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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO GRADUAÇÃO EM DIREITO ANA BEATRIZ BARROS DE SIQUEIRA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANA BEATRIZ BARROS DE SIQUEIRA

OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA JURISPRUDÊNCIA ATUAL DO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL

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ANA BEATRIZ BARROS DE SIQUEIRA

OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA JURISPRUDÊNCIA ATUAL DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL

Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Direito.

Área de concentração: Processual Penal. Direito Penal.

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças.

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Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

S628l Siqueira, Ana Beatriz Barros de.

Os limites jurídicos ao desarquivamento do inquérito policial : uma análise crítica da jurisprudência atual do Supremo Tribunal Federal / Ana Beatriz Barros de Siqueira. – 2018.

84 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2018.

Orientação: Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças.

1. Inquérito policial . 2. Desarquivamento . 3. Coisa julgada. I. Título.

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ANA BEATRIZ BARROS DE SIQUEIRA

OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA À JURISPRUDÊNCIA ATUAL DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL

Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Direito.

Área de concentração: Direito Processual Penal. Direito Penal.

Aprovada em: 08/06/2018.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Bruno Araújo Rebouças (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Dr. Alex Xavier Santiago da Silva

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Mestranda Lara Dourado Mapurunga Pereira

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AGRADECIMENTOS

A Deus, a quem confio toda a minha vida e em quem deposito inteiramente a minha fé.

Aos meus pais, Sandra Helena Barros de Siqueira e Germano Silveira de Siqueira, por serem a minha maior fonte de inspiração. Vocês me motivam diariamente a ser uma estudante dedicada, uma profissional ética e um ser humano justo. Obrigada por todo amor, todo o cuidado e todo apoio em cada momento da minha vida. A minha formação enquanto indivíduo é essencialmente devida aos seus esforços em me proporcionarem o melhor que

podem e em me ensinarem valores tão nobres.

Ao meu irmão, João Victor Barros de Siqueira, por todo amor e companheirismo, e a cada um da minha família que se manteve ao meu lado, desejando sempre o melhor. Às minhas avós, principalmente, eu agradeço cada oração.

Aos amigos e colegas de faculdade e, especialmente, às ilustríssimas e tão essenciais, Brenda Barros Freitas, Débora dos Santos Rocha, Gabriela Bustamante Hortêncio de Medeiros, Lara Ferreira Sampaio, Luisa Sousa Gomes e Mariana França Mascarenhas. Obrigada por compartilharem tanto comigo: as risadas, as dúvidas, os conselhos, as inseguranças, as conquistas. Vocês são as responsáveis pelos momentos mais leves e felizes durante essa graduação. Orgulho-me muito de cada uma e espero sempre poder cultivar a nossa amizade.

Às minhas tão amadas amigas, Beatriz Vasconcelos de Azevedo, Bruna Levy Costa Lima, Dímitra Bernardino Kyrtata, Hanna Levy Almeida, Mariana Costa Laranjeira, Martina Quezado Vargas Valle e Raíssa Cavalcante Vasconcelos. Obrigada por, desde a infância, compartilharem comigo a amizade mais verdadeira e preciosa de todas.

Ao querido amigo, David Peixoto dos Santos, não só pelos auxílios materiais durante a produção deste trabalho, mas também pelo companheirismo e pelo o apoio ao longo desse período.

À Defensoria Pública da União no Ceará, por ser uma instituição tão inspiradora, na qual tive a oportunidade de estagiar, e onde conheci pessoas admiráveis. Defensores, servidores, estagiários e assistidos, todos foram igualmente responsáveis pelo meu crescimento profissional e pessoal durante a graduação.

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Mais vale arriscar-se a salvar um culpado do que a

condenar um inocente.

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RESUMO

Este trabalho visa analisar juridicamente a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto à possibilidade de desarquivamento do inquérito policial, tendo como principal objetivo a análise crítica da decisão proferida pelo plenário da Corte, no julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR, de acordo com a qual é válido o desarquivamento do inquérito quando este tiver sido arquivado mediante determinação de decisão judicial que reconheceu a presença de excludente de ilicitude. Busca-se examinar a natureza jurídica e os efeitos da decisão de arquivamento, a fim de compreender se essa decisão é apta a produzir efeitos próprios da coisa julgada. O estudo foi desenvolvido com base em uma pesquisa jurisprudencial e bibliográfica, incluindo-se, como material de apoio, livros, artigos científicos e consultas a sítios eletrônicos, além da legislação pátria referente ao tema. Para a efetiva compreensão da temática, trata-se dos fundamentos e características das investigações preliminares, com principal enfoque no inquérito policial, bem como do procedimento de arquivamento, na forma do art. 28 do Código de Processo Penal, e do desarquivamento, previsto no art. 18 do mesmo diploma legal. Após, colacionam-se posições doutrinarias acerca da natureza jurídica da decisão de arquivamento e de seus efeitos, principalmente quanto à constituição ou não da coisa julgada. Ao fim, expõem-se e examinam-expõem-se os principais julgados do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria, realizando-se uma análise crítica da decisão de julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR, através da exposição dos votos vencidos, relacionando-os com institutos próprios do direito processual penal.

