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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. Leandra Eloy Ribeiro Barros. O vídeo no jornalismo convergente e móvel: um estudo de mídias independentes brasileiras. São Bernardo do Campo, SP 2019.

(2) LEANDRA ELOY RIBEIRO BARROS. O vídeo no jornalismo convergente e móvel: um estudo de mídias independentes brasileiras. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), área de concentração “Processos comunicacionais” e linha de pesquisa “Comunicação Midiática, Processos e Práticas Socioculturais”, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação. Orientador: Dr. Mateus Yuri Passos. São Bernardo do Campo, SP 2019.

(3) A dissertação de mestrado intitulada: O vídeo no jornalismo convergente e móvel: um estudo de mídias independentes brasileiras, elaborada por LEANDRA ELOY RIBEIRO BARROS, foi apresentada e aprovada em 11 de setembro de 2019, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Dr. Mateus Yuri Passos (Presidente da Banca/UMESP), Prof. Dr. Roberto Joaquim de Oliveira (Titular/UMESP) e Profa. Dra. Claudia Nonato (Titular/FIAM FAAM).. _____________________________________________ Profº. Dr. Mateus Yuri Passos Orientador e Presidente da Banca Examinadora. _____________________________________________ Profº. Dr. Vander Casaqui Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. Programa: Pós-Graduação em Comunicação Social Área de Concentração: Processos comunicacionais Linha de Pesquisa: Comunicação Midiática, Processos e Práticas Socioculturais.

(4) Dedico este trabalho aos meus meninos, Caetano e Raul, que vieram de surpresa e me revelam a cada dia um amor que foge da compreensão humana, mas que se justifica, para mim, na existência de Deus..

(5) AGRADECIMENTOS. Aos meus pais, Joelma e Iveraldo, pelo investimento e incentivo aos meus estudos e pelo amor a mim dedicado. Ao meu melhor amigo e esposo, Delton Barros, por depositar todas as suas fichas em mim, cuidar de mim e ter sido paciente. À minha amiga, professora, chefe e companheira de estudos, Janaína Capobianco, por ter me incentivado nessa jornada, acreditando no meu potencial e me dando a oportunidade de tempo e espaço para que eu pudesse estudar e realizar essa pesquisa. À minha irmã Janine, que apoiou a minha decisão de mudar-me para São Paulo e dar início ao mestrado, e à minha afilhada Clarissa, que mesmo ainda sem entender compreendeu minha distância nesse processo. À professora Marli dos Santos, pela aceitação no meu ingresso à Pós-Graduação na Universidade Metodista de São Paulo. Ao professor Mateus Yuri Passos, que me recebeu de braços abertos como orientanda, foi paciente e compreensivo em todas as etapas da pesquisa. Ao professor Dimas Künsch, por me acolher com ternura em suas orientações à Janaína, dando sugestões e fortalecendo nossos debates. Aos jornalistas, que disponibilizaram tempo e cederam espaço a esta pesquisa, cujo apoio foi fundamental para a realização da mesma. À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pelo incentivo financeiro necessário para a pesquisa..

(6) Um dia me disseram Que as nuvens não eram de algodão Um dia me disseram Que os ventos às vezes erram a direção E tudo ficou tão claro Um intervalo na escuridão Uma estrela de brilho raro Um disparo para um coração A vida imita o vídeo Garotos inventam um novo inglês Vivendo num país sedento Um momento de embriaguez, nós Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter Um dia me disseram Quem eram os donos da situação Sem querer eles me deram As chaves que abrem esta prisão E tudo ficou tão claro O que era raro ficou comum Como um dia depois do outro Como um dia, um dia comum A vida imita o vídeo Garotos inventam um novo inglês Vivendo num país sedento Um momento de embriaguez, nós Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter Um dia me disseram Que as nuvens não eram de algodão Um dia me disseram Que os ventos às vezes erram a direção Quem ocupa o trono tem culpa Quem oculta o crime também Quem duvida da vida tem culpa Quem evita a dúvida também tem, também tem Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter Compositores: Humberto Gessinger / Umberto Gessinger.

(7) RESUMO O jornalismo independente, de mídias brasileiras que nasceram em um contexto contemporâneo, inaugura novos formatos de construir e dar a notícia, por meio de um trabalho em redes, convergente e móvel, que utiliza de modo também inovador os vídeos em suas narrativas. Este jornalismo móvel e convergente, com o uso de novas tecnologias, reinventa a forma de se produzir audiovisual, chamada para alguns de Pós-TV. Este estudo analisa o uso dos vídeos por sete importantes mídias independentes no cenário brasileiro — Congresso em Foco, Estúdio Fluxo, Jota, Mídia Ninja, Nexo Jornal, Repórter Brasil e The Intercept Brasil — compreendendo a produção do vídeo e seus usos nas narrativas apresentadas. Para tal, tomamos como referencial teórico os estudos de jornalismo e seus processos produtivos de Traquina e Wolf, além dos teóricos do jornalismo móvel e da convergência midiática, como Jenkins, Salaverría e Avilés. A metodologia, de natureza qualitativa exploratória, consiste em levantamento e estudo bibliográfico. E na pesquisa de campo, entrevistas em profundidade com jornalistas que são lideranças nesses veículos, além de uma análise de conteúdo de vídeos selecionados destas mídias, uma vez que o interesse em estudá-las nasce, sobretudo, das novas narrativas e formatos produzidos por muitas delas. Palavras-chave: Jornalismo Independente. Jornalismo Móvel. Produção de vídeos. Tecnologias Móveis. Convergência. Comunicação. Jornalismo..

(8) ABSTRACT Independent journalism, from Brazilian media that was born in a contemporary context, inaugurates new formats of building and spreading the news, through a convergent and mobile work in networks, which also uses videos in its narratives in an innovative way. This mobile and convergent journalism, with the use of new technologies, reinvents the way to produce audiovisual, called for some Post-TV. This study aims to analyze the use of videos by seven important independent media in the Brazilian scenario - Congress in Focus, Studio Fluxo, Jota, Ninja Media, Nexo Jornal, Reporter Brasil and The Intercept Brasil -, understanding the production of video and its uses in narratives. presented. For such, we take as theoretical reference the studies of journalism and its productive processes of Traquina and Wolf, besides the theorists of mobile journalism and media convergence, such as Jenkins, Salaverría and Avilés. The exploratory qualitative methodology consists of a survey and bibliographic study. And, in the field research, in-depth interviews with journalists who are leaders in these vehicles, as well as a content analysis of selected videos of these media, since the interest in studying them arises mainly from the new narratives and formats. produced by many of them. Keywords: Independent Journalism. Mobile Journalism. Video Production. Mobile Technologies. Convergence. Communication. Journalism..

