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A dignidade humana e a atividade policial: uma leitura a partir de Immanuel Kant

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

JAIME LISANDRO MARTINI

A DIGNIDADE HUMANA E A ATIVIDADE POLICIAL: UMA LEITURA A PARTIR DE IMMANUEL KANT

Ijuí (RS) 2017

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JAIME LISANDRO MARTINI

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A ATIVIDADE POLICIAL: UMA LEITURA A PARTIR DE IMMANUEL KANT

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DEJ- Departamento de Estudos Jurídicos.

Orientador: DR. Mateus de Oliveira Fornasier

Ijuí (RS) 2017

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança durante toda esta jornada.

A sociedade, que anseia por segurança. Aos policiais, que lutam dia e noite, e que, por muitos são incompreendidos, e mesmo assim continuam a arriscar suas vidas na esperança de melhores dias,

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AGRADECIMENTOS

À minha família, uma célula social, para os quais pensamos conceder uma vida digna, de amor, paz e alegrias, que são representados por uma companheira diferenciada, amiga e esposa Adriane, pelos meus filhos Pedro Henrique e Ana Luisa, que estiveram presentes, nesta caminhada, e que certamente foram o porto seguro para uma base estruturante de meu pensamento sobre dignidade.

Agradeço, pela vida e exemplo à minha mãe, Leonilda Martini, que lutou com persistência, garra, coragem, sem desmerecer qualquer pessoa, ajudando, auxiliando não só seus filhos, mas também pessoas da comunidade, inclusive dispondo sempre de sua casa, seus recursos na esperança de um mundo melhor, realçando sua condição digna em ajudar o próximo, e com este exemplo criou seus três filhos, Jaime, Adalberto e Jarbas, que além de filhos são cidadãos, ao extremo significado da palavra.

Ao professor, DR. Mateus de Oliveira Fornasier, pessoa instigadora e competente, o qual tive o privilégio de ter como orientador, agradeço sua dedicação e disponibilidade.

As pessoas com quem tive convivência, as quais permitiram que eu tivesse uma real noção de dignidade, através das relações interpessoais, e, que, ajudaram para um real entendimento sobre o termo ―dignidade humana‖.

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“O direito deve ser um ativo promotor de mudança social tanto no domínio material como no da cultura e das mentalidades.”

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RESUMO

O presente trabalho busca analisar a Dignidade Humana do Policial a partir do pensamento Kantiano, a partir da autonomia da vontade e a formação moral, com fundamento na Constituição da República Federativa do Brasil, a qual garante o Estado Democrático de Direito e a Dignidade da Pessoa Humana. Sendo a Dignidade Humana, fundamento constitucional, que garante a Democracia, objetivando uma convivência mansa e pacífica a todos os cidadãos, guarnecido pelas polícias e exército. A polícia como garantidora da ordem pública, braço do Estado, deve proporcionar ao cidadão o mínimo de dignidade, para que as pessoas convivam em harmonia nas suas relações interpessoais. Na relação entre povo e policial, devido a atividade estatal/institucional, o agente policial pode sofrer restrições em sua Dignidade, à medida que o Estado lhe tira do seio da sociedade, e usa o agente/cidadão para impor seu poder, sendo este tratado de forma diferenciada, pelo próprio Estado.

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RESUMEN

El presente trabajo busca analizar la Dignidad Humana del Policía a partir del pensamiento Kantiano, a partir de la autonomía de la voluntad y la formación moral, con fundamento en la Constitución de la República Federativa del Brasil, la cual garantiza el Estado Democrático de Derecho y la Dignidad de la Persona Humana. Siendo la Dignidad Humana, fundamento constitucional, que garantiza la Democracia, objetivando una convivencia mansa y pacífica a todos los ciudadanos, guarnecido por las policías y el ejército. La policía como garante del orden público, brazo del Estado, debe proporcionar al ciudadano el mínimo de dignidad, para que las personas convivan en armonía en sus relaciones interpersonales. En la relación entre pueblo y policía, debido a la actividad estatal / institucional, el agente policial puede sufrir restricciones en su Dignidad, a medida que el Estado le quita del seno de la sociedad, y usa al agente / ciudadano para imponer su poder, siendo este tratado de forma diferenciada, por el propio Estado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 A DIGNIDADE HUMANA EM KANT ... 10

1.1 Conscepção de dignidade humana ... 13

1.2 Estado Democrático de Direito e Direitos Fundamentais ... 15

2 A DIGNIDADE HUMANA DO SER HUMANO POLICIAL ... 23

2.1 Princípios Basilares Organizacionais das Instituições Militares – Hierarquia e Disciplina ... 29

2.2 Princípios da Hierarquia e Disciplina-Virtudes-Kant ... 38

2.3 A Dignidade Humana na Profissão Policial Militar ... 47

CONCLUSÃO ... 52

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca uma análise da Atividade Policial, voltada à Dignidade da Pessoa Humana, em uma percepção genérica acerca das pessoas que realizam esta atividade. Essa reflexão se faz necessária, vez que muito se fala em Dignidade, Direitos Humanos e excessos cometidos pelos Agentes Policiais. Neste trabalho enfatiza-se uma maior atenção a atividade ostensiva preventiva, cujo escopo é a almejada tranquilidade pública, vez que o estado, garantidor da segurança pública, possui o monopólio do uso da força, com o único objetivo de proteger e assegurar um convívio manso e pacífico.

Para o exercício desta garantia, em muito se faz necessário o uso da força para a efetiva satisfação dos direitos inerentes a coletividade, contudo legalmente vedado seu excesso. O problema a ser abordado refere-se aos princípios das instituições militares, hierarquia e disciplina, como interferência na autonomia da vontade do agente policial, em relação a atividade tipicamente policial. Tem como hipótese a restrição da autonomia da vontade, na tomada de decisão frente a situações atípicas ao cotidiano, que em regra são de grande risco a pessoa do policial bem como dos cidadãos, proporcionada pelos princípios da hierarquia e disciplina. Sendo que nestas situações são necessários alto grau de autocontrole e autonomia de sua vontade, para que ocorra o adequado procedimento, inerente a cada situação isolada, no grande universo do litígio humano

Na abordagem desta monografia utilizou-se do método hipotético-dedutivo, com estudos de pesquisas bibliográficas, leituras, resumos de obras e de internet, com a finalidade de obter informações e aprofundar o tema. Quando se fala em Dignidade Humana se faz necessário a abordagem de diversas áreas de atuação

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deste princípio constitucional, e, neste caso a legalidade da atividade em questão, bem como normas que norteiam o aparato estatal de quem efetivamente realiza a atividade policial.

No primeiro capítulo foi analisado a questão da Dignidade da Pessoa Humana, a partir de Immanuel Kant. Desta análise entre os imperativos hipotéticos e categóricos, com relação a autonomia da vontade, consegue-se entender quando uma vontade é boa em si, ou não. Não sendo boa em si, a vontade é sempre para uma satisfação pessoal, tendo assim um fim egoísta, e ilegalidades ou excessos. Destes conceitos advindos da razão, a vontade, em uma evolução histórica e cultural, chega-se a um conceito moral e ético, o que será transmitido ao desenvolvimento do ser humano inserido em tal contexto social, refletido na sociedade.

No segundo capítulo temos uma análise mais específica da história militar, da atividade policial, do ethos militar, da subordinação do agente policial militar, de suas leis e regulamentos. Nesta perspectiva se analisa a interferência da hierarquia e disciplina nas tomadas de decisões pela pessoa do policial, devido ao seu alto grau de vinculação. Esta ligação somada a tensão proporcionada pelo dia a dia policial, devido a desarmonia nas relações interpessoais, que podem envolver até o risco de vidas humanas, pode interferir na autonomia da vontade do policial, e direcioná-lo mais a um viés institucional, quando deveria direcioná-lo ao bem estar da comunidade, escopo da instituição Policial Militar.

