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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO LETÍCIA CAROLINA DE PINHO CONCEIÇÃO SARA MUNIZ LOPES

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Academic year: 2022

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LETÍCIA CAROLINA DE PINHO CONCEIÇÃO SARA MUNIZ LOPES

SERVIÇO SOCIAL E CONSERVADORISMO: UMA ANÁLISE DOS ARTIGOS SOBRE O TEMA PUBLICADOS NOS ANAIS DO 16º CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS (CBAS)

SANTOS

2021

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LETÍCIA CAROLINA DE PINHO CONCEIÇÃO SARA MUNIZ LOPES

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

SERVIÇO SOCIAL E CONSERVADORISMO: UMA ANÁLISE DOS ARTIGOS SOBRE O TEMA PUBLICADOS NOS ANAIS 16º CONGRESSO

BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS (CBAS)

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, como pré-requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Serviço Social, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Joana das Flores Duarte.

SANTOS

2021

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LETÍCIA CAROLINA DE PINHO CONCEIÇÃO SARA MUNIZ LOPES

SERVIÇO SOCIAL E CONSERVADORISMO: UMA ANÁLISE DOS ARTIGOS SOBRE O TEMA PUBLICADOS NOS ANAIS 16º CONGRESSO

BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS (CBAS)

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, como pré-requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Serviço Social, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Joana das Flores Duarte.

Aprovação em: _______________

EXAMINADORES:

_________________________________________________________________

Prof. Dr.

Universidade Federal de São Paulo

_________________________________________________________________

Prof. Dr.

Universidade Federal de São Paulo

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Conceição, Leticia Carolina de Pinho. Lopes, Sara C744s Muniz.

Serviço Social e Conservadorismo: uma análise dos artigos sobre o tema publicados nos anais do 16°

Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS).

/ Leticia Carolina de Pinho Conceição, Sara Muniz Lopes; Orientadora Joana das Flores Duarte;

Coorientador . -- Santos, 2021.

89 p. ; 30cm

TCC (Graduação - Serviço Social) -- Instituto Saúde e Sociedade, Universidade Federal de São Paulo, 2021.

1. Serviço Social. 2. Conservadorismo. 3.

Capitalismo. 4. Estado. I. Duarte, Joana das Flores, Orient. II. Título.

CDD 361.3

Ficha catalográfica elaborada por sistema automatizado com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Bibliotecária Daianny Seoni de Oliveira - CRB 8/7469

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AGRADECIMENTOS

―Nossas mãos ainda encaixam certo Peço um anjo que me acompanhe Em tudo eu via a voz de minha mãe Em tudo eu via nóis

A sós nesse mundo incerto Peço um anjo que me acompanhe Em tudo eu via a voz de minha mãe

Em tudo eu via nóis‖.

Mãe-Emicida

A minha avó materna Sônia, que onde quer que esteja, me acompanhou em cada passo em uma cidade nova e dentro de uma universidade pública, a ela mulher e preta, dedico cada conquista da minha vida, fiz tentativas de te orgulhar do começo ao fim, meu maior desejo era que a sua presença física estivesse aqui para olhar de perto onde consegui chegar.

A minha avó paterna Maria Aparecida, empregada doméstica que cuidou de três filhos sozinha e não conseguiu terminar o estudo, saiba que esteve presente quando cheguei na sua Baixada Santista e almejei conquistar ali o que a senhora não teve oportunidade de acessar.

A essas mulheres que chegaram antes, que orientaram os meus pais, Sandra e Aguinaldo, fazendo com que eles almejassem o melhor pra mim, indo além das nossas condições para que eu concluísse esse caminho. E a todas as outras mulheres que vieram, estão e virão me comprometo que a cada passo me colocarei a disposição para que vocês tenham a mesma oportunidade que eu.

Letícia Carolina de Pinho Conceição

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Agradeço primeiramente a todos os meus familiares que de alguma forma foram suporte para que eu conseguisse trilhar essa jornada na universidade e para que eu chegasse até aqui. Em alguns momentos as coisas se tornaram um pouco difíceis, mas com vocês certamente tudo ficou muito mais fácil. Pai e mãe, obrigada por terem me dado a vida e por darem o melhor de si para que hoje eu estivesse aqui. Obrigada às minhas irmãs Fabi e Lu, à minha madrinha dona Hilda, que sempre apoiaram os meus sonhos. À minha tia Rosa, por me permitir crescer tanto no convívio que tivemos.

Agradeço à minha melhor amiga, Giovanna Vernice, minha eterna alma gêmea que sempre compreendeu as minhas inquietações, que me deu todo apoio do mundo desde o momento que escolhi cursar Serviço Social, e que continuamente me lembra da importância de seguir o coração, de buscar o melhor sempre. Certamente foi graças a você que eu segui firme no meu sonho de escolher essa profissão transformadora.

Também quero agradecer à minha supervisora Dulcilene Santiago e a todos/as os/as trabalhadores/as do CAMP-PG, instituição onde realizei o estágio. Sinto-me grata por ter tido a oportunidade de me inserir em um local no qual assistentes sociais estão tão comprometidos com a sua atuação, me dando exemplos de profissionalismo e compromisso com os/as sujeitos/as atendidos/as.

A todos/as os/as colegas e professores/as da Unifesp que foram fundamentais para a minha formação pessoal e profissional. Em especial à Letícia Pinho, por ter construído comigo este trabalho e tantos outros. Todas as experiências e aprendizados que tive contribuíram imensamente na construção de um pensamento mais crítico frente às adversidades desse sistema tão cruel.

E por último, mas não menos importante, à Prof.ª Dr.ª Joana das Flores, por ter chegado à Unifesp com questionamentos tão importantes, e por fazê-los de forma tão brilhante que nos encheu os olhos de admiração. Obrigada por gentilmente aceitar nos orientar na construção deste TCC.

Sara Muniz Lopes

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“Falo assim sem saudade Falo assim por saber Se muito vale o já feito

Mais vale o que será E o que foi feito É preciso conhecer Para melhor prosseguir

Falo assim sem tristeza Falo por acreditar Que é cobrando o que fomos Que nós iremos crescer Outros outubros virão Outras manhãs plenas de sol e de luz.”

Milton Nascimento e Fernando Brant.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo geral analisar e compreender os conceitos e referências sobre o conservadorismo no campo do Serviço Social, através da revisão bibliográfica dos anais do 16° Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), realizado em 2019. Tem como precedência a identificação de debates e discursos sobre conservadorismo no campo do Serviço Social, examinando discursivamente como o tema é exposto nos eixos de formação e atuação profissional, e apontar as aproximações e dissensões entre as análises realizadas sobre o tema. Todos estes trabalhos conversam entre si e podem nos dar subsídio específico referente ao conservadorismo para entendermos esta questão estrutural na atualidade.

