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O laicato na Igreja e no mundo

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Academic year: 2021

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O laicato na Igreja

e no mundo

Um gigante adormecido e domesticado

Agenor Brighenti

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índice para catálogo sistemático:

1. Laicato : Igreja Católica : Teologia pastoral 253 Iolanda Rodrigues Biode - Bibliotecária - CRB-8/10014

Paulinas

Rua Dona Inácia Uchoa, 62 04110-020 – São Paulo – SP (Brasil)

Tel.: (11) 2125-3500

http://www.paulinas.com.br – editora@paulinas.com.br Telemarketing e SAC: 0800-7010081 © Pia Sociedade Filhas de São Paulo – São Paulo, 2019

1a edição – 2019

Direção-geral: Flávia Reginatto

Editores responsáveis: Vera Ivanise Bombonatto e João Décio Passos Copidesque: Mônica Elaine G. S. da Costa

Coordenação de revisão: Marina Mendonça

Revisão: Ana Cecilia Mari

Gerente de produção: Felício Calegaro Neto Capa e projeto gráfico: Tiago Filu

Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Direitos reservados.

Brighenti, Agenor

O laicato na Igreja e no mundo : um gigante adormecido e domesticado / Agenor Brighenti. -- São Paulo : Paulinas, 2019. -- (Primícias) ISBN 978-85-356-4517-0

1. Espiritualidade 2. Identidade social 3. Laicato - Igreja Católica 4. Ministério leigo - Igreja Católica 5. Missão da Igreja 6. Vocação I. Título. II. Série.

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Sumário

Introdução ...9

I. A situação atual do laicato Entre o medo de avançar e o passado como refúgio ... 17

O laicato: um imenso potencial ... 18

Apatia da grande maioria e sangria de tantos outros ... 19

O clericalismo que domestica e cria leigos clericalizados ...20

Avanços e retrocessos na caminhada do laicato ...25

Virando a página ...26

A página virada...26

Virando a página para trás ...28

Vaticano II: batalha perdida ou esperança renovada? ...30

A situação do laicato segundo Aparecida e o Papa Francisco ...33

A grata surpresa de Aparecida ...34

Francisco, o Papa reformador ...35

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II. A identidade e a vocação do laicato

Leigos e leigas membros do povo e não da plebe ...43

A evocação do termo “leigo” na Igreja ...43

O significado do termo “leigo” ...45

“Entre vós não deve ser assim” (Mt 20,26) ...47

O surgimento de cristãos de segunda categoria ... 51

A configuração da Igreja segundo o binômio clero-leigos .. 51

Uma concepção heterodoxa de Igreja ...53

Quando o magistério é reflexo da teologia de seu tempo ...55

A irrupção do laicato às vésperas do Vaticano II ...59

O laicato em busca de sua emancipação ...60

Da participação à cooperação dos leigos com o clero ...62

A superação do binômio clero-leigos ...63

A identidade do laicato no Concílio e no pós-Concílio ...67

Identidade que vem da relação com Jesus Cristo ...68

Identidade que vem da relação com a Igreja ...69

Identidade que vem da relação com o mundo ...70

O laicato no pós-Concílio ...71

III. A missão do laicato na Igreja e no mundo O laicato e o exercício do ministério da profecia ...77

O exercício do ministério da profecia pelo testemunho ...78

O exercício do ministério da profecia pelo anúncio do Evangelho ...80

O exercício do ministério da profecia pela catequese ...82

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O laicato e o exercício do sacerdócio ...89

O eclipse do sacerdócio de todo batizado ...91

A reforma protestante e a contrarreforma de Trento ...92

A reforma litúrgica do Vaticano II e o resgate do sacerdócio comum ...93

Entraves atuais no exercício do sacerdócio comum dos fiéis ...94

O laicato e o ministério da diaconia e da comunhão ...99

Lugares do serviço de todos os batizados ...100

O serviço na Igreja ... 101

O serviço no mundo ... 103

A comunhão na Igreja e no mundo ... 105

Considerações finais ... 111

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Introdução

A Conferência de Aparecida denunciou, na contramão da re-novação do Concílio Vaticano II, a volta do clericalismo. Ele está respaldado na velha eclesiologia pré-conciliar, que concebia a Igreja como uma “sociedade desigual”, composta de “duas categorias” de cristãos: o clero, o polo ativo, em quem reside toda iniciativa e poder de decisão, e os leigos e leigas, o polo passivo, a quem cabe obedecer docilmente ao clero.

