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Jota

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CAPÍTULO 1 JORNALISMO CONVERGENTE E MÓVEL: MÍDIAS INDEPENDENTES

1.4 Mídias independentes em foco

1.4.2 Jota

Figura 4 - Página inicial do site do Jota 63

Fonte: Site Jota

O Jota não faz nenhuma menção a qualquer tipo de independência em seu site – Figura 4 – mas chama a atenção para a pesquisa ao, além de constar no Mapa da Agência Pública, em novembro de 2017, participar ativamente do evento chamado Festival 3i – Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente64. Junto às plataformas Agência Lupa, Agência Pública, BRIO, Nexo, Nova Escola, Ponte Jornalismo e Repórter Brasil se uniu ao Google News Lab para realização do evento.65

O veículo nasceu, em 2014, coletivamente, “quando um grupo de jornalistas dos principais jornais e revistas do país, especializados na cobertura do Poder Judiciário, percebeu uma demanda crescente por informação confiável e profunda sobre o que de mais relevante

63 Página inicial do site do Jota. Disponível em https://www.jota.info/. Acesso em: 25 jun. 2019. 64 A página oficial do evento está na rede social Facebook, em: https://www.facebook.com/festival3i/.

65 A Agência Lupa — https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/ — nascida em 2015, se reconhece como uma empresa

especializada em fact-checking, em tradução literal do inglês, checagem de fatos. A Agência Pública — https://apublica.org/ — foi fundada em 2011 por repórteres mulheres, e é a primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil. O BRIO — https://briohunter.org/ — nasce como um veículo de comunicação, em 2015, deixa de ser, e atualmente oferece um conjunto de serviços e produtos para jornalistas, inclusive, os auxiliando a criar seu próprio veículo independente. O Nexo — https://www.nexojornal.com.br/ — que é uma das mídias estudadas neste trabalho, é uma iniciativa independente de jornalismo digital, lançada em 2015. Nova Escola é — https://novaescola.org.br/ — uma marca da Associação Nova Escola, organização independente e sem fins lucrativos e é mantida pela Fundação Lemann. A Ponte Jornalismo — https://ponte.org/ — foi criada em 2014, inicialmente com o apoio da Agência Pública, e nasceu da união de alguns dos principais repórteres de segurança pública do Brasil. A Repórter Brasil — https://reporterbrasil.org.br/ —, que também é uma das mídias estudadas neste trabalho, foi fundada em 2001 por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de fomentar a reflexão e ação sobre a violação aos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores no Brasil.

acontecia no universo jurídico brasileiro”66. Com esse viés de jornalismo especializado, tem uma audiência qualificada, como advogados especializados em tributários, profissionais do mercado financeiro, juízes, procuradores e estudantes de Direito.

o Jota quando surgiu, quando ele foi criado, inicialmente a ideia era cobrir o Poder Judiciário. Em Brasília, como é feita essa cobertura? Os grandes jornais, as tevês no máximo têm uma pessoa que cobre o Supremo. E aqui você tem o STJ (Superior Tribunal de Justiça), o Tribunal Regional, com a Lava Jato veio o Ministério Público muito à tona e os jornais tiveram que se voltar pra isso também. Era uma área que não era muito coberta por veículo nenhum. Aí, quando o Jota foi criado, dos três dos sócios, dois deles eram ex-setoristas do Supremo, um que foi do Estadão e outro da Folha, e eles viram essa lacuna e pensaram ‘bom, dá pra gente explorar isso’, e aí o Jota começou assim, inicialmente focado só em Judiciário. Então a gente tem um produto que é o Supremo, o STJ, repórteres que ficam lá e acompanham dia a dia. Mas a gente tem também um que é tributário que é a parte jurídica do direito tributário. Ações tributárias que estão tramitando nessas esferas. E a medida que a empresa foi crescendo, a gente foi expandindo. Hoje a gente tem saúde, por exemplo, que ele [ela aponta] acompanha a Anvisa. A parte de regulação, é tudo mais ligado à parte do direito (informação verbal)67.