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ABSTRACT

This work aims to juridically analyze the Brazilian Federal Supreme Court jurisprudence about the possibility of reopening the police investigation, having as main focus the critical analysis of the Court decision in Habeas Corpus nº 87.395 / PR, according to which it is valid to reopen the police investigation even if it has been closed by the determination of a judicial decision that recognized the presence of a cause that excludes the illicitness. It seeks to examine the legal nature and effects of the decision that closes the police investigation, in order to understand whether there is the constitution of res judicata. The study was developed based on a jurisprudential and bibliographical research, including as support material, books, scientific articles and queries to electronic sites, in addition to the national legislation related to the subject. For the effective understanding of the thematic, the foundations and characteristics of the preliminary investigations, with main focus in the police inquiry, were explored, as well as the procedure of the inquiry archiving foreseen in article 28 of the Criminal Procedure Code, and the reopening of the investigations foreseen in article 18 of the same law. Then, there is an exposition of doctrinal positions about the legal nature of the decision that determinates the inquiry archiving and its effects, mainly as to the constitution or not of the res judicata. Finally, the Federal Supreme Court most important judgments are exposed and examined, and the Habeas Corpus nº 87.395/ PR judgment decision is critically analysed, bringing the losing votes most important aspects and relating them to institutes of criminal procedural law.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art.: Artigo

CP: Código Penal

CPP: Código de Processo Penal

CF: Constituição Federal

STF: Supremo Tribunal Federal

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

2 O ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL ... 15

2.1 Inquérito Policial ... 15

2.1.1 Aspectos introdutórios ... 15

2.1.2 Conceito e natureza jurídica ... 18

2.1.3 Características ... 20

2.1.4 Atribuições das autoridades ... 26

2.2 Aspectos gerais sobre o arquivamento ... 30

2.3 Causas permissivas de arquivamento ... 34

2.3.1 Ausência de pressupostos processuais e condições da ação ... 36

2.3.2 Atipicidade penal do fato ... 37

2.3.3 Existência de causa excludente de ilicitude ... 38

2.3.4 Presença de causa excludente de culpabilidade ... 39

2.3.5 Extinção da punibilidade do agente ... 40

3. A POSSIBILIDADE DE REABERTURA DAS INVESTIGAÇÕES E OS EFEITOS DA DECISÃO DE ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL ... 42

3.1 Desarquivamento e oferecimento da denúncia ... 42

3.2 Decisão de arquivamento... 47

3.2.1 Natureza jurídica e irrecorribilidade ... 48

3.2.2 Constituição da coisa julgada ... 53

4 OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ... 60

4.1 Ausência de pressuposto processual e de condição da ação ... 60

4.2 Atipicidade penal e extinção de punibilidade ... 61

4.3 Causas excludentes de ilicitude e de culpabilidade ... 64

4.3.1 Julgamento do Habeas Corpus nº 87.395/PR ... 64

4.3.2 Caráter absolutório da decisão ... 68

4.3.3 Segurança jurídica ... 71

4.3.4 Vedação da Revisão Criminal pro societate ... 73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 77

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1 INTRODUÇÃO

O Ministério Público, como titular privativo da ação penal de iniciativa pública, pode, ao invés de oferecer a denúncia em relação a um fato objeto de apuração em um inquérito policial, requerer ao Poder Judiciário o arquivamento do procedimento de investigação preliminar.

O pedido de arquivamento ocorre, na maioria das vezes, quando, apesar das diligências realizadas pela autoridade policial no curso das investigações, não se obtém elementos probatórios mínimos para consubstanciar o exercício da ação penal. Em outros casos, no entanto, decorre da conclusão pelo Ministério Público quanto à inviabilidade da ação, em razão da presença de elementos que excluem o delito ou que extinguem a sua punibilidade.

Não obstante, o Código de Processo Penal prevê em seu art. 18 que, mesmo após o inquérito policial haver sido arquivado por determinação judicial, a autoridade policial poderá retomar as investigações se de novas provas tiver notícia. Da mesma forma, a Súmula nº 524 do Supremo Tribunal Federal dispõe que arquivado o inquérito policial, poderá ser proposta ação penal, desde que surjam novas provas.

Trata-se do instituto do desarquivamento das peças de informação, permitindo que, mesmo após o arquivamento do inquérito, as investigações sejam retomadas, quando a autoridade policial obtiver notícia de novas provas.

A possibilidade de desarquivamento do inquérito policial se torna controvertida, quando o fundamento que houver ensejado o arquivamento tiver sido a atipicidade penal do fato, a presença de alguma das causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade ou a verificação da extinção da punibilidade do agente.

Tanto na doutrina como na jurisprudência, há posicionamentos no sentido de que, em casos como esses, não se aplicaria a regra contida no art. 18 do CPP, visto que o arquivamento do inquérito teria se fundamentado em uma questão de mérito, importando a constituição da coisa julgada e impossibilitando a revisão da determinação judicial. Por outro lado, há quem defenda que o desarquivamento é possível independentemente da causa que o fundamentou o arquivamento, desde que sejam noticiadas novas provas.

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presença de uma causa excludente de ilicitude, posicionando-se pela sua validade. O posicionamento é questionável, razão pela qual nesta monografia será realizada uma análise crítica dessa decisão.

Quanto aos aspectos metodológicos, o presente trabalho foi desenvolvido com base em um exame jurídico-doutrinário sobre o assunto, através de pesquisas jurisprudenciais, no âmbito do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, e bibliográficas, envolvendo o conteúdo de livros, artigos científicos e consultas a sítios eletrônicos, além da legislação pátria referente ao tema.

Apoiada em tal acervo, a monografia foi dividia em três capítulos, que tratam, respectivamente, do inquérito policial, do desarquivamento do inquérito e dos efeitos da decisão de arquivamento e dos limites jurídicos ao desarquivamento, à luz da jurisprudência atual do Supremo Tribunal Federal.

No primeiro capítulo, discorrer-se-á sobre os fundamentos e caraterísticas das investigações preliminares, com principal enfoque no inquérito policial, abordando o procedimento de arquivamento das peças de informação e identificando as causas que justificam o seu requerimento.

No segundo capítulo, tratar-se-á da natureza jurídica e dos efeitos da decisão que determina o arquivamento, considerando a possibilidade de retomada das investigações, prevista no art. 18 do CPP, e do ulterior oferecimento da denúncia, conforme a súmula nº 524 do STF, analisando-se sob a perspectiva doutrinária a presença de efeitos próprios da coisa julgada a partir da decisão que determina o arquivamento do inquérito.

(15)

2 O ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

Para a melhor compreensão do tema objeto deste trabalho, é imprescindível a discorrer sobre o arquivamento do inquérito policial. Portanto, serão, primeiramente, apresentados os fundamentos, a natureza jurídica e as características das investigações preliminares, principalmente aquelas relativas ao inquérito policial.

