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Usos, percepções, instrumentos de gestão e sustentabilidade da flora do Estado de Sergipe

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Academic year: 2021

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Angelo Roberto Antoniolli

VICE-REITOR

André Maurício Conceição de Souza

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

COORDENADOR DO PROGRAMA EDITORIAL

Messiluce da Rocha Hansen

COORDENADORA GRÁFICA DA EDITORA UFS

Renata Voss Chagas

O CONSELHO EDITORIAL DA EDITORA UFS

Adriana Andrade Carvalho Albérico Nogueira de Queiroz Ariovaldo Antônio Tadeu Lucas Dilton Candido Santos Maynard Eduardo Oliveira Freire

José Raimundo Galvão

Cidade Universitária “Prof. José Aloísio de Campos” CEP 49.100-000 – São Cristóvão – SE.

Telefone: 2105 – 6922/6923. e-mail: editora@ufs.br www.ufs.br/editora editoraufs.wordpress.com

Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009.

Leda Pires Correa Maria Batista Lima

Maria da Conceição V. Gonçalves Maria José Nascimento Soares Pericles Morais de Andrade Júnior Vera Lúcia Correia Feitosa

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DE GESTÃO E SUSTENTABILIDADE

DA FLORA DO ESTADO DE SERGIPE

Organizadoras

Débora Moreira de Oliveira Allívia Rouse Carregosa Rabbani Laura Jane Gomes Renata Silva-Mann

São Cristóvão/SE 2014

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reprográficos, fonográficos e vídeográficos. Vedada a memorização e/ou a reprodução total ou parcial em qualquer sistema de processamento de dados e a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer programa juscibernético. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e a sua editoração.

Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro, às comunidades envolvidas, aos pesquisadores que participaram da pesquisa e à Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) pelo apoio científico.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

U86u Usos, percepções, instrumentos de gestão e sustentabilidade da flora do estado de Sergipe / Débora Moreira de Oliveira ... [at al.] . – São Cristóvão : Editora UFS, 2014.

412 p.

Disponível em: <www.genaplant.wix.com/genaplant> ISBN 978-85-7822-445-5

ISBN 978-85-7822-446-2 (online)

1. Desenvolvimento sustentável. 2. Gestão ambiental. 3. Plantas – Sergipe. I. Oliveira, Débora Moreira de.

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Sumário

APRESENTAÇÃO 7

PREFÁCIO 9

USOS 13

Usos dos quintais no Assentamento Agroextrativista São

Sebastião, Pirambu 15

Conhecimento local e uso de espécies arbóreas em

comunidades do Baixo São Francisco 43

Extrativismo e comercialização do junco (Scirpus sp.) e

ouricuri (Syagrus sp.) no Município de Pirambu 87

Conhecendo a flora místico-farmacológica do agreste

sergipano 127

PERCEPÇÕES 175

Elaboração participativa de material paradidático com estudantes da escola Municipal Zumbi dos Palmares em

Poço Redondo 177

Percepção e representações da natureza: o caso das crianças do

Assentamento Agroextrativista São Sebastião 203

Percepção ambiental dos moradores da Área de Proteção

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INSTRUMENTOS DE GESTÃO 253 Legislação e uso dos recursos genéticos vegetais 255 Políticas públicas para conservação da biodiversidade no

Estado de Sergipe 265

Análise dos sistemas de atendimento de denúncias por

crimes ambientais no Estado de Sergipe 283

Analise das autuações por crimes contra a flora em

Sergipe, 1995 a 2007 311

SUSTENTABILIDADE 329

Indicadores de sustentabilidade ecológica em

Assentamento Agroextrativista em Pirambu 331

Seleção de indicadores de sustentabilidade para

Carciniculturas de terras baixas em São Cristóvão 353

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Apresentação

Estudos veiculados pelo órgão estadual de Meio Ambiente in-dicaram recentemente que restam apenas 13% da vegetação nati-va no Estado de Sergipe. Por outro lado, são recentes os registros referentes à relação homem – natureza que possam contribuir para a construção de processos de gestão visando à conversação da vegetação nativa que resta no Estado, bem como na constru-ção de estratégias para a recuperaconstru-ção destas áreas.

Entende-se que não se pode pensar em gestão florestal sem o envolvimento da população que a conhece e a utiliza. Neste sentido este livro é uma coletânea de pesquisas desenvolvidas ao longo dos últimos dez anos, em parceria científica com docentes dos cursos de Engenharia Florestal, Agronômica e de Pesca, bem como de pós-graduações da Universidade Federal de Sergipe e, destes, com as novas gerações de profissionais que, com destaque, escolheram trilhar o caminho da pesquisa científica.

Com o intuito de apresentar os esforços multidisciplinares na conservação da biodiversidade, este livro divide-se em quatro partes, com os respectivos temas: usos, percepções, instrumentos de gestão e sustentabilidade. O primeiro tema apresenta quatro estudos construídos com base na etnociência, com ênfase na etnobotânica. No segundo tema trabalhou-se com base em conceitos de autores relacionados à Educação Ambiental. O terceiro tema, em seus quatro estudos, traz uma análise de importantes Instrumentos de Gestão florestal e faz algumas reflexões no intuito de contribuir para o fortalecimento da

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gestão florestal do Estado de Sergipe. O quarto e último tema é composto por dois estudos que utilizaram a metodologia MESMIS para a mensuração de sistemas de produção: um agroextrativista e outro para a carcinicultura em terras baixas.

Deste modo, espera-se que este livro possa ser uma aproxi-mação do diálogo entre os diferentes conhecimentos: ddasco-munidades envolvidas, das ciências e dos gestores de políticas públicas florestais.

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Prefácio

Nunca esteve tão na moda falar de conservação da biodiversi-dade, gestão de recursos naturais, sustentabilidade e uso racional da biodiversidade. Infelizmente, as reflexões científicas, políticas e ideológicas sobre como acessar esses temas na modernidade não avançaram no mesmo compasso. Estamos vivendo um momento, particularmente propício para abordar essas temáticas de forma mais objetiva, prática e cientificamente embasada devido, justa-mente, à popularidade desses temas. A opinião dos pesquisadores e cientistas está cada vez mais requisitada, especialmente para dar suporte a decisões que, não raro, afetam a sociedade em diferentes escalas. A produção de um conhecimento contextualizado surge, então, como um imperativo para prover a sociedade e os indiví-duos de informações que ajudem a entender o cenário em que atualmente vivemos em relação ao uso dos recursos naturais e que forneça os instrumentos para a tomada de decisões.

Todavia, quando nos referimos aos usos da biodiversidade, alguns conceitos se tornam patentes e, embora tenham vida e uso próprios, surgem fortemente conectados aos debates atuais. Destacam-se, nesse sentido, os seguintes termos: usos, percepções, instrumentos de ges-tão e sustentabilidade. Sem dúvida alguma, há muitos outros termos que estão associados ao discurso dos cientistas e ambientalistas, mas os citados refletem a orientação epistemológica/didática seguida pelas organizadoras deste livro, “Usos, percepções, instrumentos de gestão e sustentabilidade da flora do Estado de Sergipe”, o que considero uma escolha muito feliz. Vou explicar o porquê.

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Quanto ao “uso”, penso que faz parte de uma visão ingênua querer desvincular a biodiversidade de seu uso pelos seres hu-manos. Claro que seria ótimo, para fins de conservação ou pre-servação, que nós, seres humanos, pudéssemos deixar de explo-rar os recursos naturais. Porém, isso não é possível. Além disso, nossa dependência da natureza sempre foi grande e continuará sendo. Um passo importante para começarmos a tratar das ques-tões ambientais de forma contextualizada é aceitar que temos diferentes graus de dependência dos recursos naturais. Seja uti-lizando a diversidade vegetal para atender às nossas demandas médicas (no caso, as plantas medicinais), seja para atender a uma demanda econômica, a natureza oferece-nos uma base de segu-rança para o desenvolvimento de nossa cultura. Por isso, torna-se imperativo entender como nos apropriamos da natureza, para a partir disso, conciliar o uso de seus recursos com as necessidades de conservação.

Já a “percepção” das pessoas sobre a natureza é algo que vem motivando investigações em diferentes campos do saber, como a biologia, a psicologia e a geografia, no esforço de compreender como nós damos significado para aquilo que percebemos pelos nossos sentidos e que passa por diferentes filtros (sensoriais e cul-turais, por exemplo). Nesse contexto, torna-se importante estudar como as pessoas percebem as questões ambientais. As organiza-doras desse livro trazem, então, capítulos pautados em estudos de caso com enfoque descritivo, nos quais os usos e as percepções são apresentadas de modo a explicar um pouco sobre como a flora de Sergipe ganha contornos e significados para a sua gestão.

