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A sacristia e a encomenda episcopal portuguesa no período da reforma católica. O caso da Sé de Coimbra e o patrocínio do bispo D. Afonso de Castelo Branco

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Academic year: 2021

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(1)A sacristia e a encomenda episcopal portuguesa no período da Reforma Católica. O caso da Sé de Coimbra e o patrocínio do bispo D. Afonso de Castelo Branco. Cátia Cristino Correia Teles e Marques de Sousa Branco. Tese de Doutoramento em História da Arte Moderna. Setembro 2013.

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(5) Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em História da Arte Moderna, realizada sob a orientação científica do Prof. Doutor Carlos Alberto Louzeiro de Moura. Apoio financeiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia, através de fundos nacionais do Ministério da Educação. I.

(6) II.

(7) DECLARAÇÃO. Declaro que esta Tese é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.. A candidata,. _____________________________________ Cátia Teles e Marques de Sousa Branco. Lisboa, 23 de Setembro de 2013. III.

(8) IV.

(9) DECLARAÇÃO. Declaro que esta Tese se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a designar.. O orientador,. _____________________________________ Carlos Alberto Louzeiro de Moura. Lisboa, 23 de Setembro de 2013. V.

(10) VI.

(11) Ao Ricardo. VII.

(12) VIII.

(13) Agradecimentos. Esta tese não teria sido possível sem o apoio e a contribuição de todos aqueles que, de alguma forma, me ajudaram ao longo do percurso. Gostaria de deixar registado o meu agradecimento em particular: Ao Prof. Doutor Carlos Moura por ter aceitado orientar esta tese, pelo interesse e acompanhamento da investigação e pela leitura atenta do texto. Ao Instituto de História da Arte (FCSH/UNL) que acolheu este projecto de Doutoramento, em particular à Prof.ª Doutora Raquel Henriques da Silva e à Dr.ª Ana Paula Louro. À Fundação para a Ciência e Tecnologia pela bolsa concedida, que me permitiu desenvolver a investigação a tempo inteiro. Aos Profs. Doutores Alexandra Curvelo, Rafael Moreira e António Camões Gouveia, pelo encorajamento da proposta de investigação. E ao Prof. Doutor José Pedro Paiva, que generosamente contribuiu para este trabalho com cedência de documentação inédita e indicação de fontes. Ao Prof. Doutor Rui Lobo agradeço as conversas tidas e as sugestões críticas sobre as reconstituições arquitectónicas realizadas. Deixo também uma palavra de reconhecimento aos técnicos e funcionários das bibliotecas e arquivos portugueses e italianos onde decorreu a investigação, e à Dr.ª Virgínia Gomes, conservadora do Museu Nacional Machado de Castro. À Giulia Rossi Vairo, pelo generoso acolhimento em Roma. Pela amizade, apoio e motivação, à Leonor de Oliveira, Alexandra Campos, Pedro Marques, Hugo Xavier, Ana Sofia Morais e Miguel Abrantes. E à minha família, em particular a meus pais e à Cristiana, Karen, Lurdes e Luísa. Por tudo, ao Ricardo Lucas Branco, meu marido, a quem esta tese é dedicada.. IX.

(14) X.

(15) A sacristia e a encomenda episcopal portuguesa no período da Reforma Católica. O caso da Sé de Coimbra e o patrocínio do bispo D. Afonso de Castelo Branco Cátia Teles e Marques. PALAVRAS-CHAVE: Sacristia, patrocínio episcopal, tipologia arquitectónica, Reforma Católica, Carlo Borromeo, constituições sinodais, Sé Velha de Coimbra, D. Afonso de Castelo Branco, Sé de Viseu, Sé de Leiria, Sé de Elvas, Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. RESUMO: A sacristia, como a concebemos hoje, é uma realização da Época Moderna. Para a definição e autonomia deste espaço concorreram factores artísticos, relacionados com a pesquisa arquitectónica e a cultura material, e outros históricos derivados da Reforma Católica, nomeadamente a exortação ao decoro do culto e a normalização da liturgia. Esta tese tem como finalidade principal compreender, primeiro, o processo de configuração da sacristia enquanto tipologia particular da arquitectura religiosa e, depois, a introdução e desenvolvimento de modelos em Portugal a partir do período pós-tridentino. Assim, consideram-se as realizações do Renascimento italiano, onde a tipologia encontra a sua génese, e à formação precoce de modelos em Espanha, para melhor situar o caso português. A caracterização geral do universo de sacristias portuguesas abrange obras do século XVI ao XVIII, destacando-se os grandes empreendimentos monástico-conventuais do período filipino, momento em que a tipologia melhor se define em Portugal. Com o objectivo de caracterizar a função do espaço e progressiva atenção que ele mereceu no decurso da Reforma Católica, estudam-se os aspectos relacionados com a liturgia, subjacentes à reflexão sobre a arquitectura religiosa realizada no período pós-tridentino. Neste âmbito, são analisadas as instruções eclesiásticas a respeito da sacristia, nomeadamente as contidas na Instructionum Fabricae de Carlo Borromeo e na legislação diocesana ibérica. No seguimento desta abordagem, são objecto de estudo mais aprofundado as sacristias das sés de Viseu, Leiria e Elvas, articulando a leitura tipológica e. XI.

(16) artística com o significado mais amplo da encomenda episcopal no contexto da Reforma Católica. O patrocínio das sacristias é, assim, compreendido à luz da acção reformadora dos prelados, quer no domínio disciplinar como no dos empreendimentos arquitectónicos. Assinalam-se, por essa razão, as campanhas de reedificação dos paços episcopais, o provimento das sés e a reforma de igrejas e conventos dos respectivos bispados. Neste particular, destaca-se, especialmente, a figura do bispo-conde D. Afonso de Castelo Branco, pelo interesse assinalável do seu percurso, da correspondência e relações que manteve com a corte papal e das várias obras que patrocinou. Entre estas, conta-se a nova sacristia da Sé de Coimbra, espaço monumental irremediavelmente transfigurado por uma amputação efectuada no primeiro quartel do século XX. No estudo desta sacristia, procura-se entender os motivos da encomenda, descrever o processo de construção e decoração ao tempo do bispo-conde, reconstituindo a sua feição original e respectiva fortuna crítica e patrimonial. Simultaneamente, avaliam-se os modelos de influência do projecto, procurados na arquitectura local e noutras realizações nacionais, sem esquecer a dimensão de novidade que representou ao tempo. Originalidade, desde logo, indiciada pela monumentalidade da empresa e o perfil do seu encomendante, ambos indicadores de grande destaque seja no conjunto das sacristias portuguesas ou no campo do patrocínio episcopal.. XII.