Em seguida, tratar-se-á do arquivamento do inquérito policial, abordando seu procedimento, conforme está previsto no Código de Processo Penal, e expandindo o seu estudo através da exposição da visão da doutrina sobre o assunto.

Por fim, como resultado da pesquisa conjunta entre os entendimentos jurisprudenciais e doutrinários, serão expostas causas em que se permite o arquivamento do inquérito policial, discorrendo-se brevemente sobre cada uma delas.

2.1 Inquérito Policial

Trata-se o inquérito policial da espécie de procedimento de investigação preliminar tradicionalmente adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, destacando-se como a principal peça informativa na prática processual penal, razão pela qual sobre ele será dedicada maior

ênfase neste estudo.1

Destarte, é fundamental a realização de uma breve introdução acerca do direito de

punir do Estado (jus puniendi) e da persecução penal (persecutio criminis), de modo a justificar

a existência da etapa investigativa preliminar.

Em seguida, concentrando-se no inquérito policial enquanto principal procedimento investigativo preliminar, é importante discorrer sobre as suas principais características e sobre a atuação dos órgãos policial, acusador e jurisdicional durante fase pré-processual, para, ao final, tratar-se do procedimento de arquivamento previsto no Código de Processo Penal e de suas hipóteses autorizadoras.

2.1.1 Aspectos introdutórios

1 Também compreendem as espécies de investigação preliminar, dentre outros, o Procedimento Investigatório

(16)

Nos dizeres de Frederico Marques, “da prática de um fato aparentemente delituoso,

nasce para o Estado o direito de punir.”. Isso porque, atualmente, abolida a fase de vingança

privada, é de função exclusiva do Estado o exercício do jus puniendi, sendo vedada qualquer forma de repressão pessoal. Ao particular, apesar da possibilidade de vingar-se de seu ofensor, não é conferido o direito de exercer a sanção penal, sendo esse serviço de monopólio do Estado.2

A prática de uma infração penal faz surgir, por consequência, uma lide entre o Estado e o indivíduo, que resulta do conflito entre o direito subjetivo de punir do Estado e o direito à liberdade do indivíduo. O jus libertatis atua, portanto, como limite à atuação do Estado na qualidade de ente repressor dos delitos, impedindo que haja a prevalência imediata da pretensão punitiva estatal.3

Dessa forma, O jus puniendi não é medida auto-executável, não consistindo em consequência automática da prática de uma conduta aparentemente delituosa. O exercício do direito de punir apresenta-se na forma de coerção indireta, sendo necessário para a aplicação da sanctio juris que se demonstre a existência do próprio direito de punir, de modo a não violar a garantia individual à liberdade.4

A feição indireta da coação penal torna necessária a existência de uma atividade, também estatal, cuja finalidade seja a averiguação da existência ou não do direito de punir em concreto, de forma a autorizar a imposição da sanção penal. Essa atividade é denominada de persecutio criminis, processo que, nos preceitos de Marques, compreende a fase da investigação criminal e a ação penal.5

Nesse sentido, o referido autor discorre:

O “processo penal” só se instaura com a propositura da ação. Esta, no entanto, é

precedida de uma fase de pesquisas, ou informatio delicti, em que se colhem os dados

necessários para ser pedida a imposição da pena. Verifica-se, portanto, que a

persecutio criminis apresenta dois momentos distintos: o da investigação e o da ação penal. Esta consiste no pedido de julgamento da pretensão punitiva, enquanto que a

primeira é atividade preparatória da ação penal, de caráter preliminar e informativo:

inquisitivo nihil est quam informatio delicti.6 (grifo do autor)

De acordo com Tourinho Filho, como titular do direito de punir, diante da notícia da prática de um ato possivelmente delituoso, deverá o Estado buscar elementos que

2 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Bookseller, 1997, v. 1, p. 23. 3Ibidem, p. 25.

(17)

comprovem a existência da infração penal e que indiquem a sua autoria, como forma de autorizar a instauração da persecução penal em juízo.7

Em se tratando de ação penal de iniciativa pública, caberá ao órgão do Ministério Público a persecutio criminis in judicio, que consiste na promoção e no acompanhamento da ação penal. Não obstante, para a sua atuação em juízo, faz-se necessária a disposição de elementos que sustentem pretensão punitiva estatal. Para tanto, o art. 144 da Constituição Federal de 1988 prevê a existência a polícia judiciária, cuja função consiste em investigar o fato em tese criminoso, a fim de apurar sua autoria e materialidade.8

Logo, é importante a existência de uma fase pré-processual, que tenha por finalidade o esclarecimento dos elementos constitutivos do fato supostamente delituoso. Essa etapa é denominada de investigação preliminar ou, como designa Aury Lopes Júnior, de instrução preliminar, sendo conceituada pelo processualista como:

O conjunto de atividades desenvolvidas concatenadamente por órgãos do Estado, a partir de uma notícia-crime, com caráter prévio e de natureza preparatória com relação ao processo penal, e que pretende averiguar a autoria e as circunstâncias de um fato aparentemente delituoso, com o fim de justificar o processo ou o não processo. 9

Esclarece o referido escritor que, o processo penal não deve iniciar-se de forma imediata, sendo necessário para a sua instauração a coleta prévia de elementos aptos a justificar a propositura da ação penal. Isso porque, o processo penal acarreta em si mesmo diversas penas processuais ao investigado, não se podendo admitir que primeiro se acuse para que posteriormente se investigue o fato e sua autoria. A fase preliminar apresenta, pois, essa finalidade investigativa, cujo ponto de maior relevância consiste na conclusão pelo exercício ou não da atividade acusatória do Estado.10

Segundo Aury Lopes Júnior, o principal fundamento da investigação preliminar se revela na instrumentalidade constitucional do próprio processo penal. Isso significa afirmar que, para além de ser um meio necessário para se atingir a satisfação da pretensão acusatória estatal, a existência do processo penal – assim como a da fase preliminar - tem como principal justificativa proporcionar a máxima eficácia dos direitos e garantias fundamentais previstos constitucionalmente, de forma a preservar a dignidade da pessoa humana frente aos constrangimentos que o processo acarreta.11

7 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, p. 225.