Palavras-chave: Conservadorismo. Capitalismo. Estado. Serviço Social.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social BPC - Benefício de Prestação Continuada

CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais CFAS - Conselho Federal de Assistentes Sociais CFESS - Conselho Federal de Serviço Social CRESS - Conselho Regional de Serviço Social

ENESSO - Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social GPE - Grupo Permanente de Estudos

MEC - Ministério da Educação PT - Partido dos Trabalhadores

TCC - Trabalho de Conclusão de Curso UNE - União Nacional dos Estudantes

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

Capítulo 1 - Fundamentos do conservadorismo: uma rememoração necessária ... 14

1.1 Edmund Burke: o ―pai‖ do conservadorismo ... 14

1.2 Pensamento conservador e Serviço Social: por uma análise crítica marxista ... 18

1.3 Social e Conservadorismo Punitivista: a contradição permanente entre Estado Penal e Estado Social ... 25

Capítulo 2 - Serviço Social e produção do conhecimento: uma análise dos artigos sobre conservadorismo publicados no 16° CBAS de 2019 ... 32

2.1 Percurso Metodológico - os caminhos da pesquisa ... 33

2.2 Estado ... 48

2.3 Capitalismo ... 55

2.4 Conservadorismo ... 60

2.5 Serviço Social ... 68

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 75

REFERÊNCIAS ... 85

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho ressalta a importância do debate ampliado e da discussão aprofundada do tema do conservadorismo, entendendo que este, sendo parte da estrutura da sociedade capitalista, incide sobre o Serviço Social, profissão na qual estamos inseridas enquanto estudantes, buscando promover a reflexão dos impactos dessa perspectiva ideológica sobre a classe trabalhadora e sobre os/as assistentes sociais que dela fazem parte.

Terá como base a análise dos 35 trabalhos publicados nos anais do 16° Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), realizado no ano de 2019, que trataram especificamente sobre o tema do conservadorismo no Serviço Social, especificamente nos eixos da formação e da atuação profissional, mas elencando também os trabalhos que abordaram temáticas transversais ao objetivo de pesquisa. A análise das produções intelectuais permite visualizar com riqueza de argumentos como a profissão está percebendo o conservadorismo, e quais movimentos está fazendo no sentido de buscar a sua superação.

Entendemos que atualmente estamos passando por uma conjuntura em que as expressões da Questão Social e suas consequências têm sido cada vez mais individualizadas, fazendo com que tanto a formação profissional quanto as intervenções dos/as assistentes sociais corram o risco de desvincular-se do contexto social, cultural e histórico das pessoas e das comunidades, serviços e espacialidades em que atuam cotidianamente, representando um viés conservador a ser repensado. Nesse sentido, o presente trabalho de conclusão de curso, entende como necessário o debate da formação e exercício profissional no enfrentamento das demandas advindas no cotidiano social de uma sociedade refém do sistema capitalista e de suas produções desiguais.

O processo de formação no curso de graduação em Serviço Social nos trouxe muitos debates que ampliaram o entendimento acerca da sociedade e de suas contradições, também de como a profissão pensa esses elementos contraditórios e a importância da atuação profissional em consonância com uma visão crítica que parta da realidade concreta. Tendo o conservadorismo como cerne principal de debate entre os acadêmicos e estudiosos desde os primórdios da profissão até atualmente no fazer profissional, buscamos mostrar na presente pesquisa, os impactos que o pensamento conservador teve e ainda tem no Serviço Social e os/as assistentes sociais se posicionam e atuam face essa questão.

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Consideramos importante discutir e analisar o pensamento conservador na profissão não apenas como uma matriz ideológica que esteve presente na profissão, mas que segue sob forte influência dos projetos de Estado e sociedade que se conformam no processo histórico.

Com isso, buscamos mostrar que o pensamento conservador ressurge na profissão na medida em que os processos democráticos e os direitos sociais são postos em xeque. Levando em consideração que a profissão é também produto da contradição entre capital e trabalho, sem ignorar que essas transformações societárias impactam também os processos de trabalho em que se inserem os/as assistentes sociais.

A busca por estudar a temática está sustentada pelo nosso interesse em investigarmos a influência do pensamento conservador nos processos de formação e atuação profissional na contemporaneidade. Mesmo diante de um longo processo de atualização, tomada de novas referências teóricas e pela construção de novos horizontes para a categoria, entende-se que a atuação conservadora está para além das suas representações marcadamente moralizadoras e punitivistas, mas também na inviabilidade de ampliar debates sobre temas como:

descriminalização do aborto, lei de alienação parental, sexualidades, religiosidade, entre outros.

Mas também não descartando os impactos que o pensamento conservador tem para além da profissão, considerando que não é um fruto do Serviço Social e impacta diretamente a sociedade como um todo. A partir do exposto buscamos desenvolver esse tema para ampliar a discussão sobre o Serviço Social e o Conservadorismo, considerando o processo social e histórico da profissão, buscando assim entender suas contradições e a forma velada do pensamento conservador nos processos formativos e interventivos. O Serviço Social, enquanto profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, não está isento de reproduzir preconceitos e segregações intrínsecos à lógica da sociedade capitalista, podendo tanto reforçar tais ideias, como também defender um projeto societário radicalmente diferente.

Entender como o conservadorismo ainda está presente no modo de atuar dos/as assistentes sociais é imprescindível, para que, através dessa investigação, possamos decifrar as contradições e assim contribuirmos para o avanço não só no debate sobre conservadorismo, mas na sua identificação nos processos de formação e trabalho em que se inserem estudantes e profissionais na área do Serviço Social.

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Dito isso, o objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso é o de analisar e compreender as concepções e discursos sobre o conservadorismo no âmbito do Serviço Social a partir da revisão bibliográfica dos trabalhos apresentados ao 16° CBAS, apontando as aproximações e dissensões entre as análises feitas pelos/as autores, observando o caminho ideológico que percorreram em relação ao exposto nas suas pesquisas, com base na metodologia de Volochinov (2017).

Para tanto, o presente trabalho encontra-se estruturado em dois capítulos, nos quais abordaremos o que consideramos ser essencial para compreender e reconhecer o pensamento conservador enquanto elemento constituinte da sociabilidade da ordem do capital, analisando o que foi proposto pelos trabalhos enumerados.

No primeiro capítulo retomaremos o debate dos fundamentos do pensamento conservador, considerando que entender o surgimento de tal concepção a partir de sua historicidade e do reconhecimento claro das implicações sobre os movimentos contraditórios da sociedade é fundamental. Buscamos aprofundar a análise indo ao encontro das características que compõem o conservadorismo, seu surgimento e suas alterações históricas.

Já no segundo capítulo adensaremos a discussão fazendo a mediação entre os autores referenciados no primeiro capítulo e os trabalhos apresentados ao 16° CBAS que selecionamos. Dialogaremos com as publicações de modo a apreender o discurso que apresentaram, a partir de questões norteadoras que consideramos serem relevantes para a análise e reflexão.

Ademais, sabemos da incessante busca pelo fortalecimento dos debates que envolvem tanto os profissionais que estão inseridos nos processos de trabalho, quanto os que atuam e estão no processo de formação profissional, na tentativa de construir um projeto que se volte cada vez mais para a população e pela conquista de outra sociabilidade. Pesquisar, entender e debater o conservadorismo é fundamental para sua superação, e isso implica desocultar a sua face atuante tanto no âmbito da formação, quanto da atuação profissional. Esperamos contribuir nesse sentido, chamando atenção para a problemática e possibilitando a ampliação do debate rumo à superação do pensamento conservador.

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Capítulo 1 - Fundamentos do conservadorismo: uma rememoração necessária

Entender e, imprescindivelmente, conceituar o conservadorismo é de suma importância para as análises que serão feitas ao longo do presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O objetivo deste capítulo é rememorar o contexto sócio-histórico em que o conservadorismo surgiu, para não só entendê-lo enquanto expressão das posições defendidas por teóricos que o elaboraram num dado momento de intensas transformações sociais, mas também perceber os impactos que tal concepção de mundo e de sociedade tiveram ao longo da história, influenciando até os dias de hoje. Em especial, recuperar o pensamento de Edmund Burke, autor indispensável para essa discussão.

