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Linguagens, códigos e suas tecnologias

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Academic year: 2021

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Introdução

O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo no Brasil não se constitui uma escola literária. Não houve manifesto em jornais nem grupo de autores em torno de uma proposta uma ou de um ideário. “Pré-Modernismo” é, na verdade, um termo genérico que designa toda uma vasta produção literária, que caracteriza os primeiros vinte anos do século 20. Nele é que se encontram as mais variadas tendências e estilos literários – desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um novo regionalismo, alguns preocupados com uma literatura política, e outros com propostas realmente inovadoras.

O Pré-Modernismo iniciou-se em 1902 com a publicação de Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Canaã, de Graça Aranha. Terminou em 1922 com a Semana de Arte Moderna. Menos do que uma nova estética literária, ele representou o momento de transição e de preparação para a fase de emancipação da literatura brasileira, o Modernismo. O Pré-Modernismo, que conviveu com o Simbolismo e o Parnasianismo, denunciou os problemas de nossa realidade social e cultural.

Creio que se pode chamar Pré-Modernismo (no sentido forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural.

(Alfredo Bosi)

É importante ressaltar que as primeiras décadas do século 20 foram marcadas por um notável desenvolvimento técnico e científico. As inúmeras invenções e descobertas realizadas de 1900 a 1920 alteraram profundamente a face do mundo, criando novas maneiras de pensar e um novo ritmo de vida para a humanidade. Os novos tempos, guiados pela ciência, entravam definitivamente na vida quotidiana do homem.

Nas primeiras décadas do século 20, surgiram no Brasil alguns escritores que, diferentemente da grande maioria, tiveram uma outra atitude perante a nossa realidade sociocultural. Expressando uma visão mais crítica e penetrante dos problemas brasileiros, autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Graça Aranha e Lima Barreto, em maior ou menor grau, acabaram por antecipar uma das tendências que marcaram decisivamente o Modernismo, que é justamente a criação de uma literatura que investigasse e

questionasse mais profundamente o Brasil. Por essa característica, portanto, esses autores podem ser considerados pré-modernos.

Como já vimos durante a época do Romantismo, o desenvolvimento do regionalismo contribuiu para que aumentasse o interesse pela descrição da "realidade" brasileira. No entanto, ainda não existia um agudo senso crítico, pois os escritores regionalistas, de modo geral, preocuparam-se apenas em "retratar" o interior do Brasil no que ele apresentava de pitoresco e curioso, sem intenções de analisá-lo profundamente.

Portanto, podemos dizer que a diferença principal entre esses autores e os considerados pré-modernos está em que estes últimos expressaram em suas obras a consciência de alguns dos problemas que afetavam a realidade nacional, fazendo a denúncia de certos desequilíbrios socioculturais importantes, tais como: a dramática situação do sertanejo nordestino; o contrastante nível de vida das diversas camadas da população brasileira; a decadência e pobreza de muitas regiões isoladas do interior etc.

É necessário perceber que o Pré-Modernismo trabalha predominantemente com a tensão entre polos opostos: o Brasil, com suas tensões sociais entre ricos e pobres, brasileiros e estrangeiros, campo e cidade, civilização e barbárie. Os grupos sociais que se destacam no período, em meio a todas essas tensões, fazem com que novos personagens apareçam nos textos literários. Assim, o homem da periferia, o caipira interiorano, o imigrante, o sertanejo, surgem nas obras dessa época, formando um quadro inédito para os leitores.

Contexto histórico

O início do século XX foi marcado pelo acirramento das rivalidades internacionais, que resultou na Primeira Guerra Mundial (1914-18) e no surgimento de uma nova potência: os Estados Unidos da América. Em 1917, com a Revolução Russa, o proletariado toma o poder. Começaram, então, a delinear-se dois regimes antagônicos: o comunismo e o capitalismo. No Brasil, o Pré-Modernismo desenvolveu-se na época de transição da República da Espada (marcada pela presença de militares no poder), para a República das Oligarquias ou República do café-com-leite, em que o O violeiro, de Almeida Jr. Os pré-modernistas voltaram-se para a

realidade brasileira a fim de denunciar as desigualdades.

Mulheres e crianças prisioneiros na Guerra de Canudos. Foto histórica de 1897, de Flávio Barros.

Linguagens, códigos e suas tecnologias

Pré-modernismo

Data: ___/___/____

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Brasil foi governado ora por donos de fazenda de café de São Paulo, ora por fazendeiros de Minas, os dois estados mais ricos do país.

