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Curtimento de peles de pescada amarela (Cynoscion acoupa): recursos naturais no Estado do Maranhão (Brasil), etapas processuais e valorização económica

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CURTIMENTO DE PELES DE PESCADA AMARELA (Cynoscion

acoupa): RECURSOS NATURAIS NO ESTADO DO MARANHÃO

(BRASIL), ETAPAS PROCESSUAIS E VALORIZAÇÃO

ECONÓMICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE

JACIRENE FRANÇA DE SOUZA

Orientador: Professor Dr. José Alcides Silvestre Peres

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

CURTIMENTO DE PELES DE PESCADA AMARELA (Cynoscion

acoupa): RECURSOS NATURAIS NO ESTADO DO MARANHÃO

(BRASIL), ETAPAS PROCESSUAIS E VALORIZAÇÃO

ECONÓMICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE

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Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia do Ambiente.

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Página | ii À minha mãe por ser uma mulher guerreira, admirável, dedicada aos filhos, o meu eterno agradecimento por todo amor dedicado.

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Agradecimentos

A elaboração de um trabalho deste gênero só é possível com esforço pessoal e com a colaboração e incentivo de algumas pessoas.

- Ao meu orientador, Prof. Dr. José Alcides Silvestre Peres pela disponibilidade e apoio demonstrado, e por todas as orientações valiosas e conhecimentos transmitidos.

- A minha família pelo incentivo e apoio.

- Aos meus amigos que sempre me apoiaram e pela amizade preciosa.

- E, por fim, a todas as pessoas que tiveram a oportunidade de conhecer o projeto e se encantaram e me incentivaram a continuar a pesquisa.

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Dedicatória

- A minha mãe, Ana França de Souza, por acreditar em meus sonhos e sonhar junto. Por ter me apoiado incansavelmente ao assumir as minhas responsabilidades para que eu pudesse ir em busca dos meus objetivos.

- Aos meus filhos, Gyovanna Souza Santana e Nícolas Souza Santana, minhas inspirações...

- Ao Robson Silva Diniz, pelo amor dedicado a mim, pelo apoio e confiança incondicional.

- Aos meus irmãos e meus avós, por se sentirem felizes e orgulhosos com as minhas vitórias.

- A todos os meus professores por terem contribuído para a minha formação durante os dois anos na Universidade.

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Epígrafe

“De tudo, ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar...

A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar... Fazer da interrupção um caminho novo;

Da queda, um passo de dança; Do medo, uma escada;

Do sonho, uma ponte; Da procura, um encontro.”

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Resumo

A pesca extrativa marinha e estuarina representa, para o Brasil, a principal fonte de alimento de origem aquática, gerando aproximadamente 800 mil empregos diretos e indiretos, dos quais dependem cerca de três milhões de pessoas. A produção é de aproximadamente 1 milhão de toneladas/ano de pescado.

De maneira similar à Região Norte, no nordeste brasileiro e, em especial no estado do Maranhão, o modelo de pesca é maioritariamente artesanal (cerca de 75% das capturas regionais). Ainda assim, o Maranhão é tradicionalmente o principal produtor de pescado na região nordeste do Brasil com 78 mil toneladas em 2013, de acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

O recurso pesqueiro de maior importância no estado do Maranhão, de entre as 33 espécies mais comuns, em peso e em valor económico corresponde à pescada amarela (Cynoscion acoupa). Nos últimos dez anos, de acordo com levantamento da produção pesqueira, a pescada amarela tem representado cerca de 10% do peso total de pescado.

No município de São Luís, capital do estado do Maranhão, a comercialização do pescado supera 930 toneladas/mês. Deste valor cerca de 15% do volume total são considerados subprodutos, onde se incluem as vísceras, escamas, ossadas e peles, que normalmente são retirados e descartados pelos estabelecimentos de comercialização de pescados. Nos últimos 11 anos, tem-se observado no município de São Luís, um grande contingente de subprodutos da pescada amarela e de outras espécies de grande porte, sendo desperdiçados sem nenhum critério de gerenciamento, aproveitamento e disposição final adequado. Os resíduos produzidos pelas indústrias pesqueiras têm gerado sérios problemas ambientais e são potenciais fontes poluidoras.

O aproveitamento dos resíduos das indústrias de pescado pode ser realizado em diversos produtos, dentre eles estão os fertilizantes, produção de farinha, óleo e couros que podem ser utilizadas na indústria de artefatos de couro. No processo de filetagem, a pele de peixe, que representa em média 7,5% do seu peso total, é considerada um subproduto que pode ser beneficiado por um processo de curtimento e transformado em couro. Com este tratamento, a pele torna-se um produto imputrescível e com qualidades físico-mecânicas, como maciez, elasticidade,

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Página | vii flexibilidade e resistência à tração e resulta numa matéria-prima de qualidade e de aspecto peculiar inimitável, após o curtimento, devido à sua resistência e ao desenho formado na sua superfície, principalmente as peles de peixes com escamas. Como o tamanho do peixe está diretamente relacionando com a espessura da pele e, consequentemente, à quantidade de fibras colagéneas, a pescada amarela e outras espécies de grande porte, apresentam vantagens significativas em relação a outras espécies em estudo, como a tilápia, por ser um peixe de pequeno porte.

Como solução economicamente viável e eficaz para o processo de aproveitamento de pele de peixes, utilizou-se o tanquinho de lavar roupa, uma tecnologia inovadora, acessível e suficientemente capaz de atender às necessidades para realização das etapas, se comparado ao fulão, equipamento habitualmente usado para o processo. O processo de curtimento consiste em média num conjunto de 15 etapas: salga e ribeira, pré-remolho, remolho, pré-descarne e descamação, caleiro, descarne, desencalagem, purga, píquel, curtimento, recurtimento, neutralização, tingimento, engraxe, secagem, amaciamento. Além da tecnologia inovadora aplicada ao processo de curtimento, teve-se como objetivo a utilização de produtos naturais como os taninos em substituição do crómio, bem como produtos mais comuns e menos agressivos ao ambiente. Por outro lado, procurou destacar-se a importância e a necessidade do aproveitamento integral dos subprodutos de peixe gerados, principalmente, pelo processo de filetagem para a redução do impacto ambiental e, ainda, estabelecer critérios de responsabilidades para as indústrias e garantir, possivelmente, o aumento da lucratividade e criar oportunidades para as comunidades pesqueiras e novas perspectivas de trabalho e renda.

Palavras-chave: pescada amarela, curtimento de peles de peixe, valorização de

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Abstract

The extractive marine and estuarine fishing is, for Brazil, the main food source of aquatic origin, generating approximately 800 000 direct and indirect jobs, of which depend about three million people. The production is about 1 million tons / year of fish.

In a similar way to the Northern Region, in northeastern Brazil, and especially in the state of Maranhão, the model is mostly artisanal fishing (about 75% of the regional catch). Still, Maranhão is traditionally the main producer of fish in the northeast region of Brazil with 78 000 tons in 2013, according to the Ministry of Fisheries and Aquaculture (MPA).

The most important fishery resource in the state of Maranhão, among the 33 most common species, weight and economic value corresponds to the yellow fish (Cynoscion acoupa). Over the past decade, according to a survey of fisheries production, the yellow fish has represented about 10% of the total weight of fish.

In São Luís, capital of Maranhão State, the marketing of fish exceeds 930 tons / month. Of this amount about 15% of total volume is considered by-products, where the viscera, scales, bones and skins, which are usually removed and discarded by marketing establishments of fish, are included. Over the past 11 years, has been observed in São Luís, a large number of by-caught yellow and other large species, being wasted without any criteria management, utilization and proper disposal. The waste produced by the fishing industries have generated serious environmental problems and are potential pollution sources.