(17) The Sacristy and the Portuguese Episcopal Commissions during the period of the Catholic Reformation. The case of the Cathedral of Coimbra and the patronage of the bishop D. Afonso de Castelo Branco Cátia Teles e Marques. KEYWORDS: Sacristy, episcopal patronage, architectural typology, the Catholic Reformation, Carlo Borromeo, synodal constitutions, Old Cathedral of Coimbra, D. Afonso de Castelo Branco, Cathedral of Viseu, Cathedral of Leiria, Cathedral of Elvas, Monastery of Santa Cruz of Coimbra. ABSTRACT: The sacristy, as we understand it today, is a result of the Early Modern period. To the definition and the autonomy of that space, artistic and historical factors concurred, the ones related to architectural research and material culture, the others, namely the exhortation to cult decorum and the normalization of the liturgy, arising from of the Catholic Reformation. The main purpose of this thesis is to assess, firstly, the process through which the sacristy was configured as a particular typology of religious architecture and, secondly, the introduction and the development of models in Portugal, from the post-tridentine period on. To better situate the Portuguese case, focus is placed on the sacristies of the Italian Renaissance, where the typology’s genesis can be found, and on the precocious formation of models in Spain. The overview of the Portuguese sacristies encompasses the works of the sixteenth to eighteenth centuries, singling out the great monastic-conventual building projects of the Philippine period – moment at which, in Portugal, the typology is best defined. With the purpose of characterizing the function of this space and the growing attention it was granted in the course of the Catholic Reformation, aspects connected to the liturgy were considered, which underlie the reflection upon religious architecture made in the post-tridentine period. In that extent, the ecclesiastical instructions regarding the sacristy, namely the ones included in Carlo Borromeo’s Instructionum Fabricae and in the Iberian diocesan legislation, are object of analysis.. XIII.

(18) Pursuing this approach, the sacristies of the Cathedrals of Viseu, Leiria and Elvas merited deeper study, articulating the typological and artistic survey with the wider meaning of the episcopal commission in the context of the Catholic Reformation. Patronage of the sacristies is thus understood in the light of the reformations undertook by the prelates, be it in the realm of discipline or in that of architectural commissions. For that reason, the episcopal palaces’ reedification campaigns, the provision of the Cathedrals and the reform of the churches and convents of each diocese, are pointed out. In this particular, the figure of the bishop-count D. Afonso de Castelo Branco stands out, for the remarkable interest of his career, the correspondence and relations that he kept with the Papal court, and the several works he was patron of. Among them is the new sacristy of the Cathedral of Coimbra, a monumental space irredeemably transfigured by an amputation performed in the first quarter of the twentieth century. Study of this sacristy aims at understanding the motives for the commission and describing the process of construction and decoration at the time of the bishopcount, reconstituting its original interior design and respective critical and patrimonial fortune. Simultaneously, the models of influence, sought in the local architecture and in other national buildings, are evaluated, while keeping in mind the aspect of novelty that the project possessed at the time. Its originality is hinted at from the outset by the monumentality of the enterprise and by the profile of its commissioner, both indicative of great singularity whether within the group of Portuguese sacristies, or within the scope of episcopal patronage.. XIV.

(19) Índice. Agradecimentos ......................................................................................................... VII Resumo | Abstract .......................................................................................................IX Índice .......................................................................................................................... XV Siglas e Abreviaturas ................................................................................................. XIX Introdução .................................................................................................................... 1. PARTE I| A sacristia no período da Reforma Católica: tipologia, modelos, instruções e encomenda ............................................................................................17 Capítulo 1| A sacristia na Época Moderna: a consolidação da tipologia e o desenvolvimento de modelos no espaço ibérico ..................................................... 19 » A génese de modelos em Itália ...............................................................................19 » Espanha ...................................................................................................................26 » Portugal ....................................................................................................................34 - Um modelo jesuíta? ...........................................................................................40 - O modelo do classicismo ....................................................................................51 Capítulo 2| Arquitectura e Reforma Católica. A normalização do espaço da sacristia pela Igreja .................................................................................................... 81 » Instructionum Fabricae et supellectiles ecclesiasticae de Carlo Borromeo ......... 87 - Contactos do cardeal e arcebispo de Milão com Portugal ...............................91. XV.

(20) » A restauração do culto católico e o lugar da sacristia na liturgia . ........................ 97 » A sacristia na Instructionum Fabricae de Carlo Borromeo: a exemplaridade do caso do arcebispado de Milão............................................................................ 101 » A sacristia nas Constituições Sinodais e Visitas Pastorais: o caso português e o contexto ibérico ................................................................................................. 111 - Constituições Sinodais ..................................................................................... 111 - As Visitas Pastorais e as Fábricas .................................................................... 128 Capítulo 3| As sacristias catedralícias e a encomenda episcopal .......................... 145 » A Sé de Viseu e o bispo D. Jorge de Ataíde (1574) .............................................. 145 » A sacristia da Sé de Leiria e o bispo D. Pedro de Castilho (1583-1597) .............. 155 » A sacristia da Sé de Elvas entre os bispados de D. António e D. Sebastião de Matos de Noronha (1609-1627)......................................................................... 173. PARTE II| A sacristia da Sé de Coimbra e o patrocínio do bispo D. Afonso de Castelo Branco ......................................................................................................... 191 Capítulo 1| Antecedentes: legislação sinodal e sacristia velha ............................. 193 Capítulo 2| O bispo-conde D. Afonso de Castelo Branco....................................... 201 » Bispo reformador e «Príncipe da Igreja» ............................................................. 205 - Relações e troca de correspondência com a corte papal .............................. 213 » Os empreendimentos do bispo-conde: arquitectura residencial e religiosa em Coimbra. ............................................................................................................. 228 - Paço episcopal, quinta de São Martinho do Bispo e benfeitorias à cidade .. 228 - Colégios e cenóbios ......................................................................................... 237. XVI.

(21) - A refundação e patrocínio do convento de Santa Ana .................................. 243 - Apadrinhamento do processo de canonização da Rainha Santa Isabel ........ 254 Capítulo 3| A sacristia nova da Sé de Coimbra ....................................................... 259 » Disposições normativas: a sacristia nas Constituições Sinodais de 1591 ........... 259 » O empreendimento da sacristia da Sé, a fortuna crítica e patrimonial do espaço, e a reconstituição da arquitectura............................................................. 265 - Patrocínio e construção................................................................................... 265 - A campanha de restauro do século XX e a demolição parcial da sacristia .... 269 - Proposta de reconstituição do espaço original .............................................. 275 » Tipologia e sentido programático ........................................................................ 296 » Partido arquitectónico e decorativo. Proposta de atribuição ............................. 306 » Provimento e decoração da sacristia ................................................................... 317 » O bom que nela há D. Afonso o deu. O patrocínio da sacristia da Sé de Coimbra: considerações finais ................................................................................. 332 Conclusão ................................................................................................................. 343 Fontes e Bibliografia ............................................................................................... 353 Índice de Figuras e Tabelas ...................................................................................... 391. XVII.

(22) XVIII.

(23) Siglas e Abreviaturas. ANBA AHMC AHMOP ANTT ASE ASV AUC ARSI BA BACL BMC BnF BNP BPMP DGEMN IMC MNMC SIPA. | Academia Nacional de Belas Artes | Arquivo Histórico Municipal de Coimbra | Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas | Arquivo Nacional Torre do Tombo | Arquivo da Sé de Évora | Arquivio Segreto Vaticano | Arquivo da Universidade de Coimbra | Archivum Romanum Societatis Iesu | Biblioteca da Ajuda | Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa | Biblioteca Municipal de Coimbra | Bibliothèque nationale de France | Biblioteca Nacional de Portugal | Biblioteca Pública Municipal do Porto | Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais | Instituto dos Museus e da Conservação | Museu Nacional Machado de Castro | Arquivo do Forte de Sacavém – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (IHRU). CS atrib. cfr. fl. i.e. lv. p. publ. n. n.º inv.º. | Constituições Sinodais | atribuído | conforme | fólio | isto é | livro | página | publicado | nota | número de inventário. XIX.

