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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Flávio Francisco do Nascimento Um estudo sobre comunicação remota a partir da ideia de precognição MESTRADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA São Paulo 2021

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Flávio Francisco do Nascimento

Um estudo sobre comunicação remota a partir da ideia de precognição

MESTRADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

São Paulo 2021

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Flávio Francisco do Nascimento

Um estudo sobre comunicação remota a partir da ideia de precognição

MESTRADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Dissertação apresentada à Banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE, em História da Ciência sob a orientação do Prof. Dr. Fumikazu Saito.

São Paulo 2021

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Banca examinadora

___________________________

___________________________

___________________________

(4)

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos fotocopiadores ou eletrônicos.

Ass.: ___________________________________________

Local e data: _____________________________________

Flávio Francisco do Nascimento

flavionascimento1@hotmail.com

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“O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. ”

“This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Finance Code 001. ”

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“À Ciência, aos Professores, ao Sistema Único de Saúde, aos Profissionais que estão na linha de frente no combate à pandemia do coronavírus. ”

(7)

Agradecimentos

Ao meu orientador, Prof. Dr. Fumikazu Saito, pelas valiosas críticas e comprometimento, durante a pesquisa, a me manter num crescente intelectual.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES) pelo fomento à nossa pesquisa.

Aos membros da banca examinadora pelo aceite e pelas importantes contribuições.

Aos professores do programa História da Ciência, à secretária Camila, aos funcionários da biblioteca, dos laboratórios de informática, da sala de fotocópia.

Aos colegas de turma e amigos por nos lembrar o quão importante é a descontração para manter a saúde emocional em dia.

Ao Jarbas pela revisão gramatical dessa dissertação.

Aos meus tios, Maria Helena e Antônio pelo apoio material à minha pesquisa.

À amiga Fernanda e ao inestimável Huldson.

Ao meu irmão Fausto (In memoriam), ao meu Pai Manoel (In memoriam), à minha Mãe Anita, por tanto amor e confiança.

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“ Os engenheiros, fisiologistas, anatomistas, psicólogos e ocultistas são (...), por natureza, dependentes uns dos outros. O ocultista pode revelar ao engenheiro os problemas do futuro; pode transformar o descobridor cego da tecnologia num inventor deliberado. Mas é o engenheiro que pode oferecer ao ocultista uma explicação científica sobre as faculdades mágicas dos seres humanos. ”

Carl du Prel

(9)

Resumo

Em meados do séc. XX, precisamente durante a guerra fria, houve um grande desenvolvimento de tecnologias de comunicação remota de modo que os

impérios, soviético e Estado Unidense, pudessem vigiar um ao outro à distância garantindo a eles expansão e segurança político-militares. Aquele

desenvolvimento esteve inextricavelmente ligado às correntes teóricas, matemática e sistêmica, que concorreram para a consolidação científica das ciências da informação. Sugerimos que essas mesmas correntes foram utilizadas como possibilidades de explicar o mecanismo parapsicológico da precognição, mecanismo esse que diz respeito ao conhecimento antecipado de informações e que foi objeto do debate dos artigos que analisamos. E sobre esse debate, apresentamos indícios de que a precognição toma sua forma concreta à medida que as ideias, bem como o implemento das tecnologias de informação se consolidam como instrumentos intencionais de poder e controle do comportamento social através da comunicação remota.

Palavras Chave

Informação, Precognição, Tecnologia, Comunicação remota.

(10)

Abstract

In the middle of the twentieth century, precisely during the Cold War, there was a great development in remote communication technologies, such that the empires, Soviet and North American, could watch one another from a distance, ensuring them political-military expansion and safety. That development has been

inextricably linked to the theoretical currents, mathematical and systemic, that concurred for the scientific consolidation of information sciences. We suggest that these same currents have been used as possibilities to explain the precognition’s parapsychological mechanism, which concerns the early

knowledge of information and that has been object to the debate of the articles we have analyzed. And surrounding this debate, we have presented evidence that the precognition shapes itself as the ideas, and also the implement of information technologies, consolidate themselves as intentional instruments of power and control of social behavior through remote communication.

Keywords

Information, Precognition, Technology, Remote communication.

(11)

Sumário

Introdução ... 13

Capítulo I: Precognição e a ideia de espaço ... 16

1.1. Os estudos de precognição ... 16

1.2. Conexão mente e matéria ... 19

1.3. Física, estatística, precognição ... 27

1.4. Precognição, tecnologia, comunicação remota ... 33

Capítulo II: Precognição, causalidade, mensagem ... 42

2.1 Causalidade imediata, precognição: teoria matemática da comunicação ... 42

2.2 Causalidade final, precognição, teoria sistêmica da informação ... 52

2.3 Causalidades, emissor, receptor...58

Capítulo III: Precognição e liberdade humana...63

3.1 Indeterminismo psicofísico ... 63

3.2 Tecnologia de informação, temporalidade, tomada de decisão ... 68

Considerações finais ... 79

Bibliografia...83

(12)

Introdução

(13)

13 Introdução

Em março de 1965, Artur Campbell Garnett (1894-1970) publicou um artigo intitulado “Matter, Mind and Precognition”.1 Em setembro do mesmo ano, George I. Mavrodes (1926-2019) e Robert. B. Nordberg (?) publicaram, respectivamente, dois artigos, “Comments on Garnett's Article Matter, Mind and Precognition: Notes on A Theory of Precognition”2 e “Final Causality and Esp”3, ambos tecendo críticas sobre as ideias apresentadas por Garnett, que, por sua vez, treplicou num outro artigo, intitulado “A Reply to Some Notes on Matter, Mind and Precognition".4

Esses artigos foram publicados no periódico Journal of Parapsychology5, fundado em 1937 na Universidade de Duke, em Durham, na Carolina do Norte, Estados Unidos, pelos pesquisadores Joseph Banks Rhine (1895-1980), William Mc Dougall (1871-1938), Helge Lundholm (1891-1955) e Karl Zener (1903- 1964), os mesmos que fundaram, em 1930, o laboratório de parapsicologia na idêntica instituição, onde, semelhantemente, os estudos sistemáticos sobre a precognição ocorreram.6

Garnett, Mavrodes e Nordberg eram filósofos e professores, respectivamente, de três importantes Universidades dos Estados Unidos da América: Universidade Wisconsin-Madison, Universidade de Michigan em Ann

1 “Matéria, Mente e Precognição”, Trad. Nossa.

2 “Comentários sobre o Artigo de Garnett: Notas sobre uma Teoria da Precognição”, Trad. Nossa.

3 “Causalidade Final e Percepção Extrassensorial”, Trad. Nossa.

4 “Uma Tréplica sobre os Comentários de (Matéria, Mente e Precognição) ”, Trad. Nossa.

5 Lessa, “Precognição”, 20.

6 Ibid., 122.

(14)

14 Arbor e Universidade de Marquette em Milwaukee. Dentre outros estudos, eles se envolveram num debate sobre a possibilidade da precognição, uma modalidade de percepção extrassensorial, telepática ou clarividente, que propiciava o conhecimento antecipado de eventos futuros.7

Esse debate que, em última instância, envolvia o problema de explicar os mecanismos precognitivos, ou seja, o modo de operação parapsíquico de recepção e transmissão de mensagens, parece ter se afigurado como um problema de comunicação remota.