Waste recovery of fish industries can be accomplished in several products, among them are the fertilizers, production of flour, oil and leather that can be used in the leather goods industry. In the filleting process, the fish skin, which is on average 7.5% of their total weight, is considered a byproduct which can be benefited by a tanning process and processed into leather. With this treatment, the skin becomes a rot-proof and physico-mechanical properties, such as softness, elasticity, flexibility and tensile strength results in a product and feedstock quality and inimitable peculiar aspect, after tanning, due to their resistance and pattern formed on its surface, particularly the skins of fish with scales. As the size of the fish is directly relating to the thickness of the skin and hence the amount of colagéneas fibers, yellow hake and other large species,

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Página | ix present significant advantages over other species under study, such as tilapia, being one large fish.

How effective and economically viable process for the recovery of fish skin solution, we used the washboard washing, an innovative, affordable and capable enough to meet the needs for carrying out steps technology, compared to fulão equipment commonly used to the process. The tanning process is to average a set of 15 steps: salting and river, pre-soaking, soaking, pre-cut back and scaling, liming, strip, deliming, purging, pickling, tanning, retanning, dyeing, greasing, drying, softening. Besides the innovative technology applied to the tanning process, the use of natural products such as tannins instead of chromium, conducts to a less harmful products to the environment. On the other hand, sought to highlight the importance and the need for full utilization of fish by-products generated mainly by the filleting process to reduce environmental impact and also establish criteria for industries responsibilities and ensure possibly increasing profitability and creating opportunities for fishing communities and new job prospects and income.

Palavras-chave: yellow fish, tanning fish, valuation of products, innovative technology,

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Lista de Abreviaturas e Simbolos

ABRELPE - Ass. Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ADPMSL - Associação de Distribuidores de Pescado e Marisco de São Luís

Boletim NE - Nordeste

CICB - Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil GE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IABS - Instituto Ambiental do Brasil Sustentável

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MPA - Ministério da Pesca e Aquicultura PIB - Produto Interno Bruto

PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos SEAP - Secretaria Espacial da Agricultura e Pesca

SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEMAPA - Secretaria Municipal de Agricultura Pesca e Abastecimento SIF - Serviço de Inspeção Federal

SUDEPE - Superintendência do Desenvolvimento da Pesca UEMA - Universidade Estadual do Maranhão

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Listas de Figuras

Figura 1.1 – Localização do estado do Maranhão (Brasil) Figura 1.2 – Pescada amarela (Cynoscion acoupa)

Figura 1.3 – Corpos de prova do couro de tilápia no sentido longitudinal Figura 1.4 – Pele de Pescada amarela depois de curtida

Figura 2.1 – Litoral maranhense

Figura 2.2 – Embarcações do litoral maranhense Figura 2.3 – Mapa da cidade de São Luís

Figura 2.4 – Produção total anual para os recursos pesqueiros do litoral maranhense

no período de 1950 a 2007

Figura 2.5 – Pescada Amarela do Maranhão (Cynoscion acoupa) Figura 2.6 – Pele da Pescada Amarela (Cynoscion acoupa) Figura 2.7 – Desenho da Flor formada pelas lamélulas Figura 2.8 – Pele da Pescada Amarela (Cynoscion acoupa) Figura 2.9 – Couro da Pescada Amarela (Cynoscion acoupa) Figura 3.1 – Tanquinho de lavar

Figura 3.2 – Fulão de madeira

Figura 3.3 – Etapa de remolho e pré-descarne

Figura 3.4 – Fluxograma do processamento de peles de peixe Figura 4.1 – Feira livre da Cohab

Figura 4.2 – Mapa de localização do mercado do peixe Figura 4.3 – Mercado do peixe

Figura 4.4 – Desembarque de pescado no Porto do Portinho Figura 4.5

Peixes congelados

Figura 4.6 – Resíduos de peixes

Figura 4.7 – Quantidade de resíduos por dia em cada estabelecimento Figura 4.8

Secagem natural do couro

Figura 4.9 – Amaciamento do couro

Figura 4.10 – Exemplos de couro de pescada amarela Figura 5.1 – Tanquinho de lavar roupa

Figura I.1 – Porto da Raposa Figura I.2 – Porto do Braga

Figura II.1 – Couro da pescada amarela

Figura II.2 – Cinto em couro da pescada amarela Figura II.3 – Cinto em couro da pescada amarela Figura II.4 – Carteira em couro de pescada amarela

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Figura II.5 – Peça de vestuário em couro de pescada amarela Figura II.6 – Vestido com detalhe em couro de pescada amarela Figura II.7 – Vestido com detalhe em couro de pescada amarela Figura II.8 – Peça de vestuário em couro de pescada amarela. Figura III.1 – Prémio INOVA SENAI (1º lugar) - 2010

Figura III.2 – 14º Salão do Inventor Brasileiro (IBI-Instituto Brasileiro de Inovação) - (1º

lugar) - 2010

Figura III.3 – 7th Taipei Internacional Invention Show & Technomart, IBI-Instituto Brasileiro de Inovação, SENAI Departamento Regional do Maranhão, China/Taiwan (3º lugar) - 2011

Figura III.4 – Cumprimentos da Presidente Dilma Rousseff pelo Projeto de curtimento

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Listas de Tabelas

Tabela 2.1 – Produção pesqueira no ano 2005

Tabela 2.2 – Produção total estimada, preço médio e valor da produção de pescado

desembarcado, por espécie, do litoral maranhense, no ano de 2002

Tabela 3.1 – Pontos de vendas de pescado e a quantidade em peso do pescado

comercializado por dia

Tabela 3.2 – Identificação das espécies comercializadas em relação ao tamanho

médio do pescado por estabelecimento

Tabela 3.3 – Peso médio do pescado por espécie em relação ao valor comercial do

quilo

Tabela 3.4 – Volume de resíduos orgânicos descartados por estabelecimento

Tabela 4.1 – Pontos de vendas de pescado em relação à quantidade em peso

comercializado por dia

Tabela 4.2 – Peso médio do pescado por espécie em relação ao valor comercial do

quilo

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INDICE

Agradecimentos Epígrafe Resumo Abstract

Lista de Abreviaturas e Simbolos Lista de Figuras Lista de Tabelas Pág. iii v vi viii x xi xiii 1. Introdução 2. Referencial Teórico

2.1 Características do litoral maranhense

2.1.1 Potencial da produção de pescado no litoral do estado 2.1.2 A produção de pescado no município de São Luís 2.1.3 A pescada amarela do Maranhão

2.2 Subprodutos do pescado

2.2.1 O desperdício dos subprodutos do peixe 2.3 Impactos causados

2.3.1 Impacto Ambiental 2.3.2 Impacto Económico 2.3.3 Impacto Social 2.4 Leis ambientais no Brasil

2.4.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS

2.5 O aproveitamento de resíduos como rendimento económico

3. Materiais e Métodos

3.1 Caracterização da pesquisa 3.2 Caracterização da amostra 3.3 Tratamento dos dados

3.3.1 Aspecto quantitativo dos resíduos

3.3.2 Técnica inovadora para a transformação da pele em couro com o uso do tanquinho de lavar roupas (curtimento)

4. Resultados e Discussão 1 8 9 10 12 14 17 18 20 20 21 22 23 25 29 33 34 34 35 35 37 43

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Página | xv 4.1 Caracterização do volume do pescado por estabelecimento

4.1.1 Feiras Livres 4.1.2 Mercados públicos 4.1.3 Portos Pesqueiros 4.1.4 Supermercados

4.2 Caracterização das espécies por estabelecimento 4.3 Análises das espécies por peso e valor comercial 4.4 Caracterização dos resíduos orgânicos do peixe 4.5 Processo de reaproveitamento de pele de peixe 4.6.A etapa de curtimento

4.7. Potencialidades da pele de peixe como produto final

5. Conclusões e propostas de trabalho futuro

5.1 Conclusões

5.2 Propostas de trabalho futuro

Referências bibliográficas Anexos 44 45 46 48 49 50 51 53 56 60 63 65 66 67 69 78

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1. INTRODUÇÃO

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1. Introdução

O Brasil é um país de dimensões continentais e o quinto maior país do mundo, possui 1,7% do território das terras imersas e ocupa 47% da América do Sul. A maior parte do seu clima é tropical. Ocupa uma área total de 8 514 876,599 km² com 55 455 km² de água. Além disso, o país é conhecido pela ampla riqueza ou diversidade em paisagens e riquezas naturais (SEBRAE, 2008).

