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A relativização da dos rendimentos de natureza alimentar e o princípio da efetividade da execução tcc negaraújo

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

NAIR ELIZZE GUERRA ARAÚJO

A RELATIVIZAÇÃO DA IMPENHORABILIDADE DOS RENDIMENTOS DE NATUREZA ALIMENTAR E O PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO

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NAIR ELIZZE GUERRA ARAÚJO

A RELATIVIZAÇÃO DA IMPENHORABILIDADE DOS RENDIMENTOS DE NATUREZA ALIMENTAR E O PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Processual Civil.

Orientadora: Profa. Me. Janaína Soares Noleto Castelo Branco

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito

A663r Araújo, Nair Elizze Guerra.

A relativização da impenhorabilidade dos rendimentos de natureza alimentar e o princípio da efetividade da execução / Nair Elizze Guerra Araújo. – 2014.

127 f. : enc. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2014.

Área de Concentração: Direito Processual Civil.

Orientação: Profa. Dra. Janaína Soares Noleto Castelo Branco.

1. Execuções (Direito) - Brasil. 2. Alimentos (Direito de família) - Brasil. 3. Penhora (Direito) - Brasil. I. Castelo Branco, Janaína Soares Noleto (orient.). II. Universidade Federal do Ceará –

Graduação em Direito. III. Título.

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NAIR ELIZZE GUERRA ARAÚJO

A RELATIVIZAÇÃO DA IMPENHORABILIDADE DOS RENDIMENTOS DE NATUREZA ALIMENTAR E O PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE DA EXECUÇÃO

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Processual Civil.

Aprovada em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Profa. Me. Janaína Soares Noleto Castelo Branco (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________ Prof. Me. William Paiva Marques Júnior

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________ Mestrando Thiago Barreto Portela

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e pela oportunidade de chegar até aqui. O curso de Direito na Universidade Federal do Ceará foi um presente Dele pra mim.

Ao meu pai, Marcos Antônio Fernandes Araújo, por todo o esforço e por ter me ensinado a honestidade e persistência, que foram qualidades fundamentais para que eu concluísse meu curso e sei que serão importantíssimas daqui pra frente.

À minha mãe, Rosanni Guerra Silva Araújo, pela paciência e pela dedicação que sempre teve para criar todas as suas filhas.

Às minhas irmãs, Thays, Lays e Laryssa, por terem compartilhado comigo momentos felizes e por serem grandes companheiras.

Aos amigos que Deus reservou pra mim, que compartilharam muitos momentos bons e ruins, e seguem como a família que eu pude escolher. Principalmente aos amigos da faculdade, os que me fizeram continuar até o fim: Natalice, João, Álvaro, Raul, Mariana, Rafael, Rebeca, Bárbara, Rayan, Jéssica. Ao livreiro Jothe, representando todos os funcionários da Faculdade e a todos os professores.

À professora Janaína Noleto, excelente profissional, querida pelos alunos e minha orientadora nessa monografia. Sou grata por ter aceitado me orientar e pela ajuda que recebi.

Ao professor William Marques, também excelente profissional, que infelizmente não tive oportunidade de ser aluna, mas conheço o trabalho eficiente e apaixonado feito na coordenação que tanto ajuda os alunos da faculdade.

À Camile Araújo, que foi minha colega na época de colégio e estagiou junto comigo, por aceitar compor a banca examinadora desta monografia. Ao Thiago Barreto Portela, que me prestou uma grande ajuda.

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RESUMO

O cerne desta monografia se concentra em torno do inciso IV do art. 649, do Código de Processo Civil (CPC), que trata do que se convencionou chamar de instituto da impenhorabilidade dos rendimentos de natureza alimentar. O referido inciso dispõe que os salários, vencimentos, pensões e outras nove figuras citadas pelo legislador, não são passíveis de penhora, exceto nos casos de execução para pagamento de prestação alimentícia. Por meio de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, o presente trabalho tem como objetivo demonstrar de que forma a aplicação absoluta da mencionada regra de impenhorabilidade impossibilita, em parte, a efetividade do processo de execução. Pretende-se, também, comprovar que ocorre uma colisão aparente entre o princípio da dignidade humana e o princípio da efetividade da execução. Almeja-se, ainda, demonstrar a viabilidade da relativização da regra da impenhorabilidade das figuras do supramencionado artigo, sem que haja prejuízo para a dignidade do devedor, respeitando sempre o mínimo necessário para a sobrevivência deste. Além de analisar a impenhorabilidade no projeto do novo CPC.

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ABSTRACT

The crux of this monograph focuses around of item IV of the art. 649 of the code of Civil Procedure (CPC), which deals with the so-called Institute of the unseizability of the yields of food nature. This subsection provides that the wages, salaries, pensions and other nine figures cited by the legislature, are not subject to garnishment, except in cases of payment execution to provide support. Through bibliographical research and case law, the present work aims to demonstrate how the absolute application of the mentioned rule of unseizability precludes, in part, the effectiveness of the implementation process. It is intended, too, prove that there is an apparent collision between the principle of human dignity and the principle of the effectiveness of the implementation. Also aims to demonstrate the viability of relativization of rule of unseizability for the figures of the above article, without prejudice to the dignity of the debtor, respecting the minimum necessary for the survival of this. In addition to analyzing the unseizability the design of the new CPC.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 PANORAMA GERAL DA EXECUÇÃO NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO . 12 2.1 Conceito de Execução ... 12

2.2 Os títulos executivos ... 15

2.2.1 Título executivo judicial ... 18

2.2.2 Título executivo extrajudicial ... 20

2.3 Princípios que norteiam a tutela jurisdicional executiva ... 22

2.3.1 Princípio da efetividade... 23

2.3.2 Princípio da boa-fé ... 24

2.3.3 Princípio da responsabilidade patrimonial ou da realidade... 25

2.3.4 Princípio da menor onerosidade na execução ... 26

2.3.5 Princípio da proporcionalidade ... 27

3 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL ... 29

3.1 Da (im)penhorabilidade dos bens... 30

3.2 A (im)penhorabilidade dos rendimentos de natureza alimentar ... 33

4 A RELATIVIZAÇÃO DA IMPENHORABILIDADE DOS RENDIMENTOS DE NATUREZA ALIMENTAR ... 38

4.1 Quadro atual do procedimento de execução ... 38

4.2 O veto presidencial ao Projeto de Lei da Câmara nº 51, de 2006 ... 41

4.3 A relativização da impenhorabilidade dos rendimentos de natureza alimentar e a aparente colisão entre os princípios da efetividade e da dignidade da pessoa humana .. 43

4.4 A relativização da impenhorabilidade dos rendimentos de natureza alimentar como meio para a efetividade da execução ... 46

4.5 As impenhorabilidades no projeto do novo CPC ... 52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 56

REFERÊNCIAS ... 58

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1INTRODUÇÃO

O procedimento de execução é o meio adequado para cobrança de dívidas por meio de títulos executivos, sejam eles judiciais ou extrajudiciais. O objetivo de tal procedimento é que a satisfação do crédito ocorra de forma célere. Ocorre que, por diversos motivos, o procedimento executório no Código de Processo Civil (CPC), instituído pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, nunca conseguiu alcançar os objetivos e eficiência estabelecidos pelo legislador. Mesmo com as últimas mudanças trazidas com a edição das Leis ns. 11.232, de 22 de dezembro de 2005, e 11.382, de 6 de dezembro de 2006, que alteraram o CPC no capítulo referente ao procedimento de execução, é uníssono na doutrina a falta de efetividade desse procedimento.

