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O EFEITO DO ESPECTRO DE RUÍDO OCUPACIONAL NA AUDIÇÃO DE TRABALHADORES EM DIVERSAS ATIVIDADES NO DISTRITO FEDERAL

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O EFEITO DO ESPECTRO DE RUÍDO OCUPACIONAL NA AUDIÇÃO DE TRABALHADORES EM DIVERSAS ATIVIDADES NO DISTRITO FEDERAL

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

O EFEITO DO ESPECTRO DE RUÍDO OCUPACIONAL NA AUDIÇÃO DE TRABALHADORES EM DIVERSAS ATIVIDADES NO DISTRITO FEDERAL

Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade de Brasília.

Orientadora:

Prof.a Dr.a Anadergh Barbosa de Abreu

Branco

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O EFEITO DO ESPECTRO DE RUÍDO OCUPACIONAL NA AUDIÇÃO DE TRABALHADORES EM DIVERSAS ATIVIDADES NO DISTRITO FEDERAL

Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade de Brasília.

Aprovado em .../.../...

BANCA EXAMINADORA

Prof.a Dr.a Anadergh Barbosa de Abreu Branco Universidade de Brasília - UnB

Prof. Dr.Sérgio Luiz Garavelli Universidade Católica de Brasília - UCB

Prof. Dr.Fayez Bahmad Jr. Universidade de Brasília - UnB

Prof.a Dr.a Fg.a Isabella Monteiro de Castro Universidade Planalto do Distrito Federal - UNIPLAN

Prof.a Dr.a Maria da Graça Luderitz Hoefel Universidade de Brasília - UnB

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Muitas foram as pessoas que, conscientes ou não da sua importância neste processo de construção do conhecimento, ajudaram-no a tornar-se viável e, por isso e muito mais, merecem meus mais sinceros agradecimentos.

Cláudio Augusto Canha, meu marido, pelo carinho e compreensão.

Tia Lourdes, por proporcionar-me a continuidade deste trabalho, acreditando no meu potencial e compromisso.

Aos meus pais, Rubens e Solange, por me ensinarem que só é sábio aquele que consegue transmitir seus conhecimentos.

À Prof.a Dr.a Anadergh Barbosa-Branco, minha orientadora, pelo apoio, e compreensão nos momentos difíceis da minha vida.

Fg.a Ms. Marlene Escher Boger, colega de trabalho e amiga, por sua participação na coleta dos dados e elaboração do banco de dados.

Fg.a Dr.a Priscila Lobo, pela disponibilidade e apoio constantes, durante todos os passos desta tese.

Fg.a Monyca Ramos da Silva Bitar, colega e grande amiga, pelo carinho, paciência e apoio intermináveis.

Fg.a Ms. Giovanna Sabóia, amiga de tantas horas e colega da UNIPLAN.

Dr. Sebastião José da Rocha Neto, médico do trabalho e otorrinolaringologista, pela valiosa troca de conhecimentos durante este processo.

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Ms.Silvana Cristina Hohmann Prestes da Silva, servidora da Universidade Federal do Paraná-UFPr, pela acolhida na UFPr.

Prof.a Dr.a Helena Eri Shimizu, por assumir junto a FAP-SUS a responsabilidade administrativa do projeto na sua fase inicial.

Dr. Carlos Uribe e Eduardo Bolicenha Simm, pela colaboração na análise dos dados estatísticos deste estudo.

Georges Antoun Bitar Jr., pela acolhida em sua casa e apoio na elaboração de alguns gráficos.

Denise Cury, revisora e formatadora deste trabalho.

Ivany Aparecida Belo e Lucimara do Nascimento, pela disponibilidade e apoio constante no cuidado com meus filhos enquanto eu estudava.

À funcionária da Secretaria de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Edigrês Alves de Sousa, pela paciência e atenção constantes.

Aos empresários e trabalhadores que aceitaram participar da pesquisa, possibilitando sua concretização.

À banca examinadora.

Ao CNPq, pela bolsa concedida e FAP-SUS pelo financiamento deste estudo.

A Deus que foi meu refúgio e minha fortaleza durante todo este processo.

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Introdução: A utilização dos analisadores de frequências indica a pressão sonora para cada frequência presente no ruído. Esse procedimento associado à avaliação dos limiares audiométricos em altas frequências pode auxiliar na prevenção dos danos auditivos. Objetivo: Verificar a associação entre o espectro de ruído e a configuração audiométrica em trabalhadores e analisar a utilidade clínica do uso de audiometria de alta frequência. Método: Estudo clínico-epidemiológico, do tipo analítico-transversal, realizado no Distrito Federal, no período de 2008-2009. Realizaram-se avaliação ambiental do ruído em empresas de diferentes ramos de atividade econômica e avaliação audiológica (convencional e de alta frequência) em 347 trabalhadores, precedidas de anamnese ocupacional. Resultados: A análise espectral revelou picos nas frequências de 8kHz no ramo metalúrgico, 4kHz em marmoraria e 2kHz em madeireira. A presença de entalhe sugestivo de perda auditiva induzida por ruído (PAIR) entre os trabalhadores foi de 55,3% na avaliação audiométrica convencional e de 78,0%, na de altas frequências, A média dos limiares auditivos aumentou com o aumento da frequência. Na análise pos hoc, verificou-se que as frequências de

14kHz (p=0,011) e 16kHz (p=0,015) apresentaram diferenças significativas entre os ramos de atividade, sendo a metalúrgica a de maior prevalência. Conclusão: A relação entre o nível equivalente de pressão sonora (Leq), em 8kHz e 16kHz, e o tipo de configuração audiométrica identificado pode ser evidenciada principalmente no ramo metalúrgico, que apresentou espectro numa frequência alta (8kHz), sugerindo que as características físicas do ruído podem ser o principal fator de risco na presença de entalhes auditivos. A realização da audiometria de alta frequência foi determinante para a identificação desses comprometimentos. Por isso, a avaliação auditiva sistemática do trabalhador nas frequências de 9-20kHz e a avaliação ambiental identificando o espectro de ruído podem contribuir na identificação precoce de danos auditivos.

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Introduction: The use of frequency analyzers indicates the sound pressure for each noise frequency. This procedure associated to the evaluation of audible thresholds in high frequencies may support preventing hearing damage. Objective: To verify the association between noise spectrum and the audiometric configuration in workers and to analyze the clinical utility of high-frequency audiometry. Method: Clinico-epidemiological study, from the cross-sectional analytical type, performed in the Federal District (Brazil), in 2008 and 2009. Environmental evaluation of noise was made in companies from different economical activity branches and audiological evaluations (conventional and high-frequency) were made in 347 workers, preceded by occupational anamnesis. Results: The spectrum analysis revealed peak at 8Hz in the metallurgic industry, peak at 4Hz in marble industry and at 2Hz in the wood industry. The notch suggestive of noise-induced hearing loss (NIHL) among workers was 55.3% in the conventional audiometric evaluation, and 78.0% in the high-frequency audiometric evaluation. The average of audible thresholds raised at the highest evaluated frequencies. In the

pos hoc analysis, it was verified that the 14 kHz (p=0.011) and 16 kHz (p=0.015)

frequencies presented significant differences among the activity branches, being the metallurgic industry with highest prevalence. Conclusion: The relation between the equivalent sound pressure level (Leq), at 8kHz and 16kHz, and the identified type of audiometric configuration can be evidenced mainly in the metallurgic branch, that presented spectrum at a high frequency (8kHz), suggesting that the physical characteristics of noise may be the main risk factor with the presence of hearing notch. The performance of high-frequency audiometry was decisive to identify these exposures. Therefore, the systematic auditory evaluation in workers at 9-20kHz frequencies and environmental evaluation identifying noise spectrum can contribute to identify precocious hearing damage.