Possui 7367 km de costa oceânica, 3,5 milhões de km² de Zona Económica Exclusiva e possui 5565 municípios, localizados em 27 estados, mais o Distrito Federal. Cada região possui suas características regionais bastante específicas no campo social, económico e geográfico. A população está estimada em 201 032 714 habitantes de acordo com os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), (IBGE, 2010).

Em virtude do extenso litoral brasileiro dominado por águas de temperatura e salinidade elevadas, os potenciais de produção de pescado estuarino/marinho do Brasil, tem se elevado, principalmente nas regiões norte/nordeste do país por possuírem características peculiares.

Desde o início das civilizações, a pesca representa um meio para a sobrevivência de uma grande parcela da população mundial, sendo uma importante atividade, no ponto de vista econômico, social e cultural. No Brasil, a pesca, extrativa marinha e estuarina representam a principal fonte de alimento de origem aquática, gerando aproximadamente 800 mil empregos diretos e indiretos, dos quais dependem cerca de três milhões de pessoas. Em decorrência disso, a importância dessa atividade no contexto da produção de alimentos e geração de empregos para as populações atuais e futuras não deve ser subestimada(Pauly & Watson, 2003).

O Brasil produz aproximadamente 1 milhão de toneladas/ano de pescado, gerando um PIB pesqueiro de R$ 5 milhões, ocupando 800 mil profissionais entre pescadores e aquicultores e gerando 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. O potencial de crescimento é enorme e o Brasil pode se tornar um dos maiores produtores mundiais de pescado (SEAP/PR, 2007).

No Brasil, tanto a água marinha como a água doce apresentam fauna e flora bastante diversificadas, o que desperta o interesse de grandes empresas especializadas na exploração comercial da pesca. Entretanto, o baixo estoque pesqueiro faz com que essas empresas foquem seus esforços em algumas espécies específicas, deixando as demais variedades para a pesca extrativa artesanal. Esta

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Página | 2 última é praticada por pescadores espalhados por todo o litoral e nos rios brasileiros, que fazem desta prática seu meio de subsistência (IBAMA, 2007).

De maneira similar à Região Norte, a produção de pescado estuarino/marinho no nordeste brasileiro e, em especial o estado do Maranhão é maioritariamente oriunda da pesca artesanal (cerca de 75% das capturas regionais) (Figura 1.1). A frota pesqueira marinha e estuarina que opera no litoral brasileiro, tanto na zona costeira quanto na pesca oceânica, está estimada em torno de 30 000 embarcações, 90% das quais consideradas de médio e grande porte e conhecidas como frotas industriais. São utilizadas pela pesca artesanal, embarcações de pequeno porte (jangadas, canoas, botes, etc.) que, pelas suas características, têm pouco raio de ação e, consequentemente, limitada autonomia de mar (IBAMA, 2007).

O Maranhão é tradicionalmente o principal produtor de pescado na região nordeste do Brasil (Paiva, 1997). De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a produção maranhense em 2013 foi de 78 mil toneladas via pesca extrativa. O estado ocupa a segunda posição no país em produção aquícola e a quinta na pesca extrativa. Quando somadas as duas modalidades, o estado fica na segunda posição, com quase 10% da produção nacional. Segundo o Registro Geral da Pesca (MPA, 2013), o Maranhão possui mais de 154 mil pessoas vivendo da pesca artesanal.

Cerca de 57% do pescado comercializado em São Luís é oriundo do litoral ocidental do estado; 28% da Baixada Maranhense, 9% da Grande São Luís e 6% do Litoral Oriental.

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Página | 3 Os recursos pesqueiros de maior importância económica no estado do Maranhão, de entre as 33 espécies mais importantes, encontram-se a Pescada Amarela (Cynoscion acoupa), a Pescada Branca (Cynoscion leiarchus) e a Gurijuba (Hexanematichthys parkeri). Estes peixes costumam ter valores comerciais elevados, com destaque para o estado do Maranhão, pelo fato de suas carnes serem consideradas de excelente qualidade em virtude das características peculiares locais.

De acordo com o levantamento da produção pesqueira no estado do Maranhão, a pescada amarela destaca-se como a espécie de maior importância em volume de produção (Figura 1.2), representando em 2005 cerca de 11,2% do total (Almeida , 2007) e, em 2006, 9,1% do total (IBAMA, 2006).

Figura 1.2 - Pescada amarela (Cynoscion acoupa)

Das espécies comercializadas no estado do Maranhão, os resíduos gerados após o processo de filetagem têm sido uma grande preocupação, pois os resíduos do processamento de peixes como a cabeça, nadadeiras, pele, vísceras e escamas, que dependendo da espécie, pode chegar a 66% em relação ao peso total, de acordo com Contreras-Guzmán (1994), são retirados e descartados pelos estabelecimentos de comercialização de pescados. De entre esses resíduos está a pele como o principal subproduto, chegando a representar em média 7,5% do seu peso total e pode ser beneficiado por um processo de curtimento e transformado em couro (Souza et al., 1999; Souza, 2004).

No Brasil, o aproveitamento dos subprodutos do peixe ainda é muito insignificante se comparado com o volume gerado. No Maranhão, a realidade é semelhante ao restante do país, visto que não existem evidências de ações voltadas para o beneficiamento do resíduo orgânico gerado a partir do processo de filetagem.

Nos últimos 11 anos, tem-se observado no Município de São Luís, capital do estado do Maranhão, um grande contingente de subprodutos da pescada amarela

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Página | 4 (Cynoscion acoupa) e de outras espécies de grande porte, sendo desperdiçados sem nenhum critério de gerenciamento, aproveitamento e disposição final adequado.

A necessidade do aproveitamento integral dos subprodutos do peixe gerados, principalmente, pelo processo de filetagem é fundamental para a redução do impacto ambiental, estabelece critérios de responsabilidades para as indústrias e garante, possivelmente, o aumento da lucratividade (Ucci, 2004). Por outro lado, as ações de aproveitamento dos subprodutos criam oportunidades para as comunidades pesqueiras e novas perspectivas de trabalho e renda.

Os resíduos produzidos pelas indústrias pesqueiras acabam muitas vezes por se tornarem um sério problema ambiental, podendo gerar potenciais fontes poluidoras de recursos hídricos, do solo e do ar (Pessatti, 2001). Com o aproveitamento dos resíduos das indústrias de pescados, os subprodutos podem ser destinados para vários tipos de aproveitamento por apresentarem nutrientes de elevado valor biológico, como fertilizantes, para produção de farinha, silagem ou óleo de peixe, os quais podem ser utilizados como alimentos alternativos na nutrição animal (El-Sayed, 1999; Boscolo et al. 2002; Meurer et al., 2003). Em se tratando da pele, o aproveitamento, pode está voltado para a produção de couro para o vestuário e outros seguimentos devido ao aspecto peculiar inimitável, após o curtimento, devido à sua resistência e desenho formado na sua superfície, principalmente as peles de peixes com escamas.