Marcaram esse período:

1) época áurea da economia cafeeira, quando oligarquias rurais detêm o poder;

2) imigrações, sobretudo da Itália;

3) esplendor da Amazônia com o ciclo da borracha; 4) surto de urbanização de São Paulo;

5) surgimento da burguesia industrial em São Paulo e Rio de Janeiro;

6) inchaço das classes média e operária e do subproletariado: novos estratos socioeconômicos não representados pelo poder oficial;

7) agitações sociais:

Nordeste refletiram a situação crítica dessa região marginalizada

– Bahia: Canudos (1897) – Ceará: Padre Cícero (1911)

– Sertão do Nordeste: cangaço e Lampião (1916) Rio de Janeiro

– Revolta popular contra a vacinação obrigatória (1904) – Revolta da Chibata (1910)

Santa Catarina e Paraná – Guerra do Contestado (1912) São Paulo

– greve geral (1917)

– atividade de grupos anarco-sindicalistas – tendências socialistas.

Características

❉Ruptura com o passado: os autores adotaram inovações que feriram o academicismo.

❉Regionalismo: a realidade rural brasileira é exposta sem traços idealizadores.

❉Literatura-denúncia: os livros são escritos em tom de denúncia da realidade brasileira. O Brasil oficial (cidades da região Sudeste, belezas do litoral, aspectos positivos da civilização urbana) é substituído por um Brasil não oficial (sertão nordestino, caboclos interioranos, realidade dos subúrbios).

❉Contemporaneidade: a literatura retrata fatos políticos, situação econômica e social contemporâneas, diminuindo a distância entre realidade e ficção. Vejamos autores que exemplificam isso:

- Triste fim de Policarpo Quaresma: retrata o governo de Floriano Peixoto e a Revolta da Armada.

- Os sertões: um relato da Guerra de Canudos, mostrando o fanatismo e o atraso dos sertanejos baianos.

- Cidades Mortas: mostra a passagem do café pelo Vale do Paraíba paulista.

- Canaã: um documento sobre a imigração alemã no Espírito Santo.

Os pré-modernistas Poesia: Augusto dos Anjos.

Prosa: Graça Aranha, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Lima Barreto.

Euclides da Cunha Euclides da Cunha Nasceu no Rio de Janeiro em 1866 e aí morreu em 1909. Cursou a Escola Militar e a Politécnica, formando-se em Engenharia. Mais tarde, desligado do Exército, foi colaborador do jornal O Estado de S. Paulo que, em 1897, o enviou a Canudos, interior da Bahia, para informar sobre as operações que

o Exército estava realizando para sufocar a rebelião liderada por Antônio Maciel, o Conselheiro. Em 1902, publica Os Sertões, baseado nas pesquisas e reportagens feitas para o jornal paulista, causando um grande impacto não só pela originalidade e exuberância de seu estilo como também pela corajosa crítica às ações do Exército que, em 1889, assumira o governo e proclamara a República. Escreveu ainda Contrastes e confrontos (1907) e À margem da história (1909).

Os Sertões

Embora não seja ficção, este livro de Euclides da Cunha pode ser considerado uma obra literária

em virtude do tratamento artístico a que o autor submeteu o assunto e a linguagem. E pode ser considerado pré-moderno pela crítica que o autor se dispôs a fazer sobre a verdade dos fatos que presenciou na região de Canudos. Segundo o autor, os revoltosos de

Canudos não poderiam ser considerados culpados, mas vítimas de uma situação social, econômica, geográfica e histórica. Abandonados pela "civilização do litoral", eles acabaram por criar um estilo de vida próprio, que os tornou diferentes: "Os novos expedicionários ao atingirem-no [o sertão] perceberam esta transformação violenta. Discordância absoluta e radical entre as cidades da costa e as malocas de telha do interior, que desequilibra tanto o ritmo de nosso desenvolvimento evolutivo e perturba deploravelmente a unidade nacional. Viam-se em terra estranha.... Invadia-os o sentimento exato de seguirem para uma guerra externa. Sentiam-se fora do Brasil. A separação social completa dilatava a distância geográfica: criava a sensação nostálgica de longo afastamento da pátria."

Argumentando que caberia à "civilização do litoral" compreender o problema e não simplesmente exterminar os rebeldes pelo massacre, o autor fez uma severa crítica às ações do Exército, culpando-o pelo que chamou "crime de Canudos": "Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo." O livro divide-se em três partes: "A terra" — em que o autor estuda cientificamente a região; "O homem"

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— em que procura mostrar as características peculiares do sertanejo; "A luta" — em que narra os combates ocorridos entre as tropas do governo e os sertanejos.

