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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP. José Marcos Viegas Rocha. Proverbialismos: as mensagens de sabedoria em tempos de redes sociais

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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

José Marcos Viegas Rocha

Proverbialismos: as mensagens de sabedoria em tempos de redes sociais

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

São Paulo 2016

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2 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

José Marcos Viegas Rocha

Proverbialismos: as mensagens de sabedoria em tempos de redes sociais

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Comunicação e Semiótica, sob a orientação da Profa. Dra. Jerusa Pires Ferreira.

São Paulo 2016

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Banca Examinadora

___________________________________

___________________________________

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4 Agradecimentos

À minha dedicada e querida orientadora, Jerusa Pires Ferreira;

A meus pais, Solange Viegas Rocha e José Jerônimo Rocha Neto; À minha irmã, Erika Viegas Rocha;

À minha amada e querida companheira, Ana Carolina Mayumi Inuy;

A todos os amigos que me auxiliaram, em particular aos amigos René Duarte Gonçalves Jr. e Victor Marques;

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5 Resumo

O trabalho tem como objeto de pesquisa composições de provérbios e imagens veiculadas por usuários da rede social da internet, Facebook. O objetivo consiste em analisar o corpus para compreender as singularidades da construção sígnica desses objetos inseridos em seus ambientes midiáticos. A justificativa reside no fato de as redes sociais crescerem progressivamente quanto à complexidade de processos de comunicação, à medida que aumenta o número de usuários e de mecanismos de atividade cibernética. Isso demonstra relevância para a área da Comunicação. Como problemática, percebe-se que a combinação entre provérbios e imagens no

Facebook constitui presença motivada por intenções didáticas, filosóficas e

estéticas, mas também é parte da composição de uma identidade na rede social. O primeiro capítulo contém definições tradicionais de provérbio, considerando sua multiplicidade de formas e características. Na sequência, exibe-se um conjunto de teorias estruturais e análises consagradas de linguistas e semiólogos (Coseriu, Greimas, Zuluaga, Cândido, Pires Ferreira). Como não se trata apenas do estudo de provérbios tradicionais, mas de composições entre texto e imagem veiculados em uma rede social cibernética, apresentam-se também alguns conceitos e teorias a respeito da linguagem visual (Flusser, Greimas, Volli). O segundo capítulo apresenta teorias e conceitos sobre ambientes digitais (Flusser, Levy), bem como informações factuais a respeito da rede social Facebook e seus mecanismos de interação. O terceiro capítulo analisa um corpus formado por 15 (quinze) composições “provérbios-imagens”. Essas análises seguem, principalmente, conceitos da semiótica discursiva (Greimas), já que a ideia é observar as relações de sentido que se estabelecem entre a mensagem proverbial e a imagem subposta, destacando seus processos semânticos e formais.

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6 Abstract

This work's object of study are compositions between proverbs and images disseminated by users of the Internet social network, Facebook. The aim consists in analysis of the corpus to comprehend the singularities of the signic framing of these objects in its media ambience. The justification lies in the fact that social networks progressively grow as the complexity of communication processes just as it increases the number of users and cyber activity mechanisms. This demonstrates relevance to the area of Communication. As problematic, it is understood that the combination between proverbs and images on Facebook establishes presence motivated by didactic, philosophical and aesthetic intentions, but is also part of the composition of an identity on the social network. The first chapter contains traditional definitions of proverb, considering its multiplicity of forms and characteristics. Following, it is displayed a set of structural theories and consecrated analysis by linguists and semioticians (Coseriu, Greimas, Zuluaga, Cândido, Pires Ferreira). Also, as this is not only the study of traditional proverbs, but, indeed, compositions between text and image conveyed in a cyber social network, there are also some concepts and theories about visual language (Flusser, Greimas, Volli). The second chapter presents theories and concepts of digital ambience (Flusser, Lévy) as well as factual information regarding the social network Facebook and its interaction mechanisms. The third chapter analyzes a corpus made up of fifteen (15) compositions "proverbs-images." These analysis mainly conform concepts of discursive semiotic (Greimas), since the idea is to remark the sense relations that are established between the proverbial message and choosen image, highlighting its semantic and formal processes.

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Sumário

INTRODUÇÃO...

CAPÍTULO 1 – DEFINIÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E REFERENCIAL TEÓRICO... 1.1 – Definições tradicionais de provérbios... 1.2 – contribuições teóricas e reflexões consagradas sobre provérbios. 1.3 – o provérbio como unidade fraseológica... 1.4 – presença do provérbio nas narrativas e na cultura popular... 1.5 – Panorama teórico sobre o texto visual... CAPÍTULO 2 – CIBERESPAÇO COMO AMBIENTE CULTURAL...

2.1 – Ciberespaço: estrutura, composição e dinâmica... 2.2 – Aparelhos e dispositivos interativos... 2.3 – Hipertexto e linguagem digital... 2.4 – Facebook: “a rede da imagem”... CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DO CORPUS E CONCLUSÃO... 3.1 – Interações e sentido: semântica discursiva... 3.2 – Delimitação espaço-temporal do corpus de pesquisa... 3.3 – apresentação de análises do corpus de pesquisa...

3.3.1 – composição 1... 3.3.2 – composição 2... 3.3.3 – composição 3... 3.3.4 – composição 4... 3.3.5 – composição 5... 3.3.6 – composição 6... 3.3.7 – composição 7... 3.3.8 – composição 8... 3.3.9 – composição 9... 3.3.10 – composição 10... 9 11 11 12 14 18 22 25 25 26 29 30 34 34 35 36 36 37 38 38 39 40 40 41 42 42

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8 3.3.11 – composição 11... 3.3.12 – composição 12... 3.3.13 – composição 13... 3.3.14 – composição 14... 3.3.15 – composição 15... 3.4 – Conclusão... BIBLIOGRAFIA... ANEXOS... 43 43 44 45 45 46 48 50

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9 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é resultado do desejo de se compreender parte do profuso universo da linguagem, no que diz respeito a sua diversidade de manifestações, arranjos estruturais e efeitos semânticos. Como se sabe, o homem é um ser culturalmente plural, cuja variedade extrapola qualquer tentativa de definição geral. No entanto, pode-se afirmar que a matéria-prima do imenso mosaico cultural humano passa pela linguagem. É ela a argamassa da identidade, da criatividade, do cálculo, da transformação do “espaço natural” em “mundo”. É a linguagem que instaura um contato inexorável entre a experiência da vida e o universo subjetivo; é ela que nos inspira a acreditar na “ordem” e no “sentido” das coisas, que nos liga e envolve para além de meros corpos solitários no espaço. Apesar de o homem, conforme a alegoria cristã da Criação, ter sido expulso do Paraíso, deposita na linguagem sua esperança de reconciliação com o cosmos. Se há mistérios com ela, pior ainda sem ela.

Não obstante, pode-se considerar a linguagem em si um objeto a ser observado, analisado, compreendido, já que essa também é um conjunto múltiplo, virtualmente infinito, repleto de meandros e estruturas móveis, instáveis, que, além disso, amalgama-se às variadas mídias “sobre” as quais viaja de uma extremidade a outra da estrutura comunicativa, a saber, enunciador e enunciatário. Diante de tal complexidade, inúmeros olhares perscrutadores, inevitavelmente, dirigir-se-iam a esse objeto incomensurável e fascinante que é a linguagem, possibilitando a realização de vastos estudos e perspectivas.