Embora se tenham constatado problemas na comercialização e

industrialização da pele de peixe, principalmente de pequeno porte, quanto ao seu tamanho e aparente fragilidade, pela necessidade de conhecer e comprovar a qualidade dessa matéria-prima, alguns trabalhos têm sido desenvolvidos testando a sua resistência por meio de testes físico-mecânicos.

Os testes físico-mecânicos confirmam que as peles de peixes apresentam resistência, sendo esta variável em função de uma série de fatores, tais como: a espécie de peixe e composição das fibras colagéneas, tamanho do peixe, técnica de curtimento empregada, região da pele e sentido ou direção do couro (longitudinal e transversal ao comprimento do peixe), entre outros (Figura 1.3). Para a pescada amarela, por se tratar de um peixe de grande porte, chegando a atingir 1,5 m em extensão, pode-se considerar uma pele de qualidade, em termo de tamanho e resistência, para a produção de artefatos de couro após o processo de curtimento, pois segundo Souza (2004), o tamanho do peixe está diretamente relacionando com a espessura da pele. À medida que o peixe vai crescendo vai aumentando a espessura e, consequentemente, a quantidade de fibras colagéneas, fibras estas que reagirão com os agentes curtentes, dando a característica de resistência ao couro.

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Figura 1.3 – Corpos de prova do couro de tilápia no sentido longitudinal (Souza, 2004).

Além da estrutura histológica da pele e tamanho do peixe, existe a questão da própria formação das fibras colagéneas. De acordo com Hoinacki (1989) e Sanches e Araya (1990) a pele apresenta um elevado teor de prolina, hidroxiprolina e principalmente glicina. Pelo contrário apresenta um baixo teor em aminoácidos aromáticos. Também Pasos (2002), afirma que a glicina é o aminoácido mais abundante na constituição do colagéneo.

Segundo Sanches e Araya (1990) o colagéneo de diferentes espécies difere na sequência de aminoácidos, sendo que a maior parte contém ao redor de 35% de glicina, 12% de prolina e 9% de hidroxiprolina. A hidroxiprolina raramente se encontra em proteínas distintas do colagéneo. Segundo os mesmos autores, a quantidade de hidroxiprolina no colagéneo das peles de peixes, difere entre as espécies, interferindo na temperatura de retração ou encolhimento da pele, onde ocorre a ruptura das pontes de hidrogénio da cadeia de colagéneo de forma irreversível. Com isso ocorre a desnaturação protéica e, particularmente no colagéneo, ocorre a gelatinização, que morfologicamente se manifesta por uma forte contração das fibras no sentido longitudinal tornando-se transparentes e elásticas.

Nos peixes de água quente, a temperatura de retração da pele é maior, quando comparado aos peixes de água fria. Necessitando dessa forma de um maior controle da temperatura durante as etapas do processo de ribeira (parte molhada do processo de curtimento, onde se prepara a pele para receber o agente curtente). Portanto, a composição da pele em relação aos aminoácidos tem uma grande influência durante o processamento, caso contrário, não é possível obter um couro de qualidade, com maciez e elasticidade. O teor de lípidos presentes na pele, também interfere no processo de curtimento e consequentemente na resistência e qualidade do produto final (couro). Caso os lípidos não sejam removidos durante as etapas iniciais do

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Página | 6 processo de curtimento, dificultam a penetração e reação dos produtos químicos com as fibras colagéneas (Souza, M.L.R., 2004).

Segundo Ingram e Dixon (1994), as peles de peixes são consideradas como um couro exótico e inovador, com aceitação geral em vários segmentos da confecção. Este fato, somado às características do produto obtido, como a resistência da matéria-prima, suas características exóticas e sua aplicabilidade em vários produtos de alto valor agregado, vem despertando a curiosidade e o interesse de muitos empreendedores. No Brasil, o couro do peixe é considerado produto com mercado relativamente limitado, em se tratando do mercado externo, existe boa demanda, o que proporciona condições favoráveis à exportação. Porém, as exigências desse mercado também são maiores. (Figura 1.4).

Figura 1.4 – Pele de pescada amarela depois de curtida

O mercado da moda já reconhece o valor e a importância do uso do couro de peixe na fabricação de acessórios como bolsas, cintos, carteiras e sapatos. A importância dada ao uso de matérias-primas alternativas, com o apelo do “politicamente correto”, torna a atividade económica do curtume de couro de peixe inovadora e altamente promissora.

No entanto, apesar das evidências de oportunidades de negócio, de inclusão social, minimização dos impactos ambientais com as ações de aproveitamento e, com a Lei 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público, e principalmente, quanto à disposição final ambientalmente adequada, não existe comprometimento das partes e nem fiscalização efetiva que possa garantir o processo de utilização do resíduo do pescado.

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Página | 7 Nesse contexto, é de suma importância diagnosticar e quantificar o resíduo gerado no município de São Luís, a partir dos subprodutos do peixe, através de estabelecimentos potenciais como, mercados, feiras e supermercados e o impacto ambiental negativo causado, pela falta do gerenciamento, tratamento e disposição final adequada do resíduo; o impacto económico, pelo não aproveitamento dos resíduos orgânicos, inerentes ao processo de beneficiamento do pescado e o impacto social, pela ausência de ações socioambientais voltadas para a inclusão de comunidades ribeirinhas que possam se beneficiar da fabricação de produtos a partir dos subprodutos do peixe.

Os principais objetivos deste trabalho foram: realizar o levantamento dos recursos naturais de pescado existentes no estado do Maranhão; desenvolver o curtimento de peles de pescada amarela utilizando um tanquinho de lavar como processo inovador; otimizar as condições operatórias dos diferentes passos do processo e avaliar as potencialidades do couro obtido para a confecção de artefatos de couro.

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2. Referencial Teórico

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2.1 Características do litoral Maranhense

O Maranhão é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está localizado no oeste da Região Nordeste do Brasil e tem, como limites, ao norte o Oceano Atlântico, a leste o estado brasileiro do Piauí, a sul e sudeste o estado brasileiro de Tocantins e o estado brasileiro do Pará a oeste. Ocupa uma área de 331 935,507 km², sendo o segundo maior estado da Região Nordeste do Brasil e o oitavo maior estado do Brasil. Em termos de produto interno bruto, é o quarto estado mais rico da Região Nordeste do Brasil e o 16º estado mais rico do Brasil.

O estado do Maranhão possui a segunda maior costa entre os estados brasileiros, com 640km, estendendo-se desde a foz do rio Parnaíba até à foz do rio Gurupi (Coutinho, 1996). O litoral maranhense é distintamente compartimentado em três ambientes: Litoral Norte (ocidental), caracterizado por reentrâncias (enseadas, baías, ilhas, etc.); Golfão Maranhense, dominado por grande complexidade do sistema estuarino (ilhas, baías, mangues, praias, dunas e intensa ação antrópica) aqui incluída parte da baixada maranhense; e o Litoral Oriental, retilíneo, onde predominam dunas (Figura 2.1).

Figura 2.1 - Litoral maranhense

A região é caracterizada pela presença de macro marés que alcançam a amplitude máxima de 7 m. Sua baixa declividade e baixas amplitudes de marés, o litoral do estado do Maranhão propícia o desenvolvimento de manguezais, os quais correspondem a cerca de 85% de sua extensão, chegando em alguns pontos a atingir até 40 km de largura. Essas florestas de mangue são na realidade enorme fonte de matéria orgânica a incrementar o ciclo biológico.