Pensar como o conservadorismo e suas vertentes afetaram e afetam o Serviço Social brasileiro é o propósito central do presente trabalho, que busca ser radical – no sentido de buscar as raízes do que se pretende conhecer – para compreender as questões que dizem respeito à profissão, quais caminhos foram tomados por ela com vistas a romper o vínculo com práticas que intentam conservar o modelo exploratório de sociedade e suas implicações indissociáveis. Entender o papel fundamental do Estado é primordial em todo esse processo, reconhecendo que seu projeto incide na sociedade como um todo, e do qual o Serviço Social não está distante, na busca pela percepção da totalidade da realidade e para uma apurada apreensão dos elementos que serão analisados.

1.1 Edmund Burke: o “pai” do conservadorismo

No contexto da Revolução Francesa, em 1789, Edmund Burke escreve seu principal trabalho, pelo qual seria lembrado por toda a história: Reflexões sobre a revolução na França, publicado em 1790. Nascido em Dublin, Irlanda, no ano de 1729, esteve intensamente atuante na política ao longo de sua vida, o que não teria sido diferente neste extraordinário momento histórico. Elaborou fortes críticas ao movimento que estava ocorrendo na França, opondo-se veementemente aos acontecimentos da Revolução, bem como aos rumos tomados pela mesma, que iam contra ao que o mesmo acreditava.

O conservadorismo, que já estava presente na época, tem como elaboração fundamental, que corrobora na atualidade, o pensamento proposto por Burke em 1790, sendo ele a referência indispensável para se entender tal concepção teórico-política. O conservadorismo clássico é notadamente atribuído a este autor, embasado pela sua principal

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obra anteriormente citada, utilizando-se de seus argumentos contrários ao movimento revolucionário da França para assentar ideais que defendiam a aristocracia da época. ―As Reflexões se estabelecem como o marco da tradição conservadora. Nelas, estão condensados também os ideais culturais e simbólicos das classes sociais golpeadas pela Revolução Francesa‖ (SOUZA, 2016, p. 362).

Para contextualização histórica, pode-se dizer que o conservadorismo clássico é aquele que compreende o período durante e pós Revolução Francesa, entre 1789 e 1914, sendo caracterizado como um sistema de pensamentos que tinha como fim evitar a dominação ideológica, política e econômica emergente na época, ocorrida por meio da ascensão burguesa e pelo desenvolvimento das forças produtivas com o capitalismo nascente.

Eram inúmeras as transformações sociais e institucionais ocorridas na época, as quais os conservadores lutavam contra.

É nesse contexto que estão situadas [...] as formulações de Edmund Burke (1729- 1797), Joseph de Maistre (1753-1821), Klemens Von Metternich (1773-1859), Benjamim Disraeli (1804-1881) e Alexis de Tocqueville (1805-1859). Ainda que alguns conservadores contemporâneos [...] afirmem que as raízes da tradição conservadora inglesa remontam ao século XVI, é possível considerar esse conjunto de pensadores como fundadores do conservadorismo clássico, com destaque para Edmund Burke (SOUZA, 2015, p. 4).

Para Burke a revolução é um ponto em que a ordem social é afetada pela barbárie e as tradições são rebaixadas, onde a revolução é sinônimo de desordem e destruição. Para ele, é mais positiva uma aliança de classes que não altere os mecanismos, mantendo o poder nas mãos dos que controlam os que estão abaixo na escala social. Especificamente ele faz essa reflexão em volta da Revolução Francesa (SOUZA, 2016).

O anseio é por uma ―revolução sem revolução‖, sendo assim, por mudanças feitas de cima para baixo, pragmáticas, que sejam apenas para manter as tradições já determinadas e que não sejam guiadas por uma determinada parcela da sociedade: os proletários. Essas transformações deveriam ser feitas com total distanciamento popular, deixando de lado as vontades em volta da democracia e a noção de luta por direitos.

O liberalismo foi um importante sustentáculo para o conservadorismo (SOUZA, 2016), mas foi logo em seguida, com a formação do pensamento conservador moderno e, após, as influências do positivismo, que de fato ocorreu essa aproximação. Para a devida conservação da sociedade de classes era imprescindível a presença do pensamento liberal, uma vez que é por meio dele que a lógica da exploração tem sua base. Os ideais defendidos por ambos os

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pensamentos quanto à defesa da propriedade privada, do individualismo e da manutenção da ordem culminaram para essa indissociável aproximação.

Outra característica importante para se destacar acerca deste pensamento conservador é a relevância do irracionalismo, sendo um símbolo fundamental que está presente no conservadorismo, pois este nega a razão e afirma uma concepção pragmática, imediatista, tanto de ação como de pensamento, e, juntamente, não reconhece a ciência.

Ainda segundo o pensamento de Burke, exposto por Souza (2016), o Estado tem o dever de proteger e garantir a propriedade privada, mas os pobres ficariam com inveja e almejariam os mais ricos, alterando a ordem natural societária. A delimitação dos indivíduos em grupos marginalizados, ocasionando preconceitos e exclusões é algo tido como natural, ocorrendo, como visto mais recentemente na história, em governos fascistas.

Já entre os finais da década de 1910 até 1960-70 ressalta-se o pensamento conservador moderno, agora incorporado às necessidades da sociedade capitalista, uma vez que o pensamento conservador clássico não deu conta de ―conservar‖ a antiga ordem, submetendo- se à sociedade burguesa. Para tanto, como indica Souza (2015), o positivismo teve papel importante enquanto um impulsionador do pensamento conservador, do mesmo modo que causou modificações, permitindo sua adequação à sociedade capitalista.

Desse modo, foi a partir desse processo que o conservadorismo deixou de lutar contra o capitalismo e passou a servi-lo. Se antes o objetivo era a luta contra a burguesia, agora a luta era ao lado desta e contra o novo ―inimigo‖ da ordem: a classe trabalhadora. Assim, o positivismo ―realinhou o foco das disputas políticas dos conservantistas, de posições antiburguesas para posições antiproletárias e, por derivação, contrarrevolucionárias‖

(SOUZA, 2015, p. 5).

Atualmente tem-se que o conservadorismo normalmente está atrelado às diversas posições que vão contra mudanças sociais em prol da classe trabalhadora, ainda que estas não vislumbre uma revolução em si. Modificações nas mais variadas esferas, sejam sociais, econômicas, e, principalmente, políticas são motivo de preocupação, pois consigo trazem as forças capazes de tirar daqueles que detêm o poder o seu lugar de privilégio e de domínio.

É implicado como conservador o indivíduo ou grupo político contrário, por exemplo, à luta pela universalização dos direitos e às demandas pela radicalização da democracia. Tal posição costuma estar associada também à adesão à ideologia do mercado, que envolve desde a defesa da mercantilização cada vez maior da vida

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social, até a agenda de combate ao avanço dos direitos humanos. Nas instituições de produção de conhecimento, por outro lado, o conservadorismo é, na maior parte das vezes, tomado genericamente. O conteúdo político, teórico e social dessa corrente de pensamento e ação com frequência aparece fundido ao pensamento liberal.

Liberalismo e conservadorismo são tomados, corriqueiramente, como sinônimos.

(SOUZA, 2016, p. 361)

Para efeitos de comparação, de acordo com o enumerado por Souza (2015) algumas mudanças significativas de posição do conservadorismo moderno em relação ao conservadorismo clássico são:

(i) eles dificilmente assumem uma filiação teórica ou tradição ideológica, considerada pejorativamente como dogmas; (ii) diferentemente dos primeiros conservadores, os contemporâneos valorizam o presente e não são nostálgicos de formas sociais passadas; (iii) aproximam-se do pragmatismo, ou, no mínimo, de um acentuado empirismo, na medida em que valorizam ―o possível‖, a situação dada tal como se apresenta; (iv) atualmente, conservadorismo não significa oposição a qualquer tipo de mudança, mas a determinados tipos específicos de mudança, a saber, aquelas que possam ser desencadeadas pelas classes dominadas (p. 11).