Num contexto da guerra fria, associado ao desenvolvimento da ciência e de tecnologias da informação, fundamentais para captar e processar dados à distância, de modo que, tanto os Estados Unidos como a então União Soviética pudessem controlar e expandir seus impérios militares, sociopolíticos e econômicos, a antecipação de eventos futuros era estratégica.

Nesse sentido, a comunicação remota era entendida mais do que um recurso que possibilitaria transmitir mensagens à distância e afigurava-se como meio de exercer o poder e o controle, uma vez que, naquele contexto, a tomada de decisão, entendida aqui como um mecanismo antecipatório e intencional, era consequência direta da obtenção remota de informações.

Podemos dizer que a comunicação remota, dessa maneira, revestiu a precognição de atributos “científicos”, visto que os mecanismos de operação precognitivos foram interpretados por Garnett, Mavrodes e Nordberg à luz das novas teorias de informação e comunicação.

7 Vide mais a esse respeito em: Cardeña, Etzel; Lynn, Steven Jay; Krippner, Stanley.

“Glossário para Variedades da Experiência Anômala”.

(15)

15 Assim, por se tratar não apenas de captar e transmitir informações remotamente, como também envolver questões de ordem semântica e pragmática, a possibilidade de antever os eventos futuros envolveu três ideias fundamentais: a de transmissibilidade das informações, a de significados e a de intencionalidades das mesmas. Essas três concepções, que foram alvo de discussão entre Garnett, Mavrodes e Nordberg, foram abordadas neste trabalho a partir da noção de espaço, de mensagem e de liberdade humana, que, juntamente articuladas, caracterizaram o problema da comunicação remota e ressignificaram o da precognição.

(16)

16 Capítulo 1

Precognição e a Ideia de Espaço.

Por volta da década de 1960, o debate sobre a precognição esteve bastante vivo entre estudiosos de psicologia e parapsicologia. Tal discussão deu-se num contexto conflitivo em que a comunicação remota tinha lugar de destaque. A capacidade de se comunicar à distância ou mesmo antever os fenômenos envolveu diversas especulações não só sobre mente e matéria, como também a respeito do meio de conexão entre elas. Assim, para termos uma noção mais geral dos fundamentos da tese sobre a possiblidade de comunicação remota, temos que revisitar os novos desdobramentos científicos, especialmente aqueles ligados à Física, que tiveram lugar naquele ambiente.

Desse modo, apresentamos, neste capítulo, a concepção de meio de conexão entre a mente e a matéria a partir da noção de espaço, que está pressuposto nos artigos de Artur Campbell Garnett (1894-1970), “Matter, Mind and Precognition”, e de George I. Mavrodes (1926-2019), “Comments on Garnett's Article ‘Matter, Mind, and Precognition’. Notes on A Theory of Precognition”, publicados em The Journal of Parapsychology em 1965.

1.1) Os estudos de precognição

As ideias de Garnett e de Mavrodes foram elaboradas num contexto em que questões bélicas e de estratégia militar exerceram, a todo vapor, sua materialidade técnica e cultural em sua forma mais concreta: a espionagem.

É sabido, em larga escala, que a espionagem foi um procedimento estratégico muito eficaz, durante a guerra fria, entre as duas grandes potências

(17)

17 militares, Estados Unidos e União Soviética. Desse modo, espionar o inimigo sem que o mesmo percebesse era condição sine qua non para coletar o maior número de informação possível e, com isso, engendrar um imenso poderio de defesa e executar eventuais ataques ofensivos e defensivos.

Tendo cada potência o seu modus operandi, a União Soviética era mais

“expert” em utilizar material humano para “bisbilhotar” o Império Estado Unidense, este era mais capacitado tecnologicamente, cumprindo, assim, com bastante êxito as infiltrações oculares em territórios soviéticos.8

Sobre tal disputa, podemos dizer que:

“O Bloco de Leste usou espiões humanos para descobrir informações secretas com sucesso, enquanto os Estados Unidos, com vários percalços, predominantemente empregavam meios técnicos para aprender sobre o secreto Bloco de Leste. A ascensão da inteligência técnica em grande escala nos Estados Unidos foi parte integrante da ciência e tecnologia da Guerra Fria. A inteligência precisa ser estimulada e acelerada para o desenvolvimento de tecnologia para a Guerra Fria, como satélites espiões, aviões de alta altitude e submarinos motorizados.”9

Neste capítulo, ficaremos restritos ao estudo ligado à parte mais ocidental da Guerra, embora noutro momento e, talvez, outro trabalho mereça a Rússia ser melhor estudada em sua rica cultura.

8 Macrakis, “Technophilic Hubris”, 378.

9Ibid.

(18)

18 Desse modo, destacando o trecho da citação acima: “satélites espiões, aviões de alta altitude e submarinos autorizados”, e acrescentando os computadores, já podemos começar a compreender o modo como a precognição toma sua materialidade cultural e técnica. Em outros termos, a precognição, entendida aqui como antecipação ou pré conhecimento, está estreitamente relacionada ao desempenho e uso de computadores e, portanto, à informação transmitida e recebida, que são utilizadas e interpretadas para defesa ou ataque.

Nesse sentido, segundo Viviane Mosé10, podemos identificar, logo após a segunda guerra mundial, uma “guerra da informação”, que consistiu na necessidade de coletar e processar uma grande quantidade de dados fundamentalmente de natureza bélica e militar para criar estratégias de defesa, bem como para planejar ataques frente a um possível movimento da “cortina de ferro.”11

Desse modo, podemos dizer que o debate sobre a precognição não foi marginal, mas constitutiva do próprio fazer científico de uma época. É nesse sentido que devemos compreender as bases nas quais se assentaram as teses de Garnett e Mavrodes. Com vistas a tornar cientificamente passível de

10 Tazz, “Provocações”. https://www.youtube.com/watch?v=mywqbq5mKzg, acessado em 21 de julho de 2020.

11 Segundo Hugo Ramos, “...a Guerra Fria representava um conflito pós Segunda Guerra Mundial, relativo ao domínio do território europeu entre as partes que, antes, lutaram do mesmo lado (Reino Unido, Estados Unidos da América e União Soviética) contra os exércitos alemães, mas, das quais, apenas a União Soviética apresentava características políticas e ideológicas bastante diferentes dos outros dois aliados.

Churchill identificou a ameaça dos soviéticos e do comunismo como uma ameaça à paz global e caracterizou-a como a cortina de ferro (iron curtain) ”. Vide: Ramos, “A Guerra Fria Cultural: Como a Cortina de Celuloide Contribuiu para Derrubar a Cortina de Ferro”, https://www.academia.edu/download/31503901/A_Guerra_Fria_Cultural__Como_a_

Cortina_de_Celuloide_Contribuiu_para_Derrubar_a_Cortina_de_Ferro.pdf, acessado em 04 de maio de 2021.

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19 explicação o fenômeno da comunicação remota, o debate buscou, inicialmente, postular um meio no qual a conexão entre mente e matéria fosse possível.