(9) LISTA DE FIGURAS E TABELAS Tabela 1 - As sete mídias independentes selecionadas...........................................................................39 Tabela 2 - Presença das categorias de análise nas mídias analisadas...................................................151 Figura 1 - Mapa interativo com distribuição geográfica das mídias independentes compiladas pela Agência Pública......................................................................................................................................40 Figura 2 - Site do Congresso em Foco....................................................................................................42 Figura 3 - Site do Estúdio Fluxo.............................................................................................................45 Figura 4 - Site do Jota.............................................................................................................................51 Figura 5 - Site da Mídia Ninja................................................................................................................55 Figura 6 - Site do Nexo Jornal................................................................................................................60 Figura 7 - Site da Repórter Brasil...........................................................................................................63 Figura 8 - Site do The Intercept Brasil...................................................................................................66 Figura 9 - Página inicial do site Congresso em Foco...........................................................................111 Figura 10 - Página encontrada ao digitar “vídeo” no buscador do site.................................................111 Figura 11 - Página que reúne todos os conteúdos da categoria vídeo do Congresso em Foco......................................................................................................................................................112 Figura 12 - Reportagem "Deputados acusam senador mineiro de criar obstáculo às investigações sobre Brumadinho", de 28 de fevereiro de 2019............................................................................................113 Figura 13 - Vídeo “Deputados se agridem no Conselho de Ética”.......................................................114 Figura 14 - Página inicial do site do Estúdio Fluxo..............................................................................115 Figura 15 - Boletim do Fim do Mundo.................................................................................................116 Figura 16 - Página do Programa Córtex...............................................................................................117 Figura 17 - Canal do Estúdio Fluxo no YouTube................................................................................118 Figura 18 - "Córtex: vida pública, vias privadas e a erosão da intimidade”.........................................119 Figura 19 - Vídeos presentes ao longo da narrativa..............................................................................120 Figura 20 - Trecho da narrativa com a presença de imagem................................................................121 Figura 21 - Mapa com o percurso da entrevista/narrativa....................................................................122 Figura 22 - Captura de tela do segmento "mais" na página..................................................................122 Figura 23 - Página de vídeos do Jota no Facebook...............................................................................124.

(10) Figura 24 - Vídeo “Mudanças tributárias de 2018” publicado no Facebook........................................125 Figura 25 - Reportagem “As dez mudanças tributárias com maior impacto em 2018”, no site do Jota........................................................................................................................................................126 Figura 26 - Storie publicado no Instagram da Mídia Ninja em 28 de maio de 2019............................127 Figura 27 - Vídeo “Aprovada a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais”, publicado no feed do Instagram, em 29 de maio de 2019....................................................................128 Figura 28 - IGTV da Mídia Ninja.........................................................................................................129 Figura 29 - YouTube da Mídia Ninja...................................................................................................130 Figura 30 - Página de vídeos da Mídia Ninja no Facebook..................................................................131 Figura 31 - Transmissão ao vivo do "Esquenta Festival Lula Livre: por Lula livre, pelas liberdades de pensamento e expressão", em 28 de maio de 2019...............................................................................132 Figura 32 - Visão geral da página principal do especial "Marielle Franco - Uma homenagem da Mídia Ninja"....................................................................................................................................................134 Figura 33 - Página com o material "De Pretas para Marielle”.............................................................135 Figura 34 - Página com o material "De Pretas para Marielle"..............................................................136 Figura 35 - Página exclusiva de vídeos no site Nexo Jornal................................................................137 Figura 36 - Presença dos vídeos no feed do Instagram do Nexo Jornal...............................................138 Figura 37 - Página exclusiva de vídeos no site Nexo Jornal................................................................139 Figura 38 - Página exclusiva de vídeos no site Nexo Jornal................................................................140 Figura 39 - Reportagem “Por que este jogo sobre pássaros é um dos melhores de 2019”, de 27 de maio de 2019..................................................................................................................................................141 Figura 40 - Reportagem “Plástico: de mil e uma utilidades a problema ambiental”, de 06 de abril de 2019......................................................................................................................................................142 Figura 41 - Trecho da reportagem “O ‘baile da lama’: as relações entre políticos e mineradoras em uma festa de casamento – e fora dela”..................................................................................................144 Figura 42 - Página da Repórter Brasil no YouTube.............................................................................145 Figura 43 - Página de vídeos da Repórter Brasil no Facebook.............................................................146 Figura 44 - Página principal do site com lista de notícias....................................................................147 Figura 45 - Vídeo publicado no feed do Instagram faz chamada para reportagem no site “De sagrado não tem nada”.......................................................................................................................................148 Figura 46 - IGTV e vídeos de destaque nos stories do The Intercept...................................................149 Figura 47 - Reportagem “Esquece do seu filho”, do The Intercept......................................................150.

(11) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 12 CAPÍTULO 1 - JORNALISMO CONVERGENTE E MÓVEL: MÍDIAS INDEPENDENTES EM FOCO ............................................................................................................................................ 19 1.1 O jornalismo convergente e móvel .................................................................................................. 19 1.2 Jornalismo independente digital ...................................................................................................... 24 1.3 A compreensão de independência nas mídias escolhidas................................................................ 34 1.4 Mídias independentes em foco ........................................................................................................ 39 1.4.1 Estúdio Fluxo ............................................................................................................................... 45 1.4.2 Jota ............................................................................................................................................... 51 1.4.3 Mídia Ninja .................................................................................................................................. 55 1.4.4 Nexo Jornal .................................................................................................................................. 59 1.4.5 Repórter Brasil ............................................................................................................................. 62 1.4.6 The Intercept Brasil ...................................................................................................................... 65 CAPÍTULO 2 – PRÁTICAS RECONFIGURADAS: NOVAS ROTINAS E OLHARES SOBRE O VÍDEO.............................................................................................................................................. 70 2.1 O newsmaking na sociedade líquida ............................................................................................... 70 2.2 Produção fluida, móvel e convergente ............................................................................................ 77 2.3 A visão de protagonistas ................................................................................................................. 80 2.3.1 O dia a dia na mídia independente ............................................................................................... 81 2.3.2 Multimidialidade: múltiplas possibilidades, grandes desafios ..................................................... 86 2.4 A reconfiguração dos processos produtivos .................................................................................... 96 CAPÍTULO 3 – O VÍDEO NAS NARRATIVAS NAS MÍDIAS INDEPENDENTES ................. 98 3.1 Da TV à Pós-TV: a narrativa em vídeo ........................................................................................... 98 3.2 O uso dos vídeos nas narrativas das mídias independentes ........................................................... 107 3.2.1 Congresso em Foco .................................................................................................................... 110 3.2.2 Estúdio Fluxo ............................................................................................................................. 114 3.2.3 Jota ............................................................................................................................................. 123 3.2.4 Mídia Ninja ................................................................................................................................ 127 3.2.5 Nexo Jornal ................................................................................................................................ 136 3.2.6 Repórter Brasil ........................................................................................................................... 143 3.2.7 The Intercept Brasil .................................................................................................................... 147 3.3 O vídeo nas mídias analisadas ....................................................................................................... 151 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 153 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 158 APÊNDICE A - ENTREVISTA COM EDSON SARDINHA........................................................171 APÊNDICE B - ENTREVISTA COM BRUNO TORTURRA......................................................188 APÊNDICE C - ENTREVISTA COM GABRIELA GUERREIRO..............................................221 APÊNDICE D - ENTREVISTA COM MARIELLE RAMIRES...................................................235 APÊNDICE E - ENTREVISTA COM RAÍSSA GALVÃO............................................................275 APÊNDICE F - ENTREVISTA COM OLÍVIA FRAGA...............................................................287 APÊNDICE G - ENTREVISTA COM ANA MAGALHÃES........................................................312 APÊNDICE H - ENTREVISTA COM TATIANA DIAS...............................................................332.

