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Considerações acerda da (im)possibilidade do dano moral da pessoa jurídica)

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

JULIANA MICHELON

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA (IM)POSSIBILIDADE DO DANO MORAL DA PESSOA JURÍDICA

IJUÍ (RS) 2011

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JULIANA MICHELON

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA (IM)POSSIBILIDADE DO DANO MORAL DA PESSOA JURÍDICA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Msc. Lisiane Wickert

IJUÍ (RS) 2011

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Dedico este trabalho aos meus pais, Waldir e Nadir, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com dignidade, humildade e honestidade, que se doaram inteiros para realizar os meus sonhos, que iluminaram meu caminho com amor, carinho e dedicação para que o trilhasse sem medos e cheia de esperanças e que me apoiaram durante os longos anos da minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, sabedoria, força e coragem que sustenta os meus dias.

Aos meus pais, pelo amor, carinho e apoio de sempre.

A minha irmã Daiana, pela amizade e incentivo, principalmente, nos momentos mais difíceis.

Ao Daniel, pessoa que amo e partilho a vida, pelo seu amor, paciência e compreensão.

A minha orientadora, professora Lisiane, pela sua disponibilidade, conhecimento e ensinamento.

A todos que, de alguma forma, estiveram ou estão próximos de mim e compartilharam para a elaboração deste trabalho. Muito obrigada!!!

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“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”

Artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica, em consonância com o próprio ordenamento jurídico brasileiro, jurisprudência e doutrina, faz algumas considerações acerca do cabimento do dano moral às pessoas jurídicas. Elucida a questão da legitimidade das pessoas jurídicas demandarem a reparação de dano moral, posto que não possuem capacidade afetiva como vislumbram as pessoas físicas, entes dotados de personalidade. Contextualiza que as pessoas jurídicas são legitimadas a pleitear as indenizações devidas, uma vez reconhecida a proteção dos direitos da personalidade aos entes jurídicos, permitindo essa legitimidade ativa às pessoas jurídicas, respeitadas as condições de sua existência.

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ABSTRACT

The present work of monographic research, consonant with the own Brazilian legal system, jurisprudence and doctrine, makes some considerations about the suitability of moral damage to legal entities. Elucidates the issue of legitimacy of the legal entities demanded the reparation of moral damage, though do not have the affective capacity how envision natural persons, beings endowed with personality. Contextualizes that legal entities are legitimized to plead the indemnities proper, once recognized the protection of personality rights to legal entities, allowing this active legitimacy to legal entities, respected the conditions of their existence.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...9

1 DANO MORAL...11

1.1 A caracterização do dano moral...11

1.2 Reparação civil por danos morais...15

1.3 Critérios para a sua fixação...18

1.4 Titulares do direito à reparação...21

2 DANO MORAL DE PESSOA JURÍDICA...25

2.1 Os direitos da personalidade da pessoa jurídica...25

2.2 A prova do dano moral da pessoa jurídica...29

2.3 A reparação e a fixação do quantum indenizatório...30

2.4 A jurisprudência brasileira...33

CONCLUSÃO...44

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende abordar a (im)possibilidade do pedido de danos morais pela pessoa jurídica, fazendo considerações acerca deste tema de grande relevância no mundo atual, cada vez mais consagrado na doutrina e na jurisprudência brasileira.

Sabe-se que o dano moral caracteriza-se por um sofrimento de natureza psíquica exclusivo da pessoa física. Neste sentido, seria possível a pessoa jurídica pleitear danos morais? Quanto à obrigatoriedade de indenização de danos morais à pessoa física, ninguém tem dúvida. Surge, no entanto, a discussão se a pessoa jurídica também pode situar-se no polo ativo de uma ação por danos morais.

O objetivo geral deste trabalho evidencia-se no seu próprio título. Explanará a legitimidade de a pessoa jurídica pleitear indenizações por dano moral, embora não seja dotada de sentimentos afetivos como as pessoas naturais. Analisará o cabimento do dano moral às pessoas jurídicas conforme prescreve o próprio ordenamento jurídico brasileiro.

O trabalho contempla ainda objetivos mais específicos, tais como: a) caracterizar, principalmente, os danos morais da pessoa jurídica; b) exemplificar os titulares do direito ao dano moral; c) demonstrar os critérios de reparação e fixação do quantum indenizatório; d) explicar as provas do dano moral da pessoa jurídica; e) analisar alguns casos concretos.

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Primeiramente apresentará esclarecimentos relacionados ao dano moral na sua ampla compreensão, como a sua caracterização, sua reparação civil, critérios para a sua fixação e titulares do direito à reparação.

Os danos morais à pessoa jurídica têm repercussão na sociedade, uma vez que estes entes jurídicos são extremamente essenciais para o desenvolvimento econômico-financeiro do país, pois assumem, nos dias de hoje, enorme importância nas relações comerciais, no progresso científico e na prática de negócios jurídicos tendentes à realização de seus objetivos sociais, quando se sabe que a divulgação errônea de um fato contra uma pessoa jurídica pode ensejar danos desmesurados quando atingem a sua credibilidade, seu nome, sua imagem, inclusive comprometendo a sua própria sobrevivência.

Para a elaboração do presente trabalho usou-se o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando a seleção de bibliografia e documentos afins à temática em meios físicos e na Internet e interdisciplinares, capazes e suficientes para construir um referencial teórico coerente sobre o tema em estudo, respondendo ao problema proposto, corroborando ou refutando as hipóteses levantadas e atingindo os objetivos propostos na pesquisa.

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1 DANO MORAL

Os danos são classificados pelos seus efeitos em patrimoniais e extrapatrimoniais. Para Yussef Said Cahali (1998, p. 19), os danos patrimoniais consistem em prejuízo econômico, e os danos extrapatrimoniais se constituem pelo sofrimento psíquico ou moral, as dores, as angústias e as frustrações infligidas ao ofendido.

Primeiramente, é conveniente explicar que “o vocábulo “dano” deriva do latim damnum e significa, em sentido lato, todo mal ou ofensa que tenha uma pessoa causado a outrem, [...]” Interessante ainda é a origem etimológica da expressão “moral”, também derivada do latim moralis, que designa a parte da Filosofia que estuda os costumes, sendo mais ampla do que o direito, na medida em que aponta o que é correto segundo os ditames da consciência. (VIANA, 2002, p. 31, grifo do autor).

Traçados estes esclarecimentos, salienta-se que o nosso objeto de estudo terá o direcionamento para os danos extrapatrimoniais, também designados como danos morais. Tentar-se-á, num primeiro momento, delinear esclarecimentos pertinentes ao dano moral na sua ampla compreensão, e, em segunda ocasião, demonstrar e elucidar a conferência de direitos da pessoa jurídica no pleito de danos morais.

1.1 A caracterização do dano moral

O dano moral exprime-se em qualquer prejuízo de ordem não patrimonial, de modo que não se pode defini-lo exclusivamente como dano ao psíquico, pois se caracteriza também pela lesão à integridade física.

Caracterizam-se os danos morais como aqueles que ofendem os direitos intrínsecos à personalidade do indivíduo e que são suscetíveis de proteção, como o

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direito à honra, ao nome, à reputação, à imagem, à privacidade, etc. Sendo assim, os danos morais se caracterizam quando ocorre lesão ao psicofísico da pessoa.

“São morais os danos a atributos valorativos (virtudes) da pessoa como ente social, ou seja, integrada à sociedade; vale dizer, dos elementos que individualizam como ser, como a honra, a reputação, as manifestações do intelecto.” (BITTAR, 2001, p. 22).

