceitáveis dentro dos índices televisivos, em que 79% dos brasileiros assistem TV para ver notícias (BRASIL, 2014b). Embora o quantitativo de público, base do atual modelo de sustentação ainda sejam aceitáveis, os grupos de comunicação, na adoção das mídias digitais, não podem continuar a operar na mesma lógica dos meios tradicionais, pois estão reduzindo o quantitativo do público jovem, elemento de renovação do público. As barreiras para avançar do modelo flexível para o modelo convergente estão concentradas em dois fatores: a) números ainda favoráveis e b) ausência de modelo confiável convergente, que equacione produção noticiosa qualificada (credibilidade) e anseios empresariais (rentabilidade).

O tensionamento do modelo produtivo dos anos 70, na direção de um modelo convergente, pontuado pelas duas barreiras apresentadas, fornece precisão as fases da TV e do telejornalismo no Brasil de Mattos (2010) e Rezende (2010), colaborando com os apontamentos de Fase de convergência e da qualidade digital e Fase da portabilidade, mobilidade e interatividade digital de Mattos (2010) e Fase da busca de novos modelos de telejornalismo de Rezende (2010). Na perspectiva de ampliação e balizamento das abordagens dos autores: López-García e Fariña (2010); Salaverría (2010); Jenkins (2010); e Corbière (2010). Para López-García e Fariña (2010) o cenário aponta para um futuro convergente dos meios de comunicação, embora o processo ainda não seja preciso e estruturado. Dentro das estratégias empresariais, os grupos de comunicação acreditam estar no caminho da convergência, reforçando a tendência de fusão ou integração das redações (SALAVERRÍA, 2010). Em que a integração das redações em um espaço comum é a marca de uma transformação “inexorável” para as empresas que desejam se manter (CORBIÈRE, 2010). Neste sentido, estabelece a perspectiva para atingir o modelo de convergência jornalística proposto por Salaverría et al. (2010) no telejornalismo de rede de início de noite, o processo não ocorre de uma forma direta. Este posicionamento que reforça o estado flexível, de tencionamento entre os modelos produtivos, reflete a percepção de implantação da convergência apontada por Jenkins (2008), em que o processo envolve uma série contínua de interstícios. Este interstício assimilatório não é privilegio da convergência, mas parece ser uma característica das adoções tecnológicas em relação às rotinas produtivas, como no início da TV.

Síntese das respostas as questões norteadoras da pesquisa - A primeira questão

norteadora refere-se aos processos de convergência jornalística, por meio das estratégias de integração nas redações dos telejornais de rede de início de noite: o processo encontra-se em um estágio de flexibilização, que concentra traços do fazer da década de 70 e sinais que

apontam para a convergência. Neste interstício de reconfiguração dos meios tradicionais, com a adoção das mídias digitais, ocorre a busca de um modelo de sustentação econômica, dos grupos de comunicação, em perspectiva de caráter conservador, que se evidencia as Rotinas

Produtivas Flexíveis. A tendência de manutenção deste processo migratório, para um modelo

convergente sustentável, reside na ausência de um processo de convergência seguro que equacione a sustentação e desenvolvimento dos grupos de comunicação, com um produto noticioso que informe com credibilidade ao público. Como perspectivas, a justaposição entre meio televisivos e meio digitais, abre-se um caminho de possibilidades positivas, embora o processo de convergência seja conservador centrado na manutenção e ampliação das audiências.

Considerando a segunda questão norteadora, que aponta as influências na produção: A interferência na produção do atual modelo de Rotinas Produtivas Flexíveis, em que se evidencia, que os canais digitais de integração são elementos viabilizadores para os grupos de comunicação, ocorre sobre os conteúdos produzidos que podem alimentar os telejornais de uma determinada rede de comunicação e que são componentes centrais para estruturação e fortalecimento: a produção, abrangência e velocidade dos processos das redações cada vez mais integradas, e operando, segundo a lógica que pode se aproximar do modelo de jornalismo convergente, principalmente pela proximidade, muitas vezes físicas entre os portais e as redações dos telejornais, permitindo uma distribuição multiplataforma do que é produzido para o jornal, por perfis profissionais naturalizados de polivalência multimídia.

Na terceira questão norteadora, no que se refere às estratégias de integração de uma mesma rede televisiva, o reflexo na: autonomia dos veículos e profissionais e divergência tecnológica. De forma contraditória, as integrações, no atual contexto de convergência, preservam a heterogeneidade de perspectivas e autonomia dos veículos nas redações. Em virtude dos compromissos dos veículos com a credibilidade do que é veiculado, e da característica do próprio jornalista de ser plural na composição das redações. Assim, a preservação das diferenças nos enfoques na construção das reportagens, inibem a homogeneização e a redução da autonomia. Desta forma, dentro das contradições do capitalismo, a divisão física de uma mesma redação abre espaço para a divergência. E contraditoriamente as divergências dos meios preserva a autonomia na relação entre eles. Com base na integração ampla dos meios, a pesquisa deu sinais que o quantitativo de meios envolvendo a integração, esta diretamente proporcional à divergência, assim quanto mais meios integrados, maior é a divergência e a dificuldade de manutenção do processo de convergência.

