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O Conceito de Antropologia Jurídica

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Academic year: 2021

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O Conceito de Antropologia Jurídica

Vamos de início ver o conceito sobre Antropologia: antropologia é a ciência que estuda o homem e as implicações e características de sua evolução física (Antropologia biológica), social (Antropologia Social), ou cultural (Antropologia Cultural).

A palavra antropologia deriva das palavras gregas antropos (humano, ou homem) +logos (pensamento ou razão).

Esta é uma ciência tardia que surgiu, ou se constituiu como disciplina científica, em meados do século XIX a partir das descobertas de Darwin e sua teoria evolucionista quando se concentrava na elaboração de teorias sobre a evolução do homem, sua sociedade e cultura. O homem não era mais fruto da criação Divina, então os cientistas começaram a procurar pela sua origem: o chamado “elo perdido”, que ligaria o homem moderno a seus ancestrais hominídeos. Com o tempo os estudos sobre o homem ganhou forma, os cientistas começaram a se interessar pelos grupos humanos primitivos e seus costumes, cultura e características, passando a entender o homem não mais como uma criação de Deus, mas da natureza.

Antropologia Jurídica: a antropologia jurídica dedica-se ao estudo do Direito das sociedades “simples”,das instituições do Direito da sociedade contemporânea, do Direito Comparado e do pluralismo jurídico. Shirley (1987,p.14) divide o estudo da antropologia jurídica em três tipos: a antropologia legal, “é o trabalho clássico do antropólogo legal [...], o estudo da ordem social, de regras e sanções em sociedades ‘simples’,o ‘direito primitivo’ na terminologia mais antiga”. A antropologia Jurídica “ é o emprego de métodos antropológicos de pesquisa, observação participante e comparação com modernas instituições de Direito. Trabalhos nesta linha têm sido feitos na polícia, na magistratura e até em prisões”.

O Direito Comparado é o estudo e comparação de diferentes sistemas jurídicos, simples e complexos, em que a colaboração do antropólogo é imprescindível “para auxiliar nesta espécie de trabalho, pelo alcance de seu conhecimento multicultural e de sua consciência de muitos tipos diferentes de instituições jurídicas que não as das sociedades modernas ocidentais”.

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Jurídica temos que desvincular o Direito do Estado e da escrita, ou seja, desmitificar o monismo jurídico, representado pelo Direito Ocidental como um paradigma incontestável

,assegurado por um aparato estatal e apresentado por uma codificação escrita. Isto não significa que o Direito estatal positivado não seja considerado Direito para a Antropologia, mas é apenas mais uma forma de Direito.

O monismo jurídico foi instituído na sociedade ocidental por volta dos séculos 17 e 18, sob a influência do absolutismo monárquico e da burguesia revolucionária, havendo um processo de racionalização do poder e de centralização burocrática. Após a revolução Francesa são incorporados “os múltiplos sistemas normativos sob a base da igualdade de todos perante o Direito nacional uno e comum”. Assim, eliminou-se a “estrutura política corporativa ”e minimizaram-se “as experiências de pluralismo legal e processual” (WOLKMER, 2006, p. 638).

O Direito Ocidental é dotado de um sistema de representações específicas em que “as diferenças são negadas em nome da justiça e da igualdade, a unidade tende a confundir- se com a uniformidade” (ROULAND, 2003, p.83).

Na realidade todos os indivíduos agem de acordo com a comunidade a que pertencem. Inicialmente a família, depois a rede de amizades e a esfera profissional. Cada qual tem suas regras próprias de moral, de polidez e de condutas que são cobradas independentemente da interferência de Direito oficial (ROULAND, 2003, p. 83-88).

Pelo estudo do Direito de outras sociedades a Antropologia Jurídica nos permite compreender melhor o sistema jurídico da nossa própria sociedade. Inicia-se com as micro análises de grupos específicos, depois, “no plano global, as diferenças entre as diversas tradições culturais retomam toda a sua força: um chinês, um europeu e um iraniano não fazem a mesma idéia de Direito” Com relação a esta questão, os empresários têm utilizado os trabalhos dos antropólogos para entenderem esta diversidade no momento de estabelecerem relações comerciais internacionais (ROULAND, 2003, p.89).