8Ibidem, p. 225.

9 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 252. 10Ibidem, p. 250.

(18)

Partindo desse pressuposto, o autor aponta três fundamentos da investigação preliminar. O primeiro deles consiste na busca do fato oculto, traduzindo-se no esclarecimento, em grau de probabilidade, da autoria e da materialidade delitiva. Além disso, justifica-se na sua função simbólica, de assegurar a paz social através da certeza de que todas os atos possivelmente delituosos serão investigados. Respalda-se, por fim, na função de filtro processual, de forma a evitar acusações infundadas.12

A função de filtro processual consiste em evitar a abertura de um processo penal sem o mínimo de lastro probatório. Isso porque, além de reduzir os custos processuais, a instauração do processo penal acarreta inevitável sofrimento ao indivíduo, devido ao seu estado de ânsia prolongado, assim como provoca à pessoa elevada estigmatização social e jurídica.13

Acerca da estigmatização originada pelo processo penal, devem ser destacadas as seguintes considerações de Lopes Júnior:

O termo “estigmatizar” encontra sua origem etimológica no latim stigma, que alude à marca feita com ferro candente, sinal da infâmia, que foi, com a evolução da humanidade, sendo substituída por diferentes instrumentos de marcação. O processo penal em geral e a acusação formal em especial soa hoje manifestações da infâmia, sendo o ferro candente substituído pela denúncia ou queixa abusiva e infundada.14

Desse modo, a fase preliminar não deve ser entendida como uma preparação para o procedimento em juízo, mas sim como um obstáculo a ser superado para que se dê início ao processo penal.15

2.1.2 Conceito e natureza jurídica

No ordenamento jurídico brasileiro, a forma de investigação preliminar que vem sendo tradicionalmente adotada é o inquérito policial, cujo surgimento na legislação pátria ocorreu por meio da Lei nº 2.033 de 20 de setembro de 1871.16 O Decreto nº 4.824 de 22 de

12 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 253. 13Ibidem, p. 258.

14Ibidem, p. 259.

15 CARNELUTTI, Francesco. Derecho procesal civil y penal. Tradução de Enrique Figueiroa Afonso. México: Episa, 1997, p. 338-349 apud LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014,

p. 259.

16 BRASIL. Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1871. Altera differentes [sic] disposições da Legislação

Judiciaria [sic]. Rio de Janeiro, Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM2033.htm>.

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novembro de 187117, por sua vez, ao regulamentar a essa espécie de investigação, definiu-a

como um procedimento escrito consistente na realização de todas as diligências necessárias para a descoberta do fato criminoso, em suas circunstâncias e autoria.18

Segundo Bonfim, o inquérito policial deve ser compreendido, como “o procedimento administrativo, preparatório e inquisitivo, presidido pela autoridade policial, e constituído por um complexo de diligências realizadas pela polícia judiciária com vistas à apuração de uma infração penal e à identificação de seus autores”.19

Evidencia-se daí a sua natureza jurídica de procedimento administrativo pré-processual, não dispondo de uma estrutura verdadeiramente dialética, própria das relações jurídicas processuais. Atua, portanto, como peça informativa e preparatória para o eventual exercício da ação penal.20

Pela análise conjunta das normas previstas nos arts. 4º e 12 do Código Processual Penal21, verifica-se que a finalidade do inquérito policial consiste na apuração da infração penal

em sua materialidade e autoria. Almeja-se, no entanto, a apuração desses elementos apenas em um grau de probabilidade, visto que o campo de cognição nesta fase é limitado. 22

Será o destinatário imediato dessa atividade o Ministério Público, em se tratando de crime cuja ação penal seja de iniciativa pública, ou o ofendido, em se tratando de ação penal de iniciativa privada, visto que, com a reunião dos elementos colhidos pela polícia judiciária, poderão formar sua opinio delicti para eventual propositura da denúncia ou queixa.23

communs [sic] as mesmas autoridades policiaes [sic] deverão em seus districtos [sic] proceder ás diligencias necessárias [sic] para descobrimento dos factos criminosos e suas circumstancias [sic], e transmittirão [sic] aos Promotores Publicos [sic], com os autos de corpo de delicto [sic] e indicação das testemunhas mais idoneas [sic], todos os esclarecimentos colligidos [sic]; e desta remessa ao mesmo tempo darão parte á autoridade competente

para a formação da culpa [...]”.

17 BRASIL. Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871. Regula a execução da Lei nº 2033 de 24 de Setembro

do corrente anno [sic], que alterou differentes [sic] disposições da Legislação Judiciaria. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dim/dim4824.htm>. Acesso em: 20 mar.

2018. “Art. 42. O inquerito [sic]policial consiste em todas as diligencias necessárias [sic] para o descobrimento dos factos criminosos, de suas circumstancias [sic] e dos seus autores e complices [sic]; e deve ser reduzido a instrumento escripto [sic], observando-se nelle [sic]o seguinte: [...]”.

18 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, p. 228.

19 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 100

20 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM, 2015, p. 109.

21 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai.

2018. “Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas

circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.”. “Art. 12. O inquérito policial

acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.”.

