UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA
MESTRADO PROFISSIONAL EM FARMACOLOGIA CLÍNICA
DAVID EDGARD PIETRO
ELABORAÇÃO DE UM GUIA PARA AVALIAÇÃO DE RELATÓRIOS DE
SEGURANÇA/EFICÁCIA APRESENTADOS À ANVISA EM PETIÇÕES DE
REGISTRO, RENOVAÇÃO DE REGISTRO E PÓS-REGISTRO DE
MEDICAMENTOS ESPECÍFICOS, FITOTERÁPICOS E DINAMIZADOS
FORTALEZA
2019
ELABORAÇÃO DE UM GUIA PARA AVALIAÇÃO DE RELATÓRIOS DE
SEGURANÇA/EFICÁCIA APRESENTADOS À ANVISA EM PETIÇÕES DE
REGISTRO, RENOVAÇÃO DE REGISTRO E PÓS-REGISTRO DE
MEDICAMENTOS ESPECÍFICOS, FITOTERÁPICOS E DINAMIZADOS
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Farmacologia –
Mestrado Profissional em Farmacologia
Clínica da Universidade Federal do Ceará,
como um dos requisitos para obtenção do
título de mestre em Farmacologia Clínica
Orientadora: Profa. Dra. Mirna Marques
Bezerra Brayner
FORTALEZA
2019
SEGURANÇA/EFICÁCIA APRESENTADOS À ANVISA EM PETIÇÕES DE
REGISTRO, RENOVAÇÃO DE REGISTRO E PÓS-REGISTRO DE
MEDICAMENTOS ESPECÍFICOS, FITOTERÁPICOS E DINAMIZADOS
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Farmacologia –
Mestrado Profissional em Farmacologia
Clínica da Universidade Federal do Ceará,
como um dos requisitos para obtenção do
título de mestre em Farmacologia Clínica
Aprovado em: ______/______/______
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Profa. Dra. Mirna Marques Bezerra Brayner (ORIENTADORA)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_____________________________________________________________
Dr. Demétrius Fernandes do Nascimento
Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM-UFC)
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Gislei Frota Aragão
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais
(Belchior, 1976)
necessidade de entender e controlar fatores que impactam na saúde da população
surgem os primeiros conceitos modernos de vigilância sanitária no século XVIII. No
que se refere aos medicamentos, os primeiros regulamentos buscavam garantir a
qualidade e prevenir adulterações dos produtos farmacêuticos e das matérias-primas
utilizadas em sua fabricação. A preocupação com aspectos de segurança e eficácia
somente tomaria espaço nos regulamentos após trágicos episódios envolvendo o uso
de medicamentos no século XX. Dessa forma, chegamos ao conceito de registro
sanitário de medicamentos, baseado na comprovação da qualidade, segurança e
eficácia desses produtos antes de serem disponibilizados à população. No contexto
atual do registro sanitário de medicamentos, a comprovação da segurança e eficácia
se apoia nos princípios da Medicina Baseada em Evidências (MBE), abordagem na
qual a tomada de decisão em saúde é lastreada em evidências com maior nível de
confiança possível. Na MBE os Ensaios Clínicos Randomizados Controlados (ECRC)
são considerados o tipo de estudo menos sujeito a vieses e, portanto, capaz de gerar
as evidências mais confiáveis. Todavia, um ECRC mal delineado ou não
adequadamente conduzido pode ocultar vieses potencialmente prejudiciais às
conclusões do estudo. Por isso, ferramentas de avaliação de ECRC foram criadas
para identificar qual o nível de confiança que podemos ter nos resultados e conclusões
de um estudo. Assim, diante da necessidade da adequada avaliação da segurança e
eficácia de medicamentos, o objetivo deste trabalho foi elaborar um Guia para
avaliação dos relatórios de segurança e eficácia apresentados à Anvisa em petições
de registro, renovação de registro e pós-registro de medicamentos específicos,
fitoterápicos e dinamizados. Para tanto foram realizadas: a identificação dos requisitos
normativos mínimos para a comprovação de segurança e eficácia destas categorias
de medicamentos; a revisão de ferramentas para avaliação de ECRC disponíveis em
literatura científica; a consulta de guias relacionados a comprovação de segurança e
eficácia de medicamentos publicados pela Anvisa e autoridades sanitárias
estrangeiras. A partir das informações obtidas, o Guia foi construído e organizado em
formato eletrônico na plataforma Limesurvey. A implementação do Guia proposto
nesta dissertação na rotina de trabalho da Anvisa resultará em análises de registro e
medicamentos mais efetivas e padronizadas, além da diminuição de indeferimentos e
notificações de exigência relacionados à segurança e eficácia de medicamentos.
