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Por que(m) consumo? Compreendendo o comportamento de consumo tecnológico das crianças

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestrado em Desenvolvimento Regional

POR QUE(M) CONSUMO?

Compreendendo o comportamento de consumo tecnológico das crianças

Lauriane Tramontina Zeni

IJUÍ (RS) 2017

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LAURIANE TRAMONTINA ZENI

POR QUE(M) CONSUMO?

Compreendendo o comportamento de consumo tecnológico das crianças

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, na linha de pesquisa em Gestão Empresarial, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Knebel Baggio

IJUÍ (RS) 2017

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Catalogação na Publicação

Ginamara de Oliveira Lima CRB10/1204 Z54p Zeni, Lauriane Tramontina.

“Por que (m) consumo: compreendendo o comportamento de consumo tecnológico das crianças” / Lauriane Tramontina Zeni. – Ijuí, 2017. – 127 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: : Prof. Dr. Daniel Knebel Baggio”.

1. Marketing. 2. Comportamento do Consumidor Infantil. 3.

Desenvolvimento Infantil. 4. Consumo Eletrônico. 5. Alterações no Ato de Brincar. I. Baggio, Daniel Knebel. II. Título.

CDU: 658.8

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

POR QUE (M) CONSUMO: COMPREENDENDO O COMPORTAMENTO DE

CONSUMO TECNOLÓGICO DAS CRIANÇAS

elaborada por

LAURIANE TRAMONTINA ZENI

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Daniel Knebel Baggio (UNIJUÍ): ________________________________________

Prof.ª Dr. ª Luciana Maria Scarton (FAMES): ______________________________________

Prof. ª Dr. ª Lurdes Marlene Seide Froemming (UNIJUÍ): ____________________________

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela vida e pelas tantas pessoas maravilhosas que colocou em meu caminho, possibilitando mais esta oportunidade de realização pessoal e profissional.

À minha família, que mesmo em momentos de cansaço e angustias, não deixaram de acreditar em mim, tornando o meu sonho, um sonho nosso! Muito obrigada pelo carinho, dedicação, incentivo, por todo o cuidado, zelo e principalmente, por todo o amor! Em especial aos meus pais, Lauro e Elisabete, minha avó Lourdes e minha tia Maristela, obrigada por serem tudo o que eu precisei e preciso, sempre.

Ao Marcos, que chegou durante a caminhada do curso e fez toda a diferença nele, me incentivando e me tornando uma pessoa melhor. Muito obrigada por sempre apoiar, acompanhar e acreditar! A vida e consequentemente, nossas conquistas, tem mais sentido quando compartilhamos com alguém tão especial!

À uma família que se tornou a minha também, Professor Doutor Daniel Rubens Cenci e Professora Doutora Liane Beatriz Righi. Muito obrigada por terem me acolhido com tanto carinho, por me incentivarem e por estarem sempre dispostos a debater e a me mostrarem um lado mais humano na academia. Muito obrigada à toda família, especialmente à Luiza Righi Cenci, pela amizade e pelos momentos felizes que pude dividir contigo!

Ao Professor Doutor Daniel Knebel Baggio, que desde o primeiro contato, foi um grande incentivador para que esta dissertação ocorresse. Muito obrigada por ter acreditado ainda na entrevista, por ter caminhado ao meu lado, por ter me ajudado a amadurecer e a buscar pelo melhor. Muito obrigada pelo ombro amigo, pelos valiosos conselhos e por ser um exemplo de excelência. Obrigada pela oportunidade de ser sua orientanda!

À Professora Doutora Lurdes Marlene Seide Froemming, por ser um exemplo de profissional, por amar tanto a área do marketing e por encantar a todos com seu conhecimento. Muito obrigada pelas valiosas contribuições acerca deste estudo!

À primeira incentivadora pela busca por este título, Professora Mestre Lisiane Caroline Hermes, por ter feito a diferença na minha vida ao me apresentar a pesquisa cientifica e a paixão pelo marketing. Muito obrigada por me encorajar e ter acreditado em mim, ainda na graduação! Aos Professores membros da banca, agradeço pela dedicação e disponibilidade em realizar a avaliação deste estudo, e previamente, agradeço pelas contribuições!

Aos colegas de curso, agradeço pelas trocas de experiências, pelo companheirismo, pelos almoços e jantas, em que dividíamos as angustias e somávamos nossas alegrias. Em especial aos que tornaram-se amigos para a vida e que até hoje compartilham momentos e

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realizações! À duas pessoas que sempre foram ombro amigo, sorrisos e muito apoio, Pâmela Andrade de Moraes e Nairana Radtke Caneppele Bussler, muito obrigada!

Aos amigos, que incentivaram e compartilharam comigo momentos felizes e de descontração, escutando e apoiando sempre que necessário. Muito obrigada, especialmente aos amigos de longa data que sempre me esperavam de braços abertos nos retornos à casa.

Às crianças e seus familiares, por possibilitarem uma experiência única, por possibilitarem a construção de novos conhecimentos e de adquirir uma nova visão social sobre um campo que tanto admiro. Não menos importante, a toda direção da Escola Estadual de Ensino Médio Bandeirante e em especial, à Coordenadora Professora Vera Campestrini, que não mediu esforços para que esta pesquisa pudesse ocorrer da melhor forma possível. Muito obrigada!

À Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, em especial ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional e seus respectivos docentes e funcionários, pelo apoio acadêmico, profissional e pessoal. Muito obrigada!

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa, fornecendo o apoio financeiro necessário.

Por fim, muito obrigada a todos que diretamente ou indiretamente, no palco ou nos bastidores, colaboraram para a concretização deste projeto de vida, na realização deste sonho.

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A frase "você não vai mudar o mundo" é profundamente acomodante, porque você não vai mudar o mundo se continuar achando que ele não pode ser mudado. Mas, quando você se junta com outros que acham que dá

para mudar, dá-se um passo adiante no intento de mudá-lo.

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RESUMO

O que era apenas para suprir necessidades básicas, atualmente vem se tornando objeto de desejo e consequentemente, sinônimo de acumulo e isolamento social. Para todos os problemas e doenças, sempre existiu um remédio. Atualmente, para todos os problemas e doenças com causas sociais, existe uma única e direta solução: o consumo. Neste cenário, não existem apenas alguns atores, nele, toda e qualquer pessoa participa: desejando, escolhendo, comprando, usando, ficando em casa isolada apreciando, navegando, buscando saciedades sociais. Bebês, crianças, adolescentes, adultos, idosos: todos fazem parte da peça, todos consomem e todos possuem desejos. Todos querem alguma coisa, todos precisam saciar algum desejo, ou mesmo necessidade, mas será que para todos, o consumo tem a mesma característica? Apesar de sugerir uma rápida resposta positiva, o consumo surge na vida das pessoas de diversas formas e estudos apontam, que para cada ser, há uma maneira diferente. Neste sentido, o entendimento de como ocorre este processo é fundamental, pois representa uma importante fonte de compreensão social, tanto do presente quanto do futuro, pois estudar o comportamento de crianças é compreender o comportamento de pessoas que em pouco tempo serão responsáveis pelo desenvolvimento sócio-econômico-ambiental, não apenas local, mas mundial. Esta dissertação teve como objetivo geral compreender o comportamento de consumo eletrônico de crianças de oito a 12 anos da cidade de Guaporé, localizada no estado do Rio Grande do Sul. O estudo caracterizou-se como pesquisa social qualitativa, constituindo-se de caráter exploratório. Envolveu levantamento bibliográfico em um primeiro momento, seguido de um

focus group auxiliado por uma adaptação do método ZMET, contemplando 11 crianças de oito

