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A FUGA EM MASSA, O MEDO DE BALAS E NAVALHAS, ACELEROU O ÊXODO RURAL E AUMENTOU O INCHAÇO URBANO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

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A FUGA EM MASSA, O MEDO DE BALAS E NAVALHAS, ACELEROU

O ÊXODO RURAL E AUMENTOU O INCHAÇO URBANO NO BRASIL

CONTEMPORÂNEO

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RESUMO

Esta pesquisa objetivou a identificação de possíveis causas envolvidas no êxodo rural e o superpovoamento urbano. A educação é o meio mais eficiente para o desenvolvimento de uma sociedade e a qualificação de seus representantes para a vida e a atividade profissional. Todavia, é necessário um planejamento adequado para atender os anseios dos habitantes das áreas denominadas rurais, ou campo. Aprendizagem significativa não se restringe apenas os conteúdos, mas o modo como esses são ensinados e naturalmente venham refletir na transformação do cidadão para conviver melhor com o seu habitat natural. A Educação do Campo deverá ser diferenciada do Ensino Urbano, não apenas no sentido de conteúdo. Mas, na metodologia do ensinar, logo é preciso fazer a preparação desse professor com atuação em áreas rurais. É um dos maiores obstáculos para o Ensino Básico no Brasil para o século XXI, pois o ensino está direcionado a um único público específico, o cidadão urbano. O currículo escolar não foi planejado para contemplar as diversidades dos brasileiros das mais distintas localidades deste país continente com tantas complexidades e culturas carregadas de simbolismos e heranças indígenas, africanas, ou de outros povos vindos de outros países com diversidades de tradições. No sentido de minimizar esse abismo entre o campo e a cidade o desafio é grande para preparar uma reformulação no currículo da educação brasileira e qualificar o profissional da educação do campo para corrigir séculos de abandono e de preconceito direcionado ao cidadão do campo.

Palavras-chave: Estereótipos sociais, Educação do campo, Homem rural, Sociologia rural, Lutas de classes ABSTRACT

This study aimed to identify possible causes involved in urban overcrowding and rural exodus. Education is the most efficient way to develop a qualification society and its representatives to the life and professional activity. However, proper planning is necessary to meet the desires of the inhabitants of rural areas called, or field. Meaningful learning is not only the content, but the way these are taught and of course will reflect on the transformation of the citizen to live better with their natural habitat. The Rural Education should be differentiated from the Urban Education, not only in terms of content. But particularly in the methodology of teaching, then you have to do with the preparation of teacher performance in rural areas. It is one of the biggest obstacles for Basic Education in Brazil for the twenty-first century, because teaching is directed to one specific public, the urban citizen. The school curriculum was not planned to answer the diversity of Brazil's most distinguished places, or local in this country continent with so many complexities and cultures loaded with symbolism and heritage of Indigenous, African, or other people from other countries with different traditions. In order to minimize the gap between urban and rural areas the challenge is to prepare a major overhaul of Brazilian education in the curriculum and enhance the professional education field to correct centuries of neglect and prejudice directed at citizens of the field.

Key-words: Social stereotypes, Rural Education, rural people, rural sociology, class struggles

INTRODUÇÃO

O meio rural perdeu um grande contingente para as áreas urbanas. Esse êxodo vem ocorrendo após a segunda guerra mundial. Em conseqüência desse comportamento houve um

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Francisco Gilvan Bezerra dos Santos (Licenciado em Biologia - URCA, Mestre em Ciência Animal – UNIVASF e Professor do Ensino Médio, email: sangilvan@hotmail.com).