Palavras-chave: medicina baseada em evidências. registro sanitário de
factors that impact the population's health, emerge the first modern concepts of health
surveillance in the 18
thcentury. The early regulations on medicines sought to ensure
quality and prevent adulteration of pharmaceutical products and the raw materials used
in their manufacture. Concern about safety and efficacy aspects would only take place
in the regulations after tragic episodes involving medicines in the 20
thcentury. Thus,
was developed the concept of drug marketing authorization, based on the need of
evidences of quality, safety and efficacy before they are made available to the
population. In this context, the evidence of safety and efficacy of a drug is based on
the principles of Evidence-Based Medicine (EBM), an approach in which health
decision-making relies on the most reliable evidence available. In the EBM approach
Randomized Controlled Trials (RCT) are considered the source of most reliable
evidence, however, a poorly designed or improperly conducted RCT conceals biases
that may affect the study's conclusions. Therefore, RCT assessment tools were
created to identify how much confidence we can have in the results and conclusions
of a study. The objective of this paper was to develop a Guide for the evaluation of
safety and efficacy reports submitted to Anvisa in petitions for marketing authorization,
renewal of marketing authorization and post-market changes of specific drugs, herbal
drugs and homeopathics. To achieve this purpose, the regulatory requirements to
prove the safety and efficacy of these drug categories were identified, RCT
assessment tools available in the scientific literature were reviewed and guidelines on
safety and efficacy of medicines published by Anvisa and foreign health authorities
were consulted. The Guide was built on the Limesurvey electronic platform. The
implementation of the Guide proposed in this dissertation at Anvisa's work routine will
result in more effective and standardized dossier analysis and also in a reduction on
marketing authorisation refusal and information request related to medicines safety
and eficacy.
Keywords: evidence-based medicine. marketing authorization. randomized controlled
Biológicos (GGMED). ... 20
Figura 2: Estrutura básica de um ECRC. ... 26
Quadro 2: As relações entre nível da evidência e grau de recomendação estabelecidos
por Sackett. ... 29
Quadro 3: Hierarquização de evidências conforme o sistema GRADE. ... 30
Quadro 4: Lista de sítios eletrônicos de autoridades sanitárias e organismos de
harmonização consultados. ... 37
Quadro 5: Lista de Leis e Normas identificadas com requisitos e segurança e eficácia
aplicáveis aos medicamentos específicos, fitoterápicos e dinamizados. ... 38
Quadro 6: Lista de Guias nacionais sobre segurança e eficácia de medicamentos. 40
Quadro 7: Lista de Guias internacionais sobre segurança e eficácia de medicamentos
... 41
Quadro 8: Artigos de revisão sobre ferramenta de avaliação de qualidade de
evidências ...43
AFSSAPS
L'Agence Française de Sécurité Sanitaire dês Produits de Santé
ANMAT
Administración Nacional de Medicamentos, Alimentos y
Tecnología Médica
ANVISA
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CBPF
Certificado de Boas Práticas de Fabricação
CBRES
Coordenação de Bula, Rotulagem, Registro Simplificado e
Nome Comercial
CETER
Coordenação de Equivalência Terapêutica
CMAJ
Canadian Medical Association Journal
COFEPRIS
Comisión Federal para La Protección contra Riesgos Sanitarios
COIFA
Coordenação de Registro de Insumos Farmacêuticos Ativos
COINC
Coordenação de Inovação Incremental
COOPI
Coordenação de Propriedade Intelectual
COPEC
Coordenação de Pesquisa Clínica em Medicamentos e
Produtos Biológicos
CPHD
Concentrado poli eletrolítico para hemodiálise.