O Vaticano II fez uma reviravolta na relação dos padres e bispos com os leigos e leigas. Com sua “volta às fontes” bíblicas e patrísticas, o Concílio resgatou o modelo de Igreja das comu-nidades cristãs primitivas (cf. COMBLIN, 2002, p. 81-87). No seio delas, a exemplo do que Jesus queria, existia um único gênero de cristãos – os batizados (LG 34). É de um povo – o novo Povo de Deus –, todo ele profético, sacerdotal e régio, do qual brotam todos os ministérios, inclusive, os ministérios ordenados, para o serviço da comunidade eclesial, inserida na sociedade.

Durante séculos na Igreja, como não havia separação ou dis-tância entre os diferentes ministérios, não existiu a classificação

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dos cristãos em categorias diferentes, tanto que nem havia a desig-nação “leigo” e “clero”. A Igreja é concebida como a comunidade dos batizados e os ministros ordenados presidem uma assembleia toda ela profética, sacerdotal e régia. Mais que isso, os ministérios ordenados, além de emergirem do seio da comunidade e sempre com sua anuência, eram ministérios colegiados, exercidos em equipe. O episcopado monárquico só se tornou regra depois de séculos e, ainda assim, jamais imposto, ao contrário, sempre eleito e exercido com o beneplácito da comunidade.

Por diversas razões, como veremos no decorrer deste texto, so-bretudo por influência da cultura greco-romana e da religião pagã, particularmente durante o império de Carlos Magno, os ministros ordenados se separaram da comunidade dos fiéis. A distância co-meçou com a liturgia, mas depois o clero monopolizou também a teologia e até o “apostolado”, ao qual os leigos vão “cooperar” como “extensão do braço do clero”. Com o passar do tempo, os bispos e os presbíteros foram absorvendo os demais ministérios, tanto os ofícios confiados aos leigos como o próprio diaconato, que desapa-receu. A comunidade dos fiéis, antes sujeita e integrada por todos os batizados, agora será composta somente de leigos e leigas, dado que o clero vai se colocar fora e acima dela, não propriamente para presidi-la ou servi-la, mas para comandá-la. Assim, a Igreja passa a ser formada por duas categorias de cristãos: o clero, o polo ativo e sujeito da Igreja e, os leigos, o polo passivo, objeto ou “destinatário” dos serviços oferecidos pela Igreja, basicamente os sacramentos. Y. Congar dirá que, nesta perspectiva, há um modelo eclesiológico que compreende a Igreja a partir da hierarquia, constituindo-se numa “hierarcologia” (cf. BRITO, 1980). Na prática, os leigos

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passam a não ter mais identidade (leigo é aquele que não é clero) nem lugar próprio na Igreja (o leigo é do mundo), ou seja, a rigor os leigos não são Igreja (cf. ESTRADA, 1991) ou, quando muito, são cristãos de segunda categoria, pois, a rigor, constituem a Igreja os bispos e os padres e, mais ou menos, os religiosos e religiosas.

O Vaticano II resgatou a concepção de que “a Igreja somos nós”, isto é, todos os batizados. Para a Lumen Gentium, não há duas categorias de cristãos, mas um único gênero – os batizados, que conformam uma Igreja toda ela ministerial. Daí a passagem do binômio clero-leigos para o binômio comunidade-ministérios (FLORISTÁN, 1991, p. 289). Diz o Concílio que há “uma radical igualdade em dignidade de todos os ministérios”. E como os mi-nistros ordenados estão a serviço dos leigos e leigas, a Conferência de Santo Domingo irá propor o protagonismo do laicato na evan-gelização (SD 97). Aparecida irá mais longe. Dada a necessidade da superação do patriarcalismo na sociedade e também na Igreja, propõe o protagonismo das mulheres (DAp 128), escandalosamen-te ainda tão discriminadas na Igreja, tal como o Papa Francisco tem reconhecido e vem se empenhando em superar esta anomalia.

A teologia do laicato começou a ser resgatada graças à atuação dos próprios leigos, de modo particular no seio da Ação Católica, em especial, da Ação Católica especializada (FLORISTÁN, 1991, p. 324). De “extensão do braço do clero”, com ação “mandatada” pelos ministros ordenados, pouco a pouco os leigos e leigas foram resgatando seu lugar na Igreja e no mundo. Para o Vaticano II, tal como todo batizado, o leigo é sujeito de ministérios na Igreja e no mundo (LG 31). Consequentemente, não é correto dizer que “a missão do leigo é no mundo” e que “a missão do clero é na Igreja”.