Especificamente, o trabalho tem como objeto as mensagens de caráter proverbial que circulam com grande frequência por uma específica rede social da

internet (a rede mundial de computadores): o Facebook. O objetivo é analisar o corpus quanto à relação intersemiótica entre o aspecto semântico do provérbio e os

elementos gráficos, topológicos e eidéticos que o acompanham para a emergência de seu sentido.

Um dos traços que mais chamara a atenção nessas mensagens circulantes na rede citada, quando comparadas aos provérbios tradicionais, não se refere a alguma originalidade temática, mas a sua estruturação formal, composta

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principalmente pela escrita e por elementos imagéticos (desenhos, fotografias, tipos de letras etc.), a despeito da oralidade, tão cara à enunciação proverbial. Outro fato que despertara curiosidade está ligado às possíveis características que o Facebook imprimira na prática proverbial. Daí a importância em analisar o contexto onde os objetos do estudo estão imersos – para que se percebam as condições de significação presentes na rede social.

O primeiro capítulo traça um panorama teórico sobre o texto proverbial e sua variedade, valendo-se do referencial teórico de estudiosos do campo da linguística e da semiótica. A intenção é demonstrar os traços específicos do texto, bem como sua sistematização em categorias e definições. Não obstante, as teorias e estudos destinados aos provérbios e expostos no respectivo capítulo nem sempre revelam visão homogênea sobre o objeto. Por isso, faz-se importante um balanço crítico entre o que exposto.

O segundo capítulo destina-se a exposição e análise de estudos e informações relevantes sobre o ciberespaço, suas características, seus elementos e reflexões teóricas. Percorrendo o assunto numa trajetória que vai do mais amplo ao mais específico, o capítulo se encerra com informações e análises sobre o funcionamento do Facebook, seu contexto criativo, econômico e operacional.

A análise do corpus propriamente dita se dá no terceiro capítulo, que se inicia com a exposição de conceitos da semiótica discursiva, cuja perspectiva serviu de base para a observação e interpretação das composições provérbios-imagens. Encerrando o capítulo e o trabalho, há uma conclusão do estudo, envolvendo também algumas sugestões de diferentes abordagens e campos de estudo sobre o objeto.

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11 CAPÍTULO 1 – DEFINIÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 – Definições tradicionais de provérbios

“Provérbio”, “ditado”, “anexim”, “máxima”, “rifão”, “aforisma”, são alguns termos tradicionalmente atribuídos a sentenças cujo sentido é considerado, por determinado grupo de falantes, “virtuoso”, “sábio”, “verdadeiro”, a respeito dos mais variados aspectos do viver. No entanto, apesar de semelhança funcional, os termos citados revelam extensa variedade na estrutura, no formato, no tamanho e, até mesmo, no veículo de enunciação.

Na antiguidade greco-latina, uma sentença é um provérbio na medida em que contém, pelo menos, dois aspectos: verdade e atemporalidade. Considerado fruto de antiga sabedoria, funciona como argumento de autoridade, já que veicula, como dito antes, asserções reconhecidas comumente como verdadeiras. Não é de se espantar que Aristóteles, na Retórica, tenha incluído os provérbios no conjunto das “provas não artificiais”, correspondente ao grupo de “fatos reais”.

O aspecto estilístico dos provérbios também fora objeto de reflexão na cultura clássica, já que parte de suas características pertence à elocutio (a arte da expressão linguística), particularmente no ornatus, ou seja, na ornamentação do discurso através de figuras de estilo.

Seguindo a tradição greco-latina, vários teóricos e pensadores procuraram, em seus estudos, estabelecer certa definição geral para o texto proverbial, apesar da constante dificuldade que existe em se gerar delimitações precisas1. Esses estudos, como se verá nos exemplos adiante, tendem a considerar proverbiais as sentenças lapidares e concisas, que o uso popularizou e consagrou. Traços específicos – como autoria anônima ou de personalidades ilustres; presença de rima e métrica; quantidade de vocábulos; teor pejorativo ou edificante – são algumas possíveis variações do tipo textual em questão.

1 Sobre a dificuldade de definição de provérbio, ver OBELKEVICH, James In: História social da

linguagem: provérbios e história social. São Paulo: Fundação editora da UNESP, 1997. O autor

aponta que a natureza oral dos provérbios concede-lhes múltipla variedade estilística e temática, dificultando, assim, sua apreensão como objeto de pesquisa para uma definição de caráter absoluto. Ainda sobre as diferentes definições do texto proverbial, ver Introdução à obra Vozes da Sabedoria (Carrusca, 1974) e ainda Rodegem (1972) e Fernández-Sevilla (1985).

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“Máximas”, “aforismos” e “apotegmas”, por exemplo, possuem autoria reconhecida – geralmente personalidade ilustre –, enquanto em “provérbios” e “ditados” predomina o anonimato; naqueles, o estilo tende à alegoria e às marcas da escrita; nesses, à metáfora e à oralidade.

Em sua obra Filosofia popular em provérbios (1902), Xavier da Cunha admite a dificuldade em discriminar claramente cada termo sinônimo ou parassinônimo de “provérbio”: "Na prática usual da linguagem vulgar confunde-se frequentemente 'adágio' com 'provérbio'. Há, porém, quem de preferência reserve a palavra 'adágio' para com ela designar o provérbio antiquado" (p.8). O “ditado”, segundo Cunha, é utilizado na linguagem corrente como sinônimo de “adágio” ou “rifão” popular (p.15); “anexim”, por sua vez, “é um axioma vulgar, ordinariamente em verso e com aliteração, em que se contém uma regra prática de moral com um sentido satírico alusivo e em forma metafórica" (p.9).

A dificuldade em se determinar precisamente critérios de classificação para cada termo dos textos proverbiais poderia levar a análise dos objetos do corpus a imprecisões inconvenientes e, para a finalidade deste trabalho, inócuas. Portanto, usar-se-ão, ao longo da dissertação, somente as expressões “provérbio” e “mensagem de sabedoria”. Para uma ideia de composição conjunta, adotar-se-á a expressão “provérbio-imagem”.

1.2 – contribuições teóricas e reflexões consagradas sobre provérbios

Até este ponto, procurou-se esboçar um panorama sobre provérbios e sua variedade formal, a fim de se evitar que, ao longo da leitura, a grande quantidade de nomes e peculiaridades os afastasse uns dos outros, “esgarçando” um tecido que, embora multicolorido, é feito de linhas fortemente entrelaçadas. A respeito dessas “linhas” e entrelaçamentos, muitos estudiosos elaboraram interpretações e panoramas, que oferecem, a quem possa interessar, grande quantidade de relações por semelhança e distinção.

Paremiologista eminente, Taylor aponta como importante traço característico dos provérbios a sua autonomia semântica, um texto que “basta a si próprio”, a despeito de expressões figurativas como “cair do cavalo” ou “de cabo a rabo”, que

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dependem de um contexto semântico construído por outras frases na ação comunicativa.

Além do caráter autônomo e completo de uma sentença proverbial, estudiosos como Rodegem (1984) destacam o seu aspecto didático, já que, geralmente, a intenção enunciativa do provérbio está ligada a fornecer soluções, ensinamentos e normas para diferentes situações “problemáticas” da vida cotidiana. Jolles (1972), por outro lado, não vê os provérbios com função necessariamente didática, mas como “nós empiricamente associados entre eventos do passado e eventos presentes do mesmo tipo” (p.127). Mesmo assim, apesar de as duas características expostas anteriormente parecerem opostas ou inconciliáveis, não parece que um “saber empírico”, com base no passado, exclua possibilidades didáticas.