A Dignidade da Pessoa humana e o Estado Democrático de direito em uma perspectiva de garantia da ordem pública, e, tendo como braço do Estado para a realização efetiva desta garantia, as polícias. Deste prisma a polícia é o primeiro contato com o cidadão para a proteção de suas garantias, inclusive a manutenção da dignidade social e das pessoas, sendo que estas, por distorções de vontades atingem a ordem pública.

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1- A DIGNIDADE HUMANA EM KANT

A busca incessante pela melhor qualidade de vida, pela felicidade e, modernamente pelo direito de ser e estar em um momento de liberdade constante, vem conduzindo o ser humano, a uma atividade cognitiva que o leve a tal estado de satisfação, utilizando-se para isto do conhecimento. A filosofia, como forma de pensar o conhecimento a partir da sua ignorância, traz consigo a necessidade da atividade intelectual, sendo esta somente propiciada ao ser humano, devido a sua racionalidade, fato que o torna soberano em relação a suas vontades, vontades estas, que, a partir do contrato social, é intrínseca a sua moral, que o acompanha na constância de sua evolução social.

Para Immanuel Kant, todo ser humano é dotado de razão, e, sob tal aspecto, isto lhe permite uma reflexão, pois para Kant ―...a razão nos foi dada como faculdade prática, isto é, como faculdade que deve exercer influência sobre a vontade...‖ (KANT, 2007, pg. 25), assim nosso querer é diretamente ligado a nossa forma de pensar para que possamos decidir sobre a vontade, e sob seus atos, assim as pessoas decidem, e destas decisões advém consequências. Ademais as ações humanas passam pelo crivo das vontades, sendo a formação destas, em conformidade com o desenvolvimento moral atinente ao indivíduo.

[...] seu verdadeiro destino deverá ser produzir uma vontade, não só boa quiçá como meio para outra intenção, mas uma vontade boa em si mesma, para o que a razão era absolutamente necessária, uma vez que a natureza de resto agiu em tudo com acerto na repartição das suas faculdades e talentos. Esta vontade não será na verdade o único bem nem o bem total, mas terá de ser contudo o bem supremo e a condição de tudo o mais, [...] (KANT 2007, p. 25-26):

Na Grécia antiga, Sócrates (KANT, 2007, P.36) dizia que todo homem era naturalmente dotado de virtude, e quem naturalmente não a tivesse, que não fosse agraciado com tal dom natural quando do nascimento, deveria servir aquele que o tinha naturalmente adquirido, sendo que, para a sociedade, cultura da época, a pessoa sem virtude, não era considerada como pessoa, e assim deveria ser apenas um instrumento de servidão para o ―ser virtuoso‖, pois este sim nasceu com finalidade superior.

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Em contraponto a este pensamento, Immanuel Kant dizia que, todo ser humano é dotado de capacidade reflexiva, e, portanto um ser racional, cabendo a cada um, a possibilidade de buscar este dom chamado virtude, buscar este atributo positivo, pela razão, para que assim pudesse ser reconhecido como pessoa, e, buscar uma igualdade, ser visto e reconhecido, e fazer parte de uma sociedade, o que na época se fazia necessário para ser reconhecido como pessoa, ser dotado de capacidade e querer. O texto Kantiano traz na ideia de dignidade humana um pensamento ligado a boa vontade, em que a pessoa, ser racional é capaz de refletir e tomar uma atitude, esta ação, em seu objeto finalístico é que determina a questão moral.

A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão somente pelo querer, isto é em si mesma, e, considerada em si mesma, deve ser avaliada em grau muito mais alto do que tudo o que por seu intermédio possa ser alcançado em proveito de qualquer inclinação [...] (KANT, 2007, p.23)

A boa vontade é uma ação, sem finalidade em si mesma, mas simplesmente pela razão natural de ser, que a torna pura e simples em seu momento, espontânea, que é simplesmente o sentido natural desta. Não busca uma finalidade de satisfação, um agir condicionado a determinado retorno, mas pura e simplesmente o agir pelo agir, pois assim deve ser.

[...] a razão, que reconhece o seu supremo destino prático na fundação duma boa vontade, ao alcançar esta intenção é capaz duma só satisfação conforme à sua própria índole, isto é a que pode achar ao atingir um fim que só ela (a razão) // determina, ainda que isto possa estar ligado a muito dano causado aos fins da inclinação. (KANT, 2007, p.26)

Para Kant uma ação praticada somente por dever, sem uma finalidade egoísta, simplesmente por realiza-la, é uma ação de boa vontade, pois nesta não existe uma finalidade de interesse, apenas a ação, espontânea a sua razão de ser, que como tal deveria ser realizada, conforme sua convicção natural, uma simples ação por dever, uma boa ação, pois esta ação tendo como finalidade determinada, terá a questão moral viciada, pois seu agir é para atingir tem um propósito pessoal, egoístico.

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A filosofia de Kant se divide em imperativos, hipotético e categórico, sendo que o primeiro refere-se a uma necessidade prática da ação, como um meio para alcançar algo desejado, um objetivo final; e o segundo uma ação necessária por ela mesma não buscando uma finalidade, um fim como objeto da ação, mas porque acredita-se ser o certo a fazer.

[...] todos os imperativos ordenam ou hipotética- ou categoricamente. Os hipotéticos representam a necessidade prática de uma acção possível como meio de alcançar qualquer outra coisa que se quer (ou que é possível que se queira). O imperativo categórico seria aquele que nos representasse uma acção como objectivamente necessária por si mesma, sem relação com qualquer outra finalidade. (KANT, 2007, p.50)

Relacionado aos imperativos, reflete Vicente de Paulo Barreto (2013, p.52), que ―O imperativo categórico quando representa uma ação como, objetivamente, necessária, sem relação com qualquer fim; a ação é representado como boa em si mesma‖. Acompanha, assim, o pensamento de Kant uma liberdade, moralmente consciente e justa, quando se age por dever.

A boa vontade no agir, simplesmente pelo agir, pois assim definido pela sua conduta moral, deve ser base de convivência para um bom entendimento social, para que possamos pensar no semelhante, como ser que vive na sociedade e dela deseja um vida de bem comum, pois o pensamento egoístico retira o princípio social que liga todas as pessoas em um convívio harmonioso e pacífico, desejado pela sociedade, em busca de uma paz social, o que é confirmado por Kant.

[...] todos os conceitos morais têm a sua sede e origem completamente a priori na razão, e isto tanto na razão humana mais vulgar quando na especulativa em mais alta medida; [...] que exatamente nesta pureza da sua origem reside a sua dignidade para nos servirem de princípios práticos supremos; [...] as leis morais devem valer para todo o ser racional em geral, é do conceito universal de um ser racional em geral que se deve deduzir. (KANT, Immanuel, 2007, p. 46)

Ao pensamento de Immanuel Kant, compartilham alguns pensamentos de autores, como Paulo Vicente Barreto, Ingo Wolfgang Sarlet, Costas Douzinas, que, a partir do conceito da moral Kantiana e da boa vontade chega-se a um liame de sujeição entre liberdade e dever, pois leciona Barreto, ―O dever é que irá permitir que se torne boa a vontade nos seres finitos. Por sua vez, a boa vontade reide em cumprir o dever pelo respeito ao dever (e não pelo respeito a legalidade)‖.

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(BARRETO, 2013, pg.52). Assim pressupõe-se chegar a ações de justiça, pois sem interferência apenas se busca, a partir de uma ética/moral, cumprir com seu dever, ações livres de finalidade, age-se somente pelo agir, de forma correta com o dever.

A vontade moderna estará sempre dirigida a um exterior; a ação projeta o Eu soberano em sua orientação para outros e em sua operação, que outorga valor a natureza. O poder da vontade é único; não está mais inserido no mundo natural, não brota das emoções nem da inteligência pura, mas obedece aos desejos e interesses do sujeito. (DOUZINAS, 2009, p. 200)

Os pensamentos de Kant e Barreto remetem às ações humanas ligadas à razão, logo antes do agir deve-se usar de capacidade cognitiva para arrazoar suas consequências, sendo que o ser humano possui valores, não permitindo assim que se trata outro ser humano como meio para conseguir determinada finalidade, assim agindo teremos um agir fora de um dever moral, um pensamento egoísta, assim retirando a liberdade, vontade livre da ação.