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O objeto de estudo da Antropologia Jurídica clássica é o Direito das sociedades “simples”, sem escrita e sem Estado- ou distante dele. Embora muitos autores relacionem o Direito apenas com o Estado, a Antropologia moderna provou que existe Direito em sociedades sem Estado.

Antropologia jurídica: gênese, autonomia e importância

O nascimento da Antropologia ocorreu em meio à expansão colonial européia do século XIX. Temos, portanto, a ligação da antropologia social e, conseqüentemente, da antropologia jurídica com o imperialismo europeu, que emerge, segundo Hannah Arendt, do colonialismo motivado pela dimensão expansionista, o que difere-se das políticas de formação de impérios aos moldes de Roma.

Assim, o imperialismo é caracterizado por aquilo que se denomina “bulimia territorial”, mas não somente, pois, segundo Eric Hobsbawm, o

imperialismo, que se inicia em 1880, condensa-se em um novo tipo de império, fundamentado na divisão do mundo entre países “avançados” e “atrasados”.

Nesse contexto social, caracterizado pela política de massas, o Estado nacional europeu precisava fundamentar sua legitimidade, demandando

esforços para angariar o apoio popular à expansão imperialista. Assim, a idéia de superioridade racial, já bastante difundida na sociedade européia em face das demais sociedades, torna-se a mais eficaz ferramenta de legitimação da expansão imperial. À época, a idéia de superioridade de raças já podia ser encontrada na obra, acerca da hierarquia das raças, Essai sur l'inégalité des races humaines, de Gobineau, à qual faz alusão o poema.

No entanto, a ideologia da superioridade necessitava de argumentos para atestar seu convencimento e, assim, a Antropologia, recém-nascida, torna-se um instrumento de grande valia no tocante ao exercício da dominação nos contextos coloniais.

Cabe ressaltar que, entre o conhecimento antropológico e a

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que a administração colonial apoiaria o desenvolvimento da antropologia e os antropólogos forneceriam, em última análise, conhecimentos que se prestariam à validação da dominação política.

O Evolucionismo, primeira grande corrente da Antropologia no século XIX, tinha um caráter etnocêntrico, permitindo a utilização da suposta ciência como instrumento de dominação. Segundo Norbert Rouland, a escola

evolucionista parte das seguintes premissas: as sociedades humanas formam um conjunto coerente e unitário subordinado às leis gerais e globais de

transformação; todos os grupos humanos passam por estágios idênticos e sucessivos no desenvolvimento de suas organizações econômicas, sociais e jurídicas; há uma concepção linear do tempo que aponta para a idéia de teleologia histórica.

A antropologia com enfoque jurídico também se manifesta inicialmente nesse contexto imperialista, cujos maiores expoentes formularam suas teses sob o influxo da dominação colonial. Dentre os “pais fundadores” da

antropologia jurídica, temos: Lewis Morgan, que postulou a lei geral de

desenvolvimento, na qual as sociedades evoluem passando pela selvageria até a barbárie para, por fim, atingir a civilização; e, ainda, Henry Sumner Maine, que estabeleceu a lei geral de evolução, caracterizada pela transmissão do status, fundado na cosmologia social, para o contrato.

Tendo por base a análise da gênese da disciplina, Orlando Villas Bôas Filho, em seu texto intitulado “A constituição do campo de análise e pesquisa da antropologia jurídica”, estabelece o objeto, modo e finalidade do campo de análise e pesquisa da antropologia jurídica do século XIX: consiste no estudo das “sociedades primitivas” fundamentado no pressuposto etnocêntrico da superioridade da sociedade européia em relação às demais, tendo um caráter meramente instrumental e constituindo-se num saber voltado à gestão de populações, expressão que Robert Weaver Shirley denomina de “dimensão pragmática” da antropologia.

O evolucionismo, escola que representou a Antropologia no século XIX, foi muito criticado pelas escolas posteriores e, sob essa ótica, a Antropologia foi

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questionada como ciência em relação ao seu objeto, modo e finalidade. Dentre as correntes avessas às premissas evolucionistas, temos a difusionista norte-americana, cujo maior representante é Franz Boas, pensador aludido no poema.