1.2) Conexão mente e matéria.

Ao tentar explicar a relação entre mente e matéria, Garnett postulou um meio “M”, de conexão, neutro e metafísico, com a finalidade de explicar o modus operandi da precognição. Assim ele afirmou:

“Consideramos o meio “M” a partir de uma concepção neutra e metafísica, que embora não seja útil para uma explicação científica, serve muito bem para descrever a relação mente e corpo e o fenômeno da precognição.”12

Mavrodes, ao fazer a crítica sobre o texto de Garnett, afirmou que:

“...é empiricamente testável a hipótese de que a precognição, como um modelo explicativo, funciona como uma operação simbólica de extrapolação futura dos dados da atualidade tal como os programas de computadores que extrapolam (estatisticamente) a futura órbita dos satélites partir da representação simbólica das leis físicas.”13

E ainda acrescentou:

“...no caso de se verificar o caráter aleatório ou determinístico da precognição, é importante manejar o experimento

12 Garnett, “Matter, Mind”, 194.

13 Mavrodes, “Comments on Garnett’s Article”, 187.

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20 sobre o embaralhamento de cartas mecanicamente, por uma e depois por duas máquinas...”14

Chama-nos a atenção inicialmente nesse debate um problema de cientificidade dos fenômenos parapsicológicos, já que esses são supostamente de origem irracional, inconsciente15, e, como tais, se confrontam com a herança racionalista do iluminismo da ciência moderna, que privilegia o racional e procura afastar tudo o que é produto da imaginação, do irracional, cujas forças físico- mentais ficam quase obnubiladas.16

Embora o conhecimento antecipado de eventos futuros não fosse deduzível logicamente, a possibilidade de antevê-los foi tratada “matematicamente”

naquela época, dando aos fenômenos precognitivos uma feição mais “científica”.

Isso pode ser constatado no debate entre Garnett e Mavrodes, na segunda passagem, em que Mavrodes observa sobre a importância da matemática estatística usada como ferramenta de medição e extrapolação futura de dados computados e, como consequência, a tentativa de cientificizar o debate sobre os estudos de precognição; e, na terceira, o problema do manejo experimental para saber o nível de interferência da mente sobre a matéria no que diz respeito à capacidade psíquica da precognição, a saber, o de captar informações antecipadas.

Interessante notar é que essas duas afirmações de Mavrodes17 trazem evidências da influência das ideias de Heisenberg, no que diz respeito à

14 Ibid., 188.

15 Lessa, “Precognição”, 37.

16 Goldfarb, “Voar Também”, 110.

17 Ver notas 7 e 8.

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21 compreensão probabilística de localização espacial de entidades discretas como as partículas subatômicas e sua relação com a mente.

De fato, segundo Heisenberg:

“...as partículas elementares e suas propriedades podem ser derivadas matematicamente...e esta [...] pode se referir a ondas de prótons ou mésons, ou a ondas de um caráter essencialmente diferente, que nada têm a ver com qualquer uma das ondas ou partículas elementares conhecidas.”18

Garnett, que também fundamentou seu argumento do meio “M” a partir desta afirmação de Heisenberg, sugere que a precognição pode ocorrer a partir do mesmo mecanismo que a noção de espaço quântico opera para a trajetória descontínua das partículas discretas relacionadas à mente, ou seja, tanto a precognição quanto as partículas discretas deveriam se comunicar remotamente.19

Assim, podemos depreender até aqui que a estatística, além de servir de critério de validação do conhecimento científico, é fonte de medida e interpretação localizacionista do mundo subatômico na física quântica e também instrumento para análise e possíveis explicações da ocorrência e natureza da precognição.

Por conseguinte, podemos notar o estreitamento da noção de espaço da física quântica com a percepção extrassensorial a partir do tratamento

18 Garnett, “Matter, Mind”, 19.

19 Ibid., 20.

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22 matemático dado ao fenômeno, bem como desdobramentos futuros que conduziriam ao desenvolvimento e à operação das tecnologias de informação e comunicação, justamente porque tais operações tecnológicas precisam ocorrer dentro de uma ideia de espaço descontínuo.

A ideia de tratar os fenômenos de percepção extrassensorial matematicamente não era nenhuma novidade, visto que estudos a esse respeito eram comuns naquela época. Com efeito, Joseph Banks Rhine (1895-1980), William Mc Dougall (1871-1938), Helge Lundholm (1891-1955) e Karl Zener (1903-1964), que fundaram o primeiro laboratório de parapsicologia na Universidade de Duke, a partir de 193020, aplicavam em sua totalidade, para a verificação da existência e natureza do fenômeno da precognição, a estatística probabilística. A tabela, apresentada na figura 1, nos dá uma ideia de como esses fenômenos foram tratados matematicamente, de modo a dar um peso científico aos estudos sobre precognição.

20 Lessa, “Precognição”, 122.

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23 (Figura de Lessa, 1975, Precognição, (Duas Cidades), 136)

Vejamos como Garnett e Mavrodes expressaram suas ideias, nesse debate, sobre o problema experimental (quantificação) e inteligibilidade (lógica) do conceito e explicação do fenômeno da precognição frente à ideia do meio “M”, que conecta matéria à mente. Garnett afirmou que:

“...é o da existência de “M” como um meio neutro de conexão entre os processos físicos e mentais e entre os processos físicos aparentemente distintos conhecidos pela ciência. Mas esse postulado, embora não verificável, tem a vantagem lógica de servir para explicar um grande número de fatos intrigantes e tem a vantagem psicológica de ter sido frequentemente proposto e amplamente adotado antes

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24 e independentemente de qualquer consideração sobre a precognição.”21

E Mavrodes replicou:

“Antes de considerar essa explicação particular, no entanto, quero sugerir que a introdução de uma entidade postulada de natureza desconhecida para explicar a interação de entidades mais conhecidas não é um expediente útil e não representa nenhum ganho real em inteligibilidade. Por exemplo, Garnett parece sugerir que os eventos mentais são tão diferentes dos eventos físicos que qualquer influência direta de um sobre o outro seria ininteligível. Pela mesma razão, a noção de que a mente pode ter sua fonte na matéria é considerada inconcebível.”22 E continuando o debate Garnett declarou:

“O segundo postulado tem a fraqueza lógica de ser proposto apenas para fornecer uma maneira de encaixar uma aceitação da precognição na estrutura comum e bem estabelecida de nosso conhecimento do mundo. No entanto, não requer nenhuma modificação dessa estrutura. Limita- se a acrescentar, especulativamente, o conceito de um efeito extra e desconhecido e o acompanhamento de processos físicos e mentais conhecidos. E, se a precognição deve ser admitida como um fato, ela fornece uma forma de reconhecer o fato, sem

21 Garnett, “Matter, Mind”, 25.

22 Mavrodes, “Comments on Garnett’s Article”, 186.

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25 perturbar pressupostos básicos de nossa ciência e nossa sociedade...”23

E, novamente, Mavrodes replicou afirmando:

“O segundo postulado de Garnett é muito diferente. É uma hipótese empiricamente testável sobre o “modus operandi” da precognição. Com efeito, ele diz que a precognição opera na base de uma extrapolação do atual estado do mundo a um estado futuro.24 ...Assim, a precognição não envolve nenhuma distorção das ordens temporais ou causais do senso comum, pois não envolve qualquer apreensão direta de um evento futuro, nem qualquer influência causal de um evento futuro no presente. Baseia-se, antes, na apreensão de um modelo atual ou representação do futuro, e esse modelo, por sua vez, é totalmente baseado no estado atual do mundo e em suas leis causais.”25

Como podemos notar, nesse rico diálogo entre Garnett e Mavrodes, termos e expressões como “modelo”, “postulado”, “ordem causal e temporal”,

“inteligível”, “empírico”, “hipótese testável”, não se referem apenas aos problemas de cientificidade relacionados ao debate fronteiriço entre metafísica, lógica e ciência da parapsicologia, mas também e, sobretudo, à suposta possibilidade de se compreender mais profundamente o processo, o modus

23 Garnett, “Matter, Mind”, 25.

24 Mavrodes, “Comments on Garnett’s Article”, 187.

25 Ibid., 188.

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26 operandi da precognição, ou seja, o fazer, o construir científico, como abordaremos mais adiante, relacionados à invenção de novas tecnologias.

Bom dizer que, no contexto de guerra fria, em que os autores estavam inseridos, a junção desmedida da física com a biologia no projeto da Big Science26, na doutrina Truman em meados do séc. XX, Estados Unidos, teve um forte impacto no desenvolvimento tecnológico de poderio militar frente à ameaça dos inimigos, e, como tal, acelerou as pesquisas e aumentou o investimento científico consideravelmente.27

No próprio campo da parapsicologia, sete anos depois da publicação dos artigos de Garnett e Mavrodes no periódico de parapsicologia da Universidade de Duke, houve um grande investimento na Universidade de Stanford para a criação de um laboratório de pesquisas de percepção extrassensorial com vista a desenvolver técnicas de visão remota em pessoas para vários fins, dentre eles o de perceber o desenvolvimento bélico de nações ligadas e sob comando da União Soviética.28

Desse modo, compreender os mecanismos da percepção humana supostamente extrassensoriais, dentro desse contexto, não implica somente em

26 Segundo M. Pezzo, “O termo “Big Science” foi usado pela primeira vez na década de 1960, designando um tipo de colaboração científica que começou a aparecer no contexto da Segunda Guerra Mundial, com grande número de cientistas trabalhando em conjunto, em grandes instalações e com financiamento vultoso. Outra característica é que esses projetos trabalham na fronteira do conhecimento, buscando respostas a questões fundamentais e/ou avanços tecnológicos que podem transformar a nossa compreensão do mundo e a nossa própria existência. Os exemplos começam no projeto Manhattan – de construção da bomba atômica –, passam pelo programa Apollo – que nos levou até a Lua – e, mais recentemente, estão em iniciativas como o acelerador de partículas LHC, os telescópios gigantes e o projeto Genoma Humano, dentre várias outras”. Vide: Pezzo, “Big Science”, Lab I, https://www.labi.ufscar.br/2019/09/18/big- science, acessado em 01 de abril de 2021.

27 Almeida, “Guerra e Desenvolvimento Biológico”, 267.

28 Targ, “A Realidade da Percepção Extrassensorial”, 47.

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27 realizar uma discussão filosófica a seu respeito, mas também em refletir sobre uma práxis de alcance moral e tecnológica. Sendo assim, vamos primeiramente nos ater ao aspecto tecnológico, uma vez que ele parece estar implicado nas discussões ligadas à ideia de espaço apresentada por Garnett e Mavrodes.

1.3) Física, estatística, precognição

Para fundamentar sua ideia de “meio”, Garnett trouxe a lume dois campos de estudos da física, a saber, a cosmologia e a quântica. Mais precisamente invocou as ideias de Fred Hoyle (1915-2001) e as de Werner Heisenberg (1901- 1976), respectivamente, ao modelo de universo estacionário e ao de ondas de partículas.

Duas passagens no texto de Garnett expressaram sua preocupação com a ideia de espaço. Na primeira, ele afirmou que:

“...o meio ‘M’ aqui é concebido como origem dos distintos processos da vida e da mente tal como a criação contínua de Hoyle na compreensão da energia envolvida na emergência dos átomos de hidrogênio.”29

E, na segunda, Garnett se referiu à afirmação feita por Heisenberg de:

“...que todas as partículas elementares poderiam ser reduzidas à alguma substância universal que poderíamos chamar

29 Garnett, “Matter, Mind”, 21.

(28)

28 de energia que organizam o funcionamento total do campo das partículas.”30

Segundo Martins, a teoria do universo estacionário de Hoyle et al., seria uma outra explicação para a duração do universo. Contraposta à ideia do “big bang”, que afirmava existir uma origem do universo (partindo do pressuposto que ele estava em expansão) e da discrepância do cálculo das idades geológicas e cosmológicas, a teoria de Hoyle, embora admitisse a expansividade do universo, fornecia uma solução para esse mesmo cálculo e conformava, para a existência cosmológica, uma duração eterna, concluindo que o universo sempre existira e era infinito.31

No que se refere à ideia de substância universal de Heisenberg, a versão estatística, como interpretação dos experimentos em física quântica, fundamentou sua noção de espaço de ondas associado às partículas nele existentes, como podemos constatar na afirmação de Chibeni:

“Assim, a interpretação remete naturalmente a uma situação em que se considera, não um objeto individual, mas um conjunto, ou ensemble, de objetos preparados num mesmo estado quântico.

Medidas realizadas sobre cada um dos membros do ensemble revelarão, tipicamente, valores diferentes e aleatórios, mas que se distribuem segundo uma curva dada pela função de onda. O novo tratamento dado por Heisenberg às suas relações, insere-se, pois, dentro desse referencial conceitual, e não mais na perspectiva

30Werner Heisenberg, “Physics and Philosophy” (New York: Harper and Brothers, 1958), apud Artur Campbell Garnett, “Matter, Mind”, 19.

31 Martins, “O universo”, 162-163.

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29 ontológica dos pacotes de onda como representações diretas dos objetos quânticos individuais.”32

Assim, tendo por base aquelas duas passagens de Garnett, podemos conjecturar que Garnett parece ter fundamentado sua concepção de meio “M”, aproximando as ideias da cosmologia de Hoyle e da física quântica de Heisenberg. Isso possibilitaria Garnett, num primeiro aspecto, a lidar com o problema do espaço micro e macroscópico, uma vez que, como afirmou Friaça:

“Ao se falar em cosmologia, a nossa imaginação nos leva em direção ao maior e maior, a distâncias cada vez maiores, medidas em anos-luz (ou parsecs, como mais comumente usam os astrônomos)...” e “...também somos levados, a partir de uma certa profundidade, ao mais próximo de uma origem, o que significa também mais próximo do muito pequeno, já que o universo está em expansão, e, ao nos aproximarmos da origem, ele se torna menor e menor...”33

E também de acordo com Luiz Davidovich34:

“ Em 1996, foi realizado um experimento na École Normale Supérieure, em Paris, que não apenas levou à construção de uma superposição coerente de dois estados classicamente distintos do campo eletromagnético em uma cavidade, como possibilitou, pela

32 Chibeni, “Certezas e Incertezas”, 11.

33 Amâncio Friaça, “ A Dupla Escada Entrelaçando as Escalas Cósmicas de Distâncias e de Tempos, ” In Decifrando o Tempo Presente, orgs. José C. Bruni, Luiz M. Barreto,

& Nelson Marques (São Paulo: Unesp, 2007): 199-214.