a 12 anos em uma escola pública da cidade de Guaporé. Para a análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo, tendo como foco, a busca por informações ocultas no discurso dos participantes. Os resultados mostraram que, diferente de dados coletados em livros e artigos científicos, as crianças de Guaporé possuem um comportamento distinto das que residem em metrópoles ou mesmo que foram utilizadas para as pesquisas anteriores. As crianças consomem e possuem desejos, porém o que as diferenciou dos demais estudos, foi a participação ainda passiva nas compras para a casa, o consumo voltado mais para o prazer imediato, através de jogos e de redes sociais e o reconhecimento da alteração no comportamento das crianças, que segundo os próprios participantes, vem se tornando cada vez mais isolado. Ainda que todos possuam menos de 13 anos, apenas os dois participantes mais novos – nove anos – não possuem redes socais e nem smartphones. Os demais, conforme observado em estudos anteriores, já possuem perfil em mais de uma rede social e reconhecem que mesmo estando junto com amigos e/ou familiares, permanecem utilizando os aparelhos como forma de comunicação e interação social. Os resultados apresentam divergências e convergências entre eles, mas algumas similaridades importantes é que todos tiveram o primeiro contato com a internet sozinhos com 11 anos ou menos, todos utilizam a plataforma Youtube para acessar vídeos, desde de canais de jovens vlogueiros até canais de instalação de jogos. Uma constatação que destacou-se foi que apesar de se considerarem crianças, nem todos gostam de brincar, preferindo ficar sozinhos com seus smartphones.

Palavras-chave: Marketing. Comportamento do Consumidor Infantil. Desenvolvimento Infantil. Consumo Eletrônico. Alterações no Ato de Brincar.

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ABSTRACT

What was only to supply basic needs, is now becoming object of desire and consequently, synonymous with accumulation and social isolation. For all problems and diseases, there has always been a remedy. Today, for all problems and diseases with social causes, there is a unique and direct solution: consumption. In this scenario, there are not only a few actors, in it, every person participates: wishing, choosing, buying, using, staying in isolated home enjoying, browsing, seeking social satiations. Babies, children, adolescents, adults, seniors: everyone is part of the play, everyone consume and everyone has desires. Everyone wants something, everyone needs to satisfy some desire, or even need, but does everyone have the same characteristics? Despite suggesting a rapid positive response, consumption arises in people's lives in various ways and studies point out that for every being there is a different way. In this sense, the understanding of how this process occurs is fundamental, since it represents an important source of social understanding, both present and future, since to study the behavior of children is to understand the behavior of people who in a short time will be responsible for the development partner economic-environmental, not just local, but global. This dissertation had as general objective to understand the behavior of electronic consumption of children aged eight to 12 years of the city of Guaporé, located in the state of Rio Grande do Sul. The study was characterized as qualitative social research, constituting an exploratory character. It involved a bibliographical survey at first, followed by a focus group aided by an adaptation of the ZMET method, comprising 11 children aged eight to 12 years in a public school in the city of Guaporé. For the analysis of the data, the content analysis was used, focusing on the search for hidden information in the participants' discourse. The results showed that, unlike data collected in books and scientific articles, the children of Guaporé have a behavior different from those that live in metropolises or even that were used for previous research. Children consume and have desires, but what differentiated them from other studies was the still passive participation in home shopping, consumption geared more toward immediate pleasure through games and social networks and recognition of behavioral change of the children, who according to the participants themselves, has become increasingly isolated. Although everyone is under 13, only the two youngest participants - nine years old - have no social networks or smartphones. The others, as observed in previous studies, already have a profile in more than one social network and recognize that even being together with friends and / or family, they remain using the devices as a form of communication and social interaction. The results show divergences and convergences between them, but some important similarities is that all had the first contact with the internet alone with 11 years or less, all use the Youtube platform to access videos, from channels of young vlogueiros to channels of installation of games. One finding that stood out was that although they consider themselves children, not everyone likes to play, preferring to be alone with their smartphones.

Keywords: Marketing. Child Consumer Behavior. Child Development. Electronic Consumption. Alterations in the Play Act.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Sete estágios na tomada de decisão de compra do consumidor... 41

Figura 2 – Processamento de informação do comportamento do consumidor... 44

Figura 3 – Proporção de crianças e adolescentes, por idade do primeiro acesso a internet.... 51

Figura 4 – Exemplos de imagens a disposição das crianças... 67

Figura 5 – Exemplos de imagens a disposição das crianças... 67

Figura 6 – Aparelhos utilizados no Focus Group... 79

Figura 7 – Desenho criado pelo Participante A... 83

Figura 8 – Desenho criado pelo Participante B... 85

Figura 9 – Desenho criado pelo Participante C... 87

Figura 10 – Desenho criado pelo Participante D... 89

Figura 11 – Desenho criado pelo Participante E... 91

Figura 12 – Desenho criado pelo Participante F... 93

Figura 13 – Desenho criado pelo Participante G... 95

Figura 14 – Desenho criado pelo Participante H... 97

Figura 15 – Desenho criado pelo Participante I... 99

Figura 16 – Desenho criado pelo Participante J... 101

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dados da cidade de Guaporé... 24

Quadro 2 – Os seis subestágios do estágio sensório-motor do desenvolvimento cognitivo de Piaget... 28

Quadro 3 – Avanços cognitivos do estágio pré-operacional de Piaget (1959) e segunda infância de Papalia e Feldman (2013)... 29

Quadro 4 – Aspectos do desenvolvimento psicossocial até o 36º mês... 30

Quadro 5 – Principais desenvolvimentos humanos até os 11 anos... 32

Quadro 6 – Interesses de acordo com a idade das crianças... 38

Quadro 7 – Processamento da informação... 44

Quadro 8 – Método ZMET... 62

Quadro 9 – Detalhamento da adaptação utilizada no focus group... 63

Quadro 10 – Apresentação dos participantes... 69

Quadro 11 – Relação dos participantes com smartphones e redes sociais... 71

Quadro 12 – Relação dos participantes com o ato de comprar... 72

Quadro 13 – Preferências dos participantes... 73

Quadro 14 – Explicação pelas fotos escolhidas pelos participantes... 75

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 13 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO... 16 1.1 Apresentação do tema... 16 1.2 Problema de pesquisa ... 18 1.3 Objetivos... 21 1.3.1 Objetivo geral... 21 1.3.2 Objetivos específicos... 21 1.4 Justificativa... 22

2 O QUE DIZEM OS TEÓRICOS A RESPEITO DO CONSUMO TECNOLÓGICO INFANTIL ... 25

2.1 Teorias comportamentais que guiarão o estudo... 25

2.2 O desenvolvimento infantil e a nova infância... 27

2.3 Comportamento do consumidor infantil... 36

2.4 Entretenimento tecnológico como melhor amigo da criança?... 45

3 METODOLOGIA... 55

3.1 Pressupostos ontológicos e epistemológicos... 55

3.2 Classificação e delineamento da pesquisa... 57

3.3 Sujeitos da pesquisa... 58

3.4 Universo e amostra... 60

3.5 Coleta de dados... 61

3.6 Análise e interpretação de dados... 64

4 CONVERSANDO E DESENHANDO O CONSUMO TECNOLÓGICO... 66

4.1 Entre dados e pequenos entrevistados: discussões relevantes... 66

4.2 Arte contemporânea em autorretratos de pequenos artista... 81

4.2.1 Participante A... 81 4.2.2 Participante B... 83 4.2.3 Participante C... 85 4.2.4 Participante D... 88 4.2.5 Participante E... 89 4.2.6 Participante F... 91

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4.2.7 Participante G... 93

4.2.8 Participante H... 95

4.2.9 Participante I... 98

4.2.10 Participante J... 100

4.2.11 Participante K... 102

4.3 Dados gerais: as principais convergências e divergência dos resultados... 103

5 CONCLUSÕES... 106

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INTRODUÇÃO

Muitos são os pesquisadores que se dedicam a estudar o consumo e sua presença e importância na vida das pessoas. Karsaklian (2000) classifica o que os consumidores costumam consumir de acordo com a sua personalidade, seja mais tradicionalista, introvertido ou extrovertido. Assim, os tradicionalistas tem maior tendência a beber, comer e vestir-se conforme o que a sociedade determina. Os introvertidos preocupam-se primeiramente com seu bem-estar pessoal, enquanto os extrovertidos orientam seu consumo numa direção favorável a seu status e prestigio.