CPMEC
Coordenação de Pós-Registro de Medicamentos de Menor
Complexidade
ECRC
Ensaios Clínicos Randomizados Controlados
EMA
European Medicines Agency
EMEA
European Medicines Evaluation Agency
EU
European Union
EUA
Estados Unidos da América
FDA
Food and Drug Administration
GESEF
Gerência de Avaliação de Segurança e Eficácia
GGMED
Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos
GMESP
Gerência de Medicamentos Específicos, Fitoterápicos,
Dinamizados, Notificados e Gases Medicinais
GPBIO
Gerência de Avaliação de Produtos Biológicos
Requirements for pharmaceuticals for Human Use
IN
Instrução Normativa
INHRR
Instituto Nacional de Higiene "Rafael Rangel"
INVIMA
Instituto Nacional de Vigilancia de Medicamentos y Alimentos
ISP
Instituto de Salud Pública de Chile
MBE
Medicina Baseada em Evidências
MF
Medicamento Fitoterápico
NT
Nota Técnica
OMS
Organização Mundial da Saúde
PTF
Produto Tradicional Fitoterápico
RDC
Resolução da Diretoria Colegiada
SIGN
Scottish Intercollegiate Guidelines Network
SPGV
Soluções Parenterais de Grande Volume
SPPV
Soluções Parenterais de Pequeno Volume
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
1.7
2
3
3.1
3.2
4
4.1
4.2
4.3
4.4
5
5.1
5.2
5.3
5.4
6
7
8
9
Regulação de medicamentos ...
Regulação de medicamentos no Brasil ...
Registro sanitário de medicamentos ...
Categorização dos medicamentos e organização da Gerência-geral de
Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa ...
Medicina Baseada em Evidências (MBE) ...
Ensaios Clínicos Randomizados Controlados (ECRC) ...
Ferramentas para avaliação de evidências ...
JUSTIFICATIVA ...
OBJETIVOS ...
Objetivo Geral ...
Objetivos Específicos ...
MATERIAS E MÉTODOS ...
Requisitos mínimos para a comprovação de segurança e eficácia ...
Guias e orientações sobre a comprovação de segurança e eficácia ...
Ferramentas para avaliação de qualidade de ensaios clínicos ...
Elaboração do Guia ...
RESULTADOS E DISCUSSÕES ...
Requisitos mínimos para a comprovação de segurança e eficácia ...
Guias e orientações sobre a comprovação de segurança e eficácia ...
Ferramentas para avaliação de qualidade de ensaios clínicos ...
Elaboração do Guia ...
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...
CONCLUSÃO ...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...
APÊNDICE ...
11
13
16
18
22
25
28
32
35
35
35
36
36
36
37
37
38
38
40
43
45
47
48
49
60
1.
INTRODUÇÃO
1.1
Regulação de medicamentos
Historicamente, o desenvolvimento de terapias foi resultado das
observações de relações causa-efeito efetuadas, principalmente, pelos curadores.
Nas diversas civilizações, tais homens que detinham o poder do alívio e cura das
enfermidades, se confundiam com sacerdotes e, devido a sua importância,
rivalizavam com chefes e governantes em suas comunidades. Em procedimentos
terapêuticos envoltos em rituais misteriosos e místicos, placebos como pó de múmia
e asa de morcego eram utilizados em conjunto com outras tantas substâncias ativas
sem que ninguém soubesse ao certo qual deles era responsável pela cura (MELLO;
OLIVEIRA; CASTANHEIRA, 2008).