Em síntese, o conservador moderno busca o caminho do meio, sem remeter-se ao passado histórico – o que representa uma perda considerável, já que o passado é um elemento importante para compreensão da totalidade dos fenômenos analisados – e sem objetivar um futuro alcançado por meio de uma revolução e de modificações na estrutura social. Mudanças são necessárias na medida em que beneficiam a manutenção da ordem, mas não são aceitas quando são promovidas pela classe trabalhadora. .

Neste momento o irracionalismo não é aceito completamente, e ocorre a valorização, pelo pensamento conservador moderno, do uso da razão, mas sempre havendo crítica ao racionalismo moderno. O racionalismo tenderia ao conhecimento da realidade apenas pela via teórica, enquanto que o saber empírico deveria ser o ―método‖ mais pertinente. Assim indica Souza (2015):

para os conservadores, a experiência, de onde provém o saber prático, fornece os melhores referenciais para orientação da ação social. O saber teórico tenderia a deduzir os posicionamentos políticos a partir de elaborações ideais, o que significaria fazer abstração das condições objetivas de uma dada sociedade (essa conclusão, por parte dos conservadores, decorre da sua visão reificada da relação teoria e prática) (p.12).

Em suma, o pensamento conservador influenciou a Europa e teve suas particularidades no continente americano, chegou aos Estados Unidos e à América Latina atravessando os séculos e alcançando a atualidade. As condições sociais e as crises, em

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especial a crise institucional e a fragilidade dos processos democráticos, permitiram que o conservadorismo chegasse também ao Brasil.

Observa-se, em anos recentes, o crescimento expressivo da publicação de obras e autores de repercussão nacional e internacional, ligados organicamente ao conservadorismo formulado por Edmund Burke. Autores como Russell Kirk, Michael Oakeshott, Roger Scruton, entre outros de expressão internacional, passam a tomar espaço significativo no mercado editorial brasileiro. Ao lado deles, um conjunto de divulgadores brasileiros do liberalismo, comumente inspirados pelas ideias elaboradas pelo Instituto Ludwig von Mises, passaram a defender, também, algumas ideias do conservadorismo. Tudo isso ocorrendo em paralelo à assim chamada ―escalada conservadora‖, que ganha densidade na cultura e na política institucional (SOUZA, 2016, p. 362).

Assim, o conservadorismo se aproxima da realidade social brasileira compondo a sociedade desde os seus primórdios. É elemento fundamental no contexto sócio-histórico de surgimento do Serviço Social, sendo base para a sociedade e indiscutivelmente para a profissão, como será visto adiante.

1.2 Pensamento conservador e Serviço Social: por uma análise crítica marxista Para compreender as raízes do conservadorismo no Serviço Social brasileiro é necessário valer-se do conhecimento histórico no que diz respeito ao processo de surgimento e formação da profissão, o que permite também o entendimento dos rumos tomados nos dias atuais pelo Serviço Social, já que os processos históricos são fundamentais na análise das condições atuais e da conjuntura do país, uma vez que estas interferem no reconhecimento da profissão diante da sociedade, na sua afirmação, bem como no fazer profissional junto aos sujeitos sociais.

O Serviço Social surge, no contexto da década de 1930, emergindo diante de um cenário de crise mundial1, também conhecida como grande depressão, que teve uma estagnação econômica, atingindo o capitalismo mundial no final da década de 20, desmistificando o liberalismo econômico, tendo como motivação a especulação financeira e a superprodução. Com o intenso processo de urbanização e industrialização do país, em que a classe trabalhadora surgia como parte intrínseca desses processos, a mesma passava cada vez mais a reivindicar respostas às suas necessidades. O Estado é pressionado a atender parte de

1―o fim da década de 1920 é, portanto marcado pela decadência da economia cafeeira – cuja crise, afora certos intervalos, se prolongará ainda por mais de uma década – e pelo amadurecimento das contradições econômicas e complexidade social geradas pelo desenvolvimento capitalista realizado sob a égide da expansão do café‖

(IAMAMOTO, 2006, p. 149).

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suas reivindicações, que vinha sofrendo com o crescente pauperismo que os assolava, bem como com a falta de condições dignas de trabalho para a produção e reprodução social da vida.

O Estado vincula-se à Igreja Católica como forma de responder a essas demandas, fortalecendo o viés da prática da caridade cristã, do assistencialismo e da benemerência que marcam as proformas do Serviço Social (CARVALHO; IAMAMOTO, 2006). É somente a partir do governo de Getúlio Vargas que as primeiras legislações sociais e trabalhistas surgem, decorrentes não somente das pressões feitas pelos trabalhadores, mas também como forma de ―contenção‖ das revoltas e insatisfações sociais que eram prejudiciais à burguesia em ascensão na época.

Enquanto profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, como resultado desse processo histórico específico de desenvolvimento tardio do capitalismo na sociedade brasileira, do acirramento da exploração dos trabalhadores e do aumento do pauperismo e da desigualdade, os/as assistentes sociais foram chamados para ―intervirem‖ nas expressões da Questão Social. Uma vez que o Estado incorpora parte das reivindicações sociais em nome da ordem e da manutenção do capital (CARVALHO; IAMAMOTO, 2006), esses profissionais são fundamentais, atuando junto à classe trabalhadora, e nesse momento histórico, à serviço do capital. Nas palavras de Carvalho e Iamamoto (2006), esse momento histórico foi marcado pelas:

[...] as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre proletariado e burguesia [...] (p. 77).

Nesse sentido, o surgimento da profissão estava diretamente ligada a uma necessidade de um corpo profissional capaz de atuar junto aos setores da classe trabalhadora num viés procedimentalista, empirista e positivistas. Elementos que compõem a base fundante da relação entre o pensamento conservador e sua estruturação na realidade brasileira via Estado.

Assim, tendo como surgimento o referido contexto, a profissão esteve e ainda está intimamente ligada à perspectiva conservadora, que nunca deixou de fazer parte da prática profissional. O conservadorismo, como aponta Boschetti (2015), é justamente um dos mecanismos que permitem a manutenção do capitalismo, da sua produção e reprodução e, indissoluvelmente, da exploração da classe trabalhadora.

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O pensamento conservador estava presente no momento do surgimento da profissão, na perspectiva adotada junto aos movimentos propostos pela Igreja, que serviram como instrumento de manutenção da ordem, destacando o projeto tradicional da profissão.

Posteriormente, com a influência norte-americana, a perspectiva conservadora foi reforçada com o pensamento positivista. As práticas profissionais são individualistas, moralizadoras, com vistas a enquadrar os sujeitos sociais na ordem do capital, submetendo-os às explorações do mundo do trabalho (CARVALHO; IAMAMOTO, 2006).

Assim, a conservação da sociedade capitalista tem como alicerce fundamental o conservadorismo, através das suas mais variadas formas de expressão, que incluem o punitivismo e a culpabilização dos indivíduos. Tal perspectiva os coloca como únicos responsáveis pela situação em que se encontram, desconsiderando os múltiplos fatores que determinam a vivência de todos os cidadãos dentro da lógica do capital.