É importante ainda destacar, na estrutura proverbial, alguma suscetibilidade mnemônica. Uma frase como “Quem espera, sempre alcança”, por exemplo, pode facilmente fixar-se na memória dos falantes graças a sua brevidade e a certas características do plano fonético, como aliterações, assonâncias e rimas. Outros exemplos demonstrariam mais elementos formais e fonéticos “facilitadores” da memorização, como ritmos, repetições, peculiaridades sintáticas (elipses, hipérbatos, paralelismos). Tudo isso é capaz de reduzir a frugalidade típica das mensagens orais, ajudando a retenção das sentenças na memória dos falantes, assegurando sua permanência na cultura. Mesmo assim, é sempre importante reiterar que a multiplicidade de provérbios demonstra a não necessidade dos citados “facilitadores” como estritas condições para a memorização ou ainda para a classificação de uma sentença como sendo proverbial. Enfim, os aspectos fonéticos e sintáticos são atributos comuns, mas não, necessários.

Neste item do capítulo, procurou-se demonstrar alguns aspectos da estrutura e da funcionalidade dos provérbios, dentro de definições tradicionais. A seguir, vejamos outras definições das mensagens de sabedoria, elaboradas por autores do estruturalismo europeu, além de reflexões e análises de autores brasileiros que estudaram os provérbios nas artes e manifestações da cultura popular.

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1.3 – o provérbio como unidade fraseológica

Vimos que o provérbio detém características formais que lhe são próprias, ou que, pelo menos, lhe garantem, em combinação, um resultado singular, diferente das outras sentenças pronunciadas em uma situação conversacional. Um traço marcante das mensagens de sabedoria que se pretende destacar é sua aparente autonomia sintática. Um provérbio possui estrutura completa, está encerrado em seu próprio sentido, apesar de evidente interação com o contexto comunicativo, onde sua enunciação se faz oportuna.

No entanto, outras sentenças gramaticais também são completas – orações absolutas – mas, nem por isso, são provérbios. O que, então, confere caráter proverbial à sentença “Quem avisa amigo é” e não à frase “O rapaz possui um cão”, já que ambas são completas? Em princípio, pode-se perceber, na primeira, intenções didáticas, ligadas a valores culturais que estabelecem diferenças entre certo e errado, bom e ruim, na vida cotidiana. A segunda, de caráter referencial, possui sentido demasiadamente específico, adequada, portanto, a um número menor de situações de enunciação.

Ainda assim, é possível perceber, nas línguas, expressões fixas que, embora careçam de sentido sintático completo, combinam-se a diversas sentenças e são utilizadas com frequência, como, por exemplo, “de cabo a rabo”

A respeito do grau de autonomia ou de rigidez estrutural, tanto de expressões, quanto de orações absolutas, Coseriu introduz a expressão “discurso repetido” para designar "todo lo que tradicionalmente está fijado como ‘expresión’, ‘giro’, ‘modismo’, ‘frase’ o ‘locución’ y cuyos elementos constitutivos no son reemplazables o recombinables según las reglas actuales de la lengua" (1977: 113). Isso permite afirmar que algumas expressões funcionam em bloco e somente o conjunto fixo produz sentido e estabelece coerência quando inserido nas frases.

Coseriu organiza uma tipologia de unidades fixas, partindo da capacidade de comutação das expressões consoante seu contexto de enunciação:

a) unidades fixas que só podem comutar com textos completos. Por exemplo, a frase “À noite, todos os gatos são pardos” deve ser entendida como paráfrase em relação à situação de fala;

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b) unidades fixas que ocorrem no interior de frases, que aceitam comutar com sintagmas livres. A expressão, por exemplo, “Sem sombra de dúvida” admite variações como “Sem dúvida”, “Sem nenhuma dúvida”, mas é forma consagrada em seu contexto. É um “sintagma estereotipado”;

c) unidades fixas que ocorrem no interior de frases e que são comutáveis com unidades léxicas. A expressão “bunda mole”, por exemplo, faz oposição paradigmática a “corajoso”, pode ser chamada de “perífrase léxica”.

É interessante pensar na tipologia de Coseriu quanto à comutabilidade das expressões também para observarmos que os provérbios, ao mesmo tempo em que se relaciona com a situação de fala em maior ou menor nível, é constituído de um elemento rígido, indivisível. O “discurso repetido” demonstra que os provérbios e locuções proverbiais não são criados em cada ato de fala e, por isso mesmo, possuem o estatuto de texto alheio.

Greimas, em seu artigo “Idiotismos, provérbios e ditados” (1960), caracteriza o provérbio como um conjunto sintagmático “fixo”, a despeito de expressões “semifixas”, como os “clichês” e “modismos”. Formalmente, o autor cita o que, para ele, seriam os traços gramaticais e léxicos mais comuns a um tipo textual tão diversificado:

a) arcaísmos, como ausência de artigo (“bom cão, caça de raça”); b) arcaísmos, como ausência de antecedentes (“Quem dorme, janta”);

c) predominância de tempos e modos verbais, como presente do indicativo e imperativo (“A raposa prega às galinhas”);

d) estrutura rítmica binária, em que há oposição entre dois termos de orações, ou entre duas orações (“O que a mulher quer, Deus o quer”);

e) estrutura rítmica binária, em que as oposições aparecem em paralelismo (“Tantas cabeças, tantas opiniões”).

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Ainda em seu artigo, Greimas não se limita a descrições formais dos provérbios, mas também reflete sobre outros elementos significantes característicos que distinguem os provérbios das outras frases enunciadas em uma situação conversacional. Quanto à entonação, ele diz, “Tem-se a impressão ne que o locutor abandona voluntariamente sua voz, tomando uma outra de empréstimo a fim de proferir um segmento da fala que não lhe pertence propriamente e que ele está unicamente citando.”2. Outra contribuição do autor para o estudo de provérbios consiste em considerar as características formais do texto como elementos carregados de sentido. Na esteira das definições clássicas, Greimas observa que

A formulação arcaizante dos provérbios e ditados intercalados na cadeia do discurso atual vai, ao que parece, remetê-los a um passado não determinado, além de conferir uma espécie de autoridade que provém da "sabedoria dos antigos". O caráter arcaico dos provérbios, portanto, constitui uma colocação fora do tempo das significações que eles contêm; é um procedimento comparável ao "era uma vez" dos contos e das lendas, destinado a situar no tempo "dos deuses e dos heróis" as verdades reveladas na narrativa. [...] A utilização do tempo presente e dos modos indicativo ou imperativo, em aparente contradição com o que acabamos de dizer, ressalta de melhor forma a insólita colocação do provérbio ou do ditado no discurso. O presente aí utilizado torna-se o tempo a-histórico por excelência que ajuda a enunciar verdades eternas, sob forma de simples constatações. O imperativo, por sua vez, instituindo uma regulamentação fora do tempo, assegura a permanência de uma ordem moral sem variações. 3

Essa ideia de conferir aos provérbios determinada substância particular, que justamente os difere de outras sentenças no discurso, é descrita no excerto como se emanasse de sua estrutura interna – da sonoridade ao léxico – uma luz própria, supostamente reconhecida pelos interlocutores envolvidos no ato de fala. Greimas, portanto, sugere um estudo dos provérbios sob uma perspectiva que parte dos elementos estruturais não isoladamente, mas em interação semântica com as outras partes do texto, podendo alcançar até mesmo as interações entre estrutura proverbial em contextos estéticos, filosóficos, antropológicos etc.

2 GREIMAS, A. J. – “Os provérbios e os ditados”. In: Sobre o sentido: ensaios semióticos; tradução de Ana Cristina Cruz Cezar e outros. Revisão técnica de Milton José Pinto. Petrópolis, Vozes, 1975. Pg. 288.