Sobre o aspecto de independência da mídia, a editora executiva do Jota, Gabriela Guerreiro, em entrevista para esta pesquisa, destacou a intenção de oferecer transparência e previsibilidade em seu conteúdo jornalístico.

A gente tem muito a questão de dar transparência. A gente briga que as duas palavras que a gente mais usa aqui são transparência e previsibilidade. É dar transparência para as informações que são públicas. Porque às vezes são informações que são públicas, mas não estão fáceis de as pessoas conseguirem. Então, você como jornalista consegue ter acesso a certas coisas que o cidadão comum não consegue, num site de órgão público. Ou tem a reunião de uma agência que a gente acompanha que teoricamente é pública, mas que ninguém vai para a Anvisa, sentar lá, acompanhar uma reunião. Não. Isso é papel que a gente faz que é um pouco tentar pegar as informações que são públicas, que estão abertas mas que o cidadão comum não tem acesso. Então a gente trabalha muito com isso e com a questão de dar previsibilidade, assim, de dar previsão mesmo, de assuntos que estão acontecendo, que podem vir a acontecer (informação verbal)68.

Estruturalmente, o Jota tem uma sede em São Paulo, localizada na Avenida Paulista e dois escritórios, um em São Paulo na Avenida Angélica, no bairro Bela Vista, e um em Brasília em um coworking69. Essa operação dinâmica na capital federal, em um espaço de trabalho moderno, é uma das evidências da pretensão do Jota de atuar aos moldes de uma startup70.

66 Disponível em: https://www.jota.info/quem-somos.

67 Entrevista gravada da editora do Jota, Gabriela Guerreiro, concedida para a pesquisa no dia 07 de fevereiro de

2019. A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice C desta dissertação.

68 Entrevista gravada da editora do Jota, Gabriela Guerreiro, concedida para a pesquisa no dia 07 de fevereiro de

2019. A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice C desta dissertação.

69 Coworking em tradução livre do inglês, cotrabalho. Trata-se de um modelo de trabalho destinado ao

compartilhamento do espaço por diferentes profissionais e/ou empresas, de diferentes ramos.

70 Bertocchi (2017, p. 112) afirma que o jornalismo de startup brasileiro está ainda em um estágio experimental e

Apesar dessa inovação de locação de trabalho, os cargos e profissionais envolvidos - ao todo 37 - lembram as grandes estruturas da mídia tradicional, com níveis de hierarquia e diferentes cargos. A formação da maioria é em jornalismo (cerca de 65%), alguns administradores, profissionais de tecnologia da informação (como engenheiro de telecomunicações e ciências da computação), bacharéis em direito, história e ciências contábeis.

No que diz respeito à sua forma de financiamento, o Jota se mantém por meio de assinaturas, com dois diferentes produtos: Jota.info e Jota Pro. O Jota.info é muito semelhante às assinaturas em jornais como Nexo Jornal, Folha de S.Paulo, O Globo, etc. em que o acesso aos materiais é restrito para os não assinantes, sendo necessária a realização de login.

A gente é um site que tem notícias. E a gente também tem um produto que é o Pro, que a gente chama, que é pra assinantes. São pessoas que assinam o Jota. Então, por exemplo, o Mateus que faz Saúde, a gente tem muito assinante que é empresário da área de saúde. A gente produz materiais para eles também especiais, newsletters, tudo com base em informação jornalística que a gente coleta. Todas as informações que a gente trabalha são informações públicas, e que estão à disposição da imprensa. A gente não pega coisa e vaza pra um assinante, por exemplo. Seria até um conflito ético fazer isso. O que a gente faz, todo material acaba indo para o site também. E depois a gente vai e publica, manda primeiro para quem assina o material e depois a gente bota no site e vira matéria para todo mundo. Mas o site do Jota, você tem que ser assinante do site (informação verbal)71.