Cahali (1998, p. 20) destaca que o sentimento de sofrimento psíquico, dor, angústia e tristeza, é considerado dano moral puro, que molesta a parte afetiva do patrimônio moral. Cahali (1998, p. 20-21) conclui que,

Na realidade, multifacetário o ser anímico, tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; não há como enumerá-los exaustivamente, evidenciando-se na dor, na angústia, no sofrimento, na tristeza pela ausência de um ente querido falecido; no desprestígio, na desconsideração social, no descrédito à reputação, na humilhação pública, no devassamento da privacidade; no desequilíbrio da normalidade psíquica, nos traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste psicológico, nas situações de constrangimento moral.

Para dar o tratamento adequado aos danos extrapatrimoniais ou morais, é de fundamental importância a divisão e distinção desses danos em objetivo ou subjetivo.

Para tanto, Sérgio Severo (1996, p. 45) distingue como dano extrapatrimonial objetivo quando este alcança interesses não econômicos, ou seja, atinge a imagem da pessoa perante o meio social em que vive; e subjetivo quando implique sofrimento psíquico ou físico experimentado pela vítima, ou seja, configura padecimento interno do ofendido, considerando que “o dano extrapatrimonial, subjetivo ou objetivo, será puro sempre que se apresentar desacompanhado de qualquer lesão de índole econômica.”

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Qualificam-se como morais os danos em razão da esfera da subjetividade, ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se, portanto, como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal), ou o da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração social).

Maria Helena Diniz (2003, p. 84) define expressamente o dano moral, inclusive demonstrando a classificação em que se insere:

O dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo. Qualquer lesão que alguém sofra no objeto de seu direito repercutirá, necessariamente, em seu interesse; por isso, quando se distingue o dano patrimonial do moral, o critério da distinção não poderá ater-se à natureza ou índole do direito subjetivo atingido, mas ao interesse, que é pressuposto desse direito, ou ao efeito da lesão jurídica [...].

Conforme ensina Antonio Jeová Santos, citado por Vitor Gonçalves Machado (2010, p. 3), "é o resultado da violação do direito ligado ao bem protegido que faz emergir o dano moral." Ou seja,

[...] considerar que somente os direitos da personalidade dão ensejo ao dano ressarcível é aprisionar a conceituação do dano moral, dando-lhe visão restritiva e angusta. Existem direitos outros, no âmbito extrapatrimonial, que não são da personalidade mas que uma vez atingidos, ocasionam ruptura na tranqüilidade espiritual. Podem ser considerados, sob essa ótica, os direitos políticos, sociais e os decorrentes de laços familiares que, se houver detrimento, podem gerar um dano moral. (MACHADO, 2010, p. 3).

Sobre o que configura realmente o dano moral, considera-se a definição de Sérgio Cavalieri Filho (2003, p. 99, grifo do autor):

Só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos. Dor, vexame, sofrimento e humilhação são

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conseqüência, e não causa. Assim como a febre é o efeito de uma agressão orgânica, dor, vexame e sofrimento só poderão ser considerados dano moral quanto tiverem por causa uma agressão à dignidade de alguém.

Por noção de dano, esclarece Clayton Reis (2000, p. 8): “[...] os danos extrapatrimoniais decorrem de um prejuízo sofrido pela vítima nos seus valores íntimos e pessoais, que deve ser objeto de uma verba pecuniária fixada pelo juiz, objetivando satisfazer ou compensar os valores imateriais lesionados.”

Para René Savatier, citado por Américo Luis Martins da Silva (1999, p. 37, grifo do autor)

dano moral constitui todo sofrimento humano que não resulta de uma perda pecuniária. Além disso, esclarece ele que os aspectos do dano moral são extremamente variados, podendo tratar-se tanto de um sofrimento físico como de uma dor moral de origem diversa.

Assim, também, na definição de Wilson Melo da Silva (1999, p. 1-2), “danos morais são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio ideal, em contraposição ao patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico,” e atenta para o reconhecimento da natureza do prejuízo final, enfatizando que “Seu elemento característico é a dor, tomado o termo em seu sentido amplo, abrangendo tanto os sofrimentos meramente físicos, quanto os morais propriamente ditos.”

Dano moral é uma lesão causada a um bem jurídico. É uma lesão à dignidade humana que consiste na violação de natureza não econômica. A dor, a angústia ou o sofrimento que a pessoa sente não podem se confundir como o próprio dano moral, e já não devem ser considerados como causas e sim consequências. A proteção dos direitos de personalidade, prevista na Constituição Federal, significa que todo o ser humano deve ser respeitado em sua essência e em sua existência.

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1.2 Reparação civil por danos morais

A Constituição Federal de 1988 (CF) há muito tempo consagra o reconhecimento do dano moral e sua reparabilidade no título “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, em seu artigo 5º, inciso V, que assegura o “direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”. E, mais amplamente, o inciso X deste mesmo artigo 5º da CF declara: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.”

Com tais disposições na mais alta e firme norma constitucional, o princípio da reparabilidade do dano moral presume-se estabelecido em nosso direito. Ademais, o Código Civil de 2002 (CC) prevê a reparação do dano moral ao se referir, no artigo 186, ao ato ilícito: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Evidenciam-se elementos essenciais de responsabilidade civil, pela análise do artigo supracitado, como ação ou omissão, culpa ou dolo quando menciona “negligência ou imprudência”, relação de causalidade quando expressa “causar” e o dano experimentado pela vítima.

Na visão de Humberto Theodoro Júnior (1997, p. 25), “nosso direito assenta a responsabilidade civil sobre um tripé formado pelo dano da vítima, a culpa do agente e o nexo causal entre a lesão daquela e a conduta ilícita deste.”

Para Carlos Roberto Gonçalves (2003, p. 3), “quem pratica um ato, ou incorre numa omissão de que resulte dano, deve suportar as conseqüências do seu procedimento.”

A relação de causalidade entre o fato danoso e a ação que o provocou enseja a responsabilidade civil, bem-evidenciado por Diniz (2003, p. 100) quando

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argumenta: “o vínculo entre o prejuízo e a ação designa-se “nexo causal”, de modo que o fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como sua conseqüência previsível.”

“A responsabilidade civil (isto é, o dever de indenizar o dano alheio) nasce do “ato ilícito”, tendo-se como tal aquele fato do homem que contravém aos ditames da ordem jurídica e ofende direito alheio, causando lesão ao respectivo titular.” (THEODORO JÚNIOR, 1997, p. 22).

Sobre a responsabilidade civil, assevera Gonçalves (2003, p. 2),

As obrigações derivadas dos “atos ilícitos” são as que se constituem por meio de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, praticadas com infração a um dever de conduta e das quais resulta dano a outrem. A obrigação que, em conseqüência, surge é a de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado.

“Mais do que em qualquer outro tipo de indenização, a reparação do dano moral há de ser imposta a partir do fundamento mesmo da responsabilidade civil, que não visa a criar fonte injustificada de lucros e vantagens sem causa.” (THEODORO JÚNIOR, 1997, p. 18).

A reparação do dano moral está admitida no nosso ordenamento jurídico, conforme demonstra o artigo 3º do Código de Processo Civil, que estatui que é necessário ter interesse e legitimidade para propor uma ação. Assim, justifica-se a ação pelo interesse moral, que é passível de indenização, embora o bem moral não seja indenizável por não se traduzir em dinheiro, conforme entende Diniz (2003, p. 92):

Não se paga a dor sofrida, por ser esta inindenizável, isto é, insuscetível de aferição econômica, pois seria imoral que tal sentimento pudesse ser tarifado em dinheiro ou traduzido em cifras de reais, de modo que a prestação pecuniária teria uma função meramente satisfatória [...]