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Na linha de Coseriu e Greimas, Zuluaga (1980) também distingue os provérbios das locuções proverbiais, classificando essas como expressões fixas inferiores a frases, enquanto que aqueles se definem como “enunciados fraseológicos”, justamente por sua estrutura de oração absoluta. No entanto, Zuluaga estabelece como eixo a idiomaticidade para observar elementos fixos e cambiantes. Os enunciados fraseológicos são divididos em três subcategorias:

a) enunciados fixos, com sentido literal ("A buen entendedor, pocas

palabras");

b) enunciados semi-idiomáticos, pois mescla sentido literal com traços típicos do idioma ("Cada oveja con su pareja");

c) enunciados idiomáticos, nos quais não há motivação literal, mas carrega significado em contexto ("Hay moros em la costa", ou “Contigo, pan e

cebolla”).

Seguindo a classificação, Zuluaga se volta para as diferentes disposições sintáticas dos enunciados fraseológicos. Destacam-se a seguir as categorias mais relevantes para este trabalho:

a) uma frase simples, nominal ou verbal ("En casa de herrero, cuchillo de

palo", "A mula regalada no se le mira el diente");

b) citação introduzida por “verbo de dizer” ("Dice el dolente al sano: Dios te

dé salud, hermano");

c) uma frase interrogativa unida a uma resposta sempre idêntica, que o autor designa por 'dialogismos' ("Quién es tu amigo? Tu pariente en el

mal". Trata-se de um provérbio com duas sentenças formando um par

“pergunta retórica/resposta”).

É interessante destacar no trabalho de Zuluaga a importância dada às mudanças de natureza pragmática que os provérbios revelam, destacando que esse

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tipo de texto merece ser estudado sem desprezar o ambiente cultural em que ele é pronunciado, para que se possa compreender seu sentido conotativo e a disposição de elementos formantes, como rimas, aliterações, assonâncias etc. daí se compreende por que Zuluaga considera os provérbios como “enunciados fraseológicos funcionalmente livres”, pois estão sujeitos a diferentes interpretações e, portanto, sendo adotados em diferentes oportunidades comunicacionais. Um provérbio como “Cão que late não morde” pode servira para, por exemplo, desqualificar as competências de alguém que ameaça verbalmente, ou pode servir como encorajamento ao interlocutor diante de alguma aparente intimidação. A frase é a mesma, mas o contexto multiplica seu sentido.

Antes de apresentar alguns estudos de autores brasileiros sobre o assunto, é oportuno fazer um balanço sintético do que foi demonstrado sobre as teorias estruturalistas.

Em alguma medida, Coseriu, Greimas e Zuluaga consideram que os provérbios carregam certa estrutura rígida, fixa, que não se altera ou se cria a cada ato de fala. Ainda assim, perceberam que sua variedade formal também comporta variedade semântica, que pode, em níveis diferentes, modificar-se e adaptar-se, por razões de várias naturezas (idiomática, histórica, midiática etc).

1.4 – presença do provérbio nas narrativas e na cultura popular

A presença de provérbios nas conversas cotidianas é tão frequente que demonstra sua enorme capacidade de se adequar ao mais diversos temas e suportes. É um texto vivo, pertencente a todos e a ninguém. Pode permanecer por gerações, ou desaparecer junto com o tempo em que aquelas ideias, ou vocábulos, faziam sentido. Como vimos, os provérbios não se limitam a suportes. Há citações na literatura e na poesia e publicações especializadas no gênero; está presente até mesmo nos muros e nos outdoors; fazem parte de sermões, batismos, funerais, discursos; ouve-se nas ruas, no rádio, na voz de crianças e idosos, de ricos e pobres, de estudiosos e analfabetos; enfim, aonde vai a língua, vão os provérbios.

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Parece evidente que isso se deve, em grande parte, à sua riqueza formal e alcance semântico, mas quais seriam seus papéis? O que motiva os falantes a enunciarem mensagens proverbiais? Com quais objetivos?

Responder a essas perguntas é tarefa incomensurável. No entanto, é possível, pelo menos, delimitar o contexto, estabelecendo fronteiras para a pesquisa, sem, é claro, esquecer-se de que as fronteiras, ou as “bordas” 4 são permeáveis e em constante movimento, servindo mais como um referencial de observação que propriamente como um divisor estanque e rígido. Os critérios para tais delimitações também podem variar. Estuda-se por tema, por mídia, por idioma, por traços estilísticos, por grupos de falantes, entre outras possibilidades.

Em seu eminente ensaio “O mundo provérbio”5, Candido oferece caminhos para se compreender a profusa presença dos provérbios na língua. Analisando obras literárias cujos ambientes e personagens são típicos das classes populares, Cândido interpreta os papéis que os provérbios ocupam nas diferentes situações narrativas. Conforme o faz, encontra motivos comuns para o uso proverbial nos casos estudados. Para Cândido, os provérbios fazem “os homens parecerem os mesmos, uma geração depois da outra, encasulados na fixidez do costume” (p.93).6 A enunciação proverbial cria noção de que há um presente durativo, uma realidade estática, incólume, “como se cada geração recomeçasse no mesmo ponto, com o imobilismo das organizações sociais estagnadas” (p.93).

O provérbio traz consigo a ideia de que algo perene é verdadeiro e não carece de interações com outras ideias. De sua verdade não se duvida, pois não parece sequer fruto da criação de um ser vivente e finito como o ser humano, já que os interlocutores geralmente reconhecem que aquela mensagem não é de autoria do enunciador. E isso, segundo Cândido,

“é congelamento da experiência passada, de outro constitui, no mundo fechado, a única e desajeitada forma de sondar o futuro, na medida em que preestabelece modos de ser e de agir. [...] o futuro previsto é o passado, pois o que anuncia para adiante é o que

4 A obra “Cultura das bordas”, de Jerusa Pires Ferreira, demonstra a fragilidade que há na distinção entre, por exemplo, cultura erudita e popular, centro e periferia, dado o trânsito entre elementos da cultura que existem “nos dois lados”.

5 Com subtítulo “Ensaio sobre I Malavoglia”, foi, primeiramente, publicado na revista Língua e Literatura, nº 1, 1972.

6 CANDIDO, Antônio O mundo provérbio.

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20 sempre foi atrás; e esta justificativa da perpetuidade social empresta-lhe um cunho nitidamente ideológico.”7

Se os provérbios, como diz o excerto, despertam a impressão de que a “verdade para o futuro está no passado”, os falantes têm em mãos um poderoso recurso linguístico para se estabelecer e cristalizar princípios moralizantes, conceitos de justiça, virtude, verdade e sabedoria. Mesmo compreendendo mais sobre as motivações e os efeitos da enunciação proverbial na cultura, é preciso se perguntar

como os provérbios atingem esse estatuto.

As análises estruturalistas de Coseriu, Greimas e Zuluaga forneceram pistas para tal entendimento. Sua forma prevalentemente binária, cuja construção sintática envolve múltiplas formas de simetria (paralelismos, antíteses, coordenação entre orações no período), transmite a impressão de que um conteúdo “bem acabado”, sem rebarbas, vértices ou poros. Para Cândido, está aí, contudo, uma grande armadilha, pois

“O seu caráter antitético [...] parece uma contradição insolúvel; a oposição binária revela uma dureza cristalizada, feita para a impessoalidade das situações genéricas, sob as quais reponha, mal acomodado, o peculiar das situações específicas.”8

Esse aspecto levantado por Cândido, ao interpretar o jogo equilibrado de oposições em um provérbio, é contribuição crucial para este trabalho, já que um de seus objetivos é compreender a presença dos “provérbios-imagens” na rede social

Facebook.

