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ASSEMBLEIA PARLAMENTAR PARITÁRIA ACP-UE. Documento de sessão. Comissão dos Assuntos Sociais e do Ambiente

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PR\669904PT.doc APP/100.083/B

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ASSEMBLEIA PARLAMENTAR PARITÁRIA ACP-UE

Documento de sessão

ACP-EU/100.083/B/07

23.5.2007

RELATÓRIO

sobre o acesso aos cuidados de saúde e medicamentos, com particular incidência sobre as doenças negligenciadas

Comissão dos Assuntos Sociais e do Ambiente

Co- relatores: Martin Magga (Ilhas Salomão) e John Bowis

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EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

"Não nos deixemos imobilizar por aquilo que pensamos ser a "enormidade" dos nossos problemas. Examinemos o que pode ser feito e comecemos a procurar formas práticas de agir." (Nelson Mandela).

Repetidamente recapitulamos os números tristes que ilustram o peso global da doença. Repetidamente somos capazes de demonstrar que os investimentos na saúde dão dividendos económicos e sociais, reduzindo a mortalidade, a morbidade e a deficiência. Temos agora a possibilidade de prestar o apoio político e financeiro necessário para melhorar o acesso aos cuidados de saúde e aos medicamentos e procurar resolver o problema das doenças

negligenciadas no mundo em desenvolvimento.

Sabemos que as três grandes doenças mortais – SIDA, malária e tuberculose – reclamam 6 milhões de vidas por ano e encontram-se ainda muito longe de estarem controladas. Mas devemos reconhecer que mil milhões de pessoas, 1/6 da população mundial, são afectadas por doenças que o mundo negligencia. A diarreia, por exemplo, causa 2,2 milhões de mortes por ano (mais do que a tuberculose). As doenças de origem hídrica, a subnutrição (especialmente à nascença e na infância), os vermes parasitas e vectores de doenças têm todos um impacto sobre as pessoas nos países em desenvolvimento. O verme Onchocerca volvulus, por

exemplo, causa a cegueira, deficiências visuais ou doenças de pele, infectando 37 milhões de pessoas, 95% das quais vivem na África Ocidental e Central. O tratamento actual, ivermectin, é limitado, uma vez que apenas mata as larvas (e não os vermes adultos), a resistência está a aumentar e alguns pacientes têm reacções adversas graves.

Muitas destas doenças negligenciadas talvez não tenham elevados níveis de mortalidade, mas podem ser designadas doenças da pobreza, dado que provocam doenças crónicas, deficiências e deformações – que tornam difícil ou impossível trabalhar e contribuir para a família e a economia. Como diz a OMS: "Os seus efeitos são o crescimento e o desenvolvimento lento das crianças, complicações durante a gravidez, desfiguração incapacitante, cegueira, estigma social e produtividade económica e rendimentos familiares reduzidos". E existem ainda novas ameaças e novos desafios como sejam as estirpes multirresistentes de doenças como a

tuberculose.

É importante reconhecer os êxitos: desenvolvemos melhores mosquiteiros para a prevenção da malária; descobrimos terapias combinadas que são muito mais eficazes para o tratamento da malária; temos um tratamento específico para as crianças no caso da esquistossomose; estabelecemos estratégias simplificadas de controlo com medicamentos de baixo custo, seguros e eficazes para o tratamento de infecções com vermes parasitas, que custam menos de 0,50 euros por pessoa, por ano; temos ivermectin para tratar a oncocercose (embora com as limitações abaixo indicadas); começámos a forjar as parcerias equitativas Norte/Sul e

público/privado de que necessitamos no domínio científico, da prática e dos ensaios clínicos, com iniciativas como a Parceria entre Países Europeus e em Desenvolvimento para a

realização dos Ensaios Clínicos (EDCTP). Os programas de investigação no domínio das doenças negligenciadas, financiados pela UE e reconhecidos como figurando entre os

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programas mais eficazes concebidos por qualquer agência internacional, têm contribuído

muito para estes êxitos.