34 Revista Fapesp. Professor do Instituto de Física da UFRJ e Presidente da Academia Brasileira de Ciências. https://revistapesquisa.fapesp.br/perfil-luiz-davidovich, acessado em 05 de abril de 2021.

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30 primeira vez, o acompanhamento em tempo real do processo de perda de coerência, e a medida do tempo característico desse processo, verificando-se em particular que esse tempo decresce quando a distância entre os estados aumenta (ou seja, quando aumenta o número médio de fótons em cada estado). Os resultados experimentais confirmaram com extrema precisão as previsões teóricas publicadas anteriormente. De fato, os estados construídos continham um número pequeno de fótons, da ordem de cinco, e, portanto, não poderiam ainda ser considerados como macroscópicos. Não obstante, o experimento permitiu acompanhar o processo pelo qual a superposição quântica transforma-se em uma mistura estatística clássica (ou seja, a transformação de um sistema capaz de exibir interferência em um sistema que exibe apenas uma alternativa clássica, análoga à da moeda que mostra a cara ou a coroa), explorando assim a fronteira sutil entre o mundo microscópico e quântico de um lado e o mundo macroscópico e clássico do outro.”35

E, noutro aspecto, Garnett também pôde, a partir da hi pótese da criação contínua dos átomos de hi drogênio, de Hoyl e, e do tratamento estatísti co das partícu las, de Hei senberg, propor uma natureza funcional discreta do meio “M” na gênese e conexão de processos físi cos e mentais. Por consequência, foi possível a Garnett

35 Davidovich, “Determinismo e Mecânica Quântica”, 10.

(31)

31 inserir a suposta exi stência da precogni ção relacionada aquele meio

“M” de tal modo que:

“Se no meio “M” existir um padrão correspondente aos eventos futuros de um mundo tão à frente, a precognição pode ser possível. O processo psi na cognição poderia então ser entendido como responsivo a este padrão. Isso ocorre a partir da representação simbólica das relações espaço temporais de eventos físicos que é projetada psiquicamente como uma operação estatística, pois esta representação não é precisa em detalhes podendo sofrer interferência e não ter uma correspondência exata entre o conhecimento antecipado na mente e posterior correlação externa.”36

Como podemos observar a concepção do meio “M” em Garnett foi se construindo em uma relação di reta com i dei a matemáti ca de espaço estatístico de Heisenberg, o que viabilizou uma expli cação do modus operand i da precogni ção.

Cabe aqui observar que a teoria dos campos probabilísticos estava diretamente ligada a uma concepção de espaço descontínuo e infinito. A esse respeito, Mário Schenberg (1914-1990) observou que:

“...a incerteza probabilística talvez seja uma maneira de vencer a descontinuidade. Formam-se situações de

36 Garnett, “Matter, Mind”, 23.

(32)

32 descontinuidade, e a probabilidade é talvez o caminho da natureza para superar essa situação.”37.

Ademais, no que diz respeito ao espaço infinito, Schenberg, referindo-se a Ludwig Eduard Boltzmann (1844-1906), afirmou que este “não gostava da matemática do contínuo. Queria uma matemática do infinito, onde há sempre descontinuidades. E onde há descontinuidades não pode haver determinismo.”38

Assim, podemos dizer que, foi a partir da teoria de campos probabilísticos, presente numa conjuntura epistemológica relacionada à ideia de descontinuidade do espaço, que Garnett afirmou a possiblidade de comunicação remota. Garnett, desse modo, fundamentou seu raciocínio na formalização matemática das ondas de matéria, conforme Heisenberg, ou seja, que:

“Os físicos de hoje tentam encontrar uma lei fundamental do movimento da matéria, a partir da qual todas as partículas elementares e suas propriedades podem ser derivadas matematicamente...”39

Em outros termos, o meio “M”, a que se referiu Garnett, era um lugar, constituído de uma substância universal, onde se projetavam simbolicamente os conteúdos precognitivos clarividentes (constituídos de mente e matéria) e que estava diretamente ligado ao processamento probabilístico de símbolos realizados, tanto por computadores, conforme Mavrodes, como pela própria mente.

37 Mário Schenberg, “Pensando a Física”, (São Paulo: Nova Stella editorial, 1990), apud José Luiz Goldfarb, “Voar Também é com os Homens”, (São Paulo: Edusp, 1994), 183.

38 Schenberg, 182.

39 Werner Heisenberg, “Physics and Philosophy”, (New York: Harper and Brothers, 1958), apud Artur Campbell Garnett, “Matter, Mind”, 19.

(33)

33 A representação simbólica como operador da conexão entre mente e matéria faz referência ao conceito de campo (este estatisticamente concebido e aceito por Heisenberg) em que, simbolicamente, são captadas e processadas as informações remotas, tanto psíquicas, quanto físicas, tal como afirmou Garnett:

“...que as entidades discretas das partículas seguem pelas linhas de força gerando, antes, as imagens na consciência do que depois viria a ter no mundo externo seu correspondente; tal é o mecanismo de precognição.”40

Podemos depreender dois pontos importantes que dizem respeito ao debate sobre a conexão entre mente e matéria pelo meio “M”, assentado no processamento simbólico do mecanismo de precognição. São eles: o problema do significado ou sentido, pressupondo que é um evento psicológico, e outro, o da matematização e da quantificação do fenômeno, já que há uma correspondência no mundo externo, do evento. Assim, nos ateremos ao ponto da matematização, pois tal ferramenta de análise é central na compreensão das origens das tecnologias da informação.

1.4) Precognição, tecnologia, comunicação remota

Como vimos, o meio “M” é uma substância universal e se afigura como espaço neutro dos conteúdos que são nele projetados simbolicamente. Para Garnett, o modus operandi da precognição era análogo àquele da tecnologia da informação, tal como foi mencionado por Mavrodes. Isso significa, em última instância, que o processamento simbólico das informações realizados por

40 Garnett, “Matter, Mind”, 19.

(34)

34 computadores obedece a mesma operação psíquica da precognição.41 Noutros termos, a noção de espaço, cuja ideia de comunicação remota estava associada, estava diretamente ligada à gênese e operacionalidade das novas tecnologias da informação que se faziam necessárias naquele contexto.