A enunciação dos provérbios como forma de sedimentação de ideias moralizantes também se revela nos contos, histórias e narrativas populares, que contém um estilo marcado por elementos de oralidade, tanto em momentos de discurso direto, quanto na própria voz do narrador9. Em seu ensaio “O útil e o agradável”, Pires Ferreira analisa a intrínseca relação entre as narrativas fantasiosas de cavalaria – que muito inspirou as narrativas do cordel nordestino – e os provérbios como recurso moralizante e didático. Comentando sobre seus estudos,

7 Op. Cit. Pg. 107.

8 Op. Cit. Pg. 110.

9 A respeito da presença da voz nas narrativas escritas, ver ZUMTHOR, Paul – A letra e a voz. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1993.

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percebe-se que a autora procurou analisar nas narrativas “em que medida a estória narrada se faz entremear, balancear, travar e equilibrar por um conjunto de máximas, tendo em vista uma experiência de pensamento, uma pragmática e uma didática.”10. Em seguida, destaca a importância de observar os provérbios em relação intrínseca com a própria narrativa:

“No ‘romance’ nordestino de cordel, nas estórias de encantamento, herdeiros de toda uma tradição, será também indispensável interpretar este corpo de ditos sentenciosos como um componente inseparável do relato, a ser visto junto com a ação e não como possível desvio do modelo narrativo.” 11

Ao reconhecer o cuidado da autoria em não distinguir a enunciação proverbial do restante do corpo do texto, ou da construção dos sentidos da narrativa, por que não, então, abordar o objeto de estudo deste trabalho, ou seja, os “provérbios-imagens” no Facebook, de forma a não isolar o provérbio de sua imagem, tampouco de seu próprio ambiente midiático? Assim como nas narrativas e nas conversas do cotidiano, é preciso considerar que o uso de provérbios se faz por motivações diversas, mas sua “eficácia” dependerá de uma inserção adequada aos jogos de linguagem12 em geral.

Até esta parte, vimos que os provérbios contêm características semânticas vinculadas à ideia de verdade e que muito desse estatuto se deve a componentes formais, como binaridade sintática e/ou semântica, tempos e modos verbais específicos, tendência ao sentido conotativo, recursos estilísticos ligados à sonoridade (assonâncias, aliterações e rimas); em contexto, atribui-se aos provérbios sentido de autoridade, atemporalidade, rigidez semântica e autoria anônima.

O próximo tópico do capítulo apresentará algumas conceitos e referenciais ligados ao estudo da imagem. Mesmo assim, cabe ressaltar que os objetos de estudo do corpus, apesar de se formarem por escrita e imagem associadas, não serão analisados considerando suas partes em mesmo nível. Trata-se, enfim, de “provérbios com imagens” e não de “imagens com provérbios”. Justifica-se aqui a

10 FERREIRA, Jerusa Pires - O útil e o agradável: preceito em “romance” de cordel – Revista Comunicação e Sociedade, nº6. Pg. 3.

11 Op. cit. Pg. 3.

12 A respeito da relação entre epistemologia, discurso e poder, ver LYOTARD, Jean-François. O

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diferença de volume entre o referencial sobre provérbios e o cenário teórico sobre as imagens.

1.5 – Panorama teórico sobre o texto visual

Sabe-se que não existem somente textos linguísticos. O texto visual, ou seja, que se vale da imagem para produzir sentido, é também meio de comunicação bastante fecundo, que pode assumir várias funções e produzir vasta quantidade de informação. Das representações pictóricas à narrativa em movimento, o texto visual é tão presente na cultura quanto a linguagem verbal. No entanto, suas características próprias dificultam a análise semiótica, uma vez que as imagens carecem da dupla articulação13 existente na linguagem verbal. Decompor elementos maiores de um texto verbal em suas partes menores é algo que se pode fazer com certa ordem e clareza, na medida em que sabemos o quanto um monema ou um

lexema contribuem para o conjunto semântico da mensagem verbal. Já um texto

visual, seja uma fotografia 14ou uma pintura, por exemplo, não revelam claramente como cada elemento no plano da expressão participa da construção do plano do conteúdo. Sua forma de representação da realidade não está encerrada em códigos “digitais”, como está a língua. O texto visual se faz por analogia ao mundo natural15, e cada representação assume traços e tão singulares que, para Volli,

“se a capacidade que as imagens têm de comunicar fosse pensada tomando por base códigos estes deveriam ser muito numerosos, pelo menos tanto quanto são os modos de representar visivelmente a mesma coisa e que então talvez fosse mais oportuno falar de

idioletos (línguas pessoais, usadas uma vez para cada obra) em vez

de autênticas línguas visuais.”16

13 VOLLI, Ugo, em seu “Manual de semiótica”, adota a expressão “dupla articulação” para representar o plano da expressão e o plano do conteúdo, tão caros à semiótica discursiva.

14 Diversos autores (Volli, Flusser, Barthes) já pensaram na fotografia como texto visual específico, mas ainda não se formou propriamente uma semiótica da fotografia.

15 A pintura abstrata não se enquadra na ideia de representação por analogia, na medida em que fronteira entre expressão e conteúdo está comprometida.

16 VOLLI, Ugo. Manual de semiótica. Tradução de Silva Debetto C. Reis Edições Loyola. São Paulo, 2007. Pg. 190.

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Volli ainda chama a atenção para o fato de que as imagens não são lineares, como se estrutura a linguagem verbal. É preciso, portanto, pensar no texto visual a partir de conceitos que possam se aproximar das formas singulares de representação e percepção do sentido das imagens. Pode-se pensar nos elementos constitutivos da imagem como ícones, na medida em que são “sinais semelhantes

que compartilham algumas propriedades do respectivo conteúdo”17

No entanto, percebe-se que as imagens transcendem a mera representação icônica do mundo natural. Uma fotografia tirada de uma cena de crime por um perito forense, por exemplo, parece ser mais um índice que um ícone, pois seu conteúdo está em principalmente em função de significar indícios de um fenômeno não necessariamente presente na imagem. Outro problema que se coloca para uma mera análise icônica das imagens é pensar nos elementos do texto visual que representam símbolos para além dos próprios elementos formantes do plano da expressão. Como exemplo, pode-se pensar em como inúmeras pinturas do renascimento retratam o véu da Virgem Maria com a cor azul. O sentido desse elemento cromático no plano da expressão parece ir além do eu seria um sentido básico (um véu azul por sobre uma figura feminina), mas atinge sentido simbólico que, inclusive, direciona a identificação da Virgem. Para Volli, este fenômeno sugere a existência de certa “retórica da imagem”, já que “em geral, o uso das imagens em nossa cultura, na arte como na publicidade não é puramente

referencial, mas utiliza ao máximo a capacidade das imagens de veicular sentidos

segundos [...] e narrações implícitas”18.

Para além de categorias icônicas e simbólicas como instrumentos de interpretação semiótica dos textos visuais, pode-se pensar a imagem a partir de sua formação topológica. Frutos da semiótica plástica, as categorias topológicas consideram a articulação de formantes cromáticos e eidéticos e seus respectivos papéis no plano do conteúdo. Essas categorias orientam nossa percepção através de contrastes e pontos de vistas. Percebe-se que as imagens propõem, normalmente, “percursos” que olhar segue para a construção semântica do texto. Oposições como “alto e baixo”, “direita e esquerda”, “retilíneo e curvilíneo”, “claro e escuro” são elementos constituintes do sentido da imagem. Isso não significa que a presença de elementos no alto de um plano visual tenha sempre a mesma

17 Op. cit. Pg. 190 (grifos do autor) 18 Op. cit. Pg. 191 (grifo do autor).

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conotação, somente por estar no alto, mas essas posições na superfície também podem contribuir para a construção do sentido na imagem. Basta observarmos as pinturas de temas cristãos para identificarmos o parte de cima como o céu, em oposição à Terra, ou mesmo ao inferno, na parte inferior.

