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(1) Ha muita cadeira na sala. (2) Tres cafes por favor.

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Academic year: 2021

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ABSTRACT: Following the tradition of English grammar, some authors have distinguished between count and non-count nouns in Portuguese. The present paper resumes this discussion and develops the hypothesis that contemporary Brazilian Portuguese does not have count nouns, but only non-count nouns and nouns that are neutral in relation to countability.

CAMACHO & PEZATTI, em urn artigo dedicado it natureza da propriedade [±contavel] dos substantivos do portugues brasileiro falado (1996), observam diversos fatores que sugerem diferen~as entre 0 Ingles e 0 portugues em rela~ao a essa propriedade. Mesmo assim, mantem, em principio, a distin~ao entre duas classes de substantivos: conmveis e nao-contaveis. A combina~ao de substantivos com certos quantificadores pode levar a recategoriza~oes (ib.: 161), p.ex.,Iiconversao de conmveis em nao-conmveis, como em (1), ou de nao-contaveis em contaveis, como em (2): (1) Ha muita cadeira na sala.

(2) Tres cafes por favor.

Por contabilidade de substantivos entende-se uma caracteristica gramatical de fundamenta~ao ontologica (cf. QUIRK et al. 1985: 246). Sabemos que existem entidades individuadas, como cadeiras, e entidades massivas, como cafe. Se dividirmos urna cadeira em duas partes, ambas deixarao de ser cadeiras e, se juntarmos duas cadeiras, 0 resultado nao sera uma cadeira. Se, ao contrlirio, dividirmos uma determinada quantidade de cafe em duas partes, ambas continuarao sendo cafe e, se juntarmos duas quantidades de cafe, 0resultado sera tambem cafe. Em principio, os substantivos designadores de entidades individuadas sao conmveis e os designadores de entidades massivas sao nao-conmveis. 0 problema e que as categorias gramaticais nem sempre sao congruentes com a realidade extra-linguistica.

No presente artigo, pretendemos retomar a discussao sobre a contabilidade de substantivos da lingua portuguesa. Primeiramente, discutiremos 0 comportamento distribucional de quantificadores nominais. Em seguida, desenvolveremos urn modelo composicional da propriedade [±conmvel] no sintagma nominal do portugues brasileiro.

(2)

Entre os elementos adnominais tradicionalmente denominados quantificadores encontram-se cada e tOdD, os quais chamaremos de totalizadores nominais (cf. BLUHDORN &NOMURA 1999). 0 totalizador distributivocada pode ser combinado com substantivos que denotam massas (3.a) e com substantivos que denotam individuos no singular (3.b), mas nao com substantivos no plural (3.c):

cada agua, cada pao, cada esperan~a cada estudante, cada familia, cada festa *cada estudantes, *cada familias, *cada festas

Em combina~oes de cada com substantivos de massa, faz-se necessaria a interpreta~ao da entidade designada como individuo.

o

totalizadortodo apresenta a mesma distribui~ao formal: toda agua, todo pao, toda esperan~a

todo estudante, toda familia, toda festa

*todos estudantes, *todas familias, *todas festas

Mas, diferentemente decada, todo nao e~ige a interpreta~ao de substantivos de massa (4.a) como individuativos. Ao contrario, parece sugerir urna interpreta~ao de substantivos individuativos (4.b) como designadores de massas.

Em combina~ao com 0artigo definido,todo e compativel com substantivos de massa (5.a) e individuativos (5.b), inclusive no plural (5.c):

toda a agua, todo0pao, toda a esperan~a todo0estudante, toda a familia, toda a festa

todos os estudantes, todas as familias, todas as festas

(i)TodDem frente a urn substantivo no singular, sem artigo, totaliza urna massa nao~identificada. Essa constru~ao nao indica individua~ao. Com freqiiencia, e combinada com predicados genericos:

. (6) Todo gada da came. (gado em geral)

(7) Todo cachorro gosta de latir. (cachorro em geral)

(ii) TodDem frente a urn substantivo no singular, com artigo definido, pode totalizar uma massa ou urn individuo identificados. Neste uso, devemos ter urn predicado individual (nao-generico):

(8) Toda a agua estava turva. (a quantidade identificada inteira)

(3)