1.1 Concepção de Dignidade Humana

A modernidade marcou o ser humano, em sua concepção e característica humana, sendo o mundo nesta época foi subjetivado. A pessoa passa a existir perante as leis, sendo seu ―EU‖, sujeito de direitos. Aparece o sujeito de um lado e o direito de outro, havendo ai, um encontro, e deste, concebe-se uma ética/moral, subjetivo ser de direitos objetivos. Com o surgimento do humanismo temos a exteriorização do ―EU‖, a proteção a caracterìstica humana, que diferencia as pessoas dos outros seres vivos, humanos e animais, assim para que haja direitos humanos deve existir o ser humano.

A Dignidade Humana, para Sarlet, não cuida somente de aspectos referente a integridade física, intimidade, vida, mas de uma qualidade inerente ao próprio ser, constitui sim um valor próprio, que identifica o ser humano como tal, contudo apesar das dificuldades em identifica-la em seu sentido jurídico, vislumbra-se a dignidade como algo real, pois é clara sua identificação quando a pessoa é espezinhada, agredida.

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O conceito jurídico de Dignidade humana é tão amplo, que seu conceito e aplicação pode até causar conflitos, conceituais, e concretos, pois em si mesma não há uma definição, conceito juridicamente apropriável. Ainda Sarlet, complementa com entendimento de José Afonso da Silva, que Dignidade é ―[...] atributo intrínseco da pessoa humana[...], [...]que a dignidade de todas as pessoas, mesmo daquelas que cometem as ações mais indignas e infames, não poderá ser objeto de desconsideração.‖ (Apud SARLET, 2015, pg.53). Estando conforme Art. 1º da Declaração Universal da ONU (1948), ―todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espìrito e fraternidade.‖

Conforme Douzinas (2009, p.235), após apanhado histórico que, ―A modernidade é a época de uma subjetividade juridicamente induzida e, nessa medida, a excessiva legislação, [...]‖. Assim a lei abrange características humanas com o direito, bem como as coisas de maneira geral, porém fundamenta-se na liberdade de escolhas dentro da legalidade de dever, imposto pela lei moral.

Para Jorge Miranda (apud SARLET, 2015, pg. 54), a razão e a consciência representa denominador comum a todos os seres humanos, ou seja, comum a todos os homens. Neste sentido, analisa o Tribunal Constitucional da Espanha, inspirado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois, entende que ―a dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que leva consigo a pretensão ao respeito por parte dos demais‖.

[...]cada ser humano é humano por força de seu espírito, que o distingue da natureza impessoal e que o capacita para, com base em sua própria decisão, tornar-se consciente de si mesmo, de autodeterminar sua conduta, bem como de formatar a sua existência e o meio que o circunda. (Dürig, apud SARLET, 2015, p. 54).

A Dignidade Humana, tema atual, dinâmico e de constante evolução, é amplamente discutida em nível global, com diversos entendimentos, mas sempre voltado aos anseios de não sofrimento da pessoa, em tais níveis que, mesmo em países adeptos a pena de morte, se pensa em evitar sofrimento da pessoa e assim

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proporcionar um sacrifìcio ―digno‖. É um não sofrer, com objetivo de trazer o ser humano ao seu mínimo existencial, o que possui de mais precioso a sua integridade da característica humana, seu sentir, maneira como é visto por seu semelhante, o que se percebe com a evolução social, em que penas cruéis foram sendo gradativamente substituídas por penas menos gravosas, buscando mais humanidade na aplicação destas.

[...] a dignidade da pessoa humana poderia ser considerada atingida sempre que a pessoa concreta (o indivíduo) fosse rebaixada a objeto, a mero instrumento, tratada como uma coisa, em outras palavras, sempre que a pessoa venha a ser descaracterizada e desconsiderada como sujeito de direitos. (Dürig, apud SARLET, 2015, p. 68).

O convívio social dinâmico, proporcionado pelas relações entre as pessoas, sendo que cada ser humano tem sua percepção da realidade, e desta advém conceitos que o levam a princípios morais. Estes princípios morais, inerentes a característica humana fazem das pessoas um fim em si mesmo, as diferenciando de objetos, reafirmando ser a pessoa humana sujeito de direitos, dos direitos humanos.

1.2 Estado Democrático de Direito e Direitos Fundamentais

No Brasil, a Dignidade da Pessoa Humana encontra-se, expresso e imutável, no texto constitucional, em seu art. 1º inciso III, sendo princípio norteador do ordenamento jurídico pátrio, seguindo em seu texto vários aspectos de proteção a dignidade da pessoa humana, na forma de direitos fundamentais, proporcionando uma existência digna, o que em tese, não seria somente um direito a vida, mas o direito a uma vida com a satisfação de necessidades básicas, proporcionando assim uma vida boa, um mínimo existencial da caracterìstica ―humana‖.

A Constituição Federal de 1988, acabou por não incluir a Dignidade da Pessoa Humana no rol dos direitos fundamentais em seu artigo 5º, contudo reservou à condição de princípio fundante da ordem constitucional, a qual encontra-se expressa no Artigo 1º inciso III da Carta Constitucional, classificando assim a Dignidade da Pessoa Humana como princípio jurídico-constitucional fundamental, ao que Sarlet (2015, pg.80) afirma, ―[...]o grau de reconhecimento e proteção outorgado

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a dignidade da pessoa por cada ordem jurídico-constitucional e pelo Direito Internacional, certamente irá depender sua efetiva realização e promoção[...]‖, em análise aos direitos humanos fundamentais.

Sob o fundamento da democracia, que é o governo do povo, exercido por seus representantes, que após eleitos representam o povo em seus anseios, decidindo assim a direção social a ser tomada, sempre devendo pensar no bem estar comum a toda sociedade, tem-se o direito a um mínimo existencial, uma espécie de soberania do ser humano em relação a sua proteção, psicológica e física. Nesse sentido refere-se Paula Becker (2011, p. 06):

Direitos humanos são mais do que apenas um componente da democracia. Eles são a pré-condição para o funcionamento de um sistema democrático. O desenvolvimento e a consolidação de direitos humanos é apenas possível, quando as pessoas vivem numa democracia, porque só aí elas próprias concebem as suas leis e conseguem controlar publicamente os três poderes [...].

A busca pela proteção, exercida pelo ser humano desde épocas longínquas, sempre teve seu pilar de sustentação, para tomada de decisões, o não sofrimento do próprio ser, e apenso a este sentimento ocorreram as maiores guerras, os maiores massacres de seres humanos, as maiores barbáries inerentes a inércia de um pensar no semelhante, refletindo hodiernamente em direitos humanos e fundamentais, na dignidade da pessoa humana, pilar das sociedades democráticas.

Cada atrocidade foi cometida em nome da ―humanidade e da ―justiça‖. Cada um dizia que queria ―libertar‖ o homem (o ―super-homem‖ criador do ―mito democrático‖, ou libertar todos os homens da exploração do capital ou do Estado). Cada ideologia tinha ―sua‖ ideia do homem e, na medida em que a realizava, tudo estava justificado pela necessidade. Daí que nenhuma delas pudesse deter-se em obstáculos formais e se orientasse por seu próprio ―direito natural‖. (ZAFARONI, 1997, p. 66)

Na busca pela liberdade o ser humano, em inúmeras vezes, foi capaz de sepultar seus próprios princípios de soberania e bem estar humano, e, sempre estes atos foram para ratificar sua característica humana, sua necessidade humana de afirmar sua humanidade. A democracia é o resultado desta afirmação de humanidade, uma liberdade intrínseca ao humano a sua capacidade cognitiva, expressa na razão, pois ao abrir mão do Estado de Natureza, e, escolher alguns do

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povo para sua representação, mostrou seu espírito coletivo humano. Neste aspecto, Ingo Wolfgang Sarlet (2015, p. 95):

[...]na concepção que faz da pessoa fundamento e fim da sociedade e do Estado, razão pela qual se chegou a afirmar que o princípio da dignidade humana atua como ―alfa e ômega‖ do sistema das liberdades constitucionais[...] nosso constitucionalismo, igualmente caracterizado por uma Constituição de cunho marcadamente compromissário, mas que – como já frisado – erigiu a dignidade da pessoa humana à condição de fundamento de nosso Estado Democrático de Direito[...].