Esses textos/casos conduzem ao terceiro elemento do livro, que trata dos “instrumentos de gestão”. Obviamente que, quando nos referimos à conservação da biodiversidade, faz-se necessário o uso

(11)

Pr

ef

ácio

das ferramentas que possibilitam ao gestor tomar decisões. Esses instrumentos de gestão caracterizam-se por diferentes ferramentas que vão desde as políticas públicas até os pequenos mecanismos que permitem o seu cumprimento. Aqui, as organizadoras tiveram a preocupação de contextualizar o cenário para o estado de Sergipe, principalmente no capítulo que trata das “Políticas Públicas para a conservação da Biodiversidade no Estado de Sergipe”. Encerrando a obra, surge o termo “sustentabilidade”. A palavra encerra uma ideia que julgo bastante clara, mas extremamente difícil de mensurar e de se aproximar na prática. Afinal, como mensurar a sustentabilidade de determinada prática? Sem qualquer pretensão de oferecer um tratado sobre o assunto, encontramos neste livro um capítulo sobre “indicadores de sustentabilidade” que podem ajudar o leitor a com-preender um pouco dos desafios que a obra traz à tona.

Muito embora este livro aborde a flora de Sergipe, não tenho dúvidas de que será útil não só para aqueles que lutam pelas ques-tões ambientais no estado, sejam cientistas, pesquisadores, gesto-res, comunidades locais ou o público em geral, mas também para todo aquele interessado no futuro da biodiversidade em nosso país. Acredito, ainda, que este livro pode servir de inspiração para pesquisadores brasileiros, interessados em aproximar-se, cada vez mais, da realidade ambiental de sua região. Por fim, parabenizo as organizadoras e autores pelo desafio assumido e por mostrarem neste livro algumas das inúmeras possibilidades de estudos e refle-xões sobre a biodiversidade.

Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque

Laboratório de Etnobiologia Aplicada e Teórica - LEA Universidade Federal Rural de Pernambuco

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USOS

Usos dos quintais no Assentamento

Agroextrativista São Sebastião, Pirambu

Débora Moreira de Oliveira; Luiz Aquino Silva Santos; Laura Jane Gomes

Os sistemas de produção humanos que possuem por princí-pio a base ecológica/sustentável comportam uma visão sistêmi-ca que incorpora parte de uma lógisistêmi-ca de manejo produtivo que é concebida e empregada por populações tradicionais, e que permanece em inúmeros locais (SIQUEIRA; SILVA, 2008).

Dentro da etnobotânica existem diversos focos de estudo e uma das vertentes que ganha destaque está relacionada a investigações em um tipo de sistema de produção: os sistemas agroflorestais em áreas tropicais, notadamente, nos espaços conhecidos como quin-tais (ALBUQUERQUE; ANDRADE; CABALLERO, 2005).

As características do local conhecido no Brasil como quin-tal variam de acordo com diferentes países. Para os brasileiros, na maior parte das vezes, o termo relaciona-se ao terreno si-tuado no entorno da casa, onde o acesso se faz de forma rápi-da e cômorápi-da, e no qual se realizam ativirápi-dades como cultivos e criação de diversas espécies que proporcionam suprimento à família – sejam elas nutricionais, medicinais ou lenhosos (AMARAL; GUARIM-NETO, 2008).

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O quintal é um espaço que possui múltiplas funções e ca-racterísticas expressivas para o cotidiano doméstico. Ele pode se caracterizar desde um simples vazio, para o qual a habitação está voltada, até a um ambiente vivo e dinâmico envolvido ativamente na rotina da casa. Pode estar relacionado à ma-nutenção da vida familiar, ao cultivo de espécies frutíferas, verduras e legumes, bem como às funções de lazer, a exemplo do plantio de espécies ornamentais (DOURADO, 2004).

Além disso, os quintais são caracterizados como ambientes sus-tentáveis, visto serem uma das formas mais antigas de manejo por terra e ainda persistirem (AMARAL; GUARIM-NETO, 2008). No Brasil, Dourado (2004) destaca a importância dos quintais desde o início da colonização, como a casa rural, onde se deu boa parte das atividades e da aquisição da subsistência familiar.

O que se verifica, contudo, é que apesar da evidente mul-tiplicidade de usos humanos, das funções ecológicas e im-portância socioeconômica dos quintais, na literatura não se observam dados precisos sobre a diversidade florística e as variações encontradas em áreas tropicais (ALBUQUERQUE; ANDRADE; CABALLERO, 2005). Diante do exposto, esta pesquisa teve como objetivo, investigar os usos dos quintais pelos moradores do Assentamento Agroextrativista São Sebas-tião (PAE São SebasSebas-tião).

Área de estudo

O estado de Sergipe possui aproximadamente 21.918 Km² e situa-se na região Nordeste. O assentamento fica localizado na cidade de Pirambu, litoral norte, em área que compreen-de o Bioma Mata Atlântica e comporta uma população compreen-de

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USOS

USOS

8.369 habitantes distribuídos em 206 Km² de área (IBGE Ci-dades, 2011). A zona rural no município de Pirambu apresen-ta oito povoados, dentre eles Alagamar, que se diferencia por ser o mais distante da sede municipal (31 Km) (GONZAGA, 2007). Lá vivem em torno de 532 moradores, e está às mar-gens do Rio Betume, afluente do São Francisco e encontra-se no entorno da Reserva Biológica de Santa Isabel.

O Assentamento Agroextrativista São Sebastião, foi regu-larizado oficialmente no ano de 2006 em prol de 28 famílias antes pertencentes ao povoado Alagamar (PEREIRA, 2008). Devido às peculiaridades do ecossistema predominante na re-gião do assentamento (Restinga), a modalidade agroextrati-vista foi a que melhor se enquadrou no contexto local. Esta modalidade especial de assentamento rural foi regulamentada pela Portaria nº268/1996 do Instituto Nacional de Coloniza-ção e Reforma Agrária (INCRA), e tem como objetivo pos-sibilitar a exploração de recursos extrativos por comunidades locais em bases socioeconômicas e ambientais sustentáveis.

Os lotes localizados na agrovila do PAE São Sebastião fo-ram regularizados quando da criação do assentamento, e, portanto, foram delimitados em tamanho iguais, de 20x100 metros de extensão, totalizando 2.000m² por quintal. Todos os quintais possuem uma casa de no mínimo 6x14 metros, centralizada à frente do terreno. Os lotes residenciais ficam dispostos em torno de uma rua central, em ambos os lados. Os recursos dos assentados são obtidos por múltiplas ativida-des, notadamente as extrativistas, como o artesanato a partir da palha do ourizurizeiro (Syagrus coronata (Mart.) Becc.) e o extrativismo da mangaba (Harconia speciosa Gomes) e do coco (Cocos nucifera L.), bem como estratégias variadas: agricultura

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familiar de subsistência, criação de pequenos animais, pesca artesanal, pequeno comércio e assalariamento temporário na agricultura, além de benefícios governamentais como aposen-tadoria e bolsa família (PEREIRA, 2008).

Coleta de informações e análise dos dados

Observações e obtenção dos dados foram realizadas entre agosto e novembro de 2011. Houve contato inicial com as 28 famílias do assentamento, a fim de explicitar os objetivos do es-tudo e solicitar o consentimento de participação de um dos che-fes de família, aquele que se considerou mais familiarizado e/ou responsável pelo manejo do quintal (mantenedor do quintal). Porém, no momento da aplicação das entrevistas e estudo do quintal apenas 25 famílias encontraram-se disponíveis, ou seja, 25 quintais (89% do total de quintais do assentamento). Os dados foram obtidos por meio de 25 entrevistas (14 mulheres e 11 homens) semi-estruturadas abordando aspectos relativos à área do quintal com duas perguntas relativas à importância do quintal para a subsistência da família (Bloco I); três perguntas relativas à divisão de trabalho no quintal (Bloco II); três pergun-tas relativas ao manejo do quintal (Bloco III).

Todas as espécies de plantas citadas e presentes nos quintais foram coletadas sob a indicação dos informantes empregan-do a técnica da turnê-guiada (ALBUQUERQUE; LUCENA; ALENCAR, 2010) com os moradores na área de seus próprios quintais para buscar uma melhor interação entre pesquisador-colaborador. Após a coleta foram prensadas in situ para poste-rior secagem e herborização (SANTOS et al.; 2010). O material botânico foi depositado no herbário ASE, da Universidade Fe-deral de Sergipe, onde ocorreu a identificação.