Desse modo, enquanto a sociedade for pautada pela exploração do trabalho socialmente produzido, o conservadorismo estará presente, podendo avançar ou retroceder a depender dos movimentos de correlação de forças antagônicas emergentes no bojo societário, como também dos governos e de seus projetos, que direcionam o Estado, sendo um movimento contraditório, uma vez que determina e é determinado por essas forças que se confrontam. Essa mesma percepção estará em todos os âmbitos e camadas sociais, uma vez que se estabelece enquanto hegemonia de pensamento.

O Serviço Social, estando inserido nesses processos e não podendo se abster de compreendê-los, não ficará longe da concepção conservadora acerca da realidade social, podendo inclusive reproduzi-la tanto no campo da formação quanto, e, consequentemente, nos processos interventivos. Segundo Boschetti (2015):

o conservadorismo não é um traço exatamente novo e atual que distanciaria uma

―base‖ conservadora de assistentes sociais de uma suposta ―vanguarda‖

progressista. O que orienta essas reflexões é uma perspectiva que defende que o conservadorismo é, e sempre será, alimento imprescindível da reprodução do capital, e por isso nunca sai de cena. Ou seja, é um alimento central para conservar a sociedade capitalista e sempre estará a seu dispor. (BOSCHETTI, 2015, p.

639)

Podemos, a partir da autora, considerarmos que a superação do conservadorismo na sociedade não está apenas no âmbito da profissão, mas na disputa que essa enquanto classe trabalhadora forja coletivamente em disputas políticas mais amplas. Esses elementos são importantes para situarmos as contradições que se expressam no âmbito da profissão, na

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medida em que é essa grande partida requerida enquanto força de trabalho pelo Estado capitalista, cuja centralidade é atuar e intervir na realidade na contraditória relação entre assegurar direitos – na ordem do capital – e controlar a classe trabalhadora por meio desses direitos. Por outro lado, a profissão vinculada e horizontada a um projeto societário distinto, busca romper não somente a matriz conservadora, mas valer-se desse lugar institucional para atuar politicamente na denúncia desse controle e na luta política mais ampla por direitos de cidadania que propiciem o que Mészáros (2014) denomina como democracia substantiva almejando, assim, uma nova ordem societária em que a pese a classe trabalhadora protagonista.

Um marco histórico importante para a profissão é o contexto em que as/os assistentes sociais buscavam a recusa do conservadorismo, que até então pautava fortemente a profissão.

Decorrente do surgimento do Serviço Social no Brasil, de suas bases estabelecidas no âmbito da filantropia e da caridade com respaldo da Igreja Católica, como também reforçada pelo suporte técnico operacional das influências norte-americanas, passaram a ser objeto de questionamento e de recusa de suas manifestações.

Esse processo, chamado de Movimento de Reconceituação, ocorre a partir dos anos de 1960 e, é impulsionado, principalmente, pela efervescência de movimentos sociais. É um período extremamente relevante para a profissão no contexto da América Latina e de seus processos estruturais. A experiência revolucionária cubana, de 1959, foi um importante episódio na história das lutas sociais, como destaca Iamamoto (2019), que serviu de inspiração para que todo esse processo de renovação nas bases do Serviço Social pudesse acontecer.

Assim, pode-se dizer que nesse momento do cenário latino-americano o Serviço Social buscava romper com as antigas bases que fundaram a profissão. Ocorre nesse importante momento uma forte aproximação com as lutas, organizações e movimentos sociais a fim de, no efetivo reconhecimento das demandas da classe trabalhadora, encontrar novas influências e perspectivas que não fossem as estabelecidas pela hegemonia da classe dominante.

Os seminários promovidos pela profissão mostram o empenho na direção de uma reconceituação comprometida com as demandas e características do contexto latino- americano e com a classe trabalhadora. As bases teóricas e metodológicas são ecléticas, uma

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vez que a profissão ainda está na busca de seus referenciais. Nesse momento ocorrem aproximações e primeiros contatos com o marxismo, a teologia da libertação da Igreja Católica, no Brasil, a perspectiva da educação emancipatória com Paulo Freire, e influências como as da revolução chinesa e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS (IAMAMOTO, 2019).

Os eixos fundamentais de preocupação da classe profissional nesse momento, como aponta Iamamoto (2019), são principalmente a busca pelo reconhecimento das especificidades do cenário latino-americano, com a criação de um projeto profissional condizente com essas demandas, opondo-se a qualquer tradicionalismo que não busque o entendimento real da particularidade da América Latina.

Também era buscado nesse momento atribuir à profissão um estatuto científico, de produção e sistematização legítimas de conhecimentos, indo além do saber das ciências sociais já consolidadas (IAMAMOTO, 2019). Nisso, incluir a indispensável politização da ação profissional e o compromisso com a transformação social, por meio da reestruturação da formação profissional, permitindo a articulação entre ensino, pesquisa e prática.

O marco principal é o Congresso da Virada em 1979, que expressa concretamente a luta política e profissional pela hegemonia presente no Serviço Social brasileiro, confrontando as orientações oficiais do Conselho Federal de Assistentes Sociais - CFAS, ainda no período ditatorial. Nesse momento o processo objetiva a ruptura com os parâmetros conservadores, representando uma importante conquista para a categoria nessa época.

Entretanto, a prática profissional ainda se revela distante da compreensão ampla acerca da Questão Social. As técnicas são utilizadas, mas de modo desvinculado do entendimento abrangente da direção social do trabalho desempenhado pela/o assistente social, denotando, ainda, a fragilidade da identidade da profissão (IAMAMOTO, 2019).

A partir da década de 1980, emergem uma série de movimentos que, ao lado da recusa dos/das assistentes sociais ao projeto conservador, propiciaram o fortalecimento da classe trabalhadora, como é o caso das manifestações realizadas pela UNE e também o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT). Essas manifestações evidenciam um contexto social de busca por novas respostas para as demandas coletivas que não vinham sendo respondidas sob o viés do conservadorismo, onde estava igualmente inserido o Serviço Social (IAMAMOTO, 2019).

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Na atualidade o Serviço Social passa por um momento de contradição, que se expressa na constante busca pela ruptura com o conservadorismo ainda presente, bem como com as suas múltiplas expressões desta concepção de mundo que ainda se fazem presente no âmbito da categoria. Para tanto, a profissão mantém-se em um processo incessante de luta por um projeto profissional pautado em referenciais que estejam em conformidade com a emancipação humana e construção de uma sociedade sem exploração.

Essa luta é expressa pelo Projeto Profissional do Serviço Social, que inclui a Lei de Regulamentação da Profissão (1993), as Diretrizes Curriculares Nacionais (1996) e do Código de Ética (1993). Esta base normativa é a materialização do que a profissão objetiva alcançar, entendendo que os projetos profissionais estão em constante disputa, especialmente na atualidade. Do mesmo modo que a sociedade é pautada por diferentes projetos sociais, os projetos profissionais também são diversos, sendo indissociáveis dos projetos mais amplos da sociedade (IAMAMOTO, 2019).

É importante considerar, ainda, a perspectiva neoconservadora, que será abordada no decorrer do trabalho, dialogando com os trabalhos publicados nos anais do 16° Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), que é recorrentemente citada enquanto mecanismo também de manutenção da ordem vigente, com suas nuances e características distintas, e manifestando-se no interior da profissão.

A ofensiva neoconservadora se dá a partir dos anos de 1970, ao lado da emergência do neoliberalismo enquanto proposta ―eficiente‖ para lidar com a crise que estava sendo justificada como ocasionada pelos longos anos de Estado Social. Ao lado dela, tem-se uma crítica ao Estado, apontando que este interferia demasiadamente na economia, encarregava-se demais da Seguridade Social e não deveria investir em empresas estatais, que ficariam mais bem geridas nas mãos do mercado (MARTINS, 2012).