A problemática de uma semiótica para a análise de textos visuais é de suma relevância para a interpretação do corpus de pesquisa, pois os “provérbios-imagens” carregam sentidos formados pela linguagem escrita, mas também por elementos visuais dotados de expressões distribuídas pela superfície bidimensional. Diante dessa perspectiva, faz-se importante observar os modos com que o texto verbal do provérbio ocupa topologicamente o plano visual, já que essa inserção também representa parte do sentido conjunto da composição “provérbio-imagem”.

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25 CAPÍTULO 2 – CIBERESPAÇO COMO AMBIENTE CULTURAL

2.1 – Ciberespaço: estrutura, composição e dinâmica

Em sua obra de ficção científica, Neuromancer (1984), William Gibson concebe ciberespaço como uma rede eletrônica global, que armazena e dinamiza quantidade imensa de dados e informações, cujo acesso se faz através de dispositivos eletroneuroquímicos. A conexão com o ciberespaço abrange artificialmente todos os sentidos e permite atividades e experiências as mais diversas. Nessa rede, os bilhões de indivíduos exercem suas tarefas profissionais, praticam atividades de lazer, estudam, constroem laços afetivos, criam e resolvem seus conflitos, numa rotina duradoura, profunda e por isso mesmo, longe de ser considerada paralela à vida fora do ciberespaço.

Comparada ao ciberespaço real, cujo elemento central é a Internet, a ficção de Gibson revela distinções e semelhanças. Dados de 201619 demonstram que cerca de 3 bilhões de pessoas sejam usuárias da Internet, o que representa quase metade da população mundial. A acessibilidade ao ciberespaço de Neuromancer é praticamente total. Os aparelhos descritos no romance agem diretamente na fisiologia neural; os atuais computadores, celulares e outros aparelhos que acessam a Internet – como tablets e videogames – não possuem esse poder de penetração: dependem da exploração dos sentidos (principalmente visão e audição) e dos recursos linguísticos para a comunicação com o usuário. As personagens da obra de Gibson vivem experiências neurossensíveis intensas, levados muitas vezes a dores físicas, exaustão e transtornos mentais. Já o ciberespaço real não traz, necessariamente, danos físicos ou mentais severos aos usuários em geral. Mesmo assim, a múltipla oferta de atividades, bem como uso constante da rede e de seus aparelhos, são capazes de gerar inúmeros impactos na vida dos internautas.

Embora a comparação entre o ciberespaço de Gibson e o real apresentem diferenças contundentes, há semelhanças suficientes para compreendermos por que o termo “ciberespaço” de Neuromancer tem sido adotado para denominarmos a rede mundial de computadores (World Wide Web, em inglês). Lévy (1999: 92) define o

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ciberespaço como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”. Importante observar que essa definição não reduz à Internet especificamente a formação do espaço cibernético, mas inclui os computadores e suas respectivas memórias. É por isso que se deve considerar o ciberespaço como um conjunto do qual os circuitos de telecomunicações fazem parte, mas não o encerram. Tanto na ficção de Gibson quanto na realidade, ciberespaço é, fundamentalmente, uma rede de trânsito de informações armazenadas em memórias eletrônicas, através de um código digital, processado em aparelhos capazes de codificar, decodificar e armazenar dados, além de traduzi-los em elementos cromáticos e eidéticos.

Outra semelhança entre ficção e realidade reside na condição interativa e descentralizada do ciberespaço. Diferentemente de outras estruturas midiáticas, como publicações impressas, televisão e rádio, por exemplo, a rede mundial de computadores não funciona exclusivamente a partir de um produtor de conteúdo que enuncia para um público receptor que, por sua vez, não enuncia em resposta. Nesses casos, a produção de informação se concentra num ponto e se dissemina, sem reciprocidade20. Grosso modo, o público receptor lê, ouve e vê, mas não escreve, fala ou exibe seu próprio material. Já para o ciberespaço, interatividade é condição premente, já que qualquer ponto da rede pode tanto produzir e enunciar quanto receber informações. Figurativamente, o ciberespaço é composto por extremidades; seu centro é vazio e destina-se somente ao trânsito de dados entre as extremidades.

Onde se localizam, portanto, os usuários da rede, e em que condições de interatividade? Em busca de compreender a composição e a dinâmica do ciberespaço, é preciso debruçar-se sobre a relação usuário-aparelho-linguagem.

2.2 – Aparelhos e dispositivos interativos

Dificilmente presenciaríamos uma adesão de três bilhões de indivíduos a alguma atividade que demandasse formação técnica sofisticada, habilidades de

20 Alguns veículos de comunicação abrem espaços de interatividade, porém, de forma restrita e pontual, como seção de cartas e ouvidorias. Quando o público participa da programação, não significa que há interatividade, já que essa participação passa a compor a programação do veículo midiático em si.

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grande virtuosismo, instrumentação volumosa e de operacionalidade complexa. Isso significa que navegar na Internet, mesmo que superficialmente, é tarefa simples. No entanto, sabemos que o desenvolvimento dos aparelhos e da estrutura de telecomunicações que compõem o ciberespaço é resultado de esforços e conhecimentos múltiplos. Da Física à Linguística, da Engenharia Industrial à Matemática, das Artes Plásticas à Comunicação Social, a rede mundial de computadores é consequência direta da formação técnica sofisticada e de instrumentação elaborada. Ou seja, aparelhos e redes são compostos por elementos complexos, mas a zona de contato entre usuário e máquina reduz-se a comandos simplificados.

Flusser, em seu ensaio, Filosofia da caixa preta (2009), reflete sobre o funcionamento da câmera fotográfica para, de forma metonímica, analisar a lógica com a qual os aparelhos produtores de “imagens técnicas” (p.13)21 em geral são estruturados e, a partir de então, interpretar a relação “homem-máquina”. Em primeiro lugar, o autor discrimina “aparelho” de “instrumento”:

“Instrumentos são prolongamentos de órgãos do corpo: dentes, dedos, braços, mãos prolongados. [...] São empíricos. [...] Instrumentos trabalham. Arrancam objetos da natureza e os informam. Aparelhos não trabalham. Sua intenção não é a de ‘modificar o mundo’. Visam a modificar a vida dos homens. [...] Pois atualmente, a atividade de produzir, manipular e armazenar símbolos (atividade que não é trabalho no sentido tradicional) vai sendo exercida por aparelhos.” 22

Para Flusser, “o aspecto instrumental do aparelho passa a ser desprezível, e o que interessa é apenas o seu aspecto brinquedo” (p.26). A partir dessa distinção entre instrumento e aparelho, podemos perceber que os computadores, celulares,

tablets, videogames e outros objetos capazes de conexão com a Internet estão mais

inclinados a uma relação lúdica com seus usuários do que instrumentos e máquinas capacitados à transformação da natureza. Para Flusser, uma característica singular na concepção de aparelho reside no fato de que esse é dotado de uma programação prévia, ou seja, de uma dinâmica finita que determina, em princípio, sua própria oferta de uso:

21 Expressão usada por Flusser para distinguir as imagens produzidas por aparelhos oriundos da lógica tecnoindustrial das imagens pictóricas.