Vive-se em um momento em que há descrédito ao procedimento de execução. Essa situação afeta, não só os credores, que a duras penas tentam recuperar os créditos que lhes são devidos, como a economia do país como um todo.

O presente trabalho tem por objeto a análise da impenhorabilidade absoluta dos rendimentos de natureza alimentar no processo de execução, prevista no art. 649, inciso IV, do CPC, sob a perspectiva do princípio da efetividade da prestação jurisdicional executiva, uma vez que um dos maiores obstáculos para a satisfação do crédito do exequente na execução é a difícil localização de bens penhoráveis do devedor e, por conseguinte, a aplicação do instituto da impenhorabilidade como regra absoluta, sem limitações nem análise do caso concreto.

Da maneira como é entendido pela maioria dos magistrados, o instituto impenhorabilidade acaba por frustrar a execução, representando total inviabilidade da tutela de direito material, negando ao credor o alcance concreto de seu direito à satisfação da obrigação devida.

Assim, em um primeiro momento, far-se-á uma abordagem sobre os conceitos básicos e os princípios que norteiam a execução, além dos títulos executivos judiciais e extrajudiciais. Posteriormente, pretende-se falar sobre a responsabilidade patrimonial na execução, sobre o rol de impenhorabilidade dos art. 649 e analisar cada uma das doze figuras do inciso IV do referido artigo. Tudo para criar uma base de conhecimento com o intuito de adentrar ao tema principal dessa monografia.

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estabelecida pelo próprio legislador quando optou por supervalorizar os princípios destinados à proteção do devedor e mitigar o princípio da efetividade da execução.

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2PANORAMA GERAL DA EXECUÇÃO NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

No primeiro capítulo do presente trabalho, abordar-se-ão os principais aspectos atinentes ao processo de execução, conceitos, características e princípios regentes, tudo em conformidade com os mais hodiernos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, com o fim de servir como introdução ao tema de fundo.

2.1Conceito de Execução

Didier Jr. conceitua jurisdição como sendo uma função atribuída a terceiro imparcial para constituir o Direito de modo imperativo e criativo, reconhecendo, efetivando e protegendo as situações jurídicas concretamente deduzidas, em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível e imutável.1

Montenegro Filho entende a jurisdição como a função do Estado de eliminar os conflitos de interesses e a divide em três espécies: a jurisdição de conhecimento, a jurisdição executiva e a jurisdição cautelar, cada uma delas com objetivos próprios que não se confundem.2

Ao contrário do que ocorre com a jurisdição de conhecimento, onde, ao fim de um processo, a sentença irá constituir o direito das partes, sendo atividade essencialmente declaratória, a jurisdição de execução é atividade meramente satisfativa, visto que o direito já está constituído e reconhecido.

Em outras palavras, o processo cognitivo irá, em sentença, constituir a existência de um direito, no entanto, em geral, não produzirá de forma automática o efeito prático que a parte vencedora espera. Ocorrerá a constituição de um título executivo judicial que será instrumento fundamental para que, na cognição executiva, a sentença prolatada produza seus concretos efeitos. Segundo Didier Jr. et al., “Executar é satisfazer uma prestação devida”. 3

Montenegro Filho afirma que:

Execução é o instrumento processual posto à disposição do credor para exigir o adimplemento forçado da obrigação através da retirada de bens do patrimônio do devedor ou do responsável (no modelo da execução por quantia certa contra devedor solvente), suficientes pra a plena satisfação do exequente, operando-se no benefício

1 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 14. ed. Salvador: Jus Podivm, 2012. v. 1. p. 95. 2 MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 2. p. 212.

3 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria.

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deste e independente da vontade do executado – e mesmo contra a sua vontade –

conforme entendimento doutrinário unânime.4 Nas palavras de Dinamarco:

Executar é dar efetividade e execução é efetivação. A execução forçada, a ser realizada por obra dos juízes e com vistas a produzir a satisfação de um direito, tem lugar quando esse resultado prático não é realizado espontaneamente por aquele que em primeiro lugar deveria fazê-lo, ou seja, pelo obrigado.5

Em resumo, pode-se concluir que a execução é um procedimento judicial que o legislador concebeu para que o exequente pudesse exigir a prestação que não foi satisfeita de forma voluntária pelo executado. É através do procedimento executivo que o credor poderá ter acesso aos bens do devedor suficientes para a satisfação do crédito, ou exigir o cumprimento de uma obrigação de fazer, não-fazer ou entregar coisa. O procedimento de execução é o meio que torna palpável a obrigação contida em título executivo, seja ele judicial ou extrajudicial. Ainda sobre o tema, Dinamarco:

[...] em qualquer de suas modalidades, a execução promovida pelo Estado-juiz visa a oferecer a um credor, concreta e efetivamente, o benefício consistente na satisfação de seu direito. Nisso consiste a tutela jurisdicional executiva, diferentemente das que se obtêm no processo ou fase de conhecimento, as quais se resolvem em sentenças (palavras) e não na entrega de bens (atos). Esse resultado deve ser precisamente o mesmo que o credor haveria obtido se, no giro comum de sua vida e negócios, o devedor houvesse adimplido segundo a lei e o contrato, sem necessidade de qualquer intercessão judiciária. O ato de satisfação será sempre a entrega da coisa devida (execução por quantia certa ou para entrega de coisa móvel ou imóvel) ou a concreta adaptação da conduta do obrigado, fazendo ou abstendo-se de fazer conforme lhe haja sido determinado no título executivo; em ambos os casos reputa-se frutífera a execução, e portanto bem sucedida, quando o resultado perreputa-seguido houver sido realizado.6

O ideal seria que o devedor cumprisse voluntariamente as obrigações que lhe foram impostas através dos títulos judiciais ou por ele assumidas em títulos extrajudiciais. No entanto, existe uma resistência injustificada e uma cultura muito forte na sociedade brasileira de insubordinação às sentenças desfavoráveis e ao cumprimento voluntário de obrigações. Foi para esse fim que o procedimento executório foi criado, para que o credor tenha um instrumento processual para a satisfação rápida da obrigação líquida, certa e exigível, constituída por meio de título executivo não pago voluntariamente.