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crescimento desordenado nas cidades brasileiras. O resultado deste processo, uma queda na qualidade de vida das pessoas e o reflexo da violência que só aumentou nas áreas urbanizadas. Por outro lado, a chegada de imigrantes rurais aumentou a força de trabalha desqualificado. A construção civil aproveitou essa oferta de mão-de-obra barata para erguer as grandes edificações por causa dos baixos salários recebidos esses empregados passaram a habitar as periferias das cidades contribuindo com a favelização das grandes cidades. Quem são esses ex-moradores rurais, há indivíduos das mais diferentes faixas etárias, no entanto, existe uma predominância de pessoas com idades entre os 17 e 26 anos (CALDART,2003).

Quem são esses atores a compor este cenário da história do Brasil? Na verdade, as figuras responsáveis pela mudança mais drásticas tanto ambientais como sociais no contexto brasileiro representado de um lado a força do capital predatório existem os denominados empreendedores do agronegócio responsáveis pelos “royalties” equilibradores da balança comercial. Do outro lado fica uma legião de moradores do campo acostumados com o desprezo, desrespeito exposto pelas autoridades, do poder vigente. Esses brasileirinhos (brasileiros mesmo são os latifundiários) rudes, feios, desqualificados, analfabetos, desprovidos de saberes, são matutos, falam errados, são o atraso do país se não reflete na visão de todas as classes dominantes, mas na ação de grandes empresários da pecuária e das monoculturas de grãos e da cana-de-açúcar da mesma forma da classe política que legislam apenas a favor dos poderosos. Para entender o desajuste ambiental ao cruzar 100 quilômetros em qualquer região do país a devastação proveniente de latifundiários desequilibrados representa o melhor cartão de visita para os viajantes. Pensar o desenvolvimento antes de tudo é preservar o meio ambiente, melhorar as condições de vida das pessoas (OLIVEIRA, 2002).

Desta prática secular adotada no Brasil desde chegada dos europeus fica a explicação clara para a desordem social encontrada nas áreas urbanas de Norte a Sul, Leste a Oeste. Não é necessário ouvir noticiários, ver telejornais, ou ler as crônicas policiais e nem as páginas de jornal sensacionalistas. Nas entradas e saídas, ou até mesmo alternando e confundindo com toda a sua paisagem urbana, exemplo a Cidade do Rio de Janeiro repleta de morros cada um deles cobertos por favelas, essas repletas de barracos, casebres habitados predominantemente pelos outrora moradores vindas do campo descendentes de Índios, Negros e outros relegados e encaminhados a marginalizados, herança de quinhentos anos de imagem europeizada, ou “norte - americanizada” fica visível essa realidade campo-urbano, ou urbano-campo. No Brasil esse processo ocorreu mais intensamente depois da segunda guerra mundial

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(BRÜSEKE, 1998).

O Brasil pode ter nascido no Nordeste, mas a dominação começou no Sul e se estendeu pelo Sudeste do país feito um “rolo compressor” a atropelar o Nordeste restando a esta Região o título de seleiro de mão-de-obra barata e desqualificada para a construção civil do Rio de Janeiro e de São Paulo entre outras cidades grandes do país. Os jovens antes inseridos na agricultura familiar migram para os grandes centros urbanos (WEISHEIMER, 2005).

Por que o homem foge da terra para sobreviver em solos abrasantes das cidades grandes? Não há uma resposta pronta, ou abrangente, mas o sujeito do Campo vive numa espécie de “fogo cruzado” cercado pelas terras de mega empresários agrários e lhes restam poucas opções. Virar subalterno de latifundiários, ou ir para o embate contra essa figura poderosa, o senhor da terra. Lutar contra a força imposta a braços de jagunços e pistoleiros a serviço de donos das grandes propriedades conduz a morte do mais fraco. Resta à única vitória, a fuga para as áreas urbanizadas. Implicado a esta causa vem à ocupação desordenada de áreas impróprias à habitação, exemplo as encostas de morros, beiras de córregos, riachos, rios e outros locais sujeitos a soterramentos, inundações e desmoronamentos. Essa problemática gera a desigualdade social (SEN, 2010).

