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COLÉGIO SÃO LUÍS ENSINO MÉDIO CURSO DE METODOLOGIA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA NINA SILVEIRA PILLON

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COLÉGIO SÃO LUÍS

ENSINO MÉDIO

CURSO DE METODOLOGIA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA

NINA SILVEIRA PILLON

Como os grandes empreendimentos imobiliários estão afetando a memória arquitetônica das vilas operárias de Pinheiros?

São Paulo 2021

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NINA SILVEIRA PILLON

Como os grandes empreendimentos imobiliários estão afetando a memória arquitetônica das vilas operárias de Pinheiros?

Artigo apresentado como requisito de aprovação em “Metodologia de Iniciação Científica”, na 2ª série do EM do Colégio São Luís.

Orientador: Prof. Evandro César dos Santos

São Paulo 2021

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Sumário

RESUMO ... 4

ABSTRACT ... 4

1 INTRODUÇÃO ... 5

1.1 TEMA E REFERENCIAL TEÓRICO ... 6

1.2 OBJETO ... 8

2 CONTEXTO HISTÓRICO ... 10

2.1 CONSTITUIÇÃO DO BAIRRO ... 10

2.2 CONSTITUIÇÃO DAS CASAS ... 12

3 CARACTERÍSTICAS ARQUITETÔNICAS ... 13

4 VIVÊNCIA NO BAIRRO ... 14

5 A DESCARACTERIZAÇÃO... 16

6 MOVIMENTOS SOCIAIS ... 17

8 CONCLUSÃO... 23

9 TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS ... 24

9.1 vERONICA BYLIK ... 24

9.2 HEINRICH WAACK ... 28

10 BIBLIOGRAFIA ... 30

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RESUMO

A especulação imobiliária e a verticalização da cidade são processos socioeconômicos urbanos que alteram, de diversas formas, a dinâmica dos locais, podendo ser facilmente percebidos em múltiplos bairros da cidade de São Paulo, pelas constantes mudanças estruturais que vêm ocorrendo. Os grandes empreendimentos imobiliários são os principais agentes promotores de tais fenômenos, portanto o objetivo central do trabalho é, por meio de entrevistas e análises sociais e históricas, compreender não só as causas e as intenções dos agentes envolvidos, mas também, as consequências negativas da presença dessas empresas nas construções de vilas operárias no bairro de Pinheiros, e como isso pode afetar o legado histórico mantido na arquitetura, que vem sendo destruída e substituída por grandes prédios.

ABSTRACT

Real estate speculation and the verticalization of the city are urban socioeconomic processes that changes, in different ways, the dynamics of places, and can be easily perceived in multiple districts of the city of São Paulo, due to the constant structural changes that have been taking place. Large real estate projects are the main promoters of such phenomena, so the main objective of the work is, through interviews and social and historical analyses, understand not only the causes and intentions of the agents involved, but also the negative consequences of the presence of these companies in the construction of workers' villages in the Pinheiros neighborhood, and how this can affect the historical legacy maintained in the architecture, which has been destroyed and replaced by large buildings.

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho consiste em uma pesquisa de duração de 8 meses durante o ano de 2021. O interesse foi despertado a partir de análises do cotidiano, vivência dentro do bairro, admiração pela arquitetura de vilas operárias e certa indignação por conta dos novos empreendimentos imobiliários que vem surgindo na região.

Por meio de diversas formas de pesquisa – visando a interdisciplinaridade –, pretende-se abordar primeiramente a história da formação do bairro, sua função perante a cidade de São Paulo no decorrer dos anos e a jornada arquitetônica do local. Em seguida, será feita uma análise dos elementos arquitetônicos que constituem as casas das vilas operárias e será discutido o porquê de elas serem estabelecidas de tal forma.

Busca-se também discorrer sobre a necessidade atual dos moradores do bairro e os interesses das grandes construtoras diante do local, procurando entender quais são os objetivos dos novos empreendimentos imobiliários e quais são suas características arquitetônicas, podendo assim, compreender seus impactos visuais no funcionamento da área e no cotidiano das pessoas que ali frequentam.