4 MONTENEGRO FILHO, 2011, p. 216.

5 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. v. 4. p. 31.

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O procedimento de execução no atual sistema jurisdicional brasileiro recai sobre o patrimônio do devedor e não sobre o próprio devedor, ao contrário do que acontecia em Roma, por exemplo, quando havia o instituto da escravidão por dívida. Naquele contexto, o devedor poderia pagar fisicamente por seus débitos. Assim narra Abelha:

Houve determinada época em que a garantia do adimplemento obrigacional era feita com a própria vida do devedor. Considerando o caráter personalíssimo da obrigação resultante do “vinculo jurídico” de união obrigacional, caso esta não fosse cumprida, o pagamento era feito com o próprio corpo do devedor. Em outras palavras, pode-se dizer que a proteção do direito de propriedade do devedor sobre os seus bens era mais sagrado que a própria vida ofertada como forma de pagamento da dívida inadimplida.7

Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, adotou-se uma visão mais humanizada, seguindo a tendência do direito moderno, sob influência da Lex Poetelia Papiria, fugindo do modelo Romano clássico. Dessa forma, por exemplo, a prisão por dívida foi expressamente proibida, conforme dispõe em seu art. 5º, inciso LXVII:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; [...].8

Cabe destacar que a prisão do depositário infiel também não é mais permitida no ordenamento jurídico brasileiro, conforme entendimento consolidado na Súmula Vinculante nº 25 do Supremo Tribunal Federal9, por influência da jurisprudência oriunda da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Portanto, salvo a prisão por descumprimento injustificado de obrigação alimentícia, não existe a possibilidade de prisão civil por dívida no Brasil, e mesmo essa tem caráter coercitivo e não punitivo. O prestador de alimentos que é preso por falta de pagamento, tão logo pague a dívida, deve ser liberado. A intenção é forçar o pagamento da prestação e não punir o devedor por não tê-lo feito. Outra indicação é que o próprio inciso

7 ABELHA, Marcelo. Manual de execução civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. p. 67. 8 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 20 set. 2014.

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LXVII, do art. 5º, da Magna Carta, fala em “inadimplemento voluntário e inescusável”, portanto, se houver justo motivo para o inadimplemento, a prisão não deve ocorrer.

Dessa forma, pode-se concluir que, na atual Constituição brasileira, não é permitido qualquer tipo de punição física ao devedor. Somente os bens do executado e de terceiros responsáveis poderão ser atingidos para satisfação dos débitos em execução e, como será apresentado posteriormente, não é qualquer bem que poderá ser afetado para tal fim.

O CPC sofreu duas grandes reformas nos capítulos destinados ao Procedimento de Execução de Títulos Judiciais e Extrajudiciais, que foram instrumentalizadas através da Lei nº 11.232/2005, que realizou uma profunda reformulação da execução de títulos judiciais e acabou com a ação de execução de sentenças, e da Lei nº 11.382/2006, que prosseguiu na mudança de alguns dispositivos do CPC, agora da execução de título extrajudicial.

Theodoro Júnior entende que o CPC, da forma em que se apresenta atualmente, após as importantes reformas promovidas em seu texto, prevê duas vias de execução forçada singular: a primeira, o cumprimento forçado das sentenças condenatórias, e outras a que a lei atribui igual força, prevista nos arts. 475-I e 475-N; e a segunda, o processo de execução dos títulos extrajudiciais enumerados no art. 585, que se sujeita aos diversos procedimentos do Livro II do mesmo código. Existe, também, a previsão de execução coletiva ou concursal, para os casos de devedor insolvente.10

Cumpre agora explanar de forma breve sobre os instrumentos que viabilizam as vias de execução: os títulos executivos.

2.2Os títulos executivos

Existem algumas regras que estruturam o procedimento executivo brasileiro, uma delas é bastante fundamental: não há execução sem título, do latim, nulla executio sine titulo. Ou seja, não existe a possibilidade de se iniciar um processo de execução sem que haja um título executivo judicial ou extrajudicial. Dessa forma, a execução depende da existência de um título executivo.

Portanto, a existência do título na deflagração da prestação da atividade jurisdicional é muito importante para que esta ocorra de forma adequada, mais que isso, é condição sine qua non para que sobrevenha a viabilização desse tipo de tutela. Nessa linha, o título executivo, que deve ser líquido, certo e exigível, é uma espécie de garantia do sistema e

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das partes contra execuções injustas ou inadequadas.11 Nesse mesmo sentido, Didier Jr. et al. assevera que:

O procedimento executivo somente pode ser instaurado se houver um documento a que a lei atribua a eficácia executiva, o título executivo. Não há execução sem título executivo. A exigência de título executivo aplica-se tanto à execução provisória quanto à definitiva. [...] O título executivo é a prova mínima e suficiente de que deve valer-se o exequente para a instauração da atividade executiva.12

Dinamarco define título executivo como “um ato ou fato jurídico indicado em lei como portador do efeito de tornar adequada a tutela executiva em relação ao preciso direito a que se refere”.13 Nessa mesma linha, Montenegro Filho afirma que o título executivo abrange:

[...] um aspecto documental e a conotação de ato ou de fato de especial importância para a ciência jurídica, de modo que todo e qualquer título tem o seu aspecto substancial, atado ao acontecimento jurídico que deu ensejo à sua formação, e formal, dizendo respeito ao modo exterior da sua apresentação. [...] Temos, assim, que o título executivo – seja judicial ou extrajudicial – reclama uma solenidade documental para que seja qualificado como tal. Mas sua apresentação, por si só, é insuficiente para atribuir-lhe a condição de título executivo. Para que isto ocorra, deve exprimir a ocorrência de um ato ou fato jurídico de relevância para o mundo do direito, enquadrando-se em uma das situações contempladas na lei como predeterminadas a autorizar a intervenção do Estado na definitiva solução do conflito de interesses gerado pela injustificada inadimplência do devedor.14

É salutar destacar um importante princípio a que se submetem os títulos executivos: a taxatividade. Os títulos serão classificados como executivos se estiverem em um rol determinado em lei. Ou seja, não é o tipo de obrigação ou a natureza desta que determina se o título será ou não executivo. Essa classificação ocorre por determinação legal expressa. Em outras palavras, não há título sem lei que o preveja (nullus titulus sine legis).15

No sistema brasileiro, a exemplo do que ocorre no direito português e no italiano, e contrariamente ao que existe no Direito alemão, não é possível que as partes criem título executivo não previsto em lei. Não há, enfim, título executivo por mera deliberação das partes, de sorte que é tida como ineficaz, devendo ser desconsiderada, eventual cláusula executiva (ou pactum executivum), que permitiria a execução por deliberação das partes. [...] Assim, apenas a lei pode criar título

11 ABELHA, 2009, p. 112.

12 DIDIER JR. et al., 2014, p. 60. 13 DINAMARCO, 2009, p. 207.

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executivo, de maneira que os títulos são tão-somente aqueles que integram um rol taxativo previsto em lei. Eis o que se chama princípio da taxatividade16.