(12) 12. INTRODUÇÃO. A praticidade dos vídeos que, invariavelmente, são mais velozes que os pares, papel e caneta — no que se referem à linguagem escrita e sua leitura — sempre me despertou admiração. Foi na minha atuação na grande mídia tradicional, mais especificamente na Rede Globo1 de Mato Grosso, na afiliada TV Centro América, que conheci o vídeo produzido para o jornalismo de TV, o telejornalismo. À época, todo moldado por padrões, das roupas e cabelos, da oratória e vocabulário, e, ainda, do caminhar. Sim, porque eu era uma garota do tempo, que tinha passos contados dentro de um cenário de chroma key2. Passei a admirar mais ainda formatos novos e ferramentas quando começamos a pensar pilotos com o uso do tablet em cena, com aplicativos como o Waze3 aberto e a possibilidade de somar tempo e trânsito, numa convergência de assuntos e reconfiguração da apresentação que, embora não fosse nenhuma novidade, passaria a ser ao vivo. Todas essas visões acerca da construção do vídeo, além da minha experiência como produtora de pautas e repórter do G1 Mato Grosso, me levaram a conhecer etapas de produção das narrativas apresentadas ao público, da pauta, do fazer jornalístico na rua, da edição, até a veiculação daquele produto final na televisão. A partir dos meus estudos sobre as transformações no jornalismo, apontadas por Adghirni e Leal (2011) como estruturais — com mudanças no perfil dos jornalistas, na relação com os públicos, na produção dos conteúdos — me chamavam a atenção as narrativas das mídias ditas independentes, em um contexto contemporâneo, que mudava, ainda, a forma de lidar e produzir vídeo, uma tecnologia não tão recente, mas que ganha novo significado e possibilidades no contexto da internet. A grande mídia brasileira, no caso o telejornalismo brasileiro, tardou a entrar no ambiente digital e custou a lidar com o cenário multiplataforma. Embora as transformações tenham acontecido na forma de fazer e, consequentemente, distribuir os vídeos pela grande mídia, que passou a operar tanto em TV quanto nas redes (sejam elas as sociais, como as mais. 1. A emissora é o maior representante da televisão brasileira em termos de audiência, produção de conteúdo, exportação de novelas etc. 2 Também conhecido como “fundo verde” ou “fundo falso”, o chroma key é uma técnica para substituir um fundo de cor sólida por outra imagem. 3 Waze é um aplicativo para smartphones ou dispositivos móveis baseado na navegação por satélite e que contém informações de usuários e detalhes sobre rotas e trânsito..

(13) 13. famosas YouTube, Facebook, Instagram, Twitter e Snapchat; seja na rede mundial de computadores, ou World Wide Web (WWW), mais conhecida como Web)4. Com a quebra do oligopólio do vídeo, a partir da internet e do potente dispositivo móvel chamado smartphone (cerca de 235 milhões de smartphones no Brasil, média de pelo menos um por habitante, de acordo com o Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da FGVEAESP, de 20195), as produções audiovisuais feitas pela TV não representavam todo o potencial, nem mesmo mudanças possíveis nestas produções. Por outro lado, observei que novos atores sociais, representados pelas mídias independentes, surgiam neste ambiente explorando as potencialidades da web, deixando para trás o jornalismo industrial. Costa (2014, p. 63), no estudo Jornalismo Pós-Industrial – Adaptação aos novos tempos – considerado por ele como o "mais abrangente estudo já realizado sobre a nova realidade do jornalismo" –, afirma que no ambiente digital o elemento mais disruptivo é o de combinar "modelos de meios e de comunicação num único canal", dando fim ao jornalismo industrial6. Neste trabalho são apresentadas as dinâmicas que envolvem o uso do vídeo por sete mídias independentes, como elas produzem seus conteúdos multimídia (todos com a presença do vídeo), no que eles diferem do que estava sendo feito até então pela mídia tradicional, e se existe um novo formato, ou o ensaio para isso. É objetivo central desta dissertação compreender como as mídias independentes digitais produzem seus vídeos e como usam o vídeo, ou seja, como o empregam em suas mídias, redes sociais e narrativas, no contexto contemporâneo de jornalismo móvel, convergente e em redes. E, de modo secundário, observar e identificar os diferentes formatos de apresentação de vídeos usados pelas mídias selecionadas; e analisar e compreender o modo de produção de conteúdo em diferentes tipos de vídeos produzidos. São hipóteses deste trabalho que as mídias independentes em foco fazem uso de vídeos em uma perspectiva hipertextual, explorando as características multimídias próprias do mundo digital. Inauguram assim diferentes formatos narrativos, em uma ruptura com o que foram os. 4. World Wide Web, em tradução literal do inglês, significa rede mundial de computadores, que é o programa de browser que permite a navegação que hoje praticamos. 5 De acordo com os dados da pesquisa, quando somados, os números de smartphones (235 milhões) e o número de computadores (185 milhões), os dispositivos digitais alcançam uma média de dois por habitante em 2019. Disponível em: https://eaesp.fgv.br/sites/eaesp.fgv.br/files/pesti2019fgvciappt_2019.pdf. 6 Post-Industrial Journalism – Adapting to the present, ou “Jornalismo Pós-Industrial – Adaptação aos novos tempos”, na tradução brasileira. Foi realizado por especialistas do Tow Center for Digital Journalism, e envolveu especialistas de três universidades: Christopher William Anderson (da City University of New York – Cuny), Emily Bell (da Columbia University Graduate School of Journalism) e Clay Shirky (da New York University – NYU)..

(14) 14. formatos predominantes do telejornalismo. Além disso, trabalham os vídeos como parte da narrativa jornalística (tanto na cobertura factual como nas de profundidade), compondo assim uma forma multimídia de abordagem dos acontecimentos, aproximando-se de um jornalismo de terceira geração (BARBOSA, 2013) e não meramente como mais uma forma de dar os fatos, apenas numa transposição de conteúdos, como fora assinalado por Palácios (2002), Canavilhas (2006) e Barbosa (2013) como primeira fase do jornalismo on-line. Este trabalho usa a definição de vídeo feita por Armes (1999), e segundo o autor, o vídeo é o “elo-chave final numa complexa cadeia de desenvolvimentos da reprodução tanto da imagem como do som” (ARMES, 1999, p. 19). Ademais, é importante salientar que esta pesquisa compreende as mídias independentes contemporâneas, segundo Karppinen e Moe (2016), em relação à autonomia, autogoverno e, sobretudo, ao distanciamento das convenções do mainstream7, sem a pretensão de defini-las dentro de um formato sólido de “mídia independente”, mas de compreendê-las assim. Outro fator essencial para a escolha das mídias estudadas diz respeito ao fato de que elas, em alguma medida, se opõem às mídias tradicionais — aqui em referência aos jornais, revistas, rádio e televisão —, provenientes de grandes grupos de comunicação, monopólios de famílias etc, mas também ao olhar que elas têm sobre si e como trabalham.. Metodologia. A trajetória desta pesquisa tem início em 2017, com a pretensão de analisar e acompanhar rotinas produtivas de duas importantes mídias independentes no Brasil, o Estúdio Fluxo e a Agência Pública. O Estúdio Fluxo, diante do protagonismo de seu fundador, que trabalha com jornalismo independente e produções audiovisuais, foi analisado ao interrelacionar o jornalismo independente e o uso do vídeo. Bruno Torturra é reconhecido como o criador da PósTV (uma rede de transmissões ao vivo pela internet (WebTV)8 em todo o país, por meio dos coletivos ligados ao Fora do Eixo), e como realizador da primeira transmissão ao vivo em um movimento de rua no Brasil, em 2011. Por outro lado, a Agência Pública chama muita atenção pelo Mapa de Jornalismo Independente9, que encabeçou com um levantamento 7. Em tradução literal do inglês, pode ser entendida como a corrente dominante ou convencional. A corrente dominante inclui toda a cultura popular e cultura de massa, as quais são difundidas pelos meios de comunicação de massa. 8 A WebTV é distinta da televisão tradicional feita originalmente on-line via banda larga e redes móveis. 9. Disponível em: https://apublica.org/mapa-do-jornalismo/..