Para Martins (2012, p. 11), a matriz neoconservadora é ―intentona ideológica engendrada na fase atual do desenvolvimento do modo de produzir burguês‖. Esta perspectiva, logo que foi adotada no final da década de 1970 pelos EUA e Grã-Bretanha, espalhou-se mundialmente. A ideologia neoliberal burguesa ganha força nesse contexto, e afasta qualquer possibilidade de luta crítica, enfraquecendo a classe trabalhadora para fortalecer os avanços do capital. No Brasil o neoliberalismo começa a ganhar força principalmente a partir dos anos de 1990, acompanhando os parâmetros internacionais.

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Sob a perspectiva marxista, o resultado processual desses episódios configurou-se como uma grande ofensiva neoconservadora na cena do mundo contemporâneo e, nessa medida, necessariamente, trouxe implicações ao Serviço Social no Brasil.

Mais que isso, estes processos históricos provocaram profundas marcas à configuração político-econômica da sociedade brasileira, especialmente pela sua condição de inserção periférica na economia capitalista inscrita na divisão internacional do trabalho, e, nesse sentido, vêm incidindo fortemente sobre as profissões de um modo geral (MARTINS, 2012, p. 147).

As consequências dessa ofensiva representaram a aversão a qualquer avanço crítico que outrora esteve presente na história social, especialmente a brasileira. Movimentos sociais mais radicalizados às lutas da classe trabalhadora, bem como os que representassem os projetos sociais com cunho progressista foram deixados de lado e desestimulados pela hegemonia neoliberal, deixando de lado também o entendimento social do trabalho enquanto fundante do ser, da vida social e das reproduções sociais.

O Serviço Social é reinserido nesse contexto a partir do processo de institucionalização da profissão, atuando junto ao Estado, entendendo que este é condutor das bases ideológicas da onda neoconservadora que igualmente o compõe. Tudo isso depende também dos processos de trabalho no qual o/a profissional está inserido, do tipo de formação acadêmica que recebeu e das condições de trabalho que perpassam o seu fazer profissional.

Ou seja, é o Estado que determina o tipo de atendimento às refrações da ‗Questão Social‘, fundamenta as linhas gerais de execução da política educacional no país e, ainda, condiciona as referências que orientam os vínculos de trabalho – sob a égide neoliberal – a que o profissional estará submetido (MARTINS, 2012, p. 182).

As políticas sociais são um dos principais campos de atuação do/a assistente social, e é onde está fundamentalmente o papel central do Estado e de como a sua orientação política ideológica estabelece espaços de ampliação ou restrição de atuação dos profissionais, sobretudo no tocante aos processos interventivos e no enfrentamento das expressões da questão social na intervenção. Compreender a centralidade do papel do Estado é objetivo do item a seguir, que discorrerá acerca de como o projeto adotado pelo mesmo conflita diretamente com o horizonte buscado pelo Serviço Social. Enquanto os/as assistentes sociais lutam para que as políticas sociais cumpram a sua finalidade, o Estado caminha na direção contrária.

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1.3 Social e Conservadorismo Punitivista: a contradição permanente entre Estado Penal e Estado Social

É fato que em sua origem a profissão esteve atrelada às primeiras respostas dadas pelo Estado na tentativa de responder aos interesses do capital, e pautou-se na moralização e culpabilização dos indivíduos, ações essas conduzidas por uma matriz ideológica conservadora, que embora tenha sofrido alterações no curso da história e das lutas sociais travadas pela profissão, pode-se dizer que ainda não foi superada, levando em conta a ideia de que as famílias e sujeitos hoje atendidos nas mais diversas políticas sociais, ainda são responsabilizados exclusivamente por suas condições de vida, moradia e sociabilidade.

O Serviço Social tem nas políticas sociais um eixo importante de atuação e de afirmação de direitos de cidadania, visto que a garantia de direitos via políticas públicas e sociais conflita diretamente com a ideia de ajuda e improvisação, elementos esses que corroboram com o pensamento conservador. As políticas sociais são resultado do processo de luta da classe trabalhadora para efetivação de seus direitos, e de concessão por parte do Estado dessas garantias, de modo que possa haver uma ―redistribuição” da riqueza socialmente produzida a fim de possibilitar a reprodução e manutenção da sociedade capitalista e assegurar de forma muito limitada o acesso aos direitos sociais por parte da classe trabalhadora (BEHRING; BOSCHETTI, 2009).

Aqui, entendendo também, que o trato dado aos temas da culpabilização dos sujeitos sociais, da moralização em torno da desigualdade de classe e do punitivismo em relação ao não cumprimento de critérios de condicionalidades no acesso às políticas públicas são elementos que tendem a contribuir no aprofundamento das expressões da Questão Social, não o bastante, na permanência do conservadorismo no âmbito da profissão. No dizer de Marilda Iamamoto:

As políticas sociais traduzem sempre uma tensão contraditória entre os imperativos da reprodução do capital por um lado e, por outro, as necessidades da reprodução da força de trabalho, para o que os gastos públicos são fundamentais. Esse caráter contraditório do Estado e da política social, cujo chão é a sociedade de classes, estende-se também à análise da profissão (IAMAMOTO, 2019, p. 449).

Portanto, a face contraditória das políticas sociais forjadas na sociedade do capital, tendem a propiciar a expansão em nome do acesso aos direitos, da face judicial do Estado. A judicialização da Questão Social, por exemplo, é entendida como um processo no qual o

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Poder Judiciário sobrepõe suas ações em detrimento do papel do Estado Social, com relação à efetivação dos direitos sociais. O que nos dá elementos para pensarmos formas revitalizadoras do conservadorismo, entendo que um dos seus eixos troncais é o de justamente sobrepor o interesse individual em detrimento do coletivo. A resultante desse processo é lida com uma maior demanda em torno do acesso aos direitos sociais pela via judicial que se consagra por mecanismos de ingresso e reivindicação situados na ação individual do sujeito que move uma determinada ação.

Assim sendo, a via judicial é priorizada no processo de garantia e acesso aos direitos, uma vez que o Estado Social passa a ser deslegitimado de suas responsabilidades no fomento e na garantia de direitos universais, para comprometer-se com a ampliação de sua face penal via judicialização no campo individual. Nesse sentido, tende a ―facilitar‖ mecanismos de ingresso cada vez maior de sujeitos sociais em processos de judicialização, entre os exemplos, podemos destacar o direito previdenciário, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e demandas relativas ao contrato formal de trabalho. Como resultado da sobreposição da via judiciária às demais instâncias da esfera pública, as respostas dadas são carregadas de autocracia e moralismo, executadas de modo individual e focalizado (AGUINSKY, 2006).

Tal posição vai contra o que se espera para a garantia concreta das demandas da população, pois a atuação não pautada na coletividade e estritamente alinhada com concepções conservadoras vai contra o projeto do Serviço Social.

Com a judicialização da Questão Social, o Poder Jurídico fica responsável por responder às demandas que são de caráter coletivo, em instâncias individuais, fazendo com que a esfera jurídica desempenhe de forma precária e focal atribuições legadas ao Estado Social. Um exemplo pertinente desse processo de judicialização das demandas sociais pode ser dado a partir da realidade enfrentada pelos/as assistentes sociais que atuam no Ministério Público. Como ressalta Tejadas (2013), o Serviço Social encontra-se em uma atual incorporação no Ministério Público brasileiro, tendo a Constituição Federal de 1988 como principal mecanismo jurídico de garantia e exigibilidade dos direitos. Foi a partir do final da década de 1990 que iniciou o movimento de contratação de assistentes sociais na instituição, com um significativo aumento na década de 2000.