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Página | 10 O deságue de expressiva rede fluvial (rios Parnaíba, Mearim, Itapecuru, Munim, Preguiças, Turiaçu, Gurupi, Pericumã e Maracaçumé) que carreia grande quantidade de nutrientes do continente para o mar e a existência de uma plataforma continental vasta e de pouca profundidade que permite a penetração de luz solar e,

consequentemente, uma altíssima produtividade primária, possibilitam o

desenvolvimento de muitas espécies de peixes, moluscos e crustáceos. Os fatores favoráveis à produção pesqueira, como extensão, grande plataforma continental, estuários fluviais, marés e correntes marinhas, proporcionam excelentes condições à atividade e fazem do Maranhão, destaque como um dos mais importantes potenciais pesqueiros do país (Boletim NE, 2006).

2.1.1 Potencial da produção de pescado no litoral do estado

O estado do Maranhão é historicamente o maior produtor de pescado do nordeste do Brasil, tendo sido apontado, em 2000, pelas estatísticas do IBAMA como o primeiro produtor do Nordeste com 62 876,5 t, com parte dessa produção, 40 131,5 t, originando-se da pesca extrativa marinha. A população ativa engajada na atividade pesqueira cresceu significativamente se comparada há vinte anos. Segundo Stride (1992), cerca de 80 mil pescadores encontrava-se envolvido na atividade pesqueira e, em sua maioria (cerca de 95%), proveniente do setor artesanal.

A predominância da categoria artesanal da frota no estado é responsável pela totalidade da produção marinha, sendo que mais de 50% das capturas ficam restritas ao litoral ocidental (Almeida et al, 2006).

Segundo dados do projeto ESTATPESCA, implementada através do Convênio IBAMA/Instituto do Homem, para geração das estatísticas da pesca do estado do Maranhão, a produção pesqueira desembarcada, no ano de 2002, no litoral maranhense, totalizou 31 118,1t. De acordo com os dados nos anos anteriores, a produção pesqueira do Maranhão oscilava em torno de 40 a 45 mil toneladas/ano. Com a utilização de uma metodologia mais precisa, acredita-se que os números apresentados estão bem mais próximos da realidade da produção pesqueira marítima e estuarina do Estado. As evidências do crescimento da produção pesqueira se devem também, ao aumento dos portos de desembarque ao longo da costa maranhense, que em 1976 eram 220 (SUDEPE, 1976; Stride, 1992), e, em 2002, de acordo com levantamento do IBAMA, foram contabilizados 260 localidades de desembarques pesqueiros, distribuídos entre 21 municípios maranhenses, a maioria com bons acessos rodoviários.

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Página | 11 Ao mesmo tempo em que se observa um crescimento na produtividade pesqueira, verifica-se também um colapso em grandes proporções ocasionado pela situação social dos pescadores e pelas formas de capturas que vão desde coletores manuais até às pequenas frotas de barcos. A atividade pesqueira no Maranhão, apesar de numerosa, é tida como primitiva pelo uso de instrumentos artesanais, e, insufiente para explorar todo o potencial de pescado marinho existente no estado (Figura 2.2).

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2.1.2 A produção de pescado no município de São Luís

O município de São Luís, capital do Estado do Maranhão, ocupa uma superfície de 90 500 hectares, e está localizado no Nordeste do Brasil a 2° ao Sul do Equador, nas coordenadas geográficas latitude S 2º31´e longitude W 44º16, estando inserida no Golfão Maranhense, formado pelas baías de São Marcos e São José (Figura 2.3). O município está a 24 metros acima do nível do mar. Segundo a estimativa do IBGE 2010, o município possui 1 014 837 habitantes (Figura 2.3).

Figura 2.3 – Mapa da cidade de São Luís

De entre os 24 municípios que fazem parte do litoral maranhense, São Luís se apresenta como um dos destaques na produção pesqueira. A atividade representa uma significativa fonte de renda no município. Os pescadores, boa parte, são cadastrados na associação de pesca, e apresentam, na sua maioria, um nível de escolaridade baixo, possuindo apenas o ensino fundamental completo.

Não diferente dos demais municípios, que possuem potencial pesqueiro, no estado, São Luís apresenta as mesmas características com relação ao modelo de captura. Os métodos são ainda rudimentares e, por isso, requerem aparelhos de captura também rudimentares sem muita percepção de mudanças, no que tange a inovações tecnológicas ao longo das últimas décadas, a não ser pelas mudanças quanto ao tamanho das artes (comprimento das redes e número de anzóis nos

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Página | 13 espinhéis), além de diminuição na abertura da malha de redes como malhão, serreira e gozeira.

A frota pesqueira marítima e estuarina cadastrada pelo Projeto ESTATPESCA é composta por 7772 unidades. As embarcações a remo representam 3284 unidades (43,3%), sendo seguido pelas veleiras, com 2395 unidades (31,27%) e, as motorizadas, com 1967 unidades representando (25,43%). Destas, São Luis detém a maior frota cadastrada (10,3%), seguida por Tutóia (9,2%), Cururupu (6,9%), Turiaçu (5,6%) e Primeira Cruz (5,5%).

Segundo dados do IBAMA, somente as embarcações de três municípios maranhenses (São Luis, Tutóia e Cururupu), superam a frota de estados como Paiauí, Alagoas e Paraíba. Entretanto, os dados quanto ao número de embarcações existentes no litoral do estado podem ser superiores, visto que, não existem registros concretos do total das unidades pesqueiras no litoral.

De acordo com a evolução histórica da produção de pescado no litoral maranhense, observam-se grandes oscilações em torno dos dados apresentados. De modo geral, constatou-se uma tendência crescente até 2000. A partir desse ano, ocorreram picos mais baixos de produção, devido a avaliações mais criteriosas realizadas pelo programa ESTATPESCA, se comparada aos anos anteriores (Figura 2.4).

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Figura 2.4 - Produção total anual para os recursos pesqueiros do litoral maranhense no

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Página | 14 A produção das principais comunidades pesqueiras do litoral maranhense, entre os anos de 1965 e 1975, foram os municípios de São Luís, com 28% do total em peso; Cururupu com 20% e Primeira Cruz com 9% (Almeida et al., 2003). Atualmente esses municípios continuam com grande representatividade no setor produtivo do Estado, mas outros centros de escoamento pesqueiro surgiram e, portanto, estando atualmente distribuído mais equivalentemente em um maior número de comunidades.

De acordo com boletins estatísticos do programa ESTATPESCA, na área do Golfão Maranhense, região em que São Luís estar situado, o município que apresentou o maior extrato pesqueiro foi a Raposa com 7000 t, seguido por São Luís com 1960 t.

A produção de pescado no Maranhão é uma das mais representativas no litoral brasileiro em termos de quantidade e diversidade de espécies. Segundo dados do IBAMA, a produção pesqueira média dos últimos dez anos corresponde à primeira do Nordeste, em torno de 6000 ton/ano e sexta do Brasil.

De acordo com dados do IBAMA, em 2010 identificaram-se 87 espécies de pescado, 33 de maior importância em termos de volume de produção e valor comercial. Dentre elas estão a Pescada amarela, Corvina, Pescada-gó, Caranguejo-uçá, Cangatã e o Camarão branco. Estas espécies representam 60% da produção total (Tabela 2.1).