O exercício do controle social necessário para a manutenção do Estado, prescinde de atos legais e dignos moralmente, é questão cultural, e, sempre considerada soberana a característica humana e a liberdade, princípios por vezes em choque, porém o próprio embate princípio/lógico se faz necessário para suprimir determinadas vontades de agir, pois estas não fazem parte da expectativa social, sendo que o Estado faz uso dos meios, seus agentes de segurança pública, muitas vezes em atuação coercitiva para a prevalência do estado de paz social.

O Estado, a partir do contrato social, é quem detém o poder, ele é quem cuida das necessidades básicas de toda a população, assim primando por uma distribuição de meios que garantam a todos uma vida com dignidade, um mínimo existencial.

[...] buscando assegurar uma existência com dignidade, constatação esta que, em linhas gerais, tem servido para justificar um direito fundamental (mesmo não expressamente positivado, como já demonstrou a experiência constitucional estrangeira) a um mínimo existencial, compreendido aqui – de modo a guardar sintonia com o conceito de dignidade proposto nesta obra – não como um conjunto de prestações suficientes apenas para assegurar a existência (a garantia da vida) humana (aqui seria o caso de um mínimo apenas vital), mas sim, bem mais do que isso, ou seja, uma vida com dignidade, no sentido de uma vida saldável como deflui do conceito de dignidade adotado nesta obra, ou mesmo daquilo que outros tem designado de uma vida boa. (SARLET, 2015, p. 136)

A segurança pública, dever do Estado, é exercida pelas polícias, e, conforme expresso no artigo 144 da Constituição Federal, e artigo 124 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, possui o objetivo de proporcionar uma convivência harmoniosa e pacífica ao povo. Uma convivência social em que todos tenham garantido seus direitos, para que assim possam usufruir de uma coexistência, com liberdade, a nível que possibilite um desenvolvimento social coeso com os princípios

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norteadores do Estado Democrático de Direito, para um saudável exercício de seus direitos e deveres, possibilitando assim as boas relações interpessoais, independentes de vontades absolutas singulares.

O poder de polícia é a faculdade de que dispõe a administração pública, para agir, frente a determinados fatos, com a finalidade de evita-los ou modificá-los, fazendo com que prevaleça a legalidade destes, sempre com a finalidade do bem comum, voltados para um estado de tranquilidade pública, e uma convivência harmoniosa e pacífica. Atualmente o uso da força encontra respaldo legal no poder de polícia, conforme art. 78 da lei nº 5172/66, Código Tributário Nacional:

Art. 78 – Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (BRASIL, 1966, Lei nº 5172/66)

Este poder de polícia é o princípio legal para que o ―agente policial‖ possa usar de seus meios materiais a fim de efetivar sua atuação de polícia para a manutenção social, sendo o poder de polícia legitimado pelo artigo 78 do CTN.

Comete Abuso de Autoridade, quem investido de cargo, emprego ou função pública, de natureza civil ou militar, mesmo que transitoriamente e sem remuneração, que tiver sua conduta ajustada ao tipo penal da Lei 4898/65, cujo objetivo da presente lei é coibir os excessos dos agentes do Estado, quando em atividade destinada a preservação da ordem social, pois...

[...]a violência é arrebatadora, exagerada; já a força é comedida. Enquanto o uso da força é prudente, dentro de seus limites, a violência é força cega, que não enxerga as consequências de seus atos. Na ação policial, a linha que separa o uso da força comedida e moderada da violência como força cega e brutal é uma das questões que está cotidianamente no cerne da intervenção do PM no exercício do policiamento ostensivo. (ALMEIDA apud DOS SANTOS, p. 25).

A polícia, braço do Estado, age através de seus agentes, que são pessoas da sociedade, que tem um convívio social, local, ―da comunidade‖, e, que investido do

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cargo, e, dentro da legalidade, fazem cumprir as leis e regulamentos, para que a população conviva com a desejada harmonia e um relativo sentimento de segurança, para assim exercer a plenitude de sua cidadania, exercendo seus direitos e deveres, os quais são assegurados, inicialmente pela atividade de polícia, pois desta relação estado/povo, é a polícia, a mais presente para o povo, cidadão, e que deste emana todo poder do Estado Democrático de Direito, garantido o exercício pleno pelo poder Judiciário.

O princípio da autonomia da vontade consiste na sujeição do homem à lei moral, que o torna livre na medida em que se submete a sua lei própria, no entanto lei Universal [...] A coercitividade, nesse contexto, seria o instrumento dessas vontades autônomas a serem exercidas de acordo com a lei por elas criadas. (BARRETO, 2001, p. 49-50)

A pessoa, do policial, investido do poder do estado, perde neste momento sua condição de ser social, visto que é Estado, mas também é povo, e, neste meio submetido a regras rígidas, que o desgastam para com seu povo, sofre o peso do braço ―Estado‖. Sendo o povo constituído de pessoas, cidadãos, que aderiram ao dever de obediência as leis e regulamentos, com o contrato social, nosso atual Estado Democrático de Direito.

Pessoas que abriram mão da liberdade total para que pudessem andar e expressar-se livremente. Pessoas que conforme explica Kant, são seres racionais, medidos por uma moral que os guia no convívio social agindo com ética e buscando sempre uma boa vida, com dignidade, para que possa haver um convívio harmonioso, seguro, tranquilo e feliz. Este pensamento, de respeito e dignidade é compartilhado por Barreto (2013, p. 73):

Em cada pessoa reside, portanto, a humanidade, que se constitui no objeto de respeito a ser exigido de todos os outros homens. A dignidade se encontra no respeito antes de tudo que cada pessoa tem para consigo mesma, como pessoa em geral e como homem.

O cidadão, investido do Estado, busca o cumprimento do seu papel, como agente de polícia, cobrado pelo Estado, na sua atividade, usa dos princípios que o constituem como cidadão, questões culturais, que formam sua moral, que refletirão em suas ações, estas praticadas por dever, não em seu simples propósito, mas porque assim deve ser, e assim age com ética dentro dos limites que a lei impõe

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para que haja um desempenho satisfatório de seu trabalho, motivo pelo qual, para Immanuel Kant (2007, p. 26), conservam sua vida:

Os homens conservam a sua vida conforme //ao dever, sem dúvida, mas não por dever. Em contraposição, quando as contrariedade e o desgosto sem esperança roubaram totalmente o gosto de viver; quando o infeliz, com fortaleza de alma, mais enfadado do que desalenta ou abatido, deseja a morte, e conserva contudo a vida sem a amar, não por inclinação ao medo, mas por dever, então a sua máxima tem um conteúdo moral.

Assim, a moral do ser humano que abarca uma ética do policial e confere discernimento para o fiel cumprimento das leis e regulamentos, sendo que estes refletem diretamente em suas ações, e buscam, acompanhados de uma moral social e própria, assegurar o bem estar do povo. Sendo que a ética do cidadão está no fiel cumprimento das leis e regulamentos, pois é o regramento social, e este é o modo de vida, tanto do povo quanto do agente de segurança pública, pois somente um entendimento plural de princípios éticos e morais é que farão a estrutura estatal, legal e regulamentar, terem efetividades, pois o fim é direito e dever, do Estado e do Povo.

As relações interpessoais existentes dentro das corporações policiais, com a missão de proteção e manutenção da ordem pública, são em regra de subordinação, acatamento a ordens e seu cumprimento, agindo assim presume-se ética profissional, o que em tese, tal comportamento se faz necessário para a manutenção da instituição.