(15) 15. realizado por meio de busca da própria e de indicação do público leitor, reunindo, entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, 79 iniciativas de mídia independente no Brasil, em 12 estados e no Distrito Federal. Diante da dificuldade de acesso à Agência Pública, os caminhos da pesquisa sofreram alterações.10 O acompanhamento de rotinas produtivas, por meio dos estudos de Chaparro (2003, 2007, 2014), outro objetivo preliminar deste estudo, tornou-se inviável já no primeiro contato com a primeira mídia, o Estúdio Fluxo — e posteriormente com todas as demais mídias abordadas —, que nos leva a repensar o significado de rotina para esses novos produtores, e que nos dá pistas para todo o percurso de pesquisa e nossas considerações finais: de que a rotina enquanto elemento de uma mídia convergente, móvel e desterritorializada é muito fluida e líquida (BAUMAN, 2001, 2007) e foge do controle de quem produz na contemporaneidade. Após a mudança de rumo na pesquisa, um novo olhar se abre sobre as possibilidades de alcançar mais mídias, a fim de compreender a presença do vídeo neste cenário apresentado. E, ao invés de duas mídias, sete mídias brasileiras, que se caracterizam como independentes, dentro dos critérios estabelecidos, são estudadas: Congresso em Foco, Estúdio Fluxo, Jota, Mídia Ninja, Nexo Jornal, Repórter Brasil e The Intercept Brasil — colocadas em ordem alfabética a fim de não deslegitimar e/ou prestigiar uma mídia em detrimento da outra, bem como, estão em ordem alfabética nos apêndices deste trabalho e na abordagem tanto de caracterização quanto de análise de conteúdo que será feito no terceiro capítulo. Para isso, a pesquisa utiliza métodos de natureza qualitativa e será estruturada em três etapas: levantamento e estudo bibliográfico, pesquisa de campo e análise dos resultados obtidos. Este tipo de abordagem busca “analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre. 10. Com o objetivo de entrevistar um jornalista da Agência Pública e acompanhar a rotina produtiva ou produção de algumas pautas, a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Janaína Cristina Marques Capobianco, e eu, fizemos juntas várias tentativas junto ao veículo. Começamos o contato por e-mail e por telefone em dezembro de 2018, quando a pessoa que nos atendeu, que possuía na data o cargo de coordenadora de comunicação, demonstrou abertura para nos receber e nos pediu para retomarmos o contato no ano seguinte. Em janeiro de 2019, a coordenadora de comunicação nos disse, por e-mail, que este trabalho de acompanhamento não seria possível. Optamos, então, para um exclusivo interesse em entrevistas. Não tivemos mais retorno na conversa, que por ora se dava por e-mail. Fizemos ainda, no começo da tarde do dia 22 de janeiro de 2019, uma visita à Agência, sem hora marcada, localizada na Barra Funda, em São Paulo. Tocamos o interfone e um rapaz que nos atendeu nos disse que o nosso contato não estava, e que voltássemos a ligar para marcar um horário. Depois disso, da falta de êxito no contato com a coordenadora de comunicação, decidimos abordar uma das jornalistas que exercem cargo de editora, por e-mail. Ela interrogou mais a fundo sobre a temática do trabalho e a intenção da entrevista, e desde o início afirmou que eles tinham “pouco tempo para atender a essas demandas, infelizmente”. E, então, a conversa que se dava por e-mail foi finalizada..

(16) 16. as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc.” (MARCONI; LAKATOS, 2007, p. 269). Esta pesquisa se orienta por uma perspectiva compreensiva dos fenômenos, em uma busca mais orientada para uma aproximação de como eles ocorrem. Ela pretende muito mais compreender os fenômenos, do que explicá-los completamente (KAUFMANN, 2013). A natureza dos fenômenos em análise é de permanente transformação, tanto pelo movimento próprio, que é o processo da produção jornalística em vídeo, como pelo ritmo acelerado das mudanças relativas ao universo audiovisual no contexto das novas tecnologias. Assim, vamos a campo mais com dúvidas do que com certezas, alinhados à perspectiva de que o campo “deixa de ser abordado majoritariamente como uma instância de verificação da teoria para se tornar o lócus de seu nascedouro, o ponto de partida da problematização teórica sugerida pelos fatos” (KAUFMANN, 2013, p. 19). A primeira etapa deste processo, a realização de um estudo bibliográfico de temas centrais para a pesquisa, partiu de uma contextualização acerca das transformações no jornalismo (PEREIRA; ADGHIRNI, 2011, 2012), de uma discussão acerca do jornalismo digital e móvel (CANAVILHAS; PALÁCIOS; BARBOSA, 2013) e convergência midiática (JENKINS, 2014; CASTELLS, 2011, 2013; PALÁCIOS, 2002, CANAVILHAS, 2001, 2010, 2013, 2014, 2017).. Os conceitos de Jornalismo Independente (LORENZOTTI, 2014;. BITTENCOURT, 2014; BENTES, 2015; MALINI; ANTOUN, 2013) e de Pós-TV (LOUREIRO, 2008; PISCITELLI, 1995) também são fundamentais para a pesquisa, pois são neles que se circunscrevem os fenômenos analisados. Os temas que dizem respeito às dinâmicas de produção jornalística, como as teorias do newsmaking e teoria da pragmática da ação jornalística, com seus métodos de rastreamento (ALSINA, 2009; TRAQUINA, 2016, 2011, 2012; TUCHMAN, 1978; SCHUDSON, 1978; WOLF, 1995; SOUSA, 2002; CHAPARRO, 2003, 2007, 2014), são importantes para o estudo, uma vez que focaremos os processos produtivos dos vídeos. Por se tratar de um objeto de estudo recente, um levantamento bibliográfico minucioso acerca das pesquisas já existentes sobre o jornalismo independente e a Pós-TV no Brasil foi feito, compreendendo ainda, os estudos atuais que enfocam as mídias selecionadas como universo da pesquisa. Para isso, foi realizada uma busca dos temas relacionados à pesquisa, por meio das palavras-chave Jornalismo Independente, Jornalismo Alternativo e Televisão, bem como os nomes das mídias. Para a realização da pesquisa de campo, foram feitas entrevistas em profundidade com um dos jornalistas de cada mídia selecionada, à exceção da Mídia Ninja, na qual uma segunda.