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É missão dos leigos também serem sujeitos no seio da Igreja, com voz e vez em tudo, expressão da corresponsabilidade de todos os batizados. Por sua vez, o lugar do presbítero, do bispo e do diácono é também no mundo, pois todos os cristãos recebem a missão de ser “fermento na massa” e “luz do mundo” (cf. CNBB, Doc. 105, nn. 168-169).

Neste livro, vamos abordar a questão do laicato na Igreja e no mundo, em três momentos – sua situação atual, sua identidade e, finalmente, sua missão na Igreja e no mundo. Com relação à situação atual do laicato, uma vez feita a referência a seu potencial grandemente minimizado pelo clero, mencionaremos os avanços e retrocessos em relação à renovação conciliar e à tradição eclesial libertadora latino-americana, seguido de como a Conferência de Aparecida e o Papa Francisco veem o laicato, hoje. Num segundo momento, faremos uma abordagem da identidade e vocação do laicato, a partir do itinerário da Igreja, caracterizando, em grandes linhas, sua concepção na eclesiologia pré-conciliar, às vésperas do Concílio e, particularmente, no Vaticano II. No terceiro momento, com relação à missão do laicato na Igreja e mundo, optamos por enfocá-la a partir do tria munera ecclesia, os três múnus da Igreja: o múnus profético, o múnus sacerdotal e o múnus da caridade, conferidos pelo Batismo a cada membro do Corpo que conforma a Igreja, do qual Cristo é a Cabeça.

A abordagem estará argumentada a partir de alguns referen-ciais obrigatórios relativos ao laicato, como são os documentos do Vaticano II (1965), as Exortações Evangelii Nuntiandi (1975) de Paulo VI, Christifideles Laici (1988) de João Paulo II e Evangelii Gaudium (2013) do Papa Francisco, assim como os documentos

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das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Do-mingo (1992) e Aparecida (2007). O texto, em linguagem direta e sintética, tem dez pequenos capítulos, agrupados em três seções. A final de cada capítulo, para o leitor ter contato direto com os documentos do magistério, selecionamos e apresentamos um pe-queno extrato da Palavra da Igreja sobre o laicato, que serve como ilustração e leitura complementar do conteúdo abordado.

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I. A situação atual

do laicato

Os leigos são “pessoas da Igreja no coração do mundo e pessoas do mundo no coração da Igreja” (DP 786).

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Entre o medo de avançar

e o passado como refúgio

Comprova-se que a maior parte dos batizados ainda não tomou plena consciência de sua pertença à Igreja. Sentem-se católicos, mas não Igreja (SD 96).

Apesar da renovação conciliar e dos grandes avanços na cami-nhada do laicato, sobretudo na Igreja da América Latina, as últimas décadas foram marcadas por uma desconcertante involução eclesial (cf. LADRIÈRE-LUNEAU, 1987), marcada também pela volta do clericalismo, que está no coração da eclesiologia pré-conciliar, tridentina (cf. COMBLIN, 2002, p. 52-57). A Conferência de Aparecida e o pontificado de Francisco têm significado o resgate do Vaticano II, mas não sem dificuldades. Em determinados seg-mentos da Igreja, mas também no seio de muitas comunidades eclesiais, os fiéis estão ainda estratificados segundo o binômio clero-leigos, em detrimento de uma Igreja toda ela ministerial, segundo o binômio comunidade-ministérios, tal como preconizou o Concílio (cf. CONGAR, 1962).

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Ninguém duvida do potencial do laicato, que conforma a maio-ria quase absoluta dos fiéis, de suas qualidades e carismas, composto de profissionais em diferentes áreas do saber e do trabalho, homens e mulheres, jovens e crianças. Entretanto, em grande medida, o laicato é um gigante adormecido, muito aquém de sua missão na Igreja e no mundo, não necessariamente por sua própria vontade e responsabilidade, pois milenarmente foi assim domesticado. E o que mais domestica o laicato, alienando-o de sua vocação e missão, é o clericalismo. Somado ao patriarcalismo cultural e eclesial, as leigas são ainda menos reconhecidas que os leigos.

