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Transformação genética de coffea arabica para resistência a bronca-do-café

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(1)

Católica de

Brasília

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

STRICTO SENSO EM CIÊNCIAS GENÔMICAS E BIOTECNOLOGIA

Doutorado

Transformação genética de

Coffea arabica

para resistência a

broca-do-café.

Autor: Aulus Estevão Anjos de Deus Barbosa

Orientadora: Maria Fátima Grossi de Sa

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TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE COFFEA ARABICA PARA RESISTÊNCIA A BROCA-DO-CAFÉ.

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Senso em Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília como requisito parcial para a obtenção do Título de Doutor em Ciências Genômicas e Biotecnologia

Orientadora: Dra. Maria Fátima Grossi de Sa

Brasília

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Tese de autoria de Aulus Estevão Anjos de Deus Barbosa, intitulada “Transformação genética de Coffea arabica para resistência a broca-do-café”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília, em 20 de março de 2009, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

______________________________________________________________________ Prof. Dra. Maria Fátima Grossi de Sa

Orientadora

Programa de Pós-Graduação em Ciências Genômicas e Biotecologia – UCB

______________________________________________________________________ Dra. Ana Cristina Miranda Brasileiro

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – CENARGEN

______________________________________________________________________ Prof. Dra. Betânia Ferraz Quirino

Programa de Pós-Graduação em Ciências Genômicas e Biotecologia – UCB

______________________________________________________________________ Prof. Dr. Octavio Luiz Franco

Programa de Pós-Graduação em Ciências Genômicas e Biotecologia – UCB

______________________________________________________________________ Dr. Rodrigo da Rocha Fragoso

Emprapa Cerrados - CPAC

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Referência: Barbosa, Aulus. Título: Transformação genética de Coffea arabica para o controle da broca-do-café. 2009. 132 páginas. Doutorado em Ciências Genômicas e Biotecnologia – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2009.

O café é consumido regularmente por cerca de 40% da população mundial, e sua comercialização gera anualmente US$ 70 bilhões, o que torna esta cultura a segunda maior “commodity” natural, atrás apenas do petróleo. Dentre os 49 países produtores de café, o Brasil é o principal, detendo 34% desta produção. No gênero Coffea são encontradas 104 espécies e subespécies; porém, somente as espécies Coffea arabica e Coffea canephora são comercializadas, ocupando 70% e 30% do mercado, respectivamente. A cultura do café é atacada por uma série de pragas agrícolas, com destaque para a broca-do-café (Hypothenemus

hampei), que acarreta anualmente US$ 500 milhões em perdas. O controle desta praga é

difícil, sendo baseado principalmente na aplicação de inseticidas organoclorados, os quais, além de caros, são carcinogênicos e tóxicos para o meio ambiente. Além disso, não existe resistência natural ao H. hampei em nenhuma das 104 espécies de café. Neste contexto, a aplicação da tecnologia do DNA recombinante pode proporcionar a inserção de genes de resistência contra a broca-do-café. Dentre os genes de resistência a insetos disponíveis, pode-se destacar os inibidores de -amilapode-se obtidos do feijão Phaseolus vulgaris, que foram eficientes em inibir as -amilases de vários insetos que atacam sementes armazenadas, bem como da broca-do-café. Assim, este trabalho teve como meta introduzir em plantas de Coffea arabica o gene para o inibidor -AI1, visando o controle do H. hampei. Para alcançar este objetivo, plantas de C. arabica foram transformadas pelo método de biobalística, bombardeando calos embriogênicos. Os calos transformados foram selecionados com o antibiótico canamicina e regenerados em meio de cultura. A inserção dos transgenes foi confirmada nas plantas de C. arabica com o uso das técnicas de PCR e Southern blot. A expressão do inibidor AI-1 nas plantas foi confirmada por Western blot, quantificada por ELISA e sua atividade foi avaliada em um ensaio in vitro pelo método DNS. Os resultados dos experimentos de PCR e Southern blot mostraram que seis plantas foram transformadas com o gene para o inibidor AI-1. O Western blot das sementes feito em 3 plantas mostrou bandas com massa molecular próxima a 19kDa, indicando a expressão do -AI1. A concentração do inibidor mensurada por ELISA nessas plantas mostrou que a expressão se deu em diferentes concentrações, que variaram de 0,03 a 0,29% do extrato total. No experimento de inibição in vitro, uma das plantas inibiu cerca de 88% das amilases do inseto. Com esses resultados, pode-se concluir que essas plantas transgênicas de café têm um alto potencial para o controle do H. hampei, e sua utilização trará vantagens como diminuição dos custos de produção e redução da poluição ambiental causada pelo uso de inseticidas.

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Coffee is consumed daily by about 40% of the world population. Its commercialization generates around US$ 70 billions annually, making this crop the second greatest natural commodity, behind only of petrol. Amongst the 49 coffee producing countries, Brazil is the major one, accounting for 34% of the total world production. In the Coffea genus, there are 104 species and subspecies. However, only Coffea arabica and Coffea canephora are commercialized, corresponding to 70% and 30% of the market, respectively. These cultures are commonly attacked by several pests, and the coffee berry borer (Hypothenemus hampei) is the most destructive one, causing US$ 500 million in losses per year. The control of this insect is difficult, and based mainly on the application of organochloride insecticides, which are carcinogenic, toxic for the environment and expensive. Another aspect that hinders the control of this pest is the fact that there is not natural resistance to H. hampei in any of the 104 coffee species. In this context, the employment of recombinant DNA technology can provide transgenic coffee plants resistant to H. hampei. In the group of insect resistance genes,

-amylase inhibitors (-AIs) from Phaseolus vulgaris have been proven to be quite efficient, inhibiting the amylases from different insects, including the coffee berry borer. Therefore, the purpose of this work is to introduce the -AI1 inhibitor gene in C. arabica plants in order to confer resistance against H. hampei. To achieve this goal, C. arabica calli were transformed through biolistics. PCR and Southern blot results detected six transgenic coffee plants. Immunoblots results revealed 19-kDa bands indicating AI1 expression in 3 plants. The -AI1 concentration revealed by ELISA ranged from 0,03 to 0,29% in the analyzed plants. In the DNS assay, 88% of inhibition from H. hampei -amylases was observed for one of the

analyzed plants. These results clearly demonstrate that the coffee transgenic plants produced in this work have a high potential to control H. hampei.

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Página

Figura 1. Fêmea de Hypothenemus hampei sobre um grão de café. 20

Figura 2. Estrutura tridimensional do inibidor AI-1 complexado com a -amilase do inseto

Tenebrio molitor. 26

Figura 3. Esquema do plasmídeo pBIN19α-AI1. 31

Figura 4. Estágios da transformação de plantas de Coffea arabica. 41

Figura 5. PCR das plantas T0 e T1. 42

Figura 6.Southern blot indicando a integração no genoma do gene AI1. 43

Figura 7. Detecção do inibidor -AI1 expresso em sementes de café. 44

Figura 8. Porcentagem de expressão do inibidor AI1 em extratos totais de sementes das

três plantas de café transgênicos. 45

Figura 9. Ensaio de inibição da alfa-amilase da broca-do-café contra extratos totais de

uma planta não transformada e 3 plantas transgênicas. 46

Figura 10. Quantidade de inibidor -AI1 no extrato das plantas transgênicas de café

(9)

Página

Tabela 1. Primers utilizados nas reações de PCR. 34

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Bt – Bacillus thuringienses

-AI1 – Inibidor de alfa-amilase 1 de Phaseolus vulgaris

-AI2 – Inibidor de alfa-amilase 2 de Phaseolus vulgaris

d.C. – Depois de Cristo pb – Pares de base UV – Luz ultravioleta kDa – kilo Daltons Da – Daltons

Asn – Aminoácido asparagina Try – Aminoácido triptofano

RNAi – Interferência de ácido ribonucléico PCR – Reação em cadeia da polimerase PHA-L – Fitohemaglutinina

Nos – Nopalina sintase

LB – Borda esquerda do T-DNA RB – Borda direita do T-DNA

nptII – Neomicina fosfotransferase II WPM – “Wood Plant Medium” DNA – Ácido desoxirribonucleico PVP – Polivinilpolipirrolidona

CTAB – Hexadeciltrimetil Amônio Bromida RPM – Rotações por minuto

Tm – Temperatura de anelamento Min – Minutos

dCTP – Citosina tri-fosfato BSA – Albumina de soro bovina

ELISA – “Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay” DNS – Ácido dinitrosalicílico

(11)

Página

1. Introdução e justificativa... 12

2. Revisão da literatura... 15

2.1. Importância econômica e características do café... 15

2.2. Insetos pragas e fitopatógenos na cultura do cafeeiro... 17

2.2.1. A broca-do-café... 19

2.3. Proteínas de defesa a insetos e transgenia... 23

2.4. Metodologias de transformação do café... 29

3. Materiais e Métodos... 31

3.1. Construção do plasmídeo para transformação de café... 31

3.2. Transformação de Coffea arabica por biobalística... 32

3.3. Avaliação da integração dos transgenes no genoma de C. arabica... 33

3.4. Confirmação da integração do transgene no genoma via Southern blot... 34

3.5. Detecção e quantificação da expressão do inibidor -AI1 nas plantas transgênicas de café... 36

3.6. Avaliação in vitro da atividade inibitória do extrato de sementes de café transgenico -AI1 sobre as -amilases da broca-do-café... 38