Além da autora supracitada, muitos outros os estudam e classificam das mais diversas maneiras. Lipovestsky (2007) provoca já não existir mais nenhuma categoria que não participe do processo de consumo, nem sequer a da primeira infância e Solomon (2016) destaca que os consumidores assumem hoje os mais diversos papéis, sendo desde uma criança de oito anos à um executivo ou mesmo um idoso.

Nesta realidade em que o consumo faz parte de todas as faixas etárias e esferas sociais, esta cada vez mais comum encontrar crianças com problemas de ansiedade sendo “resolvidos” com os mais diversos tipos de consumo, desde o de alimentos (normalmente calóricos e impróprios para a saúde e desenvolvimento infantil) quanto de objetos diversos, como

smartphones, games e demais aparelhos que se responsabilizam pelos cuidados de educação e

lazer.

Muitos são os estudos e discussões sobre os efeitos do consumo junto à infância e raríssimos são os exemplos de estudos que se dedicam a ouvir as crianças; o quê e como pensam; o que sentem; quais as suas escolhas, como ressignificam discursos e constroem novas representações sobre a cultura (OROFINO, 2012). Desta forma, sendo concebida como um sujeito social indefeso, inocente, não inteligente, não consciente.

O presente estudo tem como principal missão desmitificar essa visão das crianças, buscando através de um focus group, conversar, compreender e buscar interpretar a visão das próprias crianças quanto ao comportamento das mesmas relacionado a produtos tecnológicos, redes sociais, ao ato de brincar e sobre a participação das mesmas na hora de comprar algo para si ou para a família. Desta forma, buscou-se ao longo do estudo, abordar temas próximos, como o consumo, o ato de comprar e os valores e hábitos que vem sofrendo alterações com o decorrer dos anos.

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Destaca-se que o foco definido para a pesquisa revela uma crescente preocupação entre estudiosos, pais e responsáveis por crianças quanto ao consumo, tanto de produtos no geral quanto ao de eletrônicos e tecnológicos.

Para que o trabalho pudesse ter um direcionamento na busca por bibliografia preliminar, definiu-se como objetivo geral, compreender o comportamento de consumo eletrônico de crianças de oito a 12 anos, sendo estas representadas por um grupo de 11 integrantes de um município no interior do Rio Grande do Sul.

Assim, segue inicialmente uma apresentação da bibliografia coletada, sendo que a mesma busca explicar a partir de estudos já consagrados e autores reconhecidos por suas pesquisas o desenvolvimento humano, o desenvolvimento e nascimento do conceito de criança, a forma como esta era tratada e como vem se destacando perante o cenário tanto familiar quanto global, especialmente quanto se fala em consumo e comportamento de compra. Perpassou-se também pela área da tecnologia, na qual coletou a partir de pesquisas recentes dados ligados ao tempo e importância dado pelas crianças – e adultos – para as tecnologias e eletrônicos.

Desta forma, partindo da pesquisa bibliográfica, elaborou-se um grupo focal com aplicação de uma adaptação do método ZMET para coleta de dados com as crianças. O método utilizado teve como principal papel o auxílio para o diálogo e maior controle entre os debates. Foi também de extrema importância para que todos pudessem posicionar-se sobre os assuntos tratados e atividades propostas. Assim, utilizou-se como incentivadores de discussão fotos, desenhos, áudios e produção de desenhos livres a partir do tema proposto.

Considera-se de extrema importância destacar, novamente, que neste trabalho a criança não é vista como um ser passivo, em que apenas é influenciado e não consegue distinguir o certo e o errado, mas sim como ativa na construção da própria história e da sociedade, isto é, um ser pensante e inclusive, influenciador.

A fim de possibilitar uma melhor organização e leitura, o trabalho foi dividido em capítulos. No capítulo um será apresentado uma breve contextualização do estudo, contendo a apresentação do tema seguido pela justificativa da realização da pesquisa.

A seguir, no capitulo dois, nomeado de “O que dizem os teóricos a respeito do consumo tecnológico infantil”, apresentar-se a revisão de literatura, onde encontrar-se conteúdos que expliquem itens como desenvolvimento humano, o desenvolvimento infantil e a nova infância, o comportamento do consumidor infantil e entretenimento tecnológico.

No capítulo três, apresenta-se a forma como ocorreu a pesquisa, ou seja, a metodologia, com sua classificação e delineamento da pesquisa, sujeitos, universo e amostra, como ocorreu a coleta e a análise e interpretação dos dados.

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Seguindo, no capítulo quatro, nomeado de “Conversando e desenhando o consumo tecnológico”, serão apresentados os resultados do estudo, que para melhor compreensão, foi organizado em três subitens: (4.1) Arte contemporânea em autorretratos de pequenos artistas; (4.2) Entre dados e pequenos entrevistados; e (4.3) Dados gerais: as principais convergências e divergências dos resultados.

Por fim, o capítulo cinco apresenta as conclusões, juntamente com as limitações encontradas ao longo do processo de pesquisa, sugestões para prosseguimento e alargamento do estudo e suas principais contribuições.

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

Neste capítulo serão apresentados o tema, o problema de pesquisa, o objetivo geral, os objetivos específicos e as justificativas da realização desta pesquisa.

1.1 Apresentação do Tema

A atual situação do cenário deste início do século revela uma preocupação crescente com os mais diversos papéis que a criança desempenha na sociedade, conforme destaca Guedes (2016), as percepções sociais sobre a infância variam e colaboram com diferentes possibilidades de compreensões. Para Piaget (1973), a maneira de ser social de uma criança aos cinco anos, de um adolescente ou de um jovem aos 20 é diferente. Cada um se encontra em um estágio das relações sociais que expressam equilíbrios entre suas trocas intelectuais. Nesse sentido, segundo o autor, de acordo com o desenvolvimento da própria criança é que ela se inserirá nas relações sociais com o mundo a sua volta.

Piaget (1959) declara que as crianças passam por quatro estágios de desenvolvimento cognitivo, descritos como: (1) sensório-motor; (2) pré-operacional; (3) operacional-concreto e (4) operacional-formal. A partir do terceiro estágio, por volta dos sete aos 11 anos de idade, é que a criança começa a desenvolver capacidades de noções de tempo, espaço, ordem e casualidade. Apenas no último estágio, ao adentrar a adolescência, é capaz de construir pensamentos abstratos, hipotéticos e dedutivos, que anteriormente eram apenas em perspectiva da sua própria realidade.

Relacionando as etapas cognitivas ao comportamento do consumidor infantil, observam-se três fases, que são descritas por Santos (2000) como universos. Tais universos referem-se aos (1) das observações (zero a dois anos); (2) das indagações (três a cinco anos); e (3) racional (seis a 12 anos). Conforme a teoria, as crianças passam pelas experiências de compra desde os primeiros meses, ao acompanhar seus pais e responsáveis, porém apenas acompanham e percebem o ato, sem diferenciar preços ou mesmo produtos. A evolução vai acontecendo conforme vão crescendo, quando dos três aos cinco anos começam a ter seus primeiros momentos como consumidores, comprando e/ou solicitando aos pais os produtos que satisfaçam suas vontades. Na última fase, identifica-se grande tendência de imitação do consumo dos pais e demais pessoas próximas, as crianças começam a fazer compras pequenas, analisando, escolhendo produtos e comparando preços.

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Estudiosos propõem uma nova era da infância, a infância pós-moderna, conforme descreve Schor (2009, p. 28), é uma infância rodeada pela internet, televisão, filmes, vídeos e

videogames. São crianças que passam grande parte do tempo sentadas em frente à televisão.