Além disso, conforme dispõe o art. 580 do CPC: “A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo”. 17 Portanto, o título executivo deve apresentar três características: certeza, liquidez e exigibilidade. A ausência de qualquer uma delas inviabilizará o procedimento executório. O título é certo quando não há qualquer dúvida sobre a sua existência, líquido quando expressa a determinação do objeto da obrigação e exigível quando dele pode-se identificar seu vencimento ou termo, outorgando atualidade ao crédito. Nesse sentido, leciona Didier Jr. et al.:

Em primeiro lugar, deve haver certeza da obrigação. A certeza constitui o pré-requisito dos demais atributos, significando dizer que só há liquidez e exigibilidade, se houver certeza. A obrigação representada no título pode ser certa, mas ilíquida e inexigível; não pode, contudo, ser incerta, mas líquida e exigível. Diz-se que há certeza quando do título Diz-se infere a existência da obrigação. [...] Além da certeza, deve haver também a liquidez e a exigibilidade. A liquidez pressupõe a certeza. A certeza diz respeito à existência da obrigação, enquanto a liquidez refere-se à determinação de seu objeto. Vale dizer que, para que haja liquidez, é preciso que a obrigação exista e tenha objeto determinado. [...] Ao lado da certeza e liquidez, cumpre que haja, ainda, a exigibilidade. Para que haja exigibilidade, é preciso que exista o direito à prestação (certeza da obrigação) e que o dever de cumpri-la seja atual. Não estando sujeita a termo ou condição suspensiva, a obrigação é exigível. Se, contudo, a prestação há de ser paga no futuro, enquanto não sobrevém o término do prazo ou a implementação da condição não se configura, ainda, a exigibilidade.18

O título executivo é gênero que apresenta duas espécies: os títulos executivos judiciais que estão previstos no art. 475-N, do CPC, e os títulos executivos extrajudiciais elencados no art. 585 do mesmo dispositivo legal. Cabe analisar cada uma dessas espécies detalhadamente.

16 DIDIER JR. et al., 2014, p. 151.

17 BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da

União, Brasília, DF, 17 jan. 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada. htm>. Acesso em: 20 set. 2014.

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2.2.1 Título executivo judicial

Os títulos executivos judiciais são apresentados no CPC no rol do art. 475-N. Esse rol contém decisões judiciais que permitem a instauração da atividade executiva do Estado, conforme se observa na fiel transcrição do artigo:

Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:

I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo;

IV – a sentença arbitral;

V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.

Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso.19

Cumpre falar rapidamente de cada um dos títulos executivos judiciais elencados no supramencionado artigo.

No primeiro inciso, a palavra “sentença” deve ser empregada de modo a designar todo e qualquer provimento judicial que imponha ao sucumbente a obrigação de dar, fazer ou não fazer.20

No segundo inciso, está a sentença penal condenatória transitada em julgado, isso porque o art. 91 do Código Penal (Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940)21 cria um efeito secundário da sentença penal condenatória que, além da condenação penal, gera uma obrigação extrapenal de reparar os danos causados pelo crime. É em decorrência deste

19 BRASIL, 1973.

20 ABELHA, 2009, p. 127.

21Art. 91 São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:

a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;

b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso

§1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.

§2º Na hipótese do § 1º, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou

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dispositivo que o segundo inciso do art. 475-N surge, como forma de instrumentalizar tal reparação.

As decisões que homologarem conciliação ou composição, ainda que versem sobre matéria não posta em juízo, também são títulos executivos judiciais, de acordo com o inciso III, do art. 475-N, do CPC. Aqui, cumpre destacar que:

[...] não é qualquer sentença do tipo enunciado no dispositivo que dá azo à formação de título executivo judicial, mas apenas aquelas que encerram o conflito criando ou reconhecendo uma prestação devida. É justamente do inadimplemento da autocomposição homologada que nasce a pretensão executiva.22

A sentença arbitral também é considerada título executivo judicial (art. 475-N, inciso IV, do CPC). Em geral, essa execução é precedida de liquidação que ocorre em processo autônomo. Caso seja precedida de liquidação, a execução de sentença arbitral observará as regras do cumprimento de sentença. Ocorre que, em alguns casos, não há necessidade de liquidação, sendo assim, a execução da sentença arbitral se dará em processo autônomo de execução, nos termos do parágrafo único do art. 475-N.

O inciso V foi alterado pela Lei nº 11.232/2005, que acrescentou ao rol de títulos executivos judicias o acordo extrajudicial homologado judicialmente.

Após a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), de acordo com o que determina o art. 105, inciso I, alínea l, da Constituição Federal23, a sentença estrangeira também é título executivo judicial, na inteligência do inciso VI, do art. 475-N, do CPC. Confirmada a homologação, esse título deve ser executado perante a Justiça Federal, em atenção ao inciso X, do art. 109, da Magna Carta24.

Por fim, o inciso VII, do art. 475-N, do CPC, determina que o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal, constituí título executivo judicial.

22 ABELHA, 2009, p. 131.

23“Art. 105 Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: [...]

l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; [...].”

(BRASIL, 1988).

24“Art. 109 Aos juízes federais compete processar e julgar: [...]

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o

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2.2.2 Título executivo extrajudicial

Os títulos executivos judiciais, conforme observado anteriormente, são precedidos de uma resolução judicial que reconheça o dever de prestar do vencido.25 Já os títulos executivos extrajudiciais, que não tem antecedência judicial, não necessitam de prévia resolução para serem constituídos.