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USOS

Um aspecto importante a ser relatado é a disposição e orga-nização dos quintais, assim foi elaborado um croqui para cada quintal a fim de caracterizar a fisionomia, com base tanto nos componentes verticais como nos horizontais, com a finalida-de finalida-de localizar as espécies e ifinalida-dentificar preferências no posicio-namento das diversas categorias de uso. Utilizou-se como base para este procedimento as medidas de altura e o Diâmetro ao Nível do Solo (DNS) ≥ 3 cm (MILLAT; MUSTAFA, 1998, apud FLORENTINO, ARAÚJO, ALBUQUERQUE, 2007).

Com base nos croquis, é possível averiguar a relação entre o tipo de quintal e o tamanho da família. A escolha da meto-dologia a ser empregada deve considerar o tempo dos plantios. As espécies com DNS ≥ 3 cm foram quantificadas para cada quintal, para as demais foi apenas registrada a ocorrência. Jus-tifica-se o uso do DNS (comumente utilizado em áreas do bioma Caatinga apenas para espécies lenhosas) em detrimento do Diâmetro ao Nível do Peito (DNP, comumente usado no bioma Mata Atlântica), devido à ocorrência de espécies jovens na área dos quintais. Como a criação do assentamento foi ofi-cializado há apenas seis anos, boa parte das espécies ainda não atingiu altura ao nível do peito e, no entanto, como estão em processo de crescimento e fazem parte da constituição destes quintais, é imprescindível catalogá-las.

Os tipos de uso dos recursos vegetais não madeireiros fo-ram distribuídos nas categorias definidas de acordo com Florentino, Araújo e Albuquerque (2007), a saber: alimen-tar, forragem, medicinal, ornamental, produção de sombra e outros usos. Para os recursos madeireiros foram utilizadas as recomendações sugeridas por Ramos; Medeiros e Albuquer-que (2010), em ambos os casos, levou-se em consideração o

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caráter êmico (interno, relativo à cultura local) das informa-ções e, por conseguinte, foram empregados os ajustes que se tornaram necessários para um melhor enquadramento.

As espécies foram identificadas quanto à abundância (Ab), ao número de unidades amostrais com ocorrência do taxon (NUA), as frequências absoluta (FAi) e relativa (FRi) dos taxa, além da área basal (AB) ocupada (ARAÚJO; FERRAZ, 2010).

A média de diversidade de espécies dos quintais foi comparada à origem dos entrevistados, para isso, empregando médias ponde-radas de diversidade de espécies dos quintais com moradores de origem de uma mesma localidade. Bem como averiguando, por meio da análise de Componentes Principais – PCA, a contribui-ção das variáveis para cada agrupamento visando a identificacontribui-ção de relações da origem dos entrevistados para a escolha de espécies que compõem a diversidade do quintal.

As entrevistas foram analisadas mediante a técnica do Dis-curso do Sujeito Coletivo (DSC), proposta por Lefreve e Lefre-ve (2005). Algumas informações que foram citadas durante o diálogo, mas, não se enquadraram nas perguntas inicialmente propostas, não foram descartadas, sendo apenas transcritas no texto; para os demais dados utilizou-se da estatística descritiva.

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USOS

USOS

Composição florística

Constatou-se 35 plantas com DNS ≥ 3 cm presentes nos quintais. Destas, 33 foram identificadas, agrupadas em 23 fa-mílias e 31 gêneros botânicos (Tabela 1). Este número de es-pécies é baixo quando comparado aos estudos em quintais de outras regiões, como exemplo na caatinga em que Florentino, Araújo e Albuquerque (2007) categorizaram 84 espécies. Em regiões urbanas inseridas na Amazônia Carniello et al. (2010) encontraram 240 espécies e Amaral e Guarim-Neto (2008) encontraram 94 espécies.

Convém ressaltar, que não foram encontrados trabalhos publicados em quintais no ecossistema de restinga.

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Tabela

1. Lista de espécies com diâmetr

o ao nív

el do solo ≥ 3 cm pr

esentes nos quintais do Assentamento

Agr

oextrativista S

ão S

ebastião, P

irambu, S

ergipe (AL=alimentícia; MD= medicinal; O = outr

os; RL= místico

religioso; OR = ornamental; A

b.= abundância; NU

A = númer

o de unidades amostrais de ocorr

ência do táx on i; F Ai= fr eqüência absoluta do táx on i; FRi= fr eqüência r elativ a do táx on i; AB= ár ea basal ocupada pelo táx on i em m²; ASE= r egistr o no herbário ASE). Família Espécie Nome popular Ca tegor ia A b. N UA FA i FR i AB m² ASE Anacardiaceae A nacar dium oc ciden tale L. Cajueiro AL,MD 13 9 36 4,48 7,38 20486 M ang ifer a indica L. Mangueira AL, MD 26 14 56 6,97 33,7 21162 Spondias pur pur ea L. Siriguela AL 3 3 12 1,49 0,06 21153 Annonaceae A nnona mur ica ta L. Gra violeira AL 8 7 28 3,48 0,49 22050 Apocynaceae Hanc or nia specios Gomes Mang abeira AL,MD 3 3 12 1,49 0,27 20444 Arecaceae Coc os nuf er a L. Coqueiro AL 127 24 96 11,94 1902 22048 Sy ag rus c or ona ta (Mar t.) Becc . ouricurizeiro AL, MD 106 19 76 9,45 398,67 20634 D ypsis lut esc ens (H. W end l.) Beentje & J . Dransf . Palmeira OR 5 2 8 1,00 0,01 207** Bixaceae  Bixa or ellana L. Coloral O 2 2 8 1,00 0,05 22049 Bromeliaceae A nanas sa tivus Sc hult. & Sc hult. F Abacaxi AL 1 1 4 0,50 0,01 221** Caricaceae Car ica papa ya L. Mamoeiro AL 28 11 44 5,47 198,07 20654 **N úmer

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USOS

USOS

Tabela 1. Continuação Família

Espécie Nome popular Ca tegor ia A b. N UA FA i FR i AB m² ASE Euphorbiaceae Ricinus c ommunis L. Mamoneiro O 4 3 12 1,49 20,88 20650 M anihot esculen ta C ran tz mandioca/macax eira AL 5 3 12 1,49 587,3 187** Ja tr opha cur cas L. pinhão ro xo O 4 3 12 1,49 0,04 20487 Leguminosae-Caes Tamar indus indica L. Tamarindo AL 1 1 4 0,50 0,02 21197 Leguminosae-Mim Inga c f fag ifolia G . Don Ing azeiro AL 1 1 4 0,50 0,29 255** Leguminosae-P ap Er ythr ina v ar iega ta L. ár vore v arieg ada OR 5 1 4 0,50 0,17 21173 Malpighiaceae M alpighia emar gina ta D C. Aceroleira AL, MD 4 3 12 1,49 0,06 20657 Malv aceae G os sy pi um ba rb ad en se L. Alg odoeiro O , MD 8 5 20 2,49 0,57 20636 Meliaceae A zadir ach ta indica A . Juss . Nim O 3 3 12 1,49 2,04 21163 Moraceae Ar tocar pus in teg rif olia L. f . Jaqueira AL 3 3 12 1,49 0,11 21182 Moring aceae M or inga oleif er a Lam. Moring a O 1 1 4 0,50 0,03 20652 Musaceae M usa par adisiaca L. Bananeira AL 109 20 80 9,95 13021,78 21186 Myr taceae Psidium guaja va L. Araçazeiro AL 14 4 16 1,99 10,25 20662 Psidium sp. Goiabeira AL 28 10 40 4,98 43,28 197** Eugenia uniflor a L. Pitangueira AL, MD 3 2 8 1,00 0,04 21196 Syz yg ium cumini (L .) Sk ee ls jamelão/manjelão AL 3 2 8 1,00 0,49 218** Passifloraceae Passiflor a edulis Sims Maracujá AL, MD 3 3 12 1,49 0,04 20483 Poaceae Sac charum officinarum L. Cana AL 8 5 20 2,49 133,77 227** Rubiaceae G enipa amer icana L. Jenipapeiro AL 7 5 20 2,49 1,51 21175 Rutaceae Citrus aur an tium L. Laranjeira AL 66 18 72 8,96 6,35 20655 Citrus sp. Limoeiro AL,MD 11 6 24 2,99 0,61 22051 Solanaceae Capsicum frut esc ens L. Pimenteira AL, MD 6 4 16 1,99 0,25 20656 **N úmer

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As famílias botânicas de maior frequência foram Myrtaceae (4), Anacardiaceae (3), Euphorbiaceae (3) e Arecaceae (3). As espécies se enquadraram em quatro categorias de uso, a saber: Alimentícias (24), Medicinais (10), Ornamentais (2) e Outras (6). Ocorreram ainda sete espécies consideradas úteis pelos moradores. Estas espécies são cultivadas e foram computa-das apenas na forma de presença e ausência, para cada quintal, sendo elas: abóbora (Cucurbita moschata Duchesne, NUA=2); melancia (Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai, NUA=1); batata doce (Ipomoea batatas (L.) Lam., NUA=7); boa noite (Catharanthus roseus (L.) G. Don, NUA=2); man-jericão (Ocimum basilicum L., NUA=12); hortelã grande/si-gulera (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng., NUA=5); e hortelã pequeno (Mentha sp., NUA=1).