(24) XX.

(25) Introdução. Tema e estado da arte A sacristia constituiu um espaço de importante relevância no interior das igrejas na Época Moderna, especialmente a partir do período da Reforma Católica, em que se tornou numa das principais dependências anexas das igrejas, onde decorriam os momentos de preparação e de encerramento do ritual e se guardavam as alfaias e paramentos litúrgicos. Foi sobretudo neste período que alcançou uma autonomia própria, enquanto tipologia independente – embora fundamentada na tradição da Igreja –, com características precisas, nomeadamente quanto à sua disposição e aos seus diferentes componentes, apresentando mesmo uma hierarquia espacial e cerimoniais específicos. O estudo das sacristias suscita uma ampla gama de questões e várias possibilidades de análise. Em termos formais, o desenvolvimento de soluções espaciais e decorativas para esta divisão participou da semântica própria de cada período artístico. Por essa razão, cabe questionar: o que distingue as sacristias de outros espaços e em que momento se configurou como unidade autónoma? Para perceber a lógica que presidiu à sua concepção, será importante tratar o objecto de estudo na perspectiva da sua individualidade tipológica, considerando o pouco que se conhece a este respeito. A importância do tema não passou despercebida à historiografia da arte portuguesa, que, de há alguns anos a esta parte, tem salientado a necessidade de uma visão de conjunto. Como se pode verificar, por exemplo pelas palavras de Luís de Moura Sobral: «se aqui e além se encontram análises que incidem sobre um ou outro aspecto do problema, desconheço a existência de estudos. 1.

(26) globais sobre o tema; tão-pouco, creio, se tratou de elaborar uma tipologia da decoração das sacristias barrocas portuguesas»1. Na minha dissertação de Mestrado em História da Arte Moderna, dedicada ao estudo do mobiliário monumental de sacristia2, realizei uma primeira aproximação a este universo de estudo, avançando dados no sentido de qualificar a sacristia e o seu percurso espacial e decorativo no Portugal Moderno. Este trabalho teve a valia de levantar questões que importa agora esclarecer com maior profundidade num âmbito histórico, artístico e geográfico mais alargado. Se em Portugal se encontram notáveis exemplos ao nível arquitectónico e decorativo, o alcance e a especificidade destas realizações só podem ser verdadeiramente compreendidos a partir da caracterização da função litúrgica do espaço e da génese e desenvolvimento da tipologia, enquanto resposta às preocupações da Reforma Católica com o decoro do culto. Esta reflexão obriga, necessariamente, a alargar o inquérito além-fronteiras e situar o caso português numa perspectiva comparada, antes de mais com os empreendimentos artísticos italianos e espanhóis. Porém, a averiguação sobre a consolidação tipológica e sobre difusão e adopção de modelos distintos revela-se uma tarefa complexa, desde logo pelas limitações da bibliografia existente sobre a matéria. Devo sublinhar que o estudo das sacristias, em geral, se encontra numa fase incipiente, mesmo no plano da historiografia internacional. Talvez por ter permanecido uma área de acesso reservado, nunca alcançou protagonismo suficiente que justificasse um interesse generalizado. À parte alguns estudos de caso monográficos ou menções pontuais em histórias gerais sobre obras de maior destaque, são ainda escassos os trabalhos de fundo que incidam na caracterização das origens da sacristia na história da arquitectura religiosa, sua função e identidade. Neste panorama, constitui excepção o recente trabalho de. 1 2. Sobral 1996, 81. Marques 2007.. 2.

(27) Francisca del Baño Martínez para o caso espanhol3. Na ausência de uma discussão sobre o assunto, é um dos meus principais objectivos procurar definir a tipologia e identificar modelos distintos, com vista ao alargamento do tema. Desejando que, no futuro, ele venha a enriquecer-se com novos contributos, condição imprescindível para a valorização, conservação e divulgação deste património ainda tão mal conhecido. A primeira questão que se coloca, à partida, na visão do processo de definição e desenvolvimento de um determinado espaço prende-se com a distinção entre o que se entende por tipologia e por modelo. A este respeito, são fundamentais as reflexões de Giulio Carlo Argan e de Sandro Benedetti4. É que «tipologia» ou «tipo» constitui uma categoria de classificação de um espaço arquitectónico (como de qualquer outra obra), a partir dos respectivos atributos funcionais e da sua configuração. Apesar de o âmbito da sua aplicação excluir critérios de ordem estética, e, por essa razão, não servir propósitos de valorização de obras de arte, é um conceito útil para a individuação e caracterização dos objectos na sua especificidade única. Aliás, como explicou Quatremère de Quincy (1755-1849), no Dictionnaire historique d'architecture (1832) citado por G. C. Argan, a noção de «tipologia» ou «tipo» é precisamente a representação de uma ideia ou de um esquema de um elemento que deve servir de regra ao modelo, e que opera na sua génese. Por seu turno, «modelo» pressupõe a repetição de um formulário preciso e efectivo, considerado perfeito e exemplar. A consolidação da tipologia realiza-se a partir da pesquisa e experimentação e só depois é fixada pela teoria ou pela prática arquitectónica. Neste sentido, o tipo é deduzido de uma série de exemplares, resultado do confronto e sobreposição de todos os edifícios similares que num determinado momento histórico procuraram dar resposta a um conjunto de premissas e exigências ideológicas, religiosas ou práticas. Neste processo,. 3 4. Baño Martínez 2009. Argan 1959 e 1966; Benedetti 1984.. 3.

(28) eliminam-se as características específicas dos edifícios singulares e conservam-se apenas os elementos que contribuem para a unidade da série. Um esquema nasce, assim, da redução de uma série de variantes formais de uma suposta estrutura comum5. Além da configuração espacial, devem ainda considerar-se duas outras classes tipológicas: uma relacionada com os grandes elementos construtivos e a outra com elementos menores, ou decorativos. É meu objectivo, justamente, explicar a génese do tipo de sacristia a partir destas três classes: a definição de uma configuração espacial; a identificação de componentes construtivas inerentes às exigências do espaço; e a individuação de peças relacionadas com a identidade tipológica da sala, formando elas próprias tipologias de outras categorias artísticas, como sejam o mobiliário e os lavabos de sacristia. Esta classificação constitui, por isso, um instrumento metodológico indispensável à formação de modelos e de séries, como aqueles que pretendo caracterizar e analisar neste estudo. Metodologia que, justamente, vai de encontro ao contexto histórico-artístico em que se insere este estudo e aos critérios que então se observaram. O movimento de reforma da Igreja implicou, no seu longo e complexo processo, a renovação da arquitectura religiosa, muito em particular nas décadas que se seguiram ao Concílio de Trento. Embora mais ao nível prático que teórico, foi dada neste período uma especial atenção aos aspectos tipológicos da arquitectura. As séries daí resultantes foram geradas, precisamente, em relação à funcionalidade e à configuração dos edifícios. Como explicou Sandro Benedetti, esta questão tornou-se, aliás, um tema de reflexão e orientação metodológica que veio, em grande medida, substituir a precedente com referente no mundo antigo6. Uma das finalidades desta tese é compreender em que medida a. 5. Alexander Tzonis e Liane Lefaivre (1986, 35), explicam, ainda, o conceito de «tipo» a partir de «genera» ou «genus»: «genus is a good word for expressing the idea of typified, predetermining relations that bind together the members of certain groups». 6 Benedetti 1984, 21.. 4.