Em consequência desta situação formou-se e continua a ser formado as periferias urbanas, na maioria delas sem saneamento básico, calçamento e coleta de lixo. Nessas áreas o poder público deixa os moradores exposto a própria sorte. Não existem os serviços básicos, tais como educação, saúde e segurança, quando há são precários a considerar carência, ou ausência de profissionais da educação, saúde e segurança. O resultado é a falta de formação das pessoas, principalmente jovens, a propagação de doenças e o aumento da violência (ADORNO, 2002).

Diante deste cenário conflituoso entre o fogo, o açoite, o aço (navalha) e nos dias de hoje a coação sobre balas projetadas pela força armada (pistoleiro) contratado a mando de latifundiários encontra-se essa desordem social entre campo e cidade no contexto brasileiro (MOLINA, 2010). Caso não aconteça uma conscientizarão da sociedade em geral que implique numa ação do Estado realizada por uma política eficaz realizada por pessoas com o devido conhecimento social, sem envolvimento pessoal, ou particular esse conflito social que se arrasta no Brasil a começar com a chegada dos europeus tenderá a um agravamento com

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conseqüência maior, guerras de classes. Mas, essa realidade não denotada, ou retratada nos livros didáticos de historia do Brasil. É necessário o questionamento, qual é a história que devem ser explicitados no Ensino Básico os fatos reais, ou apenas uma visão das classes dominantes (CALDART, 2003).

Optar em viver no ambiente denominado de Rural é uma escolha cada dia mais difícil. Além do encantamento urbano o homem da roça é tratado como um rude, ignorante e dependente das decisões deliberadas por meio de politicagem. De qualquer forma ainda é possível encontrar a harmonia da natureza e a liberdade oferecida por um vasto espaço físico sem a poluição sonora e os resíduos provenientes de fábricas e canos de escapes dos automotores (FACIN & SPESSATTO, 2007).

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no período compreendido a 01e 29 de outubro de 2011 durante o curso da disciplina de Sociologia Rural II na Especialização em Educação do Campo da Universidade Federal do Vale do São Francisco no Colegiado de Ciências Sociais no Campus de Juazeiro-BA. Nesta pesquisa utilizou-se leitura de textos, artigos, capítulos de livros, pesquisa na “internet” e a observação em Locus de três Escolas. Sendo duas em área rural e uma terceira no espaço urbano situado em um bairro de conflitos urbanos da sede administrativa de Juazeiro da Bahia, a escola rural Juazeiro esta situada a 60 quilômetros do centro administrativo do Município. A escola rural de Pernambuco fica numa área irrigada apenas a 15 do centro de Petrolina. O período de observação ocorreu durante todo o mês de outubro de 2011. O estudo foi realizado através de sondagens e diagnósticos com estudantes das séries terminais do Ensino Médio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A agricultura é provavelmente uma das atividades humanas mais antigas. Não existe um marco com data exata, mas surgiu justamente quando o ser humano observou nos ambientes plantas capazes de produzir quantidade de frutos suficiente para alimentá-lo. O desenvolvimento veio com a domesticação das espécies vegetais com capacidade de produzir maior e melhor qualidade frutos e grãos para saciar as necessidades nutricionais dos seres humanos. Os seres humanos são sustentados pela produção agrícola, logo a agricultura é vista

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como uma arte (PATERNIANI, 2001).

Não há como determinar um início da agricultura, porém os africanos já praticavam agricultura a cerca de 40 mil anos, “Mayas”, Incas e Astecas nas Américas desenvolvia práticas agrícolas desde milênios, no Brasil Índios de diferentes pontos domesticavam plantas através de seleções de melhoramento genético por observação de qualidades favoráveis de forma milenar, exemplo na Amazônia os povos selecionaram diferentes variedades de pequis e continua a escolher as plantas com características que o julgam positivas há pelo menos cinco mil anos.

Estabelecer um ponto de partida para o começo das práticas agrícolas é uma especulação, pois ainda temos muito que estudar para encontrar o marco mais provável para essa atividade, ou ate mesmo mais do que uma atividade, uma arte inerente a própria sobrevivência da espécie humana.