O rol dos títulos executivos extrajudiciais está elencado no art. 585 do CPC:

Art. 585 - São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;

III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;

IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial; VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;

VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.26

O primeiro inciso do artigo supracitado fala sobre cheque, nota promissória, letra de câmbio e duplicata de debênture, todos eles têm em comum o fato de terem natureza de títulos de crédito. No entanto, cumpre lembrar que, pelo princípio da taxatividade, apenas esses títulos de crédito são títulos executivos extrajudiciais, por serem expressamente mencionados no dispositivo legal. Os demais títulos de crédito não possuem essa característica.

No segundo inciso estão a escritura pública, ou outro documento público assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados transatores.

Já em seu terceiro inciso, o art. 585 aponta os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, além do seguro de vida, como títulos executivos extrajudiciais. Esses títulos tem como semelhança o fato de serem constituídos por via particular e

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contratual, além de não precisarem cumprir as formalidades exigidas no inciso II do mesmo artigo.

O crédito decorrente de foro e laudêmio, definidos nos artigos 678 e 686, respectivamente, do Código Civil de 1916 (Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916)27, não foram mantidos pelo Código Civil vigente (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002), conforme art. 2.03828. No entanto, os créditos ainda existentes são considerados pelo art. 585, inciso IV, títulos executivos extrajudiciais.

Crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio estão elencados no inciso V do referido artigo.

Além dele, o inciso VI menciona o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, nos casos em que as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por meio de decisão judicial. O art. 139 do CPC29 diferencia os auxiliares de justiça entre os que possuem vínculos permanentes (funcionários públicos) e os que possuem vínculo eventual (de função episódica, como peritos, intérpretes, tradutores etc.).30 Foi para o segundo grupo que o legislador criou a presente regra. No entanto, esse dispositivo possui pouca aplicação prática, pois, em regra, esses profissionais são remunerados previamente por sua função no processo.

27“Art. 678. Dá-se a Enfiteuse, aforamento, ou emprazamento, quando por ato entre vivos, ou de última vontade, o proprietário atribui a outrem o domínio útil do imóvel, pagando a pessoa, que o adquire, e assim se constitui enfiteuta, ao senhorio direto uma pensão, ou foro, anual, certo e invariável. [...]

Art. 686. Sempre que se realizar a transferência do domínio útil, por venda ou dação em pagamento, o senhorio direto, que não usar da opção, terá direito de receber do alienante o laudêmio, que será de 2,5% (dois e meio por

cento) sobre o preço da alienação, se outro não se tiver fixado no título de aforamento.” (BRASIL. Lei nº 3.071,

de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 5 jan. 1916. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l3071.htm>. Acesso em: 20 set. 2014).

28“Art. 2.038. Fica proibida a constituição de enfiteuses e subenfiteuses, subordinando-se as existentes, até sua extinção, às disposições do Código Civil anterior, Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, e leis posteriores. § 1º Nos aforamentos a que se refere este artigo é defeso:

I - cobrar laudêmio ou prestação análoga nas transmissões de bem aforado, sobre o valor das construções ou plantações;

II - constituir subenfiteuse.

§ 2º A enfiteuse dos terrenos de marinha e acrescidos regula-se por lei especial.” (BRASIL. Lei nº 10.406, de 10

de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm#art2045>. Acesso em: 20 set. 2014).

29 “Art. 139. São auxiliares do juízo, além de outros, cujas atribuições são determinadas pelas normas de

organização judiciária, o escrivão, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador e o intérprete.”

(BRASIL, 1973).

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Didier Jr. et al. afirmam que “trata-se de tipo legal aberto, pois, conquanto o dispositivo refira-se a serventuário da justiça, perito, intérprete e tradutor, também será título executivo extrajudicial a decisão que aprove a remuneração do porteiro e do leiloeiro”.31

O inciso VII, do referido artigo, autoriza a execução baseada em certidão de dívida ativa da Fazenda Pública. “A dívida ativa da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal e de suas autarquias e fundações é constituída por qualquer valor definido como de natureza tributária ou não tributária pela Lei Federal nº 4.320/1964”.32 Essa autorização compreende o principal, a atualização monetária, os juros, a multa de mora e os demais encargos previstos em lei ou em contrato.

Por fim, o art. 585, em seu inciso VIII, determina que, além dos títulos executivos extrajudiciais descriminados nos incisos anteriores, outros previstos em leis extravagantes também serão executáveis. Pode-se citar, como exemplo, o compromisso de ajustamento de conduta, previsto no art. 5º, § 6º, da Lei nº 7.347/198533, decisão dos Tribunais de Contas previsto no art. 71, § 3º, da Constituição Federal34, entre outros.

2.3Princípios que norteiam a tutela jurisdicional executiva

Em uma sociedade em constante evolução, apenas a lei não é capaz de fomentar respostas a todas as necessidades e conflitos. Impossível que o legislador seja capaz de prever todas as possíveis situações, pelo que, o apelo aos princípios na resolução dos conflitos sociais é constantemente utilizado quando dos julgamentos judiciais. A função essencial dos princípios é exatamente esta: abrir campo para que o intérprete judicial possa incluir todas as ocorrências e acompanhar a transformação da sociedade, bem como dos novos valores.

Princípio é espécie normativa. É diretriz, base, fonte criteriosa de inspiração às normas positivadas.

31 DIDIER JR. et al., 2013, p. 197. 32 DIDIER JR. et al., 2013, p. 197.

33“Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: [...]

§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.”

(BRASIL. Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 jul. 1985. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7347Compilada.htm>. Acesso em: 20 set. 2014). 34“Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: [...]

§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo.”

(24)

Diniz conceitua princípio como sendo “[...] uma fonte, uma causa de ação, que Aristóteles definia como freio dos fenômenos sociais repreensíveis, situando-se não só no mundo ideal dos valores mais também no real, onde surgem as consequências”.35

De tão importantes e fundamentais, os princípios ganharam um lugar de destaque no Projeto de Lei de nº 8.046, de 2010, do novo CPC, que reservou um capítulo específico no Livro I para os princípios e garantias fundamentais:

Boa parte dos princípios previstos no projeto já se encontram devidamente positivados na Constituição Federal. Qual a razão então para que se prevejam tais princípios também no corpo do código processual, que é norma infraconstitucional? A nosso ver, trata-se de um alerta do legislador para a importância da observância e efetivação em grau máximo dos princípios processuais no modelo cooperativo de processo.36

Das cláusulas gerais do devido processo legal, art. 5º, inciso LIV, da Constituição Federal37 e da dignidade da pessoa humana, art. 1°, inciso III, do mesmo dispositivo38, derivam basicamente todos os princípios processuais, inclusive os que norteiam a execução.