As críticas de Boas em relação ao evolucionismo podem ser resumidas em alguns tópicos:

 As sociedades são essencialmente diversas. Não são partes de um

conjunto coerente e unitário subordinado a leis gerais de desenvolvimento. Rompe-se, assim, a perspectiva linear e teleológica da história. Portanto, não existe lei única para explicar o desenvolvimento das sociedades;

 Cada grupo cultural possui uma história própria e única, de modo que é

mais importante esclarecer os processos que ocorrem concretamente em cada sociedade do que propor leis gerais de desenvolvimento das civilizações;

 homem não herda senão as potencialidades, cujo desenvolvimento

depende de um dado ambiente físico e social, donde decorre a não aceitação da idéia de que a evolução está baseada na passagem por estágios idênticos e sucessivos;

 Não se pode explicar a complexidade da vida cultural baseando-se

apenas num único conjunto de condições ou causas, donde decorre que as explicações raciais são, necessariamente, parciais e redutoras, para não se dizer equivocadas. O elemento raça não é suficiente para explicar as

diferenças entre as mais variadas sociedades;

 Não há raças mais evoluídas que outras, o que quebra a premissa

evolucionista da existência de povos com mentalidade infantil e povos com mentalidade madura, o que está na base jurídica de tutela de uma sociedade sobre outra;

 direcionamento do método antropológico deve estar voltado para a

unidade empírica do indivíduo em relação com a cultura que o envolver, daí sua perspectiva culturalista.

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Franz Boas acenava para o estudo da história cultural e foi um dos principais representantes do difusionismo norte-americano, além de ter sido professor de Gilberto Freyre na Universidade de Columbia, Nova York. Conta Freyre, no prefácio de Casa-Grande & Senzala, a profunda impressão que lhe causaram os ensinamentos de Boas, traduzidos no poema de Manuel Bandeira (“Que importa? É lá desgraça?/Essa história de raça,/Raças más, raças boas/- Diz Boas –”).

Outro crítico da corrente evolucionista foi Claude Lévi-Strauss, que lança as bases do Estruturalismo, desvinculando a Antropologia da bio-política para relacioná-la à ciência da cultura, de modo a recuperar e aprofundar o pensamento de Boas. Ao refutar as leis gerais de desenvolvimento, premissa da escola evolucionista, estabeleceu que as culturas humanas diferem-se de vários modos, tanto na relação entre sociedades distintas quanto no âmbito de uma mesma sociedade; e também apresentou a idéia de que o Homem não exerce a sua natureza numa humanidade abstrata, mas sim em culturas concretas.

As críticas ao Evolucionismo repercutiram no âmbito jurídico e tornaram-se evidentes quanto à rejeição às leis universais da história, atingindo, no seu conseqüente desenvolvimento no campo jurídico,

principalmente Sumner Maine. Ainda, se as sociedades são diferentes uma das outras e, devido a isso, se organizam juridicamente de formas distintas, temos a propositura da diversidade de sistemas jurídicos, que não se resumem, portanto, à maquinaria estatal de força vinculante.

Não obstante, segundo Shelton Davis, “a Antropologia do Direito é a investigação comparada de definição de regras jurídicas, da expressão de conflitos sociais e dos modos através dos quais tais conflitos são

institucionalmente resolvidos. Como tal, a Antropologia do Direito tem como ponto de partida que os procedimentos jurídicos e as leis não são coincidentes com códigos legais escritos, tribunais de justiça formais, uma profissão

especializada de advogados e legisladores, polícia e autoridade militar etc.” Ou seja, a Antropologia jurídica atualmente situa-se na problematização do direito, no campo das investigações zetéticas, cujo objeto transcende o direito nas

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sociedades sem Estado, sendo, por vezes, questionado por supostamente adentrar ao campo da Sociologia jurídica.

Antropologia Jurídica no Brasil: Movimentos Sociais, Direito Oficial e Dialética Normativa

Uma História do Direito no Brasil: Pontos de Partida

Não é possível se discutir antropologia jurídica no Brasil, sem se discutir os pontos de partida. O ponto de partida de qualquer discussão jurídica é a história do direito. A primeira premissa é enxergar a história como um processo, não linear e sujeito a tropeços.

Ou seja, a história não é exata, não é um dado único, não é um fato único, ela é complexa, contraditória, sujeita a ida e vindas, a tropeços e retrocessos. Aqui a história será observada como longa duração, criticando-se a visão dos grandes feitos, dos grandes momentos e dos grandes homens: a história não se resume a datas específicas, à supostas explosões de acontecimentos, ela é um turbilhão de vários acontecimentos simultâneos ou não, é composta de vários homens e mulheres, soldados e cidadãos, e não apenas de reis ou generais.