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Figura 1 - Representação gráfica da forma de onda do tom puro... 21

Figura 2 - Representação gráfica da forma de onda do ruído... 21

Figura 3 - Representação gráfica do espectro sonoro de alguns sons reais ... 22

Figura 4 - Ponderação A, B, e C em decibéis por frequência... 23

Figura 5 - Evolução da PAIR de acordo com o tempo na função ... 28

Figura 6 - Média ± erro padrão dos resultados da audiometria convencional na amostra ... 63

Figura 7 - Média ± erro padrão dos resultados da audiometria de alta frequência na amostra... 64

Figura 8 - Média ± erro padrão dos resultados da audiometria nas frequências 14 e 16kHz dBNA para cada ramo de atividade ... 65

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Tabela 1 - Frequências centrais e de corte padronizadas dos filtros de oitava.... 22 Tabela 2 - Saída mínima e máxima do audiômetro interacoustic AD-40,

calibrado em dBNA (Padrões ANSI 1969), nas frequências de

9kHz a 16kHz... 46 Tabela 3 - Características demográficas dos Trabalhadores e uso de

tabaco (n=347) - Distrito Federal - 2008-2009 ... 49 Tabela 4 - Distribuição da amostra, segundo as características laborais

(n=347) - Distrito Federal - 2008-2009 ... 49 Tabela 5 - Distribuição do nível equivalente de pressão sonora (Leq)em

bandas de oitava... 50 Tabela 6 - Nível equivalente de pressão sonora (Leq), nível de exposição

diária (Lexp), dose e tempo de exposição máxima tolerada segundo os ramos de atividade econômica Distrito Federal

-2008-2009 ... 50 Tabela 7 - Distribuição das queixas auditivas registradas na anamnese

-Distrito Federal - 2008-2009... 51 Tabela 8 - Análises de força de associação entre as queixas auditivas e o

ramo de atividade econômica - Distrito Federal - 2008-2009... 52 Tabela 9 - Distribuição da queixa dificuldade para ouvir segundo o ramo

de atividade econômica e o resultado do teste chiquadrado

-Distrito Federal - 2008-2009... 52 Tabela 10 - Distribuição da queixa otalgia segundo o ramo de atividade

econômica e o resultado do teste chi-quadrado - Distrito

Federal - 2008-2009... 53 Tabela 11 - Distribuição da queixa vertigem segundo o ramo de atividade

econômica e o resultado do teste chi-quadrado - Distrito

Federal - 2008-2009... 53 Tabela 12 - Distribuição da queixa zumbido segundo o ramo de atividade

econômica e o resultado do teste chi-quadrado - Distrito

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Tabela 14 - Identificação da presença de zumbido, segundo faixa etária dos

trabalhadores - Distrito Federal - 2008-2009... 54 Tabela 15 - Identificação da presença de zumbido entre os trabalhadores

segundo o tempo na função - Distrito Federal - 2008-2009 ... 55 Tabela 16 - Uso referido do equipamento de proteção individual auricular

pelos trabalhadores, segundo o ramo de atividade econômica

-Distrito Federal - 2008-2009... 55 Tabela 17 - Uso referido do equipamento de proteção individual EPI

auricular pelos trabalhadores, segundo a faixa etária - Distrito

Federal - 2008-2009... 55 Tabela 18 - Distribuição das variáveis relacionadas aos resultados

audiométricos (N=694) dos quatro ramos de atividade

econômica - Distrito Federal - 2008-2009 ... 57 Tabela 19 - Associação (teste chi-quadrado) entre as variáveis ramo de

atividade econômica e presença de entalhe auditivo, segundo a

frequência - Distrito Federal - 2008-2009... 57 Tabela 20 - Prevalência de entalhe na frequência de 8kHz segundo o ramo

de atividade econômica - Distrito Federal - 2008-2009 ... 58 Tabela 21 - Prevalência de entalhe na frequência de 12kHz segundo o ramo

de atividade econômica - Distrito Federal - 2008-2009 ... 58 Tabela 22 - Prevalência de entalhe na frequência de 14kHz segundo o ramo

de atividade econômica - Distrito Federal - 2008-2009 ... 58 Tabela 23 - Prevalência de entalhe na frequência de 16kHz segundo o ramo de

atividade econômica - Distrito Federal - 2008 ... 58 Tabela 24 - Análises de associação entre ramo de atividade e entalhe

auditivo sugestivo de PAIR segundo a faixa etária dos

trabalhadores - Distrito Federal - 2008-2009... 59 Tabela 25 - Prevalência de entalhe audiométrico na frequência de 9kHz

segundo o ramo de atividade e a faixa etária Distrito Federal

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função - Distrito Federal - 2008-2009... 60 Tabela 27 - Prevalência de entalhe na frequência de 8kHz segundo o ramo

de atividade e o tempo na função - Distrito Federal - 2008-2009.... 61 Tabela 28 - Prevalência de entalhe na frequência de 12kHz segundo e o

ramo de atividade e o tempo na função Distrito Federal

-2008-2009 ... 61 Tabela 29 - Prevalência de entalhe na frequência de 14kHz segundo o

ramo de atividade e o tempo na função Distrito Federal

-2008-2009 ... 61 Tabela 30 - Prevalência de entalhe na frequência de 16kHz segundo o

ramo de atividade e o tempo na função Distrito Federal

-2008-2009 ... 62 Tabela 31 - Comparação entre os limiares audiométricos e os resultados da

análise espectral, segundo as bandas de oitavas de frequências

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ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ANSI - American National Standards Institute

B - Bel

CA - Certificado de aprovação

CC* - coeficiente de contingência corrigido

CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

D - dose diária de ruído dB - Decibel

DF - Distrito Federal DP - desvio padrão

EOAE - Emissões Otoacústicas Evocadas EPI - Equipamento de Proteção Individual FAP - Fundação de Amparo à Pesquisa fc - Frequência central

fi - Frequência de corte inferior fs - Frequência de corte superior gt - Graus de liberdade

Hz - Hertz

ISO - International Organization for Standardization kHz - kilohertz

Lcrit - Nível critério

Leq - Nível equivalente de pressão sonora Lexp - Nível de exposição diária

Lp(t) - Nível sonoro no instante t min - Minuto

NA - Nível de audição NB - Norma Brasileira

NHO - Norma de Higiene Ocupacional

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OMS - Organização Mundial da Saúde

OSHA - Occupational Safety and Helath Administration

Pa - Pascal

PAINPSE - Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados PAIR - Perda Auditiva Induzida por Ruído

PAIRO - Perda Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional PCA - Programa de conservação auditiva

PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

s - Segundo

SESMT - Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho SUS - Sistema único de saúde

T - Intervalo de tempo de registro T0 - Tempo para a jornada de trabalho Texp - Tempo médio de exposição diária Tt - Tempo máximo de exposição tolerado UnB - Universidade de Brasília

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1 INTRODUÇÃO... 16

1.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOM ... 19

1.2 ANÁLISE ESPECTRAL ... 20

1.3 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO RUÍDO... 23

1.4 AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA DO TRABALHADOR... 25

1.5 PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO – PAIR... 27

1.5.1 Características da PAIR... 28

1.5.2 Associação entre Zumbido e PAIR... 30

1.5.2.1 Fatores Associados à PAIR ... 32

1.6 MEDIDAS PREVENTIVAS ... 32

1.6.1 Equipamento de Proteção Individual (EPI)... 33

1.7 LEGISLAÇÃO RELACIONADA À EXPOSIÇÃO AO RUÍDO ... 35

1.8 EPIDEMIOLOGIA DA PAIR ... 36

2 OBJETIVOS... 39

2.1 OBJETIVO GERAL ... 39

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 39

3 MÉTODO... 40

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ... 40

3.1.1 Caracterização dos Trabalhadores... 41

3.2 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS... 41

3.2.1 Avaliação Ambiental... 42

3.2.1.1 Aferição dos Níveis de Pressão Sonora (NPS)... 42

3.3 COLETA DE DADOS DOS TRABALHADORES... 43

3.3.1 Entrevistas Individuais... 44

3.3.2 Avaliação Audiológica... 44

3.3.3 Local dos Exames... 44

3.3.4 Os Equipamentos... 45

3.3.5 Protocolo de Testes... 45

3.3.5.1 Classificação do Exame... 46

3.4 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS ... 47

(16)

4.3 AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA... 56

4.3.1 Audiometrias... 62

4.3.1.1 Audiometria Convencional (0,25 – 8kHz)... 62

4.3.1.2 Audiometria de Alta Frequência (9 – 16kHz) ... 63

5 DISCUSSÃO... 68

6 CONCLUSÃO... 75

6.1 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES... 75

REFERÊNCIAS... 78

ANEXO A - MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMISSÍVEL POR NÍVEL DE PRESSÃO SONORA, ANEXO I DA NR 15, PORTARIA 3.214/78/MT... 93

ANEXO B - PROCESSO DE ANÁLISE DE PROJETO DE PESQUISA... 94

ANEXO C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – DOCENTE... 96

ANEXO D - CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS PARTICIPANTES... 97

ANEXO E MODELO DE CARTA ENVIADA AS EMPRESAS -AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA... 101

ANEXO F MODELO DE CARTA ENVIADA AS EMPRESAS -AVALIAÇÃO AMBIENTAL... 102

ANEXO G - ANAMNESE... 103

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1 INTRODUÇÃO

O ruído é um dos agentes de risco mais encontrados nas diversas atividades profissionais, seja em serviços privados ou públicos, de pequeno ou de grande porte, tanto no setor industrial quanto em locais de lazer e esportes. Além da máquina que o trabalhador manuseia, o ambiente oferece uma gama de ruídos, mais ou menos intensos, mais ou menos constantes, que constroem um ruído ambiente característico.