(17) 17. profissional foi entrevistada como sugestão e indicação da primeira entrevistada, com o argumento de que assim seria possível uma melhor compreensão dos modos de fazer jornalístico praticados por eles. Em todas as entrevistas fui acompanhada pela doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Janaína Cristina Marques Capobianco, que estuda a temática relacionada ao tema, com foco em toda a produção de notícias das mídias independentes. Na realização das entrevistas, optou-se pela perspectiva teórico metodológica da entrevista em profundidade (DUARTE, 2006, p. 63), em uma abordagem compreensiva dos fenômenos (KAUFMANN, 2013). Segundo Sousa (2006), como este tipo de entrevista pode não se limitar a tópicos preparados, “sua principal vantagem, como o nome indica, reside na possibilidade de se obterem informações pormenorizadas e aprofundadas sobre valores, experiências, sentimentos,. motivações,. ideias,. posições,. comportamentos. etc. dos. entrevistados” (SOUSA, 2006, p. 722). Para esta pesquisa, os jornalistas ouvidos foram idealizadores dos projetos de mídia ou exercem uma função de edição, de concepção, de direção da organização jornalística e, necessariamente, trabalham em alguma etapa da produção dos conteúdos jornalísticos em vídeos. Utilizamos, ainda, a compreensão de entrevista sob a ótica de Cremilda Medina (2005), de que a entrevista é um meio cujo fim é o inter-relacionamento humano, sendo que a autora cita Edgar Morin quando diz acreditar que existem dois tipos de entrevistas (numa classificação sintética): entrevistas cujo objetivo é espetacularizar o ser humano; e entrevistas que esboçam a intenção de compreendê-lo, ou seja, a de espetáculo e a de compreensão (aprofundamento). Para a autora, no fundo, o primeiro resultado é sempre uma caricatura das possibilidades humanas do segundo. Foram considerados para a execução das entrevistas os fatos apontados por Medina como que enriquecedores do desempenho das mesmas. São eles: conhecer o tema a ser abordado na entrevista; o preparo do entrevistador; encarar o momento da entrevista como uma situação psicossocial, ou seja, que envolve conjuntamente aspectos psicológicos e sociais, de complexidade indiscutível; a atitude do entrevistado; dinâmica de bloqueio e desbloqueio. Com todo esse arcabouço, esta pesquisa foi construída em três capítulos. O primeiro, “Jornalismo independente digital”, apresenta por meio dos estudos da bibliografia pesquisada quais são as definições e aplicações do jornalismo convergente e móvel, e discute o jornalismo independente como nova modalidade de se apresentar a notícias, mas, sobretudo, de se fazer jornalismo. São elementos importantes nesta etapa, a visão dos protagonistas, ou seja, a visão compartilhada pelos oito jornalistas entrevistados para a pesquisa acerca do que é o jornalismo.

(18) 18. independente, como ele pode ser praticado e em que medida as mídias na qual eles atuam11 podem ser consideradas mídias independentes. O segundo capítulo desta dissertação, intitulado “Práticas reconfiguradas: novas rotinas e olhares sobre o vídeo”, compreende o fazer do vídeo. Primeiro, partindo de uma apresentação da teoria do newsmaking, acerca dos modos rotinizados de se produzir jornalismo, a caminho das suas transformações para um modo de produzir contemporânea, sob a ótica de liquidez de Bauman, em que os processos não podem mais ser rotinizados, fundamentação de Zygmunt Bauman e seu conceito de “modernidade líquida”. Nessa discussão acerca de processos fluidos, móveis e convergentes de se produzir, usamos a fala, experiência e rotina dos jornalistas entrevistados sobre o dia a dia na mídia independente, e as possibilidades proporcionadas pela multimidialidade, sobretudo do uso dos vídeos. Já na terceira parte, no capítulo “O vídeo nas narrativas independentes”, apresentamos uma breve contextualização histórica da trajetória do vídeo para que ele pudesse ser amplamente usado pelas mídias contemporâneas, sob a ótica de que temos hoje um momento pós-tv de produzir e usar os vídeos, e com uma densa análise de conteúdo, o olhar de como esses vídeos são cotidianamente empregados nas mídias independentes brasileiras estudadas. Compõem, ainda, esta dissertação, ocupando um papel fundamental nas discussões e análises realizadas, oito entrevistas todas transcritas integralmente nos Apêndices. Foi entrevistado um jornalista representante de cada mídia, à exceção da Mídia Ninja em que duas jornalistas foram entrevistadas, por sugestão do próprio veículo, para que houvesse uma compreensão maior do fazer jornalístico nesta mídia. Essas entrevistas, compreensivas e de profundidade (DUARTE, 2006; KAUFMANN, 2013; MEDINA, 2005), como já fora dito, perpassam todos os capítulos desta dissertação, a fim de dar subsídios para compreender a produção e o emprego dos conteúdos audiovisuais nas mídias independentes estudadas.. 11. Dos oito jornalistas entrevistados para esta pesquisa, a jornalista Olívia Fraga, que concedeu a entrevista no cargo de editora do Nexo Jornal, deixou de integrar a equipe desta mesma mídia em junho de 2019. No entanto, consideramos nesta dissertação o cargo e empresa na qual atuavam Olívia na data da entrevista, uma vez que consideramos válidas todas as respostas, reflexões e informações dadas a nós pela entrevistada na ocasião da entrevista..

(19) 19. CAPÍTULO 1 - JORNALISMO CONVERGENTE E MÓVEL: MÍDIAS INDEPENDENTES EM FOCO. 1.1 O jornalismo convergente e móvel As transformações no jornalismo acompanham as transformações do mundo. Assim como os modos de coexistência, sobrevivência, trabalho, locomoção e, sobretudo, comunicação sofreram mutações ao longo dos anos, o jornalismo também se readequou e permanece em constante mudança. Adghirni e Pereira (2011) veem mudanças profundas, que “incluem novas formas de produção da notícia, processos de convergência digital e a crise da empresa jornalística enquanto modelo de negócios” (ADGHIRNI; PEREIRA, 2011, p. 39), que afetam diferentes aspectos do jornalismo e podem alterar radicalmente a forma como ele será praticado no futuro. Nos últimos anos, diferentes autores têm chamado a atenção para a necessidade de se repensar a identidade e a legitimidade do jornalista profissional (CURRAN, 2009; KARAM, 2009; MCNAIR, 2009) em um momento em que proliferam espaços de produção de conteúdo informativo. São versões on-line de jornais tradicionais, sítios e portais, blogs e mídias sociais, sites institucionais e mídias corporativas (MOURA et. al., 2008; SANT’ANNA, 2009), empresas de consultoria e assessoria de comunicação, estruturas de comunicação organizacional e de jornalismo empresarial (ADGHIRNI; PEREIRA, 2011, p. 39).. Sobre essa mudança pela qual passa o jornalismo contemporâneo, os autores a definem como estrutural, por ser “suficientemente abrangente e profunda para alterar radicalmente o modo como determinada atividade é praticada e simbolicamente reconhecida/definida pelos atores” (ADGHIRNI; PEREIRA, 2011, p. 42). Três eixos são apontados por Adghirni e Pereira (2011) como principais para a análise das mudanças estruturais no jornalismo: 1- mudanças estruturais na produção da notícia, 2- mudanças estruturais no perfil do jornalista e 3- as novas relações com os públicos. Wolton (2011) aponta que a comunicação vive um momento de grandes desafios e, por isso, precisa ser objeto de discussão. Pensar a comunicação num momento em que vivemos a saturação de informação e a onipresença das tecnologias é um grande desafio. “Ontem, com tecnologias limitadas, as mensagens trocadas envolviam públicos mais homogêneos. Hoje, as mensagens são incontáveis, as tecnologias, quase perfeitas, e os receptores sempre mais numerosos, heterogêneos e reticentes” (WOLTON, 2011, p. 16). Ainda sobre o futuro da comunicação em detrimento dos avanços tecnológicos, Adghirni e Pereira (2011) apontam que.