Em associação às áreas destinadas ao plantio de batata doce e macaxeira (Manihot esculenta Crantz) foram encontradas es-pécimes de coqueiros (Cocos nucifera L.), mamoeiros (Carica

papaya L.) e mangueiras (Mangifera indica L.), padrão

encon-trado também em estudos na região de caatinga (FLOREN-TINO; ARAÚJO; ALBUQUERQUE; 2007); que, no caso do presente estudo, parece refletir três diferentes situações: 1) o melhor aproveitamento de espaço; 2) o não planejamento prévio de áreas de plantio e 3) a manutenção de espécies es-pontâneas - como no caso dos ouricurizeiros - que já existiam antes da implantação do assentamento.

Todas as 10 espécies (com DNS ≥ 3 cm) de maior ocorrência e abundância nos quintais se enquadraram na categoria Alimen-tícia; destas, três se destacaram pela ênfase dada pelos morado-res à sua importância econômica e social, a saber: coqueiro com 127 unidades catalogadas em 24 quintais; as bananeiras (e/ou

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USOS

USOS

indivíduos isolados) ocorreram 129 vezes em 20 quintais; e o ouricurizeiro, com 106 ocorrências em 19 quintais (Tabela 1).

Pulido et al. (2008) afirma que, dentro do conceito de cul-tura, espera-se que a ação humana em relação ao manejo e à seleção de espécies sejam afetadas por elementos que fazem parte dos costumes locais. Assim, estabelecer um quintal é questão de status social em diversas culturas, desta forma as espécies estabelecidas nos quintais refletem o nível socioeco-nômico da família. Portanto, de acordo com este autor, pode-se inferir que a predominância visível de escolha de espécies alimentícias por parte dos moradores e a escassez de citação/ presença de espécies ornamentais coincide com a situação so-cioeconômica do PAE São Sebastião: de agricultura familiar de subsistência, dentro dos moldes de um assentamento de reforma agrária com tempo recente de criação.

Origem do informante e diversidade de espécies

A origem dos moradores, que se consideraram os principais responsáveis pelo cuidado com o quintal, variou nas 25 resi-dências. As pessoas advieram do povoado vizinho, Alagamar (15), de um município vizinho a Pirambu, Pacatuba (7), de outro município de Sergipe (Ilha das Flores, 1) e do estado de Alagoas (2). Em relação à média ponderada da diversidade de espécies encontradas nos quintais em relação à origem dos entrevistados, houve uma maior diversidade de espécies nos quintais de moradores de Alagoas (média=12) e de Pacatuba (média=9,8), e apenas uma espécie no quintal de morador de origem de outro município.

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Os moradores de Alagoas mantinham estreito contato entre as famílias e a quantidade de diferentes espécies presentes nos quintais era semelhante, o que pode ser explicado pela cultu-ra de cultivo dos quintais advinda da localidade de origem. O mesmo ocorreu para os quintais de Pacatuba. A menor média de diversidade de espécies para os moradores de origem no po-voado Alagamar (média=7,26) pode estar relacionada a dois fa-tores: 1) estes assentados possuem um maior conhecimento da flora nativa local, o que faz com o que o plantio de espécies nos quintais seja menor pela disponibilidade de espécies alternativas na mata; ou 2) a maioria possui parentes e/ou outra residência no povoado vizinho, e, portanto, utilizam recursos de ambos os quintais – com a vantagem de que as casas do povoado vizinho, segundo os entrevistados, possuem abastecimento de água que facilita o processo de irrigação.

Por meio da Análise de Componentes Principais (ACP), os grupos formados não são explicados pela origem (Figura 1). Sugere-se que a escolha de espécies para os quintais está relacionada à necessidade de obter maior diversificação de ali-mentos básicos do que à origem dos entrevistados.

Apenas dois quintais, Pacatuba (23) e Alagamar (24) não apresentaram as espécies encontradas nos demais quintais.

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USOS USOS Pac1 Ala2 IF3 AL4 Ala5 Pac6 Ala7 Pac8 Ala9 Pac10 Ala11 Ala12 Ala13 Ala14 Ala15 Pac16 Ala17 ALA18 Ala19 Ala20 Ala21 Pac22 Pac23 Ala24 Ala25 -2,4 -1,2 1,2 2,4 3,6 4,8 6 7,2 Component 1 -8 -6,4 -4,8 -3,2 -1,6 1,6 3,2 C om ponent 2

Figura 1. Análise de componentes principais (ACP) para os quintais estudados do Projeto de Assentamento São Sebastião, de acordo com a origem dos entrevistados e as diferentes espécies presentes (Ala=Alagamar; Pac=Pacatuba; IF=Ilha das Flores; ALA=Alagoas).

Convém destacar que o quintal Pac23 (Pacatuba, nº 23) foi um dos mais bem estruturados em diversidade de espécies, e, provavelmente, sua diferenciação se deu tanto pela ocorrência de espécies menos comuns no assentamento (cana-de-açúcar, manjelão e pimenteira) – quanto pela ausência de espécies como ouricurizeiro e mamoneiro. O quintal Ala24 (Alagamar, nº24), semelhantemente, teve inclusive a presença de espécies exclusivas – como o ingazeiro e o umbuzeiro.

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Estrutura

Nos 25 quintais visitados 11 possuem casas de fogo, onde é preparada a comida, que, são as antigas moradias dos as-sentados feitas de pau-a-pique, onde ficam os fogões à lenha. Quatro quintais possuem galinheiro, e em quinze se criam as galinhas soltas. Oito possuem pequenas hortas e dois possuem barracos que funcionam como depósitos. A ornamentação va-ria de nula (15 quintais), a escassa (7 quintais) - com apenas dois ou três representantes de palmeiras – e, abundante (3 quintais). Em todos os quintais foi encontrado acúmulo de lixo. A prefeitura local (Pirambu) não recolhe o lixo na locali-dade, que é acumulado no quintal em pontos distantes da casa para depois queimá-lo ou enterrá-lo.

As espécies com maiores valores de frequência absoluta e relativa dos taxa se enquadram na categoria alimentícia (Tabe-la 1), evidenciando a importância das espécies frutíferas para a complementação da alimentação familiar e a influência des-tas na estrutura vertical e horizontal dos quintais. Florentino, Araújo & Albuquerque (2007) afirmam que, mesmo diante das amplas funções exercidas pelos quintais, a principal, em todas as regiões é a produção de alimentos, constituindo fa-tores essenciais à economia local e à autosuficiência familiar.

A área basal (AB) representa a área que a espécie ocupa com a base de seu tronco. A área total de espécies com DNS ≥3 cm encontradas nos 25 quintais foi de 50.000 m². A ba-naneira, espécie com maior área basal, ocupa 26% da área total dos quintais. Isto ocorre devido às brotação de rebentos, que inviabiliza a ocupação da área dos terrenos ao redor delas, e, portanto, foi computada como área basal pertencente às

(29)

USOS

USOS

brotações. O mesmo ocorreu para a cana-de-açúcar. Diante destes dados, pode-se pensar que a maior parte do terreno dos quintais é aproveitada, no entanto, não é esta a realidade. As demais espécies, com poucas exceções, estão com valores bem distantes dos valores de área basal ocupados pelas bananeiras. Assim, a soma total de áreas basais ocupadas é de 15.783,39 m², o que equivale a 31,6% da soma da área dos quintais aproveitada.

Analisando-se os croquis (Figura 2) pode-se contatar que a distribuição das espécies com DNS ≥ 3cm não segue um padrão, nem no plano horizontal nem no vertical, apenas as espécies de horta e ornamentais se localizam predominante-mente no entorno da casa, num raio máximo de 15 m, no entanto, ambas são encontradas em poucas unidades residen-ciais. As espécies comuns como coqueiro, bananeira e ouricu-rizeiro, de grande porte, foram os principais componentes da estrutura horizontal nos quintais. Porém, mesmo estes espaços tendo o mesmo tempo de criação, a altura média das espécies variou entre um (espécies jovens) e 15 m.