Na mesma linha de raciocínio, explicita Pires de Lima, citado por Augusto Zenun (1998, p. 99):

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Portanto, reconheçamos que todas as ofensas contra a vida e integridade pessoal, contra o bom nome e reputação, contra a liberdade no exercício das faculdades físicas e intelectuais, podem causar um forte dano moral à pessoa ofendida e aos parentes, por isto mesmo estes têm o direito de exigir uma indenização, pecuniária, que terá função satisfatória.

Para Reis (2000, p. 135-136), “A verba satisfativa tem, assim, um caráter de amenizar o natural sentimento de vingança da vítima, como o de possibilitar a aquisição de bens de uso e gozo, que a vida moderna propicia às pessoas, no acesso aos bens de consumo da sociedade,” bem como entende que “a verba condenatória deve assim exercer uma efetiva punição do ofensor, para dissuadi-lo de novas ações ilícitas sob pena e compensar o pranto da vítima, sob pena de se tornar pena simbólica.”

No entendimento sobre a natureza jurídica da reparação do dano moral, apesar de haver divergências, prevalece o de que a reparação pecuniária tem dupla função, ou seja, tem natureza satisfatória ou compensatória e natureza penal a ser suportada por quem causou o dano à vítima, desta forma representando uma compensação que atenue os sentimentos negativos sofridos pelo lesado, bem como desestimulando o ofensor para que não mais pratique atos lesivos a outrem. (GONÇALVES, 2003, p. 566-567).

Neste passo, Diniz (2003, p. 99) infere que a reparação do dano moral tem, sob uma perspectiva funcional, um caráter concomitantemente satisfatório para a vítima e lesados, e punitivo para o ofensor, cumprindo, portanto, “uma função de justiça corretiva ou sinalagmática, por conjugar, de uma só vez, a natureza satisfatória da indenização do dano moral para o lesado, tendo em vista o bem jurídico danificado, sua posição social, a repercussão do agravo, etc.”

Não havendo como indenizar ou ressarcir o dano moral, uma vez que a dignidade não tem preço, o valor a ser pago não pretende refazer o patrimônio, posto que não sofreu nenhuma redução, e sim pretende satisfazer ou compensar o que a vítima sofreu, amenizando as dores provenientes do dano moral, bem como servir para desestimular o ofensor a repetir o ato lesivo.

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1.3 Critérios para a sua fixação

A determinação dos critérios de quantificação do dano moral é um dos grandes desafios da ciência jurídica. O órgão judicante tem competência de estabelecer uma reparação equitativa, baseado em critérios subjetivos e objetivos na avaliação do dano moral.

Compreendendo, assim, a relevante atuação dos magistrados na questão da fixação do quantum indenizatório do dano moral, preleciona-se que, “É certo que o juiz, na fixação da indenização, tem o dever de estabelecer o valor que seja o mais adequado possível, compatibilizando o quantum debeatur à realidade de cada situação.” (REIS, 2000, p. 131, grifo do autor).

O problema mais sério acerca da reparação do dano moral está na quantificação do valor a ser reposto ao ofendido, uma vez que, no caso de ofensa moral, “a apuração do quantum indenizatório se complica, porque o bem lesado (a honra, o sentimento, o nome etc.) não se mede monetariamente, devendo ser arbitrada prudentemente pelos juízes como justa reparação do prejuízo sofrido.” (THEODORO JÚNIOR, 1997, p. 16-17, grifo do autor).

Diniz (2003, p. 93, grifo do autor) afirma que “na reparação do dano moral o juiz determina, por eqüidade, levando em conta as circunstâncias de cada caso, o quantum da indenização devida, que deverá corresponder à lesão e não ser equivalente, por ser impossível tal equivalência.”

Para Gonçalves (2003, p. 569), “[...] a reparação do dano moral objetiva apenas uma compensação, um consolo, sem mensurar a dor.” Em virtude da inexistência de parâmetros seguros para a quantificação do dano moral, Gonçalves (2003, p. 571) acrescenta que:

Cabe ao juiz, pois, em cada caso, valendo-se dos poderes que lhe confere o estatuto processual vigente (arts. 125 e s.), dos parâmetros traçados em algumas leis e pela jurisprudência, bem como das

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regras da experiência, analisar as diversas circunstâncias fáticas e fixar a indenização adequada aos valores em causa.

Bittar (1997, p. 280) destaca que “a tendência manifestada, a propósito, pela jurisprudência pátria, é a da fixação de valor de desestímulo como fator de inibição a novas práticas lesivas.” Essa técnica trata de valor, sentido no patrimônio do lesante, que possa conscientizá-lo para não persistir na conduta reprimida.

Reis (2000, p. 63) também suscita o papel do juiz:

ao magistrado é conferido o poder de realizar a justiça na sua concepção mais ampla possível. E, para o exercício deste poder de arbítrio, deverá valer-se da técnica jurídica, como especialmente da sua sensibilidade como pessoa humana, para adequar a pena à realidade social. Ao magistrado compete o cumprimento das normas legais, de forma a estabelecer o verdadeiro sentido entre o direito e a justiça.

Quanto aos critérios para a quantificação do dano moral, Cavalieri Filho (2003, p. 106) alega que

Uma das objeções que se fazia à reparabilidade do dano moral era a dificuldade para se apurar o valor desse dano, ou seja, para quantificá-lo. A dificuldade, na verdade, era menor do que se dizia, porquanto em inúmeros casos a lei manda que se recorra ao arbitramento (Código Civil de 1916, art. 1.536, § 1º; arts. 950, parágrafo único, e 953, parágrafo único, do novo Código). E tal é o caso do dano moral. Não há, realmente, outro meio mais eficiente para se fixar o dano moral a não ser pelo arbitramento judicial. Cabe ao juiz, de acordo com o seu prudente arbítrio, atentando para a repercussão do dano e a possibilidade econômica do ofensor, estimar uma quantia a título de reparação pelo dano moral.

Em se tratando dos critérios para uma indenização por dano moral, destaca-se o pensamento de Jorge Bustamante Alsina, citado por Reis (2000, p. 65):

E, quanto à quantia do dano convém estabelecer que o prejuízo não é mensurável pela sua própria natureza, não se pode estabelecer por equivalência sua valoração em dinheiro. Deve-se recorrer em tal caso a pautas relativas segundo um critério de razoabilidade que tenha como finalidade adequar sua valoração eqüitativamente à realidade do prejuízo.

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Cavalieri Filho (2003, p. 108) complementa argumentando que o juiz deve arbitrar a quantia que, quando da valoração do dano moral, “seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes.”

Ainda para Jorge Bustamante Alsina, citado por Reis (2000, p. 64):

A essência do dano moral ou extrapatrimonial se demonstra através da estimação objetiva que fará o juiz das presentes modificações ou alterações espirituais que afetem o equilíbrio emocional da vítima. A entidade ou magnitude do dano moral resultará da extensão e intensidade com que aquelas se manifestam nos sentimentos desta última.

A determinação da quantia devida deve ser confiada à sensibilidade do magistrado. “O contato com a realidade processual e com a realidade fática permite-lhe aferir o valor adequado à situação concreta.” (BITTAR, 1997, p. 281).

Na ótica de Alberto Silva Franco, citado por Reis (2000, p. 64, grifo do autor):

... o juiz possui, no processo individualizador da pena, uma larga margem de discricionariedade, mas não se trata de discricionariedade livre e, sim, como anota Jechek (Tratado de Derecho Penal, 1981, vol. II, p. 191), de discricionariedade jurídica vinculada, posto que, está preso às finalidades da pena e aos fatores determinantes do quantum punitivo.

Na ausência de parâmetros objetivos para fixar o quantum devem os Tribunais arbitrá-lo dentro dos princípios da equidade, da razoabilidade e, principalmente, do bom senso do julgador, respeitando elementos como: a gravidade do dano; a extensão do dano; a reincidência do ofensor; a posição profissional e social do ofendido; a condição financeira do ofensor e do ofendido. Destarte, a fixação do dano moral não pode ultrapassar os limites do bom senso, fazendo-se a necessária justiça pela aplicação da já mencionada teoria do desestímulo.