[Canudos não se rendeu] Fechemos este livro.

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.

Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem... Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos?...

E de que modo comentaríamos, com a só fragilidade da palavra humana, o fato singular de não aparecerem mais, desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos na véspera, e entre eles aquele Antônio Beatinho, que se nos entregara, confiante — e a quem devemos preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa história? Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5.200, cuidadosamente contadas.

Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 1881 e aí faleceu em 1922. Foi jornalista, escreveu crônicas, contos e romances. O lugar de destaque que ocupa em nossa literatura se deve ao realismo com que representou a sociedade

carioca do começo do século,

sobretudo o povo sofrido dos subúrbios. Marginalizado, afastado das "elites" literárias, Lima Barreto expressou em sua própria linguagem essa marginalidade: em vez do excessivo rebuscamento e do cuidado gramatical que dominavam a literatura da época, seu estilo é simples e comunicativo, tendo sido considerado, por seus contemporâneos, um escritor desleixado. No entanto, foi valorizado pelos modernistas e hoje é visto como um dos importantes autores de nossa literatura. De sua obra, merecem destaque os romances Triste fim de Policarpo Quaresma (1915); Recordações do escrivão Isaias Caminha (1909); Numa e a Ninfa (1915); Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919) e os contos que, reunidos, formaram o volume Histórias e sonhos, publicados em 1956.

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▶ Sua maior contribuição para a literatura foi o abandono do modo erudito e artificial de escrever em favor de um estilo mais simples e despojado. Seus romances são fortemente influenciados pelo estilo jornalístico, pela linguagem informal e própria da fala cotidiana.

Triste fim de Policarpo Quaresma Este romance é a grande contribuição de Lima Barreto para a literatura brasileira. Nele, o autor representa os anos conturbados da Primeira República, com movimentos militares, revoltas e perseguições. A figura central da obra é o major reformado Policarpo Quaresma, um nacionalista fanático que, vivendo fechado em seu gabinete,

cercado de muitos livros, acaba fazendo do Brasil uma imagem totalmente equivocada. Grande parte da narrativa pode ser sintetizada como o elenco das desilusões do protagonista com o seu país. Policarpo Quaresma é um personagem de má sina, como seu nome indica – “poli”, muito, e “carpo”, choro, sofrimento –, e também o sobrenome “Quaresma”, período de penitências e resguardo que começa no fim do Carnaval e se estende por 40 dias. Patriota extremado, sonha poder resolver os problemas do país por meio da agricultura, mas ao trabalhar no campo acaba entendendo que as terras não são tão férteis como diziam os livros, e as saúvas, mais destruidoras do que imaginara; propõe a revalorização de nossos costumes, censurando a imitação das modas estrangeiras, mas não encontra receptividade da parte de ninguém. Esse nacionalismo o embriaga tanto que, certa vez, pensa na oficialização do tupi como língua brasileira... Por último, seu patriotismo leva-o ao campo militar, incorporando-se voluntariamente às tropas do marechal Floriano Peixoto por ocasião da Revolta da Armada. Mas tem nova desilusão: o marechal não é o chefe que idealizara e, ao denunciar a crueldade da repressão aos adversários, é detido e jogado numa prisão. Assim, no final, o major Quaresma deixa de ser uma espécie de Dom Quixote, sempre a se bater por objetivos inatingíveis, e adquire dimensões de herói trágico que, à custa da própria vida, toma consciência da realidade degradada em que vive.

Além da visão crítica, destaca-se em Lima Barreto a simplicidade de sua linguagem, bem diferente do estilo ornamentado que predominava na época.

Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência do sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua (...) — usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.

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Dom Quixote de la Mancha foi um romance escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes. Dom Quixote é considerado um louco por todos, sendo seguido somente pelo seu fiel companheiro Sancho. Essa figura influenciou Lima Barreto na caracterização de Policarpo Quaresma.

Ambos acreditavam que podiam mudar o mundo, eram considerados desajustados pela sociedade e, inclusive, dividiam certa semelhança física.

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▶ Como em todas as obras de Lima Barreto, há uma crítica à sociedade da época, em especial, ao racismo e às atitudes políticas irregulares.