Nesse caso, o preço da assinatura é de R$ 19,90 mensais ou R$ 199,90/ano, mas também poderá estar relacionado ao perfil do assinante. Por exemplo, para estudante o valor da assinatura é de R$ 9,90 por mês ou R$ 99,90 ao ano. Caso a assinatura seja para um escritório ou empresa e requerer diversos usuários, haverá um desconto progressivo - dois usuários R$ 34,90 por mês, três usuários R$ 49,90 por mês, etc. No Jota Pro, o assinante opta por pacotes com produtos temáticos, ou seja, escolhe os temas de maneira personalizada. São produtos temáticos do Jota Pro os pacotes Tributário, Poder e Saúde. Os valores desses produtos são divulgados somente mediante consulta - no qual são informados dados do contratante e da empresa, como nome da empresa, setor da empresa e número de funcionários. Cada um dos pacotes (Tributário, Poder e Saúde) conta com três diferentes planos, que alternam a cobertura realizada e os materiais que o contratante irá receber, como alertas, newsletters, relatórios, resumos analíticos, perguntas, etc.

pós-industrial, se destaca por adotar uma visão sistêmica da comunicação que ultrapassa a monotonia das empresas informativas tradicionais. São empreendimentos jornalísticos que buscam inaugurar um modelo singular, inédito e visionário de negócio, promovendo rupturas em suas diversas camadas: equipes, estratégias, processos, formatos narrativos, audiências e tecnologias”.

71 Entrevista gravada da editora do Jota, Gabriela Guerreiro, concedida para a pesquisa no dia 07 de fevereiro de

A captação de recursos para financiamento do Jota se dá, ainda, por meio de parcerias com empresas para a produção de conteúdos especiais, sobre temas de interesse tanto privado quanto público. No site, a mídia se posiciona sobre isso:

Muitos temas relevantes para a sociedade não recebem a merecida atenção da imprensa. As coberturas especiais do Jota foram criadas para jogar luz em discussões que podem contribuir para o aperfeiçoamento institucional do país. As editorias temáticas são patrocinadas por organizações e empresas que querem estimular o bom debate através de cobertura jornalística imparcial e de qualidade. Elas, porém, não interferem no conteúdo publicado neste espaço (JOTA, 2019).

Sobre isso, a editora executiva do veículo explicita que não há nenhuma interferência editorial por parte da empresa investidora, e exemplifica:

O Google, por exemplo, tinha uma parceria sobre liberdade de expressão. O Google injetava alguns recursos pra gente publicar matéria sobre liberdade de expressão, naquele tema. Mas não tem nada a ver com o Google, assim. O Google não pauta a gente, porque é um tema que a empresa quer ver discutido, e aí ela fecha um contrato e fala ‘Vamos fazer cinco matérias por mês sobre esse tema liberdade de expressão’. [...] Nenhuma orientação editorial. E isso é assim, em qualquer contrato que a gente fecha o ponto um é: a gente decide as pautas, a gente derruba as pautas, a gente que edita o que a gente vai e não vai fazer (informação verbal)72.

Todo esse novo formato de modelo de negócio, com diferentes formas de financiar-se, reflete em reconhecimento. Em junho de 2019, o Jota foi o vencedor da World Digital Media Awards 2019, na categoria de melhor startup de informação digital no mundo. No ano anterior, em novembro de 2018, venceu o prêmio semelhante, o “LATAM Digital Media Awards”, na categoria de melhor startup de informação digital na América Latina.

Além destas, em 2018, a reportagem especial “BSM: um tribunal na bolsa de valores”, de autoria do repórter Guilherme Pimenta, venceu a categoria mídia digital do 12º Prêmio Imprensa de Educação ao Investidor, promovido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia reguladora do mercado de capitais, pela B3 (bolsa de valores) e outras entidades.

No que se refere às mídias sociais, o Jota tem presença equilibrada nas quatro que estão entre as dez mais usadas no mundo73. No Facebook soma 155 mil curtidas na página. No Twitter

são 164 mil seguidores; no LinkedIn 31,7 mil; e no Instagram 30,3 mil.74

72 Entrevista gravada da editora do Jota, Gabriela Guerreiro, concedida para a pesquisa no dia 07 de fevereiro de

2019. A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice C desta dissertação.

73 Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn estão entre as redes sociais mais acessadas do mundo, segundo

levantamento da NeilPatel, disponível em: https://neilpatel.com/br/blog/redes-sociais-mais-usadas/.

No documento Download/Open (páginas 51-55)