Cada doutrinador trabalha com classificações diferentes. No entanto, todos convergem basicamente para os mesmos princípios. Alguns desses, mais recorrentes e importantes, que se repetem nas melhores doutrinas, serão estudados pormenorizadamente no presente trabalho. São eles: o princípio da efetividade, princípio da boa-fé processual, princípio da responsabilidade patrimonial, princípio da menor onerosidade da execução e princípio da proporcionalidade.

2.3.1 Princípio da efetividade

O princípio da efetividade da execução pode ser extraído da cláusula geral do devido processo legal, que é direito fundamental garantido no art. 5º da Magna Carta.

Os direitos devem ser reconhecidos e efetivados. Processo devido é processo efetivo.39 Esse princípio deve garantir o direito fundamental à tutela executiva. Nas palavras

35 DINIZ, Maria Helena. As lacunas no Direito. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 212.

36 CASTELO BRANCO, Janaina Soares Noleto. Reflexões sobre os princípios e garantias fundamentais no projeto do futuro CPC. In: VIANA, Juvêncio Vasconcelos; MAIA, Gretha Leite; AGUIAR, Ana Cecília Bezerra de. (orgs.). O projeto do futuro CP: tendências e desafios de efetivação. Curitiba: CRV, 2013. p. 16.

37“Art. 5º. [...]: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; [...]” (BRASIL, 1988).

38“Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]III - a dignidade

da pessoa humana; [...].” (BRASIL, 1988).

(25)

de Guerra, a efetividade consiste “na exigência de um sistema completo de tutela executiva, no qual existam meios executivos capazes de proporcionar pronta e integral satisfação a qualquer direito merecedor de tutela executiva”.40

Em resumo, o princípio da efetividade da execução é meio para a garantia de uma tutela jurisdicional que alcance seus objetivos de forma a satisfazer as corretas pretensões do credor, que lança mão desse procedimento como instrumento meio para a satisfação de seu crédito.

Partir da premissa de que existe um direito fundamental à tutela executiva é indispensável para a solução de diversos problemas oriundos do procedimento executivo, principalmente daqueles relacionados à aplicação das regras de proteção do executado, com as hipóteses de impenhorabilidade [...].41

Portanto, é fundamental para a correta condução do presente trabalho, que se parta da premissa que existe um direito fundamental à tutela executiva, como ocorre de fato, dessa forma, será mais fácil encontrar solução para as diversas questões que envolvem a inefetividade da execução, principalmente aquelas que esbarram na aplicação das regras de proteção ao executado.

2.3.2 Princípio da boa-fé

O princípio da boa-fé é cláusula geral do direito, seja ele qual for: penal, civil, trabalhista, administrativo ou constitucional.

Tratando do Processo Civil, especificamente, pode extrair-se do art. 14, inciso II, do CPC42, que tal princípio não se refere à boa-fé como a boa intenção das partes, não diz respeito à boa-fé subjetiva. A mencionada boa-fé é objetiva, ou seja, trata-se de uma norma que conduz os atos em conformidade com a boa-fé objetivamente considerada, independente de boas ou más intenções das partes. Já os arts. 600 e 601, do CPC43, falam sobre boa-fé no procedimento executivo.

40Apud DIDIER JR., 2012, p. 102. 41 DIDIER JR. et al., 2014, p. 46.

42“Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: [...] II - proceder com lealdade e boa-fé; [...].” (BRASIL, 1973).

43“Art. 600. Considera-se atentatório à dignidade da Justiça o ato do executado que: (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).

I - frauda a execução; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

(26)

Sobre esse assunto, Didier Jr.:

O princípio da boa-fé extrai-se de uma cláusula geral processual. A opção por uma cláusula geral de boa-fé é a mais correta. É que a infinidade de situações que podem surgir ao longo do processo torna pouco eficaz qualquer enumeração legal exaustiva das hipóteses de comportamento desleal. Daí ser correta a opção da legislação brasileira por uma norma geral que impõe o comportamento de acordo com a boa-fé. Em verdade, não seria necessária qualquer enumeração das condutas desleais: o inciso II do art. 14 do CPC é bastante, exatamente por tratar-se de uma cláusula geral.44

Apresenta-se, portanto, a diferença entre o princípio da boa-fé objetiva, norma de conduta, e a boa-fé subjetiva, elemento de suporte fático de alguns fatos jurídicos. Ou seja, não existe princípio da boa-fé subjetiva.45

No entanto, mesmo tratando-se de uma cláusula geral, existem regras específicas de proteção à boa-fé, é o caso das normas sobre litigância de má-fé. Podem ser citados como exemplos, além dos já mencionados arts. 600 e 601, os arts. 17, 18, 739, inciso III, e 740, parágrafo único, todos do CPC. Esses artigos descrevem condutas e até estabelecem multas para quem as pratica, entre outros. Tudo com o fim de coibir tais comportamentos.

Importa salientar, ainda, que o princípio da boa-fé processual diz espeito a todos os participantes envolvidos no processo, incluindo, além das partes, o órgão jurisdicional. Além disso, o princípio da boa-fé propõe uma colaboração entre as partes.

2.3.3 Princípio da responsabilidade patrimonial ou da realidade

De acordo com o princípio da responsabilidade ou princípio da realidade, como alguns doutrinadores nomeiam, a execução é real. Ou seja, somente o patrimônio do próprio devedor ou de terceiro responsável poderá ser utilizado para a satisfação de crédito na atividade executiva. Este princípio está assentado no art. 591, do CPC, in verbis: “O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”46.

IV - intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).

Art. 601. Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa fixada pelo juiz, em montante não superior a 20% (vinte por cento) do valor atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material, multa essa que reverterá em proveito do credor, exigível na própria execução.(Redação dada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994).” (BRASIL, 1973).

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Antigamente, além da restrição patrimonial, o devedor poderia pagar fisicamente por suas dívidas. Esse princípio veio garantir que apenas o patrimônio do devedor fosse afetado em execução.

O movimento de humanização do direito trouxe esse princípio para execução e, com ele, restrições sobre o próprio patrimônio do devedor que poderia ser afetado, a chamada impenhorabilidade.

Esse princípio interage com o “Princípio do respeito à dignidade humana”47, devendo prevalecer o entendimento de que a execução não pode levar o executado à ruína ou a uma situação incompatível com a dignidade humana.

Portanto, a execução se mostra frustrada quando não há qualquer bem sobre o qual o Estado possa exercer a tutela executiva, vetando que os bens considerados impenhoráveis sejam atingidos, garantindo a dignidade do devedor e o mínimo necessário à sua sobrevivência.