Além disso, parte do trabalho será dedicada a trazer uma visão mais humanizada do assunto, contando a história de um morador de uma antiga vila operária há mais de 70 anos, compartilhando sua vivência e sua percepção das mudanças no local através dos anos.

Em suma, o trabalho tem como objetivo principal explicitar o valor da arquitetura de vilas operárias para a história da formação e do desenvolvimento do bairro. Busca também ressaltar a importância da conservação dessas construções, podendo assim contribuir para a preservação da história do local e da cidade de São Paulo.

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1.1 TEMA E REFERENCIAL TEÓRICO

O presente trabalho possui como objetivo principal abordar a reurbanização do bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo, e discorrer sobre como essa ação vem descaracterizando o local, assim alterando a identidade do bairro como comunidade.

Para isso, a contextualização sobre a história e a formação do bairro se fazem extremamente necessárias para a compreensão dos elementos que levaram Pinheiros a ser o que é atualmente. Além disso, também é crucial a apresentação das principais ruas do bairro, como foi feita sua conexão com o Centro de São Paulo, os interesses comerciais sobre ele, para assim, compreender como Pinheiros foi se constituindo enquanto uma comunidade, que hoje em dia possui uma grande extensão com diversos distritos.

Sob essa mesma ótica, fenômenos e conceitos decorrentes do capitalismo como:

industrialização, urbanização, cidade como mercadoria e especulação imobiliária possuem grande valor quando tratamos desse tema. Para melhor compreensão de tais, foi usado como base o material acadêmico da arquiteta Ermínia Maricato. Alguns de seus ideais podem ser exemplificados pela sua seguinte fala durante uma entrevista concebida a TV Boitempo no ano de 2016:

“A gente vive a cidade todos os dias e o dia todo [...]. São muito pouco conhecidas as forças que dominam e controlam as cidades, porque a cidade, além de ser uma espécie de palco onde a nossa vida se passa, além de ser um local de disputas e de movimentos sociais, além de poder ser lida como se fosse um discurso, [...] ela é uma mercadoria, e alguns capitais específicos ganham muito dinheiro com a cidade, por exemplo, a segregação espacial é necessária para o mercado imobiliário altamente especulativo. O mix de renda ajuda a controlar e equilibrar o preço do solo, a segregação leva a explosão do preço do solo, portanto da renda e valorização imobiliária que fazem a riqueza de muitos capitais. A incorporação imobiliária, o capital financeiro imobiliário, o capital de construção pesada, o capital de construção de edificações e o proprietário da terra são os principais atores que exploram as cidades, exploram os seus negócios. A cidade é um negócio por excelência capitalista, cada pedaço, cada edifício, cada infraestrutura é uma mercadoria especial porque está ligada ao solo, está ligada a terra, que é uma mercadoria não reproduzível.” MARICATO, Ermínia (em entrevista para TV Boitempo)

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Ademais, o impacto causado por grandes empreendimentos imobiliários sobre uma cidade, um bairro ou uma população deve ser levado em consideração, tendo em vista que essas construções tendem a suportar dezenas de apartamentos, trazendo uma grande mudança para um espaço que, muitas vezes, costumava comportar 20 vezes menos pessoas, o que, por fim, afeta a mobilidade e a convivência dos moradores do bairro. Sendo assim, o presente trabalho pretende trazer um recorte desse assunto, tratando especificamente do bairro de Pinheiros na cidade de São Paulo, discorrendo sobre como ele foi e ainda continua sendo um alvo da reurbanização e quais são as consequências sofridas diante a isso.

Consoante a isso, é necessário se aprofundar na pauta sobre crescimento imobiliário em massa para compreender as raízes desse problema. Seguindo essa linha de raciocínio, a principal decorrência do crescimento imobiliário em massa, e por sua vez da reurbanização de Pinheiros, é o sistema capitalista, uma vez que ele necessita de um crescimento constante para se sustentar. Dessa forma, uma abordagem crítica ao capitalismo é inevitável e necessária, tendo isso em vista, que o único limite para as construções em massa são problemas espaciais ou ambientais, o que resulta em diversos conflitos para os moradores da região. Com isso, é imprescindível a aplicação de leis visando o desaceleramento desse crescimento.