4. Resultados... 40

4.1. Transformação de Coffea arabica por biobalística... 40

4.2. Identificação por PCR das plantas transformadas... 41

4.3. Integração do gene -AI1 no genoma das plantas transformadas... 43

4.4. Análise da expressão do inibidor -AI1 nas sementes transgênicas... 44

4.5. Quantificação por ELISA do inibidor expresso... 45

4.6. Ensaio de inibição da amilase de H. hampei contra -AI1 expresso no café transgênico... 46

5. Discussão... 48

6. Conclusões e perspectivas... 52

7. Referencias bibliográficas... 53

Anexo 1. Seqüência de proteínas e de DNA do inibidor αAI-1 e do gene nptII... 67

Anexo 2. Soluções para Southern blot... 68

Anexo 3. Soluções para eletroforese de proteínas e Western blot... 69

Anexo 4. Método para calcular o qui-quadrado (x2) da geração T1... 70

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1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

O café é um produto agrícola de extrema importância para a economia

mundial, gerando aproximadamente US$ 70 bilhões anualmente (PAVA-RIPOLL, M.

et al., 2008). Todo esse rendimento posiciona o grão de café como a segunda maior “commodity” natural, ficando atrás apenas do petróleo e seus derivados

(ENCARNAÇÃO, R. D. O.LIMA, D. R., 2003). O café é cultivado e exportado por 49

países, e o Brasil é o principal produtor mundial, tendo produzido em 2008 34% das

134 milhões de sacas de café colhidas (ICO, 2009). No território nacional, essa

cultura é cultivada, principalmente, nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São

Paulo, Paraná e Bahia (IBGE, 2009).

Coffea arabica e Coffea canephora são as duas espécies de café exploradas comercialmente, correspondendo, respectivamente, a 70% e 30% do mercado

internacional (PRIVAT, I. et al., 2008). No entanto, no gênero Coffea encontram-se 104 espécies e subespécies (NCBI, 2009). Coffea arabica é uma espécie alotetraplóide (2n = 4x = 44) originada de dois ancestrais diplóides, C. canephora e C. eugenioides, e é caracterizada por uma baixa diversidade genética. Coffea canephora é uma espécie diplóide (2n = 2x = 22), a exemplo de todas as outras espécies conhecidas do gênero Coffea, e possui uma variabilidade genética considerável (BERTRAND, B. et al., 2003).

As duas espécies de café cultivadas são atacadas por uma série de insetos,

ácaros, fungos e nematóides, que, juntos, causam bilhões de dólares em prejuízos.

Dentre estes, o inseto que causa mais danos é a broca-do-café (Hypothenemus hampei). Esta praga ocorre em quase todos os países produtores (BENAVIDES, P. et al., 2005), e gera anualmente US$ 500 milhões em perdas (PAVA-RIPOLL, M. et al., 2008). No cafeeiro, este inseto ataca exclusivamente os frutos e grãos, acarretando

uma série de perfurações que levam à redução da quantidade e qualidade do café

produzido, e essas perfurações ainda favorecem o ataque de fungos e bactérias

(DAMON, A., 2000).

H. hampei é muito difícil de ser controlado, pois seu ciclo de vida é rápido, durando de 28 a 34 dias, e ocorre totalmente dentro do fruto do cafeeiro (DAMON, A.,

2000). Desse modo, o inseto fica protegido do ataque de predadores naturais e de

defensivos agrícolas. Atualmente, o principal método de controle da broca-do-café é

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carcinogênico e altamente tóxico para o homem e o meio ambiente, tendo sido banido

de vários países (DAMON, A., 2000). Além disso, já foram identificadas populações de

H. hampei resistentes ao ENDOSULFAN (ORTIZ, A. et al., 2004).

Uma alternativa viável para o controle da broca-do-café pode ser alcançada com

a introdução de genes em plantas de café, via transformação genética. Vários

insetos-praga de plantas já foram controlados com a introdução de genes de resistência. As

toxinas Bt têm sido usadas para este fim em 98% dos casos (HAQ, S. K. et al., 2004), mas diversos genes, incluindo -1,3 glucanases, quitinases, lecitinas, arcelinas e

inibidores de enzimas digestivas, também têm sido usados para controlar

insetos-praga (CARLINI, C. R.GROSSI-DE-SA, M. F., 2002).

Os inibidores de -amilase pertencem à classe de inibidores de enzimas

digestivas e sua atividade consiste em inibir a atividade das -amilases

(MARSHALL, J. J.LAUDA, C. M., 1975), enzimas responsáveis pela hidrólise de

ligações glicosídicas -1,4 em amido, glicogênio e vários oligossacarídeos (PAYAN,

F., 2004). O bloqueio por um inibidor da atividade das -amilases de um inseto

provoca redução da assimilação de carboidratos, com consequências prejudiciais

para larvas em desenvolvimento, podendo levar à morte do inseto (KLUH, I. et al., 2005). Muitos inibidores de -amilase já foram isolados e caracterizados de diversas

fontes vegetais (FRANCO, O. L. et al., 2002); porém, dois deles, -AI1 e -AI2, foram caracterizados mais detalhadamente (LEE, S. C. et al., 2002). Estes dois inibidores, isolados do feijão Phaseolus vulgaris, se mostraram ativos contra vários insetos, como, por exemplo, Bruchus pisorum, Callosobruchus maculatus e Callosobruchus chinensis (FRANCO, O. L. et al., 2002).

Devido ao seu potencial em inibir -amilases de insetos-alvo, o inibidor -AI1

já foi utilizado no desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas resistentes

a insetos. Várias plantas já foram transformadas: Vigna radiata (SONIA et al., 2007), V. unguiculata (SOLLETI, S. K. et al., 2008), feijão azuki (ISHIMOTO, M. et al., 1996), grão-de-bico (IGNACIMUTHU, S.PRAKASH, S., 2006) e ervilha

(SCHROEDER, H. E. et al., 1995). Esta última já foi avaliada de várias formas, sendo eficiente em controlar a broca-da-ervilha (MORTON, R. L. et al., 2000), mesmo em condições adversas de temperatura e irrigação (DE SOUSA-MAJER, M.

(14)

inibidor um excelente gene candidato para conferir resistência a H. hampei em plantas de café.

Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi introduzir por biobalística o gene

para o inibidor -AI1 em plantas de Coffea arabica, visando o controle da broca-do-café. A caracterização molecular das plantas obtidas foi realizada, confirmando a

inserção do gene e a sua expressão dirigida para os grãos de café. Adicionalmente,

o inibidor expresso teve sua atividade avaliada por ensaios in vitro contra as - amilases de H. hampei.

Este trabalho se justifica porque a broca-do-café é o principal inseto-praga do

cafeeiro, causando anualmente centenas de milhões de dólares em prejuízos

(PAVA-RIPOLL, M. et al., 2008). Este inseto está presente em vários países produtores, incluindo o Brasil, o maior produtor mundial. Nenhum dos métodos usados para

controlar o H. hampei é eficiente, e o controle químico é feito mediante a aplicação de um inseticida tóxico para o homem e o meio ambiente (DAMON, A., 2000).

Adicionalmente, não se tem conhecimento de resistência natural à broca-do-café em

nenhuma das 104 espécies do gênero Coffea. Além disso, diferenças na ploidia entre Coffea arabica e as outras espécies dificultam a introdução de resistência por meio de cruzamentos (BERTRAND, B. et al., 2003). O desenvolvimento de plantas transgênicas de café resistentes à broca-do-café diminuirá os prejuízos causados

por esta praga, além de reduzir os custos com a utilização de inseticidas. Esta

medida poderá tornar o café brasileiro mais competitivo no mercado internacional e

diminuirá a poluição causada ao meio ambiente.

A realização deste trabalho foi possível graças à disponibilidade de técnicas

de transformação genética já desenvolvidas para o café (HATANAKA, T. et al., 1999; DUFOUR, M. et al., 2000; LEROY, T. et al., 2000; OGITA, S. et al., 2003), que permitiram o desenvolvimento de um protocolo de transformação de calos

embriogênicos via biobalística (ALBUQUERQUE, E. V. S.;CUNHA, W.

G.;BARBOSA, A. E. A. D.;COSTA, P. M. et al., 2009).