2.3.4 Princípio da menor onerosidade na execução

A execução não pode ser entendida como um instrumento de vingança privada ou de punição pelo inadimplemento do devedor, portanto, de forma alguma, este pode sofrer mais que o necessário à satisfação do crédito exequente. O princípio da menor onerosidade na execução, que está consagrado no art. 620, do CPC, determina que “Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor”.48 Nas palavras de Abelha:

Este princípio – sim, é um princípio – previsto no art. 620 do CPC, é voltado francamente à proteção do executado, e, não obstante seu campo de incidência exigir sua análise de ofício pelo magistrado ao longo de toda a execução civil, é claro que o devedor poderá invocá-lo sempre que a execução civil estiver sendo realizada por meio mais gravoso ao executado, isto é, por meio dispensável ou que ultrapasse os limites do disponível.49

Demonstra-se, então, que o referido dispositivo representa uma garantia de que, entre todas as formas possíveis pelas quais a execução poderá ser conduzida, com o natural sacrifício do devedor, esta ocorrerá através da forma menos gravosa.

47 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 45. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. v. 2. p. 125.

(28)

A instrumentalização desse princípio se dá de várias formas no processo de execução. Pode-se citar, como exemplo, o art. 692, do CPC50, que proíbe que o bem do executado seja alienado em hasta pública por preço vil. Outro exemplo é a regra do art. 594 do mesmo dispositivo legal que determina que: “O credor que estiver, por direito de retenção, na posse de coisa pertencente ao devedor, não poderá promover a execução sobre outros bens senão depois de excutida a coisa que se achar em seu poder51”.

No entanto, cabe salientar que o estrito respeito ao princípio da menor onerosidade, não pode significar o sacrifício da efetividade da tutela executiva, por se tratarem de princípios conflitantes eles devem ser sopesados para que ambos sejam aplicados de maneira equilibrada. Pois, conforme já mencionado anteriormente, de qualquer maneira em execução haverá sacrifício do devedor, visto a necessária afetação de seu patrimônio para a satisfação do débito.

2.3.5 Princípio da proporcionalidade

Esse princípio é o grande instrumento utilizado para a viabilização do presente trabalho. É cada vez mais comum sua aplicação na resolução de questões que trazem conflitos em que os direitos fundamentais das partes entram em choque. Assim, da mesma forma que é bastante utilizado no processo civil como um todo, em Execução este princípio é de fundamental importância.

Como será explicado posteriormente, grande parte da doutrina e da jurisprudência, que vem mudando seu entendimento em relação ao tema do presente trabalho, faz menção a esse princípio. A possibilidade da relativização da impenhorabilidade dos rendimentos de natureza alimentar do art. 649, inciso IV, do CPC52, é instrumentalizada através dele.

Depreende-se, então, que o princípio da proporcionalidade se impõe como instrumento de resolução de conflitos aparentes entre princípios.

Diante de tantos princípios que são aparentemente conflitantes, posteriormente será comprovado que não há um conflito real e sim aparente, como é o caso do princípio da

50“Art. 692. Não será aceito lanço que, em segunda praça ou leilão, ofereça preço vil.

Parágrafo único - Será suspensa a arrematação logo que o produto da alienação dos bens bastar para o

pagamento do credor.” (BRASIL, 1973).

51 BRASIL, 1973.

52“Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: [...]

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste

(29)

efetividade e princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio da proporcionalidade vem sendo muito utilizado em execução para fundamentar um meio termo.

Portanto, sempre que estiver diante de interesses conflitantes em que não exista dispositivo de legislação para solução do problema, caberá ao juiz utilizar a proporcionalidade para que os interesses sejam analisados e ocorra a resolução do conflito com o menor prejuízo possível para as partes.

Ser proporcional é ser regular, adequado, harmonioso, razoável, coerente, equilibrado. Este princípio deverá nortear a busca da melhor solução, da maneira mais equânime, harmonizando a colisão de direitos, na tentativa de atender, no mínimo possível, a esfera legal de cada parte.

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3RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

No Código de Processo Civil, a responsabilidade patrimonial está inserida no Livro II, Título I (“Execução em Geral”), Capítulo IV. Com isso, o legislador deixou claro que a responsabilidade patrimonial é um dos institutos fundamentais da execução. No entanto, duas observações importantes devem ser feitas: a primeira é que, mesmo estando prevista na execução, esse mecanismo opera em outros casos no CPC. A segunda é que, mesmo pertencendo à tutela executiva, a obrigação patrimonial só será utilizada para o adimplemento, se não for possível a obtenção da tutela específica, como, por exemplo, no caso de uma obrigação de fazer que se resolve em perdas e danos.53

O art. 591 do CPC apresenta a regra da responsabilidade patrimonial em que o “devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros”54. Utilizando outros termos, o patrimônio do devedor é garantia comum de seus credores. Esta regra dá suporte ao Estado para adentrar no patrimônio do devedor inadimplente e retirar os bens necessários à satisfação da execução. Vale colacionar, também, o art. 592 do CPC:

Art. 592 - Ficam sujeitos à execução os bens:

I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória;

II - do sócio, nos termos da lei;

III - do devedor, quando em poder de terceiros;

IV - do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem pela dívida;

V - alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução.55

Observando o conteúdo dos artigos supramencionados, percebe-se que os bens atingidos em execução podem ser de outros indivíduos que não os próprios devedores. A regra geral determina que o patrimônio do devedor seja afetado, no entanto, haverá casos em que a lei autorizará que patrimônio de terceiro seja utilizado.

Portanto, a responsabilidade patrimonial pode ser conceituada como o estado de sujeição do patrimônio do devedor, ou de terceiro responsável, aos poderes executivos voltados para a satisfação da obrigação devida. Em outras palavras, responsabilidade patrimonial é a possibilidade de sujeição de determinado patrimônio à satisfação do direito substancial do credor.

53 ABELHA, 2009, p. 71.

(31)

Nesse diapasão, a doutrina classifica a responsabilidade patrimonial em primária e secundária56. A responsabilidade patrimonial primária é aquela que recai sobre os bens do próprio devedor. Na responsabilidade secundária, a obrigação recai sobre bem de terceiro não obrigado.

A responsabilidade patrimonial primária está prevista nas hipóteses dos art. 591 e 592, incisos I, III e V, ambos do CPC. A responsabilidade secundária tem suas hipóteses apontadas no art. 592, incisos II e IV, do mesmo diploma. Convém ressaltar que a responsabilidade secundária não exclui a responsabilidade primária, caso aquela ocorra.