O laicato: um imenso potencial

O Concílio Vaticano II, ao lembrar que é pelo Batismo que começamos a ser cristãos, reafirmou a “base laical” da Igreja. To-dos os ministérios, inclusive os ministérios ordenaTo-dos, brotam do Batismo. Existe um único gênero de cristãos, os batizados (LG 32). Consequentemente, todos na Igreja, portanto, independentemente do ministério que exercem, são ou foram leigos ou leigas. Os que não são leigos, como os ministros ordenados e os integrantes da vida consagrada, são uma ínfima minoria a serviço do gigantesco número de leigos e leigas na Igreja. No Brasil, há em média um padre para 12 mil leigos. Entre as Igrejas evangélicas, há um pastor para cem fiéis.

A Igreja Católica, nas últimas décadas, perdeu muita gente das periferias e dos setores mais populares, justamente lá onde as comunidades eclesiais de base estavam muito mais presentes do que hoje (CNBB, Doc. 105, n. 204). Os padres também já

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gostaram mais de trabalhar entre os mais pobres e nas periferias. Igualmente tem diminuído a participação na Igreja dos que têm melhorado de vida, agora mais ciosos do tempo livre e amantes do lazer e do consumismo, levando a uma “crise do compromisso comunitário”, como frisou o Papa Francisco na Evangelii Gaudium. Mas, graças a Deus e à generosidade de tantos, continua havendo muita gente engajada nas comunidades eclesiais, participando das liturgias, assumindo serviços de pastoral ou estudando em escolas de formação. No santo Povo de Deus, como gosta de dizer o Papa Francisco, há muita gente santa, no anonimato de paróquias com pouca vivência comunitária. O laicato é a maior riqueza da Igre-ja, com um potencial evangelizador imensurável, mas ainda não suficientemente valorizado, reconhecido e mobilizado, em especial as mulheres (FLORISTÁN, 1991, p. 32-344).

Apatia da grande maioria e sangria de tantos outros

As estatísticas mostram, infelizmente, que, dessa “massa” de leigos e leigas, apenas uns 10% são católicos ditos “praticantes” regulares, como se fosse possível ser cristão sem ser praticante. Ou-tros 10% têm participação esporádica, pontual, cumprindo agenda social (RAMOS, 2001, p. 163). E a imensa maioria, uns 80%, se diz católico “não praticante”, terra de missão de muitas Igrejas, sobretudo, neopentecostais. A grande maioria de nossos católicos é “rebanho sem pastor”. Como disse Aparecida, a grande maioria de nossos católicos nasce, vive e morre sem a presença da Igreja.

Nos últimos tempos, tentou-se “acordar” essa gente toda, mas sem muito perguntar ou descobrir a razão de sua apatia e da

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sangria silenciosa de nossas comunidades para outras Igrejas. Já se fez missão centrípeta, saindo para fora da Igreja, batendo de porta em porta, para trazer de volta os católicos afastados para dentro dela. E ainda vem o Papa Francisco, com a Conferência de Aparecida, lembrar que proselitismo não é cristianismo. Já se tentou também promover animados eventos de massa, missas--show protagonizadas por padres cantores. Já se ocupou meios de comunicação social, com linguagem, discurso e proposta nos moldes do neopentecostalismo evangélico. Não se hesitou em entrar na disputa do mercado religioso, exacerbando a dimensão terapêutica da religião, beirando “o exercício ilegal da medicina” (Pe. Oscar Quevedo). Já nos metemos a telepregadores, a exemplo dos pastores televangelistas, apostando mais no marketing do que na eloquência discreta do testemunho. Investiu-se muito dinheiro em aumentar o tamanho dos templos, em lugar de multiplicar o número das pequenas comunidades. E, apesar de tudo, o gigante parece não se sentir convencido a despertar. O número de católicos continua diminuindo e muito rapidamente. Caso se confirme a atual tendência, estima-se que, no censo de 2040, os católicos no Brasil serão 24%, em um país que há poucas décadas era majori-tariamente católico.

O clericalismo que domestica e cria

leigos clericalizados

Diz Aparecida que os católicos que saem de nossas comuni-dades e vão para outras denominações cristãs não estão querendo deixar a Igreja, mas sim buscando sinceramente a Deus. Ter que

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deixar a Igreja para encontrar Deus... E quantos e quantas que saem e vão bater em portas erradas! Vai-se de “conversão” em “conversão” e, depois da decepção com a terceira Igreja, se sai de todas. E quem será capaz de dar esperança a essa gente explorada em sua boa-fé e desiludida?