Durante o desenvolvimento deste trabalho, houve a oportunidade de

desenvolver outras linhas de pesquisa no Laboratório de Interação Molecular

Planta-Praga que resultaram em publicações não relacionadas com o tema da tese, as

(15)

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E CARACTERÍSTICAS DO CAFÉ

O cafeeiro (Coffea spp.) é uma planta arbustiva cujos graõs são colhidos, torrados, moídos e utilizados para fazer uma infusão apreciada em todo o mundo. O

consumo deste grão tem origens muito antigas, datadas do ano 600 d.C. na região

da Etiópia. No princípio, o café era consumido in natura por pastores de cabras para aumentar a atenção durante o trabalho. Logo o seu uso se difundiu entre esses

trabalhadores, que passaram a usar os grãos secos e torrados no preparo de uma

bebida com água quente (ENCARNAÇÃO, R. D. O.LIMA, D. R., 2003). Por volta do

ano 900 d.C., o café já era consumido por muitas pessoas em todo o mundo árabe.

Até o profeta Maomé recomendava o uso da bebida a seus sacerdotes para que

permanecessem acordados durante as orações. O ocidente passou a conhecer o

café somente durante as cruzadas (1096-1244). Nesta época, os soldados turcos

consumiam a bebida para ficarem mais ativos durante as batalhas. Este fato fez

com que o caféfosse evitado por muito tempo pelos cristãos. O seu consumo só foi

permitido para estes depois do século XVI, quando o Papa Clemente VIII

(1478-1534) provou a bebida, que além de saborosa o permitia ficar acordado por mais

tempo durante as suas orações. Dessa forma, o Sumo Pontífice autorizou o

consumo de café, que logo passou a ser utilizado em larga escala por toda a Europa

(ENCARNAÇÃO, R. D. O.LIMA, D. R., 2003). Atualmente, o café é consumido em

todo o mundo, sendo a segunda maior “commodity” natural, atrás apenas do

petróleo. O café é também a segunda bebida mais consumida (ENCARNAÇÃO, R.

D. O.LIMA, D. R., 2003), sendo ingerido regularmente por mais de 40% da

população mundial (HENDRE, P. S. et al., 2008).

No ano de 2008, a produção mundial de café alcançou 134 milhões de sacas

(60 kg), e o Brasil foi o principal produtor, colhendo aproximadamente 46 milhões de

sacas (34% do total), seguido por Vietnã (14,5 %) e Colômbia (9,17%) (ICO, 2009).

Além desses, o café é produzido e exportado por mais 46 países, localizados na

África, Américas do Sul e Central, Ásia e Oceania (ICO, 2009). No Brasil, o café é

produzido em 15 estados, mas os principais produtores são MG, ES, SP e BA

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O comércio mundial do grão de café gera um rendimento de US$ 70 bilhões

por ano (PAVA-RIPOLL, M. et al., 2008) e fornece emprego para 25 milhões de pessoas em todo o mundo (WATSON, K.ACHINELLI, M. L., 2008). Atualmente, o

maior consumidor mundial de café são os Estados Unidos da América e em segundo

lugar está o Brasil (ENCARNAÇÃO, R. D. O.LIMA, D. R., 2003). Adicionalmente,

países como Alemanha, Itália, Japão, Bélgica, França e Espanha destacam-se como

grandes importadores e consumidores de café (ICO, 2009).

O cafeeiro pertence à Ordem Gentianales, Família Rubiaceae e em seu

gênero (Coffea) podemos encontrar 104 espécies e subespécies (NCBI, 2009). Evolutivamente, o início da diversificação do gênero Coffea ocorreu entre 5 e 25 milhões de anos atrás (CUBRY, P. et al., 2008). No entanto, apenas duas espécies são plantadas comercialmente, C. arabica e C. canephora, correspondendo, respectivamente, a 70% e 30% do mercado internacional (PRIVAT, I. et al., 2008).

Coffea arabica é uma espécie alotetraplóide (2n = 4x = 44), originada de dois ancestrais diplóides, C. canephora e C. eugenioides (LASHERMES, P. et al., 1999). Devido à autopolinização de suas flores, a espécie é caracterizada por uma baixa

diversidade genética e alta sensibilidade a insetos e doenças (HATANAKA, T. et al., 1999). O tamanho do seu genoma foi calculado em 2,56 x 109 pb (CLARINDO, W.

R.CARVALHO, C. R., 2009). A origem de C. arabica, a partir de duas espécies com genomas muito parecidos, faz com que a meiose nessa planta tetraplóide seja como

uma meiose de planta diplóide, apresentando um pareamento regular dos bivalentes

cromossômicos (HERRERA, J. C. et al., 2004). As duas variedades de café arábica mais plantadas comercialmente são a Mundo Novo e a Catuaí. A variedade Mundo

novo é caracterizada por uma alta produtividade, mas o porte alto da planta dificulta

a colheita. A variedade catuaí foi desenvolvida objetivando-se plantas de menor

porte, sendo as duas variedades principais a Catuaí Vermelho e a Catuaí Amarelo

(CAFEZAL, O., 2010).

Coffea canephora é uma espécie diplóide (2n = 2x = 22), a exemplo de todas as outras espécies conhecidas do gênero Coffea, possuindo variabilidade genética considerável (BERTRAND, B. et al., 2003). Entretanto, produz um café de menor qualidade, mais adequado à produção de café solúvel (HATANAKA, T. et al., 1999). O seu genoma foi calculado em 1,38 x 109 pb (CLARINDO, W. R.CARVALHO, C. R.,

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produtividade. O café conillon também é muito utilizado como porta enxerto, devido a

sua resistência ao nematóide Meloidogyne ingocnita (CAFEZAL, O., 2010).

Apesar das diferenças cromossômicas numéricas entre as duas espécies

cultivadas de cafeeiro, é possível a transferência de características de interesse

entre elas, principalmente relacionadas à defesa contra patógenos (HERRERA, J. C.

et al., 2002). Por exemplo, por meio de cruzamentos, já foram introduzidas em C. arabica resistência à ferrugem do cafeeiro, a nematóides e ao fungo Colletotrichum kahawae (BERTRAND, B. et al., 2003). Basicamente, esta transferência ocorre pela utilização de híbridos entre C. arabica e C. canephora. Uma variedade muito utilizada com esse fim é a arabusta, que é tetraplóide (HERRERA, J. C. et al., 2002), mas espécies triplóides e hexaplóides, produzidas artificialmente com a utilização de

colchicina, também estão disponíveis (HERRERA, J. C. et al., 2004). No entanto, essa transferência por cruzamentos é muito difícil e demorada, devido ao longo ciclo

de vida do cafeeiro, e aos elevados custos dos experimentos de campo e avaliação

da progênie (HERRERA, J. C. et al., 2007). Adicionalmente, a transferência de características genéticas relacionadas com a defesa está associada, também, com a

transferência de genes indesejáveis que podem diminuir a qualidade da bebida

(BERTRAND, B. et al., 2003).

2.2 INSETOS-PRAGA E FITOPATÓGENOS NA CULTURA DO CAFEEIRO

As espécies cultivadas de café, C. arabica e C. canephora, são atacadas por uma série de insetos-praga e patógenos como fungos, ácaros e nematóides

endoparasíticos, que causam bilhões de dólares em prejuízos anualmente. Os

principais patógenos e insetos-pragas do café estão descritos abaixo.

A ferrugem do café é causada pelo fungo Hemileia vastatrix. Este patógeno já causou perdas de até 30% no Brasil e 70% na índia, ocasionando em todo mundo

um prejuízo anual de US$ 1 bilhão. Devido a essas perdas, muitos trabalhos já

caracterizaram vários genes de resistência à ferrugem presente em diversas

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Vários nematóides atacam as raízes do café, e a espécie que causa mais

prejuízos é o Meloidogyne exigua, patógeno presente em toda a América latina, e no Brasil já causou perdas de até 45% (ALPIZAR, E. et al., 2007). Outras espécies de nematóide do gênero Meloidogyne também causam danos ao café, como M. hapla (HANDOO, Z. A. et al., 2005), M. arabicida (BERTRAND, B. et al., 2000) e M. incognita (HERNANDEZ, A. et al., 2004).

Três espécies de ácaros são conhecidas por atacar o café: o

ácaro-vermelho-do-cafeeiro (Olgonychus ilicis), o ácaro-plano (Brevipalpus phoenicis) e o ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus). Esses aracnídeos atacam as folhas do cafeeiro, causando principalmente a queda delas (ZAMBOLIN, L., 2003).

Dentre os insetos que atacam o cafeeiro, podemos citar o bicho-mineiro

(Leucoptera coffeella), as cigarras (Quesada gigas, Fidicina pronoe e Carneta sp), as cochonilhas (Coccus viridis, Saissetia Coffeae e Planococus citri), a lagarta-dos-cafezais (Eacles imperiallis magnífica) e a broca-do-café (Hypothememus hampei), sendo o último considerado o inseto-praga de maior importância (ZAMBOLIN, L.,

2003).

O bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) é considerado uma das principais pragas do cafeeiro. Este inseto ataca as folhas localizadas nas partes médias e

superiores da planta, causando perfurações em formato de minas que reduzem a

área fotossintética (ZAMBOLIN, L., 2003). Estes danos podem levar à queda

prematura das folhas atacadas, principalmente durante a estação seca, provocando

a diminuição da produtividade da planta. Seu controle é feito, principalmente, com o

uso de inseticidas organofosfatos (FRAGOSO, D. B. et al., 2002). Adicionalmente, o gene para a toxina cry1Ac foi introduzido em plantas de C. arabica e C. canephora com o objetivo de controlar essa praga (LEROY, T. et al., 2000; PERTHUIS, B. et al., 2005).

As cigarras (Quesada gigas, Fidicina pronoe e Carneta sp) causam dano ao cafeeiro sugando sua seiva. Esta ação dos insetos promove a clorose e a queda das

folhas apicais, bem como o enfraquecimento geral da planta (ZAMBOLIN, L., 2003).

As cochonilhas Coccus viridis, Saissetia Coffeae e Planococcus citri podem atacar várias partes da planta, sugando a seiva de folhas jovens, caule e frutos. A

secreção produzida por esse inseto favorece o crescimento do fungo fumagina

(19)

A lagarta-do-café, Eacles imperiallis magnífica, alimenta-se de folhas jovens e brotos terminais do cafeeiro, acarretando danos severos (ZAMBOLIN, L., 2003).

2.2.1 A broca-do-café

A broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae) (Figura 1) é o inseto que mais causa prejuízos à cultura do cafeeiro,

estando presente em quase todos os países produtores (BENAVIDES, P. et al., 2005; JARAMILLO, J. et al., 2006). Essa praga causa perdas de até US$ 500 milhões por ano em todo o mundo (PAVA-RIPOLL, M. et al., 2008) e afeta a vida de mais de 20 milhões de famílias rurais (JARAMILLO, J. et al., 2006). Grandes infestações da broca-do-café já chegaram a causar prejuízos de até 60% na Colômbia, 85% na

Jamaica, 90% na Malásia e 60% no México (JARAMILLO, J. et al., 2008). No Brasil, particularmente no estado do Espírito Santo, a broca-do-café chegou a causar, em

termos quantitativos, a destruição anual de aproximadamente 154.000 sacas de

café, correspondendo a um valor aproximado de R$ 18 milhões, que, acrescidos de

R$ 22,0 milhões depreciados do valor do produto em função da perda de qualidade,

(20)

Figura 1. Fêmea de Hypothenemus hampei sobre um grão de café.

A broca-do-café causa danos somente aos frutos e grãos do café. No campo,

as fêmeas adultas são atraídas por liberações voláteis dos frutos maduros, que são

compostas principalmente por etanol, ésteres, outros alcoóis, cetonas e aldeídos

(ORTIZ, A. et al., 2004). Após alcançar o fruto, as fêmeas perfuram o exocarpo, o mesocarpo e o endocarpo da semente em até 8 horas. (DAMON, A., 2000; ORTIZ,

A. et al., 2004). Neste último, elas permanecem para alimentar-se e depositar seus ovos. Essas perfurações causam seis tipos de perdas econômicas (SOUZA, J.

C.REIS, P. R., 1997):

1) perda de peso do café beneficiado, devido à destruição causada pelas

larvas;

2) depreciação do produto devido à perda da qualidade causada pelos danos

físicos, que, além disso, tornam os frutos do café mais susceptíveis a infecções por

fungos e bactérias e ao ataque de outras pragas;

3) ataque de frutos verdes na ausência de frutos maduros, provocando a sua

a queda;

4) apodrecimento das sementes em frutos broqueados, que caem

(21)

5) inviabilidade de produção de sementes de café, já que os frutos atacados

não germinam;

6) perda de mercado externo, pois os países importadores não aceitam café

broqueado.

O H. hampei possui um ciclo de vida curto, passando da fase de ovo à fase adulta em um período de 28 a 34 dias (DAMON, A., 2000). Cada fêmea põe entre 31

e 119 ovos dentro de um único fruto de café, numa proporção de 9 fêmeas para

cada macho (BENAVIDES, P. et al., 2005). Essa proporção (9:1) ocorre em função da presença de uma proteobactéria do gênero Wolbachia, presente nos tecidos reprodutivos, que causa a morte dos machos e conversão de machos em fêmeas

funcionais. A ovoposição pode durar por até 20 dias, quando são postos, em média,

de 2 a 3 ovos por dia (JARAMILLO, J. et al., 2006). Essa longa ovoposição e o rápido ciclo de vida permitem, ao mesmo tempo, e em um mesmo grão, a presença

de todas as formas de vida deste inseto (DAMON, A., 2000).

Os ovos eclodem após 4 dias e passam pelos estágios de larva (15 dias),

pulpa (7 dias) e adulto. Os machos, que medem 1,18 mm de comprimento, 0,51 mm

largura e 0,55 mm de altura, são menores do que as fêmeas, não voam e podem

viver de 20 a 87 dias. As fêmeas medem 1,65 mm de comprimento, 0,67 mm de

largura e 0,73 mm de altura, e vivem mais, podendo alcançar até 157 dias (SOUZA,

J. C.REIS, P. R., 1997; DAMON, A., 2000; BENAVIDES, P. et al., 2005). Geralmente, antes de se dispersarem para infectar outros frutos, as novas fêmeas

cruzam com seus próprios irmãos (BENAVIDES, P. et al., 2005). Esses cruzamentos consanguíneos geram uma baixa variabilidade genética na espécie, mesmo

comparando-se insetos geograficamente distantes (BENAVIDES, P. et al., 2005). Ao iniciar a ovoposição em um novo grão, os músculos das asas da fêmea se

degeneram, prevenindo a colonização de frutos adicionais. Contudo, caso o grão

seja totalmente consumido, as fêmeas podem se deslocar para frutos adjacentes

(DAMON, A., 2000).

A espécie C. canephora é a mais susceptível ao ataque da broca, provavelmente porque apresenta uma floração irregular durante todo o ano, sempre

com frutos em diferentes estágios de desenvolvimento. Além disso, seu plantio é

realizado em regiões quentes, o que favorece o ciclo do inseto (GUERREIRO,

(22)

São utilizados três métodos de controle para a broca-do-café: cultural,

biológico e químico (SOUZA, J. C.REIS, P. R., 1997). Porém, o H. hampei é muito difícil de ser controlado, pois passa o ciclo inteiro dentro do fruto do café, ficando

protegido da ação de inseticidas e predadores. Mesmo venenos de contato não

conseguem atravessar a dura carapaça do inseto, estando o controle químico

restrito à aplicação do inseticida ENDOSULFAN (DAMON, A., 2000). Porém, em

alguns países das Américas do Sul e Central, onde as plantações de café são

adensadas e em topografia acidentada, a aplicação deste inseticida é mais difícil,

pois o terreno nesses locais não permite a mecanização da lavoura (SOUZA, J.

C.REIS, P. R., 1997). Adicionalmente, o ENDOSULFAN já foi banido em diversos

países por ser carcinogênico e altamente tóxico para o meio ambiente, além de

apresentar um efeito residual por 7,5 meses, o que sugere uma possível

contaminação dos grãos de café armazenados (DAMON, A., 2000). Para agravar

ainda mais a situação, já foram encontrados H. hampei resistentes ao inseticida ENDOSULFAN (ORTIZ, A. et al., 2004).

O controle cultural da broca-do-café consiste, basicamente, em apanhar os

frutos caídos no chão, evitando a reprodução do inseto durante a entressafra. No

entanto, esse método é difícil, principalmente em cafezais muito adensados, pois

exige uma grande quantidade de mão-de-obra. É aconselhável eliminar do cafezal

os cafeeiros não explorados comercialmente, como, por exemplo, plantas

improdutivas e lavouras abandonadas, evitando, assim, a reprodução descontrolada

do inseto. Também podem ser usadas armadilhas contendo feromônios ou etanol

(SOUZA, J. C.REIS, P. R., 1997).

O controle biológico da broca-do-café tem baixa eficiência. As tentativas feitas

com as vespas parasitóides Prorops nasuta e Cephalonomia stephanoderis mostraram pouca eficácia. Liberações em massa do parasitóide Phymastichus coffea, durante a fase de emergência de H. hampei, alcança resultados mais satisfatórios (JARAMILLO, J. et al., 2006), mas apenas em pequenas propriedades.

Outros fatores dificultam ainda mais o controle da broca. A fêmea, por

exemplo, permanece semi-inativa na estação seca, esperando pelas chuvas que a

estimulam a sair dos frutos velhos e procurar novos frutos para reiniciar o ciclo. A

broca também pode atacar outras famílias de plantas, o que torna difícil a sua total

eliminação caso exista, por exemplo, algum remanescente de mata próximo à

(23)

2.3. PROTEÍNAS DE DEFESA A INSETOS E TRANSGENIA

Atualmente, vários genes vêm sendo utilizados com sucesso no

desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas resistentes a insetos, entre

eles as toxinas Bt, -1,3 glucanases, quitinases, lecitinas, arcelinas e inibidores de

enzimas digestivas, hormônios de insetos, neuropeptídios, toxinas de artrópodes e

metabólitos secundários (BURGESS, E. P. J. et al., 1994; GROSSI-DE-SÁ, M. F. et al., 1997; BISHOP, J. G. et al., 2000; SALES, M. P. et al., 2000; CARLINI, C. R.GROSSI-DE-SA, M. F., 2002; BELLINCAMPI, D. et al., 2004; WHETSTONE, P. A.HAMMOCK, B. D., 2007). Um levantamento feito em 2005 catalogou 30 plantas

transgênicas com toxinas Bt, 18 com inibidores de proteinase serínicas, 3 com

inibidores de proteinase cisteínicas, 8 com lectinas, e uma planta de cada

transformadas com as proteínas “Avidin”, “Enhancin”, colesterol oxidase, “germin”,

proteinase cisteínica de milho e peptídeo inseticida de aranha (O’CALLAGHAN, M.

et al., 2005).