(29) transferência da pesquisa, do domínio estético e formal para o âmbito da função e do significado dos espaços do culto, teve impacte na consolidação da tipologia da sacristia e na difusão de modelos em Portugal. A questão tipológica não pode, neste sentido, ser desligada da relação entre arquitectura e liturgia. Relação que, aliás, tem vindo a merecer, nos últimos anos, o interesse da História da Arte, com a publicação de estudos de relevo para a Época Moderna, retomando assim o trabalho pioneiro de historiadores como James Ackerman, Aurora Scotti e Sandro Benedetti7. Reflexos desse interesse progressivo, ainda que assimétrico, em Portugal afloram nos trabalhos de Paulo Varela Gomes sobre o uso da planta centralizada (1998) e sobre os coros nas sés portuguesas (2001 e 2009); de Rui Lobo quanto às tipologias da arquitectura colegial coimbrã e jesuíta, em que se integra o estudo das respectivas igrejas; e de Ricardo Lucas Branco (2008) sobre o «classicismo tridentino» e a introdução da planta contra-reformista itálica no planeamento das igrejas conventuais do período filipino. No contexto português, a renovação da arquitectura religiosa foi um foco importante das preocupações régias e das ordens religiosas, mas não só. Pela sua dimensão e precocidade, os grandes empreendimentos conventuais e colegiais que se foram avolumando ao longo do século XVI, por iniciativa e patrocínio régio – favorecendo quer as antigas, como as congregações mais recentes – encontram-se melhor estudados. Tal não quer dizer que, na esfera diocesana, não tenha havido importantes campanhas de obras, motivadas pelas reformas introduzidas por via legislativa e pela prática das visitações pastorais. O alcance da reforma arquitectónica promovida pelos bispos portugueses, no exercício do seu múnus, encontra-se, porém, largamente por esclarecer. Na justa apreciação de Miguel Soromenho, «os contornos exactos da encomenda arquitectónica nas dioceses portuguesas são um assunto ainda arredado do interesse 7. Sobre a revalorização desta área de estudo, veja-se a Introdução de Jörg Stabenow ao livro de actas Lo spazio e il culto. Relazioni tra edificio ecclesiale e uso liturgico dal XV al XVI secolo (2006), como os estudos nele reunidos.. 5.

(30) historiográfico, mas passou por ali o maior esforço de renovação edílica local»8. Por isso, no decurso da investigação que realizei, a sacristia catedralícia e a encomenda episcopal acabaram por se revelar o universo de estudo mais promissor. Esta circunscrição da abordagem permitiu avaliar com maior propriedade a consolidação da tipologia em Portugal, cruzando a sua análise com as questões de fundo associadas à restauração do culto, à fixação de instruções sobre o espaço na legislação sinodal e à encomenda e patrocínio dos prelados. A individualização da acção episcopal nas decisões sobre a conformação das igrejas aos critérios reformistas obrigou, por sua vez, a uma tentativa de caracterização da orgânica das estruturas administrativas relacionadas com a esfera temporal da gestão diocesana, nomeadamente as ligadas à prática das visitações e às Fábricas eclesiais. Como se administrava o património edificado diocesano nos séculos XVI e XVII em Portugal? Que razões motivavam novas e grandes campanhas de obras (fossem arquitectónicas ou decorativas) nas sés e em igrejas da sua jurisdição? De que forma se processavam estas campanhas? Sobre quem recaía a responsabilidade da sua iniciativa, gestão e financiamento – sobre o cabido ou sobre os bispos? A resposta cabal a estas questões, que apenas pude aflorar nesta tese, permitirá no futuro distinguir, em definitivo, os diferentes níveis de actuação no âmbito dos bens imóveis das dioceses, nomeadamente diferenciar o grau de autonomia das Fábricas eclesiais das acções individuais de patrocínio e mecenato dos bispos portugueses (as quais procurei aqui identificar e caracterizar). A dimensão da encomenda episcopal traduz, além disso, uma perspectiva bastante significativa, alargando a abordagem à acção de alguns dos principais agentes da Reforma, quer na perspectiva da actividade reformadora empreendida, como nas dimensões dos códigos sociais e da cultura material da época que, em maior ou menor medida, puderam partilhar. A validade das 8. Soromenho 2009, 66.. 6.

(31) questões sobre o patrocínio no campo da História da Arte e da Arquitectura é bem explicada por Sabine Frommel: «ainsi la combinaison d’une analyse stylistique et d’une réflexion sur le patronage peut nous aider à comprendre combien certaines formes sont ancrées dans les convenances sociales, tandis que d’autres évoluent de manière autonome; l’étude des fonctions éclaire le rôle de l’édifice dans la vie sociale, et celle de la théorie permet de saisir jusqu’à quel point la pratique se conforme aux concepts esthétiques, règles et postulats, mais aussi où et pourquoi elle s’en écarte»9. Tendo presente esta premissa, o estudo da figura de D. Afonso de Castelo Branco, bispo de Coimbra entre 1585 e 1615, revelou-se particularmente aliciante. Tanto pelo positivo interesse do seu percurso e acção reformadora enquanto prelado, como pela correspondência e relações que manteve com a corte papal, e o volume de obras que patrocinou. Entre estas, conta-se a nova sacristia. da. Sé. de. Coimbra,. espaço. monumental. irremediavelmente. transfigurado por uma larga amputação efectuada no primeiro quartel do século XX. Deve-se a António Filipe Pimentel o primeiro estudo sobre o bispo-conde e as suas empresas artísticas, que teve o mérito de recuperar do esquecimento uma das mais interessantes personalidades do Portugal filipino. Desde então, só no domínio da História da Igreja têm surgido novas abordagens, nomeadamente de José Pedro Paiva, com importantes resultados sobre a acção do bispo-conde no âmbito religioso. No campo da História da Arte, o interesse pelas realizações artísticas de D. Afonso não têm conhecido o merecido desenvolvimento; para não falar do significado da obra da sacristia, que, em virtude da sua redução e transformação, tem permanecido até hoje na total obscuridade. No prosseguimento do trabalho de investigação, tornou-se evidente a importância deste estudo de caso, ao qual acabei por dedicar maior atenção do que 9. Frommel 2002, 11.. 7.

(32) inicialmente previsto, convertendo-o em objecto de uma análise monográfica na segunda parte do presente estudo. A problemática subjacente a esta tese é, por isso, dupla. Por um lado, pretende-se definir como primeiro objecto de análise a génese da tipologia da sacristia e o desenvolvimento de modelos espaciais e decorativos em Portugal, relacionando o surgimento da sua identidade com as funções a que foi destinada e os critérios da Reforma Católica para a arquitectura eclesial. Procurou-se, assim, entender o impacte das orientações pós-tridentinas na dinâmica subjacente à formulação da tipologia, derivada das preocupações com o decoro do ritual por parte dos encomendantes. Em segundo lugar, a análise foca-se mais aprofundadamente nas sacristias das sés portuguesas construídas no período, seleccionadas do universo mais amplo de exemplares, e na relação destes espaços com a acção dos bispos que presidiram à sua construção e decoração.. Âmbito cronológico e geográfico Embora definida, com a feição que hoje lhe atribuímos, pelos ensaios, realizações e cultura material do Quattrocento italiano, a tipologia da sacristia só se consolida verdadeiramente em Portugal a partir do último quartel do século XVI, associada ao contexto pós-tridentino, à cultura dos encomendantes e ao amadurecimento do classicismo na arquitectura. Neste sentido, o âmbito cronológico deste estudo decorre, sensivelmente, entre os anos de 1564 e de 1630. A data inicial coincide com o início do período pós-tridentino (o Concílio de Trento foi encerrado em 1563) e, em Portugal, com os primeiros planos para as casas da Companhia de Jesus, reveladores do debate desenvolvido, nessa época, sobre a adequação da arquitectura eclesial aos propósitos da Reforma. O extremo final foi escolhido em virtude da estagnação dos empreendimentos arquitectónicos em curso ou de novas fundações no território português, motivada pelo adensamento da crise política e financeira que acabou por precipitar as Guerras da Restauração uma década depois. Factor histórico que. 8.