A Independência brasileira, por exemplo, não aconteceu apenas no dia 07 de setembro de 1822, ela é a luta do Marquês do Maranhão3 , é a luta de morte de mais de dez mil baianos contra os portugueses4 , são as batalhas no norte, no nordeste, em todo o Brasil. Ela é um complexo de fatos que aconteceram antes desse período e, em especial, é uma construção posterior desse período. A tentativa, desse trabalho, é trazer à tona essas discussões para a antropologia jurídica no Brasil. Outra premissa é o questionamento da história e dos discursos oficiais, para evitar uma narrativa contada da exclusivamente “perspectiva do vencedor”: Ou seja, da perspectiva das elites sociais, econômicas e políticas; perspectiva essa que não apenas despreza a visão dos oprimidos, mas fecha os olhos para as lutas sociais por direitos e por reconhecimento da cidadania, que não podem ser reduzidas a meras

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concessões paternalistas.

Nesse sentido, Eduardo Galeano é esclarecedor: Não há História muda. Por mais que a queimem, por mais que a rasguem, por mais que a mintam, a História humana se nega a calar a boca. O tempo que foi continua pulsando, vivo, dentro do tempo que é, ainda que o tempo que é não o queira ou não o saiba. O direito de lembrar não figura entre os direitos consagrados pelas Nações Unidas, mas hoje é mais do que nunca necessário reivindicá-lo e pô-lo em prática: não para repetir o passado, mas para evitar que se repita (...) Quando está realmente viva, a memória não contempla a História, mas convida a fazê-la. Mais do que nos museus, onde a pobre se entedia, a memória está no ar que respiramos; e ela, no ar, nos respira.

Os livros e os discursos oficias não podem calar as histórias. A reconstrução, a revalorização, o questionamento dos pressupostos e das narrativas faz parte da história. Uma história só persiste se ela é questionada, criticada, contraditada ou confirmada. Uma história só existe se ela é viva, se ela é alterada, questionada constantemente.

A história é viva pois seus reflexos estão no ar, seus desdobramentos estão no dia a dia. Uma história maquiada, criada tende a dissolver-se no ar, pois os reflexos do passado são vividos no futuro, no momento e na relação entre esses dois tempos.

Daí José Carlos Reis afirmar: “o conhecimento histórico possui uma legitimidade social, é útil porque põe em contato os homens do presente com os do passado (...) ela (a história) restabelece o diálogo entre o presente e o passado, entre os homens mortos, que recuperam a vida, e os homens vivos, que reconhecem a morte. Tal é a sua imensidade”

Da História para e com a Antropologia Jurídica

O objetivo aqui é “explorar as tensões presentes” nas práticas jurídicas cotidianas e reconstruir os “fragmentos de uma racionalidade normativa já presente e vigente nas próprias realidades sociais e políticas.”8 Ou seja,

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conhecer o direito como experiência jurídica, como prática cotidiana, virando o texto constitucional contra a exclusão9 e contra os males que assolam a sociedade brasileira.

Mas, para tanto, será necessário conhecer o que permeia junto a esse direito como experiência jurídica. É preciso conhecer o direito oficial e de onde ele vem.

Historicamente, no Brasil o direito oficial vem do Estado. Mas não só dele: esse direito estatal é sujeito a pressões, a influências, a questionamentos constantes.

Entretanto, usualmente, a população sempre foi excluída da participação oficial do Estado. Exclusão essa que sempre ocorreu de diversas formas na história brasileira: com o voto censitário no Império, com o requisito de alfabetização para votar em 1881, com as violências e a força dos coronéis, com o complexo sindicalista estatal organizado por Vargas10, seguido das ditaduras militares e da força do dinheiro no Brasil democrático. Ou seja, se poucas vezes o povo brasileiro pode votar livremente, imagine-se se o acesso aos cargos eletivos era dado ao povo.

Os eleitos pertenceram a uma elite, que não necessariamente corresponde a população que o mesmo representa. Resumindo: o representante do povo não se parece com o povo.

Logo, o direito positivo, sempre foi feito por uma elite (inicialmente agrária e depois urbana) que não fazia parte da maior parte da população brasileira: pobre, analfabeta e carente de direitos sociais: daí a dificuldade de discutir-se cidadania em um país de escravidão e latifúndios,11 onde alguns homens valem mais e outros menos, onde alguns tem tudo e outros não tem nada.