(iii) Todo em frente a um substantivo no plural com artigo definido totaliza um grupo de individuos identificados. Neste caso,0predicado pode ser coletivo, como em (10) e (11) ou distributivo, como em (12) e (13):

(10) Todas as cervejas estao guardadas no porno. (todas juntas) (11) Todos os cachorros fizeram urna fila. (todosjuntos)

(12) Todas as aguas que eu bebi estavam quentes. (cada urna individualmente) (13) Todos os cachorros comeram sua ra~llo.(cada urn individualmente)

Em combina~oes de todos os com substantivos de massa, como agua, as entidade designadas devem ser interpretadas como individuos, p.ex., unidades de medil;:aoou subtipos. Nesse caso, todos os comporta-se como cada.

Entre os constituintes de sintagmas nominais, podemos observar que quantificadores de medi~ao (cf. ESCHENBACH 1995: 48 ss.), como muito, pouco, tanto, etc., comportam-se no singular como todo e no plural, como todo0,Le., podem

ser combinados com substantivos de massa (14.a), substantivos individuativos (14.b) e substantivos no plural (14.c). Substantivos individuativos no singular devem ser interpretados nessa constru~ao como massivos:

muita agua, muito pao, muita esperan~a muito estudante, muita familia, muita festa muitos estudantes, muitas familias, muitas festas

Neste item, desenvolveremos a hip6tese de que a contabilidade nllo e simplesmente urna propriedade lexical do substantivo, transferida ao sintagma nominal, mas urna propriedade composicional do sintagma, formada com base nos valores de contabilidade de seus diversos constituintes. A observa~ao crucial para essa hip6tese em rela~llo it lingua portuguesa e 0 fato de que 0 totalizador coletivo todo e os quantificadores de medi~ao possuem liberdade de combina~ao com substantivos individuativos:

(15) Um dia, todo carro quebra.

(16) Em Sao Paulo, tem muito carro andando na rua.

Na perspectiva inversa, os substantivos individuativos, como carro, podem ser combinados com qualquer tipo de quantificador,0que sugere que eles sejam neutros em rela~aoitcontabilidade. Atribuimos, portanto, a eles a marca [±contavel].

Substantivos como gado, por outro lado, podem ser livremente combinados com quantificadores de mediyao, mas nao com quantificadores de contagem. Tambem nao formam0plural. Esses tem, portanto,0valor [-contavel]:

(4)

Quando urn substantivo com 0 valor [4:ontavel] forma 0 plural e/ou

c

combinado com urn quantificador de contagem,

e

obrigatoriamente reinterpretado como designador de individuo(s) (unidade(s) de medicao ou subtipo(s». Nesse caso, 0 substantivo adquire 0valor [±contlivel]:

o

plural como categoria gramatical exige a interpretacao do substantivo como individuativo e possui,portanto, 0valor [+contavel].1

Para analisar melhor a composicao da contabilidade no sintagma nominal, dividiremos 0 sintagma em dois dominios: 0 dominio do substantivo (dominio N) e 0 dos demais constituintes (dominio extra-N)o Dentro do dominio N, urn substantivo [-contavel] pode ser antecedldo por urn substantivo [±[-contavel] que designa uma unidade de medicao:

o

primeiro desses substantivos atribui seu valor [±contavel]

a

combinacao como urn todo, 0que fica nitido na combinabilidade do conjunto com quantificadores:

o

plural como categoria gramatical atribui ao dominio N inteiro 0 valor [+contavel]:

Em suma, podemos distinguir tres possiveis componentes do dominio N que contribuem para a composicao do seu valor de contabilidade:

• substantivos com 0valor [4:ontlivel], • substantivos com 0valor [±contavel] e • 0plural, com 0valor [+contavel].

IEsse ndo

e

0caso dosplura/ia tantum como cHimes, nupcias, trevas, tripas etc. Nesses substantivos, 0plural ndo tern valor proprio de contabilidade, poiseuma forma lexicalizada, sem oposi~o ao singular.

(5)

No dominio extra-N, temos os totalizadores nominais, os quantificadores de contagem e de medicao e os determinantes.