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Figura

2. C

roquis de quintais (A, B e C) do P

rojeto de Assentamento S

ão S

ebastião, P

irambu, S

(31)

USOS

USOS

Grande parte da área do quintal não é considerada um quintal propriamente dito pelos moradores, pois o quintal para os entrevistados é apenas a parte em que estes efetuam algum tipo de cuidado/manejo. Assim, as zonas do quintal, pertencentes a cada lote residencial, em que os moradores não realizam estas atividades acabam se tornando uma extensão da mata nativa local. Desse modo, os moradores costumam dividir seus quintais, com o auxílio de cercas, entre os 50 e os 70 m. A primeira parte (mais próxima a casa) é mais roçada e organizada, já a segunda, onde são encontradas mais espécies nativas, é geralmente usada para a criação de cavalos e a tercei-ra (última) é tomada pela mata nativa.

Nos croquis houve predominância de três tipos representa-tivos de quintais. O tipo A é caracterizado por ampla área não cultivada (mata expontânea nativa) e poucas espécies com DNS ≥3 cm, e quatro quintais se enquadraram nestas características; o tipo B é coberto em toda a sua extensão por vegetação rasteira e/ou em processo de rebrota, pois os moradores roçam toda a área, e um grande número de espécies está distribuído mais espaçadamente até cerca de 80 m, com dois quintais representa-dos no local. Por fim, 19 quintais se enquadram no tipo C, com quintais divididos em uma ou duas partes, e sua área cultivada não ultrapassa os 60 m, com menor número de espécies que o quintal B, porém, mais concentradas.

Seria plausível pensar que o número de pessoas na família influenciaria no número e na qualidade de espécies cultivadas no quintal, visto que maior número de pessoas exigiria maior quantidade de alimentos e, menor número de pessoas exigiria menos; e também forneceria menos mão-de-obra para o cul-tivo no quintal. No entanto, verificou-se que, para a

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localida-de estudada, o número localida-de pessoas na família não influenciou nos croquis (Figura 3). Nos quintais pouco cultivados (tipo A) ocorrem famílias com até sete membros. Um dos quintais do tipo B (o com maior aproveitamento de espaço e maior plantio de espécies) tem apenas o casal como moradores, e nos quintais do tipo C, a maioria para a presente localidade, ocorreu uma família com até 10 membros.

Figura 3. Relação entre o tipo croqui em que o quintal se enquadra e o tamanho da respectiva família do Projeto de Assentamento São Sebastião, Pirambu, Sergipe.

O número de ouricurizeiros na zona quintal-mata é signifi-cativo, porém, estes não foram computados por serem locais de difícil acesso aos pesquisadores devido à mata alta. Mesmo nesta zona que é descaracterizada como quintal, todos os morado-res relataram que fazem uso destes ouricurizeiros. Isto reforça a idéia de que esta parte do quintal funciona como uma extensão

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USOS

USOS

da mata nativa, já que os moradores não têm tempo e/ou inte-resse de cultivar a totalidade do espaço do quintal. Estes consi-deram essa área como uma parte não efetivamente utilizada e a desqualificam– como se percebe nos comentários:

“Aí é só mato minha filha...dá até vergonha” M, q19, 48 anos.

“O que tem mais aí é mato, é pouco o que se aproveita!” M, q24, 42 anos.

Esta relação quintal-mata é confirmada por Pulido et al. (2008), que afirma que, ao nível de paisagem, os quintais fa-zem parte de um mosaico de sistemas agrícolas misturados à vegetação natural, e, também, que a proximidade destes aos recursos florestais facilita a coleta e torna o cultivo nestas áreas desnecessários. Neste estudo, a permanência da zona quintal -mata pode promover a melhor manutenção das espécies na-tivas úteis a exemplo do ouricuri, que segundo os moradores, encontra-se com baixa densidade na área do assentamento, o que contribui para se percorrer quilômetros para encontrá-lo a fim de extrair as palhas para artesanato. No entanto, para às demais espécies presentes na zona quintal-mata, quando a área do quintal é aproveitada com outros cultivos ou é roçada para a limpeza da área elas são retiradas, permanecendo ape-nas os ouricurizeiros isolados na paisagem. Entende-se, por-tanto, que a zona-quintal mata é vista pelos moradores como uma área que ainda não teve sua potencialidade explorada, para a segurança alimentar, um dos papéis dos quintais, e fica comprometida quando a área está tomada pela mata nativa.

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Importância, divisão de trabalho e manejo no quintal

Quando questionados sobre a importância do quintal para a família foi possível identificar dois Discursos do Sujeito Co-letivo (DSC’s) com base na idéia central (IC) de que há pouca ou nenhuma representatividade do quintal no sustento da fa-mília; e, outro que afirma o contrário, inclusive agregando ou-tros elementos que não o da subsistência, conforme podemos ver na composição de expressões-chave (Ech) que formaram os três discursos a seguir:

DSC¹ “Tá dando pouca coisa. É mais pra o consumo da casa mesmo. Ajuda com algumas frutas, banana, coco, mamão, e com as galinhas”

DSC² “Por enquanto não ta ajudando com nada. Não tá botando ainda”; DSC³ “O meu sustento é ótimo! Daqui eu tiro de tudo. E nós tem lazer, tem sombra...é um pomar sabe?”

Os entrevistados que se enquadraram no DSC¹ foram 23, enquanto que dois se enquadraram no DSC² e um no DSC³. Isso demonstra dois fatos: 1) por serem quintais de pouco tem-po de uso (cerca de oito anos) as espécies de ciclo longo ainda não produzem, por isso, moradores que as escolheram (a maio-ria) para compor o seu quintal ainda não possuem recurso para o sustento familiar proveniente do quintal; 2) a falta de aprovei-tamento das áreas do quintal com espécies anuais, visualizado no tópico anterior, contribui para a falta de recursos.

Ao serem questionados sobre a importância relativa do lote, do quintal e da mata para o sustento familiar

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buscou-USOS

USOS

se comparar a importância destes três locais com a obtenção de recursos. Foi possível identificar, três DSCs que refletem a escolha do lote ou da mata, ou de ambos:

DSC4 “O lote é mais importante porque tem maior quantidade de produtos. Principalmente por causa da farinha de mandioca e das mangabas, pra quem tem” DSC5 “Tanto o lote quanto a mata, por conta das plantações e da mangaba, mas bom mesmo é quando tá no tempo da mangaba”

DSC6 “A mata é a mais importante, por conta da cata da mangaba e das palhas do artesanato”.

O DSC4 foi citado por 16 entrevistados, seguido do DSC5

com quatro respostas enquadradas e do DSC6 com três. Apenas

um morador afirmou que os mais importantes eram o quintal e o lote, o mesmo que se enquadrou no DSC³, e outro que todos eram importantes. A questão é que o lote, escolhido pela maio-ria dos entrevistados, como mais importante na atual realidade do PAE São Sebastião, fornece uma grande quantidade de pro-dutos, porém com diversidade relativa baixa (mandioca, milho, batata doce, coco e manga) quando comparado ao potencial do quintal. Conforme relato dos moradores, é possível um cuida-do com espécies classificadas localmente como “mais exigentes”, com a rega – comumente efetuada pelos moradores quando as espécies cultivadas nos quintais estão se estabelecendo – que permite qualidade e diversificação na alimentação:

“Essas plantas (horta) a gente tem que regar sempre, aí tem que ficar no quintal...não dá pra botar na roça quê não dá

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pra levar água até lá, lá fica as mais fortes igual mandioca” H, q7, 48 anos.

Existe diferença na distribuição de espécies como o ouricu-ri e a mangaba nos lotes. Na transição entre acampamento e assentamento os lotes foram separados e distribuídos median-te sormedian-teio, portanto, alguns moradores têm abundância dessas duas espécies, enquanto outros não. Os primeiros afirmam que o lote é importante, pois raramente precisam recorrer à mata para catar mangaba e palha de ouricurizeiro, enquanto os de-mais optam ou pela mata ou por ambos, não querendo deixar de valorizar nem os produtos extrativos nativos nem a roça.

Quanto à pergunta, quais membros participam do cuida-do cuida-do quintal, os entrevistacuida-dos afirmaram que além deles, o conjugue participa do cuidado com o quintal (3H e 4M); que cuidam sozinhos (3H e 3M); participam junto com os filhos (2H e 3M); que todos na família participam (2H e 3M); que atribuem mais tarefas aos filhos (1H e 1M), mas ainda as-sim se consideram os principais responsáveis pelo zelo com o quintal. Verifica-se, portanto, que não há um consenso quan-to aos participantes do cuidado com o quintal.