Pois, de acordo com Alzira Tude Sá:

“A busca da solução para problemas militares fez com que uma rede de relações e influências fosse estabelecida entre destacados cientistas da época mesmo estando, cada um deles, em busca de soluções específicas para as questões tecnológicas e comunicacionais apresentadas. Nesse bojo destacam-se Shannon e Weaver.”42

E complementou:

“’A Mathematical Theory of Communication’, considera a transmissão da informação como um fenômeno estatístico, quantificável. A Shannon é conferido o direito de ser considerado como o “pai do bit” por ter mostrado como medir a quantidade de informação e ter dado a preferência ao sistema de numeração binário.”43

Nesse ínterim, em meados do séc. XX, de acordo com Araújo, o desenvolvimento das ciências da informação se pautou em três níveis de discussão. O primeiro estava ligado ao transporte técnico da materialidade das informações; o segundo, ao problema semântico que diz respeito ao significado

41 Mavrodes, “Comments o n Ga rn e tt 's A r t ic le”, 186.

42 Sá, “Uma Abordagem Matemática”, 54.

43 Idem.

(35)

35 das mesmas; e, o terceiro, à intencionalidade das mensagens enviadas com a finalidade de gerar comportamentos e provocar reações nas pessoas.44

Podemos dizer que esses três níveis de discussão circunscrevem o problema da comunicação remota em que a parapsicologia encontrava sua cientificidade e aplicabilidade material. No tópico a seguir, vamos discorrer sobre a materialidade técnica das informações deixando os outros níveis para as próximas seções.

Até aqui, podemos notar o papel que teve a matemática estatística no contexto de guerra fria, na concepção da parapsicologia e na operacionalização das tecnologias de informação.

Para a precognição, a matemática estatística concebe e analisa sua natureza. Para as tecnologias de comunicação, as probabilidades quantificam as informações. E, para a ideia de espaço “M” de Garnett e Mavrodes, a probabilidade estatística concebe o princípio localizacionista das entidades discretas; ou seja, supostamente é o mesmo que dizer sobre a operacionalidade técnica dos meios de comunicação.

Quanto a essa ideia constitutiva da estatística na gênese e concepção da natureza dos fenômenos precognitivos e informacionais, da ciência do séc. XX, podemos afirmar de acordo com Ian Hacking que:

“Trata-se de ferramentas intelectuais que nos ajudam a entender os fenômenos e construir fragmentos de tecnologia

44 Araújo, “Correntes Teóricas”, 193.

(36)

36 experimental. Eles nos permitem intervir em processos e criar fenômenos novos e até então inimaginados.”45

É nesse bojo interdisciplinar epistemológico e social que:

“...após a Segunda Guerra começaram a multiplicar-se as tecnologias de transferência de informação sem que nenhuma teoria se voltasse para a quantificação da informação que precisava ser transportada, como por exemplo, a transmissão de mensagens telegráficas com maior velocidade, com fins militares.

Claude Shannon e Warren Weaver, nesse tempo, eram engenheiros da Companhia Telefônica de Nova York e estavam preocupados em transmitir o maior número possível de mensagens, no menor espaço de tempo, ao menor custo operacional e com a menor taxa de ruído.”46

Essa ponte entre a suposta precognição e as tecnologias de informação, vale dizer entre a parapsicologia e a engenharia, mais uma vez cumpre um ideal tecnicista do séc. XX, que de alguma forma prepara terreno para invenções deliberadas para resolver diversos problemas sociais, políticos, econômicos educacionais, militares. A esse respeito, Maria Helena Roxo Beltran afirmou que:

“O alvo de formar cientistas foi levado ao extremo nos projetos renovados norte-americanos dos anos 60. Equipes

45 Hacking, “Representar e Intervir”, 102.

46 T. S. B. Guaraldo, “Aspectos da Pesquisa Norte-Americana em Comunicação:

Primeira Metade do Século XX” (http://www.bocc.ubi.pt/pag/guaraldo-tamara-aspectos- da-pesquisa.pdf), apud Alzira T. “Sá, Uma Abordagem Matemática da Informação: A Teoria de Shannon e Weaver –Possíveis Leituras”, (Rio de Janeiro: s.ed., 2018/2019), 53. (http://dx.doi.org/10.21728/logeion.2018v5n1), acessado em 21 de julho de 2020.

(37)

37 multidisciplinares constituídas por reconhecidos cientistas, educadores e psicólogos foram formadas para elaborar novos projetos de ensino de ciências, enfatizando o fazer científico.

Seguindo o guia do professor e passando por cursos de treinamento, os mestres seriam capazes de conduzir seus estudantes que aprenderiam a pensar como os cientistas, ou seja, a aplicar o infalível método científico. A visão de ciência que se passava era a da ciência neutra, deixando-se de lado toda a discussão sobre o papel da ciência na sociedade, que se desenrolava pelo menos desde o lançamento das bombas atômicas.”47

E ainda nesse ideal tecnicista, vale ressaltar o contexto do final da segunda guerra mundial e ulterior guerra fria que:

“Regido pelo capitalismo, os EUA, em pleno confronto com o desenvolvimento cientifico e tecnológico que grassava na Rússia, buscava se projetar como país investidor e produtor de ciência e tecnologia. Tais blocos hegemônicos investiam na produção científica e tecnológica na ânsia de garantir-lhes a supremacia e o poder ambicionados.”48

47 Beltran, “História da Ciência e Ensino no Laboratório”, 4.

48 T. S. B. Guaraldo, “Aspectos da Pesquisa Norte-Americana em Comunicação:

Primeira Metade do Século XX” (http://www.bocc.ubi.pt/pag/guaraldo-tamara-aspectos- da-pesquisa.pdf), apud Alzira T. “Sá, Uma Abordagem Matemática da Informação: A Teoria de Shannon e Weaver –Possíveis Leituras”, (Rio de Janeiro: s.ed., 2018/2019), 49. (http://dx.doi.org/10.21728/logeion.2018v5n1), acessado em 21 de julho de 2020.

(38)

38 Quanto aos aspectos contextuais epistemológicos, fazemos alusão ao exemplo da invenção da televisão elétrica em 1929, na Alemanha, cujos pressupostos epistemológicos e técnicos eram constitutivos da ideia de clarividência (tele-visão psíquica), ou seja:

“...as pesquisas espíritas da televisão psíquica dos médiuns sonambúlicos funcionaram como uma condição necessária, mas não suficiente, da invenção e da implementação da mídia técnica.

Estendendo-se desde o fim do séc. XIX até às primeiras décadas do séc. XX, a emergência gradativa da televisão baseou-se não apenas em materialidades técnicas, mas também em materialidades culturais.”49

Desse modo, assim como ocorreu o encontro entre as vicissitudes da pesquisa da clarividência (tele-visão psíquica) com a invenção da televisão elétrica, também sugerimos até aqui que a precognição (conhecimento antecipado) toma sua forma material através das tecnologias de informação.

Pois, estas, ao coletar dados de forma oculta, daí o pressuposto da ideia de espaço descontínuo, sobretudo pelos Estados Unidos da América, computam, interpretam e projetam essas informações gerando verdadeiras estratégias de ataque e de defesa frente ao contexto de guerra fria.

Vamos primeiramente exemplificar a forma pela qual a clarividência se tornou televisão, para ulterior explicação sobre como a precognição se transformou em tecnologias de informação contíguos ao movimento interdisciplinar da gênese da tele-visão psíquica e técnica, sendo esta de caráter

49 Andriopoulos, “Aparições Espectrais”, 146.

(39)

39 mais passivo na transferência e recepção de imagens e a outra (precognição), de caráter mais ativo.