Os únicos seres capazes de transformar matéria inorgânica e matéria orgânica e energia luminosa em energia química são no meio aquático as algas e nos solos os vegetais. Diante deste conceito fica difícil pensar a vida na Terra sem a presença dos seres fotossintetizantes responsáveis pela manutenção dos níveis de gás oxigênio e da concentração de biomassa, na qual está contida a energia para a demanda de outros seres vivos os não-fotossitetizantes. Essa compreensão fica clara na história das agriculturas onde o homem e outros animais pela sua condição de heterótrofos dependerem dos autótrofos (vegetais), logo o desenvolvimento das diferentes formas de agriculturas (MAZOYER e ROUDART, 1997).

Para falar de agricultura é fundamental dizer se tratar de uma prática com origem e necessidades do ambiente rural. O espaço urbano, às vezes, até poder vir a ser propício ao cultivo de algumas espécies vegetais ornamentais, ou de gêneros utilizadas na alimentação humana como tem feito os ingleses com o chamado “food from the Sky” utilizando os terraços superiores dos prédios residenciais. Mas, isso não reflete uma prática agrícola. O ambiente rural é o principal elo de sustentabilidade da vida, é neste local que nasce, cresce, ocorre o desenvolvimento de diferentes formas de seres vivos, esses vão ser auto-sustentável e ainda servirão de sustentação para outras formas de vidas, por exemplos, daqueles residentes nos ambientes urbanos. No entanto, o homem que surgir no campo só com o passar dos tempos, com a própria evolução de técnicas começa a desenvolver os primeiros aglomerados, mais

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tarde denominados de cidades. Esse mesmo homem irá ignorar e repudiar, discriminar “chacotear” a sua origem presente no campo, o cidadão rural. Daí surge o indivíduo do campo, um cidadão observado através de um ângulo distorcido, ou seja, figura feia, atrasada, desqualificada, sem estética, não-culto, ignorante e “pobre coitado de pena”. Sendo assim, a necessidade de estudar e repensar o sujeito do campo respeitando as suas particularidades, individualidades locais e a identidade de cada realidade (WEISHEIMER, 2005).

Para o desenvolvimento do campo como espaço sustentável, é essencial o respeito de toda a sociedade, se faz necessário o entendimento dos valores universais, exemplo os direitos humanos expressos na sua amplitude maior. E terminando nos ditos direitos coletivos (NASCIMENTO e VIANA, 2009).

Uma forma explicita desta reflexão campo versus urbano, a valorização cidade em desvalorização do rural, ficou explicito no comentário de um “pop star” pseudo “rocker”, ”rock man” do denominado “rock nacional” dos anos 80 quando em um programa de TV disse que espingarda de dois canos serviria apenas para matar duplas sertanejas. Essa postura foi carregada de preconceito, radicalismo e desrespeito ao diferente, ao mesmo tempo essa criatura foi extremamente infeliz porque isso aconteceu justamente na década de 1990 quando o modismo “rock nacional” entrava em declínio, em contra partida era o começo “sertanejo” mesmo sendo uma cópia dos chamados “cawboy, country” dos Estados Unidos da América (U.S.A.) esse estilo é a consagração das duplas caipiras e essas amadas, ou odiadas proliferaram mais do que erva daninha em roçado abandonado. Mas, isso serve de reflexão, pois o mesmo aterrorizador/exterminador de “duplas sertanejas” com espingardas de dois canos ao cair em monotonia (desuso), foi gravar com algumas dessas duplas que o mesmo defendia a eliminação através do uso de armas com dois canos. E qual é a origem da música? Os povos mais antigos já utilizavam cantos/músicas de forma sistemáticas durante as atividades humanas. Nos séculos VI e V a. C., como uma forma de amenizar o cansaço das longas jornadas de trabalho. Nesta época não havia esse conceito de música clássica, popular, caipira, ou qualquer outro estilo. A música estava presente na vida humana. Porque esse estereótipo a respeito da música (CERQUEIRA, 2007). A música não melhora nem diminui as leis biológicas, não tem relação com herança hereditária, no entanto ela ajuda a estreitar os laços interpessoais, portanto a música tem papel importante na aproximação das pessoas e cada povo apresenta sua musicalidade local, que pode ou não ser influenciada por gêneros externos (ILARI, 2006).

