Acidentes de Trabalho na actividade pesqueira:
Avaliação por segmento de pesca em 3 comunidades do continente
Inês Cortes Quintino
Setembro, 2013
Dissertação de M estrado em Gestão do Território,
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de M estre em Gestão do Território, Especialidade em Planeamento e Ordenamento do Território,
AGRADECIM ENTOS
Ao Professor Doutor Henrique Nogueira Souto pela orientação científica, pelo incentivo e apoio constante e pela partilha do seu conhecimento vasto sobre as pescas em Portugal.
A todas as entidades públicas que disponibilizaram informação técnica e científica importante para a realização deste trabalho, em particular, a Amélia M iguez, Dionísio Varela e Carlos M ontemor, entre muitos outros.
Ao Luís Lopes que me abriu o interesse por esta temática.
À M útua dos Pescadores que abriu as portas essenciais para o mundo dos acidentes de trabalho na pesca.
Às associações de pesca local:
Associação de Armadores da Pesca Artesanal e do Cerco do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina, na pessoa da Filipa e da Dina;
Associação Pro-M aior Segurança dos Homens do M ar na pessoa do M estre Festas e Ana;
Associação dos Armadores da Pesca Local, Costeira e Largo da Zona Oeste na pessoa do Sr. Jerónimo Rato.
Aos marítimos de Sines, Póvoa de Varzim e Vila do Conde, Nazaré e Peniche pelos ensinamentos e colaboração prestada.
Ao Rui.
Aos meus pais por todo o apoio.
ACIDENTES DE TRABALHO NA ACTIVIDADE PESQUEIRA:
AVALIAÇÃO POR SEGM ENTO DE PESCA EM 3 COM UNIDADES DO CONTINENTE
INÊS CORTES QUINTINO
RESUM O
PALAVRAS-CHAVE: pesca, acidentes de trabalho, prevenção do risco, segurança, Portugal continental
A investigação desenvolvida, inspirada nos princípios gerais da prevenção de acidentes de trabalho, permitiu interligar a percepção dos acidentes de trabalho na act ividade pesqueira em três regiões costeiras atlânticas com comunidades piscatórias de grande tradição, no Norte, Centro e Sul. Para alcançar os objectivos propostos foram elaborados inquéritos a pescadores com categorias profissionais mais elevadas: armadores e mestres, representantes de uma frot a cada vez mais reduzida.
Em Portugal a pesca local desenvolve-se em embarcações até aos 9 metros de comprimento, representativas de mais de 90% da frota nacional, com o uso de artes polivalentes e pouco mecanizadas. As estatísticas, recentes, de acidentes de trabalho continuam a colocar os profissionais deste sector entre os mais expostos ao risco. A diferenciação de perspectivas, comportamentos e visões sobre a act ividade da pesca é clara nas respostas que os inquiridos dão, em particular, nas questões relacionadas com a actividade da pesca e acidentes de trabalho. Confirma-se que as causas mais importantes dos acidentes resultam da má organização e métodos de trabalho (ritmo de trabalho, esforço físico e trabalho repetitivo) e das condições atmosféricas adversas (estado do mar, chuva e vento, frio e calor).
O trabalho realizado permite entender a percepção dos factos por parte dos profissionais da pesca, aquando da ocorrência de acidentes de trabalho e as visões diferenciadas dos pescadores de cada uma das comunidades estudadas. Todavia, não permite concluir se a formação em segurança no trabalho, parte essencial e inicial da profissionalização na actividade, está reflectida na sua actividade diária.
ACIDENTES DE TRABALHO NA ACTIVIDADE PESQUEIRA:
AVALIAÇÃO POR SEGM ENTO DE PESCA EM 3 COM UNIDADES DO CONTINENTE
INÊS CORTES QUINTINO
ABSTRACT
KEY WORDS: fisheries, accidents at work, risk prevention, safety, Portugal
This study, inspired in the general principles of safety at work, aims to link de perception of work accidents in the fishing sector of fishing communities with large tradition in three Atlantic coastal regions in the north, cent re and south of Portugal. To accomplish the objectives inquiries were made to fishermen with the higher professional categories: ship owners and masters, representatives of shrinking fleet. The near shore and coastal fishing is made by small vessels of less than 9 meters, which represent more than 90% of the Portuguese fishing fleet, using mult ipurpose fishing gear with low level of mechanization. Recent occupational accidents statistics still keep the fishermen as very exposed to risk.
The study clarifies the different perspectives, behaviours and visions that the seafarers have in the various regions, namely, in regard to the fishing activities and the work and occupational accidents in which they were involved or knew about. It appears and was confirmed that the main causes of accidents are due to deficient organization and work methods and procedures (factors like work intensity, physical efforts and repetitive tasks) and adverse atmospheric conditions (factors like bad weather, rain and wind, cold and heat).
The work made enabled to understand the fishermen perception of facts that happened during work accidents and diverse visions in the all the fishing communities studied. Nevertheless, it was not possible to conclude if the safety at work training programs, essential and initial phase for the professionals of the fishing sector, was reflected in the daily routines of the fishermen.
Índice
Índice I
Índice de Gráficos III
Índice de Figuras III
Índice de Quadros III
Abreviaturas V
Introdução 1
I – Enquadramento 3
1 – Actividade pesqueira – Pesca Artesanal 3
1.1 – A Pesca em Portugal Continental 3
1.2 – A Pesca Local/ Pesca Artesanal 9
1.3 – Enquadramento Legal 9
1.4 – Equipamentos a bordo 13
1.5 – Artes de Pesca 15
2 – Acidentes de Trabalho e Segurança no Trabalho 19
2.1 – Ocorrência dos Acidentes de Trabalho no Sector da Pesca 20 2.2 – Enquadramento Legal – Acidentes de Trabalho 22 2.3 – Enquadramento Legal – Segurança no Trabalho 24 2.4 – Prevenção dos Riscos Profissionais – a Segurança no Trabalho na Pesca 25
3 – Comunidades em Estudo 31
3.1 – Caracterização dos Portos de Pesca 40
II – M etodologia 43
1 – Comunidades em Estudo 43
2 – Definição das Variáveis em Estudo e das Diferentes Fases a Executar 43
2.1 – Concepção dos Inquéritos 44
2.2 – Dados Estatísticos de Acidentes de Trabalho 47
III – Resultados 48
1 – População de Armadores e M estres – Caracterização 48
2 – Caracterização da Actividade da Pesca 53
3 – Acidentes de Trabalho 56
4 - Avaliação e Prevenção de Riscos 63
5 – Análise da Relação de Dependência entre as Actividades e as Lesões 65
1 – População de Armadores e M estres – Caracterização 70
2 – Características da Actividade 72
3 – Acidentes de Trabalho 73
4 – Avaliação e Prevenção de Riscos 76
5 – Análise da Relação de Dependência entre as Actividade e as Lesões 76
V – Conclusão 78
VI – Glossário 81
IX – Bibliografia e Referências Bibliográficas 86
X – Anexos 90
Anexo I – Inquérito Aplicado a Armadores e M estres das Embarcações da Pesca Local 91 Anexo II – Classificação Estatística de Acidentes de Trabalho 108
Resolução OIT (1998) 109
EUROSTAT (2001) 110
Chauvin & Le Bouar (2005) 113
Índice de Gráficos
Gráfico 1 – Comprimento das embarcações da frot a de pesca local por comunidade analisada 38
Gráfico 2 – Capacidade (GT) das embarcações da pesca local por comunidade analisada 38
Gráfico 3 – Pot ência em Kw das embarcações da pesca local por comunidade analisada 39
Gráfico 4 – Ano de const rução das embarcações da pesca local por comunidade analisada 39
Gráfico 5 - Nível de escolaridade por comunidade 49
Gráfico 6 - Inicio da act ividade por faixa et ária e comunidade de pesca 49
Gráfico 7 - Tempo de profissão 50
Gráfico 8 - Razões que levaram ao exercício da profissão da pesca por comunidade 51