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Assim, evidente é o importante papel do magistrado na decisão da quantia que deve ser reparada à vítima que sofreu dano moral, a qual deve ser fixada em termos razoáveis, observando as peculiaridades de cada caso e se valendo do bom senso.

1.4 Titulares do direito à reparação

No que diz respeito à pretensão por ofensa moral, o sistema jurídico reconhece como titulares de direito à reparação civil de fatos danosos, figurando no polo ativo dessa relação jurídica, quaisquer entes personalizados.

“É evidente que a exigibilidade do ressarcimento do dano pertence a todos os que efetivamente experimentaram o prejuízo, isto é, aos lesados diretos ou indiretos” (DINIZ, 2003, p. 154), conforme preconiza o artigo 12, parágrafo único, do CC:

Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

A titularidade desse direito se dá àqueles, lesados ou vítimas, que suportaram o dano direta ou indiretamente, ou seja, sofrendo os efeitos da lesão ou atingidos por consequência desses reflexos, como destaca Bittar (1997, p. 155).

Cabe, neste momento, melhor elucidar e diferenciar os danos morais diretos e indiretos. Destaca-se, então, o entendimento de Diniz (2003, p. 86), quando explica que dano moral direto

consiste na lesão a um interesse que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família).

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E, outra vez, Diniz (2003, p. 87) conceitua que dano moral indireto consiste

na lesão a um interesse tendente à satisfação ou gozo de bens jurídicos patrimoniais, que produz um menoscabo a um bem extrapatrimonial, ou melhor, é aquele que provoca prejuízo a qualquer interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem patrimonial da vítima.

Bittar (1997, p. 155) observa que, “por dano moral direto, ou mesmo por dano indireto, é possível haver titulação jurídica para demandas reparatórias.”

Sobre tal entendimento, Gonçalves (2003) afirma que os titulares da ação de reparação do dano moral, por danos diretos e indiretos, são o ofendido, o cônjuge, o companheiro, os membros da família, os noivos, os sócios, os incapazes e a pessoa jurídica.

Para Severo (1996, p. 18), após analisado o interesse individual, coletivo e difuso que, aliás, é passível de tutela jurídica, passa-se a examinar a legitimidade da pessoa física, da jurídica e dos grupos, e convém ressaltar que a lesão de interesses próprios é indenizável quando atinge estes entes. O autor confirma que “O demandante deve pleitear a restauração de um interesse que lhe seja próprio, seja ele uma pessoa física, uma pessoa jurídica ou um grupo.”

Proclama a Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça que o dano moral pode ser sofrido pela pessoa jurídica e, portanto, está legitimada a pleitear a sua reparação em casos de lesão a sua honra objetiva, com repercussão social. Na mesma linha, o Novo Código Civil Brasileiro estabelece em seu artigo 52 que “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.”

Registre-se que a existência da honra objetiva, refletida na reputação, no prestígio, no bom nome, na boa fama, na confiança, que é comum às pessoas físicas e jurídicas, é tese bem-aceita em nossos Tribunais a teor dos incisos V e X do artigo 5º da Constituição de 1988.

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Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Os direitos da personalidade são conceituados como aqueles inerentes à pessoa e a sua dignidade. A concepção desses direitos demonstra-se pelo direito à vida, à integridade física, à honra, à imagem, ao nome e à intimidade.

Nessa acepção, são compatíveis todos aqueles direitos essenciais à existência da pessoa jurídica, protegendo-se desde o momento de seu registro - nascimento da pessoa jurídica - até o seu encerramento, e certos direitos até mesmo após.

Favorável ao entendimento de que as pessoas jurídicas podem figurar como titulares desse direito, anota Bittar (1997, p. 153): “Com respeito a pessoas jurídicas, também são suscetíveis de figurar na relação, de vez que se lhe reconhecem, como acentuamos, direitos de personalidade.”

As pessoas jurídicas poderão sofrer dano moral objetivo por terem atributos reconhecidos jurídica e publicamente como um modo de ser, sujeito à valoração extrapatrimonial da comunidade em que atuam, por exemplo, o prestígio, o bom nome, etc. (DINIZ, 2003, p. 155).

Sabe-se que o comprometimento da reputação e o abalo à honra e ao nome, atingem e influenciam o conceito da pessoa jurídica ofendida. Estes abalos servem de indícios da ocorrência do dano moral, que podem gerar demanda de pleitear a reparação. Assim sendo, a pessoa jurídica poderá propor ação de responsabilidade fundada em dano material ou moral.

Verifica-se que a tese do dano moral à pessoa jurídica é aceita pela quase que unanimidade da doutrina e da jurisprudência, as quais vêm orientando e

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sustentando a admissibilidade do dano extrapatrimonial à pessoa jurídica, o que será analisado no próximo capítulo.

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2 DANO MORAL DE PESSOA JURÍDICA

Em se tratando de pessoa jurídica, a matéria é controvertida tanto doutrinária quanto jurisprudencialmente, quando se aborda se pode, ativamente, reclamar indenizações por dano moral, na medida em que se sabe que tal ente não está sujeito aos mesmos sentimentos experimentados pela pessoa física, não sendo possível reconhecer estes sentimentos na pessoa jurídica.

A conferência dos direitos das pessoas jurídicas no pleito de danos morais, no entanto, está vinculada ao reconhecimento efetivo dos direitos da personalidade que a lei atribui a estes entes, guardadas as limitações de ordem jurídica.

Neste sentido, o presente capítulo tem por finalidade demonstrar a admissibilidade da pessoa jurídica ser indenizada por danos morais, alicerçada nos direitos da personalidade que lhe são conferidos.

2.1 Os direitos da personalidade da pessoa jurídica

Tradicionalmente, os direitos da personalidade aplicam-se à pessoa natural, pouco sendo atribuído à pessoa jurídica. E a razão é óbvia: o ente é fictício. A dificuldade em reconhecer personalidade às pessoas jurídicas está na imaterialidade desses entes, os quais não tem existência real, física e psíquica como os seres humanos, pessoas físicas.

Essa teoria, entretanto, é incompatível com a ordem jurídica e a realidade social, sendo rebatida por grandes juristas, os quais visualizam nas pessoas jurídicas seres reais, dotados de personalidade e de capacidade para atuar no mundo do direito, exercendo direitos e contraindo obrigações.

Nesta linha, assinala Flori Antonio Tasca (2004, p. 36), “As pessoas jurídicas, uma vez regularmente constituídas, adquirem personalidade e capacidade jurídica,

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passando a ter patrimônio próprio, distinto do patrimônio dos sócios, sendo titulares de direitos e destinatárias de deveres jurídicos.”

Alex Sandro Ribeiro (2007, p. 2) sustenta que os direitos da personalidade “são todos direitos inatos, pertencentes à pessoa jurídica desde a sua regular instituição ou constituição.” E acrescenta: “o fato de um ou outro depender de certos requisitos legais, como um registro específico, não lhes retira a essência personalíssima.”

Rodrigues, citado por Danilo Felix Louza Leão (2008, p. 1, grifo do autor), conceitua as pessoas jurídicas como “entidades a que a lei empresta personalidade, isto é, são seres que atuam na vida jurídica, com personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem, capazes de serem sujeitos de direitos e obrigações na ordem civil.”

Para Wladimir Valler, citado por Viana (2002, p. 58),

apesar de a questão ser controvertida no terreno doutrinário, não existe dúvida alguma de que as pessoas jurídicas, às quais se reconhecem os chamados direitos da personalidade, também podem sofrer dano moral e, conseqüentemente, figurar no pólo ativo da relação processual de uma ação reparatória.