Em suma, pode-se relacionar os fatos ditados acima com a fala do geógrafo do David Harvey durante uma palestra no ano de 2014:

“Quando Marx escreveu sua obra, o mundo ainda era um lugar aberto, e esse crescimento tinha condições de ser absorvido, mas na situação em que nós estamos hoje, já é diferente, nós estamos já mais próximos limite, e não há mais como resolver os problemas da mesma forma. Esse crescimento infinito, portanto, gera um problema, não só porque não há mais espaço, mas também pelas consequências ambientais.” HARVEY, David (em palestra em Fortaleza, 2014)

Sob este prisma, por fim, para melhor análise e compreensão do tema, é preciso entender os fatores que levam a urbanização a acontecer. Para isso, a exploração de diferentes pontos de vista e a busca de um conhecimento plural são essenciais. Assim, o entendimento do conhecimento proporcionado por geógrafos, sociólogos, ativistas sociais e arquitetos como David Harvey, Raquel Rolnik e Ermínia Maricato é fundamental. Além disso, consultar a opinião de moradores locais, tanto de longa data, quanto os mais novatos é extremamente importante, uma vez que o presente estudo busca como foco a humanização do tema em questão, colocando em

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pauta a vivência de indivíduos e não apenas a opinião de acadêmicos. Ademais, a ótica dos profissionais das construtoras, sobretudo empresários de grandes corporações imobiliárias, se faz necessária, uma vez que são os principais responsáveis pela descaracterização do bairro.

1.2 OBJETO

As transformações urbanísticas no bairro de Pinheiros nos últimos 10 anos consistem em um dos objetos do presente trabalho. Dessa forma, existe uma grande importância em analisar os seguintes fatores: as condições que acarretaram o acontecimento das urbanizações, a forma como ocorreram as últimas grandes mudanças no bairro e o que levou elas a acontecerem?; como essas mudanças afetaram e afetam os moradores do bairro? ; como isso impacta o funcionamento do local e a visão de moradores locais e não locais sobre as construções atuais?

Além disso, é preciso direcionar como foco de pesquisa as grandes construtoras imobiliárias que possuem como objetivo concentrar seus empreendimentos em determinados locais específicos, – como é o caso do bairro de Pinheiros – e assim, deixando grandes propriedades abandonadas – um grande exemplo disso é o Centro de São Paulo que possui diversos prédios desocupados. A situação em questão gera uma grande revolta uma vez que consideram a previsão constitucional da necessidade de uma regulamentação das propriedades e de suas funções sociais. Desde a última alteração feita no Plano Diretor, 1.425 edifícios foram notificados pela prefeitura por irregularidades, além disso, consta nos dados disponibilizados pela Prefeitura Municipal de São Paulo que mais de 70% das propriedades notificadas pertencem a construtoras e incorporações imobiliárias, e pessoas físicas.

Sob esse mesmo raciocínio, a busca em se inteirar com a ótica dos movimentos sociais, e analisar os projetos e objetivos que esses movimentos se faz extremamente necessária, pensando que possuem essa luta como uma de suas pautas. Seguindo esse prisma, em uma entrevista concebida a TV Boitempo em 2014, o geógrafo David Harvey afirma:

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“Como uma pessoa da academia, não conseguia entender a cidade sem passar por essa questão dos movimentos sociais, as organizações dos sem- teto, as organizações relacionadas a cidade [...]. Para ser honesto, boa parte das ideias que eu já tive sobre urbanização, vem dos movimentos sociais." – HARVEY, David (em entrevista para TV Boitempo)

Outro objeto fundamental para o desenvolvimento do trabalho, é uma análise crítica ao capitalismo, e como sua lógica incentiva as construções em massa e as urbanizações, sempre em busca do maior lucro. Além de, posicionar a qualidade de vida das pessoas e a preservação da memória histórica de um determinado grupo em segundo plano de maneira constante.

Por fim, são imprescindíveis as análises da memória arquitetônica de antigos bairros de vilas operárias, mais especificamente da região de Pinheiros, e de como os grandes empreendimentos imobiliários estão afetando os resquícios dessa arquitetura. A escolha desses objetos foi feita a partir de análises diárias sobre o bairro, por viver na região, sempre observei muitas mudanças em suas paisagens, o que despertou um interesse no tema, me levando a buscar me inteirar nas causas e nas consequências dessas construções. Além disso, há também um interesse sobre o decorrer dos projetos de urbanização e reurbanização, e como esses processos tentem a se repetir em diferentes décadas.

