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3. A POSSIBILIDADE DE REABERTURA DAS INVESTIGAÇÕES E OS EFEITOS

3.2 Decisão de arquivamento

3.2.2 Constituição da coisa julgada

Como consequência da discussão acerca da sua natureza jurídica, é importante examinar se a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial tem aptidão de produzir os efeitos da coisa julgada.

No ordenamento jurídico brasileiro, a coisa julgada tem status de garantia fundamental, prevendo a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, XXXVI, que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

Dessa forma, valorizou-se os bens jurídicos da segurança e da paz social, impedindo-se que o legislador ordinário edite normas que malfiram as relações jurídicas

estabelecidas pelo Poder Judiciário.194

A esse respeito, Chiovenda explica que, desde os romanos, a existência da garantia da coisa julgada justifica-se por razões de utilidade social. Isso porque, entendido o processo como um instrumento destinado à aplicação da vontade da lei, resultando no reconhecimento ou no não conhecimento de um bem jurídico a uma das partes, o fundamento da existência da coisa julgada certifica-se na demanda do corpo social em lhe ter assegurado o gozo dos bens

legalmente tutelados.195

Com efeito, o referido autor discorre:

A coisa julgada é a eficácia própria da sentença que acolhe ou rejeita a demanda, e consiste em que, pela suprema exigência da ordem e da segurança da vida social, a situação das partes fixada pelo juiz com respeito ao bem da vida (res), que foi objeto de contestação, não mais se pode, daí por diante, contestar; o autor que venceu não pode mais ver-se pertubado [sic] no gozo daquele bem; o autor que perdeu não lhe pode mais reclamar, ulteriormente, o gozo. A eficácia ou a autoridade da coisa julgada é, portanto, por definição, destinada a agir no futuro, com relação aos futuros processos.196 (grifo do autor)

193 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães.; FERNANDES, Antonio

Scarance. Recursos no processo penal: teoria geral dos recursos em espécie ações de impugnação. 5.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 36.

194 DELGADO, José Augusto. Efeitos da coisa julgada e os princípios constitucionais. In: Simpósio de Direito

Público da Advocacia-Geral da União-5ª Região, 1, 2000, Fortaleza. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:DRQ2GagWbsIJ:www.agu.gov.br/page/download/ind ex/id/892447+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 10 abril 2018.

195 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Tradução de Paolo Capitanio. 1. ed.

Campinas: Bookseller, 1998, p. 446

Por conseguinte, Carnelutti classifica a eficácia da coisa julgada em dois aspectos: o material e o processual. O primeiro deles consiste na eficácia imperativa da coisa julgada. Explica-se. O juízo proferido pelo juiz no curso do processo consiste em uma declaração de certeza ou na constituição de uma relação jurídica, tendo caráter vinculativo, e não apenas consultivo. Equipara-se à lei no tocante àquela relação jurídica, de forma a conferir caráter imperativo à decisão e à coisa julgada. Essa eficácia imperativa apresenta, portanto, eminente

caráter material, visto que não fica contida no processo, estendendo-se para fora dele.197

Em contrapartida, a eficácia processual da coisa julgada desenvolve-se dentro do processo, consistindo na imutabilidade do juízo perpetrado, fenômeno eminentemente processual, visto que se observa na impossibilidade de julgamento, por qualquer outro juiz, do que já fora julgado.

De acordo com o autor, a imutabilidade se justifica, pois:

se a parte a quem não agrada o juízo pronunciado pudesse obter ou ainda somente pedir ilimitadamente a mudança dele, a lide, em lugar de compor-se, permaneceria ou poderia permanecer sempre aberta. A composição da lide exige, então, não só a imperatividade, como até certo ponto também a imutabilidade do juízo [...].198 (grifo

do autor)

Não obstante, a doutrina tradicionalmente classifica a coisa julgada nas perspectivas formal e material. Como pressuposto da coisa julgada material, a coisa julgada formal consiste na “imutabilidade da decisão dentro da relação jurídico-processual”, tratando-se da

impossibilidade de quanto aquela decisão serem interpostos outros recursos.199

Nesse aspecto, Cintra, Grinover e Dinamarco discorrem:

A sentença não mais suscetível de reforma por meio de recursos transita em julgado, tornando-se imutável dentro do processo. Configura-se a coisa julgada formal, pela qual a sentença, como ato daquele processo, não poderá ser reexaminada. É sua imutabilidade como ato processual, provindo da preclusão das impugnações e dos recursos. A coisa julgada formal representa a preclusão máxima, ou seja, a extinção do direito ao processo (àquele processo, o qual se extingue). O Estado realizou o serviço jurisdicional que lhe requereu (julgando o mérito), ou ao menos desenvolveu as atividades necessárias para declarar inadmissível o julgamento do mérito [...].200

(grifo do autor)

197 CARNELUTTI, Francesco. Instituições do processo civil. Campinas: Servanda, 1999. Tradução de Adrián

Sotero de Witt Batista, p. 185-188.

198 Ibidem, p. 190.

199 DELGADO, José Augusto. Efeitos da coisa julgada e os princípios constitucionais. In: Simpósio de Direito

Público da Advocacia-Geral da União-5ª Região, 1, 2000, Fortaleza. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:DRQ2GagWbsIJ:www.agu.gov.br/page/download/ind ex/id/892447+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 10 abril 2018.

200 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido R. Teoria geral do processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 326.

A coisa julgada material é definida pelo Código de Processo Civil201 como “a

autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso”.

Dessa forma, entendendo-se o instituto da preclusão como a perda de uma faculdade processual, a coisa julgada formal se verificará quando houver a preclusão definitiva das impugnações em face de uma decisão, ao passo que a coisa julgada material acarretará a preclusão de qualquer

questionamento futuro relativo ao que fora julgado.202

De acordo com Barbosa Moreira, “a autoridade da coisa julgada, de que se tenha revestido uma decisão judicial cria para o juiz um vínculo consistente na impossibilidade de emitir novo pronunciamento sobre a matéria já decidida”. Quando a imutabilidade prevalecer apenas no âmbito do mesmo processo, estar-se-á diante da coisa julgada formal, já quando a prevalência ocorrer em qualquer processo, observar-se-á o fenômeno da coisa julgada material.203

De modo mais amplo, coisa julgada material consiste na imutabilidade dos efeitos produzidos pela decisão, de modo a impossibilitar que o juiz volte a julgar, que as partes voltem

a litigar e que o legislador passe a regular aquela relação jurídica de forma diversa.204

Para parte da doutrina, haveria ainda uma diferenciação entre a coisa julgada no âmbito penal e no âmbito civil. Isso porque, no âmbito penal, com mais autoridade do que a coisa julgada, haveria a coisa soberanamente jugada. Assim, defende-se a existência da mera coisa julgada, que se verificaria nas sentenças condenatórias, e da coisa soberanamente julgada,

que seria própria da sentença absolutória.205

O caráter soberano se justificaria visto que, não seriam admitidas exceções, isto é, não poderia ser a coisa julgada ser desconstituída. Isso uma vez que, como se sabe, em matéria processual penal, a desconstituição da coisa julgada só é possível por meio da revisão criminal, que, no entanto, só é cabível para impugnar sentença condenatória, tratando-se de mecanismo

de impugnação exclusivo da defesa.206

201 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, CE, Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 12 abr. 2018. “Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso”.

202 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Tradução de Paolo Capitanio. 1. ed.

Campinas: Bookseller, 1998, p. 405

203 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1994,

p. 114.

204 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido R. Teoria geral do processo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 327.

205 Ibidem, p. 328. 206 Ibidem, p. 328.

Assim sendo, questiona-se: a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial é apta a produzir os efeitos da coisa julgada?

De acordo com relevante parte da doutrina, a decisão que determina o arquivamento do inquérito não constitui coisa julgada, tendo em vista a possibilidade de reabertura das investigações (art. 18 do CPP) e do ulterior oferecimento de denúncia (Súmula nº 524 do STF). Segundo Rangel, a decisão de arquivamento é rebus sic standibus. O vocábulo em latim é tradicionalmente conhecido no âmbito do Direito Civil, no que tange à matéria

contratual.207 A cláusula rebus sic standibus, de acordo com Rodrigues, traduz-se na noção de

que há nos contratos de prestações continuadas uma cláusula implícita que autoriza a resolução

do trato na hipótese profunda alteração nas condições vigentes.208

No âmbito processual penal, considera-se como decisão tomada rebus sic standibus

aquela que terá a produção dos seus efeitos enquanto o contexto fático continuar o mesmo.209

Ou seja, mudando-se o quadro probatório, os efeitos da decisão poderão ser alterados.