Pesquisa1 realizada pelo Ibope Inteligência (2016), aponta que 88% dos brasileiros assistem televisão enquanto navegam na internet, sendo que destes, 72% dividem a atenção entre televisão e redes sociais. Dentre eles, 65% utilizam smartphones para acessar. Larissa Alves em depoimento para a segunda edição da pesquisa Juventude Conectada2 realizada em 2015, aponta que “todo mundo tem mobile; muitas vezes pessoas de classes mais baixas têm celular, mas não têm outros tipos de eletrodomésticos.”

Domenico De Masi (2014, p. 549-550) descreve os novos sujeitos digitais, crianças que convivem desde os primeiros dias com as novas tecnologias. Para ele, os novos sujeitos digitais não são fanáticos por televisão, mas participam de todas as redes sociais disponíveis e mesclam suas relações entre o mundo virtual e o real. Aceitam a ideia da globalização, diferente de seus pais, avós e responsáveis, chamados de analógicos e que, no geral, atribuem “todos os males do mundo à sociedade atual”.

Os digitais amam o tempo livre, não diferem muito noite e dia, dias úteis de feriados e finais de semana. Karsaklian (2000) declara que, além das crianças terem mais tempo livre, são também o grupo de pessoas que mais gostam de comprar. Hoje é possível vê-los submersos em bens de consumo e conforme a autora, as crianças exercem dois tipos de influência em seus pais e responsáveis, a influência direta e a indireta.

Segundo pesquisa realizada pela Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado de Santa Catarina (Fecomércio SC), para o Dia das Crianças de 2016, 75,2% dos pais que foram às compras, deixaram seus filhos em casa, porém 7,09% destes optaram por comprar o que as crianças haviam escolhido/pedido, deixando de lado opinião própria ou do(a) vendedor(a).

Linn (2006) em seus estudos aponta que as crianças são percebidas como um novo mercado, definido como “mercado infantil”, um ramo tão poderoso que fatura bilhões de dólares todos os anos. Segundo a ABRINQ (2016), só no Brasil em 2015, o faturamento com brinquedos chegou a R$ 3.150,5 milhões. De acordo com esta pesquisa3, realizada pela Fecomércio SC, no Dia das Crianças de 2016 os itens mais vendidos foram os brinquedos, com 55,4% de preferência (apresentando uma queda de 2% perante 2015), seguidos de vestuário

1 Realizada em Julho de 2015, com 1.004 internautas de todas as regiões brasileiras.

2 Pesquisa realizada em 2015 pela Fundação Telefônica, entrevistando 1440 jovens de todas as regiões do Brasil 3 Pesquisa Brinquedos. Disponível em: http://www.abrinq.com.br/download/brinquedos2015.pdf

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(22,6%), calçados (8,0%) e eletrônicos (3,3%) (com alta de 2% em comparação à mesma data, no ano de 2015).

Na concepção de Silva (2014), a relação entre crianças e consumo preocupa, pois segundo levantamento feito pelo IBGE, em 2003, 80% das compras de produtos para casa, realizadas pelos pais, eram diretamente influenciadas pelas crianças. No entanto, acredita-se que os pais também sejam grandes influenciadores no comportamento de seus filhos, especialmente nos primeiros anos de vida, quando as crianças os veem com “lentes especiais”. Nesse período de crescimento, todos os valores percebidos são absorvidos.

Os pais, cada vez mais envolvidos com seus trabalhos, “acabam dispondo de pouco tempo para se dedicar à formação e ao desenvolvimento dos filhos” (SILVA, 2014, p. 101) e, como consequência, tentam compensá-los por meio de bens materiais. Bauman (2009) comenta que no processo de amadurecimento, alguns pais passam longe das qualidades humanas que as crianças adquirem durante a infância. Os esforços e as pressões da sociedade, corporais e mentais, levam ao amadurecimento voltado ao consumo, como se fosse à lógica da sociedade humana, fugir da humanidade de seus integrantes.

Mesmo com tantas dificuldades em estabelecer valores éticos e padrões comportamentais às crianças, Silva (2014) lembra que, mesmo adquirindo comportamentos de adultos consumidores, são ainda – e apenas são – crianças, incapazes de estabelecer escolhas racionalmente adequadas. Ainda que essa seja a primeira geração a nascer com smartphones,

tablets e acesso praticamente ilimitado a toda e qualquer informação, para a autora, talvez

impor limites aos filhos seja hoje uma das maneiras mais corajosas de amá-los.

1.2 Problema de Pesquisa

O comportamento humano vem sofrendo diversas transformações ao passar das décadas, seja relacionado ao comportamento perante sociedade, família ou a atitudes. Em cada época vivida, algumas características a marcavam e assim a denominavam. Hoje, perante a velocidade das transformações que envolvem o mundo, são diversas as denominações surgidas. Algumas mais apocalípticas outras menos e algumas mais básicas, que dão sequência às denominações já conhecidas, como a era pós-industrial, a pós-modernidade ou mesmo a contemporaneidade.

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Não fosse a preocupação com a definição do momento em que se vive que não passa de um “período de transição no qual estaríamos deixando de ser como éramos e nos tornarmos diversos do que já fomos”, como bem descreve Castro (2008, p. 132), surgiram também, ao longo dessas transições, diversos fatores que dividem opiniões e abrem espaço para indagações. Por um lado, economistas e gestores satisfeitos com os avanços da tecnologia, por outro, psicólogos, professores, pais e sociedade preocupados com a proporção alcançada pelas novidades tecnológicas que rodeiam a vida contemporânea.

Vive-se um momento da história em que muitos dos antigos hábitos e valores foram deixados de lado ou foram perdendo sentido. Na concepção de Baccega (2008), novas sensibilidades foram criadas, novos modos de relacionamento, maneiras diferentes de estar junto com outras pessoas. Vive-se na época dos “fantasmas das coisas materiais”, que despertam a sobrevida de objetos para redimir o tempo especializado e imposto pelo mundo das mercadorias para então diminuir o tempo perdido (MATOS, 2008).

Muitas são as pesquisas que mostram a proporção do consumo e do avanço tecnológico da vida das pessoas e especialmente, na vida das crianças, uma destas pesquisas, realizada pelo IBOPE Inteligência no ano de 2016 aponta para o número de crianças que acessam conteúdos

online, o qual vem crescendo nos últimos anos. A par disso, o consumo de vídeos/filmes e

transmissão de mídia entre crianças de até 11 anos, teve um aumento de 62%, sobretudo entre os meninos, com 68%, em relação à pesquisas anteriores publicadas. Ainda de acordo com dados da pesquisa4 apresentada pelo site, 69% dos brasileiros jogam games eletrônicos, sendo que desse número, 61% jogam online (40% sozinhos e 21% com amigos ou pessoas da internet) e apenas 33% ainda jogam off-line. Dentre os internautas brasileiros jogadores, 63% utilizam-se de computadores, utilizam-seguido de smartphones (62%) e deixando para trás o vídeo game (30%) e tablet (17%).

Pesquisa realizada em 2003, pelo Criança e Consumo (2017), com aporte do IntersScience Informação e Tecnologia Aplicada, identificou que 80% das compras realizadas para a casa, sofreram influência das crianças, sendo que destes, 38% influenciavam fortemente e 42% influenciavam um pouco (apenas 20% não influenciam nada). Ainda de acordo com a pesquisa, no ano de 2000, 71% influenciava. Até mesmo no entretenimento encontram-se dados que mostram como o público infantil está em destaque. Dados apontados pela Fecomércio em pesquisas realizadas em 2014 e 2016 nos estados de Santa Catarina e Rio

(21)

Grande do Sul, demonstram que a criança vem se destacando na hora das decisões familiares, seja na hora de comprar algo para ela própria, ou produtos para a casa.