Se os romances de Lima Barreto forem analisados detidamente, é possível verificar que muitos dos problemas sociais que até hoje assolam o país já aparecem ali, como pequenas chagas, comportamentos daninhos que perseguem o Brasil ao longo dos anos.

Monteiro Lobato José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté em 1882 e faleceu em 1948. Participou ativamente da vida cultural brasileira, e, ao morrer, deixou uma extensa obra, composta de contos, ensaios, romances e uma série de livros infantis que o tornaram muito popular. A visão crítica da realidade social brasileira revela a face moderna de Lobato; seus princípios

estéticos, porém, enraizados em autores "clássicos" da língua portuguesa, impediram-no de assumir compromisso efetivo com as ideias renovadoras que começaram a circular na década de 20. De sua obra de ficção para adultos, destacam-se os contos de Urupês (1918); Cidades mortas (1919); Negrinha (1920).

O estilo das obras de Monteiro Lobato é claro, direto, de sabor popular e colorido regional. Em sua literatura infantil, sempre bem-humorado, ele soube contar e ensinar de maneira divertida. Foi um excelente criador de personagens. Suas grandes criações são os habitantes do Sítio do Picapau Amarelo, onde se passam suas histórias infantis. Emília, Pedrinho, Narizinho, Dona Benta, Tia Nastácia, Visconde de Sabugosa e Marquês de Rabicó são personagens que tornaram Monteiro Lobato um dos escritores brasileiros mais

conhecidos no exterior. Sua obra de literatura infantil está reunida em 17 volumes. Todos apresentam um aspecto instrutivo de alto valor. Por exemplo, Geografia de Dona Benta apresenta informações sobre geografia; Histórias de Tia Nastácia agrupa várias histórias do folclore brasileiro, e O Poço do Visconde explica para as crianças o problema do petróleo no Brasil. Monteiro Lobato também fez um importante trabalho de tradução e adaptação, para crianças, de grandes obras da literatura universal, como Dom Quixote, Gulliver e Robinson Crusoé.

As obras destinadas a adultos estão reunidas em 18 volumes. Mostram Monteiro Lobato como um dos melhores exemplos de escritor voltado para a dignidade da pessoa humana e o progresso social. Entre essas obras, incluem-se tanto livros de ficção como livros que tratam de questões sociais, políticas e econômicas. Todas apresentam caráter nacionalista e se voltam para os problemas do país e para a construção do seu futuro.

Jeca Tatu é um piraquára do Paraíba, maravilhoso epitome de carne onde se resumem todas as características da espécie. Ei-lo que vem falar ao patrão. Entrou, saudou. Seu primeiro movimento após prender entre os lábios a palha de milho, sacar o rolete de fumo e disparar a cusparada d’esguicho, é

sentar-se jeitosamente sobre os calcanhares. Só então destrava a língua e a inteligência.

— “Não vê que...

De pé ou sentado as ideias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com coisa.

De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para “aquentá-lo”, imitado da mulher e da prole. Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar um cabo de foice, fazê-lo noutra posição será desastre infalível. Há de ser de cócoras.

Nos mercados, para onde leva a quitanda domingueira, é de cócoras, como um faquir do Bramaputra, que vigia os cachimbos de brejaúva ou o feixe de três palmitos.

Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!

Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...

* Mais tarde, em um artigo, Monteiro Lobato pede desculpas ao Jeca Tatupor não tê-lo compreendido, por não ter percebido que ele era produto deum meio político-econômico-social adverso.

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▶ Considerado pré-modernista pelo regionalismo e pela denúncia social de suas obras, Lobato, no entanto, atacou em um artigo no jornal O Estado de São Paulo a exposição de quadros expressionistas de Anita Malfatti. O artigo “Paranoia ou mistificação?” foi um dos fatores responsáveis pela Semana de Arte Moderna. Inúmeros artistas saíram na defesa de Anita e começaram a pensar numa exposição de arte coletiva para mostrar o que era o Modernismo.

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▶ Monteiro Lobato teve grande influência e foi muito ativo na luta a favor das questões nacionais. Por sua oposição ao governo de Getúlio Vargas, foi detido por seis meses.

Graça Aranha

José Pereira da Graça Aranha nasceu no Maranhão em 1868 e morreu no Rio de Janeiro em 1931. Estudou em Recife, onde conviveu com Tobias Barreto, que exerceu sobre ele grande influência. Embora fosse membro da Academia Brasileira de Letras, criticou seu conservadorismo, ficando ao lado da nova geração de artistas por ocasião da Semana de Arte Moderna de 1922.