Ainda na época de Hipócrates, cerca de 400 anos antes de Cristo,
começaram as preocupações em separar o conhecimento obtido da experiência
descontrolada dos curadores daquele obtido por investigações mais rigorosas sobre
os efeitos das terapias em saúde (DJULBEGOVIC; GUYATT, 2017). Além disso,
diante do prestígio e influência que os curadores gozavam em seus grupos sociais,
conforme mencionado anteriormente, governantes enxergaram a necessidade de
impor restrições, regulamentos e interferências nestas atividades, a fim de reduzir o
poder dos curadores (MELLO; OLIVEIRA; CASTANHEIRA, 2008).
Desde então, os controles e regulamentos que começaram sobre os
remédios, ampliaram-se para comportamentos, procedimentos e outros aspectos que
influenciavam positivamente a saúde da população, como os conceitos de esgotos,
banheiros e fornecimento de água de boa qualidade. Então começam a se estruturar
os primeiros conceitos de vigilância sanitária no mundo, inicialmente na Alemanha do
século XVIII, com o conceito de “polícia sanitária” (MELLO; OLIVEIRA;
CASTANHEIRA, 2008), ou "polícia médica", que compreendia o controle da saúde da
população pelo Estado concentrando-se no registro de epidemias e endemias
(KORNIS; et al., 2011) e que logo foi adotado por outros governos da época (MELLO;
OLIVEIRA; CASTANHEIRA, 2008). No mesmo período, intensificou-se, também, a
noção de que a prática médica deveria ser baseada em evidências empíricas
cientificamente confiáveis (DJULBEGOVIC; GUYATT, 2017).
Após esse primeiro momento, o desenvolvimento dos conceitos modernos
de vigilância sanitária passou a concentrar-se principalmente nos Estados Unidos
(EUA), onde foram promulgados importantes regulamentos como o Vaccine Act, de
1813, o Import Drug Act, de 1848, o Pure Food and Drug Act, de 1906, entre outros
tratados e estudos que, finalmente, culminaram com a criação da Food and Drug
Administration (FDA) em 1931, que passou a ser o órgão responsável pela expedição
destes atos, normas e procedimentos, muitos dos quais revolucionaram a vigilância
sanitária (MELLO; OLIVEIRA; CASTANHEIRA, 2008).
O modelo de processo regulatório pioneiro estabelecido pelo FDA
influenciou, nas décadas seguintes, a instituição de agências ou órgãos
especializados em outros países ao redor do mundo como, por exemplo, a Agência
Nacional e Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil, o Instituto Nacional de Higiene
"Rafael Rangel" (INHRR) na Venezuela, o Instituto de Salud Pública de Chile (ISP) no
Chile, a Administración Nacional de Medicamentos, Alimentos y Tecnología Médica
(ANMAT) na Argentina, o Instituto Nacional de Vigilancia de Medicamentos y
Alimentos (INVIMA) na Colômbia, a Comisión Federal para La Protección contra
Riesgos Sanitarios (COFEPRIS) no México, a European Medicines Evaluation Agency
(EMEA), L'Agence française de sécurité sanitaire dês produits de santé (AFSSAPS) e
a Agencia Española del Medicamento y Produtos Sanitários (AEMPS) na Espanha
(KORNIS; et al., 2011).
É interessante notar, pelo conteúdo dos atos promulgados até então, que
a preocupação da vigilância sanitária estava voltada quase que exclusivamente para
a garantia da qualidade e prevenção de adulterações dos alimentos e produtos
farmacêuticos, especialmente das matérias-primas utilizadas. Infelizmente os
conceitos e atos referentes à segurança e eficácia de medicamentos surgiram apenas
anos mais tarde após trágicos episódios envolvendo o uso de medicamentos (MELLO;
OLIVEIRA; CASTANHEIRA, 2008).
Dentre esses episódios cabe mencionar a morte de 107 pessoas nos EUA
em 1937, incluindo 36 crianças, devido insuficiência renal aguda causada pelo
dietilenoglicol - excipiente usado em um xarope de sulfanilamida. Como resposta à
tragédia foi editado o Food, Drug and Cosmétics Act, em 1938, que passou a exigir a
comprovação de segurança dos medicamentos antes da comercialização nos EUA.