Por isso, cresce o número de “cristãos sem Igreja” que conti-nuam crendo no Evangelho, mas não veem como vivê-lo no modo de ser Igreja hoje. Na Europa, estes são em número maior, mas, segundo o último censo, no Brasil, eles já são 8%, quase o mesmo número dos que frequentam nossas comunidades. Vivem uma “religião sem religião”, sem instituição. Querem chegar a Deus, mas esbarram numa Igreja autorreferencial (PAPA FRANCISCO, 2013, p. 144), em mediações que eclipsam a Deus. Buscam fazer uma experiência pessoal do sagrado, mas se defrontam com o muro de doutrinas petrificadas e de normas rígidas de uma Igreja à margem dos grandes sofrimentos do povo. Por isso, sentem-se órfãos de Igreja, numa massa anônima e sem acesso a Deus pela mediação da religião.

É que, cada vez mais, as pessoas querem ser sujeitos. Anseiam poder dizer de seu mundo, de suas buscas, ser ouvidas e valorizadas em seus carismas. Querem ser respeitadas em sua subjetividade, almejam fazer uma real experiência de Deus, mediadas pela comu-nidade, mas sem emocionalismos nem fundamentalismos. Querem se sentir acolhidas em comunidades de tamanho humano e, não poucas, gostariam de uma Igreja profética, servidora dos mais pobres (cf. CHENU, 1977, p. 73-79), mais simples e despojada (cf. CNBB, Doc. 105, nn. 179-181), investindo mais em templos vivos do que em templos de barro.

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Tudo isso bem ao estilo do Papa Francisco, que envia a Igreja para as periferias (PAPA FRANCISCO, 2013, p. 123), mas com a advertência de não “domesticar as fronteiras”. E o que mais domestica o laicato é o clericalismo, que o Papa diz não ter nada a ver com cristianismo. Clericalismo de bispos, de padres e de diáconos, que voltou com força nas últimas décadas. Mas também clericalismo de leigos e leigas, donos de serviços de pastoral, de grupos e até de comunidades. Odeiam rotatividade de função a cada dois ou três anos, para dar lugar a outros. Recebem mal os novos fiéis que chegam. Queixam-se de que ninguém ajuda, mas não deixam o cargo.

Para Aparecida, a volta do clericalismo é uma prova de que, em relação à renovação do Vaticano II, estamos indo para trás. Por isso, resgatar o Vaticano II é a esperança de um laicato vivo e atuante, na Igreja e no mundo. Não é caminho fácil, pois é preciso começar de baixo, com seminaristas e padres da última geração, sobretudo. Também com os segmentos de leigos tradicionalistas, com pouca teologia e muita doutrina, com pouco apreço à renovação conciliar e ao atual papa. Sem esquecer os movimentos de espiritualidade com corte providencialista, aprisionados pelo emocionalismo que lhes tira a capacidade de reflexão e de continuar o processo.

Palavra da Igreja sobre o laicato

Documento de Santo Domingo (1992)

Hoje, como sinal dos tempos, vemos um grande número de leigos comprometidos com a Igreja que exercem diversos

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ministérios, serviços e funções nas comunidades eclesiais de base ou atividades nos movimentos eclesiais. Cresce cada vez mais a consciência de sua responsabilidade no mundo e na missão ad gentes. Os pobres evangelizam os pobres. Os fiéis leigos comprometidos manifestam uma sentida necessidade de formação e de espiritualidade (SD 95).

Comprova-se, porém, que a maior parte dos batizados ainda não tomou plena consciência de sua pertença à Igre-ja. Sentem-se católicos, mas não IgreIgre-ja. Poucos assumem os valores cristãos como elemento de sua identidade cultural, não sentindo a necessidade de um compromisso eclesial e evangelizador. Como consequência disso, o mundo do trabalho, da política, da economia, da ciência, da arte, da literatura e dos meios de comunicação social não é guiado por critérios evangélicos. Assim se explica a incoerência entre a fé que dizem professar e o compromisso real na vida (cf. DP 783). Também se comprova que os leigos nem sempre são adequadamente acompanhados pelos pastores no descobrimento e no amadurecimento da pró-pria vocação. A persistência de certa mentalidade clerical nos numerosos agentes de pastoral, clérigos e, inclusive, leigos (cf. Puebla 784), a dedicação preferencial de muitos leigos a tarefas intraeclesiais e uma deficiente formação privam-nos de dar respostas eficazes aos desafios atuais da sociedade (SD 96).

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