O avanço da industrialização tem contribuído para que os trabalhadores se exponham, cada vez mais e por mais tempo, a ruídos produzidos por máquinas e equipamentos. Além desses, a que o trabalhador fica exposto no seu ambiente de trabalho, somam-se os tradicionais ruídos oriundos da exposição cotidiana, muitas vezes de difícil controle. Dependendo do tempo de exposição do trabalhador a ruídos que apresentem intensidades acima de 85dB(A), a sua audição pode correr riscos.

As alterações auditivas ocasionadas pelo ruído produzido no ambiente de trabalho agregam um fator negativo na qualidade de vida do trabalhador, comprometendo suas relações sociais devido às dificuldades de comunicação que são geradas, principalmente em condições acústicas não ideais (festas, reuniões) ou em situações específicas como cinema, televisão, rádio, teatro (1, 2). Como consequência dessa realidade, verifica-se, cada vez mais, um crescente interesse, por parte dos profissionais da área, no desenvolvimento e na implementação de programas para controlar esse agente agressivo e preservar a audição dos trabalhadores.

Nos Estados Unidos e na Europa, na década de 1940, houve um grande incentivo aos trabalhos científicos referentes à perda auditiva ocupacional, devido ao alto custo social e econômico das indústrias, decorrente dos constantes processos judiciais e indenizatórios (3). No Brasil, até os anos 80, as publicações sobre a audição e o ruído eram bem limitadas. Os primeiros estudos referiam-se, predominantemente, ao trabalhador da aviação civil e militar (4).

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Os danos auditivos decorrentes da exposição ao ruído começam, em geral, de forma discreta e temporária; porém, com o aumento da intensidade e (ou) tempo de exposição, tornam-se permanentes e irreversíveis (12-14). Esses danos, quando ocasionados pela exposição no ambiente de trabalho, caracterizam uma doença do trabalho conhecida por PAIR (Perda Auditiva Induzida Por Ruído), PAIRO (Perda Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional) ou PAINPSE (Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados (15). Neste estudo, é utilizado o termo PAIR por ser o mais difundido e conhecido por órgãos representativos, como a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, o Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva e nas normas brasileiras.

O trabalhador com PAIR apresenta rebaixamento dos limiares auditivos, principalmente nas frequências agudas, e, consequentemente, comprometimento da sua habilidade de perceber e diferenciar sons. Além disso, pode ser verificada também a presença de zumbido, cefaleia, insônia, otalgia, distúrbios gástricos e desatenção (6-9, 16).

Para o estabelecimento da avaliação da nocividade do ruído, o profissional deve estabelecer os limiares auditivos e fatores de risco do seu ambiente de trabalho, e investigar as características pessoais dos trabalhadores, como, por exemplo, a sua suscetibilidade individual ao ruído, a sua faixa etária e os fatores genéticos (5, 17-20).

As doenças do trabalho relacionadas com a audição caracterizam-se como um problema de saúde pública. Embora irreversíveis, são passíveis de prevenção primária (21) e, cessada a exposição ao fator de risco, a perda auditiva deixa de progredir (22, 23).

O monitoramento ambiental de ruído auxilia no levantamento de dados para a classificação acústica de unidades operacionais, permitindo a identificação dos locais e equipamentos mais ruidosos, reunindo informações para a seleção e otimização dos protetores auditivos individuais (21, 24-25).

O grau de nocividade do ruído está relacionado a aspectos ambientais que podem ser quantificados e qualificados com base em algumas características do som como sua intensidade, o tipo de espectro, a duração e a distribuição da exposição ao ruído durante a jornada de trabalho (3, 22).

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(espectro sonoro). A definição do espectro sonoro do espaço em avaliação permite a seleção e o dimensionamento dos materiais isolantes e absorventes do ruído (26), ajudando na orientação de medidas de controle.

As características físicas do ambiente de trabalho também podem ser mensuradas, levando-se em consideração se o local é fechado ou aberto, quais os tipos de materiais que compõem este local e qual a distância do trabalhador em relação à fonte sonora.

Na prática, verifica-se que, em algumas empresas, as medidas de prevenção de perdas auditivas têm apenas o objetivo de cumprir a lei. Em um estudo epidemiológico transversal, realizado em 30 indústrias de diferentes atividades econômicas da cidade de Curitiba, verificou-se que as medições de ruído são realizadas, no mínimo, anualmente e que, muitas vezes, a execução deste trabalho é designada a uma empresa terceirizada. Utilizam-se, basicamente, o medidor de nível de pressão sonora e, com menor frequência, o dosímetro (27).

As normas brasileiras de segurança e medicina do trabalho estabelecem critérios que permitem promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador em local de trabalho. Sendo assim, não há, de forma explícita, definição de que forma deve ser feita a medição do ruído. Para isso, estão estabelecidos parâmetros mínimos e diretrizes gerais a serem observados na execução do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA (28-30).

A avaliação audiológica é um dos exames para o controle da audição do trabalhador, sendo a mais utilizada no Programa de Conservação Auditiva – PCA (31). A audiometria é o registro gráfico do limiar de audibilidade a diferentes frequências do som (de 0,125 a 8kHz). Porém, com a evolução da audiologia ocupacional, pesquisas mais recentes têm sugerido a utilização da audiometria de alta frequência (acima de 8kHz) como um recurso clínico que agrega sensibilidade à avaliação e permite a detecção precoce de problemas cocleares (32-34).

(20)

Apesar de, na última década, terem sido produzidas muitas pesquisas avaliando os efeitos do ruído na saúde do trabalhador (9, 21, 36-38), estudos utilizando a combinação do monitoramento ambiental com o biológico ainda são escassos. A análise do espectro de frequência no ambiente de trabalho deveria ser mais explorada no setor industrial (39).

Considerando essa lacuna, o objetivo do presente estudo foi o de investigar se seria possível estabelecer a relação, que se acredita existir, entre o tipo de espectro de ruído apresentado em diferentes ramos de atividade econômica e a configuração audiométrica dos trabalhadores. Além disso, este trabalho também comparou as informações obtidas com a aplicação da audiometria de alta frequência aos resultados obtidos com a audiometria convencional dos trabalhadores que participaram deste estudo.

O conhecimento mais aprofundado destes indicadores certamente poderá, no futuro, contribuir para uma melhoria tanto nos processos de avaliação do ruído e seus efeitos na saúde do trabalhador no direcionamento das medidas preventivas a serem adotadas.

1.1 PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOM

O som pode ser definido como sendo um fenômeno físico gerado por uma energia vibratória que é transmitida por ondas de pressão no ar ou outro meio que o propague.

Denomina-se vibração sonora a vibração cuja frequência está compreendida entre 16kHz e 20kHz, de forma que possa sensibilizar a orelha humana íntegra (40). A percepção desta energia vibratória é considerada um fenômeno psicoacústico.

O som é transmitido de forma periódica e sua velocidade depende das características do meio em que se propaga (41). Pode ser descrito com base em dois fatores: a sua frequência e a sua intensidade.

(21)

A intensidade do som é a energia que atravessa uma área em intervalo de tempo. Também pode ser expressa em função da amplitude, que é a medida do afastamento máximo das partículas materiais de sua posição de equilíbrio. A unidade de medida relativa da intensidade do som é o decibel (dB), que é a décima parte do bel (B) (41). O nível de pressão sonora (NPS) é a medida física que considera como padrão de referência a menor intensidade de energia audível: 20Pa (0dB) (42).

A definição de ruído é subjetiva, não encontrando equivalência na Física (26). O ruído (do latim rugidu, que significa estrondo) é a ausência da periodicidade das

ondas sonoras, além de não apresentar relações harmoniosas entre as frequências e seus componentes (43, 44).

A natureza do ruído refere-se à distribuição da energia sonora durante o tempo. Dessa forma, a Norma Regulamentadora NR 15, Anexo 1, do Ministério do Trabalho e Emprego classifica o ruído como contínuo ou intermitente e de impacto (30).

Segundo a NR 15 da Portaria n.o 3.214 (30) e a norma da FUNDACENTRO (26, 45), o ruído contínuo ou intermitente é aquele em que o nível de pressão sonora varia 3dB durante um período longo (mais de 15 min) de observação. Entende-se como ruído de impacto ou impulsivo aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a 1 s, com intervalos superiores a 1 s, entre si.