Ja vimos que 0 totalizador distributivo cada exige a interpretacao do substantivo como individuativo. Seu valor de contabilidade deve, portanto, ser [+contavel]. Todo exige a interpretacao do substantivo como massivo. Seu valor de contabilidade e [-contavel]. Todo0e composto de todo, com0valor [-contavel], e do artigo definido. 0 artigo pode ser combinado com qualquer tipo de substantivo sem exigir interpretacoes particulares em relacao it individuacao. Ele deve, portanto, ser [±contavel]. Seu valor de contabilidade e atribuido ao conjunto todo o. Todos os integra ainda0plural, com0valor [+contlivel],e adquire esse valor.

Os quantificadores de contagem (numerais), como um, tres, vinte etc., sao marcados com 0 valor [+contavel]. Assim como cada, exigem uma interpretacao individuativa dos substantivos com que se combinam. No caso de combinacoes com substantivos [-contavel], 0 resultado sera a reinterpretacao do substantivo como [±contavel], designador de uma unidade de medicao ou de um subtipo.

Os quantificadores de medicao, como muito, tanto, quanto, bastante etc., tem0 valor [-contavel], por exigirem uma interpretacao massiva do substantivo. Eles podem tambem ocorrer no plural: muitos, tantos, quantos, bastantes etc. Neste caso, sao numerais relativos e adotam0valor [+contavel] do plural.

Em suma, distinguimos entre cinco possiveis componentes do dominio

extra-• os totalizadores cada, com0valor [+contavel], e todo, com0valor [-contavel], • os quantificadores de contagem, com0valor [+contavel],

• os quantificadores de medicao, com0valor [-contavel], • os artigos, com0valor [±contavel] e

• 0plural, com0valor [+contavel].

Enquanto os valores de contabilidade dentro de cada dominio do sintagma nominal sao formados composicionalmente, de maneira que 0 valor mais alto sempre passa a ser0valor do dominio como um todo, a combinacao dos dois dominios entre si exige concordancia dos valores de contabilidade. Isso significa que um dominio N com o valor [-contavel] e compativel com um dominio extra-N [-contavel] e um dominio N [+contavel], com um dominio extra-N [+contavel]. Porem, um dominio N [-contavel] nao e compativel com um dominio extra-N [+contavel] e vice-versa. Um dominio [±contavel] e compativel com um outro [+contavel], [±contavel] e [-contavel]. Para que o sintagma como um todo seja contavel, e necessario que pelo menos um de seus dominios tenha0valor [+contavel].

(6)

Concluimos que a divisao dos substantivos em contliveis e nao-contliveis nao se aplica adequadamente ao portugues brasileiro. Particularmente, a existencia de substantivos contliveis em portugues parece ser incompativel com as evidencias distribucionais. Portanto, sugerimos que0portugues brasileiro nao possui substantivos contaveis, mas apenas substantivos nao-contliveis e neutros. Substantivos nao-contliveis combinam-se com os totalizadorestodo etodo 0e com quantificadores de medi~ao, mas nao com quantificadores de contagem nem com 0 totalizador distributivo cada.

Substantivos neutros sao combinaveis com qualquer elemento extra-No

RESUMO: Seguindo 0 modelo da gramatica do ingles, os substantivos da lingua portuguesa foram divididos, por alguns autores, em contliveis e nao-contliveis. 0 presente trabalho retoma essa discussao e desenvolve a hip6tese de que 0portugues brasileiro contemponineo nao possui substantivos contliveis, mas somente nao-contliveis e neutros em rela~ao

a

contabilidade.

BLUHDORN, Hardarik; NOMURA, Masa. Observa~oes sobre 0 uso de totalizadores nominais no alemao e no portugues do Brasil.Pandaemonium Germanicum 3.1, p.

185-227, 1999.

CAMACHO, Roberto Gomes; PEZATTI, Erotilde de Goreti. As subcategorias nominais contlivel e nao-contavel. In: KATO, Mary A. (org.). Gramatica do Portugues Falado. Vol. 5. Campinas: Editora da Unicamp, p. 155-183, 1996. ESCHENBACH, Carola. Ziihlangaben - MajJangaben. Bedeutung und konzeptuelle

Interpretation von Numeralia. Wiesbaden: Deutscher Universitiits-Verlag, 1995. QUIRK, Randolph et al.A Comprehensive Grammar of the English Language. London:

Referências

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