Desde o relatório do Parlamento Europeu sobre doenças importantes e negligenciadas nos países em desenvolvimento (relatório Bowis P6_TA(2005)0341) em 2005, assistimos a alguns desenvolvimentos notáveis, com que nos congratulamos.

A Assembleia Mundial da Saúde acordou, em Maio de 2006, a criação de um grupo de trabalho intergovernamental encarregado de negociar um plano de acção em matéria de investigação e desenvolvimento com vista a "assegurar uma base reforçada e sustentável para uma I&D essencial e movida pelas necessidades no domínio da saúde". A OMS e 25

organizações parceiras anunciaram uma nova abordagem coordenada em matéria de doenças tropicais, incluindo a sua estratégia de quimioterapia preventiva para infecções provocadas por vermes parasitas. Existe uma referência específica às doenças negligenciadas no Sétimo Programa-Quadro de Investigação (7° PQ) da União Europeia, adoptado em Dezembro de 2006, que prevê uma dotação de 6.000 milhões de euros ao longo de 7 anos para acções específicas de cooperação internacional.

Sobretudo, parece termos conseguido uma nova aceitação política no sentido de lutar contra as doenças negligenciadas num mundo em desenvolvimento.

Assim sendo, como poderemos traduzir esta esperança e expectativa em resultados? Em poucas palavras, devemos reforçar os esforços de investigação e desenvolvimento, mas simultaneamente abordar outro domínio negligenciado: a criação de sistemas de saúde fortes. O presente relatório apresenta uma série de respostas para melhorar o acesso aos cuidados de saúde e aos medicamentos, designadamente:

- assegurar que os orçamentos nacionais e a ajuda internacional coloquem a tónica na saúde; - promover todos os instrumentos de prevenção disponíveis e desenvolver novos

instrumentos;

- desenvolver a capacidade e a infra-estrutura dos sistemas de saúde;

- fazer avançar a investigação e o desenvolvimento no domínio de novos diagnósticos, medicamentos e vacinas.

INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Começando pelo último aspecto, é necessário salientar o "D" em "I&D", por forma a que possamos pegar na riqueza da investigação fundamental e traduzi-la em instrumentos inovadores e testes de diagnóstico e instrumentos de controlo novos, fáceis de utilizar, precisos e rápidos – adoptados às necessidades e condições locais dos países com escassos recursos; no passado, faltaram lamentavelmente projectos integrados, desde a identificação de produtos químicos, passando pelas fases de desenvolvimento de ensaios clínicos até ao registo e fabrico de novos produtos. Houve uma confiança excessiva nas tecnologias e intervenções existentes. Aos pacientes que sofrem de doenças negligenciadas são demasiadas vezes administrados medicamentos arcaicos, alguns dos quais são altamente tóxicos, ineficazes ou difíceis de administrar.

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Uma vez que existem poucos mercados viáveis para os medicamentos para as doenças que afectam os mais pobres no mundo, o modelo da parceria público/privado poderá associar o melhor do sector público (a nível da investigação) ao melhor no sector privado (a nível do desenvolvimento).

A primeira destas parcerias – o Programa Especial de Investigação e Formação em Doenças Tropicais (TDR) – foi criada em 1975, sendo co-patrocinada pela UNICEF, pelo PNUD, pela OMS e pelo Banco Mundial e financiada por uma ampla gama de agências, governos

(incluindo Estados-Membros da UE), fundações, ONG e empresas. Visa ajudar a coordenar, apoiar e influenciar os esforços envidados a nível global para combater uma ampla gama de doenças graves associadas à pobreza.

O TDR funciona há 30 anos. Todavia, dos 1.393 novos medicamentos colocados no mercado entre 1975 e 1999, apenas 13 foram aprovados para doenças tropicais. Destes 13, 6 foram desenvolvidos com o apoio do TDR. Menos de 1% dos novos medicamentos colocados no mercado foram desenvolvidos para doenças tropicais infecciosas.