1.2 ANÁLISE ESPECTRAL

O ruído caracteriza-se por uma onda aperiódica cujo espectro é contínuo, incluindo todas as frequências (46). É a combinação de duas ou mais ondas que não são harmônicas. As ondas podem ser representadas graficamente, mostrando sua amplitude em função do tempo, o que não se aplica aos sons complexos (Figuras 1 e 2).

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Figura 1 - Representação gráfica da forma de onda do tom puro (47)

Figura 2 - Representação gráfica da forma de onda do ruído (47)

A representação das ondas pelo seu espectro mostra a amplitude em função da frequência (46), e um dos instrumentos de medição acústica utilizado pode ser a banda de frequência. Com a medida do espectro sonoro é possível saber o valor eficaz da pressão sonora para cada frequência presente no ruído (47).

Dessa forma, verifica-se que a análise espectral do ruído é a informação de como a energia sonora distribui-se em frequências. Para isto, são usados filtros do tipo passa-banda. Os filtros passa-banda geralmente utilizados são os de oitava, que

(23)

Tabela 1 - Frequências centrais e de corte padronizadas dos filtros de oitava (47) Limite inferior

(Hz) Frequência central(Hz) Limite superior(Hz)

11 16 22

22 32,5 44

44 63 88

88 125 177

177 250 355

355 500 710

710 1.000 1.420

1.420 2.000 2.840

2.840 4.000 5.680

5.680 8.000 11.360

11.460 16.000 22.720

Os sons encontrados na natureza são sons complexos, pois são compostos por inúmeros tons puros de variadas intensidade e frequências. O conjunto dessas frequências que compõem esses sons corresponde ao espectro de frequências (40). Na Figura 3, é possível verificar o espectro sonoro de alguns sons reais. Percebe-se, em cada exemplo, que a representação espectral atingiu um tipo de configuração, o que significa que há diferença de espectro em cada tipo de som, e no ambiente industrial isto também é passível de verificação.

Figura 3 - Representação gráfica do espectro sonoro de alguns sons reais (47)

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1.3 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO RUÍDO

A intensidade do ruído pode ser medida por sua amplitude, energia ou pressão (40). A medida do nível de pressão sonora é feita, internacionalmente, em escalas padronizadas (circuitos de compensação). Alguns valores de ponderação são utilizados para avaliar o ganho sonoro por frequência, com notação em decibéis (dB(A), dB(B) e dB(C)). Normas internacionais e do Ministério do Trabalho e Emprego adotam a compensação A na avaliação de ruído contínuo ou intermitente, devido à maior aproximação com a resposta da orelha humana (48). Daí porque o ruído ambiental é indicado em dB(A) (Figura 4).

Figura 4 - Ponderação A, B, e C em decibéis por frequência (49)

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Os medidores de nível de pressão sonora são instrumentos utilizados para medir o nível de pressão sonora (NPS) instantâneo (26). Têm como objetivo identificar e localizar fontes de ruído dominantes (47).

A dosimetria é capaz de determinar a média dos níveis de pressão sonora ponderada no tempo ou dose equivalente (50), fornecendo uma leitura final da dose acumulada e Leq a que o trabalhador está exposto durante a jornada de trabalho. O dosímetro é um aparelho portátil, leve, com microfone, que pode ser colocado perto da orelha, no bolso da camisa, na cintura ou no capacete (51).

A avaliação da dosimetria consiste no mapeamento dos setores de produção da empresa com ruído superior a 85dB(A), por meio de medições instantâneas ou de curta duração, em pontos específicos. Registra-se o nível equivalente (Leq) e compara-se este com os parâmetros estabelecidos na norma em vigor, indicando o quanto a dose de ruído passou de 100% (45, 50).

Essa avaliação permite a dosagem de ruído ou efeito combinado e o nível equivalente de pressão sonora (Leq), auxiliando o perito na determinação exata da exposição do trabalhador, de forma contínua ou intermitente, quando os níveis de pressão sonora forem variáveis durante a jornada de trabalho (26).

Para registros de nível de pressão sonora deve-se procurar por um nível médio durante o período de registro. Uma das formas de se calcular é por meio da expressão cujo resultado é denominado nível equivalente (Leq) (47), sendo representado pela equação 1:

(dB)

dt

10

T

1

log

10

Leq

T 0 Lp(t)/10

Sendo:

Lp(t) - o nível sonoro no instante t,

T - o intervalo de tempo de registro e quando Lp(t) é o nível sonoro A-ponderado então a unidade de Leq será dB(A).

(26)

de frequência podem ser encontrados em banda de oitava, terço de oitava, meia de oitava, sendo a primeira a forma mais utilizada em higiene industrial (26).

O analisador de frequência auxiliará na orientação de medidas de controle como selecionar e dimensionar os materiais isolantes e absorventes do ruído, além de calcular a atuação dos protetores auriculares. Este equipamento fornece o espectro sonoro em dB linear e dB(A) (26).

1.4 AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA DO TRABALHADOR

A vibração sonora que chega à orelha externa é transmitida mecanicamente às estruturas internas e transformada em estimulação nervosa para que possa ser percebida. O componente responsável pela análise do som é a cóclea, na qual se encontra o órgão sensorial da audição, o órgão de Corti (52).

Quando as vibrações sonoras atingem o órgão de Corti, a membrana basilar vibra de maneira não uniforme, e para cada ponto desta membrana serão produzidos movimentos de amplitude máxima de acordo com a frequência do estímulo. Nesta distribuição tonotópica da membrana basilar, os sons agudos localizam-se na base e os graves no ápice (41). A ampliação do movimento da membrana basilar faz com que as células ciliadas internas se movimentem na direção da membrana tectória, gerando impulsos nervosos, permitindo que a informação possa ser transmitida ao córtex auditivo (53).

(27)

Para avaliar a audição do trabalhador, existem diferentes tipos de exames, desde os fisiológicos, como emissões otoacústicas, a testes comportamentais ou psicoacústicos, como a audiometria tonal (41). A audiometria tonal é o teste convencionalmente mais utilizado no setor industrial. Este teste analisa os resultados obtidos nas frequências de 0,25kHz a 8kHz, permitindo verificar a detecção da perda auditiva e a caracterização do tipo e grau nestas frequências.

O teste de audiometria em alta frequência também é um exame comportamental que foi desenvolvido há poucas décadas, e sua utilização ainda é pouco frequente, pois requer audiômetros específicos que permitem a investigação das frequências de 9kHz a 20kHz, além das que são habitualmente testadas na audiometria convencional. Este teste tem-se mostrado um instrumento útil na tentativa de aperfeiçoar as avaliações dos danos decorrentes da exposição ao ruído (55-60).

Pesquisas mais recentes apontam uma sensibilidade maior nos exames de alta frequência (de 9kHz a 20kHz), a detecção precoce de problemas cocleares (33). Um estudo com 187 trabalhadores expostos a ruído ocupacional e 52 não expostos, analisando as frequências de 10 a 18kHz, revelou que a realização do exame de alta frequência pode oferecer maior fidedignidade nos estágios iniciais da PAIR, antes mesmo de atingir alguma frequência da audiometria convencional (61).

Sendo assim, a audiometria convencional apresenta limitações na avaliação e diagnóstico das alterações auditivas, pois avalia apenas as frequências de 0,25kHz a 8kHz (32, 35). Ao analisar um grupo de adultos jovens (25-35 anos) sem riscos de apresentar presbiacusia e outro com adultos de meia-idade (45-55 anos), todos com audição normal pela audiometria convencional, verificou-se que o grupo mais velho apresentou limiares audiométricos, significativamente aumentados (p<0,001) na alta frequência em comparação com o grupo mais jovem (62).

(28)

audiometria em altas frequências pode ser um instrumento de detecção precoce de perda auditiva mais eficiente que a audiometria convencional (32, 33, 35, 61, 62).

Apesar dos benefícios que a testagem audiológica com audiometria de alta frequência pode oferecer, ainda há alguns aspectos que geram problemas para a realização deste teste. Dentre eles, destacam-se a variabilidade que existe entre os indivíduos, devido às diferenças estruturais do meato acústico externo, a pré-calibração dos fones por uma razão mecanoacústica e a idade, que influenciam nas respostas para as altas frequências (63).

1.5 PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO – PAIR

Equipamentos e máquinas produzem ruídos quando estão em funcionamento, razão pela qual sua presença em alta intensidade é um fato corriqueiro em ambientes de trabalho de alguns segmentos da indústria (46).

Estudos demonstraram que a saúde do trabalhador pode ser afetada quando ele for constantemente exposto ao ruído em nível elevado em seu ambiente de trabalho. O prejuízo à sua saúde envolve tanto efeitos fisiológicos como psicológicos (37, 38, 64-67).