Tabela 2.1 - Produção pesqueira ano 2010

2.1.3 A pescada amarela do Maranhão

O litoral maranhense possui uma vocação natural para a exploração dos recursos pesqueiros. A pesca é realizada em todo o litoral do Maranhão, destacando-se algumas regiões especiais como as reentrâncias maranhendestacando-ses, no litoral ocidental. Os ambientes incluem toda a faixa costeira e de plataforma, estendendo-se desde o

Modalidade de pesca Produção pesqueira

(kg) (%)

Pesca extrativa marinha 40 027,00 62,2

Pesca extrativa Continental 22 505,50 35,4

Aquicultura Marinha 246,00 1,2

Aquicultura Continental 764,00 1,2

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Página | 15 alto mar. Apesar de alguns dados isolados, a atual produção total de pescado no Estado é realmente desconhecida. De acordo com os dados do IBGE, no período de 1980 a 1989, a produção total de peixes para o Estado do Maranhão apresentou grandes oscilações com picos para os anos de 1980 e 1984, com lacunas nos anos de 1983 e 1985 e valores médios de 30 000 toneladas por ano. (Almeida et al., 2002).

A pesca no litoral maranhense é toda artesanal, feita com barcos de pequeno porte, com capacidade de até 5 toneladas de peixes com tempo de pescaria de 3 a 15 dias. Este tipo de pesca propicia um produto de boa qualidade que é o filé de peixe, exportado para os mercados da Europa e dos Estados Unidos, em consequência também a boa qualidade dos seus derivados, dentre os quais estão os couros que se coletam ao longo do litoral maranhense.

De entre as espécies estudadas está o pacu (Piaractus mesopotâmicus) e a pescada amarela (Cynoscion acoupa). São peixes de grande porte e costumam ser bastante procurados por pescadores pelo seu alto valor comercial.

A pescada amarela, Cynoscion acoupa, é uma espécie demersal, pertencente à família Sciaenidae, que ocorre em águas rasas tropicais e subtropicais da costa atlântica da América do Sul, apresentando tolerância para as águas salobras, regiões com grandes manguezais e de águas com temperaturas mornas. No Brasil, ocorre em todo o litoral (Szpilman, 2000).

A Pescada amarela (Cynoscion acoupa) é um peixe de grande porte (Figura 2.5) costuma alcançar de 1 a 1,5 m de comprimento sendo encontrada em fundos excedentes na lama e da areia, em estuários do rio a uma profundidade de aproximadamente 25 m, costuma ser bastante comum no litoral maranhense.

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Página | 16 A espécie tem grande valor comercial, tanto pela qualidade de sua carne, como também pela bexiga natatória, denominada “grude”, utilizada para a elaboração de emulsificantes e clarificantes (Cervigón, 1993; Wolff et al., 2000).

Seus alimentos preferidos são os pequenos crustáceos. Sua ocorrência é somente no oceano atlântico e ocorre só nas regiões com as características acima apresentadas. Nesse caso, o litoral maranhense, que tem o maior manguezal do mundo, com mais de 600 km de extensão. A sua pesca começa a ser comercial a partir dos 5 kg com 3 anos de vida, podendo chegar quando adulto aos 12 anos, até 20 kg.

Estes peixes costumam ter valores comerciais elevados, com destaque para o estado do Maranhão, pelo fato de suas carnes serem consideradas de excelente qualidade em virtude das características peculiares locais.

O resultado financeiro das pescarias no litoral maranhense, em função dos preços praticados pelos pescadores, somou R$ 77 723 403,68 que corresponde a uma média em R$ 2,50/kg por quilo de pescado (Tabela 2.2).

Tabela 2.2 – Produção total estimada, preço médio e valor da produção de pescado

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2.2

Subprodutos do pescado

No Brasil, o aproveitamento dos subprodutos do peixe ainda é muito insignificante se comparado com o volume gerado. No Maranhão, a realidade é semelhante ao restante do país, visto que não existem evidências de ações voltadas para o beneficiamento do resíduo orgânico gerado a partir do processo de filetagem.

Boa parte dos peixes produzidos no estado, após o abate, tem sido comercializada na forma de filé. Os resíduos do processamento de peixes são constituídos de: cabeças, pele, nadadeiras, vísceras, carcaça, aparas e escamas. No processo de filetagem, a pele de peixe, que representa em média 7,5% do seu peso total, é considerada um subproduto que pode ser beneficiado por um processo de curtimento e transformado em couro (Souza et al., 1999; Souza, 2004).

Nos últimos anos, tem-se observado no Município de São Luís, assim como, nos demais municípios que fazem parte do litoral do Estado do Maranhão, um grande contingente de subprodutos de peixes, com destaque para a pescada amarela (Cynoscion acoupa), por ser a espécie com maior volume de produção no estado, sendo desperdiçado sem nenhum critério de gerenciamento, aproveitamento e destinação final adequado.

Dependendo da espécie, os subprodutos podem representar até cerca de 66% em relação ao peso total (Contreras-Guzmán, 1994). E dentre esses resíduos está a pele como o principal subproduto.

A percentagem de pele dos peixes teleósteos varia de 5 a 10%, em função da espécie de peixe e forma de sua retirada (método de filetagem). Em tilápias do Nilo são observados valores que variam de 4,8% a 8,5% (Macedo-Viegas et al., 1997; Souza e Macedo-Viegas, 2000; Souza 2003). Para bagre africano (Clarias

gariepinus), valores de 4,4% a 6,5%, dependendo da categoria de peso (Souza et al.,

1999); para o pacu (Piaractus mesopotamicus), uma percentagem de pele de 5,1% (Faria et al., 2002) e para a carpa espelho (Cyprinus carpio specularus), estima-se um valor de 4,7% (Souza et al., 2003).

Grande parte dos subprodutos como a pele, os otólitos, as escamas entre outros, é desperdiçada e, a maioria destes resíduos é descartada inadequadamente causando desequilíbrio ambiental. Se bem aproveitados, poderão adquirir inúmeras funcionalidades na área da estética quanto da saúde, além de trazer diversos benefícios como a prevenção da degradação ambiental e o prejuízo económico, combate à fome e geração de empregos diretos e indiretos (Espindola Filho et al., 2001).

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Página | 18 A pele dos peixes é um produto nobre e de alta qualidade devido à presença das lamélulas, local onde as escamas estão inseridas dando a este produto uma característica única e, possui ainda, a resistência como característica peculiar. Para Adeodato (1995), a pele de peixe, em uma mesma espessura, fornece um couro mais resistente que o de bovino, devido à forma de disposição e entrelaçamento das fibras colágenas (Figura 2.6).

Figura 2.6 – Pele da Pescada Amarela (Cynoscion acoupa)

2.2.1 O desperdício dos subprodutos do peixe

Poucos são os estudos referentes ao processamento de pescado, principalmente quanto aos rendimentos de carcaça e filé de peixes, faltando ainda à definição de um peso de abate que proporcione maior rendimento de processamento.

Na literatura são encontrados dados de rendimento de filé relacionado ao peso bruto do peixe, cujos valores variam desde 25,4% até valores próximos a 42% (Clement e Lovell, 1994; Contreras-Guzmán, 1994). Só a pele representa de 4,5% a 14% do peso corporal do peixe, dependendo da espécie e o método de remoção da pele durante o processo de filetagem.

As indústrias de beneficiamento de pescado geram grandes quantidades de resíduos, devido principalmente à falta de reconhecimento deste recurso como matéria prima e fonte para outros produtos. No Brasil, o aproveitamento de resíduos de pescados é pequeno. Aproximadamente 50% da biomassa no Brasil são descartadas

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Página | 19 durante o processo de enlatamento ou em outras linhas de produção, como a filetagem (Pessatti, 2001).

A ausência de uma padronização das técnicas de filetagem, com o propósito de aumentar o percentual de rendimentos de filé em relação ao peso bruto do peixe, assim como, a falta de ações direcionadas ao aproveitamento dos subprodutos, favorecem o desperdício e consequentemente geram impactos significativos no aspecto ambiental social e económico.