(20)

Nesse sentido, Tourinho Filho esclarece que, no inquérito policial “se apuram a infração penal com todas as suas circunstâncias e a respectiva autoria. Tais informações tem por finalidade permitir que o titular da ação penal, seja o Ministério Público, seja o ofendido, possa exercer o jus persequendi in judicio”.24

Por conseguinte, não cabe à autoridade policial realizar nenhum juízo de valor, ainda que provisório, sobre, por exemplo, a ilicitude do fato ou a culpabilidade do indivíduo. Deve somente atuar na colheita de prova da autoria e materialidade delitiva na execução de providências acautelatórias dos vestígios deixados pela infração. Tal valoração é reservada apenas àquele a quem compete expressar a opinio delicti, visto que será este o titular da eventual ação penal.25

2.1.3 Características

De acordo com Aury Lopes Júnior, a autonomia e a instrumentalidade são as características determinantes dos procedimentos de investigação preliminar. São autônomos, pois, da mesma forma em que podem originar um processo penal, poderão não o fazer, sendo o que se verifica no caso do arquivamento da peça informativa. Além disso, a autonomia se constata da existência dispensável de uma investigação prévia à propositura da ação penal, visto que o órgão acusador já pode ter em sua posse elementos suficientes para a instauração da fase processual.26

Logo, os procedimentos pré-processuais existem independentemente do exercício da ação penal a posteriori, da mesma forma que a ação penal prescinde da realização de investigações prévias para ser promovida.

A instrumentalidade dos procedimentos preliminares, por sua vez, deriva da própria instrumentalidade do processo penal. Trata-se de uma instrumentalidade qualificada, visto que a investigação preliminar está a serviço do processo penal, que se apresenta como mecanismo para a efetivação da pena (nulla poena sine iudicio).27

No que concerne especificamente do inquérito policial, a doutrina apresenta como suas principais características a formalidade, a discricionariedade, o sigilo e o seu caráter inquisitivo, obrigatório e indisponível.

24 TOURINHO FILHO, op. cit.,p. 239.

(21)

O inquérito policial é considerado um procedimento formal, visto que, durante o seu curso, as autoridades policiais e demais agentes da polícia judiciária devem respeitar certas formalidades, a fim de evitar a prática de atos ilegais.28

Nesse sentido, o art. 9º do Código Processual Penal29 exige que o procedimento seja

escrito, vedando-se a existência de uma investigação verbal.30 Trata-se de uma maneira de

possibilitar o controle de legalidade da atividade policial, a ser exercido pelo órgão judicial, de forma a preservar as garantias constitucionais do investigado.31

A necessidade de documentação das apurações consiste também em uma forma de atender à sua própria finalidade, já que, em se tratando de um procedimento que visa a prestar informações ao titular da ação penal, a fim de lhe conceder respaldo probatório para intentá-la, não seria viável a existência de outra forma, que não a escrita.32

O procedimento do inquérito policial é igualmente determinado pela discricionariedade que dispõe a autoridade policial. O caráter formal do inquérito não indica que seu procedimento seja marcado por formalismos e rigidez. Pelo contrário, no curso do inquérito, a autoridade policial atua de forma discricionária, não havendo nenhuma forma previamente determinada para a sua atuação, de forma a conduzir as investigações sem necessitar prestar obediência a uma sequência de atos previstos em lei.33

A discricionariedade consiste na atuação dentro dos limites estabelecidos pela lei, que confere ao agente certa abertura para agir de acordo com a oportunidade e a conveniência. Logo, ao mesmo tempo que a legislação confere à autoridade policial certa margem de escolha, estabelece seus limites. Não se confunde, por isso, com a arbitrariedade, conforme discorre Bandeira de Mello:

Não se confundem discricionariedade e arbitrariedade. Ao agir arbitrariamente o

agente estará agredindo a ordem jurídica, pois terá se comportado fora do que lhe permite a lei. seu ato, em consequência, é ilícito e por isso mesmo corrigível judicialmente. Ao agir discricionariamente o agente estará, quando a lei lhe outorgar

tal faculdade (que é simultaneamente um dever), cumprindo a determinação

normativa de ajuizar sobre o melhor meio de dar satisfação ao interesse público por

28 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 40.

29 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.

“Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.”

30 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 78. 31 BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 104.

32 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, p. 243.

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força da indeterminação legal quanto ao comportamento adequado à satisfação do interesse público no caso concreto.34 (grifo do autor)

Durante as investigações preliminares, as atribuições da polícia apresentam caráter discricionário, na medida em que a autoridade policial dispõe da faculdade de agir ou deixar de agir, desde que dentro dos limites fixados de forma estrita pela lei. 35

O inquérito policial apresenta ainda notável caráter sigiloso. Trata-se de um sigilo necessário à efetividade das investigações, visto que, muitos dos atos a serem realizados durante o inquérito policial são incompatíveis com a publicidade inerente aos atos administrativos. Caso as diligências fossem acessíveis a quem sobre elas manifestasse interesse, haveria grande risco de se frustrar o objetivo da investigação.36

Nesse aspecto, Tourinho Filho defende que deve ser admitida a relativização do princípio da publicidade na fase preliminar, visto que tal princípio é passível de restrições durante o curso do próprio processo penal.37 Igualmente, Tornaghi sustenta que “se mesmo na

fase judicial, eminentemente acusatória, a lei impõe ou permite o sigilo (v. g., arts. 486, 561, VI, e 745), não é de estranhar que mande assegurar o segredo, sem o qual o inquérito seria uma

burla ou um atentado”.38

Do mesmo modo, é o que prevê o art. 20 do Código Processual Penal39, quando

dispõe que durante o inquérito, a autoridade policial, assegurará o sigilo essencial à elucidação do fato ou necessário pelo interesse social.

Consoante Amintas Vidal, o sigilo é medida que deve ser imposta quando necessária às apurações do fato, visto que a divulgação das diligências poderá prejudicar o esclarecimento do fato investigado, podendo acarretar o desfazimento de elementos

34 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14. Ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 382.

35 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1961, p. 154-156 apud MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 61.

36 De acordo com Mirabete (op. cit., p. 61), tal sigilo não se estenderá, por óbvio ao órgão acusador, nos termos da Lei n.º 8.625/93. Nesse sentido: BRASIL. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. Brasília, DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 15 mar. 2018. “Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: [...] IV - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los; [...]”; “Art. 41. Constituem

prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: [...] VIII - examinar, em qualquer repartição policial, autos de flagrante ou inquérito, findos ou em

andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos; [...]”.

37 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 1, p. 243.

38 TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 254.

39 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.

“Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse

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comprobatórios da infração, suas circunstâncias e autoria.40 Além disso, o sigilo pode ser

imprescindível quando, conforme Espínola Filho, se tratar de crime cuja repercussão social possa causar danos à paz pública.41

Da soma de tais características, conclui-se que o inquérito policial é um procedimento de cunho eminentemente inquisitivo. A esse respeito, Capez discorre:

Caracteriza-se como inquisitivo o procedimento em que as atividades persecutórias concentram-se nas mãos de uma única autoridade, a qual, por isso, prescinde, para a sua atuação, da provocação de quem quer que seja, podendo e devendo agir de oficio, empreendendo, com discricionariedade, as atividades necessárias ao esclarecimento do crime e da sua autoria.42

A doutrina tradicionalmente defende que o caráter inquisitivo do inquérito policial torna-o incompatível com os princípios da ampla defesa e do contraditório. Conforme esse entendimento, não seria exigida a oportunização de defesa ao investigado, visto que ele não está sendo acusado de qualquer infração penal, mas apresenta-se, de acordo com Rangel, apenas como objeto de uma pesquisa realizada pela autoridade policial.43

Segundo Bonfim, resguardados os direitos e garantias fundamentais do investigado, este apresenta-se somente como objeto da atividade investigatória. Ainda, para o referido autor, quando a Constituição44, em seu art. 5º, LV, consagra os princípios do contraditório e ampla

defesa, confere esses direitos apenas àqueles que foram acusados, não os aplicando, portanto, àqueles que estão sendo investigados preliminarmente, pois ainda não há acusação propriamente dita.45

Em contraposição, a doutrina mais moderna reconhece a existência do contraditório e da ampla defesa na fase pré-processual. Nessa perspectiva, o investigado não é tratado como objeto de investigação, mas sim como sujeito de direitos, devendo-lhe ser garantido também o acesso à ampla defesa e ao contraditório, ainda que em grau inferior ao da fase judicial.46

De acordo com Rebouças, o caráter inquisitivo do inquérito policial significa que, em regra, os atos ocorrem unilateralmente, o que, entretanto, não obsta a existência do

40 GOMES, Amintas Vidal. Manual do Delegado. [S. l.: s. n.], [20--?] apud TOURINHO FILHO, op. cit., p. 244. 41 ESPINOLA FILHO, Eduardo. Código de processo penal brasileiro anotado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1954

apud TOURINHO FILHO, op. cit., p. 244.

42 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 79. 43 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 92.

44BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; [...].

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contraditório ou da ampla defesa. Esse entendimento é corroborado pelo direito do defensor em ter acesso aos autos do inquérito47, do mesmo modo que pela garantia do advogado em assistir

o investigado durante as apurações, podendo estar presente durante o interrogatório, bem como apresentar quesitos e assistente técnico à perícia.4849

De acordo com Lauria Tucci e Cruz e Tucci, o constituinte, no art. 5º, LV, da Constituição Federal de 1988, estendeu as garantias do contraditório e da ampla defesa também aos procedimentos administrativos, afirmando que:

quando se menciona “acusados em geral”, na examinada preceituação constitucional,

certamente pretende se dar a mais larga extensão às palavras, com referência obvia a qualquer espécie de acusação, inclusive a ainda não formalmente concretizada. Assim não fosse, afigurar-se-ia de todo desnecessária a adição de “em geral”; bastaria a alusão a “acusados”.50

Em sua doutrina, o processualista defende a presença do contraditório da integralidade da persecução penal, o que se revela também na assistência de advogado ao preso constitucionalmente prevista no art. 5º, LXIII. Nesse aspecto, cita Nores, em sua referência ao art. 40 da Constituição Provincial argentina, segundo o qual “é inviolável a defesa em juízo da pessoa e de seus direitos. Todo acusado tem direito à defesa técnica, ainda a cargo do Estado,

desde o primeiro momento da persecução penal”.5152

47 Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 14. Diário da Justiça Eletrônico.

Brasília, 09 fev. 2009. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=14.NUME.%20E%20S.FLSV.&base=ba seSumulasVinculantes>. Acesso em: 25 mar. 2018. “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”; BRASIL. Lei nº 8.906, de 04

de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Brasília,

DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 25 mar. 2018. “Art. 7º São direitos do advogado: [...] XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; [...]”. 48 BRASIL. Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos

Advogados do Brasil (OAB). Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso em: 12 abr. 2018. “Art. 7º São direitos do advogado: [...] XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) a) apresentar razões e quesitos; [...]”.

49 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p 172-173.

50 TUCCI, Rogério Lauria; TUCCI, José Rogério Cruz e,. Constituição de 1988 e processo: regramentos e garantias constitucionais do processo .São Paulo: Saraiva, 1989, p. 25.

51NORES, José I Cafferata et al. Manual de derecho procesal penal. [S. l.]: Advocatus, [20--], p. 165, tradução

nossa. Disponível em: <http://www.profprocesalpenal.com.ar/archivos/9c56835f-Manual.Cordoba.pdf>. Acesso em: 10 maio 2018.

52NORES, José I Cafferata. Eficácia de la Persecución Penal y Garantías Procesales en la Constitución de

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Ainda, conforme Mirabete, pode-se caracterizar o inquérito policial como procedimento obrigatório. Isso porque, em se tratando de ação penal de iniciativa pública, diante do conhecimento de uma prática aparentemente delituosa, deverá a autoridade policial obrigatoriamente proceder à instauração do procedimento investigativo.53

Tal característica não se confunde, entretanto, com a ideia de imprescindibilidade do inquérito policial, visto que, conforme já exposto, os procedimentos de investigação preliminar caracterizam-se pela sua autonomia, sendo, por isso, dispensáveis, isto é, não obrigatórios.