O cumprimento destes preceitos, afirmando leis e regulamentos, enseja uma animosidade entre povo e estado, visto sua atividade coercitiva ligada a função de controle social, sendo que, tal animosidade, possui como primeiro interventor o policial, este é povo, mas também é estado. Se faz necessário a flexibilidade do agente, para análise de casos específicos à sofrerem intervenção, de até mesmo atos incoerentes do Estado, pode terminar por não prestar o devido auxílio a este cidadão, e, ao próprio policial, pois, o que em muito se percebe é o povo, objetivando a satisfação de interesses próprios, e acabam por não agir com a necessária ética.

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A atividade de polícia, em interação mais direta com a comunidade, em níveis de policiamento comunitário, em locais mais específicos, visa aproximar o ser humano policial e a própria instituição de segurança, com a sociedade. Se faz necessário para isto uma bagagem de conhecimento moral e profissional, aflorando dentro da própria segurança pública, concepções afirmadas por Soares.

Descentralização; valorização do trabalho na ponta; flexibilidade no processo decisório nos limites da legalidade, do respeito aos direitos humanos e dos princípios internacionalmente concertados que regem o uso comedido da força; plasticidade adaptativa às especificidades locais; capacidade de interlocução, liderança, mediação e diagnóstico; liberdade para adoção de iniciativas que mobilizem outros segmentos da corporação e intervenções governamentais intersetoriais.(SOARES apud SCHNEIDER, 2016, p. 160)

Entretanto o que é determinado não pode ser cumprido de forma a melhor ou pior entendimento, apenas é cumprido, sendo que a autonomia efetiva reside no comportamento, analítico e reflexivo de cada situação, fato diretamente ligado ao conhecimento humano que o agente traz da própria sociedade, de casa, da família e seu convívio, discricionariedade esta que por muito é tolhida pela rigidez militar, analise convergente com Elmir Jorge Schneider (2016, p. 163):

A importância do constante treinamento da atividade policial reflete diretamente na imagem projetada pela sociedade com relação à atuação da polìcia, ―[...] pois procedimento não é uma ordem a ser seguida e sim uma conduta a ser introduzida como um comportamento reflexivo do policial, em seu trabalho cotidiano‖ (PINC, 2011, p. 18). De modo que qualquer alteração na forma de atuação do trabalho policial requer um longo período de adaptação e um constante treinamento.

O policial, no atual sistema democrático, pensando-se em uma evolução cultural, deve primar pelo bem estar, e legalidade de seus atos, deve usar de sua discricionariedade, adquirida de uma conduta social ilibada, o que traz em si uma bagagem moral, para que assim possa ser um promotor de um bem estar social, pois em muitos casos, a polícia, é o mais perto que o Estado chega da pessoa, povo, e ali o simples atendimento, tratamento faz a diferença.

[...] nas sociedades pós modernas ocidentais, autorrealização e a autossatisfação tornaram-se uma aspiração do Eu e da república. Em uma sociedade em que cada desejo é um direito em potencial, é proibido proibir. [...] suas ideias simplistas de comunhão com uma inefável alma interior, ou de aliviar o ―verdadeiro‖ Eu que faz escamoteado ou revestido de convenção sociais e leis. (DOUZINAS 2009, p. 325)

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Em um sistema democrático onde tudo parece juridicamente possível, espera-se muito do ―direito‖, até mesmo onde não se vislumbra, pois a democracia chega a tal ponto de garantir até mesmo o que não pode viabilizar, assim compara-se tal dignidade, a pessoa do policial, pois a dignidade humana pertence a todos. Em um ambiente social em que se pensa que tudo pode, e ao mesmo tempo nada pode, beira uma insegurança jurídica a tal nível, que o próprio legislador, talvez, não consiga acompanhar o processamento das leis, e assim aos poucos se esvai um entendimento linear sobre fatos, contudo a dignidade deve permanecer, pois é sempre a partir do bem estar do ser humano que novos direitos são criados, modificados, pois se fazem necessários.

A Dignidade da Pessoa Humana é a garantia de sua vontade, respeitadas a moral e ética no convívio social. Esta Dignidade, princípio constitucional deve ser seguida, conforme seus preceitos, pois a Democracia tem como base a própria condição humana, e esta deve prevalecer sobre todas as vontades humanas, pois é regra e princípio fundamental.

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2- A DIGNIDADE HUMANA DO SER HUMANO POLICIAL

Pode-se afirmar que o conflito faz parte da natureza humana, como um dos elementos inerente às relações humanas, sendo também agente de mudanças das sociedades. Desde a antiguidade, se fez necessário a criação de forças bélicas com o intuito de controle de pessoas, tanto pela demonstração de força superior, como pela própria atuação, com uso da força, em grupos menores, locais. Ainda existe um tipo de controle realizado sobre os agentes responsáveis pela atuação do estado, da segurança, ao que buscamos uma reflexão, voltada a dignidade humana.

Sobre o tema se faz necessário um pequeno apanhado sobre a história militar, sendo que as primeiras notícias de criação de exércitos são de aproximadamente quatro mil anos AC., contudo os primeiros escritos são atribuídos a Sum Tzu, (apud Magnoli, 2006, pg. 11), em ―A arte da Guerra‖, entre os anos de 400 a 320 AC., o qual afirmava: ―A arte da guerra é de importância vital para o Estado. É a província da vida ou da morte; o caminho à segurança ou a ruìna, [...]‖.

Estas foças tem o único objetivo de guerrear, destruir, subtrair fisicamente, matar, se apossar, sempre buscando se sobrepor ao inimigo, e a isso são direcionados todos os seus símbolos, códigos e hierarquias. Em regra sempre ocorre, a guerra, contra forças externas, para ataque ou proteção de determinado território ou grupo de pessoas, País. Destes acontecimentos criou-se variadas técnicas e armamentos cada fez com maior eficiência e perfeição tecnológica. Carl Von Clausewitz complementa dizendo que a ―guerra nada mais é do que a continuação da polìtica com outros meios‖.

A concepção de Polícia Militar surgiu com a finalidade de tornar forças militares treinadas para a guerra em forças policiais, para o atendimento de situações adversas entre pessoas, sendo que estas não são vistas como inimigos, mas como parte de uma sociedade, com direitos e garantias assegurados a ambos os lados. Não interessando a quem pertence a razão, mas mesmo com discórdia, deve permanecer a tranquilidade para o povo, em geral. A primeira Organização Policial surgiu em Londres, em 1829 – Polícia Metropolitana de Londres.

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A Polícia Militar, Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, criada em 18 de novembro de 1837, para a guerra, com finalidade bélica e característica marcial, braço do exército, e, treinada como tal, desde 1909; perdeu seu caráter bélico em 1934, pertencendo ao Exército Brasileiro até 1950, quando passou por uma mudança de valores institucionais para a realização de atividade de polícia, que, em 1988, passou a realizar atividade ostensiva e preventiva, com objetivo de manter a ordem pública.

Neste aspecto histórico e institucional, ressalta Karnikowski, em sua tese de Doutorado em Sociologia, que:

Dentro desse conflito se entabulava o antagonismo entre as suas duas naturezas: a militar que evoca um passado de glórias bélicas e a policial que exige um novo esforço e profissionalismo. Um dos maiores obstáculos à Polcialização da Brigada Militar residia no espírito-de-corpo do oficialato, ainda muito aglutinado em torno dos valores militares. Mesmo os oficiais policiais estavam muito imbuídos do ethos bélico-militar tenazmente mantido pelos oficiais militares. (KARNIKOWSKI, 2010, p. 346)

Esse processo de mudança teve algumas dificuldades, pois os oficiais, que instruíam a polícia, eram preparados para a guerra, e tiveram que se adaptar para o desempenho da Atividade de Polícia, sendo que alguns hesitavam em mudar. De outra banda os Delegados de Polícia tinham certa resistência, pois entendiam que a Polícia Militar estava fazendo o serviço da Polícia Civil, quando atuando em serviços ostensivos, preventivos, contudo era um caminho sem volta, com atribuições específicas, firmada pela constituição Federal de 1988, ao que complementa Karnikowski, (2010, p. 623)

A Missão Instrutora do Exército transformou os guerreiros da Brigada Militar em verdadeiros soldados profissionais, principalmente depois da criação dos cursos de Ensino e de Preparação Militar. Esses fatores sedimentaram o habitus do oficialato nos valores da guerra. [...] a missão Instrutora do Exército foram responsáveis principais na transformação da Brigada Militar em verdadeiro exército estadual com seu efetivo altamente profissionalizado como uma verdadeira máquina de guerra. Essa formação enraizou o ethos militar dos oficiais [...]. O habitus de guerreiro e soldados profissionalizados converteu-se no maior obstáculo a adoção dos princípios que deveriam nortear a atividade de policiamento, pois esta era tida como aviltante aos nobres valores militares onde a espada simbolizava a dignidade de sua posição e o bastão de polícia (cassetete) a degeneração militar da milícia.