Na quarta questão é apontada a orientação empresarial de produção integrada de notícias multiplataformas realizadas por jornalistas polivalentes, nas redes televisivas: A distribuição multiplataforma das notícias no fazer telejornalístico, é uma tendência. Com a adoção das mídias digitais, os grupos de comunicação que formam as redes televisivas estão disponibilizando os conteúdos dos telejornais nos portais. Com a orientação da produção de notícias adequadas a diversos veículos, reforça-se a necessidade do jornalista multiplataforma. Os fatores que configuram a polivalência jornalística não são casuais e nem naturais, pois como um processo de mudança sistêmica, a polivalência não está dissociada de um conjunto de forças e tendências. Os meios estruturados em mídias digitais possuem uma capacidade de aglutinar os diversos formatos, como os analógicos tradicionais, que em geral não ampliam as formas expressivas nesta recombinação/junção. No atual processo de convergência multiplicam-se as novas plataformas e formatos que estão diretamente relacionados às condições de exercício da profissão jornalística.

Na quinta questão é abordada a relação entre as integrações e anseios empresariais de reduzir custos, manter e ampliar a produção noticiosa dos veículos integrados. Desta maneira, a tendência do processo com a desconfiança de redução de custo e maximização da produção, colaborando com o argumento de que os grupos de comunicação tentam reverter o fluxo migratório de audiência dos meios tradicionais para os digitais colocam as redações integradas como estratégias para atender a demanda com o menor custo de produção, como compensação das perdas de audiências e receitas publicitárias, base do atual modelo de sustentação. Entretanto, a busca por redução de custos e a maximização da produção, com base na relação de confiança e credibilidade entre telejornal e telespectador. O suposto lucro, pode se revelar como perda de audiência, se a redução de custo afetar negativamente a qualidade das reportagens.

A última questão norteadora aponta para o produto final das redações, como as estratégias de integração interferem na percepção da qualidade das notícias, a qual se refere à credibilidade, na relação de confiança com o telespectador: o atual contexto de convergência jornalística também coloca desafios para manter a qualidade nas rotinas produtivas e a apuração dos acontecimentos relevantes, que serão transformados em notícias. Esta manutenção da credibilidade está diretamente relacionada ao profissional de jornalismo, nas rotinas produtivas, que perpassa a relação com as fontes e apuração, sem deixar de lado a visão crítica no atual contexto de convergência. Assim, recai sobre os valores e o compromisso ético dos profissionais que formam as equipes do telejornal, na busca pela

informação correta e apuração. Visto que a qualidade das noticias na percepção do público respalda a credibilidade do telejornal.

No sentido dos achados é preciso viabilizar espaços e processos para a perspectiva do fazer no telejornalismo, que considera o jornalismo como um dos fatores da construção do espaço público, na construção da realidade social com credibilidade. Enfoque que é reforçado nos telejornais que na configuração dos meios, apresentam-se como principal fonte de informação noticiosa, nas atuais sociedades liberais democráticas, constitui-se como lugar de referência para população, como principal fonte de informação com credibilidade. Esta abordagem é fundamental para ampliar e manter a função primária da informação com credibilidade em uma relação de confiança dos telejornais, nos 65 anos de veiculação, por meio de noticias, no atual contexto de convergência. Assim, para garantir que o processo de convergência se paute em objetivos renovadores, é necessário o papel ativo dos jornalistas, visto que a estrutura tecnológica é uma causa, dentro da abordagem sócio-tecnica. Neste sentido, é possível alterar os rumos dos processos convergentes que caminham para uma perspectiva conservadora, que ofusca o papel do jornalista na implantação dos processos de convergência.

Desdobramentos – Esta pesquisa doutoral não se limita aos quatro anos no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. O percurso

na companhia dos livros e dados coletados pelo trânsito em eventos e contatos com pesquisadores da área reforçam a necessidade de construir uma pauta de pesquisa no Grupo

de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade (PPGCOM/UFPE) na perspectiva da

convergência do jornalismo, dentro de uma abordagem sócio-tecnica, como elemento colaborador da construção social da realidade, para que os achados relevantes para área e para sociedade possam ser analisados e aprofundados com o devido rigor, bem como os que não encontraram guarida na presente tese. Assim, as pesquisas futuras se debruçaram na ampliação da aplicação da Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis, e desdobramentos no fazer do telejornalismo contemporâneo, calcado na suspeita de que em perspectiva a efetivação dos processos produtivos da convergência caminha na forma conservadora. Desta forma, desafiam-se as futuras pesquisas a identificar, por meio de grupo de pesquisa ligado a programas de pós-graduação quais as características destas rotinas produtivas convergentes. Bem como a contínua disseminação dos achados para a academia e para a sociedade por meio de participação em eventos, lecionamento, publicação em periódicos da área e publicação de livros.