No Brasil, a NR 15, Anexo I, do Ministério do Trabalho e Emprego (30) fixa o tempo diário máximo permitido para cada nível de pressão sonora. Para os fins desta Norma, entende-se por “limite de tolerância” a concentração ou intensidade máxima ou mínima relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral. Sendo assim, o limite de tolerância pode representar as condições sob as quais a maioria dos trabalhadores expostos não sofreria efeitos adversos à sua capacidade de ouvir e de entender uma conversação normal.

(29)

hipertensão, estresse, alterações patológicas no ritmo cardíaco, zumbido, alterações mecânicas, químicas e metabólicas do órgão sensorial auditivo (68-70).

As alterações auditivas são apontadas como uma das mais frequentes doenças relacionadas ao trabalho (22), podendo afetar o rendimento do trabalho, provocar acidentes e diminuir a qualidade do desempenho nas tarefas complexas (69).

De acordo com o National Institute for Occupational Safety and Health – NIOSH (71), a combinação do ruído com agentes físicos ou químicos (vibração, solventes, monóxidos de carbono, drogas ototóxicas e chumbo) pode acelerar o processo de perda auditiva.

1.5.1 Características da PAIR

As perdas auditivas ocasionadas por exposição ao ruído são irreversíveis, de instalação lenta e progressiva. Geralmente atingem o seu nível máximo para as frequências de 3, 4 e 6kHz nos primeiros 6 a 10 anos de exposição, sob condições estáveis de ruído (15, 72). Na Figura 5, é possível verificar a evolução da PAIR com o passar dos anos na função, num ambiente com intensidade acima de 85dB(A).

Figura 5 - Evolução da PAIR de acordo com o tempo na função (50)

(30)

ciliadas internas e, posteriormente, os neurônios cocleares. Quando estas células são danificadas, passam a ter a sua função comprometida (36, 73).

A variabilidade nesse tipo de perdas auditivas não depende exclusivamente das características físicas do som, mas sim de uma série de fatores endógenos, exógenos (22, 74-76) e fatores predisponentes que podem estar relacionados ao nível sonoro total (medido em dB), à distribuição espectral (distribuição da energia sonora por frequência), à duração e distribuição do ruído (exposição sonora durante um dia típico de trabalho) e à exposição cumulativa ao ruído em dias, semanas ou anos (77).

Nem sempre trabalhadores expostos a níveis equivalentes de pressão sonora pelo mesmo período de tempo vão apresentar o mesmo tipo de manifestações auditivas. A suscetibilidade individual está relacionada com o sexo, a idade, as doenças da orelha e os fatores genéticos (18, 20, 78). Pouco se sabe sobre os fatores genéticos, mas há estudos tentando identificar o gene que proporciona suscetibilidade na aquisição da PAIR. Os resultados obtidos na China, em um estudo epidemiológico transversal realizado em 93 trabalhadores com PAIR e 101 com audição normal, apontaram associação genética com o desenvolvimento da PAIR (80). Estudos semelhantes foram realizados por outros pesquisadores, que confirmaram tal associação (18, 19, 20, 79, 81, 82). Por exemplo, o estudo realizado na Inglaterra, a interação entre genética e fatores ambientais no surgimento da PAIR indica a associação entre um tipo de gene e PAIR num grupo de trabalhadores suecos e poloneses (18).

O perfil audiométrico da PAIR apresenta um entalhe inicial na frequência de 4kHz ou 6kHz; porém, com a continuidade da exposição ao ruído intenso, a lesão amplia-se para as outras frequências (22). Uma das hipóteses de o entalhe iniciar-se na frequência de 4kHz seria a intensificação do deslocamento do som na primeira curva coclear, que normalmente se localiza em torno desta frequência, causando uma colisão do fluido em razão do aumento da amplitude de deslocamento no ducto coclear. Outro fato seria a velocidade de propagação da onda sonora ser maior do que nas demais frequências, deixando-a mais vulnerável a lesões (3, 83).

(31)

demonstrou que, dos trabalhadores com PAIR, 61,3% apresentaram alterações em 6kHz e 38,7%, em 4kHz (85).

Grande parte dos autores (22, 86, 87) confirma que as perdas auditivas ocupacionais são, normalmente, bilaterais e simétricas. Embora registrem-se casos que apontam para maior suscetibilidade da orelha esquerda na fase inicial da PAIR, esses achados precisam ser estudados de forma mais direcionada.

Em uma avaliação que envolveu 5.372 trabalhadores de 47 empresas do distrito industrial no Ceará, no ano de 2006, foi identificado um percentual de 19,0% de casos com alterações auditivas, dos quais 90,6% apresentaram perda auditiva neurossensorial. Além disso, verificou-se que os maiores percentuais foram constatados em trabalhadores com idade superior a 45 anos. Em relação à lateralidade da perda, 39,0% foi unilateral (88).

Vários estudos nacionais e internacionais identificam a associação entre o crescimento do percentual de audiogramas com alteração com o aumento da idade e dos anos de profissão ou tempo de exposição ao ruído (3, 63, 89-93). Isso foi demonstrado em um estudo realizado com motoristas de caminhão (N=75), em 2006, no Estado de São Paulo, em que 33,3% dos trabalhadores apresentaram audiogramas com alterações, sendo que a prevalência foi maior entre os trabalhadores com mais idade e com mais anos de profissão (94).

1.5.2 Associação entre Zumbido e PAIR

As queixas do trabalhador com PAIR são progressivas. A família é a primeira a perceber as dificuldades auditivas que o trabalhador apresenta e que, normalmente, tem dificuldade em aceitar a sua condição de ensurdecido (95).

(32)

Ainda não existe um consenso em relação à sua fisiopatologia (98). Há quem o conceitue como a ausência de atividade vibratória ou mecânica correspondente nas orelhas média ou interna (99). Em alguns casos o tratamento físico tem proporcionado bons resultados na tentativa de eliminar a sua presença (100).

Segundo análise do National Institute of Health, realizada em 1996, 15% dos americanos apresentam algum tipo de zumbido. O Brasil ainda não dispõe de dados estatísticos confiáveis a este respeito (96).

O zumbido é um sintoma auditivo relatado com frequência pelos trabalhadores expostos a níveis elevados de pressão sonora (16, 101, 102). A prevalência de queixas de zumbido varia de 22,0%, em trabalhadores de um frigorífico (103), a 72,1%, que foi o percentual encontrado em motoristas de ônibus (85).

(33)

1.5.2.1 Fatores Associados à PAIR

Já foi relatado que a intensidade da pressão sonora, a duração e as características da frequência do estímulo sonoro podem lesionar a cóclea, proporcionando uma PAIR e que a suscetibilidade individual e os fatores genéticos favorecem no surgimento do problema auditivo. Porém, eliminados tais fatores, a gravidade da perda auditiva ficaria na dependência de alguns outros fatores como a exposição a cigarro, vibração, produtos ototóxicos, entre outros (9, 25, 89, 106-108).

Em um estudo feito com 535 trabalhadores do sexo masculino, em uma metalúrgica no Nordeste do Brasil, verificou-se que 46,4% dos trabalhadores fumantes expostos ao ruído acima de 85dB(A) e com idade acima de 40 anos apresentaram perda auditiva sugestiva de PAIR, contra 6,1% dos trabalhadores não expostos ao ruído, não fumantes e com idade entre 20-40 anos (9). Outro estudo no mesmo ramo industrial avaliou 182 trabalhadores no Rio de Janeiro-RJ, entre os anos de 2001/2002, e verificou que a prevalência de casos sugestivos de PAIR foi maior entre os trabalhadores com história atual e (ou) pregressa de tabagismo (RP: 3,46) (91). Portanto, os efeitos do cigarro e o ruído ocupacional têm sido apontado como apresentando certo efeito sinérgico sobre o aparelho auditivo.

A exposição simultânea a ruído, vibração ou produtos químicos ototóxicos podem alterar a circulação sanguínea da orelha interna, deixando o trabalhador mais suscetível à perda auditiva (22). No Estado de Pernambuco, um estudo com 98 trabalhadores, com idade média de 41,6 anos (DP= 6,9) que foram expostos a ruído e inseticidas, verificou que, para o grupo exposto a inseticidas e ruído, a intensidade da perda auditiva foi maior do que no grupo apenas exposto a inseticidas (106).

1.6 MEDIDAS PREVENTIVAS

(34)

O controle na fonte e na trajetória do ruído caracteriza medidas de proteção coletivas; já o controle no homem caracteriza medida de proteção individual. De acordo com a legislação vigente – NR 6, do Ministério do Trabalho e Emprego (48), as medidas coletivas devem preceder as individuais, e estas últimas devem ser reservadas à complementação das primeiras. Neste estudo foi considerado apenas o controle no homem, ou seja, as medidas de proteção individual representadas, principalmente, pelo uso do protetor auditivo.