(20) 20. esse sentimento de indefinição é compartilhado por outros autores que apresentam, ainda, outros tipos de preocupações. “Em um breve ensaio, Elizabeth Bird (2009) parece oscilar entre a excitação provocada pelo potencial democratizante das novas tecnologias e a sensação de que o jornalismo tradicional se encontra em um momento de crise [...] de valores, crise de identidade, crise financeira” (ADGHIRNI; PEREIRA, 2011, p. 40). Embora existam diferentes pontos de vista e uma discussão acerca da ideologia tecnicista da comunicação e da tecnofobia (WOLTON, 2011, p. 32), uma delas em que a tecnologia tem poder transformador excessivo e outra em que ela pode ser entrave para o processo comunicativo, adotamos por premissa pensar que é irrefutável que quando tratamos das mudanças estruturais do jornalismo, os aparatos tecnológicos estão entre os fatores que impulsionaram essas mudanças, alterando o modo de viver dos indivíduos em diversos segmentos e aspectos. Não é pretensão deste trabalho fazer a discussão destes autores, mas reconhecemos aqui que, no caso das mídias independentes, por exemplo, que são o foco central desta dissertação, as tecnologias contemporâneas associadas à comunicação permitem o alcance e projeção destas mídias, entre outras coisas, quando falamos do uso dos smartphones. Jenkins (2009) cita a fundamentalidade do celular, por exemplo, na indústria cinematográfica quando filmes amadores e profissionais competiram em festivais de cinema, mas também no cenário midiático como um todo. Os celulares são “fundamentais no processo de convergência das mídias” (JENKINS, 2009, p. 31). Por isso, ao pensar a produção jornalística, com foco especial nos vídeos desta pesquisa, pensamos a convergência e a mobilidade com centralidade. Para o autor, a convergência das mídias é “onde as velhas e as novas mídias colidem, onde mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis” (JENKINS, 2009, p. 29). A convergência é um fato nas mais diversas áreas. A integração do físico com o virtual, se é que podemos chamar assim, foi uma das mais significativas delas. Empresas, lojas, escolas, serviços. Tudo pode começar, ser continuado ou finalizado on-line, a distância ou por meio de um smartphone. Com a imagem do celular fica mais fácil enxergarmos as especificidades desse jornalismo contemporâneo, digital e na Web ao qual se refere Palácios (2002). "Multimidialidade/Convergência,. Interactividade,. Hipertextualidade,. Personalização. e. Memória. Cabe ainda acrescentar a Instantaneidade do Acesso, possibilitando a Actualização Contínua do material informativo como mais uma característica do Webjornalismo" (PALÁCIOS, 2002, p. 2)..

(21) 21. A multimidialidade está relacionada à convergência dos formatos das mídias tradicionais, ou seja, de forma resumida: texto, imagem e som. A interatividade, que é a capacidade que o conteúdo tem de fazer com que o leitor se sinta mais parte do processo, ao contrário das infinitas possibilidades das quais dispomos hoje, num primeiro momento estava mais relacionada aos e-mails que poderiam ser recebidos. Outra forma de interpretar a interatividade estava totalmente relacionada à próxima especificidade, da hipertextualidade. Ser hipertextual é trazer links e possibilitar ao leitor uma leitura de diferentes formas, com várias pirâmides invertidas, direcionamentos para conteúdos relacionados a qualquer momento da reportagem, muito longe do máximo que poderia chegar um texto de impresso, por não haver mais a necessidade da linearidade, propiciada pelo universo web. Em relação à customização do conteúdo, Palácios se refere à possibilidade de selecionar um assunto e personalizar o que é de interesse do leitor. Sobre a memória, o autor argumenta que esta possibilita acesso a uma infinidade de materiais e que estão sempre disponíveis, por técnica e economicamente mais viável na Web. E a instantaneidade ou atualização contínua se dá pela rapidez do acesso, combinada com a facilidade de produção e de disponibilização de conteúdos na Web, de modo que o leitor possa fazer um acompanhamento contínuo dos assuntos de seu maior interesse. Sádaba, Portila, García Avilés, Masip e Salaverría (2008) apontam que desde os anos 80 a convergência é empregada para designar conceitos relacionados com a convergência tecnológica, sendo que, segundo eles, certamente não há uma denominação única aceita para designar o termo. O que de fato existe é um consenso de que a convergência não é uma mudança repentina, mas gradual de técnicas e processos comunicativos tradicionais com os ditos inovadores. Diante disso, para os autores: o conceito de convergência jornalística refere-se a um processo de integração dos modos tradicionalmente separados de comunicação que afeta negócios, tecnologias, profissionais e público em todas as fases de produção, distribuição e consumo de conteúdo de qualquer tipo. Esse processo tem profundas implicações para estratégias de negócios, mudanças tecnológicas, preparação e distribuição de conteúdo em diferentes plataformas, perfil profissional de jornalistas e formas de acessar conteúdo (SÁDABA; PORTILA; GARCÍA AVILÉS; MASIP; SALAVERRÍA, 2008, p. 12, tradução nossa).. Para os autores, em uma redação, a convergência jornalística apresenta repercussões ou consequências naturais para aquelas mídias que assumem a mentalidade de mudança. Eles apontam que essas repercussões se dão em diversos níveis, desde a hierarquia da redação, no processo de produção das notícias, gestão comercial, multiplataforma de gestão de conteúdo, e mais, nos âmbitos internos e externos à redação jornalística..

(22) 22. Mas há que se destacar que, muito embora a tecnologia não seja uma exclusividade do conceito de convergência jornalística, "as primeiras análises teóricas sobre a convergência na mídia, formuladas há quase três décadas, identificaram no elemento tecnológico o principal fator desencadeante desse fenômeno" (SALAVERRÍA; GARCIA AVILÉS; 2008, p. 33, tradução nossa). Dessa forma, a tendência de prestar mais atenção aos aspectos contextuais da tecnologia também se enraizou em estudos contemporâneos sobre convergência jornalística. "Além da nova estrutura física, que implica a reorganização do espaço e as posições dos jornalistas na redação, a convergência das redações implica uma mudança de mentalidade em diferentes níveis da produção jornalística" (SALAVERRÍA; GARCÍA AVILÉS; 2008, p. 39, tradução nossa). Para Barbosa (2013), a cultura contemporânea em si é a da convergência, ao passo que ela “modifica as relações não apenas entre tecnologias existentes, mas entre indústrias, mercados, gêneros, audiências e consumo dos meios. [...] a convergência promove a reconfiguração dos meios, o redesenho da sua estética e da sua economia” (BARBOSA, 2013, p. 35). Nesse contexto, o jornalismo vive um momento de interseção com as mídias móveis, que é de atuação conjunta, integrada, entre os meios, “marcado pela horizontalidade nos fluxos de produção, edição e distribuição dos conteúdos, o que resulta num continuum multimídia de cariz dinâmico” (BARBOSA, 2013, p. 33). A autora prossegue, afirmando que: Com isso, já não se tem uma oposição entre meios antigos/tradicionais e os new media. Sendo assim, medialidade explica melhor esse panorama, quebrando a retórica do ‘novo’ e, acrescentamos, dissipando a equivocada ideia de concorrência entre meios que compõem um mesmo grupo jornalístico multimídia (BARBOSA, 2013, p. 34).. Dentro dessa perspectiva de atuação conjunta, a internet aparece como responsável pela convergência das mídias (CASTELLS, 2011; BARBOSA, 2013). No processo de expansão desencadeado a partir do século XIX, a tecnologia sempre foi um fator preponderante para o aprimoramento dos procedimentos da produção jornalística, do trabalho dos profissionais, da oferta informativa, dos modelos de produtos e dos formatos dos conteúdos, assim como permitiu vencer distâncias para que a velocidade de circulação das notícias pudesse superar barreiras geográficas e temporais e chegar até o público, satisfazendo as necessidades de informação da sociedade (BARBOSA, 2013, p. 38).. Barbosa (2013) reforça essa premissa com base no uso das mídias móveis, que segundo ela, “especialmente smartphones e tablets, são os novos agentes que reconfiguram a produção, a publicação, a distribuição, a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdos.