De acordo com a análise dos atuais destinos dos resíduos declarados por empresas do Sul do Brasil, foram relatados que 68% destes são encaminhados às indústrias de farinha de pescado, 23% são encaminhados ao aterro sanitário municipal e 9% são despejados diretamente nos rios, constituindo assim um grave impacto ambiental (Stori et al., 2002).

No Maranhão, o resíduo aproveitado não corresponde a 10% do volume total. Cerca de 95% dos subprodutos do pescado é direcionado para os lixões. Todos os dias toneladas de lixo orgânico são descartados pelos estabelecimentos que comercializam peixes e, pouco ou quase nada se tem feito para mudar esta realidade.

Apesar das inúmeras possibilidades para serem transformados em diversos produtos, os resíduos das indústrias de pescados são pouco utilizados. Estes resíduos podem ser destinados para vários tipos de aproveitamento como fertilizantes, consumo humano e vestuários, em se tratando da pele devido à qualidade e o aspecto peculiar inimitável, após processo de curtimento, isto pode ser verificado pelo desenho da flor formado pelas lamélulas de proteção da inserção das escamas na superfície da pele (Figura 2.7). No entanto, o que se tem percebido é que quando beneficiado, a produção de subprodutos é transformado em ingredientes para ração animal (Stori et

al., 2002).

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Página | 20

2.3 Impactos causados

2.3.1 Impacto Ambiental

O aumento da produção de resíduos vem provocando impactos ambientais, devido a sua taxa de geração ser bem maior que a taxa de degradação (Fiori, et al

2008). Contudo, devido à implantação de leis ambientais que determinam como um de

seus princípios a responsabilidade compartilhada e define as possíveis consequências pelo não cumprimento delas, vem provocar ações graduais em favor do meio ambiente em prol da minimização dos efeitos nocivos provocados pelo despejo continuo de resíduos sólidos e líquidos.

Em se tratando dos subprodutos do peixe, embora esses resíduos não devessem sofrer disposição final em lixões ou em aterros sanitários, pois suas características orgânicas e facilidades de putrefação causar aumento da população de insetos, odores desagradáveis e contaminação de lençóis freáticos, essa prática é muito comum. (Barros, 2007).

Vários são os zoneamentos existentes, cabendo destacar o zoneamento urbanístico que regula o uso e a ocupação do solo; o zoneamento ambiental, também chamado de zoneamento ecológico econômico, disciplinado pela Lei n° 6938/81 e pelo Decreto n° 4297/2002.

O zoneamento ecológico econômico tem por objetivo ordenar o território, definindo usos compatíveis com as diretrizes gerais da lei que o criou, estabelecer medidas e padrões de proteção ambiental e organizar as decisões de agentes públicos e privados. É regido por princípios relacionados com a função socioambiental da propriedade, a prevenção e a precaução com o meio ambiente, o poluidor-pagador e o usuário-pagador; a participação informada e o acesso eqüitativo e a integração.

Sendo assim, a utilização do resíduo do processamento de peixes para obtenção de novos produtos deve ser realizada de forma correta possibilitando um aumento da receita e contribuindo para preservação ambiental.

Vários são os cenários que estão sendo vítimas do processo sem nenhuma análise de impácto, como por exemplo, a falta de informações precisas quanto ao número de artes existentes no litoral maranhense. A ausência de tais informações dificulta o processo investigativo quanto estimativas de produção, assim como, as avaliações dos impáctos causados por petrechos específicos. Sabe-se que embora a pesca seja considerada artesanal, vem acarretando sérios impáctos sobre os ecossistemas pelo uso de artes destrutivas e influências antrópicas.

Embora as artes sejam consideradas de tecnologias simples, não implica dizer que não causem danos aos ecossistemas e recursos. Algumas tecnologias muito

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Página | 21 rudimentares, como as tapagens e zangarias, são altamente prejudiciais aos recursos e ambiente.

2.3.2 Impacto Económico

No Estado do Maranhão, a pesca litorânea é praticada ainda de forma artesanal, constituindo-se em uma atividade de subsistência. As condições apresentadas em termos de tecnologias de capturas existentes no litoral maranhense e registros de dados quantitativos da produção de pescado deixam muito a desejar, pois demonstra a fragilidade em não explorar todo o potencial marinho e estuarino que o Estado oferece, e por sua vez, não possui uma metodologia totalmente eficaz de controle, acompanhamento e registro da produção local.

Em virtude das características geográficas, o golfão maranhense e, portanto São Luís recebe uma intensa invasão do continente pelas águas marinhas, cujo resultado é o aparecimento de largas faixas de sedimentos lamosos, colonizados por denso cinturão de mangues. Sem dúvidas, a costa maranhense eleva o seu potencial em termos de biodiversidade (Camargo, 2001; Almeida et al., 2007), com uma grande representatividade também de peixes comerciais (Almeida et al., 2007).

A captura estadual é dominada por espécies estuarinas, particularmente cianídeos e bagres. Dentre os cianídeos destaca-se a Cynoscion acoupa seguida pela Macrodon ancylodon, que juntas apresentam valor de produção de 6030 ton/ano.

A pele da pescada amarela está entre as 3 mais procuradas e bem cotadas no mercado haja vista a sua leveza, tamanho, beleza e resistência de suas lamélulas, de textura e inigualável e inimitável (sem similar) padrão (Figura 2.8). Sua resistência é maior do que couro bovino. As peles são comercializadas nos seguintes tamanhos: 10 cm x 50 cm, 13 cm x 60 cm e 18 cm x 80 cm. Ideais para confecção de produtos de diversos seguimentos.

Apesar de não se ter dados concretos na literatura quanto ao volume de resíduos gerados desde a comercialização de peixes, com a retirada das vísceras, até o processo de filetagem, com o descarte da pele, das escamas, cabeça e toda a parte óssea, no município de São Luís, acredita-se que pelo volume de peixes capturados no litoral do estado anualmente, o volume de resíduos também deve ser proporcional. O levantamento de dados relacionados à quantidade de resíduos orgânicos de peixes gerados e, a forma de descarte, é de fundamental importância para que se possa avaliar os aspectos e os impactos económicos e principalmente, ambientais que vem sendo causado.

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Figura 2.8 – Pele da Pescada Amarela (Cynoscion acoupa)

2.3.3 Impacto Social

O último recadastramento nacional realizado no ano de 2005, pela SEAP (Secretaria Espacial da Agricultura e Pesca), no Estado do Maranhão foi recadastrado 70 000 pescadores com um aumento de 337,5%, tomando com referência o recadastramento realizado em 2004 que não ultrapassou 16 000 (Beckman, 2006).

Apesar do número nos cadastros, a gestão da SEAP-MA acredita que esse número corresponde apenas a 50% das pessoas que desempenham a atividade no estado; de acordo com a estimativa do órgão, o número de pescadores no Maranhão pode chegar a 150 000, embora os dados da SEAP (2007) apontem um número de 45 726 pescadores cadastrados no Maranhão.

Mesmo com a quantidade de pessoas que vivem da atividade pesqueira, as relações de trabalho são predominantemente do tipo familiar com indicadores profissionais precários. Os pescadores vivem em condições sub-humanas, a maioria mora em casas de taipa. Para São Luís e adjacências, os tipos de residências são mais estruturadas.

A pesca representa para o Maranhão uma importante fonte de renda, com grande impácto social, onde cerca de 80% da população costeira dedica-se a essa atividade, o quadro que no momento se apresenta é de falta de organização social, indicadores sociais preocupantes, rendas baixas e muitos conflitos. Nesse contexto, é ressaltado que as condições socioeconómicas dos pescadores permanecem em constante quadro de pobreza, e muitos vivem em condições desumanas.