Ainda mais grave foi o conhecido caso da talidomida no final da década de 1950, que
apesar de ter se mostrado um droga segura nos estudos de toxicidade realizados em
animais, causou mais de dez mil casos de focomelia, amelia e outros defeitos físicos
em fetos de mães que haviam utilizado o medicamento como antiemético e calmante
em vários países do mundo. Os EUA não sofreram com a tragédia graças à rigidez
trazida pelo Food, Drug and Cosmetics Act, que foi ainda complementado pelo
Harry-Kefauver Amendment, de 1962, que passou a exigir ensaios clínicos, ou seja, estudos
realizados em humanos, para a comprovação de segurança e eficácia dos
medicamentos antes de sua comercialização (TURNER, 2012). Dessa forma, pela
primeira vez ficava estabelecido o tripé qualidade, segurança e eficácia, três conceitos
que até os dias de hoje norteiam a avaliação para a autorização de comercialização
de medicamentos.
1.2
Regulação de medicamentos no Brasil
Apesar das muitas medidas sanitárias que haviam sido implementadas no
Brasil a partir da chegada da Família Real portuguesa em 1808, como a criação da
Inspetoria de Saúde Pública do Porto do Rio de Janeiro em 1820 e a reforma dos
serviços sanitários do Império em 1885, ou ainda, já no período da República, a
instituição da notificação compulsória de moléstias transmissíveis em 1891 e a
vacinação obrigatória em 1904 (PIOVESAN, 2002), os primeiros diplomas legais
relevantes para a regulação de medicamentos foram o Decreto n° 19.606, de 19 de
janeiro de 1931, e o Decreto n° 20.377, de 8 de setembro de 1931. Promulgados pelo
Governo Brasileiro com inspiração nos atos do FDA, regulamentavam o exercício da
profissão farmacêutica, o funcionamento das farmácias e indústrias farmacêuticas e
demais aspectos relacionados à comercialização de medicamentos no país. Estes
atos estabeleceram a obrigatoriedade de que toda “especialidade farmacêutica” (pois
ainda não havia o conceito de medicamento) fosse licenciada no Departamento
Nacional de Saúde Pública antes de sua disponibilização para a população (MELLO;
OLIVEIRA; CASTANHEIRA, 2008).
Em seguida vieram o Decreto n° 20.397, de 14 de janeiro de 1946 e sua
atualização, o Decreto n° 43.702, de 9 de maio de 1958, que traziam o regulamento
da indústria farmacêutica no Brasil. Nestes decretos a documentação exigida para a
obtenção da licença focava na descrição do produto e aspectos relacionados à
qualidade, não havendo, ainda, a exigência de se comprovar a segurança e a eficácia
dos medicamentos (SAID, 2004).
Tais decretos balizaram o controle sanitário de medicamentos por cerca de
30 anos, quando foram substituídos pela Lei n° 6.360, de 23 de setembro de 1976, e
o Decreto n° 79.094, de 5 de janeiro de 1977 (REDIGUIERI; DIAS; GRADIM, 2013)
que, apesar de inovar a legislação com o conceito de “registro de medicamento” e,
finalmente, determinar a necessidade de avaliação técnico-científica da segurança e
eficácia dos medicamentos, não determinou mudanças muito significativas na
regulação de medicamentos nas décadas seguintes, especialmente ao que se refere
à avaliação de segurança e eficácia.
Conforme apontado por Said (2004), a vigilância sanitária, historicamente,
sofreu com a carência de recursos administrativos, financeiros, estruturais e,
principalmente, de recursos humanos qualificados. Aliado a este contexto caótico,
durante esse período até 1997 quando entrou em vigor a Lei de Patentes (Lei n° 9.279,
de 14 de maio de 1996), os medicamentos similares
1, cuja avaliação de segurança e
eficácia era dispensada, representavam grande parte da demanda de solicitação de
_____________________
1