(33) viria a determinar a periferização de Portugal no campo da arquitectura, situação que perdurou até ao final de Seiscentos, dominada por uma maior austeridade e pelos valores vernaculares. As balizas cronológicas não são, porém, inteiramente rígidas, pois em alguns momentos revelou-se indispensável recuar até ao século XV e ao início do XVI (sobretudo para os casos italiano e espanhol), enquanto noutros se avançou até Setecentos. A fim de reflectir sobre a introdução da tipologia de sacristia em Portugal e sobre os seus protótipos e de construir uma genealogia do espaço, foi, também, necessário considerar as realizações do início de Quinhentos até à formação de modelos particulares sob as directrizes pós-tridentinas. No limite oposto, a análise de exemplares do período do Barroco tem o objectivo de avaliar a fortuna dos modelos inaugurados e experimentados no período filipino.. A questão subjacente à definição de uma tipologia espacial vinculada à tradição arquitectónica eclesial – cujas directrizes relacionadas com o decoro e a liturgia restaurada atravessam as fronteiras políticas – obriga a deslocar o olhar dos empreendimentos portugueses para um horizonte mais alargado, de forma a melhor os compreender e classificar. Daí que o âmbito geográfico tenha compreendido, à partida, um inquérito internacional no sentido de averiguar como se materializou a tipologia em Itália e em Espanha. Itália pela relevância incontornável das pesquisas e realizações da arquitectura clássica, e Espanha, por razões de proximidade geográfica e estreitamento das relações com Portugal, sobretudo no período da União Dual. Tendo como tema central o universo das sacristias portuguesas, a finalidade deste inquérito foi a de estabelecer, tanto quanto possível, uma perspectiva comparada, não só em termos tipológicos e formais, como ao nível da normalização funcional do espaço por via de instruções dimanadas da Igreja. A comparação com os casos italiano e espanhol procurou, por conseguinte, uma mais adequada e eficiente leitura sobre o caso português e a individuação da sua especificidade.. 9.

(34) Dado o número quase infindável de edifícios, o inquérito teve necessariamente de se centrar nos exemplares mais significativos, os que melhor caracterizam o percurso da tipologia e desenvolvimento de modelos particulares; tendo sido, por exigência do tema da tese, mais direccionado para o caso português. Os critérios geográficos foram, no entanto, limitados ao reino, ficando excluídos da investigação os territórios de Além-Mar, cujo contexto particular suscitava outra ordem de questões que não cabia neste estudo. Pelo que, as referências ao «espaço português» estão condicionadas, à partida, por esta premissa. Relativamente aos casos portugueses tratados, assinalam-se, em particular, as sacristias das casas jesuítas e de alguns dos principais conventos e mosteiros nacionais, destacando-se, com maior desenvolvimento, os exemplos das sés de Viseu, Leiria e Elvas. Por sua vez, a sacristia da Sé de Coimbra constitui o principal estudo de caso, pela importância do empreendimento no universo das sacristias portuguesas e pelo interesse assinalável do percurso biográfico do seu patrocinador, o bispo D. Afonso de Castelo Branco.. Questões metodológicas e fontes A investigação iniciou-se pela organização do universo de estudo, realizada a partir da identificação e selecção das sacristias de maior relevo, privilegiando os seguintes indicadores: características tipológicas significativas (espaciais e decorativas), data do projecto e período de construção, e aspectos pertinentes relacionados com a encomenda e o projecto. Em paralelo, procedi ao levantamento da bibliografia relacionada com os exemplares em questão – e os temas mais amplos da História da Arte, com vista à sua contextualização – e à pesquisa documental em arquivos e bibliotecas. A pesquisa arquivística foi evidentemente selectiva e sobretudo direccionada aos casos que mais me interessava estudar. No entanto, a tarefa. 10.

(35) não se revelou fácil, dadas as flagrantes lacunas com que me deparei sobre processos de encomenda, cadernos de obras, contratos, correspondência ou outra documentação que pudesse contribuir para acrescentar novos dados ao estudo – quanto mais pensar em desenhos e projectos (desafortunadamente raros nos nossos arquivos)! Nos restantes casos, servi-me de documentação já publicada, dizendo, desde já, que para um número razoável de edifícios possuo poucos dados inéditos sobre aspectos relacionados com instruções, processos de obra ou autorias. Entretanto, procurei reunir um corpus devidamente estruturado, alicerçado numa ampla base de dados de imagens, compilada para o efeito e em fichas de inventário, onde fui sistematizando a informação reunida – cronologia pormenorizada, dados documentais, descrição, fontes impressas e gráficas, além da bibliografia. Tendo por base estas ferramentas foi, então, possível reflectir sobre a evolução formal da sacristia, identificar protótipos, particularizar e classificar modelos arquitectónicos e dispositivos decorativos. Os resultados da investigação conduziram, então, a alguns reajustamentos ao plano inicialmente proposto. A lista de exemplares do estudo foi sendo complementada e rectificada, atendendo ao maior protagonismo que coube às sacristias das sés construídas no período pós-tridentino e, em particular, à sacristia da Sé de Coimbra. Em simultâneo, a investigação foi acompanhada, como não podia deixar de ser, pela leitura dos estudos de História Religiosa, um domínio que tem conhecido notável incremento nos últimos anos. E pela pesquisa de fontes impressas do foro eclesiástico – cerimoniais, manuais de visitações, regimentos e constituições sinodais. Estes documentos foram essenciais para fundamentar o estudo da tipologia em termos da sua função e normalização progressiva, como ainda das suas componentes materiais e dos comportamentos e rituais que lhe foram atribuídos. A sacristia tornou-se, como outros tópicos relativos aos edifícios do culto,. 11.