Gráfico 9 - Classificação da act ividade em relação aos rendiment os auferidos por comunidade 51 Gráfico 10 - Classificação da act ividade em relação às condições de t rabalho por comunidade 52 Gráfico 11 – Classificação da act ividade da pesca em relação às perspectivas fut uras, por comunidade 53
Gráfico 12 - Dist ribuição das habilitações profissionais da pesca por comunidade 54
Gráfico 13 - Dist ribuição das art es de pesca licenciadas por comunidade 55
Gráfico 14 - Condições de t rabalho no port o, o que se deve melhorar, por comunidade 55
Gráfico 15 – Causas de acident es de t rabalho – percepção dos mest res da comunidade Nort e 56 Gráfico 16 – Causas de acident es de t rabalho – percepção dos mest res da comunidade Cent ro 57
Gráfico 17 – Causas de acident es de t rabalho – percepção dos mest res da comunidade Sul 58
Gráfico 18 – Acident es sofridos por cat egoria profissional, por comunidade 58
Gráfico 19 - Ocorrência de acidentes de t rabalho em t odas as comunidades (dia ou noit e) 59
Gráfico 20 -Ocorrência de acident es de t rabalho, por comunidade (dia ou noite) 59
Gráfico 21 – Causas dos acident es – Desvio, por comunidade 60
Gráfico 22 – Causas dos acident es – Contact o – M odalidade da lesão, por comunidade 61
Gráfico 23 – Consequências – t ipo de lesão, por comunidade 62
Gráfico 24 – Consequências – part e do corpo at ingida, por comunidade 62
Gráfico 25 – Act ividade do pescador no momento do acidente, por comunidade 63
Gráfico 26 – Exist ência a bordo de list a de verificação dos equipamentos de segurança, por comunidade 64
Gráfico 27 – Utilização da list a de verificação, por comunidade 64
Gráfico 28 – Verificação dos equipamentosde segurança, por comunidade 65
Gráfico 29 - Correlação ent re as act ividades dos Pescadores e as lesões sofridas na faina da pesca 66 Gráfico 30 - Correlação por região ent re as actividades dos Pescadores e as lesões sofridas na faina da
pesca 67
Gráfico 31 - Correlação ent re as act ividades dos Pescadores e a part e do corpo at ingida 68
Gráfico 32 - Correlação por região ent re as actividades dos pescadores e a part e do corpo atingida 69
Índice de Figuras
Figura 1 – Localização dos portos de pesca alvo de est udo 31
Índice de Quadros
Quadro 1- Consumo médio de peixe e produtos da pesca (Kg/ per capita) 8
Quadro 2 - Classificação das embarcações de pesca de acordo com a área de operação e os seus
requisit os 12
Quadro 3- Classificação das art es de pesca de acordo com a t écnica 15
Quadro 4 - Vítimas de acident es no t rabalho e dias de incapacidade, segundo as causas 23
Quadro 5 - Indicadores de incidência dos acident es de t rabalho para a população empregada no sect or
Quadro 6 - Perigos de acordo com os riscos associados 27
Quadro 7 - Riscos físicos, perigos e medidas preventivas 27
Quadro 8 - Riscos Químicos, perigos e medidas prevent ivas 28
Quadro 9 - Riscos Biológicos, perigos e medidas prevent ivas 28
Quadro 10 - Riscos de Incêndio e explosão, perigos e medidas prevent ivas 28
Quadro 11 - Riscos Eléct ricos, perigos e medidas preventivas 29
Quadro 12 - Riscos Ergonómicos, perigos e medidas de prevent ivas 29
Quadro 13 - Riscos Psicossociais, perigos e medidas preventivas 30
Quadro 14 - Riscos nas Embarcações, perigos e medidas preventivas 30
Quadro 15 - Capt uras nominais por NUT II e segmentos de pesca 2012 35
Quadro 16 - Dimensão da frot a pesqueira em Port ugal continental e ilhas (2001 - 2012) 35
Quadro 17 - Pescadores mat riculados e embarcações de pesca por NUTS II e port o, 2011 36
Quadro 18 – Relação ent re total da frota e toneladas de capt uras em 2012, por comunidade 37
Quadro 19 - Dist ribuição dos inquéritos aos mest res, por comunidade 48
Abreviaturas
ACT – Autoridade para as Condições do Trabalho
AT – Acidentes de Trabalho
BIT – Bureau Internacional de Trabalho
DGAM – Direcção-Geral da Autoridade M arít ima Nacional
DGRM – Direcção- Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços M arítimos
DGAV – Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária
FAO – Food and Agricult ure Organizat ion
FOR-M AR – Centro de Formação Profissional das Pescas e do M ar
GEP – Gabinete de Estudos e Planeamento
GT – Gross t onnage – Tonelagem Bruta
INE – Instituto Nacional de Estatística
KW – Kilow at t - Quilovátio
M SESS – M inistério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social
M TSS – M inistério do Trabalho e da Segurança Social
OIT – Organização Internacional de Trabalho
ST – Segurança no Trabalho
SST – Segurança e Saúde no Trabalho
Introdução
A presente dissertação surgiu da necessidade de conhecer o estado da
Segurança no Trabalho no sector da pesca – mais concretamente da pesca artesanal,
em Portugal continental, com uma abordagem a três regiões costeiras atlânticas
(norte, centro e sul).
Assim, num único trabalho juntou-se a pesca, a segurança no trabalho e
acidentes de trabalho, enquanto política organizacional necessária para as condições
de trabalho em segurança e saúde, e o território.
A investigação estudou os problemas relacionados com a ausência de políticas
de Segurança no Trabalho (ST) na pesca, reflectidas, nomeadamente, em estatísticas
múltiplas e diferentes entre os organismos responsáveis. Analisou a percepção de
acidentes de trabalho relacionados com comunidades distintas comparando-as entre
si, tendo em conta a distância geográfica.
A organização da tese procurou sistematizar três valências diferentes e
estudá-las como uma única. No primeiro capítulo, o enquadramento, pretendeu-se introduzir
cada tema/ valência de modo isolado:
A) A pesca, enquant o sector económico, tem regras específicas de acesso à
profissão e embarque. Tem equipamentos a bordo que permitem saber a localização
geográfica, mesmo sem contacto visual com terra, encontrar o pescado, o que
contribui para a segurança marítima, que é diferente da segurança no trabalho, e
ainda artes de pesca muito específicas para a obtenção das diferentes espécies da
nossa costa.
B) Os acidentes de trabalho sucedem em todos os sectores económicos, com
maiores e menores danos provocados nos trabalhadores. De modo geral, na pesca,
porque as embarcações operam em áreas afastadas dos meios de socorro, um
acidente pode mais facilmente provocar a mort e. O contexto legal dos acidentes de
trabalho e o regime jurídico da promoção da segurança e saúde no trabalho, enquanto
a cultura de prevenção dos riscos profissionais é importante e pode adaptar-se a este
sector.
C) As comunidades em estudo e a sua localização geográfica, com a
caracterização de cada porto de pesca, das capturas, população licenciada e a
estrutura da pesca.
No segundo capítulo introduz-se a metodologia da investigação, que passou
pela construção de um inquérito, pela deslocação até às comunidades em estudo,
divulgação do inquérito e análise dos mesmos.
Os resultados e discussão dos questionários encontram-se nos capítulos
terceiro e quarto, baseados apenas nas respostas dos mestres de cada comunidade.
Durante a análise dos resultados verificou-se a impossibilidade de estudo de todas as
questões; contudo os temas centrais desta investigação foram todos analisados na
totalidade: caracterização da população de armadores e mestres da pesca local, a
caracterização da actividade da pesca, os acidentes de trabalho, a avaliação e
prevenção de riscos e ainda a correlação ent re a actividade e as lesões.
O capítulo quinto conclui o trabalho de investigação teórica e prática, com uma
crítica aos resultados obtidos, procurando sistematizar estes mesmos resultados com
os objectivos propostos, bem como salienta aspectos a melhorar ou desenvolver no
futuro.