22 FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. Rio de Janeiro: Sinergia Relume Dumará, 2009. P. 21-23.

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28 “Se considerarmos o aparelho fotográfico sob tal prisma, constataremos que o estar programado é o que o caracteriza. As superfícies simbólicas que produz estão, de alguma forma, inscritas previamente (“programadas”, “pré-inscritas”) por aqueles que o produziram. As fotografias são realização de algumas das potencialidades inscritas no aparelho. O número de potencialidades é grande, mas limitado.”23

Importante ressaltar as semelhanças lógicas de concepção tanto do aparelho fotográfico em particular, quanto daqueles que compõem o ciberespaço. Sabe-se que os primeiros computadores eletrônicos surgiram em núcleos de pesquisa acadêmica e empresas de tecnologia nos Estados Unidos e Europa e atraía o interesse de estudantes e entusiastas de engenharia eletrônica. Montar circuitos estáveis parecia ser o objetivo principal, mas seu alcance e capacidade de operação eram ainda incertos. A ideia de computador pessoal só ganharia fôlego quando pudessem ser operados sem exigir conhecimentos técnicos sofisticados. Na década de 1970, entusiastas da eletrônica, como Steve Jobs, Steve Wosnyak, Bill Gates e Paul Allen, por caminhos e empresas distintos, conseguiram desenvolver o que seria a base para interfaces acessíveis: uma linguagem digital que, compatível entre as máquinas, seria capaz de armazenar e trocar informações24. O computador pessoal havia se desdobrado, basicamente, em dois sistemas: hardware, referente aos componentes eletrônicos que formam o aparelho; e software, sistema que processa, através de códigos binários, informações e dados em fluxo.

Essa estrutura básica do computador pessoal vem de encontro ao que Flusser observa sobre as dimensões software e hardware do aparelho fotográfico, que “enquanto objeto duro, foi programado para produzir automaticamente fotografias; enquanto coisa mole, impalpável, foi programado para permitir ao fotógrafo fazer com que fotografias deliberadas sejam produzidas automaticamente”25

Por certo que a disseminação dos computadores pessoais e seus desdobramentos para outros aparelhos realizaram-se graças à programação de acesso simples, a despeito de seus circuitos e meandros eletrônicos complexos.

23 Op. cit. P. 23 (grifos do autor).

24 Em 1976, a Apple lança o Apple 2, já montado e com seu sistema operacional, o Basic, já instalado. Diferentemente do Apple 1, cujo sistema operacional era uma peça adicional que se inseria com um gravador eletromagnético.

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Trazer à tona esse aspecto da informática contribui para a observação das condições técnicas a que os usuários estão “submetidos” ao produzirem, por exemplo, os “provérbios-imagens” presentes no corpus do trabalho. Se as atividades no ciberespaço estão, como sugere o pensamento de Flusser, determinadas pela programação (ou pelo software) de seus respectivos aparelhos e conexões, é provável que isso se reflita na composição topológica e estética dos objetos do

corpus.

Mesmo que um computador pessoal possua autonomia operacional, ainda nos falta observar as condições para que esses estejam interligados em uma rede de informações ampla e dinâmica como a Internet. Ou seja, de que forma os aparelhos “reconhecem” e processam informações reciprocamente?

2.3 – Hipertexto e linguagem digital

Poderíamos definir hipertexto como “o texto além do texto”26, ou o texto que supera suas condições lineares tanto de produção quanto de leitura. Acompanhando a trajetória de desenvolvimento da informática, percebe-se que o hipertexto é modus

operandi por excelência. Se os primeiros computadores careciam de formas de

contato e compatibilidade para interação, os sistemas operacionais surgiram como solução que, ao longo do tempo, desenvolveu-se e ampliou-se a ponto de, atualmente, ser possível que um notebook exiba uma imagem fotográfica capturada em um aparelho celular, ou que indivíduos se reúnam diante de câmeras, em circuito integrado, e comuniquem simultaneamente, através de sinais sonoros e visuais.

Para compreender como isso se dá, é preciso considerar que as informações digitais são decodificadas em imagem, som e outros sinais sensíveis. Mas sua compatibilidade entre interfaces só é possível a partir de uma matriz digital, que se organiza e se comporta de maneira hipertextual, uma vez que as informações estão armazenadas em memórias locais, mas a conectividade e compatibilidade de códigos colocam as informações em fluxo passível de alterações, reinvenções, traduções, ramificações etc.

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A linguagem digital da qual se valem os aparelhos para codificar e decodificar informações seria uma espécie de substância básica, pois é dela que emergem as imagens, os sons e suas combinações sensíveis. Assim como é ela quem guarda essas informações. Consequentemente, um texto (verbal ou visual) está “aberto” a inúmeras potencialidades, não só de leituras, mas também de reescritas. É a partir desse princípio que se constroem os hardwares, softwares e as redes correspondentes ao ciberespaço, pois como coloca Lévy (2011)

“O computador não é um centro mas um pedaço, um fragmento da trama, um componente incompleto da rede calculadora universal. [...] No limite, só há um único computador, um único suporte para texto, mas tornou-se impossível traçar seus limites, fixar seu contorno. [...] um computador hipertextual, disperso, virtual, inacabado [...]” 27

Não é mera coincidência que a expressão utilizada para os endereços eletrônicos na Internet seja “Hyper Text Transfer Protocol” (sigla HTTP), que em português significa “Protocolo de Transferência de Hipertexto”. Tem-se aí, na forma hipertextual de operar as informações no ciberespaço, o terreno onde se construiu a rede social Facebook, cujas condições de interatividade geral demonstram um caráter hipertextual por excelência, já que se trata, principalmente, de uma rede por onde fluem informações de diversas fontes para diversos destinos. Como o

Facebook exige a “inscrição” de um “perfil pessoal” para que o usuário interaja,

pretende-se observar como se estrutura esse perfil e como se caracteriza esse ambiente cibernético.

2.4 – Facebook: “a rede da imagem”

Lançado em 4 de fevereiro de 2004, o Facebook é uma rede social cibernética, operada como propriedade privada da Facebook Inc. Fundado por Mark Zuckerberg e por seus colegas de quarto, Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, o site surgiu como uma rede restrita aos estudantes da universidade de Harvard, mais tarde se estendendo à universidade de Standford e a faculdades na região de Boston.

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Um estudo de janeiro de 2009 do Compete.com classificou o Facebook como a rede social mais utilizada em todo o mundo por usuários ativos mensais. Em 2011, o Facebook contabilizara mais de um bilhão de usuários ativos. No Brasil, dados do próprio site28 revelaram que, no último trimestre de 2014, 92 milhões de pessoas acessaram a rede social pelo menos uma vez por mês, o que corresponde a 45% da população brasileira. Apesar de o acesso ao site ser gratuito, a quantidade de usuários é de suma importância financeira, já que sua fonte de captação de recursos é baseada na publicidade, divulgada em forma de banners, destaques patrocinados no Feed de Notícias e grupos patrocinados. Em 2013, sua receita líquida atingiu 7,87 bilhões de dólares. 29

O significado da palavra Facebook advém de tradicionais álbuns de retratos dos alunos das escolas dos Estados Unidos30. O nome da rede social indica, portanto, que a ideia principal é que os usuários “mostrem a cara”, ou seja, insiram objetos que digam respeito a sua pessoa. Isso não significa que o usuário esteja destinado a expor sua intimidade, ou restrito a inserir somente informações31 pessoais, como retratos de seu rosto ou corpo, palavras próprias ou qualquer tipo de atividade ou objeto que sejam de sua autoria. Seguindo a natureza hipertextual do ciberespaço, o Facebook baseia-se essencialmente na capacidade de compartilhamento de arquivos que já estão na Internet, ou armazenados na memória dos aparelhos. Para integrar-se à rede, o usuário é convidado por outro e, a partir disso, pode estabelecer laços de “amizade” com outros perfis. Os arquivos publicados por amigos, “amigos de amigos” e páginas de grupos aparecerão numa espécie de “esteira” vertical, o Feed de Notícias. Além disso, cada perfil possui sua própria página, na qual se exibem, com níveis distintos de restrição e privacidade, suas fotos, textos, grupos de interesse etc. É nesse cenário que se pode compartilhar o que foi publicado por outros perfis, ou aquilo que o usuário produziu em seus aparelhos.