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Mas o sujeito do campo é forte, pois apesar de todas essas ações negativas “despejadas” contra a sua forma de ser, o seu estado de espírito e porque não afirmar sua própria identidade (GARCIA, 2003). Ele ainda é capaz de sobreviver e manter a sua personalidade e criatividade e expressar o seu valor indiscutível. E porque toda essa “carga” de preconceitos direcionados ao cidadão rural é como se ele viesse a ser uma figura oriunda de outra espécie. É estranho ter esta visão, porém é o reflexo do habitante urbano para com o homem do campo em vários posicionamentos. No entanto, não reconhece, ou não aprendeu nas aulas de geografia a formação das cidades. A própria urbanizações surgem tardiamente em relação ao campo. Na Europa Ocidental e (U.S.A.) tem um processo de aceleração na segunda metade do século XVII, enquanto na América Latina, África e Ásia apenas a partir da década de 1950, sendo assim, é notório afirmar, mas na verdade o homem vai do campo para a cidade e não faz o processo inverso (COSTA, 1999). Não há um espaço ideal para repetir a afirmação “a campo depende da cidade, ou vice-verso”, todavia é importante um esclarecimento o ser humano é a espécie Homo sapiens sapiens independente do local habitado, ou qualquer outra diferença fenotípica, social e cultural que passo e passe pela sua ingenuidade, ou sabedoria. Nasceu no campo.

O homem do campo alimenta as cidades e ainda fornece outros bens de primeira necessidade, é responsável pela alimentação da população no geral, justamente os desprezados, esquecidos e tratados e retratados de modo estereotipados. São os pequenos agricultores, ou agricultores familiares (GARNICA, 2005). Esta população de trabalhadores rurais com a sua mão de obra, muitas vezes classificada de desqualificada é quem alimenta a nação. Trabalhadores sem terra, assentados, meeiros, arrendatários e destratados pelas políticas agrícolas e públicas (NEVES, 2001; NEVES, 2005).

Nesta atmosfera complexa e dinâmica, heterogênica e efervescente nasceu a maioria e os maiores movimentos de repudio as mazelas criadas pelas elites econômicas, intelectual e política do Brasil. Um exemplo clássico deste campo vivo, pulsante foi à formação do povoado de Canudos no Sertão da Bahia tendo como a sua figura mais importante Antonio Conselheiro. Infelizmente Canudos foi literalmente excluído do mapa por uma força armada comandada por um clientelismo vergonhoso e poderoso, o qual foi derrotado por três vezes. E ainda teve a cobertura realizada por um jornalista encaminhado do Sudeste para esse fim. Esse por sua vez era extremamente preconceituoso, isso fica explicito na passagem “o sertanejo antes de tudo um forte” (CUNHA, 1984).

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Mas se “Os Sertões” narrado por um intelectual elitizado a serviço de um poder vigente daquele momento histórico não teve o tratamento na qualidade real que poderia possuir. Por outro lado, é importante compreender Canudos como um marco dos mais importantes dentro dos movimentos sociais rural, ou interiorano do Nordeste brasileiro.

