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ESPÉCIES COMUNS

4. Resultados e Discussão

4.5 Processo de reaproveitamento de pele de peixe

A pesquisa sobre curtimento de pele de pescada amarela foi iniciada em 2006 como projeto de conclusão de curso de graduação na Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Naquele período, os impactos negativos já eram visíveis. De 2006 a 2014, nada mudou com relação ao tratamento de resíduos orgânicos do pescado. Toneladas de resíduos são desperdiçadas diariamente sem critérios de seleção ou destinação final adequada.

Ao longo do trabalho de investigação desenvolvido nos últimos anos achou-se que seria uma alternativa muito interessante ao método usual, o fulão, estudar a aplicabilidade do tanquinho de lavar. Esta hipótese surgiu como uma possibilidade inovadora e mais económica para viabilizar o processo de curtimento de pele de peixe. A partir da experiência obtida por muitos ensaios realizados e algumas adequações nas etapas de curtimento, o resultado foi bastante positivo tanto pelo couro obtido quanto pela viabilidade económica do processo.

Apresentam-se, de seguida, as principais etapas pelas quais as peles passam de um modo sequencial durante o curtimento, bem como as condições experimentais que foram sendo optimizadas ao longo do trabalho desenvolvido:

- Salga e Ribeira

- Remolho (por vezes há uma etapa de pré-remolho) - Pré-Descarne e Descamação - Caleiro - Descarne - Desencalagem - Purga - Píquel - Curtimento - Neutralização - Recurtimento - Tingimento - Engraxe - Secagem - Amaciamento

No tanquinho de lavar foi possível realizar todas as etapas do processo de transformação da pele em couro. Após as etapas de conservação (salga), neste caso à base de sal, e ribeira, etapa que se caracteriza pela limpeza e adequação ou classificação das peles, deu-se início ao curtimento através da etapa de remolho.

Página | 57 Nesta etapa as peles conservadas foram reidratadas, onde a água perdida durante o processo de conservação foi reincorporada.

A operação foi realizada, utilizando-se banho com cerca de 500% de água referidos à massa da pele, submetida à movimentação manual por 10 minutos, de meia em meia hora, durante um tempo total de 1 hora. Posteriormente, foi feita a complementação da operação em novo banho. O tempo foi de 4 horas. Eventualmente, neste banho, pode-se adicionar 0,2% de tensoativos (sabão) do tipo desengraxantes para peles mais secas, além deste, se usou com produtos auxiliares os sais alcalinos, responsáveis pelo inchamento da pele e saponificação das gorduras, o carbonato de sódio, o hidróxido de sódio e bactericidas.

As etapas de pré-descarne e descamação que promovem a remoção das escamas e da camada hipodérmica, constituída por tecido adiposo (gorduras), facilitam a penetração, na pele, dos produtos químicos que serão usados nas etapas posteriores. Estas duas etapas foram realizadas com o auxílio de uma espátula ou com as costas de uma faca. O caleiro tem a finalidade de intumescer as fibras (inchar a pele) para poder rachar (dividir), bem como para o couro ficar mais macio. Para alcançar tais resultados usou-se o hidróxido de cálcio (cal), responsável pelo inchamento (usa-se em média de 3 a 4% de cal hidratada), detergente ou emoliente, ajuda na penetração da água mais rapidamente e ainda saponifica as gorduras não retiradas pelo pré-descame.

Após o caleiro, com as peles em estado intumescido, é executada a operação de descarne, com fim de eliminar os materiais aderidos ao carnal. A operação é efetuada manualmente. Após o descarne, a pele é submetida à divisão. A operação de dividir ou rachar consiste em separar a pele em duas camadas. A camada superior, denominada flor e a camada inferior, denominada crosta ou raspa.

A desencalagem é o processo que tem como finalidade a remoção total da cal (substância alcalina) indesejada na pele, pois a presença da mesma deixa o couro firme e duro sem toque agradável, devido à formação do sulfato de cálcio (grosso- insolúvel). O tempo do processo leva cerca de 1 hora. Nesta etapa, quanto maior a velocidade de rotação mais rápida será a ação dos produtos desencalantes. De acordo com as características do tanquinho a velocidade necessária foi atingida sem nenhuma dificuldade.

