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5. UM OLHAR SOBRE OS TELEJORNAIS

5.2 AS DINÂMICAS E CONFIGURAÇÕES DAS REDAÇÕES

5.2.1 Dinâmicas e configurações na Rede Record

Na Rede Record, considerando a tabela 03, no que se refere à configuração de meios, que compõem os grupos de comunicação, que formam a Rede Record de Televisão.

Grupo Record/Jornal da Record – [dias 22, 23, 24 de janeiro de 2014] Na sede da Rede Record, a configuração do espaço abriga como estrutura jornalística, no que se refere a esta pesquisa: o Jornal da Record, o Jornal da Record News e o R7. Os três veículos possuem espaços de redações próprias em locais plenamente separados, que não impedem a colaboração na produção noticiosa. Nas rotinas produtivas na redação do Jornal da Record ocorrem duas reuniões significativas: a reunião de fechamento de espelho do telejornal do dia, e a reunião de pauta do jornal do dia seguinte. As reuniões ocorrem em salas próprias para esta finalidade, às 14 h e 14h30 respectivamente, do dia 24 de janeiro de 2014, com a participação de editores e produtores, em que se percebe o uso de ferramentas digitais, como os smartphones para verificação de informações. Nestas reuniões são feitas as orientações de produção, a definição dos temas, e como os mesmos devem ser abordados, contato com as praças (filial) e afiliadas, para fechamento ou orientação de produção de sonoras e imagens.

Na reunião de espelho é feita uma leitura de todas as retrancas que vão compor o telejornal naqueles dias. Em média, O jornal da Record possui 44 minutos, composto por retrancas de mais ou menos um minuto cada. Em geral, o espelho tem 40 retrancas em média

– neste dia, até o momento da reunião havia 35, podendo ainda algumas caírem e novas retrancas chegarem, pela relação de ofertas e demanda com a filial e afiliadas, com o deadline do início do telejornal, reforçando o compromisso da estrutura de rede na relação emissora afiliada (PRIOLLI, 2003).

Durante a passagem das retrancas são feitos comentários e ajustes que podem gerar uma solicitação de demanda nas praças, como complementação de imagem ou sonoras, para construção das notícias, considerando que para parte da população os noticiários ainda são a única referência de atualizar e perceber o cotidiano (CURADO, 2002). Algumas retrancas acabam se destacando como o caso da Operação Braços Abertos – na Cracolândia em São Paulo, que deveria ser uma desocupação pacífica, acabou em conflito com a polícia – sobre este tema, os participantes apresentaram informações para compor a contextualização da reportagem. Embora os profissionais presentes tivessem ampla informação do ocorrido, as imagens do acontecimento eram de outro grupo de comunicação, o Grupo Folha, e que nestes casos, envolve uma série de tramites e restrições de uso das imagens. Outra retranca é um caso de um assassinato ofertado pela praça de Belo Horizonte (filial). O acontecimento envolvia uma matéria já veiculada no Jornal da Record, e que os participantes apontaram como válido manter o acompanhamento das repercussões e desdobramento do caso, pois neste dia ocorreria a apresentação do assassino. Contudo, era necessário fazer o contato com a praça para verificar as condições e quantitativo das imagens. Outro destaque nas retrancas foi o caso de um atropelamento ocorrido em Belém, e que a motorista infratora já tinha sido presa pelo menos quatro vezes, para finalizar o VT era necessário comprar as imagens do atropelamento.

Na reunião de Pauta para o sábado e estimativa da segunda, visto que o sábado e a segunda tem uma rotina diferenciada, em função das equipes que fazem o plantão do fim de semana na redação do telejornal. Nesta reunião realizada com os produtores, logo depois da reunião de fechamento de espelho, a produção aponta que no sábado chegariam os VTs dos protestos contra a Copa do Mundo de 2014, pelo Brasil. Nesta pauta, é colocado o fato de que 20 mil pessoas confirmaram em redes sociais que estariam presentes no MASP, às 15 horas – pela dificuldade de horário e pelas equipes reduzidas no plantão do fim de semana – foi citado que muitas vezes os acontecimentos desafiam as rotinas produtivas dos telejornais. E neste sentido, é colocada a questão da estrutura disponível: – amanhã só teremos dois repórteres – e frente ao desafio de como otimizar a captação e cobertura com dois repórteres em São Paulo, foram apresentadas algumas propostas – parta otimizar a cobertura do aniversário da cidade e outros acontecimentos nos locais em que ocorreram, na perspectiva de como e em

que momento seriam feitos os VTs. Neste momento, são recordados situações de experiências positivas e negativas de concorrentes e produções internas à rede. Assim, como pautar os repórteres? – e quais os possíveis temas da segunda feira. A reunião foi finalizada com as propostas de rotina produtiva para os dois dias.

