• Nenhum resultado encontrado

Concluído o procedimento investigatório pela polícia judiciária, os autos do inquérito serão encaminhados ao órgão jurisdicional competente, que abrirá vistas ao membro oficiante do Ministério Público. Este, diante das informações documentadas no inquérito, poderá proceder das seguintes formas.

Caso entenda serem as informações coligidas insuficientes para formação da sua opinio delicti, poderá o Parquet tanto realizar diligências complementares, bem como requerê- las à autoridade policial. De acordo com Greco Filho, nesse caso, não cabe ao juiz decidir sobre tal pedido, devendo apenas remeter os autos ao órgão policial, sem realizar qualquer juízo de

valor sobre a necessidade de novas apurações.83

81 LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 281. 82 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 50-52. 83 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 87-88.

Em sentido diverso, poderá constatar que os elementos informativos contidos no inquérito já são suficientes para a elaboração da opinio delicti. Em se posicionando pela viabilidade da ação penal, deverá oferecê-la dentro do prazo previsto no Código de Processo Penal.8485

Em contrapartida, a opinio delicti pode se apresentar no entendimento pela ausência de suporte para o oferecimento da ação penal. Nessa circunstância, deverá o Ministério Público

requerer ao órgão jurisdicional competente o arquivamento do inquérito policial.86

A esse respeito, Polastri assevera:

Caso não estejam presentes as condições e requisitos que autorizem o oferecimento à denúncia, inexistindo outras diligências apuratórias, o órgão do parquet, ao contrário de dar início à ação penal, a abortará em seu nascedouro, através do arquivamento

dos elementos até então existentes.87 (grifo do autor)

Na legislação pátria, o arquivamento do inquérito policial e das demais peças de informação encontra-se previsto no art. 28 do Código de Processo Penal, que dispõe:

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.88

Ao Ministério Público, como titular privativo da ação penal de iniciativa pública,

compete exclusivamente o requerimento de arquivamento do inquérito policial.89 Não é,

portanto, atribuição da autoridade policial arquivá-lo de ofício ou requerer o seu arquivamento.

84 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro, Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018. “Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.”

85 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 91.

86 Insta salientar que, conforme explica Greco Filho (op. cit., p. 88), a formação da sua opinio delicti pode levar à

conclusão pela incompetência do juízo, devendo nesse caso o Ministério Público requerer ao juiz alteração da competência.

87 LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 123. 88 BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Rio de Janeiro. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 18 mai. 2018.

89 Em se tratando da ação penal de iniciativa privada, a discussão acerca do arquivamento do inquérito policial não

apresenta muita relevância, tendo em vista a presença dos institutos da renúncia e da decadência. Não obstante, Renato Brasileiro sustenta que o ofendido poderia requerer o arquivamento do inquérito policial quando, apesar das diligências realizas do curso das investigações, não houver indícios mínimos da autoria delitiva. Isso porque não haverá a decadência, visto que o marco inicial para a contagem do prazo decadencial inicia-se com o conhecimento do autor do fato, razão pela qual também não poderia se falar em renúncia tácita. (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 170-171).

Isso porque, à esta concerne apenas a coleta de informações sobre o fato objeto da investigação,

não lhe incumbindo valorar os elementos colhidos.90

Não cabe igualmente ao magistrado determinar o arquivamento do inquérito policial de ofício. Caso contrário, haveria evidente distanciamento do sistema processual penal acusatório, que pressupõe a separação das funções de acusação, defesa e julgamento entre três órgãos distintos. Dessa forma, ao magistrado compete o arquivamento do inquérito, mas desde que requerido pelo Ministério Público, visto que este funciona como titular da ação penal, lhe

sendo atribuída de forma exclusiva a formação da opinio delicti.91

Incumbe ao magistrado apenas decidir sobre o pedido de arquivamento apresentado

pelo órgão ministerial. Essa atribuição da autoridade judiciáriase justifica, na medida em que

é o juiz quem deve exercer o controle externo acerca da observância do princípio da

obrigatoriedade da ação penal pública.92

Sobre a fiscalização do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, Jardim assevera:

A exigência de o arquivamento do inquérito ou das peças de informação vir a ser submetido à apreciação judicial nada mais é do que a consagração de um mecanismo de controle externo do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública. Caso vigorasse o princípio da oportunidade, não haveria lugar para a fiscalização do que não existe – a obrigatoriedade. Poderíamos ter, sim, um duplo juízo de conveniência ou oportunidade sobre a propositura da demanda penal.93

Destarte, o requerimento de arquivamento deverá ser apresentado ao juiz de forma escrita e fundamentada, contendo as razões pelas quais o Parquet entende ser essa providência

necessária.9495 O pedido deverá ser sempre expresso, sendo vedada a figura do arquivamento

implícito.96

90 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p.102. 91 LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 124

92 JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 166. 93 Ibidem, p. 166.

94 De acordo com o STF, o pedido é irretratável. Nesse sentido: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº

2028. Relatora: Ministra Ellen Gracie. Diário da Justiça. Brasília, 16/12/2005. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=80676>. Acesso em: 19 maio 2018; BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº 2054. Relatora: Ministra Ellen Gracie. Diário da Justiça.