“Muitas são as facetas da doutrina, mas todas as suas variantes afirmam, de um modo ou de outro, a existência real, ainda que imaterial, das pessoas jurídicas.” (TASCA, 2004, p. 16).

A extensão dos direitos da personalidade à pessoa jurídica, de acordo com os direitos fundamentais garantidos pela Constituição, encontra amparo no caput do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, já citado anteriormente.

Ademais, o artigo 52, do Código Civil de 2002, prevê que a pessoa jurídica deve ter protegidos os direitos da personalidade: “Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.”

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O regime jurídico dos direitos da personalidade protege, destarte, tanto as pessoas naturais, brasileiros ou estrangeiros no território nacional, como as pessoas jurídicas, assegurando-se a estas o direito à existência, ao nome, à honra, à segurança, à propriedade, à marca e ao símbolo, dentre outros compatíveis com a sua natureza.

Desta forma, na área dos direitos da personalidade há vários direitos que podem ser tutelados quando o seu titular for a pessoa jurídica, dada a inteira compatibilidade com a natureza jurídica da pessoa física e da pessoa jurídica. Entre eles, destacam-se o nome, a identidade, a imagem, a liberdade, o segredo, a intimidade e a honra objetiva.

Em virtude disso, se atrelam à personalidade da pessoa jurídica os caracteres existencial, substancial e exclusivo de uma pessoa natural, que, por natureza e com individualidade, lhe são inerentes; se enraízam naturalmente, independentemente de estarem previstos em texto expresso de lei.

Partilha desse pensamento de extensão de direitos da personalidade à pessoa jurídica, Tasca (2004, p. 103), quando sustenta que estes entes “são protegidos independente de existência de norma jurídica positiva específica, concedendo-se também ao ente jurídico a tutela mais ampla possível.”

Sustenta-se a existência de uma esfera moral da pessoa jurídica que abrange os diversos direitos de personalidade, aqueles compatíveis com a sua peculiar situação de ente imaterial, uns mais evidentes, como a honra objetiva e o nome, incluindo outros que eventualmente não sejam expressamente previstos na legislação.

Analisados os fundamentos jurídicos e legais que embasam a tese do dano moral à pessoa jurídica no que tange ao bem personalíssimo honra, ensina Viana (2002, p. 73) que esta tem dois aspectos:

um interno e outro externo, dividindo-se em honra subjetiva e honra objetiva, respectivamente. A primeira é a honra em sentido estrito, caracterizada pela dignidade, decoro e auto-estima, sentimentos nascidos da consciência de nossas virtudes ou de nosso valor moral,

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sendo exclusiva do ser humano, que é dotado de psiquismo e suscetível de ser ofendido com atos capazes de causar dor, vexame, humilhação. Já a segunda, a honra objetiva, refletida na reputação, no bom nome e na imagem perante a sociedade, revela-se pelo seu aspecto externo ao sujeito, ou seja, pela estimação que outrem faz de nossas qualidades morais e de nosso valor social, sendo comum à pessoa natural e à jurídica.

Nesse sentido, cabe transcrever o pensamento de Cavalieri Filho (2003, p. 112) acerca da titularidade de honra objetiva à pessoa jurídica, quando preleciona que é “induvidoso, portanto, que a pessoa jurídica é titular de honra objetiva, fazendo jus à indenização por dano moral sempre que o seu bom nome, credibilidade ou imagem forem atingidos por algum ato ilícito.”

Nessa linha de princípios, posiciona-se Alves, citado por Leão (2008, p. 2): “para quem o dano moral atinge a pessoa jurídica, não em seus sentimentos ou auto-estima (honra subjetiva), mas em sua honra objetiva (externa),” e complementa, com o pensamento do mesmo doutrinador

há inafastável semelhança entre os efeitos da lesão causada pelo dano moral à pessoa física e à pessoa jurídica, em que pese esta não o sinta em seu íntimo, pois o lastro de credibilidade de qualquer pessoa jurídica é o seu renome no mercado e entre sua clientela.

Ademais, o artigo 5º, inciso X da Constituição Federal, não restringe o dano moral somente à dor, ao sofrimento, à angústia, à tristeza, etc., estendendo a sua compreensão a qualquer ofensa ao nome ou imagem da pessoa física ou jurídica, com intenção de resguardar a sua credibilidade e respeitabilidade.

Então, conforme Cavalieri Filho (2003, p. 111), pode-se dizer que “honra é o conjunto de predicados ou condições de uma pessoa, física ou jurídica, que lhe conferem consideração e credibilidade social.”

Mesmo carecendo de atributos personalíssimos próprios das pessoas naturais, soa de forma nítida e notória a perfeita adequação de importantes direitos da personalidade à situação fictícia da pessoa jurídica, principalmente se considerar que se trata de um ente dotado de personalidade jurídica própria e que, nos dias atuais, pode e deve ser considerada como proeminente instrumento social.

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2.2 A prova do dano moral da pessoa jurídica

Aceita a tese de que as pessoas jurídicas são suscetíveis de figurar como sujeito ativo das demandas de dano moral, pelo entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência que reconhece os mesmos direitos de personalidade da pessoa física à pessoa jurídica, dentro das peculiaridades da existência fática desta última, o próximo passo é apreciar a necessidade de provas do dano moral que corroboram para a indenização do abalo moral sofrido pela entidade jurídica, segundo preconiza o ordenamento jurídico pátrio, a doutrina e a jurisprudência.

A regra geral e clássica no processo civil, tanto do Código de Processo Civil (CPC) quanto do Código de Defesa do Consumidor (CDC), divide o ônus da prova entre o autor e o réu, cabendo àquele provar os fatos constitutivos de seu direito e ao último provar os fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito do autor, conforme previsto no artigo 333 do CPC. (WAMBIER, 2004, p. 7).

No âmbito do dano moral, todavia, não se utiliza os mesmos meios de comprovação do dano material, pois seria exagero e até impossível comprovar dor, humilhação, tristeza ou qualquer sofrimento. Também não teria como explanar o desprestígio, o descrédito ou o repúdio pelos meios tradicionais de produção de provas.

Entende-se que o dano moral está inserido na própria ofensa, o qual decorre da gravidade do ilícito em si, de forma que bastaria a ocorrência da violação a um direito de personalidade para o direito à reparação, restando dispensada a sua comprovação. (CAVALIERI FILHO, 2003, p. 102).

Para Araken de Assis (1997, p. 11), “o dano moral atinge, fundamentalmente, bens incorpóreos, a exemplo da imagem, da honra, da privacidade, da auto-estima. Compreende-se, nesta contingência, a imensa dificuldade em provar a lesão.” E acrescenta que “a prova do dano moral puro, para não deixar seus domínios e passar à província do dano moral reflexo, que é indireto, cingir-se-á à existência do próprio ilícito.”

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Atualmente, segundo a mais moderna doutrina, não há mais a necessidade de prová-lo, pois agora a prova do dano moral é in re ipsa, ou seja, ínsita na própria ofensa. Assim, para fundar o dano moral basta a violação de um direito de personalidade, independentemente do sentimento negativo consequente, o qual terá relevância apenas para a quantificação do dano. As consequências não precisam ser provadas porque se sabe que elas ocorrem; são regras comuns de experiência.

A jurisprudência está consolidada no sentido de que à reparação do dano moral prevalece a orientação de que a responsabilização do agente se opera por força do simples fato da violação, de modo a se tornar desnecessária a prova do dano em concreto. Sendo assim, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) é uníssona no sentido de que a inscrição indevida em cadastro restritivo gera dano moral in re ipsa, sendo desprezada, pois, a prova de sua ocorrência.