Nos últimos anos, assistimos a mais progressos, graças à criação de mais parcerias de desenvolvimento públicas (PDP), como a Iniciativa Medicamentos para as Doenças Negligenciadas (DNDi), a Aliança Mundial para as Vacinas e a Imunização (GAVI), a Aliança Mundial para o Desenvolvimento de Medicamentos para a Tuberculose, o Instituto para Uma Saúde Mundial, a Iniciativa Internacional de Vacina contra a SIDA (IAVI), a Parceria Internacional para os Microbicidas (MMV), a Iniciativa Europeia para uma Vacina contra a Malária (EMVI), a Iniciativa Medicamentos contra a Malária (MMV), a Parceria Reduzir a Malária (RBM) e outras iniciativas. Estão actualmente em curso numerosos projectos de investigação no domínio dos medicamentos: só a iniciativa DNDi tem 20 projectos, incluindo medicamentos em fase de desenvolvimento clínico para a

tripanossomíase africana, a leishmaniose, a doença de Chagas e a malária, e registam-se progressos significativos em matéria de vacinas em Edimburgo, Oxford e outros lados. Temos de ter consciência de que é urgente prosseguir este trabalho, utilizar este modelo público/privado, apoiar medicamentos potenciais através do desenvolvimento, e não apenas da investigação inicial, e alargar o trabalho a uma ampla gama de doenças.

CAPACIDADE E INFRA-ESTRUTURA

Não podemos, todavia, parar no financiamento e nos resultados da investigação e do

desenvolvimento. Não serve de nada dispor de novos medicamentos, vacinas e equipamento se não houver um sistema para a sua entrega, administração e utilização no terreno. Metade de todo o equipamento médico nos países em desenvolvimento não é utilizado. A infra-estrutura do sistema de saúde, incluindo as capacidades humanas e institucionais, é absolutamente decisiva para melhorar os cuidados de saúde. Para além da falta de instrumentos de diagnóstico e de medicamentos, a luta contra as doenças e a saúde precária é travada por sistemas de saúde deficientes, uma crise no número dos profissionais de saúde e uma ajuda ineficaz.

Algumas doenças são negligenciadas, não no sentido de serem doenças de um país em

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que o mundo desenvolvido tem acesso – estarem fora do alcance dos países de baixos

rendimentos. Por exemplo, enquanto os pacientes de diabetes na UE podem contar com serviços gratuitos e testes de visão e de sangue para manter a sua situação sob controlo, demasiados diabéticos nos países em desenvolvimento perdem membros ou a visão e sofrem de insuficiências renais e morrem prematuramente, porque o custo da insulina é demasiado elevado para o orçamento familiar médio. Para estas doenças, é necessário encontrar vias para assegurar um acesso a baixo custo nesses países. Nem devemos esquecer os milhões de pessoas em todo o mundo que sofrem de doenças mentais e perturbações e lesões

neurológicas. Embora existam tratamentos eficazes para muitas destas situações, a maior parte dos países de rendimentos médios e baixos consagra menos de 1% das suas despesas de saúde à saúde mental e neurológica.

Em muitos países, os sistemas de saúde têm recursos muito escassos. Os próprios países terão de investir uma maior percentagem dos seus orçamentos nacionais e as despesas com a saúde devem ser reconhecidas como parte das medidas de boa governação. Em 2003, o Reino Unido afectou 15,8% das despesas gerais do Estado à saúde; a Alemanha gastou 17,5%, os Estados Unidos da América 18,5%. Todavia, a grande maioria dos Governos ACP gasta muito menos do que o objectivo de 15% de Abuja; gastam uma percentagem mais reduzida de orçamentos mais reduzidos (ver anexo). É tempo de pormos termo a este escândalo.