É importante ressaltar que os homens que afirmaram cuidar de seus quintais sozinhos (3) ou com os filhos (2) apresentaram espontaneamente as duas primeiras justificativas abaixo, ou de ausência dos filhos ou de incapacitação da mulher por falta de tempo e/ou saúde. Bem como, no geral, as mulheres entrevis-tadas que afirmaram realizar as tarefas junto ao conjugue (4) e junto à toda a família (3) informaram que os maridos dedica-vam menos tempo às atividades no quintal devido à manuten-ção constante por parte deste gênero nas roças familiares; e que

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USOS

USOS

os filhos recebiam pequenas funções, configurando-se como um tipo de treinamento. Conforme os relatos:

“Eu fico sozinho, meus filhos tão tudo em outros estados, e o trabalho da mulhé é fazê trança” H, q5, 65 anos “Eu e meus filhos, a mulher não aguenta porque tem problema nos braços” H, q11, 52 anos

“Eu é quem cuido, o marido cuida do campo, ele ajuda no quintal mas é pouco” M, q18, 53 anos.

Verifica-se, portanto, que a maior participação das mulheres em atividades do lar reflete ainda o maior domínio e autonomia do gênero feminino nesta esfera (BRUMER, 2004, PULIDO, et al., 2008), e ao contrário, a ida dos homens ao campo se configura como atividade mantenedora do sustento alimentar da família, pontuado apenas por ajudas passageiras em atividades relacionadas ao ambiente doméstico (incluindo os quintais).

Com a segunda questão procurou-se investigar quais membros da família trabalham com maior intensidade no quintal. Obteve-se, para os 17 informantes que afirmaram não realizar a tarefa de manejo do quintal sozinhos, que: nove cuidam mais do quintal, eles mesmos; que em quatro quintais o cuidado é distribuído igual-mente, isto é, todos realizam coletivamente as mesmas tarefas; três afirmaram que os filhos cuidam mais do quintal; e apenas um afir-mou que ele e o conjugue têm maior responsabilidade.

A pergunta seguinte foi semelhante à anterior, no entanto, buscou-se entender se há diferenciação de tarefas entre os par-ticipantes no cuidado com o quintal (17 entrevistados afirma-ram não realizar sozinho o manejo do quintal). Foi possível

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construir dois DSCs referentes às tarefas atribuídas aos homens (narrados pelas mulheres) e aos filhos e mulheres (narrados pe-los homens), ficando notório que, apesar das mulheres terem um maior domínio da organização do quintal, as tarefas mais leves ficam incumbidas a elas e às crianças. As primeiras, por terem outras tarefas domésticas e de produção (como o arte-sanato) que as ocupam; as segundas pelo caráter educativo das

tarefas. Os discursos foram assim constituídos: DSC7

DSC7 “As mulheres e as crianças ficam mais na primeira parte do quintal, varrendo, limpando. Na hora de plantá eu cavo e eles plantam”

DSC8 “O marido baixa os mato, eu e os meninos mais varremos e plantamos”

Com a questão O que você faz para cuidar do seu quintal? buscou elucidar as técnicas de manejo empregadas. Em todos os quintais os responsáveis afirmaram que realizam atividade de roçagem e limpeza do matos que crescem (pelo menos no entorno da casa). A aplicação de adubo orgânico (seis quintais) se dá tanto de forma processada, como com adubos prepara-dos com excrementos de galinha e restos de vegetais; como de forma direta, com o amontoamento de restos de plantas sobre as raízes das espécies consideradas mais sensíveis pelos participantes da pesquisa. O adubo químico (cinco quintais) é utilizado em coqueiros e laranjeiras. Em dois quintais se faz uso de adubo químico e orgânico.

Constatou-se, que nos quintais no Projeto de Assentamen-to São Sebastião predominam técnicas simples de manejo, sendo enquadrado como manejo tradicional, que segundo

(39)

USOS

USOS

Huai e Hamilton (2009), são caracterizados pela baixa entra-da de insumos e uso de tecnologias simples, tendo o trabalho humano como única entrada.

Em resposta ao questionamento sobre a origem do apren-dizado do cuidado com o quintal, todos os moradores infor-maram que aprenderam com os pais desde jovens, assim foi possível formar um único DSC:

DSC9 “Agente nasce nessa vida. Desde pequeninho os pais ensina agente a fazer as coisas, leva agente pro quintal... agente vai se virando, observando também os vizinhos, de modo que aqui todo mundo sabe fazer isso”.

Esta pergunta foi feita para averiguar a existência de assistên-cia técnica para os assentados, na forma de cursos de capacita-ção. Os assentados afirmaram ter conhecimentos passados de pai para filho, que apesar de essenciais, muitas vezes carecem de complementação técnica. Na literatura a escassez de assistência técnica à agricultura familiar é ampla, afetando diretamente os aspectos socioeconômico-ambientais regionais (SCHMITZ, 2002). No entanto, há atuação de técnicos contratados pelo Ministério do desenvolvimento Agrário, principalmente nas áreas dos lotes produtivos dos assentados. Existe também uma iniciativa recente de instalação de hortas nos quintais, de modo que a carência de assistência tem sido minimizada.

Em resposta à penúltima questão, sobre possíveis espécies que possuem algum tipo de tratamento especial, os moradores citaram: coqueiro (5), que precisa ser adubado; olerícolas (2), que precisam ser regadas; os demais citaram espécies que mor-reram logo ao brotar como jaca, mamão e tomate (Solanum

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lycopersicum L. 5) ou não responderam (6). Onze afirmaram

que não havia nenhuma espécie com tratamento especial. E ainda, uma última pergunta foi feita: “O que você gostaria de

acrescentar/retirar para melhorar o seu quintal?” Nenhum dos

entrevistados citou algo que pudesse ser retirado e, como dese-jo de acrescentar foram citadas várias espécies frutíferas (jaca, jambo, acerola, mamão, uva, maçã, carambola, abacate, pi-tanga etc.) e o desejo de ter hortas (3). Sete não souberam o que responder. Interessante notar que nem mesmo o lixo foi lembrado pelos moradores como algo a ser retirado, bem como a escassez de água para irrigação não foi lembrada para ser adicionada. O foco dos assentados voltou-se às espécies frutíferas e hortaliças que, de imediato, proveriam mais fontes de alimentação para a família – novamente reforçando o po-tencial de segurança alimentar atribuído aos quintais.

Considerações finais

A hipótese inicial de que as espécies escolhidas para forma-ção dos quintais no Projeto de Assentamento São Sebastião têm, predominantemente, o caráter de contribuir para a ali-mentação das famílias, foi confirmada. Segundo depoimentos pode-se inferir que a quantidade de alimentos produzidos e obtidos tem sido suficiente, no entanto, os quintais não são os únicos provedores destas espécies, somando-se à produção nos lotes/roças. Sob o aspecto qualitativo, na percepção dos entrevistados, ainda há pouca variedade de espécies. Portanto, existe uma tendência por parte dos moradores de aumentar a diversificação de espécies. Além disso, as práticas de manejo poderiam ser melhor empregadas, a exemplo do

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aproveita-USOS

mento dos resíduos orgânicos das residências para a compos-tagem, ao invés do descarte a céu aberto.

A zona quintal-mata, muito evidente na localidade, não é vista como área que pode ser aproveitada, exceto pela uso da espécie ouricurizeiro. As demais espécies nativas alimentícias e/ou medicinais não são aproveitadas nessas áreas, e não há nenhum tipo de iniciativa no sentido de estabelecer um ma-nejo agroflorestal. Quanto ao uso da área, os moradores reco-nhecem que o quintal não está sendo aproveitado no máximo de sua capacidade, no entanto, a pouca infraestrutura local como a falta de abastecimento de água, e a baixa articulação de cooperação entre os moradores do assentamento têm con-tribuído para a permanência desta realidade.

Portanto, pode-se concluir que para que os quintais estudados possam, ao longo do tempo, exercer outras funções além das que atualmente exercem (alimentação e medicinal), tais como lazer e ornamentação, alguns obstáculos devem ser trabalhados, como o acesso aos serviços básicos de saneamento (água, coleta de resídu-os) e uma extensão rural integrada à gestão participativa.

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(43)

USOS

Conhecimento local e uso de espécies

arbóreas em comunidades do Baixo São

Francisco

1

Bruno Antonio Lemos de Freitas, Allívia Rouse Carregosa Rabbani, Laura Jane Gomes, Suzana Russo Leitão, Adonis Reis de

Medeiros Filho e Renata Silva-Mann

A degradação do meio ambiente proporciona problemas econômicos, sociais e políticos. A utilização irracional e des-mesurada do ambiente acarreta graves danos de ordem mate-rial, ocasionando prejuízos irrecuperáveis (RABBANI, 2013), e tem levado ao esgotamento dos recursos naturais existentes e ao aumento na destruição dos ecossistemas. Visando reverter essa situação, estudos são realizados com o intuito de preser-var e conserpreser-var os recursos vegetais e a vida silvestre.