O desenvolvimento de plantas transgênicas com resistência a insetos

apresenta inúmeras vantagens sobre os métodos tradicionais de controle. Por

exemplo, a planta produz continuamente a molécula inseticida, eliminando a

necessidade de várias aplicações de inseticidas; as substâncias ativas estão

protegidas contra degradação por fatores ambientais, como UV, calor e chuvas; e o

inseto entra em contato com as toxinas logo no início do ataque (WHETSTONE, P.

A.HAMMOCK, B. D., 2007).

Atualmente, os genes cry, que codificam as toxinas Bt, são amplamente utilizados para conferir resistência a insetos em plantas, sendo empregados em 98%

dos casos (HAQ, S. K. et al., 2004). Depois de plantas com resistência a herbicidas, as plantas transgênicas que expressm toxinas Bt são as mais usadas

comercialmente (O’CALLAGHAN, M. et al., 2005). No ano de 2007, foram plantados 42 milhões de hectares somente com plantas de algodão e milho contendo genes

cry (TABASHNIK, B. E., 2008). As toxinas Bt apresentam 54 tipos e muitos subtipos; no entanto, cada toxina é específica para um pequeno número de insetos.

Atualmente, apenas 12 toxinas têm sido usadas comercialmente (BRAVO,

A.SOBERON, M., 2008). Apesar do grande número de trabalhos sobre toxinas Bt,

não se sabe exatamente o modo de ação delas. Basicamente, essas proteínas são

(24)

et al., 2007). Estas são clivadas por proteases do intestino, tornando-se ativas. Após a ativação, elas são capazes de se ligar a receptores caderina nas microvilosidades

do intestino delgado dos insetos (ZHUANG, M. B. et al., 2002). A partir desse ponto, dois modos de ação são descritos. O primeiro, que é o mais aceito, envolve a

formação de poros na membrana do intestino delgado dos insetos por meio da ação

das caderinas e outros receptores de membrana que promovem clivagens

proteolíticas e oligomerização das moléculas de toxina, levando à formação dos

poros e, consequentemente, à morte do inseto (BRAVO, A.SOBERON, M., 2008). O

segundo modo de ação envolve a ligação das toxinas aos receptores caderina, e

estes disparam uma cascata de sinalização que leva à morte celular (ZHANG, X. B.

et al., 2006). Este complexo modo de ação em vários passos pode facilitar o aparecimento de insetos resistentes a toxinas Bt, e muitos já foram identificados.

Recentemente, este fato levou à busca de formas de manejo que minimizassem o

aparecimento de insetos resistentes a plantas transgênicas com Bt (TABASHNIK, B.

E., 2008).

Os inibidores de enzimas digestivas apresentam diversas vantagens para

conferir resistência a insetos. Estes inibidores são produtos genéticos primários, o

que facilita o uso deles em experimentos de transformação. A disponibilidade de

diversos genes obtidos de origens diferentes é outra vantagem que torna possível o

desenvolvimento de plantas transgênicas com dois ou mais genes de resistência. Os

inibores possuem um amplo espectro de ação, já tendo sido observados inibidores

de proteinases ativos contra nematóides, vírus, bactérias e fungos patogênicos,

tendo cada inibidor sua especificidade característica (HAQ, S. K. et al., 2004; O’CALLAGHAN, M. et al., 2005).

Dentro da classe de inibidores de enzimas digestivas, podemos encontrar os

inibidores de -amilases (MARSHALL, J. J.LAUDA, C. M., 1975). As -amilases (

-1,4-glucan-4-glucanohidrolase, EC 3.2.1.1) são um grupo de enzimas largamente

distribuídas em secreções de microorganismos, animais e plantas, e que catalisam,

principalmente, a hidrólise de ligações glicosídicas -1,4 em amido, glicogênio e

vários oligosacarídeos (PAYAN, F., 2004). Outras -amilases podem quebrar

exclusivamente ligações glicosídicas -1,6 ou -1,4/-1,6, podendo também clivar

resíduos de sacarose, ou podem hidrolisar uma forma de glicose ligada a trealose

(25)

constitui o primeiro passo da degradação enzimática de polissacarídeos, que é

essencial na assimilação de carboidratos (PAYAN, F., 2004). Nos insetos, o bloqueio

desta atividade das amilases por inibidores causa uma redução na assimilação de

carboidratos, provocando uma diminuição do crescimento larval e,

consequentemente, prejudicando todo o seu ciclo de vida (KLUH, I. et al., 2005). Vários inibidores de -amilases já tiveram suas estruturas tridimensionais

caracterizadas, tanto isoladamente quanto complexada com -amilases, como, por

exemplo, o inibidor de Amaranthus hypochondriacus (LU, S. et al., 1999; MARTINS, J. C. et al., 2001) e o inibidor de centeio (IULEK, J. et al., 2004). O inibidor AI-1 de Phaseolus vulgaris foi analisado complexado com a -amilase do inseto Tenebrio molitor (Figura 2) (NAHOUM, V. et al., 1999).

Com relação à estrutura terciária dos inibidores de -amilases, pode-se

dividi-los em seis classes (tipo lectina, knotina, cereal, Kunitz, γ-purotionina e thaumatina),

e todas podem ser utilizadas no controle de insetos-praga em plantas. Estas classes

de inibidores mostram notável variedade estrutural, apresentando diferentes tipos de

inibição, assim como especificidade variável contra diferentes fontes de α-amilases

(FRANCO, O. L. et al., 2002; BELLINCAMPI, D. et al., 2004). Por exemplo, foi isolado em batata doce (Ipomoea batatas) um inibidor de α-amilase que se mostrou eficiente contra 4 pragas que atacam raízes: Araecerus fasciculatus, Sitophilus oryzae, Cylas formicarius elegantulus e Tribolium castaneum (REKHA, M. R. et al., 2004). Foi isolado um inibidor das sementes da planta Amaranthus hypocondriacus com atividade contra Tribolium castaneum e Prostephanus truncatus, e que não inibia α-amilases de mamíferos (CHAGOLLA-LOPEZ, A. et al., 1994). Do centeio foi isolado um inibidor com atividade contra Acanthoscelides obtectus e Zabrotes subfasciatus (IULEK, J. et al., 2000). A planta Pterodon pubescens possui um inibidor ativo contra Callosobruchus maculatus (SILVA, D. P. et al., 2007). Do feijão Phaseolus coccineus foi caracterizado um inibidor ativo contra a broca-do-café (DE AZEVEDO PEREIRA, R. et al., 2006; VALENCIA-JIMENEZ, A. et al., 2008). Podemos citar, também, a atividade contra α-amilases de fungos, observada num

(26)

Figura 2. (A) Estrutura tridimensional do inibidor -AI1, de Phaseolus vulgaris, complexado com (B) a

-amilase do inseto Tenebrio molitor. Esta estrutura foi obtida no “Protein Data Bank” (PDB, 2009), possui o número de acesso 1VIW, e a imagem foi gerada usando o programa VMD.

Da mesma forma, inibidores de -amilases têm sido isolados de diferentes

acessos e variedades de feijão Phaseolus vulgaris (FRANCO, O. L. et al., 2002; LEE, S. C. et al., 2002). Duas formas são bem caracterizadas, -AI1 e -AI2. Estas duas variantes apresentam especificidades inibitórias diferentes, inibindo -amilases

de diferentes organismos (MORENO, J.CHRISPEELS, M. J., 1989; SUZUKI, K. et al., 1994; GROSSI-DE-SÁ, M. F. et al., 1997). Elas são 78% idênticas (SUZUKI, K. et al., 1994), e essas diferenças nas seqüências de resíduos de aminoácidos, formadas por deleções e mutações, provocaram mudanças no número de ligações

ponte de hidrogênio entre o inibidor e as -amilases alvo. Isto é o que ocasiona as

(27)

O inibidor -AI1 é sintetizado no retículo endoplasmático, na forma de uma

pró-proteína inativa, com peso de 28 kDa. No complexo de golgi, essa proteína tem

o peptídeo sinal retirado e é glicosilada, deixando-a com um peso aproximado de 32

kDa (PUEYO, J. J. et al., 1993). Este inibidor torna-se ativo após um processamento proteolítico que ocorre no interior dos vacúolos de armazenamento da planta, onde

acontece a remoção de um pequeno fragmento na extremidade carboxílica e uma

digestão no aminoácido Asn77, liberando duas subunidades,  e  (PUEYO, J. J. et al., 1993).