O último capítulo apresenta os contributos para a implementação da formação
e legislação da segurança no trabalho junto das comunidades da actividade pesqueira
I – Enquadramento
1 – Actividade pesqueira – Pesca Artesanal
1.1 – A Pesca em Portugal Continental
O território Continental situa-se numa zona de transição para ecossistemas
mais quentes e frios: apresenta uma elevada diversidade de espécies de pescado mas
fraca abundância. Na costa portuguesa as condições atmosféricas permitem a
ocorrência de fenómenos sazonais de upw elling (aflorament os costeiros). Estes
reflectem-se como uma subida de massas de águas frias do fundo do oceano,
provocadas pelo efeito do vento que se faz sentir junto à costa, e que permite a subida
de águas ricas em nutrientes até à superfície. Estes factores determinam a referida
diversidade de espécies e a abundância de pequenos pelágicos como a sardinha que,
habitualmente, tem representado mais de 40% das quantidades totais capturadas
(M ADRP-DGPA, 2007).
Estas condições fisiográficas específicas do litoral português, com mais de 800
Km de costa, traçam o perfil do pescador português: “ Uma costa longa mas rectilínea,
pobre de reentrâncias, diante de um oceano sem ilhas, oferece aos modos de vida
litorais um domínio forçosamente limitado” (Ribeiro, 1998).
As condições meteorológicas predominantes em Portugal Continental são
condicionadas essencialmente à latitude (região de transição ent re a zona dos
anticiclones subtropicais e a zona das depressões subpolares do hemisfério Norte), a
orografia, a influência do Oceano Atlântico e a continentalidade. No litoral a estes
factores acresce a influência das orientações dominantes da linha de costa (Instituto
Hidrográfico, 2005).
O clima caracteriza-se pela passagem de sucessivas depressões a que se
associam superfícies frontais responsáveis por variações térmicas e mudança no rumo
dos ventos; o arranjo regional do clima apresenta forte gradiente Oeste-Este,
resultante da progressiva intensidade e frequência da penetração das massas de ar
atlânticas.
Como, de resto, se verifica na totalidade do Pais, a pluviosidade é máxima nos
No Inverno predominam massas de ar marítimo e ventos de N ou NW. O Verão
é caracterizado por uma situação meteorológica bastante estável, em que o
continente fica sob a influência da crista NE do Anticiclone dos Açores e a depressão
térmica que se forma sob a Península Ibérica. (Instituto Hidrográfico, 2005)
A fachada atlântica alentejana é climaticament e muito menos activa que a
região a Norte do cabo Raso. O duplo abrigo das serras de Sintra e da Arrábida e as
reentrâncias a elas ligadas, fazem que as massas de ar do Noroeste sejam desviadas ou
travadas.
O clima é do tipo quente e seco, com chuvas caindo sobretudo no Inverno. O
Verão é bastante prolongado e seco, em especial nos meses de Julho e Agosto quando
se faz sentir com mais intensidade a acção do anticiclone dos Açores. Neste período as
temperaturas são frequentemente elevadas, por vezes mais de 40o C, não sendo raras
grandes amplitudes térmicas diárias.
O carácter aleatório da pesca perante recursos variáveis, ao contrário da
agricultura, que pressupõe uma base mais ou menos definida de subsistência, a
ausência de direitos de posse perante recursos móveis e comuns, conduz,
necessariamente, a um padrão sociocultural diferente dos agricult ores, pastores e
trabalhadores assalariados. Além disto, o facto de, no caso português, 80% dos
pescadores se dedicarem a uma pesca costeira, dependente de múlt iplas espécies
marítimas e fluviais, de múlt iplos ecossistemas, provoca uma pressão cont ínua sobre
aquela estreita faixa marítima, determinando quadros específicos de trabalho
piscatório (Amorim, 2001).
Um dos defeitos estruturais apontados à frota portuguesa é ter uma grande
percentagem de embarcações de pequena dimensão e potência. No entanto, as
comunidades piscatórias adaptaram-se a estas características da costa e dos recursos
utilizando pequenas embarcações de carácter art esanal para os explorar. Esta situação
não é comparável à dos países do norte da Europa, possuidores de extensas
De facto, segundo o INE, em 31 de Dezembro de 2012 (INE, 2012),
encontravam-se registadas na frota de pesca nacional 8.276 embarcações, totalizando
uma arqueação bruta de 99.836 GT e uma potência propulsora de 366.303 kW, o que,
face a 2011, representa uma diminuição de 1,3% em número de embarcações, de 1,7%
da arqueação bruta (GT) e de 1,4% da potência (kW).
A análise da frota registada mostra a prevalência das embarcações que operam
com artes fixas e possuem um comprimento de fora a fora inferior a 12 m (cerca de
90% do número total de embarcações registadas), correspondendo a 12,3% do total da
arqueação bruta e a 40,4% do total da potência.
A frota de pesca encontra-se distribuída por 45 portos de registo (capitanias e
delegações marítimas), dos quais 32 estão situados no Continente, 11 na Região
Autónoma dos Açores e 2 na Região Autónoma da M adeira.
Em 2012, à semelhança do ano anterior, a região Centro detinha o maior
número de embarcações registadas (1.986) correspondentes a 24% do número total
de unidades. A análise da capacidade da frota registada, em função da arqueação
bruta, permite igualmente destacar a região Centro, que representou 39,5% do total,
como resultado do maior número de registos de embarcações de pesca do largo.
As pequenas embarcações, com arqueação bruta inferior a 5 GT representaram
cerca de 84,2% do número total de embarcações mas apenas 8,4% do total da
arqueação bruta. As grandes embarcações (mais de 100 GT) representaram apenas
2,4% do número total de embarcações, detendo cerca de 68,2% do total da arqueação
bruta.
A caracterização do tipo de pesca é feita por referência ao tipo de embarcações
utilizadas e às artes praticadas distinguindo-se dois tipos de pesca: uma artesanal ou
tradicional e a outra industrial ou moderna. A pesca tradicional, a mais importante em
Portugal, caracteriza-se pelos meios tradicionais de captura, com técnicas transmitidas
de geração em geração, os barcos são de reduzida dimensão e de fraca tonelagem e é
praticada na proximidade do port o de abrigo, não podendo as embarcações ir além
A complexidade e dificuldade das tarefas no oceano exigiram sempre aos seus
trabalhadores dedicação absoluta e um elevado grau de especialização. Esta vivência
materializou-se na formação de comunidades litorais voltadas para o oceano, com os
seus costumes e formas de vida próprios, diferentes e estranhos para as comunidades
do interior. Gente que, embora fisicamente próxima da de "terra" , mas clarament e
afastada desta como consequência de vários aspectos essenciais (religiosidade,
folclore, endogamia), constituiu sempre um mundo dotado de uma dinâmica própria e
de grande coesão interna (Santos, 2000).
As características desta população diferenciam-se dos restantes sectores,
embora a sua expressão no total do emprego seja muito reduzida (0,3% do emprego
total em 2011). O nível de emprego no sector tem vindo a diminuir tendo perdido na
última década cerca de 18% (INE, 2012).
Em 2011, os trabalhadores nesta actividade possuíam um nível baixo de
escolaridade, mantendo-se sem grande variação a situação que existia em 2001. A
maioria não tem o 9º ano de escolaridade completo: 8,5% não apresentam qualquer
nível de escolaridade, 41,3% possuem apenas o 1º ciclo e 27,7% atingiram o 2º ciclo.
Com o 3º ciclo completo são apenas 14,9% (INE, 2011).
A idade média da população empregada na pesca era de 43,6 anos (44,6 anos
para o Continente), à data dos Censos 2011. Relativamente aos dados de 2001, em que
a média de idades foi 41,5 anos, ocorreu um envelhecimento da população da pesca
de cerca de dois anos (INE, 2011). A idade média da população empregada em 2011
era de 40,8 anos, inferior ao valor para a população empregada na pesca no mesmo
ano (aguarda-se a determinação pelo INE do valor relativo a 2001).
Em termos de matrícula para exercício da actividade, em 2012 estavam
registados, nas capitanias, 16.559 pescadores. Destes, cerca de 70% do total
encontravam-se envolvidos na pesca polivalente.