Guedes (2016) declara que nas maiores bilheterias cinematográficas do Brasil estão incluídas produções voltadas às crianças e em todas, há um grande volume de arrecadação. No primeiro trimestre de 2016, de acordo com a lista dos dez filmes de maior bilheteria no país, divulgados pela revista Exame.com (2016), há seis filmes que possuem público-alvo desde crianças até jovens adultos. Destaca-se Deadpool, que ficou em segundo lugar na lista, com R$ 81,81 milhões, Batman vs Superman – a origem da justiça com R$ 81,01 milhões e em quatro lugar, O bom Dinossauro, atingindo R$ 48,27 milhões.

Já em 2017, no primeiro semestre, de acordo com o site Observatório do cinema5, do top 10 filmes de maior bilheteria, pelo menos 7 são animações voltados às crianças ou então são de personagens famosos no mundo geek e infantil, como Homem-aranha 8, Mulher Maravilha, Logan, A Bela e a Fera e o Poderoso Chefinho. Estreado no final do primeiro semestre e já alcançando vendas significativas, encontra-se Meu Malvado Favorito 3.

Como é defendido por Piaget (1959), a criança vai se desenvolvendo e se adaptando ao mundo ao seu redor, tornando-se um ser social. De acordo com Karsaklian (2000) e Vuolo (2011), as capacidades relacionadas às crianças dependem de sua faixa etária, e seu desenvolvimento. Karsaklian aponta que entre os cinco e seis anos, a criança tende a buscar pelos prazeres imediatos, optando pelos descartáveis. Entre os sete e nove, sente-se atraída por novidades e gosta de produtos importados. De acordo com as autoras supracitadas, apenas a partir dos 12 anos é que conseguem identificar o que é melhor para si, fazendo escolhas mais conscientes.

O interesse das crianças por compras começa a se desenvolver, conforme destaca Karsakian (2000), a partir dos dois a quatro anos, quando solicitam roupas, livros, filmes, discos. Mas realmente são mais focados e vistas como exigências e não apenas compras, a partir dos sete anos, quando são mais precisas e cada vez mais orientadas para produtos familiares. Dos nove até os 11 anos, as compras maiores, como automóveis e as férias da família, começam a ser decididas por elas. Aos 11 anos, começam a centrar-se em determinadas áreas que apresentam mais interesse e seu universo se organiza em torno dos produtos especializados.

5 Disponível em:

(22)

Neste sentido, mesmo reconhecendo as restrições das crianças e suas limitações de acordo com sua idade, é necessário que sejam vistas mais do que agentes passivos na sociedade, mas como seres com capacidade, necessidades e desejos próprios, que devem ser direcionados e educados por seus responsáveis e escolarizados para que possam compreender melhor o mundo que gira à sua volta.

Sendo assim, de acordo com os dados apresentados e tendo em vista a crescente utilização de aparelhos eletrônicos, bem como smartphones e computadores por crianças e adolescentes, o problema da pesquisa encontra-se em conhecer, analisar e buscar compreender dados de utilização de aparelhos eletrônicos por crianças de oito a 12 anos, na cidade interiorana de Guaporé, do estado do Rio Grande do Sul, além de buscar compreender a mudança social que essa utilização causa na vida destes.

Em resumo, o questionamento orientador do presente estudo se centra em compreender, como é o comportamento de consumo eletrônico de crianças de oito a 12 anos da cidade de Guaporé?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Compreender o comportamento do consumo eletrônico das crianças de oito a 12 anos da cidade de Guaporé, no estado do Rio Grande do Sul.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Compreender as alterações do comportamento da criança no ato de brincar;

b) Compreender a importância da presença de aparelhos tecnológicos e da internet na vida das crianças;

(23)

1.4 Justificativa

Vive-se hoje um momento importante na formação da sociedade e dos seres. Muito do que já foi considerado imutável, hoje praticamente nem existe mais. Da mesma forma, muitos dos valores que eram determinantes na criação e educação das crianças, hoje se encontram modificados, com novos sentidos e explicações. Se até pouco tempo dependia-se do jornal impresso ou do programa de televisão para ficar informado, hoje, Solomon (2016) aponta que apenas clicando em um link é possível acessar instantaneamente pessoas, lugares e produtos, com um click as informações pulam de site em site, anunciando a chegada da era tecnológica, cheia de oportunidades e também de perigos.

A sociedade encontra-se em um momento em que a tecnologia toma conta dos cidadãos, é a primeira coisa a ser lembrada ao acordar e a última a ser desligada antes de dormir. É a ferramenta de trabalho, de estudo, de comunicação, de relacionamento. Se até poucos anos era considerada normal uma casa bagunçada, com crianças brincando, pulando de cama em cama, hoje a realidade é outra. Ainda não está em extinção o que por tantos anos ocupou a atenção das crianças – os brinquedos – mas pode-se dizer que agora estão totalmente reformulados.

Sites de comunicação, de entretenimento, de compra e venda, de redes sociais. Sites de ensino, de aprendizagem, de pesquisa, de informação. Hoje, tudo o que se procura ou se questiona, encontra-se no mesmo lugar. Tudo o que as crianças mais desejam descobrir, já sabem onde encontrar. Sem constrangimentos, sem medos, sem preocupações com o que seus pais irão pensar sobre a pergunta, sem restrições e sem controle. Tudo o que mais desejam, está na palma das suas mãos.

Nessa corrida, onde tudo está disponível a todo o momento, encontra-se uma realidade que preocupa com a velocidade dos relacionamentos e com os esquecimentos. Vivencia-se uma era em que a solidão, as relações escassas e líquidas dominam em todas as faixas etárias e esferas sociais. Crianças cada vez mais trancadas em seus quartos, com notebooks, computadores, tablets e smartphones ao seu alcance. Vídeos, videogames, redes sociais, blogs, o que puderem imaginar estão prontos para recepcioná-los e distraí-los, por quantas horas for preciso, tornando-os, como aponta Levin (2007) cada vez mais consumistas solitários e individuais. Seja uma criança de dois anos ou uma de 12, elas só precisam ligar o seu aparelho e clicar nos ícones já familiarizados.

Hoje, não são mais os sentimentos reais que estão contando, são os virtuais. É a preocupação de não perder a live, de não perder a atualização do canal, de compartilhar algo

(24)

que lhe renda visualização e mais além, é a preocupação de assistir e escutar cada detalhe para depois decidir o que comprar ou como fazer. Se os pais estão cada vez mais tomados por tarefas extrafamiliares, trabalhando em três turnos, utilizando o moderno modelo home-office e permanecendo à disposição do mundo do trabalho o tempo todo, esse é o momento em que a criança passa a ser a responsável pelas próprias escolhas.

É agora, o momento em que a grande questão do consumo começa a fazer parte incessantemente da vida das crianças, seja o consumo de produtos ou o mais presente, o consumo do ter, do existir, do causar boas impressões. A grande questão em debate no presente estudo é se essa realidade já está atingindo cidades interioranas do Rio Grande do Sul. É saber se as crianças, mesmo sendo de municípios menores, também tem predisposição a consumir e voltar-se a uma ação tão adulta, mas tão infantilizada, feita sem muitas discussões ou mesmo questionamentos.

A partir do explanado, o estudo tem como pretensão analisar e compreender o comportamento de consumo tecnológico das crianças de oito a 12 anos, de uma cidade do interior do estado do Rio Grande do Sul, localizada na região da Serra, avaliando a relação das crianças com o meio que as envolve, incluindo suas referências ambientais e culturais, a fim de identificar as (possíveis) motivações das crianças a um (possível) comportamento voltado ao consumo através do uso da tecnologia.

Em relação à cidade definida para a pesquisa, a mesma caracteriza-se pela grande quantidade de indústrias, pequenos negócios comerciais e pelo potencial de consumo da população. De acordo com pesquisa realizada em 2016, pelo SEBRAE, com o perfil das cidades gaúchas, notou-se que na cidade o mercado mais expressivo é no setor comerciário, representando 34%.

