RECURSO VOLUNTÁRIO RELATÓRIO

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RECURSO VOLUNTÁRIO

Processo nº: 322/2018

Recorrente: ANTÔNIO NOSMAN BARREIRO PAULO e BENEDITO JOSÉ DA NOBREGA VASCONCELOS

Recorrido: DECISÃO DA SEGUNDA COMISSÃO DISCIPLINAR

RELATÓRIO

Trata-se de Recurso Voluntário interposto pelos acusados supramencionados. O primeiro acusado, Sr. Antônio Nosman, Vice-Presidente no exercício da Presidência da FPF, afastado, foi denunciado nos termos dos Artigos 228 (exercer o cargo quando suspenso) e 223 (deixar de cumprir a decisão da Justiça Desportiva), na forma do Art. 184 (concurso material), todos do CBJD e o segundo acusado, Sr. Benedito José, Assessor Jurídico da mencionada Federação e Procurador do primeiro acusado, foi denunciado nos termos dos Artigos 223 (deixar de cumprir a decisão da Justiça Desportiva) e 243-C

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(Ameaçar alguém, por palavra, escrito, gestos ou por qualquer outro meio, a causar-lhe mal injusto ou grave.) também do nosso Codex, sendo eles condenados, respectivamente, a 540 (quinhentos e quarenta) dias e 420 (quatrocentos e vinte) dias, sendo à esse último, imposta ainda a pena pecuniária total de R$ 160.000,00 (cento e sessenta mil reais).

Consta que o presente processo se iniciou a partir de Notícia de Infração (Processo nº. 288/2018 em apenso) onde o Auditor Julgador do Pleno desta Corte, Dr. Antônio Vanderler de

Lima, deslocou-se para a cidade de João Pessoa na Paraíba

para fazer cumprir, por delegação, determinação de intervenção concedida liminarmente pela sua Excelência o Presidente desta casa, face a situação extraordinária - na condição de acéfala - que encontrava-se aquela Federação com os afastamentos do Presidente e posteriormente do Vice-Presidente que exercia a condição de Vice-Presidente.

Mencionado Auditor-Julgador, na condição delegada de Interventor, teve obstada sua entrada no Gabinete da Presidência da Federação Paraibana de Futebol, às 14 horas do dia 6 de agosto pp, bem como impedido de ter acesso a qualquer documento e informação.

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Tal conduta arbitrária foi praticada pelo acusado Benedito

José da Nóbrega Vasconcelos, que ofereceu resistência

além de graves ameaças, chegando a demitir verbalmente a funcionária da Federação Paraibana de Futebol e Secretária da Presidência, Sra. Ana Elizabeth Leite Fernandes Barros, pelo simples fato de ter lavrado e assinado a Ata / Certidão acostada na Notícia de Infração em apenso, onde descreve os fatos impeditivos do cumprimento da decisão do Presidente do STJD. Consta ainda que o acusado Sr. Benedito José da Nóbrega

Vasconcelos, no dia 4 de agosto pp, entrou no campo de jogo

do Estádio Ernane Sátiro em Campina Grande (PB), no gramado onde se realizava a partida, sendo necessário a ação do mencionado Interventor determinando ao Representante da CBF presente para que o retirasse do local.

Consta ainda que o acusado Sr. Antônio Nosman Barreiro

Paulo, exerceu o cargo de Presidente, através do seu

Procurador, mesmo estando afastado, além de retardar o cumprimento de decisão desta Corte, também através do mencionado Procurador.

Alega a defesa que que o Dr. Benedito José não foi afastado do seu cargo na Federação Paraibana de Futebol e não tem