(36) alvo de regulamentação específica pelas dioceses ao longo do século XVI, e especialmente a partir do último quartel da centúria. Sobre isto é fundamental conhecer a Instructionum Fabricae, et Supellectilis Ecclesiasticae (1577), redigida por Carlo Borromeo para a arquidiocese de Milão, com um capítulo dedicado à sacristia, obra e autor a quem prestarei especial atenção. De forma semelhante, as disposições contidas nos instrumentos legislativos diocesanos promulgados noutras regiões do mundo católico visavam o mesmo objectivo de regulamentação do decoro do culto e da arquitectura. Daí a obrigatoriedade da análise atenta destas instruções publicadas entre 1520 e 1640 – em particular das portuguesas, confrontadas, sempre que necessário, com o texto de Borromeo e as publicações congéneres espanholas – com vista à identificação dos principais valores associados à sacristia, nas suas diferentes vertentes. Neste levantamento, consideraram-se, ainda, as preocupações gerais com as condições em que se celebrava o ritual, reflectidas nas considerações sobre a disposição das igrejas; e os aspectos decorrentes da prática das visitações, da gestão das Fábricas e da contratação de obras. Adicionalmente, não deixei de atender ao campo da literatura da época, de características e géneros diversos (crónicas, biografias, relações e descrições), como fonte para a caracterização original dos exemplares estudados e o estudo do perfil dos encomendantes e patrocinadores. No que se refere ao bispo-conde D. Afonso de Castelo Branco, utilizei ainda documentação manuscrita, alguma da qual inédita, conservada nos arquivos da Torre do Tombo, da Universidade de Coimbra e no Arquivio Segreto Vaticano. O percurso biográfico dos bispos, com as reformas que empreenderam, a cultura material expressa nos seus modelos de actuação, na dotação das suas sés, nas formas de habitar os paços e nas obras que promoveram, são indicadores da maior importância histórica. É por eles que chegamos ao entendimento da extensão e limites da acção episcopal na renovação da arquitectura local, enquanto encomendas mais ou menos informadas. Por outro lado, o nível das descrições coevas sobre as sacristias. 12.

(37) revela dados sobre a recepção e impacte dos empreendimentos no período subsequente à sua construção. No que respeita, mais em particular, ao caso da sacristia da Sé de Coimbra, a investigação foi alargada à área dos estudos do património e do restauro de monumentos em Portugal, com dois objectivos essenciais: compreender e caracterizar a intervenção destrutiva levada a cabo no início do século XX, e reunir elementos que eventualmente acrescentassem conhecimento sobre o espaço na sua condição original. Com esta sondagem pretendia também identificar eventuais documentos gráficos e fotografias que ilustrassem o espaço, tentativa que se revelou pouco frutuosa. Mesmo assim, foi possível elaborar uma proposta de reconstituição da planta e dos alçados originais (realizada em CorelDRAW™), com base na análise da área conservada e de dois levantamentos planimétricos inéditos, anteriores à obra de restauro; e na interpretação das informações documentais e bibliográficas reunidas. A metodologia da reconstituição em desenho revelou-se recurso muito útil para redescobrir este espaço na sua integridade monumental e examiná-lo de forma mais aprofundada, de acordo com as questões surgidas da progressão do trabalho.. Estrutura da tese A presente tese encontra-se organizada em duas partes, tratando a primeira da sacristia no período da Reforma Católica: tipologia, modelos, instruções e encomenda. O capítulo inicial considera a génese da tipologia no Renascimento italiano e o desenvolvimento de modelos em Espanha e Portugal na Época Moderna, a fim de isolar constantes e caracterizar as particularidades de cada caso, com particular enfoque no português. Nesta análise, privilegiam-se os parâmetros relativos à localização, configuração espacial, integração dos elementos funcionais do espaço e dispositivos decorativos utilizados num conjunto seleccionados de exemplares. No que respeita ao nosso país, avaliamse as primeiras realizações de Quinhentos e o aparecimento definitivo de. 13.

(38) soluções particulares e de modelos de sacristia no final da centúria. Especialmente as construídas nas primeiras casas jesuítas e nos grandes empreendimentos monástico-conventuais do período filipino (dos quais se destaca a sacristia do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra). A validação do modelo ao modo clássico será, depois, procurada nas realizações do período barroco que o recuperaram. A par das questões formais decorrentes da caracterização tipológica, dei atenção, no capítulo 2, aos aspectos da liturgia e à reflexão sobre a arquitectura eclesial no período pós-tridentino, com a finalidade de enquadrar a progressiva atenção à normalização do espaço da sacristia. Neste âmbito, são objecto de análise a Instructionum Fabricae e as instruções do foro eclesiástico acerca da sacristia, contidas não só no livro de Carlo Borromeo como na legislação sinodal portuguesa e espanhola. A preocupação com o decoro dos locais do culto, conducente à reforma do edificado, é tratada, igualmente, pelo lado da sua aplicação prática e da gestão dos assuntos temporais, mediante a aproximação ao tema das visitações pastorais e das fábricas eclesiais no contexto ibérico. No terceiro e último capítulo da parte 1, estudam-se as sacristias das sés de Viseu, de Leiria e de Elvas, articulando a leitura tipológica, formal e artística da arquitectura e decoração das salas com o significado mais amplo da sua encomenda. Sem perder de vista o conjunto das reformas empreendidas pelos bispos que ordenaram a sua construção, quer no plano eclesiástico como no da arquitectura das dioceses e dotação das respectivas sés. A segunda parte é, fundamentalmente, dedicada à sacristia da Sé de Coimbra e ao patrocínio do seu bispo-conde, D. Afonso de Castelo Branco. No capítulo 1, foi abordada com brevidade a situação anterior ao seu bispado, aflorando as primeiras reformas do século XVI – nomeadamente as instruções gerais relativas ao espaço da sacristia constantes nos instrumentos legais diocesanos –, e a existência de uma sala primitiva que antecedeu a nova obra de D. Afonso.. 14.

(39) O capítulo 2 é inteiramente consagrado à biografia do patrocinador, D. Afonso de Castelo Branco, caracterizando o seu percurso até à tomada de posse do bispado de Coimbra e a actividade reformadora na diocese que o ocupou até ao final da sua vida. Procurou-se compreender a sua personalidade e o modelo de bispo que encarnou, por via da problematização dos dados e das fontes disponíveis. Dei particular enfoque às relações políticas que manteve com as cortes régia e papal e aos códigos sociais e culturais de que participou, traduzidos nas práticas de aquisição de bens e de patrocínio artístico. O seu envolvimento nas obras de renovação ou de fundação de novos edifícios na cidade coimbrã é, igualmente, objecto de estudo, especialmente aquelas de que foi principal mecenas. Finalmente, ficou reservado para a sacristia nova da Sé de Coimbra o último capítulo da tese. Interessou-me explicar o porquê da construção deste espaço, à luz das preocupações com o decoro da liturgia e da normalização da arquitectura eclesial, intentada nas novas constituições sinodais mandadas publicar por D. Afonso. Procurei descrever o processo de construção e de decoração da sala ao tempo do bispo-conde, reconstituindo a sua feição original e respectiva fortuna crítica e patrimonial até ao início do século XX, momento em que se optou pela sua demolição quase integral. A importância e o significado desta obra são entendidos por aquilo que no projecto se combina, isto é, as funções litúrgicas e de representação. Além da avaliação dos modelos que terão servido o planeamento geral da construção e a configuração do interior, procurados na arquitectura local e noutras realizações nacionais, sem esquecer a novidade que representou ao tempo. Originalidade, desde logo, indiciada pela monumentalidade da empresa e o perfil do seu encomendante, ambos indicadores de grande destaque seja no conjunto das sacristias portuguesas ou no âmbito do patrocínio episcopal.. 15.