Para a obtenção de indenização por dano moral que não exige a comprovação dos seus reflexos no patrimônio do ofendido, basta o agravo sofrido pela pessoa em decorrência do abalo.

Nas situações em que a pessoa jurídica pleiteie dano moral por violação aos direitos da personalidade, deve ela, necessariamente, levar ao conhecimento do magistrado o fato ofensivo que compromete a sua reputação, seu nome, seu prestígio e o respeito que os outros lhe tem, a fim de evidenciar o ressarcimento pretendido.

2.3 A reparação e a fixação do quantum indenizatório

O dano moral, ao contrário do material, determinável por critério certo e objetivo, não possui um embasamento sólido para a sua valoração, tornando-se, assim, difícil a estimativa pecuniária, de modo que é evidente a impossibilidade de se atingir a perfeita equivalência entre a lesão e a indenização.

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Devido a essa dificuldade de estabelecer um quantum indenizatório, e não sendo possível aferir com precisão o valor a ser indenizado, para alguns doutrinadores, segundo Leão (2007, p. 7), “o mais sensato seria que houvesse uma disciplina legal prescrevendo, para impedir excessos, uma indenização tarifada em salários mínimos, atendendo as peculiaridades de cada caso, ou a fixação de teto mínimo e máximo.”

Essa tarifação da indenização, no entanto, não é segura e certa para Diniz (2003, p. 95), que argumenta não ser a solução ideal para uma reparação equitativa, e se posiciona no sentido de que “deverá haver uma moderação na quantificação do montante indenizatório do dano moral, sem falar na necessidade de previsão legal contendo critérios objetivos a serem seguidos pelo órgão judicante no arbitramento.”

Preleciona Theodoro Júnior (1997, p. 16) que

Cabe ao prudente arbítrio dos juízes e à força criativa da doutrina e da jurisprudência a instituição de critérios e parâmetros que haverão de presidir as indenizações por dano moral, a fim de evitar que o ressarcimento, na espécie, não se torne expressão de “puro arbítrio”, já que tal se transformaria numa quebra total dos princípios básicos do Estado Democrático de Direito, tais como o princípio da legalidade e o princípio da isonomia.

Diniz (2003, p. 96, grifo do autor), com grande propriedade, propõe regras a serem seguidas pelo órgão judicante, de forma que atinja uniformidade na avaliação pecuniária do dano moral:

a) evitar indenização simbólica e enriquecimento sem justa causa, ilícito ou injusto da vítima. A indenização não poderá ter valor superior ao dano, nem deverá subordinar-se à situação de penúria do lesado; nem poderá conceder a uma vítima rica uma indenização inferior ao prejuízo sofrido, alegando que sua fortuna permitiria suportar o excedente do menoscabo;

b) não aceitar a tarifação, porque esta requer despersonalização e desumanização, e evitar porcentagem do dano patrimonial;

c) diferenciar o montante indenizatório segundo a gravidade, a extensão e a natureza da lesão;

d) verificar a repercussão pública provocada pelo fato lesivo e as circunstâncias fáticas;

e) atentar às peculiaridades do caso e ao caráter anti-social da conduta lesiva;

(33)

f) averiguar não só os benefícios obtidos pelo lesante com o ilícito, mas também a sua atitude ulterior e situação econômica;

g) apurar o real valor do prejuízo sofrido pela vítima;

h) levar em conta o contexto econômico do país. No Brasil não haverá lugar para fixação de indenizações de grande porte, como as vistas nos Estados Unidos;

i) verificar a intensidade do dolo ou o grau da culpa do lesante (CC, art. 944, parágrafo único);

j) basear-se em prova firme e convincente do dano;

k) analisar a pessoa do lesado, considerando a intensidade de seu sofrimento, seus princípios religiosos, sua posição social ou política, sua condição profissional e seu grau de educação e cultura;

l) procurar a harmonização das reparações em casos semelhantes; m) aplicar o critério do justum ante as circunstâncias particulares do caso sub judice (LICC, art. 5º), buscando sempre, com cautela e prudência objetiva, a eqüidade.

Não é diferente o posicionamento de Bittar (1997, p. 281), que confia ao magistrado a atribuição do valor devido, obedecidos os pressupostos como a gravidade do dano, as circunstâncias do caso, a situação do ofensor, a condição do ofendido, a ideia de sanção ao ofensor como inibidor de novas lesões e a realidade fática, deixando a sua sensibilidade e razoabilidade à aferição da quantia adequada ao caso concreto.

Outrossim, não se descarta a possibilidade de conferir ao quantum a finalidade da sanção reparatória, que deve ser suficiente para impedir novas práticas lesivas, caso a ofensa tenha adquirido certa notoriedade e repercussão pelo jeito como foi divulgada, considerando que, sua credibilidade se torna mais vulnerável à desconfiança geral.

A ideia da dupla natureza, reparatória e preventiva, da satisfação dos danos morais, tem prevalecido na doutrina e na jurisprudência nacional, como escreve Severo (1996, p. 190, grifo do autor):

A própria característica dos danos extrapatrimoniais favorece a teoria da dupla natureza de sua satisfação. Ou seja, por tratar-se de interesses sem conteúdo econômico, tais danos devem ser aferidos de uma forma aproximada, através do maior número de critérios que auxiliem na busca do quantum satisfatório; portanto, o senso preventivo acaba penetrando, em maior ou menor escala, no estabelecimento deste montante.

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cabe ao juiz entregar a prestação jurisdicional de forma livre e

consciente, à luz das provas produzidas, sempre ponderando o

valor arbitrado a título de indenização com bom-senso e moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, à gravidade da ofensa, ao nível socioeconômico do ofensor, à realidade da vida e às particularidades do caso sub examine, a fim de evitar o locupletamento indevido.

No que tange ao valor da indenização, doutrinadores e juristas que admitem a possibilidade de a pessoa jurídica ser titular de um direito de personalidade, têm observado os critérios da razoabilidade e proporcionalidade a fim de atender o caráter punitivo e proporcionar a satisfação correspondente ao prejuízo moral sofrido pela vítima sem, no entanto, causar enriquecimento sem causa desta, tampouco a estimular o causador do dano na continuidade de sua prática.

Parece ideal e justo que os Tribunais, na ausência de critérios objetivos para fixar o quantum, em atenção as suas finalidades, devem arbitrá-lo da melhor maneira para encontrar o justo valor para a reparação da lesão moral sofrida, dentro dos princípios da equidade, da razoabilidade e bom senso do julgador, respeitando elementos como: a gravidade da ofensa, a extensão do dano, a reincidência do ofensor, as condições socioeconômicas dos envolvidos, e também as particularidades do caso em julgamento.

A reparação do dano moral deve proporcionar uma compensação para a vítima e uma punição para o ofensor, fazendo-se a justiça pela aplicação da teoria do desestímulo, já mencionada no capítulo anterior. Além da dupla natureza da reparação, deverá o magistrado orientar-se por critérios como bom senso e moderação para a fixação do quantum indenizatório, sempre que se apresente a julgamento caso envolvendo violação dos direitos de personalidade.

2.4 A jurisprudência brasileira

Em que pese escassas manifestações na jurisprudência que contrariam a admissibilidade do dano extrapatrimonial à pessoa jurídica, atualmente tem

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prevalecido na doutrina e na jurisprudência a tese que reconhece a possibilidade de reparação por danos morais à pessoa jurídica se ofendida indevidamente, orientada pelos direitos personalíssimos atribuídos também às entidades jurídicas.

Tal entendimento restou consagrado pela Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral,” e, portanto, está legitimada a pleitear a sua reparação em casos de lesão a sua honra objetiva, refletida na reputação, no prestígio, no bom nome, na boa fama, na confiança, com repercussão social.

Inclusive o artigo 52 do Código Civil confirma o amparo à pessoa jurídica quando consolida que os direitos da personalidade devem ser-lhe aplicados naquilo que for cabível.