Quando ocorreu a “guerra”, conflito de Canudos, as necessidades dos cidadãos diferiam do Mundo globalizado do século XXI. Mas, o que levou a organização de diversos tipos de luta social eram as mesmas carências presente neste terceiro milênio, ou seja, a falta do espaço físico para morar, viver, produzir. Por outro lado, era a fuga do açoite, da dominação e da exploração do homem pelo homem. Antonio Conselheiro, o articulador “guru” de Canudos fez todo esse “barulho” porque tinha vivência da “escola da vida” havia fugido do sul cearense onde os carrascos perseguiam os pobres, numa espécie de escravidão. Parece um grande equívoco classificar este movimento social, político e econômico como fanatismo religioso praticado por ingênuos seguidores de um beato (SILVA, 2005).

Esses conflitos humanos têm tantas origens, motivos e motivações, mas talvez a principal causa seja a situação política vivida por cada grupo de articuladores de movimentos sociais. Dentro desse contexto há razões sociais, todavia não pode ser esquecido, ou deixado de lado a questão econômica. O desenvolvimento da sociedade esta influenciada pelo poder econômico de cada momento. Quem detém das melhores ferramentas, apresenta melhor atividade “mercantilista”, terá maior possibilidade e “barganha” sobre os mais desprovidos financeiramente. Mas, todas estas situações abordadas têm origem nas decisões econômicas e estão subordinadas aos condicionantes políticos (FURTADO, 2008).

O desenvolvimento econômico esta presente na evolução da história do homem dos tempos mais remotos ao mundo contemporâneo. O homem da antiguidade estabelecia as regras da economia através da troca de objetos, no mundo moderno o papel forte gira nas grandes transações financeiras. Estas podem tanto levantar o mercado quanto afundar. As grandes crises e até mesmo as grandes guerras mundiais foram reflexos de desajustes econômicos. É importante compreender, o desenvolvimento econômico é determinado pelo mercado, ou seja, excesso de consumo pode representar uma desaceleração da economia (BRESSER- PEREIRA, 2007).

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arrecadação de renda real. O mercado, a atividade que apresenta melhor desempenho é denominada de bem sucedida. Obviamente isso depende de outros fatores como melhor atividade, mais lucrativa, mercado favorável e menor taxa de impostos sobre mercadorias (OLIVEIRA, 2002).

Envolvendo e determinando a economia encontra-se o capitalismo, esse por sua vez é o responsável pelo “boom” das grandes transações econômicas, mas gera miséria, destruição ambiental e segregação das pessoas nos guetos e favelas nos centros urbanos. Mas nem tudo é desgraça, para muitos é extremamente importante, pois é a máquina motriz da indústria e dos grandes avanços, esse mesmo capital ao crescer excessivamente sofre uma destruição e se refaz (SHUMPETER, 1961). É esse capital capaz de levar o homem a lua e “escanear”, fazer varredura do solo de Marte, mas não é capaz de acabar como a fome crônica de centenas de milhões de pessoas habitantes das periferias do mundo a fora. Até mesmo dos “arredores” de Juazeiro-BA. – Petrolina-PE.

Essa miséria anda “lado a lado” com o desenvolvimento, o progresso e a tecnologia, é reconhecida e retratada nas artes, seja na pintura, poesia, ou na música. Às vezes, a fome perpassa da questão financeira e vai de encontro com o desconhecimento, neste caso é a fome da ignorância. Essa situação é tão absurda e pode ser encontrada em todos os continentes. Ela representa um fenômeno social, é geograficamente universal (CASTRO, 1984).

O Brasil por toda a sua grandiosidade, leque de diversidades que reflete na sua composição heterogênea tanto da constituição populacional quanto cultural pode ser considerado uma nação tranqüila ainda que com todos esses desafios. Esta influência encontrada de diferentes grupos que viviam neste país continente quando chegaram os europeus e para deixar esta nação ainda mais complexa os portugueses trouxeram os africanos para aumentar a miscigenação. Portanto este país que apresenta esta formação com heranças tão distintas pode ser classificado de uma nação pacífica. Porém é fundamental relatar que o Brasil ao longo da sua história já vivenciou divergências acirradas entre grupos opositores. São quinhentos anos de reforma agrária que nunca saiu do gabinete dos políticos (PICOLOTTO, 2007). O Nordeste do Brasil foi o palco de muitas lutas apesar de toda a carga de preconceito do Sudeste direcionado ao nordestino até meados do século XX denominados de nortistas. Na Região surgiram muita pobreza, a “indústria da seca” e os mais diversos movimentos de retirantes (ROCHA, 2006a; ROCHA, 2006b). Não pode ser negado, o Brasil seria bem