Sobre a gênese da televisão, Andriopulos afirmou:

“...em 1879, Crookes desenvolveu o tubo de Crookes: um tubo primitivo de raios catódicos que pretendia provar que a radiação era o quarto estado da matéria. Em 1897, Ferdinand Braun transformou o tubo de Crookies num instrumento de medida, enquanto em 1906, seus assistentes, Max Dieckmann e Gustave Glabe, registraram a primeira patente para usar esse tubo brauniano como redator de imagens. Também em 1906, Robert von Lieben e Lee de Forest desenvolveram o triodo com o objetivo de amplificar os sinais elétricos. Assim, no nível do aparato material, uma precondição indispensável da televisão técnica: a possibilidade de amplificar os sinais elétricos pode ser atribuída a um dispositivo elétrico inventado por Crookes, que apontou explicitamente para a conexão entre suas pesquisas espíritas e seu trabalho nas ciências naturais.”50

Do mesmo modo que a invenção da televisão, também a precognição, em conexão direta com pesquisas em tecnologias, cujos modelos matemáticos de representação e projeção de acontecimentos futuros, é fundamentalmente os computadores o seu equivalente técnico. Isso parece estar relacionado com a afirmação de Mavrodes, isto é, de que: “

50 Ibid., 155.

(40)

40

“O computador então extrapola a órbita futuro mais rapidamente do que o faz o próprio satélite, e a representação simbólica da extrapolação que é produzida pelo computador é traduzida pelo operador humano para uma previsão de posição futura do satélite.”51

Essa proximidade entre estudos da precognição e seu equivalente técnico, computadores, fica ainda mais forte quando analisado o problema da estatística, que, como já dissemos, é central para medir e analisar a natureza do fenômeno precognitivo, assim como medir e representar a quantidade de informações que Shannon e Weaver aplicaram para o desenvolvimento de técnicas de digitalização dos dados, bem como o de suas transferências.

Estamos aqui a dizer, então, principalmente sobre a coleta quantitativa e a transferência de dados.

Até aqui, discorremos sobre a precognição e sua estreita relação com o desenvolvimento de novas tecnologias de informação, tendo por foco a aplicação da estatística. Esta última, que também está associada à noção de espaço descontínuo da física quântica, parece tecer uma teia que relaciona precognição, tecnologia, estatística das probabilidades.

Nesse sentido, podemos dizer que o modus operandi da precognição é similar ao do meio de transmissão de informações.

A esse respeito, Mavrodes também parece estar de acordo com Garnett, pois afirmara diretamente que os programas de computadores funcionavam à semelhança do mecanismo precognitivo, uma vez que faziam projeções

51 Mavrodes, “Comments on Garnett’s Article”, 188.

(41)

41 acertadas a partir de uma certa quantidade de dados. Nesse sentido, o meio “M”

seria um canal de informações que viabilizaria digitalmente a emissão, transmissão e recepção delas, ou seja, se converteria num meio eficiente de comunicação remota.

Assim, discorrido sobre um dos elementos que compõe o problema da comunicação, a saber, o nível técnico, vamos, no próximo capítulo, tratar do problema da causalidade da precognição, o que abordará, além do nível técnico, também os aspectos semânticos e pragmáticos das informações.

(42)

42 CAPÍTULO 2

Precognição, Causalidade, Mensagem

Consoante à ideia de espaço remoto, visto o problema da precognição compor o da comunicação remota, que percebemos ser o espaço operacional das mídias técnicas, concebido pela matemática, arguido no capítulo anterior, vamos, neste capítulo, apresentar indícios de como o pressuposto da causalidade, debatido por Garnett, Mavrodes e Nordberg sobre o modus operandi da precognição, também esteve ligado à concepção da ideia de informação que viabilizou a comunicação remota e seus desdobramentos em meados do séc. XX.

2.1) Causalidade imediata, precognição: teoria matemática da comunicação

Em “Matter, Mind and Precognition”, Garnett iniciou dizendo que o problema da causa é bastante central na compreensão do mecanismo de precognição, pois este parecia objetar o conceito de tempo, tanto do senso comum, como da ciência, ao propor seu argumento do meio “M” que fazia a conexão entre mente e matéria. Ele afirmou que:

“...esse modelo do meio “M”, que funciona como linhas de força de eventos físicos, também deve servir para explicar a precognição, cuja projeção simbólica dos futuros eventos psíquicos corresponde ao percurso dos eventos nessas linhas de força de

(43)

43 modo contínuo e segundo às leis naturais de ordem causal imediata.”52

A noção de causalidade imediata, mencionada por Garnett nessa passagem, parece estar estreitamente relacionada à ideia de transmissibilidade apresentada numa das correntes teóricas da ciência da informação, a “teoria matemática da comunicação” proposta em meados do séc. XX por Claude Elwood Shannon (1916 - 2001) e Warren Weaver (1894 -1978).

De acordo com Pineda, essa corrente está relacionada à descrição estatística de quantidade de informações cuja transmissão se dá de forma discreta. Essa ideia foi baseada no conceito de entropia de Ludwig Eduard Boltzmann (1844-1906), aplicada por Shannon para conceber faixas ou camadas de velocidades no envio de sinais, semelhante à ideia de localização das partículas quantizadas, que “saltam” pelas regiões do átomo absorvendo ou emitindo energia. Essas regiões foram interpretadas como sendo equivalentes àquelas faixas de velocidade em que os sinais, que carregam as informações, são transmitidos.53

Os indícios de que a noção de causalidade imediata de Garnett e a concepção de transmissibilidade de informações de Shannon estão relacionadas, podem ser encontrados na afirmação feita por Garnett, ao se referir a Heisenberg, de que:

“...o argumento simplesmente aponta para a necessidade de postular um mei o de cone xão entre

52Garnett, “Matter, Mind”, 23.

53 Pineda, “A Entropia segundo Claude Shannon”, 25-27.

(44)

44 entidades conhecidas que são discretas e separadas e aparentemente irredutíveis uma à outra.”54

Shannon e Weaver estudavam os mecanismos de transferência de informações e, no primeiro artigo sobre a quantificação das informações, publicado em 1948, fizeram a seguinte afirmação:

“Nível A. Com que exatidão é possível os símbolos da comunicação serem transmitidos? (Este é o problema técnico);

Nível B. Com que precisão os símbolos transmitidos transferem o significado desejado? (Este é o problema da semântica); Nível C.

Com que eficiência o significado recebido afeta o comportamento, a conduta do receptor em relação a finalidade desejada e prevista?

(Este é o problema da eficiência)”.55

Com esses três níveis, Shannon e Weaver procuraram ampliar a concepção de informação, vale dizer, assim expandindo o problema da comunicação para além da materialidade técnica da informação, de tal modo a introduzir outras questões que envolviam não só os significados das mensagens e suas intenções, como também a capacidade de afetar o comportamento de quem as recebia.56

O fato de Shannon ter trabalhado como criptógrafo durante a segunda guerra mundial revelava sua preocupação com as questões semânticas das

54 Garnett, “ Matter, Mind”, 20.

55 Claude Elwood Shannon & Warren Weaver, “A Teoria Matemática da Comunicação”, Trad. Orlando Agueda (São Paulo: DIFEL, 1975), apud Alzira T. Sá, “Uma Abordagem Matemática da Informação: A Teoria de Shannon e Weaver –Possíveis Leituras”, (Rio de Janeiro: s.ed., 2018/2019), 56, http://dx.doi.org/10.21728/logeion.2018v5n1.p48-70, acessado em 21 de julho de 2020.