Nesse sentido, bem ilustra a ementa da Apelação Cível Nº 599396116, decidida pela Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS, da relatora Rejane Maria Dias de Castro Bins, que fundamenta que a pessoa jurídica sofre lesão a sua honra objetiva, cuja imagem e bom nome devem ser tutelados:

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. LEI DE IMPRENSA.

REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE DA APELAÇÃO: DEPÓSITO DO VALOR DA CONDENAÇÃO. QUANDO O PEDIDO APÓIA-SE NA LEI DE IMPRENSA E FICA DENTRO DO VALOR TARIFADO DE SEU ART-51, BEM ASSIM A CONDENAÇÃO, O DEPÓSITO DA RESPECTIVA IMPORTÂNCIA E DE RIGOR. NA AUSÊNCIA,

CARACTERIZA-SE A DESERÇÃO, QUE NÃO PERMITE

CONHECER DO APELO. PESSOA JURÍDICA. A PESSOA

JURÍDICA PODE SOFRER ATAQUE AO QUE SE DEFINE COMO SUA HONRA OBJETIVA, A REPUTAÇÃO DE QUE GOZA JUNTO A TERCEIROS, PASSÍVEL DE FICAR ABALADA POR ATOS QUE AFETAM O SEU BOM NOME NO MUNDO CIVIL OU COMERCIAL ONDE ATUA. PUBLICAÇÃO DE RETRATAÇÃO. TEM CABIMENTO

O PEDIDO DE PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA REPARATÓRIA, NOS MESMOS MOLDES DAS QUE CONFIGURARAM O DANO MORAL RECONHECIDO. QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL. O VALOR

DA INDENIZAÇÃO DEVE SER AFERIDO DIANTE DE

PARÂMETROS BALIZADORES EXISTENTES NA LEGISLAÇÃO E DAS CIRCUNSTÂNCIAS DE CADA CASO, EM FACE DA SUBJETIVIDADE SEMPRE PRESENTE EM SUA QUANTIFICAÇÃO. PRIMEIRA APELAÇÃO PROVIDA EM PARTE. SEGUNDA APELAÇÃO NÃO CONHECIDA. (RIO GRANDE DO SUL, 1999, grifo nosso).

(36)

Parece evidente, destarte, que a pessoa jurídica pode sofrer lesão a sua honra objetiva, uma vez que pode ter a reputação junto a terceiros abalada por atos que afetem o seu bom nome no mundo civil e comercial onde atua, como assevera o relator Tasso Caubi Soares Delabary, na Apelação Cível Nº 70032712317 decidida pela Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. RECURSO ADESIVO. SERVIÇO DE

TV A CABO. REDUÇÃO NO NÚMERO DE CANAIS

CONTRATADOS. DEVOLUÇÃO PROPORCIONAL AO SERVIÇO NÃO PRESTADO. DANO MORAL CONFIGURADO. HONORÁRIOS SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO. 1. A redução unilateral do número de canais contratados constitui falha na prestação do serviço e implica no reconhecimento da devolução proporcional do serviço não prestado. 2. A pessoa jurídica é suscetível de sofrer dano

moral, considerada a ofensa a sua honra objetiva, constituída do prestígio no meio comercial, fama, bom nome e qualificação dos serviços que presta, atingidos pela conduta irregular da

demandada. Dano moral reconhecido. 3. Honorários advocatícios que se estabelece pelo valor da indenização em atenção ao § 3º, art. 20 do CPC. APELAÇÃO DA RÉ DESPROVIDA. RECURSO ADESIVO DO AUTOR PROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL, 2010a, grifo nosso).

Mais uma vez pode-se citar a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em votação unânime, quando os argumentos externados pelo relator Paulo Sérgio Scarparo seguem na mesma orientação:

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM

CADASTRO DE INADIMPLENTES. ATO ILÍCITO. DANO MORAL CONFIGURADO. AUSÊNCIA DE REGISTROS DESABONATÓRIOS ANTERIORES.

1. A pessoa jurídica, assim como a pessoa física, está sujeita ao

abalo moral (Súmula 227 do STJ), porque há ofensa à sua reputação perante a sociedade.

2. A inscrição indevida em cadastros de inadimplentes configura dano moral in re ipsa, devendo a parte lesada ser indenizada, se inexistentes registros desabonatórios anteriores em seu nome. 3. Em situações como a dos presentes autos, em que o nome da pessoa jurídica autora foi negativado em razão da desídia da parte-ré, deve preponderar, para a fixação da indenização por dano moral, sua natureza pedagógico-punitiva. PROVIMENTO DO APELO. (RIO GRANDE DO SUL, 2011, grifo nosso).

Da mesma forma, atentando para a redação da Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça, que diz que: “a pessoa jurídica pode sofrer dano moral,” o relator ministro Fernando Gonçalves da Quarta Turma do STJ, no REsp 466.770/DF,

(37)

conheceu e deu provimento, por unanimidade, ao recurso interposto por Deustche Lufthansa A. G., modificando a sentença e o acórdão do TJDFT que negaram provimento ao pedido de verba correspondente a dano moral por apropriação irregular de seu nome comercial, por entender que o ordenamento jurídico garante proteção à honra objetiva da pessoa jurídica, consistente no respeito e consideração que a sociedade dispensa à empresa, sendo cabível reconhecimento de danos morais à pessoa jurídica:

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PESSOA

JURÍDICA. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. SÚMULA

227/STJ. INCIDÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE FATOS NOVOS.

LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO QUE SE IMPÕE.

1. Se as instâncias de origem, soberanas na análise do conjunto fático-probatório dos autos, concluem que a conduta da ré, isoladamente considerada, é bastante para atrair o dever de compensação, uma vez que em face das circunstâncias concretas da situação podia e devia ter agido de outro modo, revela-se descabido o exame da matéria, em sede especial, ante o óbice contido na súmula 7 desta Corte.

2. Nos termos do enunciado n. 227 da súmula do Superior

Tribunal de Justiça, "a pessoa jurídica pode sofrer dano moral".

3. Situada a quantificação do dano moral em terreno de elevado grau de subjetivismo, a liquidação por arbitramento apresenta-se como sede adequada à valoração do prejuízo sofrido.

4. Desarrazoada a manutenção de determinação pela apuração por artigos, quando a própria parte interessada admite inexistir fato novo a ser provado.

5. Recursos especiais da ré não conhecidos. Conhecido e provido o da autora. (BRASIL, 2010, grifo nosso).

Neste passo, é pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, segundo o Relator Ministro Paulo Furtado (desembargador convocado do TJ/BA) da Terceira Turma do STJ, que, em decisão unânime, no REsp 785.777/MA, profere que no tocante à possibilidade de indenização por danos morais à pessoa jurídica, a jurisprudência deste Superior Tribunal é assente no sentido de admitir tal entendimento, conforme preconiza a súmula 227 desta Corte:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. DIREITO CIVIL. DANO MORAL.

INDENIZAÇÃO. PESSOA JURÍDICA. REVISÃO DO VALOR NO STJ. HIPÓTESE EXCEPCIONAL. AFASTAMENTO DA SÚMULA 7/STJ. INOCORRÊNCIA DE REVALORAÇÃO DO CONTEXTO FÁTICO E PROBATÓRIO. MONTANTE COMPENSATÓRIO A SER

ARBITRADO COM OBSERVÂNCIA DA OFENSA MORAL

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QUANTUM PELA MULTIPLICAÇÃO DO VALOR APONTADO. PRECEDENTES.

1 - A jurisprudência deste Superior Tribunal é pacífica no

sentido de admitir indenização por danos morais à pessoa jurídica, nos termos do verbete sumular n.º 227.