Conforme Tornaghi, o arquivamento não cria sequer preclusão. Em se tratando de uma decisão tomada rebus sic standibus, “nada impede que novas provas modifiquem a matéria de fato, dando ensejo ao procedimento. Se a situação muda pelo advento de outras provas, a

decisão também é mutável.”.210

Para Espínola Filho, Silva e Lavorenti, a ausência de caráter definitivo da decisão de arquivamento impede a formação da coisa julgada. Isso porque, considerando a possibilidade de retomada das investigações, conforme a previsão do art. 18 do CPP, o arquivamento não põe

fim ao processo, nem acarreta a extinção da ação penal.211

Nesse sentido, colacionam julgado do antigo Tribunal de Apelação do Distrito

Federal, por meio do qual declara-se que “o arquivamento do inquérito não significa a definitiva

terminação do processo, o seu encerramento e extinção da ação penal. Significa apenas que as autoridades judiciárias, a que o caso estava afeto, não encontraram elementos para o processo penal.”.212

207 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 16. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 201. 208 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 21.

209 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 87.395. Relator: Ministro Ricardo Lewandoski. Diário

da Justiça Eletrônico. Brasília, 13 mar. 2018. Disponível em:

<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14493604>. Acesso em 10 fev. 2018.

210 TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 253.

211 ESPINOLA FILHO, Eduardo; SILVA, José Geraldo da.; LAVORENTI, Wilson. Código de processo penal brasileiro anotado. Campinas: Bookseller, 2000, p. 412.

212 BRASIL. Tribunal de Apelação do Distrito Federal. Habeas Corpus nº 2.080. Relator: Lafayette de Andrada.

Diário da Justiça, Brasília, 20 ago. 1943. apud ESPINOLA FILHO, Eduardo; SILVA, José Geraldo da.; LAVORENTI, Wilson. Código de processo penal brasileiro anotado. Campinas: Bookseller, 2000, p. 41

Dessa forma, para considerável parte da doutrina, o arquivamento não implica a

constituição da julgada, haja vista a possibilidade de reabertura das investigações,213 bem como

de ulterior oferecimento da denúncia, desde que presentes novas provas e enquanto não extinta a punibilidade.214

Em contrapartida, de acordo com Coutinho, da norma contida no art. 18 do CPP infere-se que a decisão que determina o arquivamento adquire uma estabilidade provisória, porquanto mantém-se imutável enquanto não aparecerem novas provas, tratando-se de uma

decisão com efeitos análogos ao da cláusula rebus sic standibus, fazendo coisa julgada. 215

O autor defende que, quando o arquivamento for fundamentado na insuficiência de provas, acarretando a não constituição da justa causa, ou impondo dúvida acerca da tipicidade penal do fato, haverá a constituição de uma coisa julgada rebus sic standibus, obstando o

seguimento do processo, ressalvada a reabertura das investigações no caso de novas provas.216

Por outro lado, quando o arquivamento for determinado com base no reconhecimento, sem dúvida razoável, da atipicidade do fato ou da extinção de punibilidade, haverá decisão de mérito, constituindo a coisa julgada material pela conclusão do chamado processo cautelar.217218

Portanto, a doutrina mais moderna sustenta que a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial terá eficácia de coisa julgada, podendo ser formal ou material, de acordo com a causa que fundamentou o ato. Nesse aspecto, há de se avaliar se

houve ou não pronunciamento acerca do mérito da conduta do agente.219

Conforme já discorrido, constituem causas que autorizam o arquivamento: a) a ausência de pressuposto processual; b) a falta de condição para o exercício da ação penal; c) a presença manifesta de causa excludente de ilicitude; d) a existência manifesta de causa excludente de culpabilidade; e) a evidente atipicidade penal do fato; f) a existência de causa extintiva de punibilidade.

213 Nesse sentido: MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 84;

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 327.

214 Nesse sentido: LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 315;

LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p.139.