(23) 23. jornalísticos em multiplataformas” (BARBOSA, 2013, p. 42) alterando assim a forma de consumir. Entende-se que mais do que reunir funcionalidades e capacidades técnicas em um único dispositivo, a convergência agrega a atuação de indivíduos que, munidos das mais diversas tecnologias, ressignificam modos de produção e consumo, consequentemente reestruturando o fluxo de circulação de conteúdos midiáticos (BITTENCOURT, 2014, p. 78).. Neste contexto de atuação midiática coletiva, a partir da munição tecnológica, Bittencourt (2014) ressalta o aspecto da convergência midiática, que possibilita o que chama de espalhamento. A ideia de “mídia de espalhamento” foi apresentada por Jenkins, Ford e Green (apud BITTENCOURT, 2014, p. 78) “para pensar as mudanças estabelecidas através de usos e apropriações de tecnologias digitais que vêm alterando processos de produção, circulação e consumo pautados pela convergência”. Este processo de empoderamento, a partir das tecnologias, também é apontado por Lorenzotti (2014), em um estudo sobre a atuação da Mídia Ninja 12 no Brasil, quando afirma que o celular é uma arma na atuação do coletivo. A autora considera que há muito para ser escrito e debatido sobre o coletivo, sobre o midialivrismo, “termo novo ainda não encontrado nos dicionários”, e classifica midiativismo como “o ativismo político baseado no uso das novas tecnologias de informação e comunicação” e midialivrismo como “a formação pela mídia; ativismo na mídia [...] refere-se a cidadãos multimídia, que atuam em iniciativas inspiradas na dinâmica do compartilhamento e na construção da cultura do comum: internet, fanzines comunitários, rádios comunitárias e etc” (LORENZOTTI, 2014, p. 122). De acordo com ela, os midialivristas: [...] costumam autodenominar-se comunicadores independentes. Do modelo analógico, ligado à lógica do líder de opinião, o mediador, emitindo do centro para a periferia – a mídia de massa – passa-se ao digital – a massa de mídias, a construção colaborativa de narrativas e conteúdos feitos por muitos atores que resulta em uma pluralidade de pontos de vista [...]. (LORENZOTTI, 2014, p. 05). Podemos, portanto, entender que os esforços somados para dar início à configuração mais recente de mídia independente13 têm sua origem na força do coletivo. Isso ocorre quando vemos o movimento de enxugamento das redações e as pessoas se veem na mesma posição de. 12. A Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) é um coletivo de mídia brasileira que se autodenomina independente, fundado oficialmente em março de 2013 no Fórum Mundial de Mídia na Tunísia, sendo uma das mídias estudadas nesta dissertação. 13 Nesta pesquisa fazemos referência à mídia independente contemporânea, ou seja, à configuração mais recente de mídia independente. A saber, veículos, grupos ou coletivos de mídia que não necessariamente surgem em 2013, mas que ganham maior visibilidade a partir deste período e que, entre outras coisas, constem no Mapa da Mídia Independente da Agência Pública. Disponível em: https://apublica.org/mapa-do-jornalismo/..

(24) 24. desamparo profissional, social e, claro, financeiro. Como ressaltam Adghirni e Pereira, “o aparecimento de uma nova mídia – como a internet – ou uma crise generalizada nas empresas de comunicação oferece potencial para alterar uma dimensão mais profunda da prática jornalística” (2016, p. 42). Outra dimensão do jornalismo convergente e móvel, que possibilita o surgimento de iniciativas denominadas mídias independentes, se deve ao fato de as mesmas terem surgido em um contexto de redes, neste trabalho, considerada em três de suas compreensões, a primeira delas a de sociedade em redes, designada por Castells (2013) como a dinâmica social atual, formada por um conjunto de nós interconectados, em que cada pessoa ou entidade representa um nó que se inter-relaciona com outros. Possibilitada pelo surgimento das tecnologias de informação, as redes têm, ainda, uma segunda compreensão, relacionada a World Wide Web, que é o programa de browser que possibilita a navegação que hoje praticamos, a internet, uma “tecnologia básica que permite a comunicação em todas as dimensões. Portanto, como a comunicação é a essência da vida social, económica e política, a Internet é essencial e continuará sendo” (CASTELLS, 2018). Dessa forma, uma terceira compreensão para as redes contemporâneas são as redes sociais. Segundo Castells, “mais fortes do que nunca em todos os países. Elas são o modo privilegiado da comunicação em massa na sociedade” (CASTELLS, 2018). Fazendo referência a “Wasserman e Faust (1994), Carrington, Scott e Wasserman (2005) e Degenne e Forsé (1999)”, Raquel Recuero (2006, p. 26) diz que “uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)”. Ou seja, com três redes (em sociedades, na internet e nas redes sociais) que dialogam, se retroalimentam, de modo aberto, dinâmico e flexível.. 1.2 Jornalismo independente digital Novas práticas jornalísticas surgem todos os dias. Com a mobilidade da comunicação, proporcionada, sobretudo, pelo contexto apresentado de novas tecnologias - computadores, internet, smartphones e demais aparatos tecnológicos - um novo modo de fazer jornalismo emergiu e se constrói virtualmente entre essas práticas nas chamadas mídias independentes — ou veículos de mídia independente. A princípio, os termos mais aplicados são jornalismo independente ou mídia independente (HERMAN; CHOMSKY; SATUF, 2016; ASSIS; CAMASÃO; SILVA; CHISTOFOLETI, 2017; KARPPINEN; MOE, 2016) e jornalismo alternativo ou mídia.