1.6.1 Equipamento de Proteção Individual (EPI)

Os equipamentos de proteção auricular visam proteger o trabalhador de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho (48), os quais deveriam ser aplicados apenas quando as medidas de controle geral não conseguem reduções abaixo do nível de ação (109).

Todo protetor deve atenuar o ruído criando uma barreira para reduzir o som que chega por via aérea à membrana timpânica. O nível de proteção obtido dependerá do grau de vedação (110).

Alguns aspectos em relação ao protetor auditivo devem ser destacados: o EPI auricular pode ser encontrado em diferentes tipos, marcas, tamanhos e modelos como concha, plug moldável ou ainda acoplado ao capacete. A escolha dependerá de alguns

critérios como: tipo de atividade desempenhada na empresa, atenuação necessária no setor, conforto para o usuário, qualidade, durabilidade e custo do protetor (91).

(35)

No entanto, a eficácia do protetor dependerá das características fisiológicas e anatômicas do usuário e a adequação das especificações do equipamento ao ambiente de trabalho, além da atenuação oferecida (110, 112).

A durabilidade e o desgaste do equipamento também interferem na sua eficiência, mas esta atenuação irá depender do uso, do tipo de trabalho e dos cuidados de higiene com o EPI que o trabalhador apresenta. A reposição desses equipamentos é uma exigência legal, e o período para a reposição de tais equipamentos deve ser monitorado (113). Devem ser substituídos ao menos a cada dois meses, ou antes, de acordo com o estado que se apresentam.

Na maioria das vezes, o EPI auricular não é supervisionado na sua colocação. A utilização do protetor auditivo pode levar a desconforto e dificultar, em algumas situações, a comunicação verbal e a localização direcional (71, 114-116). Por isso, deve-se conscientizar o usuário acerca dos benefícios deste equipamento, ensinar a maneira correta de sua colocação, para que o trabalhador possa aceitá-lo e, efetivamente, utilizá-lo em seu benefício.

Ao analisar o desempenho de diferentes tipos de protetores auditivos com 63 trabalhadores, de ambos os sexos, com idades entre 18 a 50 anos, na cidade de São Paulo, em 2001, os pesquisadores verificaram que, os trabalhadores que não usavam corretamente o EPI, tiveram uma diminuição considerável da aferição oferecida pelo protetor, e em relação ao tipo de protetor, observou-se que o modelo tipo plug pré-moldado teve maior atenuação nas altas frequências (3kHz e 6kHz) (117).

Quanto à eficácia da escolha do protetor auditivo, em relação ao tamanho do mesmo (pequeno, médio e grande), um estudo revelou maior eficácia do protetor adequado em comparação ao protetor tamanho universal/M, ao comparar as médias das frequências testadas de 0,5kHz a 8kHz, e ainda verificou uma melhora (p<0,05) na frequência de 4kHz (116).

(36)

1.7 LEGISLAÇÃO RELACIONADA À EXPOSIÇÃO AO RUÍDO

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT, Decreto-lei n.o 5.452, de 01/05/43) (118) prevê, em seu Título II (Capítulo V), as normas de caráter geral da segurança e da medicina do trabalho para garantir a preservação da saúde dos trabalhadores e identificar os riscos ocupacionais com medidas preventivas, sistemáticas e contínuas.

Dentre as Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e Emprego, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho, destacam-se, para fins deste projeto, aquelas contidas na Portaria n.o 3.214, de 08/06/1978, diretamente relacionadas à exposição ao ruído (27, 118), em especial as NR 6, NR 7, NR 9, e NR 15.

A NR 6 trata dos equipamentos de proteção individual (EPI), mencionando os deveres do empregador e empregado, bem como o fornecimento de certificado de aprovação (CA) para o EPI em uso. Esta norma determina à empresa a obrigação de fornecer aos trabalhadores, gratuitamente, EPI adequado ao risco (de acordo com o disposto no Anexo I), exigir o uso, orientar e treinar o trabalhador quanto à adequação e conservação; bem como comunicar ao Ministério de Trabalho e Emprego qualquer irregularidade observada. Por outro lado, o trabalhador deve usar o EPI fornecido, cumprir com as determinações do empregado sobre o uso adequado, além de comunicar à empresa qualquer alteração que o torne impróprio para uso (111).

A NR 7 visa estabelecer os programas de controle médico de saúde ocupacional (PCMSO) e o programa deve ser de caráter preventivo em relação aos agravos à saúde imputados às empresas. Esta norma estabelece os parâmetros mínimos em relação à exposição ao ruído, define diretrizes e parâmetros de avaliação e a obrigatoriedade de audiometria anual (de referência e sequencial) para todos os trabalhadores expostos a ruídos com valores acima de 85dB(A) durante oito horas de trabalho diário (48, 119). Em 1998, a NR 7 foi complementada pela Portaria n.o 19, que estabelece os critérios para a realização e análise das audiometrias e determina diretrizes, parâmetros e periodicidade para avaliação e acompanhamento da audição dos trabalhadores expostos a níveis elevados de pressão sonora (120).

(37)

sua natureza, intensidade e tempo de exposição, é capaz de afetar a saúde do trabalhador (28, 29).

A NR 15 trata das atividades e operações insalubres e apresenta tabela (Anexo A) que limita o tempo de exposição diária a ruído contínuo ou intermitente (30).

A legislação brasileira enfatiza a necessidade da implantação de programas de conservação da saúde dos trabalhadores, porém, na maioria das vezes não define o que deve abranger seu planejamento, nem estratégias de execução. Dessa forma, verifica-se que, em algumas empresas, o programa de conservação da audição tem o intuito de cumprir com as regras governamentais e (ou) reduzir custos das compensações trabalhistas (27).

Em relação à avaliação do ruído contínuo ou intermitente, em locais de trabalho que o ruído esteja acima de 85dB(A), a legislação trabalhista em vigor menciona as obrigações legais do empregador, ou seja, estabelece-se que a medição deste ruído deve ser em decibéis (dB), com o instrumento de nível de pressão sonora operando no circuito de compensação “A” e no circuito de resposta lenta (30). Sendo assim, cabe ao profissional da empresa selecionar o tipo de equipamento na avaliação ambiental.

1.8 EPIDEMIOLOGIA DA PAIR

A Organização Mundial da Saúde (OMS) chama a atenção para a importância da doença ocupacional nos países industrializados, e a mais relatada é a poluição sonora. Estima-se em 250 milhões o número de pessoas portadoras de perdas auditivas relacionadas ao trabalho (121). Esse tipo de alteração é considerado como a segunda forma mais comum de déficit auditivo sensorial, após a presbiacusia-perda auditiva por degeneração natural com avanço da idade (36).

Na década de 1980, a PAIR foi considerada a doença profissional mais frequente no mundo, e, na década de 1990, ainda esteve entre os principais problemas de saúde ocupacional (90).

(38)

Uma avaliação feita em quatro indústrias metalúrgicas em Piracicaba (1997 a 2001) mostrou diversas irregularidades no cumprimento da legislação relativa aos programas de controle médico de saúde ocupacional (PCMSO), referentes à prevenção de perdas auditivas. O estudo identificou falhas na incorporação dos padrões exigidos na lei: o monitoramento das avaliações ambientais e auditivas apresentava-se precário e o sistema de notificação dos casos de PAIR era ineficiente, comprometendo as estatísticas oficiais e o direcionamento de políticas públicas relacionadas ao tema (90).

Em 2002, foram registrados 10 milhões de casos de PAIR nos EUA (1), sendo que, no estado de Michigan, as alterações auditivas (PAIR) estavam presentes em cerca de 30% dos trabalhadores industriais (66). Na Polônia, calcula-se que dos cinco milhões de trabalhadores industriais mais de 650 mil apresentem PAIR (13%) (123). Em São Paulo, a poluição sonora e o estresse auditivo constituem a terceira maior causa de doenças relacionadas ao trabalho (64).

Em uma avaliação audiológica de motoristas de transporte urbano, em veículo com o motor localizado na parte dianteira, observou-se que estes, por ficarem mais expostos ao ruído, tornam-se mais propensos ao desenvolvimento de PAIR (107). Outro estudo, realizando teste das emissões otoacústicas evocadas (EOAE) em 158 trabalhadores expostos ao ruído, 97 apresentaram PAIR, sendo que 81% do grupo com PAIR teve EOAE alterada e, quando presente, o espectro de frequência apresentou emissões alteradas nas altas frequências. Já no grupo com audição normal, apenas 48% tiveram EOAE alteradas. Esses dados confirmaram que a cóclea exposta ao ruído pode produzir alterações significativas nas emissões otoacústicas, antes mesmo de afetar os limiares de uma avaliação audiológica convencional (124).