Em sua problemática, a responsabilidade patrimonial se preocupa em responder quais bens são suscetíveis de serem apreendidos, entregues, penhorados, adjudicados, alienados em hasta pública, independente da vontade do titular, com objetivo de produzir o mesmo resultado econômico e prático que o cumprimento da obrigação voluntariamente teria produzido.57 Ou seja, quais bens o Estado pode alcançar exercendo a tutela executiva. Nas palavras de Dinamarco:

Essa é a fórmula básica da responsabilidade patrimonial, ou responsabilidade executiva, que se conceitua como a suscetibilidade de um bem ou de todo o patrimônio suportar os efeitos da sanção executiva: sabido que a execução por sub-rogação é uma sanção ou conjunto de medidas destinadas a atuar sobre bens integrantes de um patrimônio, responsabilidade é um estado de potencial a ela, ou seja, é sujeitabilidade à sanção. A imposição de medidas imperativas sobre o bem, que são as sanções inerentes à execução forçada, depende de esse bem ser responsável, isto é, depende de ele ser parte de um patrimônio apto a fornecer meios à execução; não se apreendem, não se penhoram, não se expropriam bens que não o sejam.58 (Grifou-se)

Surge, então, a preocupação de determinar a massa de bens, do devedor e do terceiro responsável, sujeitos à execução.

3.1 Da (im)penhorabilidade dos bens

Nesse ponto do presente trabalho, apresenta-se a instrumentalização de alguns dos princípios, anteriormente estudados, de proteção ao devedor, como o princípio da menor onerosidade e a cláusula geral da dignidade da pessoa humana. É em respeito a esses princípios que o legislador criou as inúmeras regas de proteção patrimonial, optando pela

56 DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria.

Curso de direito processual civil. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2010. v. 5. p. 255. 57 DINAMARCO, 2009, p. 354.

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proteção da dignidade do devedor e mitigando a efetividade da execução e a satisfação do credor.

Conforme mencionado anteriormente, pela inteligência do art. 591 do CPC, o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para a satisfação de suas obrigações. Ocorre que, ao contrário do que induz a leitura fiel do supramencionado artigo, nem todos os bens do devedor respondem pela execução. Alguns deles não podem ser penhorados.

Impenhorabilidade é o nome que se dá à restrição de penhora que a lei estabeleceu para certos bens, com o fim de evitar que a execução levasse o devedor a um estado de penúria.

A penhora é o ato através do qual certo bem será apreendido e, posteriormente, colocado em depósito, para ser empregado de forma direta ou indireta na satisfação do crédito. Em outros termos, tem-se que:

A penhora satisfaz diretamente a pretensão do exequente, quando o bem penhorado for por ele adjudicado como pagamento da dívida; satisfaz indiretamente, quando o bem penhorado for alienado, e o produto da venda for entregue ao exequente.59 De acordo com a classificação estabelecida por Assis, a impenhorabilidade pode ser dividida em duas, observando o conteúdo dos arts. 649 e 650 do CPC, a saber: impenhorabilidade material absoluta e impenhorabilidade material relativa. Nesses termos:

Objetivamente, na leitura dos arts. 649 e 650 se identificam duas classes: existem bens que jamais admitem a constrição, constituindo o grupo da impenhorabilidade absoluta (v.g., o seguro de vida, art. 649, VI); e há bens que, preenchidos alguns requisitos, voltam à regra da penhorabilidade, a exemplo da retribuição pecuniária do trabalho humano, penhorável na execução do crédito alimentar (art. 649, IV e § 2º, na redação da Lei 11.382/2006), formando o grupo mais numeroso da impenhorabilidade relativa.60

Os artigos 649 e 650 do CPC assim dispõem:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

(33)

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor;

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por

liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo;

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;

VI - o seguro de vida;

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas;

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança.

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político.

§ 1º A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem.

§ 2º O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de penhora para pagamento de prestação alimentícia.

Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia.61

Conforme aduz Dinamarco, impenhorabilidade absoluta significa que o bem não pode ser levado à execução em hipótese alguma, competindo ao juiz o dever de impedir a penhora e subsequente expropriação do bem, a requerimento da parte ou de ofício. Já a impenhorabilidade relativa, nas palavras do doutrinador, consiste em condicionar a concreta responsabilidade patrimonial de um bem à extrema necessidade decorrente da inexistência de outros livremente penhoráveis.62

Existe, ainda, a impenhorabilidade trazida pela Lei nº 8.009 de 29 de março de 199063, do chamado bem de família, que em seu primeiro artigo declara impenhorável o “imóvel residencial próprio do casal ou da entidade familiar”. O legislador declara ainda que “a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados” são impenhoráveis. É importante ressaltar que a referida Lei inclui tanto residências urbanas, quanto residências rurais.

No entanto, mesmo para o legislador, existem exceções para essa regra, como é o caso da penhorabilidade dos rendimentos da poupança acima de 40 salários mínimos, art. 649,

61 BRASIL, 1973.

62 DINAMARCO, 2009, p. 381.

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inciso X, do CPC64, e a penhorabilidade das figuras do inciso IV em caso de prestação de alimentos, § 2º, do art. 64965, que será debatida posteriormente. Essas exceções demonstram que o legislador, mesmo optado pela proteção ao devedor, enxerga um limite no qual haverá maior prejuízo para o credor que para o devedor, caso a impenhorabilidade fosse mantida.

3.2A (im)penhorabilidade dos rendimentos de natureza alimentar

Nesse momento, cabe analisar com maior cautela o inciso IV, do art. 649, do CPC, objeto do presente trabalho, que elenca os rendimentos de natureza alimentar. O mencionado artigo teve sua redação modificada pela Lei nº 11.382/2006, que ampliou sua abrangência, observe-se:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: [...]

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo;66

É possível aduzir a montagem que o legislador fez nesse inciso. Existem doze figuras de impenhorabilidades, de gêneros e espécies diferentes. Visualizando uma dificuldade de classificação dessas figuras, a doutrina convencionou chama-los de rendimentos de natureza alimentar, por entender que esta é uma característica comum a todas elas.

De acordo com Dinamarco, “é lícito enxergar algo comum a todas essas doze hipóteses de impenhorabilidades contidas no inc. IV que será a destinação de todas essas verbas ao sustento da pessoa e da família – ou seja, uma natureza alimentar”.67 Nesse mesmo sentido, Abelha:

É interessante registrar que, nesse dispositivo – também com vistas à proteção da dignidade da pessoa -, o legislador procurou referir-se a todos os tipos de remuneração que se destinem ao caráter alimentar.

Assim, os subsídios, os proventos de aposentadoria, pensões, montepios, etc. e até mesmo as aplicações financeiras que se refiram à verba alimentar e se destinem ao sustento do executado e sua família, especialmente para aqueles que já as recebe em

64 BRASIL, 1973. 65 BRASIL, 1973. 66 BRASIL, 1973.

Referências

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