Suas obras principais são: Canaã (1902 — romance); Malazarte (1911 — drama); A estética da vida (1920 — filosofia e crítica); O espírito moderno (1925 — ensaios e conferências); A viagem maravilhosa (1929 — romance) Canaã

A experiência de alguns anos vividos no Espírito Santo deu a Graça Aranha a oportunidade de verificar os contrastes entre o estilo de vida dos colonos alemães e os sertanejos brasileiros. Colocava-se claramente a oposição entre um modo de viver rústico, tropical, e outro mais adiantado, europeu. Apesar de basear sua obra nessas regiões, Graça Aranha não se prendeu aos elementos especificamente regionais, procurando fazer das personagens exemplos de suas ideias a respeito do sentido da vida e da luta do homem na construção de seu destino. É nesse sentido que se devem compreender as ações das duas personagens: Milkau e Lentz, imigrantes alemães. Milkau representa o desejo de integração de todos os povos na natureza, espera o fim das diferenças e a harmonia final: "Aproximemo-nos uns dos outros, suavemente. Todo o mal está na força, e só o amor pode conduzir os homens..." Lentz, por outro lado, sustenta que a integração é impossível, e que as raças mais fortes dominarão inevitavelmente os mestiços: "O processo é o mesmo por toda a parte; e o caminho da civilização é também pelo sangue e pelo crime. Para viver a vida é preciso ir até ao último grau de energia, é preciso não a contrariar. Aqueles que cruzam as armas são os mortos. Os grandes seres absorvem os pequenos." Destaca-se, no desenvolvimento do enredo, o comportamento desinteressado de Milkau em ajudar uma jovem colona, Maria, exemplificando assim suas ideias de fraternidade e esperança. Construído, pois, em função dessa oposição entre a vida pelo amor e a vida pela luta, Canaã é muito menos um romance regionalista do que um romance de ideias.

Lentz (olhando a floresta) — Vê como tudo te desmente...Esta mata que atravessamos é o fruto da luta, a vitória do forte. Combates travou cada árvore destas para chegar à sua esplêndida florescência; a sua história é a derrota de muitas espécies, a beleza de cada uma é o preço da morte de muitas coisas que desde o primeiro contato da

semente poderosa foram destruídas... Como é magnífica aquela árvore amarela!

Milkau: — O ipê, o pau-d´arco dos gentios desta terra... Lentz: — O ipê é uma glória de luz; é como uma umbela dourada no meio da nave da verde floresta; o sol queima-lhe as folhas e ele é o espelho do sol. Para chegar àquele esplendor de cor, de luz, de expansão carnal, quanto não matou o belo ipê... A beleza é assassina e por isso os homens a adoram mais... O processo é o mesmo por toda a parte; e o caminho da civilização é também pelo sangue e pelo crime. Para viver a vida é preciso ir até o último grau de energia, é preciso não a contrariar. Aqueles que cruzam as armas são os mortos, os grandes seres absorvem os pequenos. É a lei do mundo, a lei monárquica, o mais forte atrai o mais fraco; o senhor arrasta o escravo; o homem, a mulher. Tudo é subordinação e governo.

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▶ Graça Aranha foi o único dos pré-modernistas que participou ativamenteda Semana de Arte Moderna. Ele proferiu o discurso inaugural no dia 13 defevereiro de 1922.

Canaã pode ser considerado o primeiro romance ideológico do Brasil, em que se discute o futuro do país e sua formação.

Augusto dos Anjos

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu em 1884, na Paraíba, e faleceu em 1914, em Minas Gerais. Sem ser moderno,

mas também sem ter

características simplesmente parnasianas ou simbolistas, Augusto dos Anjos é tipicamente um poeta de transição. Ele utilizou, em sua poesia, o vocabulário das ciências biológicas para falar da morte, da decomposição da matéria, dos vermes, expressando uma visão trágica da existência. Jogando admiravelmente com palavras estranhas e inusitadas em poesia, o que à primeira vista choca o leitor, Augusto dos Anjos conseguiu criar grandes efeitos rítmicos e sonoros, uma das causas da atração que sua obra exerce sobre nossa sensibilidade. Em seus versos escabrosos, macabros, desesperançados, o que surpreende é o vocabulário, cheio de termos científicos e antipoéticos como escarro, vômito, vermes, podridão. Sua obra poética está reunida no livro Eu (1912).

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco.

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Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há-de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra!

Referências

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