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qualquer punição que motivasse sua proibição de entrada do Estádio; que o Auditor Julgador Vanderler, dois dias depois e fora da sua atribuição, resolveu, por conta própria, ir à sede da Federação e ocupar a Sala da Presidência; que o Auditor estava fora da sua atribuição. Que o Auditor Julgador estava sem anuência do interventor Dr. João Bosco; que o senhor Antônio Nosman não estava presente na FPF e não estava exercendo o cargo de presidente, portanto não cometeu qualquer infração; que o Dr. Benedito estava presente porque atuava como Chefe do Departamento Jurídico e lá permaneceria até nomeação de novo patrono pelo interventor; que o Auditor Julgador Vanderler teve acesso as instalações da FPF e lá permaneceu, inclusive redigindo um documento; que ele não foi impedido de entrar; que não existem provas das ameaças; que a funcionária não foi demitida e permanece no quarto funcionários; que a funcionária compareceu na Federação no seu período de férias e isso causou muita estranheza; insurge ainda a defesa dizendo que recebeu cópias digitalizadas cortadas das folhas 29 e 30, impossibilitando a sua defesa; por fim pede que os recorrente sejam absorvidos da condenação imposta; que desconhece e impugna qualquer procuração que tenha sido anexado aos autos com data de seis de agosto; que o advogado Dr. Benedito José agiu por conta própria. Insurge ainda a defesa sobre a aplicação do Art. 184 (concurso formal) pois houve

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apenas uma ação; por fim pede que os recorrentes sejam absorvidos da condenação imposta.

A Procuradoria, em seu parecer, opina pelo desprovimento do Recurso da Defesa e a manutenção da pena imposta, tendo em vista que entre as ponderações dos argumentos da defesa e acusação, restou evidenciado existência de fortes indícios e provas das infrações que ocorreram tal como descritas na denúncia; que a Comissão Disciplinar aplicou a norma de forma adequada e na medida da seriedade dos fatos; que a questão é relevante e merece a reprimenda devida; que não houve, por parte da defesa, qualquer produção de prova suficiente para afastar as alegações da Procuradoria; que são graves acusações feitas pela defesa em decorrência da digitalização dos processos e falsidade documental e demanda nova apuração de responsabilidade dos recorrentes.

VOTO

Preliminarmente quero me manifestar no sentido das graves acusações preferidas pelo advogado de defesa e seus recorridos.

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As fls. 64 e seguintes, o Dr. Marcelo Eduardo Santiago

Alves de Oliveira denuncia que não juntou aos autos os

documentos de folhas 29, 30 e 31. O advogado alega como prova juntando dois prints de seus e-mails enviados a funcionária Claudia Mercuri do STJD, onde no primeiro envia a petição do presente recurso e 2 procurações dos denunciados condenados Antônio Nosman e benedito José, 3 decisões referentes ao processo 282/2018 referente a Intervenção decretada e 1 email do Dr. Walter Feldman da CBF. No segundo email alega ter sido juntado apenas 2 declarações de testemunhas do momento do fato que gerou o presente processo, pedindo ainda a impugnação desses documentos. Diante dessa grave acusação, determinei à Serventia da Casa que elaborasse certidão detalhada sobre os fatos.

Segundo então as informações prestadas pela Secretaria deste STJD (fls. 85) os documentos juntados às fls. 29, 30 e 31, impugnados pela Defesa, foram sim enviados por email para este Tribunal para serem anexados aos autos.

As fls. 87 e seguintes, a Defesa protocola petição com formal pedidos de desculpa, dizendo que houve um mal entendido. Seguindo o Voto.

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As decisões da Justiça Desportiva, ou de qualquer órgão judicante, devem ser respeitadas e cumpridas. O desrespeito e descumprimento podem levar ao descrédito e impunidade, sendo que a ofensa não atinge apenas a Autoridade que determinou a ordem, mas também, e inexoravelmente, toda a Justiça - no caso a Justiça Desportiva – bem como o ordenamento jurídico.

No presente caso deve-se adotar todas as medidas previstas para se responsabilizar os autores do delito e foi isso que decidiu a a 2ª. Comissão Disciplinar.

Diz o Art. 223 do CBJD.

Art. 223. Deixar de cumprir ou retardar o cumprimento de decisão, resolução, transação disciplinar desportiva ou determinação da Justiça Desportiva.

PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).

A conduta do acusado Dr. Benedito José da Nóbrega

Vasconcelos ao obstar o cumprimento da intervenção

determinada pela Justiça Desportiva, restou configurado enquadrando-se no tipo legal do Art. 223 do CBJD (Deixar de

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cumprir ou retardar o cumprimento de decisão ou determinação da Justiça Desportiva.)

Além disso, ao ameaçar o Auditor Julgador na condição de delegatário do Interventor, incorreu nos termos do Art. 243-C do CBJD.