56 Idem.

(45)

45 informações, pois, em seu ofício, tinha a incumbência de codificar e decodificar informações para comunicá-las de forma mais segura. Assim, provavelmente, o estudo da transmissão de informações foi expandido de modo a introduzir também questões de ordem semântica.57

De fato, Shannon e Weaver ainda observaram que:

“...os progressos alcançados nos problemas do Nível A serão capazes de contribuir para a solução daqueles nos Níveis B a C: consideramos que a teoria matemática é extraordinariamente generalizada em seu escopo; que é fundamental em relação aos problemas que aborda; que é de simplicidade e poder clássicos nos resultados que atinge.”58

Dito de outro modo, eles acreditavam que a solução do problema da transferência de informações viabilizaria uma verdadeira comunicação remota, pois garantiria que as mensagens, imbuídas de significados e intenções, pudessem ser enviadas ao receptor com mais eficiência.

Podemos dizer que, em meados do séc. XX, a produção científica deu a tônica sobre a temática das informações porque, segundo Araújo:

“No pós-guerra, estabelece-se o fenômeno da Guerra Fria, o conflito entre EUA e URSS que se estende pelos mais variados campos, da influência política às medalhas olímpicas, da ostentação bélica à corrida espacial. Neste contexto de competição, o desenvolvimento científico e tecnológico torna-se

57 Sá, “Uma Abordagem Matemática”, 56.

58 Idem.

(46)

46 central, estratégico. E, para o aumento da produtividade e da velocidade de produção de novos conhecimentos científicos, percebeu-se a importância da informação.”59

Nesse sentido, é interessante notar que, em relação à teoria matemática da informação, havia, de algum modo, debates sobre os aspectos interpretativos que envolviam o próprio objeto da teoria, isto é, a informação, que ora era entendida como dados objetivos, ora compreendida em seu elemento semântico.

E é nesse contexto que devemos, talvez, entender a noção de causalidade imediata da precognição, mediante a concepção do meio “M” de Garnett. Isso parece ainda ser respaldado pela seguinte analogia feita por Mavrodes no artigo

“Comments on Garnett's Article Matter, Mind, and Precognition: Notes on A Theory of Precognition. ”

“...uma analogia que se aproxima da ideia de Garnett é o de um computador, cujo programa inclui uma representação das leis da mecânica celeste, em que dados são introduzidos (em uma forma simbólica) da presente posição, velocidade, etc., de um satélite. O computador então extrapola a órbita futura mais rapidamente do que o faz o próprio satélite, e a representação simbólica da extrapolação que é produzida pelo computador é traduzida pelo operador humano para uma previsão da futura posição (órbita) do satélite”.60

59 Araújo, “Correntes Teóricas”, 198.

60 Mavrodes, “Comments on Garnett’s”, 188.

(47)

47 Como veremos mais adiante, o pressuposto da causalidade leva em conta um problema da comunicação remota e não somente o da informação e, como tal, implica fundamentalmente a questão da transmissão de mensagens, isto é, de informações com significados. Entretanto, notemos aqui que o debate sobre a comunicação remota, de certo modo, envolvia as ciências cognitivas, cujo objeto de estudo, os processos cognitivos (ou, ainda, “o espírito”, “a inteligência”,

“os processos mentais”, “os sistemas de tratamento da informação") eram basicamente uma “computação de representações”.61

Nesse sentido, a investigação sobre tais processos pressupunha, de acordo com Howard Gardner,62 estabelecer:

“...uma analogia entre o sistema computacional e os processos humanos de pensamento. Além de funcionar como uma ferramenta valiosa de trabalho, o computador passou a servir como um modelo do pensamento humano. Pensar seria realizar um procedimento algorítmico.”63

Vale ressaltar, como vimos, que a analogia entre o sistema computacional e os processos mentais humanos sobre a representação simbólica da precognição, que expressa o modus operandi da causalidade imediata, ou seja, o processo de projeção simbólica de um provável estado futuro do evento,

61 Pombo, “Práticas”, 217.

62 Professor de Cognição e Educação na Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Neurologia na Universidade de Boston, https://hsmuniversity.com.br/project/howard- gardner.

63 H. Gardner, A Nova Ciência da Mente (São Paulo: Edusp, 2003), Apud Monalisa M.

Lauro & Carolina Blasio, “Lógica Moderna e Ciências Cognitivas: Uma Controversa Contribuição da Lógica no Desenvolvimento das Ciências da Mente” (Minas Gerais:

Unifaminas, 2007), 104, http://periodicos.faminas.edu.br/index.php/rcfaminas/article/

view/188, acessado em 06 de abril de 2021.

(48)

48 apresentado por Mavrodes e Garnett, está posta num contexto de um incipiente campo de estudo, a Inteligência Artificial (IA), associado ao implemento da lógica, cujo maior objetivo era construir máquinas inteligentes.

De acordo com Russel e Norving, naquela época, os estudos sobre a possibilidade de implantar processos de conhecimento humano, isto é, cognitivos, a uma máquina a partir da implementação lógica estavam em desenvolvimento. Dentre esses estudos, os de McCarthy (1927-2011), mostraram que os atos inteligentes poderiam ser “reduzidos a um conjunto de relações lógicas ou axiomas que poderiam ser expressos com precisão”. Isso significava que “todos os processos de conhecimento humanos seriam ou poderiam ser concebidos em termos puramente lógicos.”64

A partir daí, no que dizia respeito às máquinas, abriu-se a possibilidade de, tal como observou McCarthy, de aperfeiçoar seu comportamento de tal modo que: “...os programas aprenderiam a partir da experiência, como efetivamente os homens fazem”.65 Desse modo, McCarthy apresentou um sistema hipotético de IA, denominado “Advice Taker”, cujo objetivo era incorporar conhecimento geral do mundo e solucionar problemas.66

64 J. Mccarthy, “Programs with Common Sense”, (Califórnia: s.ed., 1958), Apud Monalisa M. Lauro & Carolina Blasio, “ Lógica Moderna e Ciências Cognitivas: Uma Controversa Contribuição da Lógica no Desenvolvimento das Ciências Da Mente”, (Minas Gerais:

Unifaminas, 2007), 103, http://periodicos.faminas.edu.br/index.php/rcfaminas/article/

view/188, acessado em 06 de abril de 2021.

65 Ibid., 104.

66S. Russel & P. Norving, “Inteligência Artificial”, (Rio de Janeiro: Elsevier, 2003), Apud Monalisa M. Lauro & Carolina Blasio, "Lógica Moderna e Ciências Cognitivas: Uma Controversa Contribuição da Lógica no Desenvolvimento das Ciências da Mente (Minas Gerais: Unifaminas, 2007),105, http://periodicos.faminas.edu.br/index.php/rcfaminas/

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