O Ministério Público, nesse sentido, é uma instituição que carrega potencialidades, contradições e desafios para a superação da barreira do conservadorismo e de suas múltiplas expressões. É uma instituição que surgiu com o intuito de garantir a defesa dos direitos

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democráticos, incumbida pela Constituição Federal de 1988. É um órgão que atua na defesa dos interesses coletivos, ao mesmo tempo, e contraditoriamente, em que mantém o caráter de ser uma instituição estatal, refletindo os poderes deste, ainda que seja um órgão independente e com autonomia para que sua atuação não seja subjugada a interesses de governos e outros dispositivos de poder (TEJADAS, 2013, p. 466).

Esse órgão tem como responsabilidade agir onde as frações mais vulnerabilizadas no cotidiano de enfrentamento político apresentam necessidades, como crianças e adolescentes, idosos, interditos, pessoas com deficiência, entre outros, tendo uma dinâmica essencial na proteção, defesa e garantia de direitos coletivos. Traz novos conhecimentos referentes ao sistema de proteção, sobre o mecanismo e a estrutura das políticas públicas.

Tendo as políticas públicas como aliada na atuação e intervenção profissional, entende-se que tem como papel apontar uma direção para o agir institucional frente aos direitos garantidos legalmente e ainda não firmados, mas que ainda permanecem no calendário. As fiscalizações das políticas públicas têm relação com a característica e eficiência da política pública, sinalizando que só a oferta de projeto e programas é insuficiente, sendo fundamental o julgamento da qualidade e respostas dos direitos assegurados (TEJADAS, 2013).

A participação do Serviço Social neste espaço sócio-ocupacional denota o alinhamento existente entre o que propõe o Ministério Público, enquanto órgão atuante na garantia de direitos, e o projeto ético-político profissional que a profissão defende. Ambas as orientações em consonância são fundamentais para a efetivação dos direitos sociais, mas que também podem concordar com práticas e atuações pautadas no conservadorismo. Como aponta Tejadas (2013), os grupos de demandas que chegam até a instituição, sejam elas individuais ou coletivas, historicamente exigem dos/as assistentes sociais a elaboração de estudos sociais relativos a situações familiares. Essa Exigência acaba por induzir a fragmentação das violações de direitos, que deixam de ser entendidas e analisadas de modo coletivo.

Entendendo que o acesso às políticas sociais, bem como a denúncia de violações de direitos por vezes são realizadas de maneira fracionada, focalizada e com diferentes abordagens interventivas, implica com que cada caso seja individualizado, pautando a

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decisão em uma determinada lei, tendo por tanto, a via judicial, ou a perspectiva legalista conservadora como ―saída‖ ou ―solução‖ para um caso de ausência do Estado de Direito.

Ao adotarmos a expressão legalista conservadora, buscamos como a mesma desmistificar a falsa aparência de acesso aos direitos que se produz pela via judicial. Isso porque, esse mecanismo tem como eixo fundante a abordagem individual, procedimentalista e empirista em relação à vida do sujeito demandante. Coloca em xeque, dessa maneira, a centralidade coletiva, da relação contraditória entre capital e trabalho, da produção e reprodução das desigualdades sociais e de como essa produz na vida concreta dos sujeitos coletivos um conjunto de violações. Sendo assim, quando a proposta é judicializar essas questões, está sendo dito, ao mesmo tempo, que a superação dessas violações não perpassa pelo campo coletivo, das lutas coletivas, mas de uma ―habilidade‖ e manejo individual em buscar a esfera da judicialização. Esse caminho não é nem pode ser um espaço de atenção de todos e todas em situação de violação de direitos.

Nessa esteira, destacamos a intervenção profissional dos/as assistentes sociais que atuam em especial na área sociojurídica, mas não somente nele. Considerando que em muitos casos, há uma verdadeira peregrinação de sujeitos, em grande parte de mulheres, na busca de acesso aos direitos sociais, tais como programas de transferência de renda, acesso à saúde, e políticas de inclusão para mães atípicas. Fora isso a questão da violência de gênero, em que a judicialização é dada como único recurso, sem em muitos casos acesso às políticas de prevenção.

Dito isso, soma-se às condições precárias de trabalho na qual os/as profissionais estão inseridos, isso porque, ―as condições de trabalho não estão apartadas da direção social que a intervenção venha adquirir‖ (TEJADAS, 2013, p. 474). Vai depender também do direcionamento e da posição política e ética do/a profissional, a relativa autonomia de trabalho, essa que tende a ser mais compelida em espaços hierarquizados, cuja função social atribuída ainda é a de "auxiliar", como ocorre nos espaços jurídicos.

Portanto, a relativa autonomia do/a assistente social está intimamente ligada às questões supracitadas, envolvendo, do mesmo modo, a dinâmica exigida pela instituição.

Pensando na lógica do Poder Judiciário – mas entendendo que o Ministério Público atua tanto no contexto judicial como também extrajudicial –, ―o direito apresenta-se como um dos instrumentos utilizados pelo Estado para gerir conflitos presentes nas relações sociais‖

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(TEJADAS, 2013, p. 477). Levando isto em consideração, quando a atuação do/a assistente social encontra-se alinhada a estes propósitos há de se esperar que o conservadorismo esteja presente, uma vez que o mesmo serve para estas finalidades.

Perceber as possibilidades existentes no espaço sócio-ocupacional, indo além do que é estritamente requerido pela instituição, requer um olhar atento do/a profissional e um claro compromisso ético e político com o projeto profissional e com o projeto de sociedade com vistas à superação de práticas conservadoras. As estratégias utilizadas devem ir além da individualização e culpabilização, entendendo as determinações de classes que atravessam as demandas, sejam elas individuais ou coletivas, ou seja, é preciso percebê-las no âmbito da universalidade dos direitos.

Além do compromisso profissional, deve-se buscar o reconhecimento e a delimitação clara das atribuições, impedindo que a/o assistente social desempenhe atividades que não são de sua competência. Como traz Tejadas (2013), a dimensão do planejamento é imprescindível, na qual a/o profissional deve estar ciente de seu lugar e de suas responsabilidades, impondo os limites necessários, sempre em conformidade com o projeto profissional defendido pela profissão, e tendo clareza do seu papel, do planejamento de sua atuação para que a mesma tenha como horizonte a garantia efetiva dos direitos.

Perante esses aspectos, é necessário compreender claramente o papel do/a assistente social a frente da situação que vem sendo instalada, sendo importante que o/a profissional trate do espaço que está inserido e tome conhecimento dos projetos societários que estão em cenário, criando assim um comportamento e exercício que suspenda o cotidiano, e que se oponha às demandas que venham a partir de processos judiciais. E os/as assistentes sociais que operam juntamente ao Poder Judiciário, são estimulados a pensar além da esfera jurídica, com a visão atenta da sociedade em questão, deixando de lado as respostas padronizadas.

O Estado tem elementos para reconhecer os aspectos originários dessas demandas sociais, compreendendo os mecanismos coletivos que sustentam as desigualdades, operacionalizando individualmente cada histórico que chega, mas foi feito ao contrário, encaminharam-se para processo de penalização. Esses fatores são agudizados pela política neoliberal, isso porque a mesma se sustenta na individualização e criminalização dos pobres.