O teor do art. 12, do Código Processual Penal somado às disposições dos arts. 27, art. 39, §5º e art. 46, §1º, do mesmo instrumento processual apontam que a peça acusatória pode ter como suporte outras peças informativas, desde que suficientes para que haja a justa causa para o oferecimento da denúncia ou da queixa, entendida como a materialidade delitiva e os indícios mínimos de sua autoria.5455

A esse respeito, assevera Tourinho Filho:

O inquérito policial é peça meramente informativa. Nele se apuram a infração penal com todas as suas circunstâncias e a respectiva autoria. Tais informações tem por finalidade permitir que o titular da ação penal, seja o Ministério Público, seja o ofendido, possa exercer o jus persequendi in judicio, isto é, possa iniciar a ação penal.

Se esta é a finalidade do inquérito, desde que o titular da ação penal (ministério Público ou ofendido) tenha em mãos as informações necessárias, isto é, os elementos imprescindíveis ao oferecimento de denúncia ou queixa, é evidente que o inquérito será perfeitamente dispensável.56

Por fim, o inquérito policial deve ser entendido como um procedimento indisponível, na medida que, uma vez instaurado pela autoridade policial, esta não poderá

53 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 62.

54 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.

“Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.” “Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. [...] § 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a

denúncia no prazo de quinze dias.” “Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. § 1o Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em

que tiver recebido as peças de informações ou a representação.”

55 MIRABETE, op. cit., p. 60.

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arquivá-lo.57 A lei confere apenas ao órgão acusador o direito de dispor do procedimento

investigatório, devendo submeter sua pretensão ao órgão jurisdicional, quando, apenas assim, poderá ser autorizado o arquivamento dos autos do inquérito.58

2.1.4 Atribuições das autoridades

Conforme já destacado, a atividade investigativa será levada a cabo pela polícia judiciária, de caráter eminentemente repressivo, através dos agentes da Polícia Civil e da Polícia Federal.5960

À autoridade policial incumbe a presidência do inquérito policial, agindo com discricionariedade para determinar as diligências a serem realizadas durante o curso da investigação, sendo-lhe também atribuída a prática de outros atos.61

Na forma do art. 5º do Código Processual Penal62, à autoridade policial compete a

instauração do inquérito, devendo fazê-lo tão quanto tenha notícia da suposta infração penal. A notitia criminis, por sua vez, poderá ser de conhecimento espontâneo pelo órgão policial ou provocado por outrem. Será espontâneo quando a ciência pela autoridade da prática de um fato aparentemente delituoso ocorrer, de forma direta e imediata, no o exercício de sua atividade funcional. Por outro lado, será provocado quando a notícia for transmitida por uma das diversas formas previstas no ordenamento jurídico.63

57 Nesse sentido: BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em:

18 mai. 2018. “Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.”.

58 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 62

59 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018.

“Art. 144. [...] § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; [...] IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União [...] § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”.

60 MIRABETE, op. cit., p. 57-58.

61 O Código Processual Penal, que, em seu art. 4º, confere à autoridade policial a titularidade do inquérito policial concede, no seu parágrafo único, a outras autoridades administrativas a elaboração de inquérito, desde que haja atribuição legal para investigar (LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 281).

62 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.

“Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.”

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De acordo com o art. 5º, I e II, do Código Processual Penal, nos crimes de ação penal de iniciativa pública, o inquérito policial será iniciado de ofício pela autoridade policial, ou mediante o requerimento do ofendido ou requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público.

Segundo Tornaghi, o magistrado e o Ministério Público não têm o poder de ordenar à polícia a instaurar o inquérito. Todavia, por se tratar de requisição das referidas autoridades, o pedido deve ser atendido pelo órgão policial, salvo se manifestamente ilegal. Isso porque, não é conferida à autoridade policial a possibilidade de não instaurar o inquérito, não havendo, ainda, sequer previsão legal do indeferimento da requisição, como há na hipótese de requerimento do ofendido.64

Em se tratando de ação penal de iniciativa pública condicionada à representação do ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça ou de iniciativa privada, a instauração do inquérito policial tem como condição a requerimento destes sujeitos.6566

Quanto as demais atividades de atribuição da polícia judiciária, o art. 6º, I a X, do Código Processual Penal67, elenca, de forma exemplificativa, algumas diligências que a

autoridade policial deve realizar durante o inquérito, a fim de apurar os fatos apresentados na notitia criminis, tais como a apreensão de objetos, a determinação da realização do exame de corpo de delito - se for o caso-, a oitiva do ofendido, do investigado e de testemunhas.68

Além disso, a Lei nº 12.830/2013 atribui privativamente ao delegado de polícia o indiciamento.69 Trata-se de ato fundamentado, por meio do qual a autoridade policial aponta

64 TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 257-258.

65 Inteligência do art. 5º, § 4º, do Código de Processo Penal (Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: [...] § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.).

66 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 68-69.

67 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.

“Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e

o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.”

68 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 84.

69 BRASIL. Lei nº 12.830, de 20 de junho de 2013. Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-formalmente determinada pessoa como autor ou partícipe da infração penal objeto de investigação.70

Em regra71, o prazo para a conclusão das investigações é de 10 (dez) dias, se o

indiciado tiver sido preso em flagrante ou preventivamente, ou de 30 (dias), quando este estiver solto.Quanto à possibilidade da prorrogação desse prazo, majoritariamente entende-se sê-la inadmissível quando o investigado estiver preso.72 Por outro lado, estando ele solto, a legislação

permite a prorrogação do prazo, mediante a oitiva do magistrado, considerando a doutrina também ser obrigatória a oitiva prévia do Ministério Público.73

A conclusão do procedimento inquisitivo sucede com a elaboração de um relatório pela autoridade policial, no qual apresentará o que fora investigado, de maneira objetiva, podendo incluir uma tipificação penal, a qual, no entanto, não vinculará a atuação do Parquet. Ato contínuo, os autos serão encaminhados ao órgão judicial, que abrirá vistas ao membro do Ministério Público atuante.Este, por sua vez, poderá requerer à polícia novas diligências que entenda necessárias à formação da opinio delicti, ou, caso verifique a presença de elementos suficientes, poderá oferecer a peça acusatória, ou, ainda, requerer o arquivamento da peça informativa.74

Assim sendo, percebe-se que, apesar de destinatário da peça informativa, ao Ministério Público não é conferido o poder de conduzir o inquérito policial. Sua função institucional, na forma do art. 129, I, da Constituição Federal, consiste na promoção da ação penal pública, em caráter privativo. Não obstante, poderá atuar requisitando instauração do

2014/2013/lei/l12830.htm>. Acesso em: 12 abr. 2018. “Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. [...]§ 6o O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias. [...]”.