A atividade pesqueira no Brasil, assim como, no Maranhão cresce de forma desordenada, sem uma política pública de base científica e visão multidimensional que considere os aspectos sociais, ambiental e económico.

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Página | 23 O que se tem percebido é um verdadeiro descaso por parte dos órgãos que deveriam estar empenhados em fazer cumprir de forma organizada, o dispositivo legal através do estabelecimento de uma legislação específica que possa garantir a exploração destes recursos através de portarias, decretos, leis e instrução normativa, que visem à sustentabilidade do sistema e proporcionem melhores condições de trabalho para os pescadores.

2.4 Leis ambientais no Brasil

As primeiras regulamentações elaboradas com o intuito de disciplinar ou normatizar o meio ambiente são identificadas na legislação portuguesa, que vigorou no Brasil até o advento do Código Civil, em 1916. Após este período, começou a florescer a legislação tutelar do meio ambiente no Brasil, com o aparecimento dos primeiros diplomas legais permeados por algumas regras específicas pertinentes aos fatores ambientais (Milaré, 2007).

A legislação ambiental, no Brasil, como em outros países do mundo, emergiu como resultado do movimento ambientalista que se estabeleceu no cenário internacional no final dos anos 60 e início do Século XX, principalmente a partir da Conferência em Estocolmo, em 1972. A partir desta conferência, uma nova compreensão das questões ambientais passou a nortear os legisladores brasileiros, que voltaram as suas atenções para a proteção do patrimônio ambiental do país, sob uma ótica mais integral e sistêmica.

Em todo o mundo, a legislação ambiental sofreu inúmeros avanços no que se refere à definição de diretrizes para o uso dos recursos naturais, bem como a determinação de parâmetros para conter o avanço da degradação e da poluição ambiental.

É possível observar que a política ambiental brasileira se desenvolveu de forma tardia se comparada às demais políticas setoriais brasileiras e, basicamente, em resposta às exigências do movimento internacional ambientalista. No entanto, a legislação ambiental brasileira tornou-se um dos arcabouços legais mais ricos do mundo, com normas regulamentadoras para a energia, recursos hídricos, biodiversidade, unidades de conservação, florestas, poluição atmosférica etc.

Ainda assim, a administração dos nossos recursos pesqueiros constitui-se, o que chamamos de “res nullius – coisa de ninguém”. Infelizmente com todas as legislações estabelecidas no Brasil, a atividade pesqueira se desenvolve de forma lenta e desorganizada.

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Página | 24 O artigo 20 da Constituição Federal define que os recursos vivos do mar territorial, da plataforma continental e da zona econômica exclusiva, integram os bens da união, significando assim, que cabe a esta, conservar os recursos ambientais e gerenciar esses bens de forma a atender os interesses da sociedade. Infelizmente a união não tem se prevalecido pelo estabelecido em Lei. O que se tem percebido é um verdadeiro descaso por parte dos órgãos que deveriam estar empenhados em fazer cumprir, de forma organizada, o dispositivo legal com vistas à assegurar a conservação, a gestão e o desenvolvimento eficazes dos recursos vivos aquáticos, respeitando o ecossistema e a biodiversidade.

Dentre as inúmeras formulações legais elaboradas no Brasil, o Decreto-Lei 794, de 19/10/1938, está relacionado ao Código de Pesca (Substituído pelo Decreto 221/1967), novamente revogado, em parte, pela Lei 11 959 em 2009. A lei máxima que rege toda a atividade pesqueira no país já sofreu inúmeras mudanças, e segundo Dias Neto (2002), a “anarquia oficializada” só veio para dificultar ainda mais a vida do cidadão usuário, podendo comprometer ainda mais o uso sustentável dos recursos pesqueiros.

O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), desde 1989, vinculado ao ministério do Meio Ambiente, através da lei nº 7735/89, tem assumido um importante papel no que tange à utilização dos recursos naturais através da promoção de uma nova filosofia. Dentre as ações deste instituto merece ressalva a iniciativa da criação dos Grupos Permanentes de Estudos (GPE) de várias espécies de pescados, atuantes até os dias atuais.

É importante ressaltar, que mesmo com a falta de prioridade para a pesca, em específico para a pesca artesanal, no Brasil, a pesca artesanal representa aproximadamente 50,1% da produção total incluindo a aquicultura (IBAMA, 2002). No Maranhão, ao longo dos anos, o volume de crédito formal que tem sido destinado ao setor da pesca artesanal tem sido insignificante. Com a criação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP), e a implantação, no Maranhão, da Agência de Desenvolvimento da Pesca e da Aquicultura (Adepaq) tendo como compromisso abranger o pescador artesanal, pode-se dizer que ocorreram algumas ações voltadas ao desenvolvimento da pesca no Estado com ênfase no aumento da produção da pescada amarela e do camarão para abastecimento do mercado interno e exportação.

Quanto às legislações que possuem maiores implicações as pescarias realizadas no Maranhão pode se citar a Portaria 121 do IBAMA de 24 de agosto de 1998 que regula o comprimento máximo das redes de emalhe em 2500 metros,

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Página | 25 considerando o grande número de redes que atuam na região costeira maranhense, e a tendência crescente no aumento do tamanho destas.

Outras importantes legislações que normatizam a pesca no Estado são a Portaria N.064 de 10 de janeiro de 1985 que proíbe o uso de tapagens e a Instituição Normativa N.39 de 2 de julho de 2004, que proíbe as malhas de zangarias inferior a 50 mm. Entretanto, o que se observa é uma prática de ilegalidade generalizada, devido ao persistente quadro de ineficiência de fiscalização somado a falta de cuidado com o bem comum (Almeida, 2008).

As políticas públicas adotadas pelo estado do Maranhão. De que se tem conhecimento foram poucas e de caráter assistencialista e isoladas, atingindo uma minoria de pescadores de forma arbitrária e muitas corrupções, conflitos, sem apresentar resultados satisfatórios sob os aspectos ecológicos, social e econômico.

No geral, no âmbito nacional brasileiro, o país não dispõe de um código ou mesmo de uma lei atual para regular o ordenamento dos seus recursos pesqueiros. Ainda permanece uma situação caótica de múltiplas normas legais conflitantes e anacrônicas, verdadeira colcha de retalhos, dificultando, e mesmo impedindo, o normal desenvolvimento das atividades pesqueiras e aquícolas.

O maior desafio relacionado à legislação ambiental brasileira é a aplicabilidade dessas normas. Seja porque há carência de pessoal para atuar nas áreas de fiscalização e controle ambiental, seja o deficiente aparelhamento dos órgãos ambientais em termos de recursos financeiros e materiais para operacionalizar os seus ações, ou seja, a ausência de interesses políticos na aplicabilidade dessas normas.

2.4.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS

Ao longo das últimas décadas, a humanidade vem passando por um rápido e maciço processo de crescimento populacional e urbanização, o que levou a grande maioria da população a viver em cidades.

Apesar do Brasil já ser um país com mais de 80% da população vivendo em áreas urbanas, as infraestruturas e os serviços não acompanharam o ritmo de crescimento das cidades. Os impactos do manejo inadequado de resíduos sólidos e da limpeza urbana deficiente são enormes sobre o dia a dia da população, quer seja em relação aos aspectos ambientais, quer seja pelos aspectos sociais e econômicos.

O crescimento demográfico, a intensificação das atividades humanas e a melhoria do nível de vida são responsáveis pelo aumento exponencial das quantidades de resíduos sólidos gerados, bem como pela alteração das suas

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Figura 1.1 – Localização do estado do Maranhão (Brasil)
Figura 2.1 - Litoral maranhense
Figura 2.2 – Embarcações do litoral maranhense
Figura 2.3 – Mapa da cidade de São Luís
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Referências

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