Observou-se que uma molécula do inibidor -AI1 é capaz de inibir duas

moléculas de -amilase pancreática de porco (KASAHARA, K. et al., 1996). O peso molecular dessas duas subunidades foi determinado precisamente por MALDI-TOF,

tendo a subunidade  11.761 Da, e a subunidade  17.319 Da (YOUNG, N. M. et al., 1999). Da mesma forma, esse processamento proteolítico ocorre no inibidor -AI2,

conferindo às subunidades  e  os pesos de 11.010 Da e 15.353 Da,

respectivamente (YOUNG, N. M. et al., 1999). No entanto, a forma ativa desses dois inibidores é composta de duas subunidades  e duas , o que explica o fato da

inibição simultânea de duas -amilases (KASAHARA, K. et al., 1996). O peso molecular desse tetrâmero ativo foi calculado em 56,7 kDa para o inibidor -AI1

(LEE, S. C. et al., 2002).

O mecanismo de inibição do -AI1 foi estudado por difração de raios-X,

juntamente com a -amilase de T. molitor (Figura 2), e até o momento esta foi a única interação com amilase de inseto estuda por essa abordagem (NAHOUM, V. et al., 1999). Esta análise indicou que fortes contatos ocorrem entre o inibidor e o sítio catalítico de T. molitor. Dois “loops” do inibidor (Resíduos 29-46 e 171-189) se projetam para dentro do sítio ativo da -amilase, estabelecendo uma rede de pontes

de hidrogênio (Figura 2). Os resíduos de aminoácidos do sítio ativo da -amilase se

ligam fortemente aos resíduos Try 186 e Tyr 37 do inibidor -AI1, que bloqueiam o

seu sítio ativo (PAYAN, F., 2004). As pontes de hidrogênio são formadas

diretamente com o sítio ativo do inibidor ou por intermédio de moléculas de H2O.

Interações hidrofóbicas e interações proteína-proteína aumentam a força de ligação

entre o inibidor e a -amilase fora da região do sítio ativo. Essas ligações provocam

(28)

na área próxima ao sítio ativo. Essas mudanças aumentam a força de ligação do

inibidor (BOMPARD-GILLES, C. et al., 1996; OBIRO, W. C. et al., 2008).

As interações do inibidor -AI1 também já foram estudadas para a -amilase

pancreática de porco (SANTIMONE, M. et al., 2004) e humana (NAHOUM, V. et al., 2000), e o mecanismo de inibição é muito similar. Um estudo das interações do

inibidor -AI2 com a -amilase de Zabrotes subfasciatus foi feito por modelagem molecular e demonstrou algumas similaridades (DA SILVA, M. C. et al., 2000).

A atividade desses inibidores de α-amilases do feijão comum tem-se

mostrado bastante eficiente, por exemplo, contra bruquídeos que infestam sementes

armazenadas. Demonstrou-se que o inibidor -AI1 inibe as -amilases de três

bruquídeos do velho mundo: a broca da ervilha (Bruchus pisorum), a broca do feijão-de-corda (Callosobruchus maculatus) e da broca do feijão azuki (Callosobruchus chinensis) (FRANCO, O. L. et al., 2002). O inibidor -AI2 inibe as α-amilases de Zabrotes subfasciatus (GROSSI-DE-SÁ, M. F. et al., 1997). Experimentos in vitro demonstraram que o inibidor -AI1 de Phaseolus vulgaris inibe a atividade das duas

-amilases presentes na broca-do-café (H. hampei) (VALENCIA, A. et al., 2000). Devido à alta eficiência dos inibidores de α-amilase de P. vulgaris, eles foram utilizados no desenvolvimento de diversas plantas transgênicas para o controle de

insetos-praga. A mais bem caracterizada até o momento foi a planta de ervilha

(Pisum sativum L.) transformada com o inibidor -AI1 para o controle da broca-da-ervilha (Bruchus pisorum) (SCHROEDER, H. E. et al., 1995). Esta planta foi transformada por Agrobacterium tumefasciens usando o inibidor -AI1 sob o controle do promotor da fitohemaglutinina. A expressão do inibidor alcançou concentrações

entre 1 e 2%, o que controlou a broca da ervilha com extrema eficiência. Essas

plantas foram avaliadas até a geração T5, confirmando a integração estável do

transgene no genoma (SCHROEDER, H. E. et al., 1995). Uma avaliação nutricional mostrou a ausência de efeitos nocivos em ratos alimentados com 30% de ervilhas

transgênicas (PUSZTAI, A. et al., 1999). Experimentos realizados em campo demonstraram que plantas transformadas com o inibidor AI-1 foram eficientes em

eliminar a broca-da-ervilha, causando a morte dos insetos no segundo instar. Ao

mesmo tempo, plantas transformadas com o inibidor -AI2 não foram tão eficientes

(29)

resultados mostraram que a concentração expressa do inibidor nessas raízes não

diminuiu quando expostas a estresse hídrico. No entanto, ocorreu uma redução de

36,6% do inibidor nas plantas transgênicas em condições de estresse de

temperatura (DE SOUSA-MAJER, M. J. et al., 2004). Um recente trabalho mostrou que essas plantas chegam a eliminar de 93 a 98% dos insetos (DE SOUSA-MAJER,

M. J. et al., 2007).

Adicionalmente, foram desenvolvidas plantas transgênicas de Vigna radiata (SONIA et al., 2007), V. unguiculata (SOLLETI, S. K. et al., 2008), feijão azuki (ISHIMOTO, M. et al., 1996) e grão-de-bico (Cicer arietinum) (IGNACIMUTHU, S.PRAKASH, S., 2006) expressando o inibidor -AI1, com o intuito de controlar

insetos-praga nessas plantas. Estes trabalhos atestam a eficiência do uso de

inibidores de α-amilases em plantas transgênicas com o objetivo de controlar insetos

praga.

2.4. METODOLOGIAS DE TRANSFORMAÇÃO DO CAFÉ

Os procedimentos de cultivo in vitro e transformação do cafeeiro são tecnicamente complicados, visto que a regeneração dos explantes demora vários

meses. Da mesma forma, o crescimento das mudas obtidas dura alguns anos até a

primeira frutificação. No entanto, essas desvantagens são pequenas perto das

dificuldades do melhoramento convencional do cafeeiro, que pode prolongar-se por

até 30 anos (RIBAS, A. F. et al., 2005). A despeito dessas dificuldades, vários protocolos de transformação e regeneração para C. arabica e C. canephora já foram publicados, utilizando diversas metodologias.

O primeiro protocolo para transformação de plantas do gênero Coffea consistiu em transformar plantas de C. canephora por Agrobacterium rhizogenes (SPIRAL, J. et al., 1993). No entanto, este protocolo obteve uma baixa eficiência de transformação. Outro protocolo para transformar plantas de C. canephora por A. tumefaciens foi publicado anos depois, sendo mais eficiente do que o primeiro (HATANAKA, T. et al., 1999).

(30)

um gene de interesse em plantas de café e ainda conseguiu controlar o inseto-alvo.

Uma avaliação experimental em campo da planta de café com o gene cry1Ac durante 4 anos mostrou que a taxa de plantas infectadas foi reduzida de 70%, nas

plantas controle negativo, para menos de 10% nas plantas transgênicas. O número

de insetos encontrados nas plantas transgênicas foi consideravelmente menor do

que nas plantas controle (PERTHUIS, B. et al., 2005).

Outro uso aplicado da transformação genética de café foi usado no

desenvolvimento de plantas de C. arabica e C. canephora com uma menor concentração de cafeína (OGITA, S. et al., 2003; OGITA, S. et al., 2004). Estas plantas foram transformadas via A. tumefaciens usando construções que produziam RNAi para genes da via de biossíntese da cafeína. Elas apresentaram uma redução

de 70% do conteúdo de cafeína (OGITA, S. et al., 2003; OGITA, S. et al., 2004). O primeiro protocolo relatando uma transformação estável de café por

bombardeamento de micropartículas foi publicado para a planta C. canephora (RIBAS, A. F. et al., 2005).

Plantas de C. canephora transgênicas resistentes ao herbicida glufosinato de amônio foram desenvolvidas usando um protocolo de transformação via A. tumefasciens (RIBAS, A. F. et al., 2006).

No ano de 2006, um protocolo de transformação e regeneração direta de C. canephora foi elaborado usando A. rhizogenes (KUMAR, V. et al., 2006). Este protocolo tem uma vantagem em relação aos outros, pois a obtenção das plantas

ocorre em 8 meses. Entrentanto, a eficiência de transformação foi de apenas 3%

(KUMAR, V. et al., 2006).