As pesquisas dessa grandeza apontam para aspectos posi-tivos e negaposi-tivos da intervenção humana nas comunidades vegetais, tanto em relação à estrutura, evolução e biologia de determinadas populações de plantas, como também, promo-vendo e beneficiando o manejo adequado desses recursos (AL-BUQUERQUE & ANDRADE, 2002).

1 Parte dos resultados do projeto de Desenvolvimento Científico Regional intitulado “Caracterização de genótipos de canafístula (Cassia grandis L.f.) e juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.): espécies de potencial econômico localizadas no Estado de Sergipe” financiado pela Fapitec/CNPq.

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Os conhecimentos desse segmento têm sido preserva-dos pela transmissão verbalizada, sendo facilmente perdipreserva-dos no decorrer do tempo. Para Guarim-Neto, Santana e Silva (2000), a transmissão da cultura popular entre as gerações tende à diminuição ou ao desaparecimento com o avanço da modernidade, reforçando assim a necessidade do registro do saber popular de comunidades locais.

O estudo das interações de populações tradicionais com as plantas e o modo como elas utilizam esses recursos, tem ajudado na conservação de muitos recursos naturais. Assim, de forma abrangente, esta interação compreende o estudo de comunidades humanas e suas interações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas (FONSECA -KRUEL & PEIXOTO, 2004).

Portanto, o conhecimento local pode servir como subsídio às pesquisas que visam à proteção das espécies e uso sustentável dos recursos, contribuindo com o resgate e valorização de conheci-mentos e hábitos perdidos com o passar do tempo, já que o ter-ritório brasileiro abriga uma das floras mais ricas do mundo, da qual 99% são desconhecidas (GOTTLIEB et al.,1998).

Conhecimento local no Estado de Sergipe

Em Sergipe, há uma década se iniciaram pesquisas relaciona-das ao conhecimento tradicional, o que resultou, até o momento, em poucos registros dos conhecimentos locais ou tradicionais das comunidades do Estado. Uma forma de abordagem nas comu-nidades é por meio de questionários semi-estruturados (SILVA, 2003; OMENA, 2003; BOTELLI, 2010; LIMA, 2010; OLI-VEIRA, 2012; FREITAS, 2013). Nesse método perguntas são

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USOS

previamente estabelecidas pelos pesquisadores, porém apresen-tam flexibilidade que permitem aprofundamentos nos elemen-tos que surgem durante a entrevista (ALBUQUERQUE et al., 2010).

Um dos primeiros trabalhos foi realizado por Silva (2003) e tratou do uso popular de plantas medicinais com fins farmaco-lógicos contra distúrbios do trato gastrintestinal no Povoado Colônia Treze, município de Lagarto. Paralelamente, foram realizados estudos na mesma linha de investigação, contudo para espécies da Caatinga do município de Porto da Folha, que agissem no sistema nervoso central (OMENA, 2003).

Mais recentemente, foi apresentado o primeiro trabalho deste gênero no entorno do Parque Nacional Serra de Itabaia-na, registrando o uso popular de comunidades daquela região (BOTELLI, 2010). Nesta pesquisa constatou-se o desinteresse dos jovens da região em relação aos conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais, o que contribui para uma perda significativa de tais saberes tradicionais ao longo das gerações.

No mesmo sentido, Lima et al. (2010) realizou um levanta-mento do conhecilevanta-mento tradicional com 180 espécies e o uso destas por especialistas locais por meio de questionários semi -estruturados e turnês guiadas, em quatro comunidades rurais do entorno do Parque Nacional Serra de Itabaiana, margea-das pelo rio Poxim-Açu, são elas: Pedrinhas e Caroba no mu-nicípio de Areia Branca, e Cajueiro e Ladeira localizadas em Itaporanga d’Ajuda. Estas áreas caracterizam-se por estarem situadas em uma transição entre os Biomas Mata Atlântica e Caatinga, ocorrendo exemplares de fauna e flora de ambas as localidades. As espécies foram agrupadas em cinco categorias quanto ao uso: combustível, místico-farmacológico,

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alimen-tar, madereiro, outros usos, sendo o primeiro predominante na pesquisa. O autor constatou ainda a similaridade de conhe-cimento entre os especialistas das comunidades.

No município de Pirambu, no assentamento agroextrativis-ta São Sebastião, inserido no Bioma Maagroextrativis-ta Atlântica, Oliveira (2012) estudou a relação dos moradores com o ambiente natural que os rodeia e o uso botânico que fazem dele, juntamente com o uso dos quintais. Foram identificadas 106 espécies e agrupadas em sete categorias de uso: alimentícia, medicinal, combustível, artesanal, místico-religiosa, ornamental e outros. A autora cons-tatou ainda a importância do quintal para o sustento familiar e observou a pressão de uso sofrida por algumas espécies da região, apontando assim a necessidade de novos estudos e a elaboração de estratégias sustentáveis no assentamento.

No Bioma Caatinga, Freitas (2013) realizou levantamento etnobotânico no Assentamento São Judas Tadeu, em Porto da Folha, onde o autor trabalhou de forma participativa, aplican-do métoaplican-dos como a lista livre e o exercício de pontuação adap-tados para aquela realidade. Nesta pesquisa foram citadas 44 espécies, classificadas em seis categorias de uso: medicinal hu-mano, medicinal animal, alimento huhu-mano, alimento animal, lenha, e outros, sendo a primeira predominante. Com isso, o autor constatou a importância de espécies como o matruz, catingueira, umbú, umbu-cajá, mandacaru e macambira, para os moradores, além da riqueza do saber popular.

Diante da riqueza existente sobre o conhecimento e uso das plantas, este trabalho propôs registrar o conhecimento local e identificar os usos para as espécies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa

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USOS

foram escolhidas devido à sua importância econômica e de con-servação para o estado e por já serem alvo de diversas pesquisas realizadas (SILVA-MANN et al., 2013; RABBANI et al., 2012; GOIS, 2010; SANTANA et al., 2008) pelo grupo idealizador do projeto, o Grupo de Pesquisa em Conservação, Melhora-mento e Gestão de Recursos Genéticos (GENAPLANT).

Área de trabalho

Os povoados de atuação foram o Alto Verde e o Assen-tamento Modelo localizados em Canindé do São Francisco, além do Assentamento Borda-da-Mata no município de Ca-nhoba, localizados em cidades do Baixo São Francisco.

A primeira comunidade visitada foi a de Borda-da-Mata (10º5’8” S, 36º56’53” O), localizada no município de Ca-nhoba (Sergipe). Segundo relatos dos moradores, o povoado foi estabelecido como assentamento de reforma agrária em 1982 decorrente da demanda de antigos trabalhadores rurais.

Esta região tem apresentado ocupação e mudança do uso do solo muito rápida, comprometendo a área de ocorrência natural de espécies florestais (GARRASTAZU & MATTOS, 2013).

O segundo povoado o Alto Verde (9°36’21.1” S, 37°50’44.5” O) está localizado às margens do Rio São Francisco. Segundo relato dos habitantes, este foi estabelecido após a realocação dos moradores do antigo povoado Cabeça-de-Negro devido à inundação da região pela construção dos diques da Usina Hidrelétrica de Xingó. A comunida-de encontra-se às margens do Rio São Francisco, possui comunida-dez mora-dias, e a principal fonte de renda dos habitantes é a pesca.

Por último, foi visitado o Projeto Assentamento Modelo (9º43’5” S, 37º50’41” O), localizado às margens da Rodovia SE-206,

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município de Canindé do São Francisco, Alto Sertão Sergipano. Criado em fevereiro de 1998 e financiado pelo Instituto Nacional de Crédito Rural (INCRA), segundo dados oficiais contidos no Plano Preliminar do Projeto de Assentamento Modelo datado de 1998, este conta com 30 famílias residentes e a principal fonte de renda dos habitantes é a agricultura.

Coleta e análise dos dados

O trabalho consistiu de uma pesquisa qualitativa, onde foram aplicados nas localidades selecionadas formulários se-miestruturados (ALBUQUERQUE et al., 2010). As comuni-dades foram questionadas sobre as espécies juazeiro, canafís-tula, jenipapo e mulugu; salvo a localidade de Borda-da-Mata, onde a espécie mulungu não foi inserida no questionário.

Foram aplicados 49 formulários na região de Borda-da-Ma-ta, o que correspondeu a 78% das residências, oito formulá-rios no povoado Alto Verde, correnpondeu a 80%; e 17 no Projeto Assentamento Modelo, com 57%. Os dados obtidos nesta pesquisa foram agrupados em planilhas, e apresentados em forma de gráficos e tabelas.

Os formulários continham perguntas, a priori, sobre o perfil sócioeconômico dos moradores, e questões relacionadas aos prin-cipais usos dessas espécies, as partes utilizadas e suas respectivas finalidades, além da percepção da comunidade quanto às altera-ções dos ambientes nos quais estas espécies estão inseridas.