Mas se a grande parte da população brasileira não participava de sistema eleitoral (corrupto na Primeira República, manipulado no Governo Vargas, fantoche na Ditadura Militar) como a grande parte da população agia

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politicamente? Ou não agia? Se o voto (instrumento de participação política) era uma farsa, como a população agia politicamente?

A hipótese que defende-se é que a população agia sim, mas não através dos canais oficiais, não através do voto, mas por outros instrumentos, sendo um deles as revoltas: o povo participou da elaboração do direito não pelos canais

oficiais (voto, plebiscitos, referendos... – esses instrumentos foram facilmente

manipulados pelos donos do poder), mas participou ativamente por outros canais, como as greves da primeira república que estão diretamente relacionadas com os direitos trabalhistas reconhecidos na década de trinta, assim como as revoltas que aceleraram a derrubada dessa mesma república, como a bandeira dos pracinhas que foi usada pelos generais para derrubar Vargas, como as greves, a luta armada e todos os meios que demonstram

que “os cidadãos não assistiram “bestializados”, como meros

espectadores/expectadores, aos acontecimentos, mas os constituíram, por meio de canais, instituições e organizações múltiplos, e não redutíveis ao Estado.

Palavras Finais

A população é excluída da participação política pelos canais oficiais do Estado. Os governantes, em vários momentos, não representam o povo que o “elegeu”. Pelo sistema jurídico brasileiro, oficialmente, o direito é criado pelos canais oficias do Estado. Ocorre que, por mais que a população não participe

da elaboração oficialmente do direito – são raros e louváveis os casos de

audiências públicas para discussão de leis e julgamentos – essa população

participa politicamente da elaboração do direito e da vida política não pelos canais oficiais, mas sim pelos canais não oficias. É pressionando o Estado com greves, revoltas, barricadas... que a população se manifesta em um sistema de exclusão, ou melhor, em um sistema de não apoia, usualmente, a sua participação. Paralelamente essa população se utiliza de regras jurídicas que não aquelas oficiais, positivadas pelo Estado, para regular a sua vida social. São as regras de direito não oficial, no qual, ante a ausência ou despreparo das regras estatais a população busca nos meios de regulação da vida.

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Nesse contexto a importância de compreender o direito não apenas como direito positivado pelo Estado, mas direito como experiência jurídica. Direito como experiência jurídica é o direito aplicado nas ruas, nas praças, nos mercados, no dia-a-dia das pessoas. Ele abarca, claro, o direito oficial, positivado, mas não apenas esse. Ele vai além do direito oficial, ele busca formas alternativas, busca adequá-lo a realidade brasileira, com seus problemas e contradições. Da mesma forma importante é entender a dialética normativa que existe no direito brasileiro. Essa dialética se apresente em dois momentos principais: primeiramente, quando o direito oficial coexiste no mesmo espaço e no mesmo tempo que o direito não oficial, tratando de assuntos diversos ou dos mesmos assuntos.

A dialética nesse momento se impõe quando duas fontes de direito, a princípio contraditórias e muitas vezes opostas coexistem, mas não necessariamente se excluem. Elas podem coexistir, uma pode ser mais forte em um determinado momento, em determinada sociedade, mas ambas podem se alterar. A dialética consiste na existência e na alteração entre as duas. O sim e o não coexistem, coexistem em tensão, negando, elevando, sofrendo rupturas, continuidades, avanços, retrocessos, sem fórmula fixa, sem critério pré-determinado. O segundo momento da dialética se impõe quando um direito teoricamente igualitário é construído para diferenciar as pessoas.

É criado um direito para os pobres e um direito para os ricos, mas que é vendido com a bandeira de igualdade, com bônus da liberdade. Só há liberdade quando há escolha e, em vários momentos, parece que não há. Por isso a critica a um direito que nega a realidade e que ainda é fundamento para uma das grandes mazelas do Brasil: a corrupção. Os grandes “vilões” estão soltos e grande parte dos oprimidos presos. O crime contra o patrimônio individual – o crime das “classes pobres”, já que o crime contra o patrimônio coletivo, público, usualmente é o “crime das classes altas” – ainda é o que mais leva cidadãos à cadeia no Brasil.

Referências

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