28 https://www.facebook.com

29 https://pt.wikipedia.org/wiki/Facebook

30 http://www.dicionarioinformal.com.br/facebook/

31 A palavra, nesse caso, abrange textos visuais, verbais ou mistos. Em resumo, tudo aquilo que pode produzir sentido por parte do receptor.

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Basicamente, o Facebook funciona numa dinâmica que parte de publicações32 trocas de mensagens entre os usuários, podendo essas serem privadas ou públicas. Vejamos a seguir alguns recursos disponibilizados pelo site:

a) “Botões de apreciação”: expressões como “curtir” estão no site desde sua disseminação em massa. Significa que o usuário pode expor que “gostou” de uma publicação alheia. Atualmente há outros “botões”, simbolizados por ícones de significado simples e direto como “amar” (coração), “entristecer-se” (um rosto estilizado com lágrimas nos olhos), espantar-se, (um rosto assustado);

b) “Compartilhar”: esse recurso permite a um usuário compartilhar em seu perfil alguma publicação de outro perfil. Este recurso é essencial para entender a dinâmica de circulação dos “provérbios-imagens” na rede social;

c) “Comentar”: é possível que um usuário comente uma publicação, sendo ela alheia ou não. O comentário não precisa ser verbal, pois é possível inserir ilustrações iconográficas no espaço destinado aos comentários.

Diante do contexto que se expôs neste capítulo, podemos perceber que os objetos do corpus resultam das características técnicas dos aparelhos e seus recursos, como também estão inseridos em uma dinâmica determinada pelas possibilidades operacionais que a rede social Facebook oferece. Se pensarmos a partir da definição de Lotman (1975) de que cultura “não é um depósito de informações; é um mecanismo organizado, de modo extremamente complexo, que conserva as informações, elaborando continuamente os procedimentos mais vantajosos e compatíveis. Recebe coisas novas, codifica e decodifica mensagens, traduzindo-as para um outro sistema de signos33.”, talvez estejamos, então, diante de um fenômeno relevante para compreendermos as formas de tradução cultural que emergem conforme emergem também novas formas de memória, comunicação e trânsito de informações. Ao compreendermos que o ciberespaço em geral, e o Facebook em particular, se delimitam e se formam por aspectos abordados ao longo

32 Nem todos os tipos de conteúdo o abordagem são permitidos no Facebook.

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do capítulo, cria-se, então, condições para analisarmos o corpus do trabalho sem isolá-lo de seu contexto técnico, linguístico e cultural.

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34 CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DO CORPUS E CONCLUSÃO

3.1 – Interações e sentido: semântica discursiva

Considerando a semiótica como “a teoria do sentido”, seria essa um saber atrofiado se se propusesse somente a analisar o texto-objeto quanto a seus elementos formantes, como se o plano da expressão resultasse da somatória de suas partes significantes e encerrasse em si mesmo uma totalidade estéril. Se não observarmos o texto-objeto na emergência de seu sentido, ou seja, nas condições em que o plano do conteúdo surge do plano da expressão, dificilmente a Semiótica seria instrumento para reflexão sobre o “sentido da vida”, como propõe Greimas em suas “escapatórias”34.

Se estamos, como afirma Barthes, “condenados ao sentido”, a semiótica possui, então, uma infinidade de textos-objetos aos quais se pode entregar, já que o sentido não pertence exclusivamente às coisas em si, mas resulta da relação entre destinador e destinatário. Quem dá sentido, pois, aos objetos é um sujeito disposto à relação. O sentido só emerge do objeto quando um sujeito, distinto daquele, estabelece com ele uma interação cognitiva e sensível. Talvez por isso não seja a semiótica a lançar luz sobre um objeto, mas, sim, conformar a luz que emana desse a determinado esquadrinhamento e inflexão. Seriam, então, o semioticista como destinatário específico, ou o sujeito como destinatário “comum”, menos uma “estrela” e mais um “espectrômetro”? Provavelmente, nem uma coisa, nem outra, pois o sentido não pertence propriamente à “essência” dos objetos, tampouco ao sujeito, mas ao movimento disjuntivo e conjuntivo35 da percepção, cujo resultado é a significação.

Greimas, ao teorizar que “tudo ocorre como se, no encontro das gestaltens – formas sob as quais as figuras do mundo se erguem diante de nós –, nossa leitura socializada se projetasse à frente e as vestisse, transformando-as em imagens, interpretando as atitudes, os gestos, inscrevendo as paixões nos rostos, conferindo graça aos movimentos” 36, lança os olhos da semiótica à esfera do sentir como

34 GREIMAS, Algirdas Julien. Da Imperfeição. São Paulo, Ed. Hacker, 2002. 2ª parte. 35 Idem – Semântica estrutural. São Paulo, ed. Cultrix, 1973. Pg. 29.

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elemento da estrutura actancial, ampliando, assim, o campo de ação do semioticista para além dos eixos paradigmáticos e sintagmáticos, encontrando-se nas fronteiras da filosofia, da antropologia, da ideologia, da política e de outras instâncias da vida social e natural.

Para uma análise dos elementos actanciais presentes nas composições dos textos-objetos em questão, lançar-se-á mão do instrumental – e de sua respectiva epistemologia – erigido por Greimas ao longo de sua obra37, já que todo texto-objeto, como já dito, gera seu sentido a partir de formantes cuja totalidade advém de uma combinatória envolvendo iterações, homologações, isotopias, seja no aspecto específico da forma de linguagem, seja nas relações intersemióticas entre linguagens distintas.

Um dos objetivos da análise de cada “provérbio-imagem” é trazer à tona as relações entre os elementos do plano da expressão que demonstram intenções proverbiais, revelando traços característicos do gênero (binaridade, temas relacionados à “sabedoria”, autonomia semântica, entre outros já abordados no capítulo 1). Outro objetivo é perceber, através da interpretação da relação “texto verbal-texto visual”, os mecanismos funcionais para a construção de sentido. Imagem e texto, por exemplo, podem se complementar como uma “soma de duas metades”, em que nem o verbal nem o visual possuem independência semântica; podem, por outro lado, traduzirem de forma completa o mesmo sentido, sendo, portanto, uma composição de sentido “replicado”; ou ainda estabelecerem relação sintática de “causa e consequência”, “denotação e figuração alegórica”, entre outras possibilidades.

3.2 – Delimitação espaço-temporal do corpus de pesquisa38

As quinze composições “provérbios-imagens” componentes do corpus foram extraídas da rede social Facebook entre abril de 2013 e junho de 2016. Por se tratarem de composições de caráter proverbial, o critério de seleção não pretende

37 GREIMAS, A. J.; COURTÉS, Joseph. Dicionário de Semiótica. São Paulo, Ed. Cultrix, 1979. 38 Todos objetos do corpus de pesquisa estão na seção “Anexos”.

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