Brasília, 06/10/2006. Disponível em:

<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=80682>. Acesso em: 19 maio 2018.

95 LIMA, op. cit., p. 124.

96 “Entende-se como arquivamento implícito o fenômeno de ordem processual decorrente de o titular da ação penal

deixar de incluir na denúncia algum fato investigado ou algum dos indiciados, sem expressa manifestação ou justificação deste procedimento” (JARDIM, Afrânio Silva. Ação Penal Pública: Princípio da Obrigatoriedade. Rio de Janeiro: Forense, 1988, p. 28 apud LIMA, op. cit., p. 146). Essa forma de arquivamento é vedada, visto que, de acordo com Eugênio Pacelli, a finalidade do procedimento é tornar a matéria indiscutível, ressalvada a possibilidade de desarquivamento, quando do surgimento de novas provas. Por conseguinte, não é admissível que o Ministério Público não ofereça a denúncia ou a ofereça somente em relação a alguns fatos ou indiciados, e nem

O magistrado, ao receber o pedido formal de arquivamento, poderá manifestar-se de duas formas distintas. Primeiramente, poderá decidir conforme com a opinião do órgão acusador, determinando o arquivamento da peça de informação e o encerramento das investigações. Em sentido oposto, poderá o juiz entender que não assiste razão ao órgão ministerial, indeferindo o pedido de arquivamento. Nesse caso, o retrocitado art. 28 do Código Processual Penal prevê a remessa dos autos do inquérito policial ao Procurador-Geral,

verificando-se a incidência do princípio da devolutividade.97

Acerca do referido princípio, Mirabete discorre:

É o princípio da devolução, em que o juiz transfere (devolve) a apreciação do caso ao chefe do Ministério Público, ao qual cabe a decisão final sobe o oferecimento, ou não, da denúncia. O juiz atua, na hipótese, numa função anormal, a de vela e fiscalizar o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.98 (grifo do autor)

Logo, caso não concorde com a proposta do Ministério Público, o juiz determinará a remessa dos autos do inquérito policial ao Procurador-Geral, que decidirá definitivamente sobre a questão. No âmbito da Justiça Estadual, atividade é exercida pelo Procurador-Geral de Justiça, salvo quando se tratar de ação penal de iniciativa originária deste, sendo nesse caso o

colégio de procuradores o órgão revisional.99 Por sua vez, na Justiça Federal, tal atribuição é

conferida às Câmaras de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, exceto nas

hipóteses de ação penal de iniciativa originária do Procurador-Geral da República.100101

Recebidos os autos do inquérito pelo órgão revisional do Ministério Público, caso

sua opinião siga os fundamentos expostos na decisão judicial, poderá o Procurador-Geral

requeira o arquivamento expresso, deixando quanto aos outros a matéria em aberto (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 13. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 73).

97 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 89. 98 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p 83.

99 BRASIL. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. Brasília,

DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 15 mar. 2018. “Art. 10. Compete ao Procurador-Geral de Justiça: [...] IX - designar membros do Ministério Público para: [...] d) oferecer denúncia ou propor ação civil pública nas hipóteses de não confirmação de arquivamento de inquérito policial ou civil, bem como de quaisquer peças de informações; [...]. Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos os Procuradores de Justiça, competindo-lhe: [...] XI - rever, mediante requerimento de legítimo interessado, nos termos da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de inquérito policial ou peças de informações determinada pelo Procurador-Geral de Justiça, nos casos de sua atribuição originária; [...].”

100 BRASIL. Lei Complementar nº 75, de 20 mai. 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto

do Ministério Público da União. Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm>. Acesso em: 10 mar. 2018. “Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão: [...] IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito parlamentar ou peças de informação, exceto nos casos de competência originária do Procurador-Geral; [...]”.

101 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,

oferecer desde já a denúncia, bem como poderá designar outro membro do Ministério Público

para que a promova.102

Em sentido oposto, poderá acompanhar as razões expostas pelo órgão ministerial originário, de forma a insistir no pedido de arquivamento. À vista disso, tratando-se de decisão final e definitiva sobre o assunto, é defeso ao juiz não acolher o pedido do Ministério Público. Conforme salienta Jardim, deverá o juiz determinar o arquivamento físico dos autos, tratando- se de mero ato material de ordenar os autos do inquérito ao arquivo, não lhe restando nenhuma

margem para a apreciação do pedido.103

Levando em conta a liberdade funcional do órgão acusador, esclarece Bonfim:

A obrigatoriedade de atender o pedido de arquivamento não pressupõe a prevalência da autoridade do Ministério Público sobre a do magistrado, como em princípio poderia parecer. Ocorre que o órgão do Ministério Público tem liberdade para formar convicção acerca da prática de delito: se, examinando os autos do inquérito policial, concluir pela inexistência de delito, não pode ser obrigado a ajuizar a ação penal.104 Diversamente, poderá, ainda, o Procurador-Geral determinar a realização de diligências complementares. Em tal caso, Greco Filho defende que o requerimento de novas diligências será realizado diretamente à polícia ou a outras entidades, sem a intervenção

judicial, visto que, nessa fase, a deliberação é de atribuição exclusiva do Ministério Público.105