A comunidade internacional terá de complementar os investimentos a nível dos países com apoio financeiro seguro e a longo termo e apoio técnico, incluindo formação de profissionais da saúde a nível local. O Relatório sobre a Saúde a Nível Mundial 2006 recomenda que metade da assistência internacional seja aplicada aos sistemas de saúde, sendo metade deste financiamento consagrado ao reforço dos recursos humanos. A saúde deve estar no cerne dos documentos de estratégia por país, dos documentos de estratégia da redução da pobreza e dos quadros financeiros a médio prazo, sendo as acções centradas na obtenção dos resultados mais eficazes no domínio da saúde e da redução da pobreza. Os projectos de documentos de

estratégia por país devem ser colocados à disposição, para exame, dos membros ACP e do Parlamento Europeu. Os compromissos em matéria de ajuda devem reflectir a situação geral da saúde e o peso da doença nos países, não apenas a situação do VIH/SIDA, da tuberculose e da malária. Com efeito, a deficiente supervisão da doença (em mais de 60 países menos de ¼ das mortes são registadas por sistemas de registo) e a falta de indicadores para medir a ajuda global no domínio dos cuidados de saúde e dos serviços globais têm limitado a eficácia da ajuda até à data.

PREVENÇÃO

A prevenção é obviamente preferível à cura; o acesso a medidas de prevenção e a educação em matéria de prevenção deve ser, por conseguinte, um pilar fundamental das políticas da saúde. O acesso a água limpa e saneamento constitui a forma mais eficaz de enfrentar a ameaça das doenças de origem hídrica. A imunização de rotina deve ser a pedra angular das estratégias de saúde pública que visam pôr termo à situação existente em que mais de 28 milhões de crianças não são imunizadas durante o seu primeiro ano de vida – o que as deixa vulneráveis a doenças infecciosas como o sarampo e o tétano. A educação em matéria de higiene, sexo seguro e estilos de vida saudáveis, incluindo os riscos do tabaco – é

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a perspectiva de construção de mais estradas nos países em desenvolvimento, a educação em matéria de segurança rodoviária deve ser igualmente melhorada.

Os perigos da falta de educação e da informação incorrecta são muito evidentes, por exemplo, no caso em que algumas críticas às vacinas da poliomielite tiveram como resultado um

aumento dos casos de poliomielite. A educação é necessária para ultrapassar este tipo de mitos, bem como a ignorância e o estigma que rodeiam o VIH/SIDA e as perturbações mentais.

ACESSO

Obviamente, as razões que levam a que o acesso aos cuidados de saúde e aos medicamentos não seja adequado são complexas. Existem problemas ligados à capacidade e às despesas dos sistemas de saúde, à eficácia da ajuda, ao acesso à prevenção e educação e à descoberta de novos tratamentos. Existem igualmente os efeitos de políticas internacionais e nacionais de fixação dos preços, tarifas, impostos e implementação de acordos de direitos de propriedade intelectual.

A invenção e a criatividade são em si fontes de benefícios sociais e tecnológicos e a protecção da propriedade intelectual encoraja, por conseguinte, a descoberta de novos medicamentos, cujos custos de desenvolvimento podem ser extremamente elevados. As disposições do Acordo TRIPS reconhecem esta situação. Os governos e as empresas farmacêuticas devem negociar uma abordagem de parceria que respeite a protecção das patentes para os mercados desenvolvidos, o que pode envolver acordos voluntários de licenciamento, apoio a programas de saúde, transferência de tecnologias e um aumento da capacidade de produção local, e que reduza os preços (através de preços escalonados ou diferenciados) para os países de baixo rendimento. Se a protecção da saúde pública não puder ser atingida através destas medidas, os governos dispõem igualmente do direito de utilizar outras flexibilidades ao abrigo do Acordo TRIPS, incluindo licenciamento obrigatório, quando necessário. Esta ameaça será suficiente para reforçar a pressão sobre as empresas farmacêuticas no sentido de reduzirem os preços – preços que, para alguns anti-retrovirais de segunda linha podem ser 12 vezes mais elevados do que para genéricos de primeira linha e descritos num relatório da OMS de 2004 como sendo "uma ameaça cada vez mais grave para a saúde pública".

Em conclusão, necessitamos de vigilância, prevenção, diagnóstico, controlo, tratamento e cuidados, a par de investigação e desenvolvimento. Devemos motivar os dirigentes políticos e os ministros da saúde, as agências e os bancos de desenvolvimento, as instituições e

fundações públicas, as organizações caritativas e filantrópicas, os cientistas e as empresas farmacêuticas a construir uma aliança em prol da saúde.

Referências

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