(25) 25. alternativa (PARENTE, 2014; AMORIM, 2007; KUCINSKI, 1991; SILVA, 2016), mas muitos outros são usados para dar nome a uma prática que, embora ainda esteja em construção, se mostra inovadora, diferente e independente em diversos aspectos — quando comparado ao modelo mais tradicional e antigo de fazer jornalismo, como dos conglomerados de mídia do Brasil14. Renata Parente (2014) avalia que a denominação de expressões comunicacionais que estão fora do eixo dos veículos convencionais (integrantes de grandes empresas, aqui denominadas como grande mídia ou mídia tradicional) "encontra divergências pela dificuldade de caracterizar o que é alternativo em meio à circulação de uma variedade de formatos híbridos possibilitados pelas novas tecnologias" (PARENTE, 2014, p. 2). Com uma análise histórica, Amorim (2007) apresenta o uso do termo “mídia alternativa” pelos estudiosos no Brasil e demonstra que o termo está ligado a uma reação de profissionais de imprensa e grupos de intelectuais à censura do período ditatorial brasileiro e à condescendência que os grandes conglomerados da época demonstravam para com os ditadores. Desse modo, a mídia alternativa teve uma atuação muito próxima ao campo político e, nas décadas de 1960, 1970 e 1980, ligada a movimentos políticos de esquerda. Em "Jornalistas e Revolucionários nos tempos da imprensa alternativa", Bernardo Kucinski (1991) entrevista cerca de 60 protagonistas e faz um panorama da imprensa alternativa do Brasil. Segundo o autor, entre 1964 e 1980, “nasceram e morreram cerca de 150 periódicos que tinham como traço comum a oposição intransigente ao regime militar. Ficaram conhecidos como imprensa alternativa ou imprensa nanica” (KUCINSKI, 1991, p. 5). Strelow (2005) diz que esses jornais de tamanho tabloide que circularam no Brasil neste período, e se caracterizaram pela oposição ao regime militar, ao modelo econômico, à violação dos direitos humanos e à censura “ficaram conhecidos como imprensa alternativa, de leitor, nanica, independente ou underground” (STRELOW, 2005, p. 1). Em um momento em que a grande imprensa era complacente com a ditadura militar, “os jornais alternativos cobravam com veemência a restauração da democracia e do respeito aos direitos humanos e faziam a crítica do modelo econômico” (KUCINSKI, 1991, p. 5). Entre as iniciativas de mídia alternativa que surgiram na época estão O Pasquim, Coojornal, Resistência e Opinião. Naquele período, esse tipo de imprensa surgia com duas motivações: a Ao fazer uma busca rápida por “conglomerados de mídia do Brasil”, o Google fornece aproximadamente 305 mil resultados, sendo o primeiro deles uma lista dos maiores grupos de mídia do Brasil, da Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_maiores_grupos_de_m%C3%ADdia_do_Brasil, e o segundo resultado a página “Categoria: Conglomerados de mídia do Brasil”, também do Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Conglomerados_de_m%C3%ADdia_do_Brasil. Acesso em 13 jul. 2019. 14.

(26) 26. esquerda queria protagonizar transformações, em oposição ao sistema militar, e havia uma busca, de espaços alternativos à grande imprensa e à universidade, por parte dos jornalistas e intelectuais. Ao todo, Kucinski (1991, p. 19) consegue delimitar ao menos sete fases do jornalismo alternativo no Brasil, entre os anos de 1964 e 1977. Não vamos delimitá-los aqui, uma vez que não é esta a pretensão desta pesquisa. No entanto, vale ressaltar que, segundo o autor, nos jornais alternativos dos anos de 1970 já entraram em cena alguns dos jovens precursores do jornalismo pós-moderno dos anos 2000, com experimentalismo de linguagem, como o Avesso, e o ativismo político ligado a movimentos populares, como o Batente. A correlação da mídia independente com os movimentos sociais é feita por Silva (2016, p. 3): [...] uma tendência que se destaca é a proximidade aos movimentos sociais, manifesta inclusive na adoção do modelo de coletivos como forma de organização em alguns destes grupos. Um levantamento preliminar das propostas de experiências recentes indica o apoio a um conjunto de bandeiras, valores e compromissos éticos específicos do nosso tempo. Entre eles: direitos humanos, direito à cidade, pluralidade, igualdade de gênero, questão racial brasileira, democratização da mídia, empoderamento feminino, midialivrismo, postura contra-hegemônica ou anticapitalista e crítica à globalização.. Segundo o autor, que adota o termo mídia alternativa desde os jornais operários anarcosindicais de 1879 a 1930 até a mídia alternativa contemporânea, a chegada dos anos 1990 trouxe transformações para a mídia alternativa no país, principalmente com o uso da internet. "Nesse período, muitas experiências partiram, principalmente, da vivência da mídia alternativa com os movimentos sociais e posteriormente, nos anos 2000, do encontro desses atores em eventos, como o Fórum Social Mundial" (SILVA, 2016, p. 9), a exemplo da Mídia Ninja, como veremos mais à frente. Em um estudo amplo, de dois anos, e publicado recentemente, em 2018, Roseli Figaro (2018), pesquisadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT), da Universidade de São Paulo (USP), adota o termo “arranjos econômicos alternativos”, para designar o que Silva chama de mídia alternativa contemporânea. Para a autora, em um cenário formado pela “crise do modelo de empresa jornalística, a destruição de postos de trabalho e a reestruturação dos processos produtivos", que colocam em xeque, ou seja, desarranjam “o futuro do exercício da profissão de jornalista e o jornalismo como conhecemos” (FIGARO, 2018, p. 17), jornalistas organizados em associações, pequenas empresas ou outras formas criativas de trabalhar, criam uma alternativa de trabalho e produção de um serviço de qualidade, não necessariamente criando rentabilidade, mas, entre outras coisas, democratizando os meios.

(27) 27. de comunicação. De acordo com o estudo de Cláudia do Carmo Nonato Lima (2015), integrante do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT), da Universidade de São Paulo (USP), coordenado por Figaro, os resultados mostram que com oportunidades de trabalho para os jornalistas nas empresas tradicionais de mídia cada vez mais escassas, esses profissionais são levados a uma migração para blogs, redes sociais e toda forma de mídias alternativas. Para ela, além da possibilidade de trabalho, nesses novos ambientes, talvez seja possível uma prática jornalística mais livre do mercado publicitário e das hierarquias e posições políticas da grande mídia. A importância dessas novas mídias já é amplamente reconhecida. Para além do alternativo e independente, Downing (2010), anteriormente, trouxe ainda outras denominações para essas novas mídias – como mídia participativa, mídia tática, mídia dos movimentos sociais, mídia da comunidade, mídia dos cidadãos, mídia do terceiro setor e mídia de contrainformação –, mas que, embora também sejam usadas por vezes como sinônimas, possuem definições particulares. Em relação a “alternativo”, Downing (2010) avalia a definição como “insossa”, uma vez que tudo é alternativo a algo, o que leva, segundo ele, à designação de mídia alternativa como algo desinteressante. Por outro lado, partindo do ponto de vista de Atton (2001, apud DOWNING, 2010), “a própria imprecisão do termo nos ajuda a reconhecer como a prática cultural cotidiana é impregnada por uma variedade extraordinária de formas de mídia alternativa” (DOWNING, 2010, p. 52). Para o autor, a mídia alternativa não estaria relacionada somente ao conteúdo, tampouco com seus temas de interesse, mas, sim, com a forma e linguagem em que esse conteúdo é divulgado e no contexto de como a comunicação é construída. Em suas palavras, a mídia: tem potencial para oferecer ainda mais do que "interpretação"; eles fornecem aos leitores acesso a experiências vivas de outros leitores (ativistas) e, ocasionalmente, os oferece como parte de uma rede de projetos socioculturais e sociopolíticos. A mídia alternativa pode fornecer narrativas poderosas de resistência para os contrapúblicos que são escritas por esses mesmos contra-públicos (ATTON, 2001, p. 153, tradução nossa).. Silverstone (1999) argumenta que a mídia alternativa criou novos espaços para vozes alternativas, com foco para interesses específicos da comunidade, “a força política da mídia vem da luta por forças culturais como acesso e participação, propriedade e representação” (SILVERSTONE, 1999, apud ATTON, 2001, p. 6, tradução nossa). Sobre os meios de comunicação de massa, em relação às mídias alternativas e à capacidade de expressar e publicar opiniões, Atton (2001) aponta como diferencial o acesso limitado do público a esses meios. Enquanto na mídia tradicional, o leitor, por exemplo, pode mandar cartas ao editor:.

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