A associação entre ruído e alteração auditiva foi verificada em 71 trabalhadores com idades entre 50 e 70 anos, dividido em dois grupos: expostos e controle. Os resultados apontaram uma diferença significativa (p<0,05) a partir da frequência de 3kHz, e o grupo exposto ao ruído os que apresentaram piores resultados (p<0,001) (95).

(39)

Embora as empresas afirmem a existência de programas de prevenção auditiva, tais medidas permanecem inseridas em outros programas de segurança. Tal constatação foi verificada em 30 indústrias de Curitiba. Além disso, observou-se que as empresas não realizam ações educativas capazes de gerar comprometimento individual com as exigências legais e com as ações preventivas propostas (27).

Nos Estados Unidos, foi registrada menor prevalência de PAIR no período de 1976 a 2006, verificada em um monitoramento da saúde da população. Além disso, percebeu-se redução do problema na década de 1990, com estabilização nos anos 2000. É possível que o fato se deva à regulamentação sobre ruído ocupacional, ao aumento do uso de protetores e aos maiores esforços das empresas e do governo na preservação da saúde do trabalhador (126).

Em contrapartida, nos países em desenvolvimento, como a Índia, ainda há muita resistência, por parte do trabalhador, em relação ao uso regular do protetor auditivo (127).

Uma avaliação realizada na Nova Zelândia mostrou que, apesar da existência de legislação específica e do desenvolvimento de programas de conservação auditiva, foi registrado o aumento do número anual de casos de trabalhadores com PAIR, sugerindo a não efetividade do programa na íntegra ou em sua aplicação (128).

(40)

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Verificar a associação entre o espectro de ruído e a configuração audiométrica de trabalhadores em empresas de diferentes ramos de atividade.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Avaliar os níveis de pressão sonora presentes nos diferentes ambientes de trabalho;

- Verificar a dose diária de ruído a que estão expostos os trabalhadores durante a jornada de trabalho;

- Determinar o perfil do espectro de ruído presente em diferentes empresas do ramo industrial;

- Verificar a influência do perfil espectral de ruído nas respostas audiométricas dos trabalhadores avaliados pela audiometria tonal convencional e de alta frequência;

- Avaliar a utilidade clínica do uso de audiometria de alta frequência na identificação precoce de danos auditivos;

(41)

3 MÉTODO

Trata-se de um estudo clínico-epidemiológico, do tipo analítico-transversal, realizado na cidade de Brasília-Distrito Federal (DF), no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2009.

Este estudo foi financiado pela FAP-DF/SUS, processo n.o 193 000 051/2005, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB, com registro 048/2004. Todos os trabalhadores participantes assinaram o termo de consentimento preparado para os fins (Anexos B e C).

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Inicialmente, foram selecionadas as indústrias para a coleta de dados deste estudo. Para esta finalidade, foram utilizados os seguintes critérios:

- Aceitar participar da pesquisa;

- Apresentar localização geográfica restrita ao Distrito Federal;

- Apresentar, sistematicamente, ambientes de trabalho com níveis de ruído em intensidade superior a 85dB(A);

- Ser de médio ou grande porte;

- Constar na classificação nacional de atividades econômicas como grau de risco 3 ou 4, de acordo com a NR 4, Quadros I e II do Ministério do Trabalho e Emprego (48).

Foram convidadas 20 empresas de diferentes ramos de atividade, porém apenas oito aceitaram participar deste estudo. A caracterização das empresas participantes está detalhada no Anexo D e os modelos de cartas enviadas às empresas constam nos Anexos E e F.

(42)

de cimento (6,2%), totalizando 347 trabalhadores, todos do sexo masculino. Estas empresas possuíam ao todo 1.440 trabalhadores.

3.1.1 Caracterização dos Trabalhadores

Foram selecionados 347 trabalhadores que atenderam aos seguintes critérios para inclusão neste estudo:

- Trabalhar há pelo menos um ano na função atual;

- Não haver trabalhado em outra atividade com exposição a ruído; - Não trabalhar diretamente com produtos químicos;

- Não fazer uso de medicamentos ototóxicos;

- Pertencer ao sexo masculino e ter idade entre 19 e 65 anos; - Não apresentar história indicativa de trauma acústico agudo; - Aceitar participar do estudo;

- Assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

3.2 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS

Este estudo coletou os dados dos participantes no próprio ambiente de trabalho, em cada uma das empresas; os dados foram coletados pela própria pesquisadora, conforme os procedimentos a seguir especificados.

(43)

3.2.1 Avaliação Ambiental

3.2.1.1 Aferição dos Níveis de Pressão Sonora (NPS)

A aferição dos níveis de pressão sonora, dose e espectro foram efetuados por uma equipe especializada em Física Acústica da Universidade Católica de Brasília.

A aferição dos níveis de pressão sonora e espectro de frequência foi realizada em um ponto central de cada ramo de atividade, captando o ruído geral do ambiente. Para verificar o NPS, utilizou-se o medidor de nível de pressão sonora acoplado ao analisador de frequências, modelo SIP-95, fabricado pela 01 dB. Este equipamento estava devidamente calibrado por empresa especializada, com filtros de frequência em bandas de 1/3 e 1 de oitava, operando em circuito de compensação “A” e circuito de resposta lenta (SLOW), conforme estabelecido pela Portaria n.o 19, de 09/04/98, do Ministério do Trabalho e Emprego (54).

Para qualificar o ruído ambiental a que estavam expostos os trabalhadores deste estudo, em relação à frequência, intensidade e duração, foi utilizado o dosímetro, equipamento que faz medição da dose de ruído (nível equivalente) durante a jornada de trabalho, em lugares que o ruído é variável.

Para a dosimetria utilizou-se um equipamento digital, compacto, sem fio, modelo SOLO (SIE Badge) da 01 dB. Para a avaliação, foi selecionado um trabalhador que atua na máquina mais ruidosa de cada ramo industrial. O critério de referência que embasa os limites de exposição diária adotados para ruído contínuo ou intermitente corresponde a uma dose de 100% para exposição de oito horas ao nível de 85dB(A) (45). Para atender ao critério adotado pela NR 15 do Ministério do Trabalho e Emprego para avaliação da frequência e do espectro do ruído, os cálculos foram feitos segundo a equação 2 (131):

0 exp

exp

10

log

T

T

L

(44)

Consideraram-se oito horas como tempo médio de exposição diária (Texp) para uma jornada de trabalho (T0). O nível equivalente de ruído – Leq – representa o nível equivalente de pressão sonora, conforme a definição da NBR 10.151. A dose percentual de ruído absorvida diariamente foi calculada por meio da equação 3 (131):

100%

2 8

eq L

-exp

T Lcritt q

D

O critério de avaliação considera, além do critério de referência, o incremento de duplicação de dose (q) igual a 5 e o Lcrit 85dB(A), conforme indica a NR 15 do Ministério do Trabalho e Emprego (114). O tempo máximo de exposição tolerada (Tt) pelos trabalhadores de metalúrgicas, madeireiras e marmorarias, foi calculado com base na equação 4 (131):

Lcrit

q t

T

8

2

-Leqt

Para verificar se o ambiente obedecia às normas reguladoras relacionadas com o ruído, optou-se por calcular o nível equivalente de pressão sonora (Leq), que representa um nível de ruído contínuo em dB(A). Para isso, a pressão sonora equivalente, Leq, em dB(A), foi calculada pela equação 1, mencionada anteriormente.

3.3 COLETA DE DADOS DOS TRABALHADORES

Os dados de cada um dos trabalhadores que participou deste estudo foram obtidos por meio de entrevistas individuais e avaliação audiológica.

(45)

3.3.1 Entrevistas Individuais

As entrevistas seguiram um roteiro estabelecido, tendo como finalidade a coleta dos dados pessoais como idade e escolaridade, obtenção de informações de seu tempo de trabalho na empresa e a função atual, adesão à utilização do protetor auditivo, rotina de trabalho na indústria, estabelecimento de seus antecedentes ocupacionais de exposição a níveis elevados de pressão sonora, além de dados sobre exposição não ocupacional ao ruído. Também foram considerados antecedentes de patologias auditivas, antecedentes mórbidos com possíveis implicações auditivas, uso de medicamentos com possível efeito sobre a audição e sintomas de saúde em geral. As informações obtidas foram registradas no formulário da anamnese (Anexo G).