Por outro lado, a actividade da pesca gera muitos empregos indirectos, em
sectores muito diversos como: o comércio de peixe fresco, fabrico de conservas, peixe
congelado, farinhas, construção e reparação naval, cordoaria, transportes,
O pescador caracteriza-se pela(s) actividade(s) que desempenha num espaço
que inclui os estuários e sistemas lagunares, a plataforma continental (paralela à costa,
numa extensão que oscila entre os 8 e os 70 Km) e a uma área até 200 milhas. Estas
batimétricas são determinantes para os povoamentos marítimos e, naturalmente, para
o tipo de pesca a exercer. Sabe-se hoje que 99% dos recursos mundiais provêm da 1ª e
2ª zonas, e que estas representam na Terra só 10% da superfície ocupada pelos
oceanos e mares. Em Portugal, o desequilíbrio é mais flagrante: a plataforma não
ultrapassa os 2% da área global da nossa ZEE (200 milhas) e, no entanto, 70% da
plataforma está compreendida no nosso mar territorial, até 12 milhas, donde provêm
cerca de 4/ 5 dos nossos desembarques (Amorim, 2001).
A riqueza piscícola das águas costeiras nacionais não é das mais favoráveis,
tendo em conta a dimensão reduzida da nossa plataforma continental. Este facto
motivou, desde os séculos XIV e XV, os pescadores portugueses a procurarem outras
áreas de pesca mais favoráveis aventurando-se nos mares mais distantes, do norte de
África a Inglaterra e aos bancos da Terra Nova. Segundo o EUROSTAT (2009), navios da
frota pesqueira portuguesa operam em todas as áreas de pesca (Atlântico Noroeste,
Nordeste, Sudoeste e Sueste, M editerrâneo, Atlântico Central Este e Índias
Ocidentais).
O volume total de pescado descarregado em 2012 decresceu 7,9% face a 2011
(INE, 2012), tendo sido descarregadas, entre portos nacionais e não nacionais, 191.593
toneladas (peso à descarga, incluindo a totalidade das retiradas e rejeições).
Verifica-se um decréscimo de 6,3% nas descargas de pescado fresco e refrigerado, o qual
representa mais de 85% do volume total de pescado descarregado. A descarga de
congelados regista igualmente uma diminuição (-16,7%) em relação a 2011.
Em 2012 e considerando o tipo de pesca, a modalidade polivalente mantém a
preponderância das capturas (46,5%), seguindo-se o cerco (44,0%) e por último o
arrasto (9,6%).
A evolução recente da pesca em Portugal, analisada em termos das capturas de
pescado, demonstra as part icularidades do sector da pesca no contexto da Europa e do
M undo. No contexto europeu, quatro países membros (Dinamarca 17%, Espanha 15%,
Portugal, uma posição modesta (4%), abaixo da Irlanda (6%) e Países Baixos (5,8%) e,
em paralelo com a Alemanha (4,7%), Itália (4,7%) e Suécia (4,3%) (EUROSTAT, 2009).
No entanto, Portugal, pelo consumo médio de pescado (Quadro 1), quando
comparado com os níveis de captura e produção, apresenta um balanço
extremamente deficitário ent re as exportações e importações, com um défice, em
2012, de cerca de 752 milhões de euros (DGRM , 2013).
Quadro 1- Consumo médio de peixe e produtos da pesca (Kg/ per capita)
Anos Portugal Europa
2001 54,9 20,0
2002 54,7 19,5
2003 52,6 19,8
2004 53,6 19,5
2005 53,5 20,6
2006 56,2 21,3
2007 61,4 22,2
2008 61,2 22,3
2009 61,1 21,9
Fonte: Food and Agriculture Organization (FAO, 2013)
O actual quadro de referência implica um elevado esforço de reestruturação
que, alterando de forma significativa a vida das populações, induz intensos processos
de reconfiguração espacial das regiões costeiras.
Como reflexo territorial da evolução da actividade esboça-se, desde o início do
século XX, um processo de concentração espacial, acelerado a part ir da década de
cinquenta pela alteração tecnológica e motorização das embarcações. Este facto
produziu uma nova distribuição dos núcleos piscat órios.
A pulverização, por aglomerados, de toda a linha de costa, onde a pesca
possuía, em termos socioeconómicos, um peso significativo, sucede uma nova imagem
em que a concentração da actividade nalguns destes centros e o consequente
esvaziamento de outros, está a determinar uma descontinuidade territorial (Santos,
1.2 – A Pesca Local/ Pesca Artesanal
A pesca é uma actividade que se desenvolve em ambiente aquático, em
embarcações que podem ir de muito pequenas a muito grandes, cujo fim é a captura
de recursos marinhos com a utilização de artes de pesca. Está sujeita às condições
atmosféricas, estabilidade das embarcações, art es de pesca utilizadas consoante os
recursos que se pretendem capturar, peso destas mesmas artes e esforço humano. É a
actividade humana mais dependente da natureza (Rodrigues, 2008).
A pesca artesanal caracteriza-se pela utilização de meios tradicionais de captura
(de linha, redes ou armadilhas), com técnicas ancestrais passadas de geração em
geração. As embarcações são de reduzida dimensão e de fraca tonelagem e, muitas
vezes, ainda sem motor (em 2011 estavam registadas 1.555 embarcações de pesca
sem motor, cerca de 18% do total de embarcações de pesca). Outra característica
importante é a de que a tripulação das embarcações é reduzida (muitas vezes é um
pescador isolado que a compõe) e não dispõem de meios de conservação das capturas
pelo que não permanecem no mar por muitas horas.
Este tipo de pesca predomina na pesca local e na pesca costeira que, em
Portugal, se caracterizam por critérios dimensionais, tonelagem e potência e, ainda,
pela distância da costa a que podem exercer a faina.
1.3 – Enquadramento Legal
A pesca é um sector económico regulado por várias entidades, passando pelas
mais diversas áreas, como sejam a Inscrição e Segurança M arítima, as Artes de Pesca, a
Contratação a Segurança e Saúde no Trabalho, Acidentes de Trabalho e Doenças
Profissionais, a Segurança M arítima.
A actividade da pesca local, também denominada por pesca artesanal, assenta
a sua regulamentação no Decreto-Regulamentar n.º 43/ 87, 17 de Julho, na redacção
dada pelo Decreto-Regulamentar n.º 7/ 2000, de 30 de M aio, que tem por objecto
definir as medidas nacionais de conservação dos recursos vivos aplicáveis ao exercício
da pesca em águas sob soberania e jurisdição nacionais, bem como estabelecer,
características para a actividade desenvolvida nas referidas águas ou fora delas e ainda
regulamentar o regime de autorização e licenciamento do exercício da pesca, da
actividade das embarcações e da utilização das art es de pesca.
A actividade profissional dos indivíduos com habilitações para o exercício de
funções em embarcações de pesca, os marítimos, encontra-se regulada pelo
Decreto-Lei n.º 280/ 2001, de 23 de Outubro, alterado pelo Decreto-Decreto-Lei n.º 226/ 2007, 31 de
M aio, que estabelece as normas reguladoras da actividade profissional destes,
incluindo as relativas: à sua inscrição marítima e à emissão de cédulas marítimas; à sua
aptidão física, classificação, categorias e requisitos de acesso e funções a
desempenhar; à sua formação e certificação, reconhecimento de cert ificados,
recrutamento e regimes de embarque e de desembarque e à lotação de segurança das
embarcações.
As cédulas marítimas ou cédulas são os documentos que habilitam o marítimo
a exercer a profissão nela averbada, estando as diversas categorias profissionais
descritas no Anexo III do Decreto-Lei n.º 280/ 2001 de 23 de Outubro, alterado pelo
Decreto-Lei n.º 226/ 2007, 31 de M aio, nomeadamente para os escalões de oficiais e
mestrança aplicáveis aos marítimos. O acesso a cada uma das categorias profissionais
é feito com base em cursos de formação promovidos pelo FOR-M AR, entidade pública
promotora da formação específica ligada ao mar.
Os métodos de pesca que podem ser exercidos em águas oceânicas e águas
interiores, com as respectivas definições sumárias de cada uma, encontram-se
definidos no Decreto-Regulamentar que contem o quadro legal e as medidas técnicas.