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diferente caso não existisse o Nordeste. Na política, nas artes e na cultura esta Região contribuir de forma significativa com a história Nacional (ALBUQUERQUR JR., 2011). É evidente a queda do Nordeste com o litoral canavieiro frente o Sudeste industrializado, mas precisamente o Estado de São Paulo, esses modelos brasileiro de desenvolvimento conduziu ao declínio da Região Nordeste conseqüentemente o subdesenvolvimento é mais evidente na referida Região com uma população até a década de 1960 mais concentradas no meio rural com pouca oferta de mão-de-obra a saída foi à migração para o Sudeste do país principalmente para São Paulo (BRAGA, 2011).

Mas o Nordeste do século XXI tem agricultura mecanizada, industrializada, que eleva a balança de exportação, principalmente na fruticultura irrigada e não está sujeita aos regimes hídricos, mas as ofertas de mercados e ataque de pragas agrícolas que fogem do controle a base de agrotóxicos, a desgraça de trabalhadores desse modelo de agronegócio (BEDOR et al., 2010; SILVA et al., 2010). Assim como do protecionismo de muitas nações, pois bem todos esses fatores negativos mostram a fragilidade que aponta para uma vida no campo de duplo caminho, o do camponês “acuado”, desassistido e marginalizado e na contramão o poderoso senhor dono de quase todas as terras rurais, protegido pelos órgãos governamentais e pela lei ambígua (WANDERLEY, 2009).

Esses conflitos assistidos em relação ao campesinato nacional têm as suas raízes e heranças no denominado descobrimento. Isso já é visível na metade da primeira república com o surgimento dos órgãos protetores dos latifundiários, exemplo a Sociedade Paulista de Agricultura (SPA) e a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) com raízes poderosas dentro da representação política conservadora e separatista, isso implica e explica a heterogeneidade dos moradores rurais do Brasil (MENDONÇA, 2007).

A sociedade brasileira tem fortes traços com o rural, ela nasceu neste ambiente, no entanto isso é negado. A urbanização tem sua explosão no século XX acompanhada do êxodo rural com a fuga expressiva das pessoas simples e de limitados conhecimento escolares, e isso justifica os acentuados processos de favelizações dos grandes centros urbano. Essa separação do campo e cidade implica nesse conflito e na subordinação do homem rural a agricultura capitalista (WANDERLEY, 2000).

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Neste presente estudo o objetivo foi verificar a situação dos conflitos sociais no ambiente rural que reflete nas áreas urbanas e conseqüentemente a formação das favelas com agravamentos sociais e ambientais nas cidades. Objetivou-se a questão do Nordeste do Brasil incluindo os movimentos e lutas pela ocupação da terra, assim como, a sua influência na história contemporânea Nacional. Não foi esquecido o preconceito e as formas estereótipos direcionadas ao cidadão do campo refletido em diversas manifestações de autoria urbana.

Nesta pesquisa foram levantadas as questões do Submédio São Francisco relacionadas com o agronegócio voltado para a fruticultura irrigada alicerçada na exportação para o mercado estrangeiro. Bem como a problemática da aplicação de agrotóxicos como uma questão de alto risco para os agricultores tendo em vista a exposição aos venenos até mesmo para aqueles que utilizam o equipamento de protenção individual (EPI). Diante deste trabalho fica expressivo o quanto há de preconceito para com o camponês e a falta de uma política de Estado eficiente para diminuir estas mazelas.

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Referências

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