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O corpo de oficiais, da época, mantinha uma tradição militar, com valores ligados ao ethos militar, realizando serviços de policiamento dentro de uma rigorosa devoção as regras militares. Karnikowski, ainda enaltece o ―realizar‖, pois a efetiva execução era realizada exclusivamente pelas praças. Ressalta ainda que, os oficiais eram oriundos de curso superior formado pela própria instituição, poucos possuíam diplomas fornecidos em universidades. Cita ainda que, na década de 1950 e 1960, muitos oficiais da Brigada Militar foram para o exterior a fim de realizar cursos de aperfeiçoamento, ligados à área policial, colaborando para a especialização da polícia.

Para Felitte e Ponzilacqua,(2017 pg. 2 e 3), no que se refere as Academias de Polícias Militares, no pais, que oferecem cursos de formação à oficiais, em geral a bacharéis de direito, os quais irão se tornar oficiais da polícia militar, ―[...]o aluno ingressante ganha a alcunha de cadete e é submetido a um ensino multidisciplinar[...]‖ e, ―É nesse momento de formação, também, que os valores e a ideologia militar são repassados ao então cadete que, se bem sucedido, passará a compor o quadro de oficiais da polícia militar.‖. O artigo 83 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, especìfica que ―incumbe ao Comando Geral e Estado Maior da Brigada Militar o estabelecimento da política, da filosofia e das estratégias de ensino para a instituição‖, fator este, afirmam os estudiosos citados, que reforçam ―o aspecto militarista e o distanciamento em relação à sociedade civil na formação dos novos oficiais das instituições policiais.‖

Em regra estes cursos são de permanência diuturna dos cadetes nas academias de polìcia, ―com saìdas somente a tìtulo de licenças‖, a critério dos comandantes. Os alunos são isolados da sociedade, ―simbolizando um rompimento social‖, assim é submetido o aspirante a oficial, a um ―rompimento com antigos valores que constituíam uma identidade puramente civil, abrindo-se o caminho para a construção de uma nova identidade militarizada‖. (FELITTE; PONZILACQUA, 2017 p. 3)

[...] a intensidade do processo de socialização profissional militar, combinada ao relativo isolamento em que ele ocorre, faz com que a profissão militar represente um caso-limite sociológico. Desse modo, contribui-se para uma grande coesão ou homogeneidade interna, formando-se o chamado ―espìrito de corpo‖, ao preço de um distanciamento entre os

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militares e o mundo civil. (CASTRO apud FELITTE E PONZILACQUA, 2017, p. 3)

A responsabilidade das academias na formação dos militares, acabam por interferir em suas identidades pessoais, na personalidade do cidadão, para que sejam amoldados ao interesse institucional, fazendo com que adquiram a identidade proposta pelas novas ―obrigações funcionais‖, assim citam Dornsbuch, Vidich e Stein,(apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 3).

Para Dornbusch, as academias militares constituem-se no ‗exemplo extremo‘ de uma ‗instituição assimiladora‘ (assimilating institution): ‗Ela isola os cadetes do mundo de fora, ajuda-os a se identificar com um novo papel, e, assim, muda sua auto concepção‘. Vidich e Stein veem o processo de tornar-se um soldado como uma ‗dissolução‘ da identidade civil anterior e a aquisição de uma nova identidade militar.

Esta passagem pela academia, e após, novo contato com a sociedade, já com percepções e conceitos militares, traz consequências negativas ao militar e a sociedade, visto que este contato ―

pós academia‖ gera um fenômeno chamado de ―desmapeamento‖, e conforme Sérvulo Figueira(apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 3), define como ―perda ou simples ausência de ‗mapas‘ para orientação, mas sim a existência de mapas diferentes e contraditórios inscritos em níveis diferentes e relativamente dissociados dentro do sujeito‖, pois na vida social existe uma série de conceitos diferentes da academia.

Mills (Apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 3) faz uma análise destes cursos de formação e ―[...]considera a rigidez dessa formação uma tentativa de romper os laços que o então aspirante a militar tem com a sociedade civil[...]‖ ao que viabiliza ―[...]a implantação de uma nova estrutura de caráter neste indivìduo.‖, possibilitando assim uma ―domesticação do recruta‖, e ainda ―[...]atribuìda a ele uma posição de inferioridade no mundo militar ao qual ele acaba de ser inserido.‖, assim isolado da vida civil, passando a se identificar cada vez mais com a vida militar.

Ainda afirma Mills (apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 4 e 5) que ―[...] até mesmo o amor-próprio do recruta passa a ser dependente do reconhecimento que ele recebe de seus pares e, principalmente, de seus superiores.‖, e, ainda

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aponta esta maneira de viver como ―[...] um dos mais altos círculos nacionais.‖, assim conquistando uma satisfação funcional e pessoal. Para Mills a ideologia militar ―[...] afeta não só o comportamento do indivíduo dentro da própria instituição, mas também o modo como se relaciona [...]‖, sendo que na vida militar o ―[...] debate e persuasão não são premiados: obedece-se e ordena-se [...]‖, e que ―A vida no mundo militar, portanto, influencia o espírito na apreciação de outras instituições, bem como da sua.‖

Túlio Vianna(apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 5), pensa que ―o policial aprende que o valor máximo não é o respeito aos direitos, à lei, e sim a hierarquia, a obediência‖, aponta ainda a violência nos treinamentos policiais, a existência de rituais típicos militares onde os indivíduos são submetidos a humilhação, suprimida a individualidade, sendo que ―O policial que sofre esta violência simbólica por parte de seus superiores [...]‖, o que inevitavelmente acaba por ―[...]reproduzir essas mesmas violências contra a sociedade civil, a qual, agora, seguindo sua lógica hierárquica, está a ele subordinada.‖

Para Adorno, (apud FELITTE E PONZILACQUA, 2017, p. 5), ―quem é severo consigo mesmo, adquire o direito de ser severo também com os outros, vingando-se da dor cujas manifestações precisou ocultar e reprimir.‖, fazendo referência ao sadismo, a indiferença relacionada a dor do outro, assim conclui para ―a promoção de uma educação que não premie a dor e a capacidade de suportá-la‖.

Aponta Paes Souza, (apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 6), que o comando das polícias militares, quando ocorrem fatos de reprovação social, alegam ―[...]que se trata de um fato isolado que diz respeito exclusivamente à pessoa do policial envolvido.‖, sendo que o ambiente de convivência tem responsabilidade, ―[...]não devendo ser atribuìda somente ao indivìduo a responsabilidade pela prática de determinado ato, vez que a análise do ambiente em que o mesmo convive e dos valores professados pelo grupo a que pertence ficaria excluìda.‖.

Ressalta Paes de Souza (apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 8), que nas instituições como a Polìcia Militar ―[...]existem regras rìgidas que visam o controle de todos seus integrantes, a manifestação do pensamento crítico e de

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questionamentos é inibida, fazendo com que seus membros percam sua autonomia.‖, sendo as ações de seus integrantes condicionadas a um comportamento, e devido a um ―comando externo que o reprime‖ terá como resultado a ―[...]constituição de indivìduos frágeis com uma insegurança constante, que suscita o preconceito para afirmar uma identidade que não possui‖.