As disposições reguladoras das características das artes e das condições do exercício
da pesca por qualquer dos métodos, estão regulamentadas em diferentes portarias, e
serão descritas em capítulo próprio.
O sector da pesca tem também a sua regulamentação assente no Código do
Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/ 2009, de 12 de Setembro, e na Lei n.º 15/ 97, de 31
de M aio que estabelece o regime jurídico do contrato individual de trabalho a bordo
As embarcações de pesca vão adequar-se às distâncias a percorrer, às
características dos mares em que navegam, assim como às artes que transportam e
suas necessidades de estiva (Souto, 2007) e por esse mesmo motivo importa classificar
cada uma delas de acordo com a legislação em vigor.
1.3.1 – Classificação de embarcações
A classificação das embarcações de pesca, de acordo com a área em que
podem operar, encontra-se definida no art igo 62.º , no Título IV, do
Decreto-Regulamentar 7/ 2000, 30 de M aio.
Por conseguinte, em Portugal, as embarcações de pesca podem classificar-se
em três tipos:
a) Embarcações de pesca local;
b) Embarcações de pesca costeira;
c) Embarcações de pesca do largo.
As embarcações de pesca devem obedecer a requisitos técnicos específicos que
lhes permitam exercer a actividade em condições de segurança, com mar grosso e
vento fresco, tendo em conta a natureza e extensão das viagens e a distância e
localização dos pesqueiros mais afastados. De acordo com o art.º 66.º do
Decreto-Regulamentar n.º 7/ 2000, de 30 de M aio, os requisitos técnicos a que as embarcações
devem atender são:
a) Dimensões, propulsão, equipamentos, alojamentos, porões e
conservação de pescado;
b) Capacidade e peso máximos de t ransporte, tanto em pescado e gelo
como em artes e outros instrumentos de pesca;
c) M eios de salvação e equipamentos de navegação, segurança e de
radiocomunicações;
d) Certificação técnica e demais documentação de bordo exigível nos
e) Condições e out ros factores de higiene e segurança, nomeadamente os
constantes da legislação em vigor.
Assim, as embarcações de pesca agrupam-se como disposto no quadro 2.
Quadro 2 - Classificação das embarcações de pesca de acordo com a área de operação e os seus requisitos
(1)Apenas registadas nos portos do continente;
(2)Na área limitada a norte pelo paralelo 48º W, a sul pelo paralelo 30º N e a leste pela costa africana, pela linha que une Orão a Almeria e pela costa europeia; Na área limitada a norte pelo paralelo 30º N, a oeste pelo meridiano 16º W, a sul pelo paralelo 25º N e a leste pela costa africana; Nos bancos de Gorringe (Gettysburg), Josephine, Ampére, Seine e Dácia.
(3)Proibidos de operar as embarcações a menos de 6 e 12 milhas de distância à linha da costa portuguesa que tenham mais de 100 e 260 GT, conforme o registo na pesca seja anterior ou posterior a 31-12-1999;
(4)Proibidas de operar as embarcações "cercadoras" que tenham mais de 110 TAB ou 24 metros, conforme o registo seja anterior ou posterior a 31-12-1999, a menos de 6 milhas da linha de costa
Desta forma, os navios de pesca local, que exercem a actividade em águas não
interiores, deverão possuir um comprimento de fora a fora até 9 metros, potência do
motor não superior a 100 cv ou 75 kW quando são de convés fechado, e não superior a
60 cv ou 45 kW quando de convés aberto. As áreas em que podem operar dividem-se
assim em três, condicionadas pelo tipo de embarcação, dependendo se são de convés
aberto, convés aberto parcialmente fechado à proa ou convés fechado:
a) Convés aberto: dentro da área de jurisdição da capitania do porto em
que se encontram registados e das áreas das capitanias limítrofes, não podendo
afastar-se mais de 6 milhas da costa;
b) Convés parcialmente fechado à proa, com cabina — dentro da área de
jurisdição da capitania do porto em que estão registadas e das áreas das capitanias
limít rofes, não podendo afastar-se mais de 12 milhas da costa, devendo dispor de
equipamento e meios de segurança de acordo com a sua área de operação; Convés Aberto Convés Parcialment e
Fechado Convés Fechado
Área de Operação (1) 6 milhas 12 milhas 30 mi lhas
Li mi tações dadas por paral el os; proi bi ções de acordo com Arqueção ou Compri mento (2) e (3)
Em qual quer área excepto para dent ro das 12 mi l has de di stânci a à l i nha costa
Requisitos embarcações (1)
Comprimento > 9 m e ≤ 33 m etros > 33 metros
Potência M otor ≤60 Cv ou ≤45 Kw Sem requisitos legais≤100 Cv ou ≤75 Kw > 35 Cv ou > 25 Kw Sem requisitos legais
Autonomia Conform e local da pesca 15 dias
Arqueação (GT) Requisitos especiais (3)(4) > 100
Tipos de artes utilizadas Imposi ções para cercadoras
Embarcações
Linhas e anzol, arm adilhas, redes de emalhar
Costeira Largo
Local
≤ 9 met ros
c) Convés fechado – dentro da área de jurisdição da capitania do porto em
que estão registadas e das áreas das capitanias limítrofes, com excepção das águas
interiores não oceânicas definidas no art igo 2.º , não podendo afastar-se mais de 30
milhas da costa.
1.4 – Equipamentos a bordo
Os equipamentos a bordo das embarcações de pesca podem dividir-se em três
áreas ou segmentos distintos: equipamentos para faina e palamenta; equipamentos
electrónicos e equipamentos de salvação ou de segurança marítima.
1.4.1 – Equipamentos para faina e palamenta
São os equipamentos que fazem parte da embarcação e sem os quais não é
possível a captura de peixe. Ou sem os quais a captura de peixe se tornaria menos
eficiente e com maior esforço humano.
Nestes encontram-se os guinchos que içam a retenida ou cabos, os aladores
que içam as redes e armadilhas. Consoante as artes de pesca poderemos encontrar
redes, linhas, anzóis, armadilhas. Os cabos e bóias necessários para a faina, e muitas
outras peças.
Faz parte da palamenta que existe a bordo a bússola ou agulha de marear. Esta
permite saber para que rumo, em relação ao Nort e, se desloca a embarcação.
1.4.2 – Equipamentos electrónicos
A bordo da maioria das embarcações de pesca local é possível encontrar um
conjunto de equipamentos electrónicos, com uso de novas tecnologias, que permit e
maior segurança das mesmas e das tripulações e são uma grande ajuda para a pesca e
captura de pescado.
As novas tecnologias permitem ao pescador saber de antemão e com maior
rigor as condições meteorológicas previstas. Conhecer a localização correcta em cada
momento através do uso do GPS, o Global Posit ioning Syst em, um equipamento que
mínimo 4 satélites indica a posição da embarcação, o rumo para onde se desloca e
regista também o percurso efectuado desde que foi ligado, ou desde que a
embarcação saiu para a faina.
Com as novas tecnologias é igualmente possível descobrir a localização de
cardumes, mais ou menos abundantes, através do uso de sonda e sonar. A sonda e
sonar registam o tipo de fundos, a sua espessura e a profundidade. A sonda também
vai detectar os cardumes que passam sob a embarcação, o sonar vai escutar num
ângulo mais alargado, centena e meia de metros para os lados. Deste modo o peixe é
detectado por cores nos monitores electrónicos. (M artins, 1999 fidé Alves, 2012).
1.4.3 – Equipamentos de Segurança marítima
A bordo de todas as embarcações de pesca deverão existir, por imposição legal,
um conjunto de equipamentos que contribuem para a segurança marítima da
embarcação e do marítimo.