Uma das informações encontradas na pesquisa realizada pelo SEBRAE (2016), de destaque para o estudo tratando-se de crianças, é em relação ao valor gasto em 2014 com educação, o setor foi o segundo que mais recebeu investimentos no município, representando 28,31%, perdendo apenas para a área da saúde com 29,92%. O índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE) (2013) do município foi outro fator determinante na escolha, representando o índice geral em 0,80 – sendo considerado alto. Relacionado à educação, representa 0,77. Para exposição de forma clara e rápida, apresenta-se a seguir o quadro 1, com informações a respeito do município:

Quadro 1: Dados da cidade de Guaporé

(25)

População 24.000 Crianças entre oito e doze anos (aproximadamente) 2.700

Principal economia Comércio

Porcentagem de investimentos na Educação (2014) 28,31 %

IDESE geral 0,80

IDESE educação 0,77

Fonte: Elaborado a partir de SEBRAE (2016) e IBGE (2010).

Os principais motivos para escolha e definição do tema são o escasso número de publicações de estudos relacionados ao tema nas pequenas cidades do estado e em especial, região e cidade escolhidas, além de não possuírem muitas pesquisas que procurem estudar o próprio público, ou seja, as crianças, tendo dados a respeito de teóricos e/ou, de adultos próximos às elas, como pais, professores e demais profissionais.

Ainda destaca-se a importância em compreender o comportamento de consumo das crianças, tendo em vista que as mesmas não são apenas as representantes do futuro, mas também, conforme Jobim e Souza (1994) são seres histórico-culturais ativos e participativos da história geral e da própria história, ou seja, é um ser que participa da construção da história e da cultura de seu tempo.

Nesta perspectiva, entendê-las e especialmente, compreender o que pensam a respeito do consumo e seu modo de agir perante a realidade tecnológica que se encontram, possibilita o surgimento de novas pesquisas, reconhecendo a importância que este público e área (tecnológica) têm para o desenvolvimento da economia local e regional.

(26)

2 O QUE DIZEM OS TEÓRICOS A RESPEITO DO CONSUMO TECNOLÓGICO INFANTIL

Este capítulo denota a fundamentação teórica deste estudo, apresentando as seguintes abordagens: teorias comportamentais que guiarão o estudo; desenvolvimento humano; desenvolvimento infantil e a nova infância; comportamento do consumidor infantil; e, consumo infantil e o entretenimento tecnológico.

2.1 Teorias comportamentais que guiarão o estudo

O comportamento humano é um campo amplo e complexo em sua essência, tendo nele, um vasto caminho de possibilidades, aberturas e interpretações, exigindo assim, que se tracem limites e que se busquem explicações a partir de um determinado foco. Ao conhecer as inúmeras possibilidades, o estudo será guiado com um olhar antropológico e social, tendo como base a comunicação e a psicologia, buscando a partir delas, um constructo teórico explicativo de fácil e rápida compreensão.

Assim, para a definição deste estudo, utilizou-se de teorias psicanalítica e cognitiva. Enquanto “propõe-se a levar em consideração o que se “passa na cabeça” do organismo que se comporta” [...], a outra aponta que o “comportamento humano é determinado basicamente pela motivação inconsciente e pelos impulsos instintivos” (KARSAKLIAN, 2000, p. 24)

Conforme aponta Karsaklian (2000), a teoria cognitiva reconhece que o comportamento humano e seus resultados dependerão tanto das escolhas conscientes do indivíduo, como dos acontecimentos em que não possui controle e que ainda assim, atuam sobre ele. “Essas teorias acreditam que as opções feitas pelas pessoas entre alternativas de ação dependem do grau relativo que têm as forças que atua sobre o indivíduo” (KARSAKLIAN, 2000, p. 24). As escolhas são feitas por meio da percepção, pensamento e raciocínio, os valores, as crenças, as opiniões e as expectativas que regularão a conduta para um objetivo traçado.

Entretanto, em relação à teoria cognitiva, Pinheiro et al. (2006) destacam que esta enfatiza o comportamento do consumo como um processo de tomada de decisão e implica ver o consumidor como aquele que opta por diferentes produtos, tendo por pano de fundo a influência de fatores cognitivos tais como percepção, motivação, aprendizagem, memória,

(27)

atitudes, valores e personalidade; os socioculturais, isto é, influência de grupo, família, cultura e classe social e ainda os situacionais, tais como influência localizada no meio ambiente por ocasião da compra.

Em relação à teoria psicanalítica, Pinheiro et al. (2006) afirmam que os comportamentos expressos na consciência são uma expressão distorcida de desejos recalcados que se localizam no inconsciente. Para eles, a teoria chama a atenção não apenas para os motivos inconscientes da compra, mas também pelo seu caráter expressivo, os consumidores projetam seus desejos nos produtos ofertados e a escolha, então, ocorre de acordo com a capacidade destes satisfazerem, mesmo que parcial e temporariamente, os impulsos inconscientes.

Karsaklian (2000) ainda afirma que de acordo com a teoria, a mais forte tendência do comportamento humano não é necessariamente aquela vista como a melhor para si. Ela ainda esclarece, baseada em Freud, que na medida em que uma criança vai crescendo, vai também tendo seu lado psíquico elaborado. Nele, encontram-se seu id, o ego e o superego. Enquanto o

id é o reservatório das pulsões internas, o ego internaliza a influencia moralizado do contexto

social. Desta forma, cabe ao superego à tarefa da “arbitragem do difícil combate entre o id e o

ego (o principio do prazer em face da consciência coletiva) na busca de comportamento

socialmente aceitáveis, fazendo economia de um sentimento de culpa ou vergonha (princípio da realidade)” (KARSAKLIAN, 2000, p. 25). Sendo assim, a motivação do comportamento passa a ser proveniente do inconsciente e o comportamento da interação conflituosa ou não entre os três princípios.

Em relação aos estudos da área do marketing, Karsaklin (2000) salienta a usabilidade na dimensão simbólica e não simplesmente funcional do consumo. Conforme destaca “não se compra um produto somente por aquilo que ele faz, mas também por aquilo que ele significa por meio de sua forma, sua cor, seu nome” e finaliza afirmando que

“o que um consumidor compra, transcende suas necessidades profundas, a natureza dos produtos e serviços disponíveis em seu meio ambiente e, logo, a forma como ele os percebe. O mecanismo perceptual rege as relações entre o individuo e o mundo que o cerca e todo o conhecimento é necessariamente adquirido por meio da percepção. Seu impacto sobre o comportamento de compra é, consequentemente, onipresente”. (KARSAKLIAN, 2000, p. 42)

(28)

2.2 O Desenvolvimento Infantil e a Nova Infância

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2017), Lei número 8.069, de 13 de julho de 1990, considera-se criança a pessoa até os 12 anos de idade incompletos. É o período da vida que vai do nascimento até o início da adolescência.

Para Piaget (1959), existem quatro estágios de desenvolvimento cognitivo das crianças, descritos como: (1) estágio sensório-motor (zero a dois anos); (2) estágio pré-operacional (dois a seis anos); (3) estágio operacional-concreto (sete a 11 anos) e (4) estágio operacional-formal (a partir de 11 anos).

Para Papalia e Feldman (2013), estes mesmos períodos são descritos como (1) pré-natal (até os três anos), (2) segunda infância (dos três aos seis anos), (3) terceira infância (dos seis aos 11 anos) e (4) Adolescência (dos 11 aos 20 anos) e além do desenvolvimento cognitivo, abordam os desenvolvimentos físicos e psicossociais. Para eles, ainda seguem as etapas: início da vida adulta (dos 20 aos 40 anos), vida adulta intermediária (dos 40 aos 65 anos) e vida adulta tardia (dos 65 anos em diante), momento que para os autores, é onde a maioria das pessoas é saudável e ativa, embora geralmente apresentem um declínio da saúde e das capacidades físicas.

No estágio (1) sensório-motor, na concepção de Piaget (1959), a criança inicia a construção de esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio, começa a conhecer suas habilidades senso-motoras e a relacionar informações trazidas de seus sentidos. Sua inteligência é prática. Para o autor, este período é composto por seis subestágios do desenvolvimento, conforme é apresentado no quadro 2.