No ambiente da redação, durantes os dias 22, 23, 24 de janeiro, sempre no período da tarde e início da noite, foram observados a existência de televisores para monitoramento das programações de outras TVs, como CNN. Bem como os aspectos peculiares à composição do espelho do Jornal da Record que possui um número considerável de retrancas ofertadas pelas praças e afiliadas, como a TV Clube, que possui um núcleo de rede ligado ao telejornalismo local, para garantir a linha editorial dos conteúdos produzidos nas afiliadas. Percebe-se ainda, que a estrutura física é separada por telejornais, embora exista um compartilhamento do espaço físico, redação e estúdio entre o Jornal da Record e o Jornal Fala Brasil, mas em horários e com equipes diferenciados. O Portal R7 também é organizado de forma separada dos outros veículos. Em São Paulo, o Grupo Record possui dois meios: o televisivo e o digital, Portal R7. Entretanto, existe uma tendência experimental entre as produções da RecordNews e o R7 em que o grau de colaboração parece apontar para configurar este experimento como o projeto modelo de convergência do Grupo Record.

Grupo Diários Associados/Jornal da Clube – [dias 28 de agosto de 2014] No grupo de comunicação em que o Jornal da Clube pertence, a configuração do espaço abriga como estrutura jornalística, no que se refere a esta pesquisa, o Jornal da Clube, a Rádio Globo, Pernambuco.com (mídia digital), Diário de Pernambuco (impresso). Os quatro veículos possuem redações próprias em locais plenamente separados, mas que não inibem as colaborações entre os veículos, especialmente entre o portal Pernambuco.com e o telejornalismo. Na reunião de pauta ocorrida em 28 de agosto de 2014, ao meio dia, nem a editora-chefe, nem uma das apresentadoras participam. Contudo, os resultados e apontamentos da reunião são compartilhados após a chegada das mesmas. O editor e apresentador do Jornal da Clube se encarrega de transmitir à editora–chefe do telejornal e a apresentadora o que se refere as atividades e acontecimentos de forma cooperativa, para a montagem do espelho. Assim, não existe uma reunião formal de fechamento de espelho, o fechamento ocorre durante o processo produtivo na própria redação.

Durante o trabalho de produção, na observação do período da tarde do dia 28 de agosto, é muito comum encontrar profissionais do portal Pernambuco.com compartilhando imagens de vídeo com a redação do telejornal. Na redação é possível ver monitores de TV

acompanhando a programação da emissora e das concorrentes, com o objetivo de avaliarem a própria cobertura e os acontecimentos mais relevantes do dia. Uma peculiaridade é que o Grupo Diários Associados de Pernambuco possui a Rádio Globo e uma TV afiliada da Rede Record de Televisão. Percebe-se que a TV não tem muita proximidade com a rádio, mesmo pertencendo ao mesmo grupo de comunicação, em virtude da linha editoria e linguagem serem de afiliações distintas. A tendência de convergência e integração horizontal no Grupo Diário Associados está mais ligada ao impresso e o portal Pernambuco.com, na perspectiva de convergência a dois de Salaverría (2008), em que se observa que o grau de colaboração parece apontar para o projeto experimental de integração, o que permite que tanto a rádio como a TV estejam mais ligado aos portais das redes que são afiliadas. No que se refere às dimensões de organização dos grupos pertencentes a uma rede televisiva e a produção e cultura profissional, é a particularidade da relação com o programa Cardinot Aqui na Clube, que produz imagens da editoria policial, a qual alimenta o Jornal da Clube, e em determinados casos segue para os telejornais da rede. O ponto é que mesmo pertencendo a um mesmo grupo de comunicação, nem sempre as relações são proativas, o que gera um desafio para as rotinas produtivas do jornalismo local e para o núcleo de produção de rede, evidenciando que as estratégias de integração estão para além da lógica da tecnologia ou dos aspectos econômicos, e mais próxima a cultura profissional e organização dos grupos de comunicação, em uma perspectiva de adoção social das mesmas, em uma tendência que remonta ao início das operações digitais nas redes televisivas brasileiras, em que os conteúdos da TV são apenas adotados para os portais (LOPEZ, 2009).