Podem listar-se:
1. Rádio VHF, que permite as comunicações de emergência com terra ou
outras embarcações;
2. Farmácia de bordo, de acordo com o Decreto-Lei n.º 274/ 95 de 23 de
Outubro;
3. M eios de combate a incêndio – extintores;
4. M eios de Salvação. Equipamentos individuais, colectivos e de alerta
colocados a bordo dos navios para utilização em caso de sinistro. Para a pesca local
são: jangadas SOLAS ou pneumáticas de modelo simplificado com capacidade para o
total de pessoas embarcadas se a embarcação for de pesca local nova ou de convés
fechado e se se afastar mais de 6 milhas da costa; uma bóia de salvação com sinal
luminoso e uma bóia de salvação com retenida de 30 metros; dois fachos de mão e,
por último, dois sinais de pára-quedas, mais conhecidos por very-light s (art.º 69.º do
1.5 – Artes de Pesca
A pesca é diferenciada consoante as espécies que se pretende obter, tanto em
técnicas de pesca utilizadas como embarcações. As primeiras evoluíram a par do
conhecimento que os grupos humanos foram adquirindo acerca do comportamento
particular de cada espécie (Souto, 2007).
As diferentes técnicas de pesca podem utilizar mais do que um aparelho ou
engenho e são referidas como artes de pesca. Existem várias artes de pesca que são
utilizadas pelos marít imos da pesca local, e estas, de acordo com as diferentes
técnicas, podem ser agrupadas em algumas famílias: Linhas e Anzóis, Redes,
Armadilhas.
As artes podem ser classificadas em act ivas ou passivas: as activas são aquelas
que se dirigem ao encontro do peixe; as passivas quando o peixe vai ao encontro da
arte (quadro 3).
Quadro 3- Classificação das artes de pesca de acordo com a técnica
Classificação Famílias das Artes Artes
Passivas
Anzol Superfície Fundo Armadilhas Gaiola Abrigo Redes Emalhar
Tresmalho
Activas
Rebocadas Ganchorra Arrasto de Vara M óveis Cerco
Envolventede arrasto
Em Portugal, a pesca artesanal recorre praticamente a todas as artes de pesca
classificadas no quadro 3, e descritas em seguida.
1.5.1 – Linhas e Anzol
A pesca à linha com o anzol é considerada uma das “ famílias” de artes mais
selectivas, porque na maioria dos casos o tamanho do peixe está relacionado com o
tamanho ou número do anzol (Rodrigues, L. 2007). Esta pode ser exercida com artes
e piteira. Os anzóis podem ter várias formas e dimensões e ter isco natural, vivo ou
morto, ou artificial. Os peixes são atraídos por isco natural ou art ificial (amostra)
colocado num anzol fixo na extremidade de uma linha, no qual são capturados. Anzóis
ou toneiras são também utilizados para capturar peixes e moluscos espetando-os
quando passam perto. (DGRM , 2013).
Por linha de mão entende-se um aparelho, com um ou mais anzóis, que actua
ligado à mão do pescador. E por palangre um aparelho com vários anzóis, formado
basicamente por uma linha ou cabo fino denominado madre, de comprimento
variável, do qual partem estralhos ou baixadas com anzol, actuando junto ao fundo ou
à subsuperfície, podendo ser fundeados ou derivantes.
Os palangres, artes de pesca de fundo, são constituídos por uma linha de
grande compriment o (madre), à qual se ligam numerosas linhas de pequeno
comprimento (estralhos) na extremidade livre das quais se empata um anzol. Em cada
um dos extremos do palangre existe uma bóia que, além de o estabilizar e manter na
vertical em relação à coluna de água, facilita a localização do aparelho (Rodrigues,
2008). O comprimento e o afastamento entre estralhos variam de acordo com a
espécie-alvo. Existem palangres fundeados de fundo e de meia-água e palangres de
superfície que se destinam, essencialmente, à pesca de grandes migradores como o
espadarte. (DGRM , 2013).
Regulamentada pela Portaria n.º 1102-C/ 2000, 22 de Novembro, por pesca à
linha entende-se qualquer método de pesca que se caracteriza pela existência de
linhas e, em regra, de um ou mais anzóis, lastros e bóias.
1.5.2 – Armadilhas
Por pesca por armadilha entende-se qualquer método de pesca passivo pelo
qual a presa é atraída ou encaminhada para um dispositivo que lhe dificulta ou
impossibilita a fuga, sem que para tal tenha abandonado o seu elemento natural.
(artigo n.º 2º da Portaria n.º 1102-D/ 2000, 22 de Novembro).
São artes de pesca nas quais os peixes, moluscos ou crustáceos entram e de
onde a saída é difícil. Construídas de materiais e formas diversas, com uma ou várias
ou sem isco e referenciadas à superfície através de bóias de sinalização. As suas
designações variam tanto com a região, como com a forma ou ainda a espécie alvo.
Uma armadilha é constituída, fundamentalmente, por:
· Estrutura ou armação, construída em metal, madeira, plástico, etc.,
dando a forma pretendida à armadilha;
· Rede, forra ou cobertura, formada pela rede que cobre a armação e que
impede a fuga das espécies capturadas
· Abertura ou endiche, abertura através da qual as espécies entram na
armadilha;
· Tampa, normalmente na zona oposta ao endiche, pela qual se retiram
as espécies capturadas.
A estrutura pode ser desmontável, permit indo, neste último caso, uma melhor
arrumação a bordo com consequente calagem de um maior número de
armadilhas/ homem/ embarcação. De acordo com as espécies que se pretende
capturar, as aberturas podem ter várias formas e dimensões e a sua colocação na
armadilha pode ser horizontal ou vertical. Normalmente, para peixes e cefalópodes, a
implantação dos endiches é horizontal, enquanto para crustáceos é vertical.
1.5.3 – Redes de emalhar
M étodo de pesca que utiliza estrutura de rede com forma rectangular,
constituída por um, dois ou três panos de diferente malhagem, mantidos em posição
vertical por meio de cabos de flutuação e cabos de lastros, que pode actuar isolada ou
em «caçadas» (conjunto de redes ligadas entre si, ficando os espécimes presos na
própria rede).
As redes de emalhar podem ser fixas ao fundo através de âncoras ou poitas e
caladas directamente sobre este ou a uma certa distância do fundo, sendo as caçadas
sinalizadas à superfície.
As redes de emalhar de deriva são mantidas à superfície, ou a uma certa
As redes de tresmalho são redes de emalhar fundeadas constituídas por três
panos de rede sobrepostos, os dois exteriores (alvitanas) idênticos e com grandes
malhas e o interior (miúdo), mais alto, de malhagem mais pequena. Os peixes ao
encontrarem um tresmalho, atravessam sem dificuldade uma das grandes malhas da
alvitana e empurram o miúdo através das malhas da segunda alvitana, ficando assim
presos numa espécie de saco ou bolsa. No mar é interdito o uso de tresmalhos de
deriva.
A uma distância inferior a um quarto de milha da linha de costa é proibida a
utilização de redes de emalhar. Estando limitada a utilização desta arte para
embarcações de pesca artesanal, até aos 9 metros, nas distâncias entre um quarto de
milha e uma milha da costa à linha de costa.
1.5.4 – Pesca de Arrasto: Ganchorra
Por pesca por arte de arrasto entende-se qualquer método de pesca que utiliza
estruturas rebocadas essencialmente compost as por bolsa, em geral grande, e
podendo ser prolongada para os lados por «asas» relativamente pequenas.
A pesca com arte de arrasto pode ser exercida com artes que se integrem em
três grupos diferentes: Ganchorra, Arrasto de fundo e Arrasto pelágico.
A ganchorra é a arte de arrasto de pequena e média dimensão em que a boca é
composta por estrutura rígida e o saco é de rede ou constituído por grelha metálica. A
abertura está ligada à estrutura rígida, que pode ter forma e dimensões variáveis e é
dotada, na parte inferior, de um painel com ou sem dentes, que revolve o fundo.
A sua actuação sobre o fundo visa a captura de moluscos e bivalves, que ficam
retidos numa espécie de saco ou crivo que permite a saída da água, areia e lodo.
Pode existir um cabo de madeira ligado à draga, mais ou menos comprido
consoante se arraste a pé ou a partir de uma embarcação. Em águas pouco profundas,
o cabo é curto e o pescador pode munir-se de um cinto para o auxiliar no arrasto.