O militar em seu ―novo contexto de vida‖, pode criar em relação a comunidade um certo ―preconceito‖, nesta linha Bobbio, (apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017 p. 7), define preconceito como uma ―doutrina completa, acolhida de forma acrìtica e passiva através da tradição, do costume ou de uma autoridade de quem são aceitas ordens sem discussão‖ sendo que, ―tal aceitação se dá por inércia, respeito ou temor, resistindo a qualquer refutação racional feita com base em argumentos racionais.‖, sendo que desta forma, Felitte e Ponzilacqua, afirmam que o preconceito ―[...]tem raìzes sociais e está intimamente relacionado ao ambiente que cerca cada indivíduo. [...]caracterizando-o como um traço desta ideologia.‖

Esse rompimento, quando somado à organização hierárquica rígida e altamente verticalizada com grande concentração de poder decisório, como é a militar, contribui para o surgimento de práticas policiais que violem direitos humanos, bem como facilita o crescimento de um sentimento de preconceito de alguns policiais contra cidadãos de classes mais pobres e minorias raciais. (FELITTE; PONZILACQUA 2017, p. 13).

Para Crochik, essa formação de novos valores, puramente militares, provoca o choque entre as pessoas, militares e civis, assim o isolamento é a possibilidade que leva o indivíduo a desenvolver preconceitos, pois este ...

[...]tem como característica a rigidez hierárquica e a ação vinculada a um comando externo, o que retira de seus integrantes a capacidade e a possibilidade de experimentar e refletir sobre si mesmo e sobre os outros nas relações sociais. (Apud FELITTE E PONZILACQUA, 2017 p. 08)

A moralidade como condição que faz o ser racional, um fim em si mesmo, juntamente com a sua humanidade, a razão, e deste fator, é intrínseca a dignidade, como qualidade humana que reflete a lealdade, o bem querer, nas ações, mesmo não favorecendo a pessoa. Assim quando é retirado do ser humano esta possibilidade de ação, este é coisificado tendo assim um preço, não um valor,

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tornando-se uma ferramenta, conforme reflexão de Kant, sobre a autonomia da vontade.

Desse modo, pode-se concluir que a ideologia militarista aplicada na formação e na estruturação da Polícia Militar não só tem como consequência as práticas abusivas e violentas por parte de seus membros, como se mostra ineficiente na tentativa estatal de reduzir a criminalidade. (FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 13).

A Policia Militar vem aos poucos se fazendo efetiva, sofrendo mudanças seja pelas deferências militares impostas aos subordinados, seja pela formas mais discretas e calmas dos atuais cerimoniais militares que ocorrem dentro das corporações. A atividade policial militar, forjada a partir dos ensinamentos de guerra, cuja finalidade era a conquista, e, eventualmente, a defesa como manutenção, formaram a Polícia Militar.

A polícia militar, força auxiliar do exército, conforme autores, vem de um instrumento teórico do regime militar, com doutrina de segurança nacional elaborada pela Escola Superior de Guerra, e que segundo Nilo Batista(apud FELITTE; PONZILACQUA, 2017, p. 09), como, um de seus conceitos o de ―inimigo interno‖, o qual, ―intensamente vivenciado pelos operadores policiais, militares e judiciários no âmbito dos delitos políticos, transbordará para o sistema penal em geral, e sobreviverá à própria guerra fria‖, ainda refere que a ―visão de inimigo‖, já ultrapassou as instituições policiais.

Para Kant, ―é evidente que o violador dos direitos dos homens tenciona servir-se das pessoas dos outros simplesmente como meios, servir-sem considerar que eles, como seres racionais, devem ser tratados ao mesmo tempo como fins [...]‖ (KANT, 2007, p. 75), e assim expressarem uma vontade livre, uma boa vontade, proporcionada pela razão, sendo este isolamento necessário para incutir o pensamento militar, contudo é usurpada sua razão.

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2.1 Princípios Basilares Organizacionais das Instituições Militares- Hierarquia e Disciplina

Ao tratarmos dos princípios básicos formadores da hierarquia e disciplina, os quais organizam as instituições militares, em especial no Brasil, é imprescindível uma noção histórica de tais princípios, ao que encontramos melhor análise em trabalho de Conclusão de Curso, com o título, ―AS VIRTUDES DO EXÉRCITO BRASILEIRO NA PÓS-MODERNIDADE‖(BOËCHAT, 2014), realizado por Igor Sidhartha Boëchat, pela Escola Superior de Guerra, o qual é militar, Coronel de Artilharia do Exército Brasileiro, e que acreditamos ser reflexo do pensamento corporativo.

Boëchat (2014 p. 15) traz referência a obra de Platão, ―A República‖, que escreveu sobre a subsistência dos guerreiros, assim, ―[...]à alimentação necessária a atletas guerreiros sóbrios e corajosos, recebê-la-ão dos outros cidadãos, como salário da guarda... [...]‖, isso a tìtulo de subsistência para necessidades fisiológicas.

Sobre o pagamento pela presteza e dedicação em proporcionar a segurança do grupo social, o pagamento era a possibilidade de ali estarem representando ―os seus‖, assim acreditavam que o pagamento era a própria posição no exército, pois ...

Quanto ao ouro e à prata, dir-lhes-emos que têm sempre na alma os metais que receberam dos deuses, que não têm necessidade dos metais dos homens e que é ímpio macular a posse do ouro divino acrescentando-lhe o ouro mortal, porque muitos crimes foram cometidos pelo metal em forma de moeda do vulgo, ao passo que o deles é puro. (PLATÃO, 2004, p.111. Apud, BOËCHAT, IGOR SIDHARTHA, 2014, p.14).

Boëchat, cita a obra ―A República‖, em um diálogo de Sócrates (Apud, BOËCHAT, 2014, p.15) com seus discípulos, que em uma cidade perfeita, ―[...]deveriam ser os soldados, os guerreiros que deveria defender a cidade[...]‖, e que ―[...]os defensores da República devem levar uma vida simples, voltada para os misteres da guerra e não se interessar pelos bens materiais.‖, entretanto para convencer os soldados que ―[...]os deuses já tinham colocado ouro e prata na alma deles e, assim, eles não teriam necessidade de ouro e prata terrenos que, por sinal, eram de qualidade inferior ao que possuíam.‖

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Assim valores de épocas passadas chegam a contemporaneidade, quando o ―ouro e prata na alma‖ são os Valores Militares, das instituições militares regulares do atual Regulamento Jurídico Brasileiro, que se expressa na forma de ―espirito de corpo‖, como afirma Boëchat.

A ideia de ‗Patriotismo‘, foi criada pelos Romanos, e encontra-se expressa no Hino da Independência, onde versa ―Ou ficar a pátria livre Ou morrer pelo Brasil.‖ (BRASIL, HINO DA INDEPENDÊNCIA), onde atualmente temos esta nítida noção referente ao amor pela Pátria.

Sempre se fez necessário a hierarquia nos combates, no campo de batalha, desde as civilizações mais antigas, entretanto foram os romanos quem introduziram mais degraus nestas hierarquias, com a finalidade de organizar os grupos para o combate, desde o Comandante até o Soldado. Esta convivência, por longos períodos, desencadeou o chamado ―Espirito de Corpo‖, conforme Boëchat, em seu trabalho, cita ...

Os romanos trouxeram grande evolução a esta característica militar adicionando mais degraus hierárquicos. Assim, na legião romana teríamos o Comandante, que seria o Consul, ou Pretor, que comandavam todas as legiões; cada legião possuía seis oficiais superiores que eram os Tribunos, que comandavam seis centúrias; cada centúria era comandada por um centurião (oficial intermediário); as centúrias eram divididas em decúrias, que eram grupos de dez homens, comandados por um decurião (oficial subalterno); finalmente chegaríamos no Legionário (soldado), que ainda eram divididos em immunes, soldados de 1a Classe, e munífices, soldados de segunda classe (LEGIÃO..., 2011, apud BOËCHAT, p. 16).