70 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 183.

71 Na legislação brasileira, existem prazos especiais para a conclusão do inquérito policial. Como exemplo, tem-se a Lei nº 11.343/2006, que dispõe em tem-seu art. 51, caput, que “o inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto”. (BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Lei de Drogas. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018).

72 Nesse sentido: BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em:

18 mai. 2018. “Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. § 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. § 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. § 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer

ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.”

73 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodvim, 2015, p. 149.

(29)

inquérito e no acompanhamento do procedimento, podendo requerer diligências à autoridade policial, conforme prevê o art. 129, VIII, da Constituição Federal75, bem como o art. 26, IV da

Lei nº 8.625/93 – Lei Orgânica Nacional do Ministério Público.767778

Incumbe ainda ao Ministério Público realizar um controle externo da atividade policial. Sua atuação consiste tanto na fiscalização das atividades persecutórias, acompanhando a produção de provas que poderão lhe servir, bem como na repressão de eventuais abusos por parte da polícia.7980

Com efeito, o procedimento do inquérito policial é marcado pela autonomia e discricionariedade da autoridade policial e pelo acompanhamento do Ministério Público, quando se tratar de ação penal de iniciativa pública. Todavia, durante a fase pré-processual

75 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28 fev. 2018. “Art.

129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; [...] VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os

fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; [...]”.

76 Nesse sentido: BRASIL. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Lei Orgânica Nacional do Ministério

Público. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 15

mar. 2018. “Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: [...] IV - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial e de inquérito policial militar, observado o disposto no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los; [...]”.

77 Importante salientar que é conferida ao Ministério Público a possibilidade de exercer a atividade investigativa preliminar, mediante a instauração do Procedimento Investigatório Criminal no âmbito do próprio órgão, na forma da Resolução nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público. (BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Resolução nº 181, de 7 de agosto de 2017. Dispõe sobre instauração e tramitação do procedimento investigatório criminal a cargo do Ministério Público. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resolu%C3%A7%C3%A3o-181.pdf>. acesso em: 29 mar. 2018).

78 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p 58-59.

79 Nesse sentido: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 28

fev. 2018. “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: [...] VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; [...].”; BRASIL. Lei Complementar nº 75, de 20 mai. 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm>. Acesso em: 10 mar. 2018. “Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial

por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: [...].”; BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público

(CNMP). Resolução nº 20, de 28 de maio de 2007. Regulamenta o art. 9º da Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993 e o art. 80 da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, disciplinando, no âmbito do Ministério

Público, o controle externo da atividade policial. Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resoluçao_nº_20_alterada_pelas_Resoluções-65-98_113_e_121.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2018. “Art. 2º O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como

objetivo manter a regularidade e a adequação dos procedimentos empregados na execução da atividade policial, bem como a integração das funções do Ministério Público e das Polícias voltada para a persecução penal e o interesse público, atentando, especialmente, para: I – o respeito aos direitos fundamentais assegurados na Constituição Federal e nas leis; II – a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio público; III – a prevenção da criminalidade; IV – a finalidade, a celeridade, o aperfeiçoamento e a indisponibilidade da persecução penal; V – a prevenção ou a correção de irregularidades, ilegalidades ou de abuso de poder relacionados à atividade de investigação criminal; VI – a superação de falhas na produção probatória, inclusive técnicas, para fins de investigação criminal; VII –a probidade administrativa no exercício da atividade policial.”

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se necessária a intervenção judicial, limitada a assegurar a observância das garantias constitucionais do investigado.

Segundo Aury Lopes Júnior, o juiz atua como garantidor da observância aos direitos fundamentais do sujeito passivo da investigação e faz o controle de legalidade dos atos do inquérito. Sua atuação deve ser bastante limitada, devendo, excetuados alguns casos previstos em lei, serem provocados pela autoridade policial, pelo ministério público ou pelo investigado.81

Para Rangel, a atuação limitada do órgão jurisdicional se justifica pela adoção pelo ordenamento jurídico brasileiro do sistema processual penal acusatório. Este, em contraposição ao sistema processual penal inquisitivo, é determinado pelo caráter não arguitivo do magistrado, com vistas a preservar sua imparcialidade. Apresenta-se na forma do acto trium personarum, por meio do qual as funções de defesa, acusação e julgamento são atribuídas a três sujeitos processuais distintos. Sob essa perspectiva, caberá ao juiz somente o desempenho da função jurisdicional, ao passo que ao Ministério Público, ou ao ofendido, caberá o exercício da acusação.82

Por outro lado, a despeito do exercício de controle da observância das garantias fundamentais do indivíduo, função de maior relevância prática do órgão jurisdicional verifica-se no proferimento da decisão que determina o arquivamento do inquérito, visto que, como verifica-será tratado a seguir, a atuação do magistrado é imprescindível à sua concretização.

2.2 Aspectos gerais sobre o arquivamento

Concluído o procedimento investigatório pela polícia judiciária, os autos do inquérito serão encaminhados ao órgão jurisdicional competente, que abrirá vistas ao membro oficiante do Ministério Público. Este, diante das informações documentadas no inquérito, poderá proceder das seguintes formas.

Caso entenda serem as informações coligidas insuficientes para formação da sua opinio delicti, poderá o Parquet tanto realizar diligências complementares, bem como requerê-las à autoridade policial. De acordo com Greco Filho, nesse caso, não cabe ao juiz decidir sobre tal pedido, devendo apenas remeter os autos ao órgão policial, sem realizar qualquer juízo de valor sobre a necessidade de novas apurações.83

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