(29)

Quadro 2: Os seis subestágios do estágio sensório-motor do desenvolvimento cognitivo de Piaget

Subestágio Idade Descrição

Uso de reflexos

Até 1 mês

Os bebês exercitam seus reflexos inatos e obtêm algum controle sobre eles. Não coordenam as informações dos sentidos. Não agarram um objetivo para o qual

estejam olhando. Reações circulares primárias 1 a 4 meses

Os bebês repetem comportamentos agradáveis que primeiro ocorrem ao acaso (como sugar o dedo). As atividades são focadas em seu corpo e não nos efeitos

do comportamento sobre o ambiente. Começam a coordenar a informação sensorial e agarrar objetos.

Reações circulares secundárias

4 a 8 meses

Os bebes tornam-se mais interessados no ambiente; repetem ações que produzem resultados interessantes (como agitar um chocalho) e prolongam experiências

interessantes. As ações são intencionai, mas inicialmente não orientadas para uma meta. Coordenação de esquemas secundários 8 a 12 meses

O comportamento é mais deliberado e proposital (intencional) à medida que os bebês coordenam esquemas previamente aprendidos (como olhar para um chocalho e agarrá-lo) e usam comportamentos previamente aprendidos para

atingir suas metas. Podem antecipar eventos. Reações

circulares terciárias

12 a 18 meses

As crianças demonstram curiosidade e experimentação; variam propositalmente suas ações para ver os resultados (agitando diferentes chocalhos para ouvir os sons). Exploram ativamente seu mundo para determinar o que é novidade sobre

um objeto, evento ou situação. Experimentam novas atividades e fazem uso da tentativa e erro para resolver problemas.

Combinações mentais

18 a 24 meses

O pensamento simbólico permite pensar sobre eventos e antecipar suas consequências sem precisar recorrer sempre à ação. Elas começam a demonstram

insights. Sabem usar símbolos como gestos e palavras, e sabem fingir.

Fonte: Elaborado de Papalia e Feldman (2013)

Papalia e Feldman (2013) definem o último subestágio como a transição do estágio sensório-motor para o estágio pré-operatório e destacam a capacidade de representação das crianças neste momento, em que elas possuem capacidade de representar mentalmente objetos e ações na memória, especialmente através de símbolos como palavras, números e imagens mentais. Neste estágio, elas pensam antes de fazer.

Quando se aproxima do estágio (2) pré-operacional, novas características começam a ser percebidas a partir da interiorização dos esquemas construídos anteriormente. A inteligência passa a ser simbólica, a criança centra-se em si mesma (egocentrismo) e não consegue colocar-se no lugar do outro. Adentra à fase conhecida pelos “por quês” e se deixa levar pela aparência sem relacionar fatos. Nesse estágio a criança aprende a utilizar elementos de linguagem e símbolos. De forma resumida, no quadro 3, apresentam-se mais claramente os avanços cognitivos durante a fase.

(30)

Quadro 3: Avanços cognitivos do estágio pré-operacional de Piaget (1959) e segunda infância de Papalia e Feldman (2013).

Avanço Significância

Uso de símbolos

As crianças não precisam estar em contato sensório-motor com um objeto, pessoa ou evento para pensar neles. Elas podem imaginar que objetos ou pessoas

têm outras propriedades além das que eles realmente têm. Compreensão de

identidades

As crianças têm consciência de que alterações superficiais não mudam a natureza das coisas.

Entendimento de causa

e efeito As crianças percebem que os acontecimentos têm causas. Capacidade de

classificar As crianças organizam objetos, pessoas e eventos em categorias significativas. Compreensão de

números As crianças sabem contar e lidar com quantidades.

Empatia As crianças tornam-se mais capazes de imaginar como os outros podem sentir. Teoria da mente As crianças tornam-se mais conscientes da atividade mental e do funcionamento

da mente. Fonte: Elaborado de Papalia e Feldman (2013).

Associando o pré-operacional à segunda infância descrita por Papalia e Feldman (2013), é possível verificar no quadro 03, os avanços do pensamento nesta etapa da vida.

Na terceira etapa, conhecida como (3) operatório-concreto, as crianças tem um melhor entendimento dos conceitos espaciais, causalidade, categorização, raciocínio indutivo e dedutivo, conservação e números. Começam a fazer uso de operações mentais para resolver problemas reais. Apesar dos avanços, ainda mantém a forma de pensar no aqui e no agora. Seus principais avanços se resumem ao avanço no pensamento espacial, na relação causa e efeito, nas categorizações, classificando os objetos em categorias como forma e cor. Avanço ao raciocínio indutivo e dedutivo, a conservação e aos números e matemática, conseguindo fazer contas de cabeça e resolvendo problemas simples.

No estágio (4) operacional-formal, Piaget (1959) explica que a criança passa por uma mudança em suas percepções sensoriais para a percepção lógica, conseguindo, desenvolver capacidades de noções de tempo, espaço, ordem e casualidade. Apesar de não se limitar a uma representação imediata, ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração.

Ao chegar aos 11 ou 12 anos de idade, a criança passa a operar dentro do quarto estágio, conhecido como operacional-formal (PIAGET, 1959), etapa marcada pela entrada à adolescência, na qual complementa sua capacidade lógica e passa a ter pensamentos abstratos, hipotéticos e dedutivos do que antes era analisado apenas logicamente sobre a perspectiva da sua realidade. Para o autor, é o nível mais alto de desenvolvimento cognitivo, a criança não se limita mais ao aqui e agora, já conseguindo compreender o tempo histórico e o espaço extraterrestre.

(31)

Cada criança, ainda quando bebê possui suas próprias características e personalidade, ou seja, possui a combinação relativamente coerente de emoções, temperamento, pensamento e comportamento que as tornam únicas. Conforme Papalia e Feldman (2013), esses modos característicos de sentir, pensar e agir, que refletem influências tanto inatas quanto ambientais, afetam a maneira como a criança responde aos outros e se adapta ao seu mundo. Esse conjunto de características e fatores é o que chamado de desenvolvimento psicossocial.

Conforme pode-se perceber no quadro 4, as características psicossociais vão se alterando rapidamente e ganhando forças em suas demonstrações. Um dos exemplos claros é a mutação da forma de expressar emoções, as quais no começo são expressadas apenas através do corpo rígido e gritos agudos e com o passar do tempo, já se expressam sorrindo, esticando braços e até se impulsionando em direção às pessoas.

Quadro 4: Aspectos do desenvolvimento psicossocial até o 36º mês. Idade aproximada,

em meses Características

0-3 Os bebês estão aptos à estimulação. Começam a demonstrar interesse e curiosidade e sorriem prontamente para as pessoas.

3-6

Os bebes podem antecipar o que está prestes a acontecer e se decepcionam em caso contrário. Fase marcada pelo despertar social e de trocas recíprocas entre o bebê e o

cuidador.

6-9 Jogam “jogos sociais” e tentam obter respostas das pessoas. Expressam emoções mais diferenciadas, demonstrando alegria, medo, raiva e surpresa.

9-12

Os bebes preocupam-se com seu principal cuidador, podendo ter medo de estranhos e agindo de modo submisso em situações novas. Por volta de um ano, comunicam suas emoções de maneira mais clara, demonstrando variações de humor, ambivalência e

gradação de sentimentos.

12-18

As crianças exploram seu ambiente utilizando as pessoas que estão mais ligadas como base segura. À medida que vão dominando o ambiente, tornam-se mais confiantes e

mais ansiosas por se autoafirmar.

18-36

Ficam mais ansiosas conforme vão se separando de seu cuidador. Elaboram a consciência de suas limitações na fantasia, nas brincadeiras e identificando-se com os

adultos. Fonte: Elaborado de Papalia e Feldman (2013).