215 COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A natureza cautelar da decisão de arquivamento do inquérito

policial. Revista de Processo, São Paulo, v. 70, p.49-58, 1993, p. 53.

216 Ibidem, p. 53.

217 Para o autor, o caráter decisório da decisão de arquivamento implica o reconhecimento da existência de um

processo, que teria natureza cautelar em relação a questão de fundo, que seria a pretensão punitiva estatal.

218COUTINHO, op. cit., p. 53.

219 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,

Assim sendo, quando o arquivamento for determinado em razão da ausência de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal, haveria a constituição da

coisa julgada apenas formal, com base nas provas presentes naquele momento.220

Isso porque, os pressupostos processuais e as condições da ação constituem elementos a serem analisados antes do exame do mérito da demanda. Por conseguinte, não se imporia óbice instransponível à renovação da ação penal, tendo em vista a possibilidade da

reabertura das investigações.221

No que concerne à justa causa enquanto condição da ação, a decisão judicial teria efeitos de coisa julgada formal, tendo em vista a aplicação do art. 18 do CPP que permite o desarquivamento. Não há também pronunciamento acerca do mérito da demanda, pois o arquivamento fora determinado por ausência de provas, não fazendo coisa julgada material,

mas apenas formal. 222

Nesse aspecto, Pacelli esclarece que possibilidade da reabertura das investigações no caso da notícia de provas novas implica dizer que a decisão que determina o arquivamento apresenta “eficácia preclusiva típica de coisa julgada formal”, visto que, diante do mesmo

quadro probatório, é defesa a rediscussão daqueles fatos. 223

Por outro lado, o arquivamento do inquérito policial mediante o reconhecimento da atipicidade penal do fato, de causa extintiva de punibilidade, de causa excludente de ilicitude e de excludente de culpabilidade implicará a constituição da coisa julgada material, impedindo que se inicie nova persecução penal em face dos mesmos fatos, visto que haverá o exercício do

juízo de mérito pelo magistrado.224

Nesse sentido, Rebouças discorre:

O arquivamento determinado pelo juiz com base na atipicidade penal em tese, excludente de ilicitude, excludente de culpabilidade ou extinção da punibilidade, faz coisa julgada formal e material. Opera-se, portanto, com base em causa de mérito, o trânsito em julgado da decisão de arquivamento, impedindo-se a rediscussão da causa, mesmo sob a alegação de superveniência de prova nova. Nesses casos, não se aplica o art. 18 do CPP nem a Súmula nº 524 do STF. 225

220 REBOUÇAS, Sérgio. Curso de direito processual penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 201.

221 TÁVORA, Nestor; ALLENCAR, Rosmar A. R. C. de. Curso de direito processual penal. 9. ed. rev, ampl. e

atual. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 156.

222 REBOUÇAS, op. cit., p. 201.

223 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 13. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2010, p. 68.

224 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 3. ed., rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2015,

p. 159; TÁVORA; ALLENCAR, op. cit., p. 159-161.

Dessa forma, para a doutrina mais moderna, a decisão de arquivamento terá eficácia de coisa julgada formal quando o ato for determinado em razão da ausência de algum pressuposto processual ou condição da ação, incluída a justa causa. Ademais, a decisão implicará a constituição da coisa julgada material quando houver sido fundamentada na atipicidade penal do fato, na presença de causa extintiva de punibilidade, na manifesta existência de excludente de ilicitude ou na manifesta presença de excludente de culpabilidade.

4 OS LIMITES JURÍDICOS AO DESARQUIVAMENTO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Após discorrer acerca das posições doutrinárias sobre as hipóteses em que seria possível o desarquivamento do inquérito policial, é importante expor e analisar o entendimento jurisprudencial sobre a matéria.

O Supremo Tribunal Federal reúne relevantes julgados sobre o assunto, apresentando posicionamentos diversos sobre a possibilidade de desarquivamento, a partir da causa em que foi fundamentada a decisão de arquivamento da peça de informação.

Assim, neste capítulo serão expostos os principais julgados do STF sobre o assunto, dividindo-se a análise jurisprudencial de acordo com a causa determinante do arquivamento, relacionando-a com a constituição ou não da coisa julgada e com a possibilidade ou não de desarquivamento.