Diz o citado artigo:

Art. 243-C. Ameaçar alguém, por palavra, escrito, gestos ou por qualquer outro meio, a causar-lhe mal injusto ou grave. PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e suspensão de trinta a cento e vinte dias.

Portanto, acertada o decisio a quo no enquadramento condenatório do acusado, Dr. Benedito José, em concurso material (Art. 184 do CBJD)

Mesma correção teve a decisão a quo na condenação do acusado Sr. Antonio Nosman Barreiro Paulo nos termos do Art. 228 do CBJD (Exercer cargo, função ou atividade, na modalidade desportiva, durante o período em que estiver suspenso por decisão da Justiça Desportiva.)

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Ao outorgar Procuração ao primeiro acusado - seu manus longus, - quando já estava legalmente afastado da Presidência da Federação Paraibana de Futebol, ele se enquadrou no tipo descrito do mencionado artigo.

Também condenado nas iras do Art. 223 (Deixar de cumprir ou retardar o cumprimento de decisão ou determinação da Justiça Desportiva.) o fez como coautor ou partícipe da conduta, concorrendo para a infração, nos termos do Art. 163 do CBJD. Diz o Art. 163 do CBJD.

Art. 163. Quem, de qualquer modo, concorre para a infração incide nas penas a esta cominadas, na medida de sua participação.

§ 1º Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

§ 2º Se algum dos concorrentes quis participar de infração menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena desta. § 3º A pena a que se refere o § 2º será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

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Diante das condutas praticadas e comprovadas, dou provimento parcial ao Recurso Voluntário da Defesa para reformar a decisão a quo e condenar os acusados:

Benedito José da Nobrega, Diretor Jurídico da FPF e

Procurador do Presidente, Vice-Presidente em exercício da Presidência a suspensão de 360 (trezentos e sessenta dias) e multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais), sendo 270 (duzentos e setenta dias) por infração ao Art. 223 do CBJD (descumprimento de decisão da justiça desportiva) e 90 (noventa) dias mais a multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por infração ao Art. 243-C (ameaça), em concurso material, Art. 184, ambos também do CBJD.

Antônio Nosman Barreiro Paulo, Vice-Presidente no

exercício da Presidência da FPF (já afastado por outro Processo), a pena de 180 (cento e oitenta) dias de suspensão, sendo 90 (noventa) dias por infração ao Art. 223 por infração como coautor partícipe (Art. 163 do CBJD) e mais 90 (noventa) dias por infração ao Art. 228 em concurso material, Art. 184, ambos do CBJD.

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Determino ainda que metade da penalidade de multa deverá ser destinada a instituição de caridade a ser designada pela Presidência do STJD.

Esclareço ainda que deixo de aplicar a absorção, ou o princípio da consunção pois como todos sabemos, só é aplicável quando temos uma conduta-meio para se atingir uma conduta-fim, aí sim, se caracterizada a conduta-meio, podemos aplicar o mencionado princípio, aplicando-se apenas a pena de maior gravidade, sendo a de menor gravidade absorvida por esta última, o que, evidentemente, não existe no presente caso. Sempre que houver dúvida com relação a aplicação do Princípio da Consunção diante do fato concreto, devemo-nos perguntar: A primeira conduta era imprescindível para a segunda conduta? Se sim, a primeira conduta se transforma em ilícito-meio, sendo absorvida pelo ilícito-fim. Se a resposta for não, não era imprescindível, então não se aplica o princípio da consunção pois a primeira conduta não é ilícito-meio e sim conduta autônoma.

No caso em comento estamos diante de duas condutas autônomas. Houve por parte da defesa a reconsideração das graves ofensas assacadas contra a Secretaria desta Corte,

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entretanto o arrependimento e a confissão de erro não são suficientes para afastar a conduta de eventual denunciação caluniosa praticada que poderá ser apurada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

Diante das graves ofensas proferidas pelos condenados ao apontarem conduta criminosa praticada pela Serventia da Casa, das quais sabiam inocentes, determino primeiramente a extração de cópias integral do processo para preliminar apreciação do Procurador Geral desta Corte.

Assim encaminho o meu voto.

Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2018.

MAURO MARCELO DE LIMA E SILVA