(40) *. Feita a introdução a este trabalho, gostaria, ainda, de clarificar alguns aspectos formais sobre a apresentação da tese. As notas de rodapé e a bibliografia seguem o sistema «autor-data» do Chicago Manual of Style, adoptado pelo Instituto de História da Arte (FCSH/NOVA). Para facilitar a leitura das fontes, usei o seguinte critério de transcrição paleográfica e de citação das fontes impressas: actualização da ortografia e desdobramento das abreviaturas (quando inequívocas); respeito da pontuação original e das maiúsculas conforme o original (excepto nos nomes próprios); omissão da linha finda. A não constituição de um volume independente de anexos foi uma opção consciente, que justifico pelo facto de o corpus documental reunido não formar um conjunto homogéneo relacionado com os edifícios estudados. Por outro lado, os dados documentais e as fontes são citados amiúde ao longo do texto, tornando, a meu ver, desnecessária a sua colecção num volume autónomo. Do mesmo modo, optei por inserir as imagens no texto, tomando por princípio o valor da imagem como documento fundamental no âmbito científico da História da Arte. Dado o volume dos casos tratados, julgo que a ilustração dos mesmos no corpo do texto torna a leitura das conclusões mais imediata.. *. 16.

(41) parte I A sacristia no período da Reforma Católica: Tipologia, modelos, instruções e encomenda.

(42)

(43) capítulo 1. A sacristia na Época Moderna: a consolidação da tipologia e o desenvolvimento de modelos no espaço ibérico. » A génese de modelos em Itália. Foi no Renascimento italiano que assumiu particular relevância a concepção da sacristia, da sua estrutura arquitectónica e dos seus atributos. As realizações empreendidas distinguiram-na como espaço autónomo e coerente e um dos principais anexos das igrejas. Em algumas ocasiões, a sacristia foi mesmo lugar da pesquisa de novas soluções espaciais segundo o sistema clássico sobre o qual se vinha teorizando, impulsionada pelo mecenato particular e pela actividade dos grandes vultos da arquitectura italiana. Alguns destes espaços tornaram-se verdadeiros arquétipos e modelos cuja influência operou muito além da própria tipologia da sacristia. Tal foi o caso da emblemática Sacristia Velha de San Lorenzo em Florença, integrada no projecto de reconstrução da basílica ideado por Filippo Brunelleschi. Patrocinado pelos Medici, a família de ricos banqueiros da cidade, o plano da sala considerou uma dupla função: capela funerária da família e sacristia. A combinação dos dois usos favorecia os intuitos de Giovanni e Cosimo de’ Medici, pois, ao subordinar a intenção privada ao papel maior de serviço de apoio ao culto, podia adoptar para a capela da família um espaço de maior monumentalidade que, de outra forma, não seria aceite pelas corporações da república florentina. Pela razão de, em Florença, o interior de uma igreja ser. 19.

(44) considerado espaço «público» e como tal ser governado por regras estritas, umas legisladas outras tradicionais, todas codificadas pela prática social10. Nem o arquitecto ou os encomendantes se conformaram com o tipo de sacristia tradicional, exemplificado nas basílicas de Santa Croce e de Santa Trinita (ambas integrando também capelas familiares, dos Rinuccini (1363-66) e dos Strozzi. (1418-23),. respectivamente),. cuja. espacialidade. em. termos. arquitectónicos era essencialmente neutra. Neste sentido, a resposta de Brunelleschi foi totalmente inovadora, abrindo caminho a outras realizações. A sacristia enforma uma sala cúbica, coberta por cúpula e estruturada por pilastras coríntias. O mobiliário foi disposto ao longo das paredes, libertando o espaço para a circulação, e, ao centro, foi colocada uma mesa, encobrindo o. 1| Basílica de San Lorenzo, Florença. Sacristia Velha (F. Brunelleschi, 1421-29; patrocínio de Giovanni di Bicci de’ Medici). 10. 2| Basílica de San Lorenzo, Florença. Lavabo da Sacristia Velha (Andrea del Verrocchio, 1421-29) © Courtauld Institute of Art. Sobre a sacristia velha de San Lorenzo, segui os estudos de Christoph Luitpold Frommel (2007, 16-18) e de Marvin Trachtenberg (1995).. 20.

(45) túmulo de Giovanni de’ Medici. O lavabo, ele próprio uma peça de extraordinária concepção escultórica executada por Andrea del Verrocchio, foi colocado numa das divisões contíguas. O ponto dominante da sala, para o qual foi propositadamente orientada, é o alçado tripartido da capela, tratado à semelhança de uma fachada, com um arco triunfal ao centro, ladeado por dois panos de parede rematados pela cimalha geral. Este representa, na verdade, o conceito embrionário da tripartição da área do altar segundo o sistema clássico que iria, daí em diante, ser glosado em igrejas, capelas e sacristias. Parafraseano Arnaldo Bruschi, «questo schema e questo programma si concretizzano in un organismo di estrema semplicità e chiarezza»11. E talvez por essa razão o conceito e o tema propostos tenham exercido tamanha influência na arquitectura renascentista, com inúmeras variantes e interpretações locais, algumas mesmo repetidas pelo próprio Brunelleschi noutros edifícios da sua autoria12. Mas, além das consequências da proposta formal, importa sublinhar a importância da sacristia de San Lorenzo enquanto obra-chave na configuração da identidade tipológica da sacristia, fixando um modelo de organização funcional claro e eficaz. Pelo contrário, outras invenções renascentistas resultaram menos eficientes, apesar do notável alcance dos projectos ao nível do desenvolvimento do sistema clássico. Refiro-me às sacristias de Santa Maria presso San Satiro em Milão e de Santo Spirito em Florença, respectivamente delineadas por Donato Bramante e Giuliano da Sangallo. A arqueologia que então se fazia e a pesquisa dos modelos clássicos antigos inspiraram o recurso à planta octogonal, encontrada nos panteões e baptistérios da Antiguidade Tardia, para projectar as sacristias. Ambas são, na realidade, exercícios de estilo mais orientados pela pesquisa formal em torno do clássico do que pela resposta às necessidades 11. Bruschi 1994, 124 Bruschi 1994, 139. Marvin Trachtenberg (1995, 33-34) lista 35 edifícios directamente influenciados pela Sagrestia Vecchia ao longo de cerca de um século. 12. 21.

(46) práticas de uma sacristia. Tanto que a planta centralizada (circular ou octogonal) não veio a ter grande aplicação ao longo da Época Moderna. Deve referir-se, contudo, que a sacristia, apesar de ser uma divisão com tradição recuada na história da arquitectura eclesial, não dispunha de uma estrutura prédeterminada por razões do culto como sucedia com as próprias igrejas, e muito menos de um leque de referentes consagrados pelo uso. Por esta razão, prestava-se mais à experimentação.. 3| Santa Maria presso San Satiro, Milão. Sacristia (Donato Bramante, 1476-82; encomenda do duque Galleazo Maria Sforza).. 4| Basílica de Santa Maria del Santo Spirito, Florença. Sacristia (Giuliano da Sangallo, 1489-96; encomenda de Lorenzo de’ Medici).. Os primeiros ensaios planimétricos e espaciais do Renascimento fizeram, assim, surgir novos tipos construtivos que foram, posteriormente, adoptados na configuração de sacristias em Itália, como noutras regiões europeias. A espacialidade cúbica e centralizada deu, mais tarde, lugar a interiores de planta rectangular, dimensões generosas e cobertura abobadada, organizados em eixo para um retábulo, tal como uma igreja, e com grandes paramenteiros dispostos a todo o comprimento dos alçados laterais.. 22.