2 - Esta Corte, cuja missão é uniformizar a interpretação do direito federal, há alguns anos começou a afastar o rigor da técnica do recurso especial para controlar o montante arbitrado pela instância ordinária a título de dano moral, com o objetivo de impedir o estabelecimento de uma "indústria do dano moral" (REsp 504.639/PB, Min. Sálvio de Figueiredo, DJ de 25/08/2003, p. 323). 3 - O Superior Tribunal de Justiça, em situações especialíssimas como a dos autos - de arbitramento de valores por dano moral - ciente do seu relevante papel de Tribunal do Pacto Federativo, e com o escopo final de estabelecer a pacificação social, se pronuncia nos casos concretos para aferir a razoabilidade do quantum destinado à amenização do abalo moral (REsp 1.089.444/PR, Min. Nancy Andrighi, DJe de 03/02/2009).

4 - Não se tem dúvida de que esta Corte, ao reexaminar o montante arbitrado pelo Tribunal a quo nesta situação, mergulha nas particularidades soberanamente delineadas pela instância ordinária para aferir a justiça da indenização (se ínfima, eqüitativa ou exorbitante), afastando-se do rigor da técnica do recurso especial, consubstanciada, na hipótese em tela, pela Súmula 7/STJ.

5 - A atuação deste Tribunal na revisão do quantum arbitrado como dano moral não consubstancia revaloração da prova, segundo a qual o STJ, mantendo as premissas delineadas pelo acórdão recorrido, e sem reexaminar a justiça ou injustiça da decisão impugnada, qualifica juridicamente os fatos soberanamente comprovados na instância ordinária (AgRg no REsp 461.539/RN, Min. Hélio Quaglia Barbosa, DJ de 14/02/2005, p. 244; REsp 327.062/MG, Min. Menezes Direito, DJ de 05/08/2002, p. 330).

6 - No caso dos autos, deve ser adequado o valor arbitrado a título de danos morais pelo Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, levando-se em consideração as condições pessoais e econômicas dos envolvidos, bem como o dano propriamente sofrido pela ora recorrida.

7 - O critério utilizado, o qual estipulou o montante indenizatório com base na multiplicação do valor dos títulos devolvidos é aleatório e por isso, inadequado. Precedentes.

8 - Recurso Especial conhecido parcialmente, e nessa parte provido para reduzir o valor da indenização por danos morais para R$ 50.000, 00 (cinqüenta mil reais). (BRASIL, 2009, grifo nosso).

Ainda sobre o tema, em conformidade com o STJ e nos moldes da Súmula 277 da mencionada Corte, deliberou o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo sobre a admissibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral, quando em decisão do recurso interposto pela parte ré, manteve a sentença, na qual a autora Dry For Comercial Ltda. obteve a anulação de duplicatas emitidas sem respaldo legal e descontadas pelo réu, bem como a indenização por danos morais:

(39)

EMENTA: Ação declaratória de inexistência de débito - duplicatas

sem aceite emitidas sem lastro - endosso translativo - responsabilidade do endossatário - dano moral de pessoa jurídica -

possibilidade - Súmula 227 do STJ - sentença mantida. (SÂO

PAULO, 2011, grifo nosso).

Na ocasião, o Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe manteve a sentença proferida pelo M. M. Juiz de Direito da Comarca de Ribeirópolis, na qual a autora, Auto Posto Cheka Ltda., alcançou a indenização por danos morais, haja vista que houve a divulgação negativa da imagem da sua empresa perante pessoas do seu ramo comercial, condenando a parte ré ao pagamento da importância de R$ 7.000,00 (sete mil reais). Frisa-se que, diante da conduta danosa da ré Nacional Gás Butano Distribuidora Ltda., patente é a violação da honra objetiva da autora, pois, mesmo em se tratando de pessoa jurídica, faz jus à indenização por dano moral sempre que seu nome, credibilidade ou imagem forem abalados por ato ilícito:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL - EXPOSIÇÃO DA EMPRESA AUTORA NO MEIO COMERCIAL - INFORMAÇÃO INVERÍDICA

SOBRE DÍVIDA - COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO E DA VEICULAÇÃO DE FATO INVERÍDICO SOBRE A INADIMPLÊNCIA DA PARTE - ATO ILÍCITO - ARTIGO 186 DO CÓDIGO CIVIL - PROVA DO DANO MATERIAL - CONFIGURAÇÃO DO ABALO

MORAL - CABIMENTO DO DANO PARA PESSOA JURÍDICA - SÚMULA 227 DO STJ - MANUTENÇÃO DO ÔNUS DA

SUCUMBÊNCIA - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO - DECISÃO UNÂNIME. (SERGIPE, 2011a, grifo nosso).

No tocante à determinação certa e objetiva do quantum indenizatório, não há, contudo, no ordenamento jurídico, uma definição exata do valor a ser fixado, justamente porque o abalo moral apresenta-se de maneiras e com consequências diferentes em cada caso.

Cabe assinalar, todavia, que o posicionamento da grande parte dos juristas que defendem a tese positivista, é de que a fixação do dano moral deve ter como parâmetro, além das peculiaridades do caso concreto, a extensão do dano sofrido e as condições socioeconômicas dos envolvidos, ou seja, ser proporcional e razoável a fim de não impor reparação irrisória nem valor que acarrete o enriquecimento ilícito

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de uma das partes, e considerado, principalmente, o caráter pedagógico da indenização.

Sobre o tema, o TJSC apreciou a Apelação Cível Nº 1999.014997-8 em que o Banco do Estado de Santa Catarina S.A. foi condenado a reparar danos extrapatrimoniais causados contra Stivanello Serviços e Indústria de Coroas Ltda., em razão de protesto indevido de duplicata paga no vencimento, pela qual o Juiz Relator Luiz Carlos Freyesleben asseverou que o valor arbitrado por danos morais deve proporcionar ao ofendido satisfação na justa medida do abalo sofrido, não deve ser irrisório, tampouco excessivo, e deve ressaltar o caráter punitivo da reparação:

EMENTA: CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL.

PESSOA JURÍDICA. PROTESTO INDEVIDO DE TÍTULO DE CRÉDITO. DÍVIDA JÁ QUITADA. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR CARACTERIZADA. CRITÉRIOS PARA O ARBITRAMENTO DA VERBA INDENIZATÓRIA. RAZOABILIDADE.

Configura dano moral o protesto indevido de título de crédito quando a dívida já houver sido quitada, independentemente de comprovação do prejuízo material sofrido pela pessoa jurídica lesada, ou da prova do abalo à sua honra objetiva e à sua imagem pública, porquanto são presumidas as conseqüências danosas resultantes desse fato.

O valor da indenização do dano moral deve ser arbitrado de modo a servir, por um lado, de lenitivo ao abalo de crédito suportado pela pessoa jurídica ofendida, com cuidados para não enriquecer sem causa o autor; por outro, há de ter função pedagógica, valendo como eficaz reprimenda para evitar a recidiva. (SANTA CATARINA, 2004, grifo nosso).

Analisando o arbitramento da reparação, o relator Lécio Resende da 1ª Turma Cível do TJDFT, na apelação cível 20060110313453APC, ressalta que o magistrado não pode se afastar dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, servindo a indenização como instrumento de caráter pedagógico preventivo e educativo da reparação moral, quando, em decisão do recurso interposto pela ré Liene Pinto, reformou a sentença, na qual a autora Academia de Dança Clássica de Brasília teve o valor da indenização por imagem denegrida em texto editado na Internet, reduzido para R$ 5.000,00 (cinco mil reais), eis que, adequado à hipótese dos autos:

EMENTA: DIREITO CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - TEXTO DIVULGADO NA INTERNET - VIOLAÇÃO DA HONRA OBJETIVA - CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL À PESSOA

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