Esta arte de pesca apenas pode ser utilizada até às 6 milhas da costa, e em
1.5.5 – Cerco
Por arte de cerco entende-se qualquer método de pesca que utiliza parede de
rede sempre longa e alta, que é largada de modo a cercar completamente as presas e
a reduzir a capacidade de fuga.
O processo de captura consiste em envolver o peixe pelos lados e por baixo,
impedindo a sua fuga pela parte inferior da rede, mesmo quando operada em águas
profundas. M uitas vezes o cerco é efectuado com o auxílio de fontes luminosas e, com
ou sem engodo, com vista à atracção e concentração dos cardumes.
A rede de cerco usada no cont inente é caracterizada pelo uso de uma retenida
na parte inferior da rede. A retenida permite fechar a rede como uma bolsa, de forma
a reter a captura.
Esta arte tem como objectivo a captura de peixe pelágico e normalmente é
usada com recurso a uma chata ou chalandra.
2 – Acidentes de Trabalho e Segurança no Trabalho
Todos os acidentes profissionais e industriais são provocados por factores
previsíveis que poderiam ser eliminados através da implementação de medidas e
técnicas já conhecidas e disponíveis (Alli, 2008). O acidente de trabalho, em si, permite
determinar que há um conjunto de requisitos de funcionamento que não estão a ser
cumpridos e de acontecimentos indesejáveis que têm efeitos económicos e sociais
negativos (Freitas, 2003).
Fundada em 1919, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem como
principais funções a elaboração de normas internacionais sobre o trabalho que
englobam matérias laborais e sociais, assumindo a forma de Convenções e
Recomendações. As Convenções são comparáveis a tratados internacionais
multilaterais que ficam à disposição dos Estados membros para ratificação e que, uma
vez ratificados, criam obrigações específicas com carácter vinculativo (Alli, 2008). A
disposições através de legislação ou out ros meios adequados e ainda a reportar
regularmente sobre a aplicação da mesma.
Em Portugal, a entidade com a responsabilidade da promoção da melhoria das
condições de trabalho, da implementação das normas em matéria laboral e do
controlo do cumprimento da legislação relat iva à segurança e saúde no trabalho é a
Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT). Esta deve desenvolver a sua
actividade de acordo com os princípios subscritos nas Convenções da OIT e ratificadas
pelo Estado Português. De acordo com a Autoridade para as Condições de Trabalho
(ACT, 2013) a ocorrência de acidentes de trabalho ou de doenças profissionais
constitui um indicador significativo da existência de anomalia nos locais de t rabalho e
nas respectivas envolventes.
2.1 – Ocorrência dos Acidentes de Trabalho no Sector da Pesca
A OIT relata que morrem todos os anos dois milhões de pessoas vítimas de
acidentes de trabalho e de doenças relacionadas com o trabalho (OIT, 2003 fidé Alli,
2008).
De acordo com a OIT, (2010) o trabalho no sector da pesca tem muitas
características que o diferenciam dos outros sectores. Aliás, a captura de peixe e
outros recursos marinhos ocorre em ambientes que, muitas vezes, podem ser um
desafio: em muitas ocasiões as condições meteorológicas são duras ou mesmo a pesca
pode ocorrer em locais que representam um risco. É nesses momentos que a taxa de
incidentes, acidentes graves e acidentes mortais é muito elevada (ILO, 2010).
Diversos estudos referem que os acidentes de trabalho em Portugal
representam um problema social bastante grave pelas suas consequências e
repercussões. Estes acidentes afectam anualmente cerca de 4% da população activa
nacional, o que é um valor elevado (Soares, et al., 2005).
Segundo Soares et al (2005), na União Europeia, um em cada sete pescadores
sofre um acidente de trabalho por ano e, segundo estatísticas do Eurostat (2004), o
risco de ocorrência de um acidente é 2.4 vezes maior do que a média de todos os
Num estudo de Jacinto et al. (2007) publicado na Colecção Cogit um nº 27 do
GEP/ M TSS, realizado em 2007, foi determinada a incidência de acidentes por 100.000
habitantes. Verificou-se que na média dos 3 anos analisados (2001 a 2003) a pesca,
com a incidência de 8.920, foi apenas superada pelas indústrias metalúrgicas de base e
produtos metálicos, com 18.987, pelas extractivas, com 17.103 e, pela construção, com
9.368. Nesse mesmo estudo refere-se que por cada 223 acidentes com baixa médica
até 6 meses, ocorrerá 1 acidente mortal no Sector das Pescas, numa proporção de
1:223. Este indicador é muito superior quando comparado com o da Indústria
Transformadora, onde a probabilidade de um acidente mortal desce para 1 acidente
mortal por 967 acidentes com baixa médica até 3 meses (1:967) (Jacinto et al., 2007).
Embora a indústria da pesca apresente taxas de acidentes elevadas, a atenção
dirigida para a segurança é centrada na embarcação, estrutura e dinâmica, em vez dos
factores humanos. De acordo com, Loughran et al. (2002 fidé Antão et al., 2007) pouco
tem sido feito relativamente à relação homem-máquina, especialmente em termos
ergonómicos e antropométricos, aspectos estes que são reconhecidos como principais
no que à segurança diz respeit o.
O estudo de Antão (2008) refere que os acidentes na pesca são o resultado de
múltiplos aspectos que podem ir de assuntos pessoais, à formação, ao planeamento
do trabalho e à gestão da segurança. Uma vez que o objectivo principal da actividade
da pesca se centra em apanhar a maior quant idade possível de pescado, os marít imos
ficam envolvidos numa grande variedade de tarefas sob pressão, trabalhando com
grandes níveis de tensão e st ress físico e psicológico.
A globalização da pesca, a evolução da tecnologia e o modo como as capturas
são feitas altera-se constantemente (OIT, 2009). Destas mudanças surgiu a
necessidade da Organização Internacional do Trabalho elaborar uma norma de
trabalho mundial direccionada tanto para todos os pescadores, de qualquer género,
que se encontrem a bordo de navios de grande arqueação e que operam em águas
internacionais como para pescadores que operem em pequenas embarcações, em
águas nacionais e próximo da costa (OIT, 2009).
A Convenção No.188, Trabalho na Pesca, datada de 14 de Junho de 2007 (ainda
da OIT, em part icular a Convenção (No.155) e Recomendação (No.164) sobre a
segurança e a saúde dos trabalhadores e o ambiente de trabalho, de 1981, bem como
a Convenção (No.161) e Recomendação (No.171), de 1985, sobre Serviços de Saúde
Ocupacional, onde a OIT reconheceu a Pesca como uma profissão perigosa, quando
comparada com outras profissões ficando alert a para a necessidade de proteger e
promover os direitos dos pescadores no que respeita a estas matérias.
Assim, esta Convenção tem como objectivo assegurar condições decentes e
seguras de trabalho a bordo de navios de pesca para os pescadores, tendo em atenção
os requisitos mínimos para trabalho a bordo, as condições de serviço, alojamento e
alimentação, segurança no trabalho e na saúde, cuidados médicos e protecção social.
Contudo, ainda não está em vigor uma vez que não se encont ra ratificada por 10 países
membros da OIT, nem mesmo por Portugal, em que oito têm de possuir orla costeira.
2.2 – Enquadramento Legal – Acidentes de Trabalho
O regime jurídico que enquadra os acidentes de trabalho e sua reparação
apareceu, em Portugal, no início do séc. XX. Este surge na perspectiva preventiva da
imposição de regras em matéria de saúde e segurança no trabalho, com a referência
específica à matéria dos acidentes de trabalho, cujo primeiro regime jurídico data de
1913, que generalizou o regime dos acidentes de trabalho e tornou obrigatório o
respectivo seguro (Lemos, 2011).
Actualmente, o regime jurídico que consagra a reparação de acidentes de
trabalho e de doenças profissionais, incluindo a reabilitação e reintegração
profissionais é a Lei n.º 98/ 2009, de 4 de Setembro, que define no seu art.º 8.º o
acidente de trabalho como “ aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e
produza directa ou indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de
que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte.”