Uma característica presente no desenvolvimento das crianças durante a fase que inicia por volta dos 3 anos é o desenvolvimento da identidade, na qual muitas acabam se perguntando: onde estão? E quem são?. Nesta fase, desenvolve-se o autoconceito, o qual, de acordo com Harter (1996, p.207) é um “sistema de representações descritivas e avaliativas sobre a nossa pessoa”, que determinará como nos sentimentos sobre nós mesmos e orientará nossas ações. O senso de identidade também tem um aspecto social, pois conforme declaram

(32)

Papalia e Feldman (2013), a criança incorpora em sua autoimagem a crescente compreensão de como os outros a veem.

Assim, ainda tentando compreenderem-se, as crianças adentram a fase da autoestima, no qual passam a fazer julgamentos sobre seus valores gerais, baseado na sua capacidade cognitiva de descrever-se e definir-se. Um avanço importante na faixa do pré-operacional (PIAGET, 1959) ou segunda infância como é definido por Papalia e Feldman (2013) é a capacidade de entender, regular e controlar os próprios sentimentos. Laible e Thompson (1998) apontam que a autorregulação emocional ajuda as crianças a guiarem seus comportamentos. Normalmente, elas já compreendem que alguém que consegue o que quer, ficará feliz e alguém que não consegue, ficará triste, conforme declara Lagattuta (2005).

Para compreender como se dá os períodos descritos por Papalia e Feldman (2013), o quadro 5, a seguir ilustra o desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial descritos pelos autores, sendo necessário destacar de antemão, que o desenvolvimento físico não foi abordado no decorrer do texto, visto que os desenvolvimentos tratados no estudo são o cognitivo e psicossocial.

(33)

Quadro 5: Principais desenvolvimentos humanos até os 11 anos

Faixa etária Desenvolvimento físico Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento

psicossocial

Período Pré- natal

(da concepção ao nascimento)

Desde o começo, a dotação genética interage com as

influências ambientais; Formam-se as estruturas e

os órgãos corporais básicos: inicia-se o surto de crescimento do cérebro;

O crescimento físico é o mais acelerado do ciclo; É grande a vulnerabilidade

às influências ambientais.

Desenvolvem-se as capacidades de aprender e

lembrar, bem como as de responder aos estímulos

sensoriais.

O feto responde à voz da mãe e desenvolve preferência por ela.

Primeira infância (do nascimento aos três anos) No nascimento, todos os sentidos e sistemas corporais funcionam em graus variados; O cérebro aumenta em complexidade e é altamente sensível à influência ambiental; O crescimento físico e o desenvolvimento das habilidades motoras são

rápidos.

As capacidades de aprender e lembram estão presentes,

mesmo nas primeiras semanas; O uso de símbolos e a capacidade de resolver problemas se desenvolvem

por volta do final do segundo ano de vida; A compreensão e o uso da linguagem se desenvolvem

rapidamente.

Formam-se os vínculos afetivos com os pais e com

outras pessoas; A autoconsciência se desenvolve. Ocorre a passagem da dependência

para a autonomia; Aumenta o interesse por

outras crianças. Segunda Infância (dos três aos seis anos) O crescimento é constante; a aparência torna-se mais

esguia e as proporções mais parecidas com as de

um adulto; O apetite diminui e são comuns os distúrbios do

sono;

Surge a preferência pelo uso de uma das mãos;

aprimoram-se as habilidades motoras finas e

aumenta a força física.

O pensamento é um tanto egocêntrico, mas aumenta a

compreensão do ponto de vista dos outros; A imaturidade cognitiva resulta em algumas ideias

ilógicas sobre o mundo; Aprimoram-se a memória e

a linguagem; A inteligência torna-se mais

previsível; É comum a experiencia da pré-escola, mais ainda a do

jardim da infância.

O autoconceito e a compreensão das emoções tornam-se mais complexos;

a autoestima é global; Aumentam a independência, a iniciativa e o autocontrole; Desenvolve-se a identidade

de gênero; O brincar torna-se mais imaginativo, mais elaborado

e, mais social; Altruísmo, agressão e temor

são comuns. A família ainda é o foco da

vida social, mas outras crianças tornam-se mais

importantes. Terceira

Infância (dos seis aos 11 anos)

O crescimento torna-se mais lento; a força física e

as habilidades atléticas aumentam; São comuns as doenças respiratórias, mas de um modo geral a saúde é

melhor do que em qualquer outra fase do

ciclo de vida.

Diminui o egocentrismo. As crianças começam a pensar

com lógica, porém concretamente; As habilidades de memória e linguagem aumentam; Algumas crianças demonstram necessidades educacionais e talentos especiais. O autoconceito torna-se mais complexo, afetando a

autoestima; A corregulação reflete um

deslocamento gradual no controle dos pais para a

criança; Os colegas assumem importância fundamental. Fonte: Elaborado a partir de Papalia e Feldman (2013, p. 40-41)

Faria (1998) referindo-se tanto ao ato cognitivo quanto o afetivo e ainda o social, declara que os mesmos implicam em incorporações de experiências e sentimentos novos aos antigos, por meio de transformações dos mesmos.

(34)

Nesse sentido, percebe-se que o desenvolvimento das crianças vem sofrendo transformações ao longo dos anos. Seria praticamente impossível afirmar que o comportamento de crianças da década de 50 é o mesmo de crianças da era contemporânea. Antes, as crianças possuíam suas mães dentro de casa, mas, com a chegada do modelo industrial, criou-se um rígido divisor de águas entre tempo livre e o tempo de trabalho. De Masi (2014) discorre que se tornou mais imprecisa a separação entre as atividades dos homens e das mulheres, ou seja, as atividades produtivas, antes estritamente dos homens, passaram a ser também das mulheres, que além dessa, ainda tinham as atividades de cuidado e reprodução familiar.

Assim, muitas mudanças sociais foram acontecendo. Por passarem a maior parte do tempo dentro das indústrias, as mulheres foram se destacando. Blackwell, Miniard e Engel (2005) afirmam que com o destaque da mulher – mãe – no mercado de trabalho e com a diminuição da parte masculina na renda familiar, os homens passaram a assumir novos papéis dentro de casa, assumindo mais funções familiares e novos papéis de compra.

Os autores apontam que nas famílias, os pais que passam mais horas fora de casa são os mesmos que estão dispostos a gastarem uma quantia maior em produtos de consumo infantil, a fim de compensar suas ausências. Para Schor (2009), os pais que passam menos tempo com os filhos são os que mais gastam com eles e são variados os motivos por essa atitude. Contudo, o que mais se adéqua à explicação é a escassez de tempo, ocasionada pelas longas jornadas de trabalho. Ainda afirma que os pais mais ausentes em casa – em sua maioria, as mães – gastam mais comprando brinquedos, livros e filmes. Cortella (2014) aborda o assunto e declara que quanto mais a ausência for amenizada com presente, mais difícil será de criar um processo de conquista nas crianças. Conforme o autor:

“O que mais prejudica a formação é que os pais, ao encontrarem seus filhos, querem compensar a ausência com o atendimento de todas as vontades, acarretando na distorção entre desejo e direito. A criança e o jovem não criam um processo de conquista, pois recebem coisas instantaneamente” (CORTELLA, 2014, p. 88). Schor (2009) aponta que em outros tempos os pais tomavam decisões pelas crianças, escolhiam o que comprar para si e para seus filhos, porém, a geração dos pais nascidos após a segunda guerra e nos anos seguintes, estava mais disposta a dar voz aos filhos, pois viam as decisões de consumo como oportunidades educativas. A visão dos pais mudou com o passar dos anos e, segundo a autora, na primeira parte do século XX viam seus filhos como crianças sensíveis e praticamente dispensáveis. Hoje são consideradas insubstituíveis e sagradas.

Estudiosos propõem uma nova era da infância, que a denominam de infância pós-moderna. Schor (2009, p. 28) afirma que esta nova infância é composta de crianças imersas em um mundo com internet, televisão, filmes, vídeos e videogames. São crianças que passam a

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