O objetivo da purga é o desentumescimento das peles através de enzimas proteolíticas da espécie Aspergillus, ao mesmo tempo que ocorre a limpeza da pele dos restos de epiderme e gordura, origina uma flor mais fina e sedosa. Pela ação da purga obteve-se couro com características especiais, mais macio, leve, flexível e, elástico. etc. Nesta etapa, o tempo dispendido está relacionado com os demais fatores

Página | 58 de concentração, temperatura, pH e intensidade da purga, variando normalmente de 45 a 90 minutos. Peles não submetidas a tratamento de purga apresentam tato áspero, com acentuação de certos defeitos nas operações complementares.

O píquel prepara as fibras colágenas para uma fácil penetração dos agentes curtentes. Nesta etapa ocorre a complementação da desencalagem, a desidratação das peles e a interrupção da atividade enzimática. A operação de piquelagem é muito importante para a etapa seguinte que é a do curtimento. Caso a pele não esteja piquelada, o pH seria elevado e os sais dos agentes curtentes minerais adquiririam uma basicidade elevada. O banho apresentou aproximadamente 4 °Be com penetração do ácido acompanhada pela utilização de um indicador ácido-base, o verde bromocresol com corte da pele apresentando a coloração verde maçã (para curtimento vegetal). Para o pH o controle foi feito com fita ou potenciómetro com faixa entre 4,8 e 5,0. O píquel é realizado com 6 a 10% de cloreto de sódio, 1 a 1,5% de ácido orgânico (ácido utilizado para conservação de alimentos), e 60 a 100% de água.

Na etapa de curtimento, ocorre o aumento da estabilidade de todo o sistema colágeno, diminuindo a capacidade de intumescimento do mesmo, aumento da temperatura de retração e estabilização face às enzimas. Foram utilizados produtos orgânicos como extratos vegetais extraídos, como o tanino, na sua grande maioria, das cascas de árvores do mangue, bastante abundante no litoral maranhense em substituição do crómio, metal com características bastante agressivas ao meio ambiente.

A neutralização visa a eliminação dos ácidos livres existentes nas peles. A verificação do pH da pele faz-se um corte e aplica-se solução de VBC (verde de bromocresol), que deve apresentar coloração azulada e, deve estar entre 4,5 e 5,0.

O recurtimento tem como objetivo acentuar ou mesmo modificar as características obtidas durante o curtimento. As peles foram colocadas no tanquinho em banho com 100% de água à temperatura de 40ºC com 5% do agente curtente, a partir dos taninos vegetais como o extraio de quebracho. Após o curtimento, os couros foram tingidos e engraxados. Com as peles já no tanquinho, colocou-se 50% de água e 3% de corante previamente diluído. Após obter-se um tingimento total acrescentou- se 100% de água à temperatura de 4ºC e 0,5% de ácido fórmico e pH aproximado de 4,5. Escorreu-se o banho. O recurtimento e tingimento são etapas em que se determina o grau de maciez e cor desejadas no couro como característica do produto final.

De acordo com Gutterres (2001), no engraxe, substâncias (óleos naturais e sintéticos em dispersões aquosas) são introduzidas no couro em estado húmido e irão revestir as superfícies das fibras e fibrilas, proporcionando o deslizamento e

Página | 59 mobilidade destas. A principal finalidade do processo de engraxe é garantir a maciez do couro depois de seco.

Para a realização da secagem e amaciamento, os couros foram estendidos ou pendurados à sombra para secagem natural (Figura 4.8). No amaciamento as fibras colagéneas são movimentadas por ação mecânica, de tal forma que ao deslizarem umas sobre as outras, obtém-se um couro mais macio, quando devidamente lubrificadas com óleos na etapa de engraxe. Durante o processo de curtimento, a pele, vai sofrendo modificações devido à utilização de produtos químicos que reagem com as fibras colagéneas, proporcionando ao couro uma maior resistência, associado à disposição e orientação das fibras colagéneas.

Figura 4.8 – Secagem natural do couro

Após a secagem foram parcialmente reumedecidos, amaciados e acabados utilizando-se técnicas simples como humedecimentos com água açucarada e amaciamento através do esfregamento do couro em superfícies com quinas ou o couro batido em superfícies diversas (Figura 4.9).

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