(47) A consolidação da tipologia resultou, por isso, da experimentação de modelos por via da prática construtiva, dando resposta a razões particulares dos encomendantes e às preocupações crescentes da Igreja com a liturgia e a adequada guarda dos objectos litúrgicos (questão a que voltarei no capítulo 2). Daí que, embora reconhecida como um dos anexos próprios das igrejas, a sacristia não tenha sido objecto de desenvolvimento pela tratadística da arquitectura quinhentista. Assinalam-se apenas breves observações em algumas obras, sobretudo incidindo na questão da sua localização e na relação com o presbitério. Sebastiano Serlio, por exemplo, alude ao problema da colocação da sacristia em igrejas de planta centralizada. Para esta divisão, bem como o campanário e outros aposentos destinados ao clero, não interferir na dinâmica harmoniosa do espaço, sugere a construção de uma torre anexa que servisse todas as funções: «Although this temple has no campanile, sacristy or rooms for clergy, a campanile could easily be built as an element which would be a fine accomplishment. Under this should be the sacristy with the priests’ living quarters around. These are to be so close to the temple that the clergy could go by a covered way from one to the other»13. Já no caso das igrejas de planta em cruz latina, esta questão era mais facilmente solucionada com a disposição de duas sacristias a ladear a capelamor14. Esta proposta veio a ser retomada por Pietro Cataneo, em I quattro primi libri di Architettura (1554): «le sagrestie con il loro campanili si faranno sopra le spalle o da uno, o pur di ambe due lati del cappellone (...) Et in tale principal tempio oltre alla principale si potranno fare piu tribune con tre o cinque navate e con due sagrestie»15. Elas surgem representadas nos planos propostos por Cataneo, com planta rectangular, octogonal ou circular. Nas igrejas de plano 13. Serlio 1996b (1548), lv. V 398. Serlio 1996b (1548), lv. V 420 e 424. 15 Cataneo 1554, 36. 14. 23.

(48) centralizado, a sacristia é integrada por Cataneo no interior do templo, ocupando uma das capelas16. Mais tarde, Andrea Palladio, no livro IV do seu tratado publicado em 1570, caracterizou a função da sala, sem avançar com recomendações à sua construção: «Si aggiunge alle nostre Chiese un luogo separato dal rimanente del Tempio che chiamamo Sacrestia, dove si servano le vesti sacerdotali, i vasi, e i libri sacri, e l’altre cose necessarie al culto Divino, e dove si apparano i sacerdoti»17. Ou seja, a principal preocupação dos tratadistas em relação à sacristia foi a de resolver a incorporação de uma divisão anexa, sem comprometer a harmonia do plano das igrejas. Não há referências aos atributos do seu espaço ou à sua organização mais adequada. É interessante, porém, a referência a duas sacristias, indício das prerrogativas eclesiásticas que aconselhavam o seu uso nas principais igrejas: uma reservada às funções quotidianas e outra ao Capítulo e à arrecadação do tesouro e das relíquias. Por outro lado, a breve referência de Palladio parece mostrar já a clara identificação do uso da sala, indiciando a provável influência da reflexão reformista em torno da arquitectura eclesial. No período que se seguiu ao Concílio de Trento, a tipologia encontrava-se definitivamente normalizada com a especialização do espaço e dos seus atributos. A construção dessa identidade resultou não só das propostas formais anteriores e da fixação dos elementos particulares que a constituíam, como foi favorecida pela renovada preocupação com o decoro do culto por parte da Igreja. Pelo que, o movimento da Reforma Católica determinou também para a sacristia disposições mais correspondentes às exigências da liturgia restaurada. A partir dos últimos decénios de Quinhentos, prevaleceram sobre o espaço critérios mais funcionais difundidos por instruções produzidas não por arquitectos, mas por agentes oficiais da Igreja.. 16 17. Cataneo 1554, 41. Palladio 1945 (1570), lv. IV fl.10.. 24.

(49) Tendo este quadro ideológico como pano de fundo, a partir do final do século XVI e ao longo da centúria seguinte, muitas sacristias foram renovadas na sua configuração arquitectónica, como também na sua localização, não só para facilitar o acesso à capela-mor, como para dignificar o lugar onde se guardavam os objectos do culto. A par desta renovação construtiva, também a produção de mobiliário alcançou notável atenção, renovando-se não só os cadeirais do coro, como o mobiliário de sacristia, as caixas de órgão e os confessionários18. Os lavabos alcançaram maior monumentalidade e a capela ou altar passou a ser o foco dominante da sala.. Os modelos ensaiados em Itália ao longo do Quattrocento foram, paulatinamente, sendo introduzidos na Península Ibérica na centúria seguinte: em Espanha a partir de 1520 e em Portugal no último quartel do século XVI. Tal discrepância cronológica teve que ver com razões de âmbitos distintos e, em última análise, com as dinâmicas inerentes ao contexto artístico de cada país. Mas, se por um lado os ecos das propostas formais renascentistas tardaram, por outro o processo de Reforma foi acompanhado de perto no espaço ibérico, onde se comungou das mesmas preocupações ao nível do decoro do culto e se legislou nesse sentido, como adiante mostrarei. Em todo caso, de uma maneira geral, nos dois países houve lugar ao surgimento de modelos particulares que se tornaram arquétipos da identidade da sacristia, sobre os quais se reflectirá de seguida.. 18. Giordano 2009, 109-111.. 25.

(50) » Espanha. Em Espanha, a pesquisa e desenvolvimento de modelos acabados de sacristias recua à década de 1520. As sacristias quinhentistas espanholas constituem um conjunto notável, delimitado por características comuns, sempre relacionadas com a identificação dos usos e funções concretas que se foram definindo para este espaço, com particular clareza, ao longo da centúria. Outra constante é a utilização do formulário da arquitectura clássica, a partir do qual se definiram, desde cedo, diferentes tipos de sacristia, perfeitamente planificados desde a raiz.. 6| Igreja de Santiago de Orihuela, cúpula da sacristia (atrib. Jerónimo Quijano, act. 1524-63). » 5| Catedral de Murcia, sacristia (Jacobo Florentín – arquitectura e mobiliário, 1522-48).. Entre as primeiras realizações conta-se a da sacristia da catedral de Murcia, sala de planta quadrada coberta por cúpula. Projectada por Jacobo Florentín, este exemplar denuncia a influência do meio artístico florentino, do qual provinha. Essa ascendência verifica-se não só no projecto, como na decoração arquitectónica renascentista dos portais e da cúpula, delineada esta por cercaduras de frutos que recordam os tondi das oficinas Della Robbia. Da mesma forma a sacristia da igreja de Santiago de Orihuela, de plano octogonal,. 26.

(51) parece reflectir a congénere milanesa projectada por Bramante para a igreja de Santa Maria presso San Sátiro.. 7| Catedral de Sevilla, sacristia (atr. Diego Riaño / Diego de Siloe, 1535-43).. 8| Catedral de Sigüenza, Covarrubias, 1532).. sacristia. (Alonso. de. Na catedral de Sevilha, elegeu-se a planta centralizada cruciforme para erguer uma das sacristias espanholas mais interessantes em termos espaciais e decorativos, que se completou em 1543. A historiografia, que se divide na sua atribuição entre Diego Riaño e Diego de Siloe, considera-a uma obra-prima da arquitectura, cuja originalidade construtiva e perfeição das proporções a tornam apenas comparável à própria catedral de Granada19.. 19. Gómez Moreno; Chueca Goitia 1953, 244; Ceballos 1980, 652. A planta centralizada foi, posteriormente, usada nas sacristias da catedral de Guadix e no Mosteiro de Sobrado na Galiza.. 27.

Referências

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