Recentemente, a eficiência na transformação de cafeeiro via A. tumefaciens foi aumentada com o desenvolvimento de um protocolo que usa infiltração por vácuo

(31)

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 CONSTRUÇÃO DO PLASMÍDEO PARA TRANSFORMAÇÃO DE CAFÉ

Construiu-se um plasmídeo tendo como base o vetor pBIN19 (HOEKEMA, A.

et al., 1983). Nele foi clonado o gene que codifica para o inibidor de -amilase 1 do feijão Phaseolus vulgaris (-AI1), flanqueado pelo promotor e terminador da fitohemaglutinina (PHA-L). Este fragmento, contendo o -AI1, o promotor e o terminador PHA-L, foi retirado do vetor pTA3 (ALTABELIA, T.CHRISPEELS, M. J.,

1990) por digestão dos sítios HindIII. Os fragmentos resultantes do plasmídeo digerido foram separados em um gel de agarose 1%, corado com brometo de etídio

(SAMBROOK, J.RUSSELL, D. W., 2001). O fragmento correspondente ao promotor

de fitohemaglutinina, -AI1, terminador da fitohemaglitinina (4830 pb), foi retirado do gel e purificado com o kit “High Pure PCR Product Purification” da Roche, seguindo

as instruções do fabricante.

Uma digestão com a enzima HindIII foi usada para linearizar o pBIN19. Este plasmídeo aberto foi ligado ao fragmento purificado do pTA3 usando-se a enzima

“T4 DNA Ligase” (Invitrogen). Esta ligação gerou um plasmídeo com 16607 pb, que

foi chamado pBIN19αAI-1 (Figura 3). O promotor da fitohemaglutinina direciona a expressão do inibidor para a semente do café (VOELKER, T. et al., 1987), que é o sítio de ataque do H. hampei. Este mesmo promotor já foi usado no desenvolvimento de outras plantas transgênicas (SCHROEDER, H. E. et al., 1995; IGNACIMUTHU, S.PRAKASH, S., 2006; SOLLETI, S. K. et al., 2008).

(32)

3.2 TRANSFORMAÇÃO DE Coffea arabica POR BIOBALÍSTICA

As plantas de C. arabica foram transformadas por bombardeamento de calos embriogênicos. Esses calos foram obtidos a partir da cultura de fragmentos foliares

no meio C (BOXTEL, J. V.BERTHOULY, M., 1996), modificado pela adição de 20

M 2,4-D e nomeado meio C20. Folhas de C. arábica, variedade catuaí-vermelho, foram coletadas em casa de vegetação 28 da Embrapa Cenargen, sendo coletadas

folhas do terceiro par. As folhas foram desinfetadas durante 5 min em uma solução

de hipoclorito de sódio 2%, e lavadas com água destilada estéril 3 vezes, cada

lavagem com duração de 5 min. Após a desinfecção, as folhas foram cortadas em

fragmentos de aproximadamente 0,5 x 0,5 cm, usando-se lâminas de bisturi estéreis,

e incubadas em placas de Petri contendo o meio C20. Todo o procedimento foi

realizado em fluxo laminar.

Após um mês de incubação no escuro a temperarura de 25ºC ± 2, os calos

crescidos das bordas das folhas foram subcultivados em um novo meio C20 e

cultivados por mais 5 meses, com subistituição dos meios a cada mês. Após esse

período, e 7 dias antes do bombardeamento, os calos embriogênicos foram

dispostos sobre um filtro Membranfilter 0,45 m e colocados em placas de Petri

contendo o meio C adicionado de 10 M 2,4-D, chamado de meio C10. As

membranas contendo os calos foram transferidas 24 horas antes do

bombardeamento para o meio C10 contendo 0,5 M de manitol e 8 g/L de fitagel

(Qual o objetivo?). Após esse tratamento osmótico, os calos foram bombardeados

com micropartículas de tungstênio cobertas com o plasmídeo pBIN19α-AI1 e transferidos para o meio C10 (ARAGÃO, F. J. L. et al., 1996; ALBUQUERQUE, E. V. S.;CUNHA, W. G.;BARBOSA, A. E. A. D.;TEIXEIRA, J. B. et al., 2009). Duas semanas após o bombardeamento, os calos foram transferidos para o meio C10

contendo 200 mg/L de canamicina, que foi o agente seletivo. Uma semana depois,

os calos foram submetidos a um aumento do agente seletivo para 300 mg/L, e

novamente, após 1 semana a canamicina foi aumentada para 400 mg/L. Em

seguida, esses calos foram subcultivados mensalmente no meio C10 contendo 400

mg/L de canamicina por um período de 6 meses até o desenvolvimento dos

embriões. Após esse período, os embriões foram transferidos para o meio WPM

(33)

(temperatura de 27ºC ± 3, umidade de 75% ± 10), onde cresceram durante 2 anos

até o desenvolvimento dos primeiros frutos. Estas primeiras sementes produzidas

foram usadas nos testes de expressão do inibidor e para a produção da geração T1

de plantas de café transgênico. Dez sementes provenientes de duas plantas de café

transformadas foram plantadas para a produção da geração T1.

3.3 AVALIAÇÃO DA INTEGRAÇÃO DOS TRANSGENES NO GENOMA DE C.

arabica

As plantas de café obtidas pela regeneração dos calos bombardeados foram

submetidas à PCRs para identificar a presença dos genes nptII e -AI1 em seus genomas. Inicialmente, o DNA das folhas de 26 plantas foi extraído usando-se o

método CTAB (DOYLE, J. J.DOYLE, J. L., 1987), modificado pela adição no tampão

de 2% PVP e 2% de metabissulfito de sódio. O DNA extraído foi quantificado no

espectrofotômetro NanoDropTM ND-1000 (Thermo Scientific).

Antes da PCR, 2 g do DNA das plantas foram digeridos com a enzima

EcoRI. Esta enzima não clivou os genes da canamicina nem do inibidor, apenas fragmentou o DNA para facilitar o alinhamento dos primers (SAMBROOK,

J.RUSSELL, D. W., 2001). Duas microgramas do DNA foram digeridos com 12

unidades de EcoRI, 2 L do tampão 10X, em um volume final de 20 L, completado com água bi-destilada. A reação foi executada durante 1 h, a 37ºC, usando-se um

“Thermomixer” (Eppendorf), com agitações (800 RPM) de 30 segundos a cada 5

minutos.

Nas PCRs foram utilizados 0,6 g do DNA digerido como molde para todas as

plantas avaliadas. Os primers utilizados estão na tabela 1. Eles foram desenhados

com o uso das seqüências contidas no anexo 2 e escolhidos com o programa

PRIMER3 (http://frodo.wi.mit.edu/) (ROZEN, S.SKALETSKY, H. J., 2000). Os 4

(34)

Tabela 1. Primers utilizados nas reações de PCR para amplficação dos genes nptII e -AI1.

Nome do primer Seqüência

nptII Foward 5´ - GAGGCTATTCGGCTATGACTG - 3´

nptII Reverse 5´- TCGACAAGACCGGCTTCCATC – 3´

-AI1 Foward 5´- GCCTTGGGATGTACACGACT – 3´

-AI1 Reverse 5´- CTCCATTGATAAGCCCCTGA – 3´

As reações de PCR foram montadas como descrito na tabela 2. O DNA de

uma planta de café não transformada foi usado como controle negativo, enquanto

que 200 ng do plasmídeo pBIN19α-AI1 foi usado como controle positivo.

Tabela 2. Reação de PCR para os genes nptII e -AI1.

Reagente Volume (L)

H2O Milli-Q estéril 35,9

DNA das plantas digerido (0,1 g/L) 6

Tampão Taq DNA polimerase 10X (Pht) 5

Taq DNA polimerase 5U/L (Pht) 0,5

Primer Foward 10 M (Invitrogen) 0,8

Primer Reverse 10 M (Invitrogen) 0,8

dNTPS (10 mM) (Invitrogen) 1

Volume total 50

O programa de amplificação utilizado foi o seguinte: desnaturação inicial a

94ºC durante 5 min, seguida por 30 ciclos de desnaturação a 94ºC durante 1 min;

anelamento a 60ºC durante 1 min e extensão a 72ºC durante 30 seg; ao final dos

ciclos foi feita uma extensão de 10 min a 72ºC. A reação foi executada no

termociclador “Mastercycler gradient” (Eppendorf) em tubos de 200 L (Axygen). Os

produtos da amplificação foram analisados por eletroforese em gel de agarose 1%,

corado com brometo de etídio (SAMBROOK, J.RUSSELL, D. W., 2001). O DNA de

11 plantas da geração T1 foi avaliado da mesma forma que foi descrita para as

plantas T0, sendo 4 plantas descendentes da planta “2” e 7 plantas descendentes da

planta “4”.