3.3.2 Avaliação Audiológica

A avaliação audiológica foi composta pela audiometria convencional (0,25kHz a 8kHz) realizadas conforme estabelecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (54), Portaria n.o 19 de 09/04/98, que determina um repouso acústico de 14 horas antes da realização do exame audiométrico. Além disso, realizou-se a audiometria de alta frequência de 9kHz a 16kHz. Essas avaliações foram precedidas pela inspeção dos condutos auditivos externos de cada um dos trabalhadores, para afastar a presença de obstrução ou quaisquer outras condições que pudessem interferir nos resultados da avaliação.

3.3.3 Local dos Exames

(46)

3.3.4 Os Equipamentos

Para a realização da avaliação audiológica, foram utilizados os seguintes equipamentos:

- otoscópio da marca Welch Allyn, com acessórios WA; - cabina audiométrica Reduson (portátil);

- audiômetro clínico, da marca Interacoustic, modelo AD 40 com fone padrão TDH 39, para a aferição do limiar tonal de 0,25 a 8kHz. Para a avaliação das frequências acima de 8kHz, utilizou-se o fone para altas frequências KOSS HIPRO.

Todos os equipamentos foram submetidos à calibração, de acordo com as normas ISO 389/64 e ANSI S3.6/69. A cabina audiométrica seguiu padrões de ruído interno em cerca de 30dB(A), conforme a ANSI S3.1/91.

3.3.5 Protocolo de Testes

Para a obtenção dos limiares audiométricos, foi utilizado um botão de resposta. Os trabalhadores foram instruídos a apertar o botão sempre que ouvissem o som. A cada detecção do tom a intensidade era reduzida em passos de 10dB, até que o trabalhador não mais percebia o estímulo. Nesse momento, aumentava-se o som de 5 em 5dB até que o trabalhador respondesse novamente ao estímulo. A este valor denominou-se limiar mínimo.

Audiometria convencional:

O procedimento consistiu na verificação do nível mínimo de resposta para estímulos por via aérea para as frequências de 0,25kHz, 0,5kHz, 1kHz, 2kHz, 3kHz, 4kHz, 6kHz e 8kHz.

(47)

Audiometria de alta frequência:

Foram avaliadas as frequências de 9kHz, 10kHz, 12kHz, 14kHz e 16kHz. Para realizar este tipo de avaliação, foi necessário um audiômetro com fone padrão KOSS HV/PRO. O manual do equipamento definiu as intensidades mínimas e máximas de saída em dBNA para cada frequência a partir de 9kHz (Tabela 2).

Tabela 2 - Saída mínima e máxima do audiômetro interacoustic AD-40, calibrado em dBNA (Padrões ANSI 1969), nas frequências de 9kHz a 16kHz

9 10 12 14 16 kHz

Mínima 20 20 20 20 20 dB

Máxima 105 95 90 80 60 dB

3.3.5.1 Classificação do Exame

Optou-se por classificar os exames de duas maneiras diferentes: uma para a entrega nas empresas e outra para análise deste estudo.

Os laudos dos exames audiológicos entregues nas empresas foram classificados segundo o grau de perda, ou seja, segundo as alterações encontradas com base na média dos limiares das frequências de 0,5kHz, 1kHz e 2kHz, seguindo os critérios propostos por Davis e Silverman, 1970 (132). Dessa forma, os resultados obtidos foram assim classificados:

- audição considerada normal quando a média dos limiares fosse igual ou inferior a 25dBNA;

- perdas leves, se a média dos limiares ficasse entre 26 e 40dBNA;

- perdas moderadas, se a média dos limiares estivesse entre 41 e 70dBNA; - perdas severas, com média de limiares de 71 a 90dBNA;

- perdas profundas, com média de limiares a partir de 91dBNA.

Para análise deste estudo, os resultados da audiometria ocupacional foram agrupados conforme os critérios abaixo especificados em apenas duas categorias:

(48)

- audiometria sugestiva de PAIR – todas as audiometrias que apresentassem qualquer entalhe superior a 25dBNA nas frequências a partir de 3kHz. Assumiu-se como entalhe a presença de limiares acima de 25dBNA em uma ou mais frequências isoladas, com recuperação na frequência seguinte (41).

Ao final das avaliações, foi entregue, ao serviço médico de cada empresa participante, um relatório audiológico impresso e o laudo. O diagnóstico clínico foi confirmado por médico otorrinolaringologista, especialista em Medicina do Trabalho.

3.4 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS

A análise estatística dos dados foi efetuada por profissional especializado (estatístico). O banco de dados foi elaborado no formato Excel®. As análises foram desenvolvidas utilizando os pacotes SPSS 13® (Statistical Package for the Social Sciences, Chicago, IL) para Windows® e SigmaStat 3.11® para Windows®. O teste

chi-quadrado foi utilizado para verificar as possíveis associações entre variáveis. Foram considerados os resultados de cada orelha; assim, a amostra final foi de 694 orelhas. Os resultados da audiometria foram inseridos em um modelo de análise de variância de desenho misto com os fatores ramo de atividade (quatro níveis;

medida independente) e frequência (13 níveis; medida repetida). O procedimento de

comparações múltiplas utilizou o método de correção de Bonferroni. Para as análises pos hoc adicionais, foi utilizado o teste ANOVA de uma via.

(49)

4 RESULTADOS

Foram analisadas oito (8) empresas, distribuídas em quatro ramos de atividade econômica: fabricação de cimento, madeireira, marmoraria e metalúrgica. Nessas empresas foram avaliados 347 trabalhadores, todos do sexo masculino.

Na análise univariada (ANOVA) do ramo de atividade econômica e da idade, observou-se diferença estatisticamente significativa entre as médias de idade de cada ramo (F3, 343=3,499, p=0,016). O procedimento de comparações múltiplas verificou que a idade média dos trabalhadores do ramo metalúrgico (36,9±1) (p=0,013, p=0,022, respectivamente) e de fabricação de cimento (36,5±1) (p=0,024, p=0,039, respectivamente) apresentaram médias significativamente maiores do que as apresentadas pelos ramos madeireiro (33,1±1,1) e marmoraria (33,7±0,9).

As Tabelas 3 e 4 apresentam resultados descritivos das características demográficas e das condições de trabalho da amostra estudada. Os dados pessoais obtidos na anamnese mostraram um grupo de trabalhadores no qual a maioria (64,3%) tem o 1.o grau de escolaridade e 15,6% fazem uso de tabaco. Para análise da variável uso de tabaco, considerou-se a quantidade consumida diariamente e a duração do consumo (Tabela 3).

O ramo de atividade econômica com o maior número de trabalhadores participantes foi o da fabricação de cimento (30,0%). Quanto ao tempo na função, predominaram os trabalhadores com tempo de trabalho na empresa de um a cinco anos (45,8%) e 82,1% dos trabalhadores informaram que fazem uso do equipamento de proteção individual (EPI), protetor auricular (Tabela 4).

(50)

Tabela 3 - Características demográficas dos Trabalhadores e uso de tabaco (n=347) - Distrito Federal - 2008-2009

Variável N %

Idade

≤30 anos 126 36,3

31 a 40 anos 121 34,9

41 a 50 anos 77 22,2

≥51 anos 23 6,6

Escolaridade

Nenhuma 21 6,1

1.o Grau 223 64,3

2.o Grau 102 29,4

3.o Grau 1 0,3

Uso de tabaco

Não 293 84,4

Sim 54 15,6

Tabela 4 - Distribuição da amostra, segundo as características laborais (n=347) - Distrito Federal - 2008-2009

Variável N %

Ramo

Fab. Cimento 104 30,0

Madeireira 61 17,6

Marmoraria 81 23,3

Metalúrgica 101 29,1

Tempo na função (anos)

1 a 5 anos 159 45,8

6 a 10 anos 88 25,4

11 a 20 anos 76 21,9

≥ 21 anos 24 6,9

Uso de EPI

Não 42 12,1

Sim 285 82,1

Raramente 20 5,8

Ruído extralaboral

Não 255 73,5

Sempre 32 9,2

Frequentemente 5 1,4

Raramente 55 15,9

4.1 AVALIAÇÃO DO AMBIENTE

A avaliação ambiental foi realizada em três ramos de atividades econômica (madeireira, marmoraria e metalúrgica). Tais medições não puderam ser aferidas na fábrica de cimento, porque não foram autorizadas pela empresa.

Imagem

Figura 3 - Representação gráfica do espectro sonoro de alguns sons reais (47)
Figura 5 - Evolução da PAIR de acordo com o tempo na função (50)
Tabela 4 - Distribuição da amostra, segundo as características laborais (n=347) - Distrito Federal - 2008-2009
Tabela 5 - Distribuição do nível equivalente de pressão sonora (L eq ) em bandas de oitava
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Referências

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