Em relação as virtudes, e sua significação entre o corpo de militares, que a relação ao dever era considerada ao extremo, e Boëchat (2014, p. 17), cita Lendon, onde ―[...]os romanos buscavam desenvolver quatro virtudes fundamentais para o desenvolvimento do guerreiro: o culto dos valores gregos; o culto à história romana, a virtus e a disciplina.‖. A inspiração, proporcionada pela vontade de participar da história romana, em grandes feitos militares, tinha consequências extremas, pois ocorrendo o fracasso, estes tomavam atitudes extremas, como a...

―[...]história do general romano Marco Escauro que proibira seu filho de se apresentar para ele, uma vez que o jovem teria fugido na presença do

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inimigo, no desfiladeiro Tridentino. O jovem, por não suportar a desonra, acabou por suicidar-se." (FRONTINO, 2005, p. 42 apud, BOËCHAT, 2014, p. 17).

Segue, Boëchat (2014, p. 18), que, para os guerreiros romanos ―[...]a disciplina também era uma virtude fundamental, mas ela deveria estar associada à virtus. A virtus era uma virtude romana que pode ser entendida como ―coragem agressiva‖ [...]‖, assim a ―virtus‖ deveria ser controlada pela disciplina, alcançando assim um controle proporcionado pela ―rudeza do treinamento diário e a prática constante de situações que imitam o combate‖. O controle da disciplina servia canalizar a agressividade, cabendo ao Comandante o discernimento do uso do ―virtus‖, ao que Boëchat compara

Talvez, os povos bárbaros do norte tivessem até mais virtus que os romanos, mas sem a disciplina não lhes puderam resistir. Lendon afirma que, por este ponto de vista, virtus e disciplina não seriam virtudes antagônicas, mas virtudes complementares e o sucesso militar romano é resultado do emprego harmônico destas duas virtudes. (BOËCHAT, 2014, p. 18)

O maior exemplo de disciplina, na Antiguidade, ocorre em Esparta, pois nesta sociedade a guerra é objeto de toda atividade ali realizada, sendo dos sete anos de idade destinados a vida militar até os trinta anos, e a partir, seriam cidadãos, contudo permaneceriam disponíveis para a guerra até os sessenta anos. Esta intensa atividade militar formava um guerreiro, ―corajoso e disciplinado‖, amparado por um ditado espartano, ―Outras cidades produzem monumentos e poesia. Esparta produz homens.‖, e cita Igor Sidhartha Boëchat,

O treinamento militar se iniciava aos sete anos de idade. Nesta fase inicial, a criança deveria superar a dor e o medo e, para isto era submetida a surras pelas outras crianças, quando eram comuns os desmaios e alguns ossos quebrados. Dos treze aos vinte anos já poderia fazer parte dos pelotões auxiliares e tomar parte de treinamentos intensos, que buscavam avaliá-los quanto à coragem e a resistência à dor. A partir dos vinte poderia casar e integrar uma unidade militar grega, a Falange. Entretanto deveria sempre dormir acampado, ao relento, apenas com o abrigo de uma manta. (BOËCHAT, 2014, p. 17).

No ano de 2002, O Ministério da Defesa através do Exército Brasileiro, por sua Comissão de Cerimonial Militar do Exército, aprova o Vade-Mécum de Cerimonial Militar do Exército Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10) com a 1ª edição 2002 portaria nº 156, de 23 de abril de 2002 aprova,

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O COMANDANTE DO EXÉRCITO, no uso da competência que lhe confere o art. 30 da Estrutura Regimental do Ministério da Defesa, aprovada pelo decreto nº 3.466, de 17 de maio de 2000, de acordo com o que propõe a Secretaria-Geral do Exército, ouvida a Comissão de Cerimonial Militar do Exército resolve: Art.1º Aprovar o Vade-Mécum de Cerimonial Militar do Exército - Valores, Deveres e Ética Militares (VM 10), que com esta baixa. Art.2º Estabelecer que esta Portaria entre em vigor na data de sua publicação. Gen Ex GLEUBER VIEIRA Comandante do Exército. (BRASIL, 2002)

A citada Portaria 156/2002, que contém Valores, Deveres e Ética Militares, considerada por Boëchat, como imutáveis, assim entendidos como princípios, ao que relaciona-se a Valores como:

‗Patriotismo‘ como sendo ―[...]o sentimento que liga o militar à sua pátria e o impele a defender sua soberania, sua integridade territorial, sua unidade e sua paz social.‖, mesmo ―[...]com o sacrifício da própria vida.‖, sendo a profissão militar a única que exige tal compromisso. Este compromisso é reforçado em formaturas, anualmente com a inclusão de novos recrutas, que juram, perante a sociedade, sacrificar a vida em defesa da ―Pátria‖.

‗Civismo‘ culto as tradições, aos símbolos nacionais aos heróis e à História da Pátria, em particular, a militar. Apologia aos atos heroicos realizados pelos Militares, as lembrança das glórias trazidas servem de referência e incentivo para os que não estiveram no campo de batalha.

‗Fé na Missão‘ ocorre quando se acredita em um ideal, uma atividade de grande importância social, não se apegando a interesses pessoais, que a missão do Exército está vinculado ao ‗Bem Comum‘.

‗Amor à Profissão‘ é um sentimento, um elo de ligação entre o militar e o trabalho, do qual advém seu sustento, sendo o entusiasmo por esta atividade, a motivação, dedicação, e que o faz por prazer e não por obrigação.

‗Espìrito de Corpo‘ ―[...]é externado pelo [justo] orgulho de pertencer a um determinado grupo de pessoas que tem valor. O Espírito de Corpo deve iniciar-se nos pequenos escalões[...]‖, e com passar o tempo se elevará de maneira geral a

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pertencer ao Exército, sendo que, ―Esta virtude permite que a tropa tenha coesão e desenvolva a camaradagem.‖, conforme Boëchat (2014, p. 17)

‗Aprimoramento Profissional‘ para o autor, Boëchat, (2014, p. 20) ―[...]é uma característica dos exércitos contemporâneos, uma vez que a evolução tecnológica e doutrinária exige que seus integrantes se mantenham sempre atualizados.‖, contudo a própria história de treinamentos mostra que ocorre desde o surgimento dos exércitos, conforme suas épocas históricas, mas é de se concordar que devido a evolução tecnológica se faz necessário ―[...]o próprio aprimoramento pessoal e pela manutenção do condicionamento físico.‖

No que concerne aos deveres, podem ser morais, que os indivíduos impõe a si mesmos, sem interferências de causas externas, ou jurídicos, que são um conjunto de princìpios que ―emanam de um conjunto de vìnculos morais e jurìdicos que ligam o militar à Pátria e a Instituição‖ (BRASIL, 2002, p. 17). São eles: a Dedicação e Fidelidade à Pátria; o Respeito aos Símbolos Nacionais; Probidade e Lealdade; Disciplina e Respeito à Hierarquia; o Rigoroso Cumprimento dos Deveres e Ordens; e o Trato do Subordinado com Dignidade.

A ‗Dedicação e Fidelidade à Pátria‘ aqui ocorre uma subordinação de interesses pessoais em prol de um bem maior, o interesse pela defesa da Pátria, o interesse maior do País, ao ‗Estado-Nação‘ e não aos ―Governos ou às ideologias‖.

A ‗Probidade e Lealdade‘, caracterìstica de honestidade e comprometimento, sendo que o amor a verdade, e a sinceridade devem, conforme Boëchat, (214, p. 21) ―[..]ser direcionada para não tentar enganar seus superiores, pares ou subordinados.‖, e considera-se na vida militar a lealdade e a coragem, as mais importantes para se obter o sucesso, ―[..]pois a primeira faz nascer um corpo coeso, onde impera a confiança mútua, e a segunda impele tal corpo coeso em direção aos objetivos militares.‖.

Sobre a coragem Boëchat (2014, p. 26) é incisivo, ―[...]acreditamos que seja um sinal dos tempos que esta virtude – a Coragem, tão importante na caracterização dos guerreiros, esteja sendo pouco valorizada.‖ E complementa ―É preciso que os

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