Importante ressaltar que quando se debate punitivismo no Brasil, deve-se ter a consciência das discriminações de classe, raça e gênero, visto que a dimensão punitiva e

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seletiva do Estado recai sobre esses corpos tanto no âmbito da negação do acesso aos direitos sociais, quando na penalização e punição dos mesmos. O ―perfil‖ de quem ingressa na judicialização por direitos, não difere dos que ingressam nos sistema prisional (DUARTE, 2017). No dizer de Wacquant a penalidade neoliberal se expressa:

em um contexto de desigualdades extremas e de violência de rua desenfreada, respaldado por um Estado patrimonial que tolera a discriminação judicial rotineira, causada tanto pela classe e pela cor quanto pela brutalidade policial sem freios, e considerando-se as terríveis condições de confinamento, impor a contenção punitiva aos moradores das favelas decadentes e dos conjuntos habitacionais degradados equivale a trata-los como inimigo da nação (WACQUANT, 2014, p. 150).

O Estado Penal tem como um dos elementos de sobrevivência, a culpabilização do indivíduo, fazendo com que ele incorpore não só a degradação da sua vida, mas seja responsabilizado individualmente pela mesma. Encopar a culpa por sua condição de vida e material, cria na vida desse sujeito, uma relação apolítica com o mundo, a invisibilidade plena de sua cidadania. Entre os elementos que compõem essa realidade está a segregação socioespacial, o lugar do inabitável, do indesejado, formado pelos rejeitos do capital: a classe trabalhadora mais precarizada. Não por acaso, Carolina Maria de Jesus denominou que as favelas eram o ―Quarto de Desejo‖. Segundo Wacquant (2014) a política penal e a política social não deixam de ser sinônimos dentro de uma política de pobreza, na ambiguidade de luta pelo poder e ação pública. A maneira como a política social acaba sendo usada é, em sua grande maioria, primeiramente com uma perspectiva punitivista, para depois entender o processo individual e societário de uma questão. Tudo isso está em correlação com o fortalecimento de um Estado Penal, que atua nas camadas subalternizadas na divisão social da sociedade.

Para esse mesmo autor ―o vetor da penalidade sempre atinge preferencialmente as categorias situadas na base tanto da ordem de classes quanto das degradações de honra‖

(WACQUANT, 2014, p. 141). As degradações de honra da qual ele se refere remetem às desigualdades existentes entre os diferentes grupos étnicos/raciais, já que a sociedade capitalista dispõe também destes marcadores sociais que são utilizados para repressão e discriminação, sendo levados em consideração pela justiça criminal na hora de punir e injustamente responsabilizar os indivíduos.

Os programas do Estado, sejam eles de cunho social ou penal, voltam-se para as populações marginalizadas nos territórios das cidades como um instrumento de controle social, de repressão, contenção e regulação de problemas sociais. Wacquant (2014) chama

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esse Estado de ―centauro‖, pois é liberal no topo e punitivo na base (p. 141). A gestão do Estado neoliberal se utiliza de uma perspectiva punitivista de responsabilização dos indivíduos a partir do uso de uma política social disciplinar, da expansão do sistema penal.

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Capítulo 2 - Serviço Social e produção do conhecimento: uma análise dos artigos sobre conservadorismo publicados no 16° CBAS de 2019

O 16° Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) é uma iniciativa da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), do conjunto Conselho Federal de Serviço Social – Conselho Regional de Serviço Social (CFESS-CRESS) e da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO), exatamente 40 anos após o 3° CBAS, chamado de Congresso da Virada, que representou e ainda representa um marco importantíssimo para o Serviço Social, uma vez que trouxe novas perspectivas para a profissão, reafirmando o pluralismo, abrindo espaço para novas teorias que possibilitaram não só uma maior compreensão da sociedade e de seus processos, mas também dando uma nova configuração para profissão, entendendo o seu papel diante das demandas sociais.

Os trabalhos apresentados para este congresso trazem discussões fundamentais na atualidade e perpassam os mais diversos temas nos quais o Serviço Social está inserido.

Foram escritos por estudantes de graduação, pelos/as assistentes sociais que estão inseridos nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais interventivos, por docentes e estudiosos da área, o que compõe um leque variado de análises e estudos acerca da profissão.

Especialmente neste congresso foi relevante e recorrente o debate sobre o conservadorismo, uma vez que, passados 40 anos após o Congresso da Virada, inúmeros resquícios do pensamento conservador se mantêm presentes na sociedade e no Serviço Social. A discussão abordando a perspectiva conservadora, e, consequentemente, sua indispensável necessidade de superação, vem sendo debatido constantemente no âmbito da profissão, pois é objetivo da categoria profissional romper com tais parâmetros, tendo como base um horizonte pautado por valores éticos fortemente consolidados, mas em constante disputa com outros projetos profissionais.

Vários trabalhos trouxeram essa temática relacionando-a com outros temas também pertinentes, como a questão de gênero, religiosidade e conjuntura política, que são assuntos tão caros ao cenário da realidade brasileira atual. Apontaram como avanços e retrocessos vêm acontecendo concomitantemente, dada as respectivas características políticas, sociais e econômicas do Brasil nos últimos anos, particularmente a partir dos anos de 1990, com as intensas mudanças ocorridas no âmbito do Estado.

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Com o intuito de melhor atingir os objetivos da presente pesquisa, a primeira etapa para filtrar trabalhos publicados nos anais do 16° CBAS foi buscar através do mecanismo de pesquisa do site do CBAS, todos os trabalhos que versavam sobre conservadorismo. Com esse descritor foram encontrados 35 trabalhos.

2.1 Percurso Metodológico - os caminhos da pesquisa

Para realizar a análise de todos esses trabalhos selecionados utilizaremos o método dialético crítico, por ser este o que permite desvendar a realidade e entender suas contradições. Procuramos, assim, desvendar a ordem fenomênica do objeto analisado, neste caso os anais do 16° CBAS, de modo que a sua aparência possa ser desmistificada, mostrando assim a sua essência, essa que representa de forma mais concreta sua relação dialética com o real. A partir desse movimento que se aproxima e ao mesmo tempo se opõe, é que podemos identificar concretamente as condições de superação da realidade aparentemente dada como única, publicizando suas complexas relações sociais, culturais, econômicas e políticas.

Volóchinov (2017) busca a partir dessa análise, mostrar que, diferentemente do que prega o subjetivismo individualista, nossas narrativas, nossas interações, nossos desejos, nossas ações e intervenções na realidade, são produtos da nossa relação com o mundo externo, logo, elas dizem respeito também à forma como vivemos e interpretamos o mundo conscientemente, portanto ―as circunstâncias fazem o homem na mesma medida em que este faz as circunstâncias‖ (MARX; ENGELS, 2007, p. 62).

O autor destaca em sua obra como a linguagem pode ser também um instrumento de poder, uma vez que, sendo construída e ao mesmo tempo construindo a realidade enquanto mecanismo ideológico de controle social, é parte da estrutura que compõe a sociedade. A linguagem, enquanto constituinte das relações sociais, expressa igualmente os embates de classes, a dominação, exploração, como também a força das resistências das classes subalternas.

Todo enunciado tem um discurso ideológico, pois é de natureza social, está entre o interlocutor e locutor agindo como forma de transmissão de ideias e conhecimentos (VOLÓCHINOV, 2017). O enunciado exprime, portanto, a perspectiva adotada por quem o está dizendo, demonstra o seu ―horizonte social‖ que está invariavelmente dado em um

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