Desta forma, os acidentes de trabalho são causados por determinados riscos
associados ao exercício da actividade profissional e actuam inesperada e
violentamente, por vezes causando lesões que se tornam visíveis no momento
Os acidentes de trabalho na pesca (Quadro 4) estão relacionados
essencialmente com a faina correspondendo em média a 95% dos feridos e dias de
incapacidade totais e 26,7% dos mortos. Dos acidentes provocados por naufrágio
resultam a maioria das vítimas mortais (cerca de 55% em média). As outras causas têm
uma expressão residual, embora representem cerca de 18,7% dos mortos por acidente
de trabalho neste sector.
Quadro 4 - Vítimas de acidentes no trabalho e dias de incapacidade, segundo as causas
Fonte: INE, Estatísticas da pesca.
Segundo os dados publicados pelo GEP/ M SSS, na sua publicação Acidentes de
Trabalho (Jacinto et al., 2007), a taxa de incidência de acidentes no sector das pescas
é, em média superior a 1,7 vezes à que ocorre para o total da população empregada
exposta ao risco1. O sector da pesca, embora tenha poucos acidentes em número
absoluto (0,8% do total, em média para os anos de 2000 a 20007), representa cerca de
2,7% dos acidentes mortais num total de 0,4% do total nacional da população exposta
ao risco (Quadro 5).
1 Para determinar a população total empregada exposta ao risco utilizaram-se os dados das Estatísticas
do Emprego, excluindo os valores da população empregada na administração pública e na educação, uma vez que nas estatísticas não estão incluídos os acidentes em serviço dos trabalhadores da Administração Pública. Mortos Feridos Dias de trabalho perdidos Mortos Feridos Dias de trabalho perdidos Mortos Feridos Dias de trabalho perdidos Mortos Feridos Dias de trabalho perdidos
2001 4 1.487 25.294 2 1.365 22.794 1 1 122 2.500
2002 5 1.618 28.903 4 1.457 25.898 1 161 3.005
2003 4 1.771 44.111 1 1.735 42.881 1 2 36 1.230
2004 12 1.402 40.674 3 1.385 40.086 8 1 17 588
2005 3 1.359 24.556 1.335 24.169 2 3 71 1 21 316
2006 6 1.365 26.950 3 1.342 26.500 2 0 0 1 23 450
2007 6 1.246 23.014 4 1.222 22.634 1 2 28 1 22 352
2008 3 1.199 22.615 0 1.191 22.488 3 0 0 0 8 127
2009 4 1.164 26.125 1 1.114 25.041 2 1 25 1 49 1.059
2010 17 1.091 27.602 0 1.026 26.147 12 0 0 5 65 1.455
2011 10 1.377 39.146 1 1.278 36.605 8 0 0 1 99 2.541
2012 1 1.088 36.576 1 1.022 33.738 0 4 226 0 62 2.612
Anos
Quadro 5 - Indicadores de incidência dos acidentes de trabalho para a população empregada no sector da pesca
Fonte: GEP/ M SSS, Acidentes de Trabalho
2.3 – Enquadramento Legal – Segurança no Trabalho
A Lei n.º 102/ 2009 de 10 de Setembro regula o regime da promoção e
prevenção da segurança e da saúde no trabalho. A regulamentação da segurança das
condições de trabalho aplica-se a todos os sectores de actividade, nos sectores privado
ou cooperativo e social, ao trabalhador por conta de outrem e respectivo empregador,
incluindo as pessoas colectivas de direito privado sem fins lucrativos, ao trabalhador
independente, que é a pessoa singular que exerce uma actividade por conta própria.
Para o trabalho a bordo de navios de pesca existe regulamentação específica,
onde se podem encontrar os princípios gerais relativos às prescrições mínimas de
segurança e de saúde no trabalho. Estes encontram-se estabelecidos pelo Decreto-Lei
n.º 116/ 97 de 12 de M aio e regulamentados pela Portaria n.º 356/ 98 de 24 de Junho,
com o âmbito de aplicação estabelecido no Decreto-Lei nº 441/ 91 de 14 de Novembro,
revogado pela Lei n.º 102/ 2009 de 10 de Setembro, e aplicam-se apenas para navios
de pesca de comprimento igual ou superior a 15 metros. Estes diplomas decorrem da
transposição para o direito interno da Direct iva n.º 93/ 103/ CE, do Conselho, de 23 de
Novembro de 1993 e que também é aplicável apenas a navios com estes
comprimentos.
No âmbito da aplicação da Lei n.º 102/ 2009, os pescadores que exerçam a
actividade em embarcações de pesca com comprimento até aos 15 metros, e não
pertencente a frota pesqueira de armador, são considerados trabalhadores Tot al Nº
Acident es
Acident es M ort ais
Dias de Trabalho Perdidos
População expost a ao risco (* )
Tot al Nº Acident es
Acident es M ort ais
Dias de Trabalho Perdidos
População expost a ao
risco
Total Pesca
2000 234.192 368 6.483.382 4.330.500 1.928 8 52.918 23.580 5.416 8.176
2001 244.936 365 7.738.981 4.397.600 1.221 6 32.508 23.580 5.578 5.178
2002 248.097 357 7.624.893 4.490.200 2.044 6 55.548 21.554 5.533 9.483
2003 237.222 312 6.304.316 4.458.900 2.045 3 42.879 20.457 5.327 9.997
2004 234.109 306 6.730.952 4.484.400 2.352 12 66.009 21.345 5.227 11.019
2005 228.884 300 6.811.505 4.460.200 1.857 7 51.256 19.777 5.138 9.390
2006 237.392 253 7.082.066 4.486.500 1.831 15 58.038 17.261 5.297 10.608
2007 237.409 276 7.068.416 4.536.000 1.450 6 44.357 17.021 5.240 8.519
2008 240.018 231 7.156.003 4.512.200 1.358 7 40.737 16.854 5.324 8.057
2009 217.393 217 6.643.227 4.361.800 1.632 5 54.511 17.415 4.989 9.371
2010 215.424 208 6.088.165 4.296.500 1.227 13 48.398 16.920 5.019 7.252
2011 4.056.000 16.402
Anos
Total Pescas Taxa de incidência por
independentes, devendo cumprir as obrigações gerais dispostas nesta Lei e no artigo
15.º . Sendo o trabalhador independente equiparado a empregador, implica que este
deverá garantir as suas próprias condições de trabalho, incluindo os exames médicos.
Nas disposições do regime jurídico da promoção da segurança e saúde no
trabalho, de 2009, encontram-se definidas as modalidades de organização dos serviços
de segurança e saúde no trabalho, em internos ou externos à empresa, que permitem
a aplicação das medidas de prevenção e assegurar ao trabalhador condições de
segurança e saúde em todos os aspectos do seu trabalho. Tal como também se
encontram definidas as actividades principais do serviço de segurança e de saúde no
trabalho, no art.º 98.º .
Os serviços de segurança e saúde no trabalho devem ser desenvolvidos por
técnicos superiores de segurança no trabalho ou por técnicos de segurança no
trabalho, certificados pela Autoridade para as Condições do Trabalho. Essa tarefa
deverá ser assegurada com regularidade no próprio local de trabalho para que se está
a prestar a actividade por um técnico até aos 50 trabalhadores (art.º 100.º e 101.º da
Lei n.º 102/ 2009 de 10 de Setembro).
Como este trabalho tem por objectivo o estudo da pesca artesanal
(embarcações até aos 9 metros) o único diploma sobre prescrições mínimas de
segurança no trabalho em embarcações a ter em consideração é a Lei n.º 102/ 2009 de
10 de Setembro.
2.4 – Prevenção dos Riscos Profissionais – a Segurança no Trabalho na Pesca
A segurança e saúde no trabalho (SST) é geralmente definida como a ciência da
antecipação, reconhecimento, avaliação e controlo dos riscos existentes no local de
trabalho ou dele emergente, e susceptíveis de comprometer a saúde e bem estar dos
trabalhadores, considerando o possível impact o nas comunidades envolventes e no
ambiente em geral (Alli, 2008).
A prevenção dos riscos profissionais deve fazer-se para todos os locais de
trabalho e para todas as tarefas. No sector da pesca os perigos e riscos a que os