Por fim, foram realizadas pesquisas nos principais sites de registro de patentes: European Patent Office (EPO), World

In-tellectual Property Organization (WIPO), United States Patent and Trademark Office (USPTO) e Instituto Nacional de

(49)

Pro-USOS

priedade Industrial (INPI) a fim de confirmar se os usos das espécies encontrados nos povoados são conhecidos pela co-munidade científica e estão descritos em patentes.

Perfil dos entrevistados

Quanto ao gênero os participantes das entrevistas 24% eram homens e 76% mulheres, no Projeto Assentamento Mo-delo; 35% de homens e 65% de mulheres no Povoado Borda da Mata; e 50% para os dois gêneros no Povoado Alto Verde (Figura 4). Observou-se uma predominância da participação das mulheres em relação aos homens no Assentamento Mode-lo e no Assentamento Borda da Mata, este fato se deu, pois a pesquisa foi realizada durante a semana, em horário que os homens dedicam tempo para agricultura ou a pesca.

Figura 4. Sexo dos participantes em três localidades do Baixo São Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

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A faixa etária dos participantes variou para as localidades trabalhadas (Figura 5). No Assentamento Modelo, a maioria dos entrevistados apresentou-se na faixa entre 30 e 39 anos (35%), assim como ocorrido em Borda da Mata (24%); no entanto, a maioria dos entrevistados do Povoado Alto Verde apresentou idade mais avançada, entre 50 e 70 anos, corre-spondendo a 50%.

Figura 5. Faixa etária dos participantes em três localidades do Baixo São Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

Em relação à escolaridade, em todas as regiões trabalhadas, a maioria dos entrevistados afirmou não ter concluído os estudos, sendo que somente em Borda da Mata 14% haviam concluído o ensino médio. Nas três regiões, a maioria afirmou ter parado no ensino fundamental (53% no Assentamento Modelo, 55% em Borda da Mata e 50% no Alto Verde). No Assentamento Modelo, 24% dos entrevistados disseram ser analfabetos, assim como 18% em Borda da Mata e 38% no Alto Verde (Figura 6).

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USOS 0 10 20 30 40 50 60

Analfabeto Ens. Fund. Ens. Fund.

Incomp. Ens. Médio Ens. MédioIncomp. respondeuNão

Fr eq uên cia ( % ) Escolaridade

Assentamento Modelo Povoado Borda-da-Mata Povoado Alto Verde

Figura 6. Escolaridade dos participantes da pesquisa em três localidades do Baixo São Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

Os entrevistados afirmaram ainda retirar o sustento de suas famílias da agricultura (71% no Assentamento Modelo e 55% em Borda da Mata; Figura 5), com exceção dos entrevistados do Povoado Alto Verde, onde 50% afirmaram ter a pesca como principal meio de subsistência, devido à localização deste estar às margens do rio São Francisco. Embora o Povoado Borda da Mata também esteja localizado às margens deste mesmo rio, so-mente 4% dos entrevistados responderam possuir a pesca como fonte de sustento. Para a maioria, provavelmente, isto se deva por esta região estar em pleno crescimento econômico o que pode levar a formação de outras oportunidades de trabalho.

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Figura 7. Fonte de renda de entrevistados em comunidades de três localidades no Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

A maioria dos entrevistado não soube informar a renda mensal. Entre os que souberam informar, a maioria afirmou receber menos de R$ 300,00 por mês, no Assentamento Mo-delo (29%) e no Povoado Alto Verde (13%). Em Borda da Mata, maioria afirmou possuir renda mensal entre R$ 679,00 e R$1.356,00, correspondente a dois salários mínimos, para 18% dos entrevistados (Figura 8).

(53)

USOS Figura 8. Renda mensal de entrevistados em três localidades do Baixo São

Francisco Sergipano: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco ).

Conhecimento sobre as espécies pesquisadas

Para canafístula, a maioria dos entrevistados em Borda da Mata afirmou conhecer essa planta (96%), ao contrário do As-sentamento Modelo, onde a maioria afirmou não conhecê-la (76%), e 88% dos entrevistados em Alto Verde não souberam afirmar. A maioria dos entrevistados nas três localidades afir-mou conhecer o juazeiro (82% no Assentamento Modelo, 98% no Povoado Borda da Mata e 88% no Assentamento Alto Ver-de). Assim como a maioria do Assentamento Modelo e do Alto Verde afirmou conhecer o mulungu (41% e 50%) (Figura 9).

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Figura 9. Conhecimento sobre as espécies: juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) para os moradores de três localidades do Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

A maioria dos entrevistados afirmou não comercializar ou ver comercialização das espécies em questão. Em Borda da Mata foram 70% para a canafístula, 78% para o juazeiro. No Assentamento Modelo o porcentual correspondeu à 70% para juazeiro e não souberam informar a respeito de canafístula (94%). No Alto Verde os moradores não souberam responder (74% -canafístula, 50% - juazeiro).

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USOS Figura 10. Conhecimento tradicional para as espécies: juazeiro (Ziziphus

joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina velutina Willd.) informada pelos

moradores de três localidades do Estado de Sergipe: Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

Os moradores dos três povoados usam as espécies estudadas (Figura 11). Os moradores de Borda-da-Mata afirmaram utili-zar canafístula (84%) e juazeiro (96%), no entanto, a maioria informou não usar jenipapo (61%), para mulungu não houve resposta. No Assentameto Modelo, os moradores informaram utilizar o jenipapo (76%), porém poucos afirmaram usar cana-fístula (6%) e juazeiro (35%). Ninguém afirmou utilizar mu-lungu nesta localidade. No Assentamento Alto Verde os mora-dores afirmaram utilizar pouco as espécies pesquisas.

(56)

Figura 11. Usa a espécie de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.), jenipapo (Genipa americana L.), e mulugu (Erythrina

velutina Willd.) pelos moradores de três localidades do Estado de Sergipe:

Assentamento Modelo (Canindé do São Francisco ), Assentamento Borda-da-Mata (Canhoba ) e Povoado Alto Verde (Canindé do São Francisco).

No Assentamento Borda da Mata, foram citados 16 usos di-ferentes para juazeiro e quatro para canafístula. No Povoado Alto Verde, ocorreram três usos diferentes para o juazeiro e um para canafístula. No Assentamento Modelo foram citados 10 usos para juazeiro e um para canafístula. Estas citações foram classifi-cadas em cinco categorias de usos principais, são elas: medicinal, veterinário, alimento para humano, alimento para animal, e ou-tros, para usos que não se enquadravam nas categorias anteriores.

Assentamento Borda-da-Mata

A categoria medicinal foi predominante em relação às ou-tras, para todas as espécies pesquisadas, esta categoria corres-pondeu a 28% para juazeiro, 63% para canafístula e 60% para o jenipapo. A segunda categoria de uso foi Alimentação

(57)

USOS

humana, onde o jenipapo e a canafístula se destacaram. Para juazeiro, a categoria Veterinário e Alimentação animal apre-sentaram a mesma porcentagem de citações, 3%; e esta foi a única espécie que os moradores reconheceram outros usos (26%), alguns destes foram: sombreamento (5%), lenha (2%) e sabão (7%). Foram registrados participantes que afirmaram não conhecer usos para as espécies pesquisadas, e correspon-deu a 38% para juazeiro; 18% canafístula (Figura 12).

Figura 12. Citações de comunidades para o conhecimento associado ao uso para as espécies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.) e jenipapo (Genipa americana L.) no Assentamento Borda-da-Mata em Canhoba (Sergipe).

Entre as utilidades do juazeiro citadas pelos moradores, destaca-se: o uso para escovar dentes (15%), para lavar feri-mentos (10%), no combate à caspa (7%) e no tratamento da gripe (4%), entre outros. Esta foi à espécie mais citada, para diversos usos e a única entre as três onde os moradores

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ci-taram usos que foram agrupados na categoria Outras, como sombreamento (5%), lenha (2%) e outros. O uso na forma de lambedor (xarope) para combate à gripe (47%) e anemia (15%) foram citados para canafístula.

Em Borda da Mata, os moradores demonstraram conhe-cer mais usos relacionados ao fruto para canafístula (75%). Em relação ao juazeiro, a maioria dos moradores não soube responder qual parte era utilizada para as finalidades citadas durante entrevista (27%) (Figura 13).

Figura 13. Partes das plantas das espécies de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), canafístula (Cassia grandis L.f.) e jenipapo (Genipa americana L.) utilizados no Assentamento Borda-da-Mata em Canhoba (Sergipe).

Projeto de Assentamento Modelo

Nesta localidade, houve predominância da categoria Medici-nal referente ao juazeiro (67%) e Alimento para humanos para

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