3.4 CONFIRMAÇÃO DA INTEGRAÇÃO DO TRASGENE NO GENOMA VIA

SOUTHERN BLOT

A técnica de Southern blot foi utilizada para confirmar a integração do gene

(35)

6 plantas transformadas (plantas positivas por PCR) e do controle negativo (planta

não transformada) foram digeridos simultaneamente com as enzimas ClaI, PvuII e EcoRI. A enzima ClaI cortou no nucleotídeo 86 do gene -AI1, a enzima EcoRI cortou no final do terminador da fitohemaglutinina (Figura 6) e a enzima PvuII não possuia sítios dentro da construção pBIN19α-AI1. A reação de digestão foi preparada da seguinte forma: Tampão NEB 4 10X, 40 L; BSA 100 X, 4 L; enzima

PvuII 10 L (10 U/L); enzima ClaI 10 L (5 U/L); enzima EcoRI 5 L (12 U/L); espermidina 16 L e água bi-destilada q.s.p. 400 L. As enzimas foram adicionadas

individualmente, separadas por intervalos de 5 horas após a adição da primeira. A

reação foi feita a temperatura constante de 37ºC no “Thermomixer” (Eppendorf), com

agitações sucessivas de 800 RPM por 30 segundos a cada 5 minutos sem agitação.

Como controle positivo foram usados 5 ng de DNA correspondendo ao fragmento do

inibidor -AI1 (735 pb).

Os fragmentos obtidos dessas digestões foram separados em gel de agarose

0,8% e transferidos por capilaridade para a membrana de nitrocelulose Hybond-N

(Amersham biosciences). Neste procedimento, o gel foi incubado na solução de

desnaturação (Anexo 3), sob leve agitação, durante 30 min. Após uma rápida

lavagem com água destilada, o gel foi transferido para a solução de neutralização

(Anexo 3) durante 30 min, sob leve agitação. Em seguida, o gel foi colocado sobre

uma ponte de papel filtro dentro em um recipiente contendo a solução SSC 20X

(Anexo 3). A membrana de nitrocelulose foi colocada sob o gel, e sobre esta foram

colocadas 3 folhas de papel filtro pressionadas por, aproximadamente, 10 cm de

folhas de papel toalha. No topo de todo o aparato, sobre as folhas de papel toalha,

foi colocada uma placa de vidro, e sobre ela um peso de 1 kg. Esta transferência por

capilaridade foi realizada durante 16 horas a temperatura ambiente (BRASILEIRO,

A. C. M., 1998). Após a transferência, o DNA foi fixado à membrana por exposição à

luz UV durante 25 seg, utilizando-se o forno “Stratalinker 2400” (Stratagene).

O DNA correspondente ao gene -AI1 (735 pb) (100 ng), isolado por digestão com a HindIII do plasmídeo pBIN19α-AI1, foi usado como sonda após ser radioativamente marcado com 5 L de [-32P] dCTP (GE Healthcare). Na marcação

foi utilizado o kit Ready-To-GoTM DNA Labeling Beads (-dCTP) (GE Helthcare),

(36)

A membrana foi bloqueada com a solução de pré-hibridização (Anexo 3)

dentro de um frasco de vidro (Shel Lab), sob agitação lenta, durante duas horas, a

65ºC, utilizando-se o forno de hibridização (Modelo 1012, Shel Lab).

Após o bloqueio, a sonda marcada foi desnaturada por uma incubação a

100ºC, durante 5 min, e adicionada à solução de pré-hibridização, que foi mantida a

65ºC, durante 16 horas. O DNA do gene -AI1 marcado radioativamente foi incubado durante 5 min, a 100ºC, para desnaturação, e adicionado ao frasco

contendo a membrana. A hibridização ocorreu a 65ºC, durante 16 horas

(BRASILEIRO, A. C. M., 1998).

Após a etapa de hibridização, a membrana foi lavada 2 vezes com a solução

de lavagem 1 (Anexo 3), durante 15 min, a 65ºC, e 2 vezes com a solução de

lavagem 2 a 65ºC, durante 15 min (Anexo 3). Em seguida, para a detecção, a

membrana foi colocada sobre papel filtro e exposta ao filme “BioMax MS” (Kodak)

dentro de um cassete (Hypercassette, Amersham pharmacia biotech) (BRASILEIRO,

A. C. M., 1998). O cassete de exposição foi mantido a -80ºC durante 6 dias. O filme

foi revelado na sala escura, usando-se as soluções de revelação e fixação (Kodak).

3.5 DETECÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DA EXPRESSÃO DO INIBIDOR -AI1 NAS

PLANTAS TRANSGENICAS DE CAFÉ

A presença do inibidor -AI1 nas plantas de café transgênico da geração T0

foi detectada pela aplicação da técnica de Western blot (BURNETTE, W. N., 1981) e quantificada por ELISA. Proteínas totais das sementes de 3 plantas transgênicas de

café (Plantas 2, 3 e 4) e de uma planta de café não transformada foram extraídas

com o uso de tampão de extração contendo ácido succínico (C4H6O4) (0,15 M),

NaCl (0,06 M), CaCl2 (0,02 M), metabissulfito de sódio (Na2S2O5) (0,01 M), pH 5,0.

A composição desse tampão é essencial para o funcionamento correto do inibidor,

pois o íon cloro é importante para que o inibidor alcance sua atividade máxima, e o

íon cálcio aumenta a taxa inicial de ligação do inibidor na amilase alvo (GIBBS, B.

F.ALLI, I., 1998). O ácido succínico foi ajustado para tamponar a solução em pH 5,0,

que é o pH ótimo para o funcionamento do inibidor (OBIRO, W. C. et al., 2008). O metabissultifo de sódio foi adicionado com o objetivo de neutralizar compostos

(37)

As sementes foram maceradas em nitrogênio líquido, e o pó homogeneizado

em tampão de extração na proporção de 1:4 (pó:tampão), sob leve agitação, a 4oC,

durante 1 hora. Posteriormente, o extrato foi centrifugado a 12.000 g durante 30 min,

e o sobrenadante coletado. O extrato protéico foi quantificado com o uso do

reagente “Bradford protein assay” (Bio-Rad), seguindo-se as instruções do

fabricante.

Visando a separação das proteínas, 5 g do extrato total de cada planta foram

solubilizados em tampão de amostra (Anexo 4) e aplicados em um gel de

poliacrilamida 15% (Anexo 4). A eletroforese foi realizada durante aproximadamente

90 min, a 20 mA, usando-se o sistema “Mini-Protean III” (BioRad) contendo tampão

de corrida (Anexo 4). Como controle positivo foram usados 400 ng do inibidor

semipurificado, extraído do feijão Phaseolus vulgaris. Paralelamente, um segundo gel foi feito, contendo 10 g de proteínas totais, corado com coomassie brilliant blue

R-250 (Anexo 4) e descorado com solução descorante (Anexo 4) até a visualização

das bandas (REISNER, A. H. et al., 1975; ROCHA, T. L. et al., 2005).

A transferência das proteínas separadas no gel SDS-PAGE para a membrana

de nitrocelulose Hybond-C Extra (Amersham Biosciences) foi feita com a aplicação

de 10 V, durante 20 min, usando-se o sistema “Trans-Blot® SD Semi-Dry” (Bio-Rad)

e o tampão de transferência (Anexo 4). Dentro do sistema “Trans-Blot®” foram

colocadas 3 folhas de papel filtro embebidas em tampão de transferência. Sobre

estas foi colocado o gel de poliacrilamida, e por sobre este foi adicionada a

membrana de nitrocelulose e mais três folhas de papel filtro. O sistema foi fechado e

a voltagem aplicada.

Após a transferência, a membrana foi bloqueada com uma solução de TBS

(Anexo 4) contendo BSA 3% (SIGMA), durante 2 horas, a temperatura ambiente.

Depois do bloqueio, a membrana foi incubada em TBS contendo BSA 1%, e o

anticorpo anti-α-AI1 produzido em coelho (1:900). A hibridização foi realizada a 4oC,

sob leve agitação, durante 16 horas. Posteriormente, a membrana foi lavada 3 vezes

com uma solução TBS + BSA 1%, durante 15 min, e incubada com o anti-anticorpo

conjugado com fosfatase alcalina (Anti-Rabbit IgG – Alkaline phosphatase conjugate,

SIGMA), durante 1 hora, a temperatura ambiente, na diluição 1:1000, em tampão

TBS contendo BSA 1%. Seguiram-se 4 lavagens de 5 min em solução TBS contendo

tween-20 0,05%. Na reação de detecção, foi utilizado o Kit “AP Conjugate Substrat”

Imagem

Figura 1. Fêmea de Hypothenemus hampei sobre um grão de café.
Figura 3. Esquema do plasmídeo pBIN19α -AI1, onde foi clonado o inibidor -AI1 de P. vulgaris sob o  controle do promotor e terminador da fitohemaglutinina (PHA-L)
Figura 4. Estágios da transformação de plantas de Coffea arabica.  A, calos friáveis crescendo da  borda de um fragmento foliar; B, calos bombardeados e selecionados pelo antibiótico canamicina, em  que os mais claros são os resistentes; C, embrião em rege
Figura 5. PCR das plantas transgênicas de café T0 (A e B) e T1 (C e D). A, PCR para o inibidor - -AI1;  B PCR para o gene nptII
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Referências

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