O presente trabalho consiste em uma pesquisa de duração de 8 meses durante o ano de 2021. O interesse foi despertado a partir de análises do cotidiano, vivência dentro do bairro, admiração pela arquitetura de vilas operárias e certa indignação por conta dos novos empreendimentos imobiliários que vem surgindo na região.

Por meio de diversas formas de pesquisa – visando a interdisciplinaridade –, pretende-se abordar primeiramente a história da formação do bairro, sua função perante a cidade de São Paulo no decorrer dos anos e a jornada arquitetônica do local. Em seguida, será feita uma análise dos elementos arquitetônicos que constituem as casas das vilas operárias e será discutido o porquê de elas serem estabelecidas de tal forma.

Busca-se também discorrer sobre a necessidade atual dos moradores do bairro e os interesses das grandes construtoras diante do local, procurando entender quais são os objetivos dos novos empreendimentos imobiliários e quais são suas características arquitetônicas, podendo assim, compreender seus impactos visuais no funcionamento da área e no cotidiano das pessoas que ali frequentam.

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Além disso, parte do trabalho será dedicada a trazer uma visão mais humanizada do assunto, contando a história de um morador de uma antiga vila operária há mais de 70 anos, compartilhando sua vivência e sua percepção das mudanças no local através dos anos.

Em suma, o trabalho tem como objetivo principal explicitar o valor da arquitetura de vilas operárias para a história da formação e do desenvolvimento do bairro. Busca também ressaltar a importância da conservação dessas construções, podendo assim contribuir para a preservação da história do local e da cidade de São Paulo.

2 CONTEXTO HISTÓRICO

2.1 CONSTITUIÇÃO DO BAIRRO

Para melhor compreensão do tema a ser pautado é essencial uma contextualização histórica dos fatos, sendo assim possível fazer uma melhor análise dos fatores que acarretaram a situação atual em que o bairro de Pinheiros se encontra.

O bairro se originou de uma aldeia indígena situada nas margens do Rio Pinheiros. Em 1560, com a chegada dos portugueses, os índios Tupis abandonaram a região central e, a mando dos jesuítas, fundaram a aldeia Nossa Senhora dos Pinheiros. Com o tempo, o local vai se transformando em um povoamento de brancos, indígenas e mestiços, que faziam transporte de produtos para o centro da cidade, o que fez a região se popularizar, principalmente pelo comércio de café.

Já estabelecido como Pinheiros, no século XIX, a região foi se popularizando ainda mais, já eram mais de 200 casas, com comércio local e maior população. Logo na virada do século, foi feito um prolongamento da linha de bondes, que passam a ligar a vila ao centro da cidade, sendo assim criada a Rua Teodoro Sampaio, que sai da antiga Avenida Municipal, hoje Avenida Doutor Arnaldo, até o cruzamento da Ru a Capote Valente. Outra rua de extrema importância para a circulação no bairro era a antiga Rua Arco Verde, hoje Rua Cardeal Arco Verde.

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Rua Cardeal Arco Verde, 22 de fevereiro de 1938 (Disponível em:

https://br.pinterest.com/pin/309692911858454647/ (Data de acesso: 6 de setembro de 2021)

Também nessa mesma época, já havia se constituído a Vila Operária de Pinheiros (entre a Rua dos Pinheiros e a Avenida Rebouças), com inspirações das vilas da Mooca e do Brás, o lugar foi estabelecendo de maneira bem característica, podendo assim suprir as necessidades dos moradores da região.

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Bairros de Pinheiros e Butantã na Planta da Cidade dhbe S. Paulo Mostrando Todos Os Arrabaldes e Terrenos Arruados (1924). Prefeitura Municipal de São Paulo (1924) - Acervo Museu Paulista (USP) - Coleção João Baptista de Campos Aguirra. (Acesso: 6 de setembro de 2021)

2.2 CONSTITUIÇÃO DAS CASAS

Com os altos aluguéis, os operários não conseguiam pagar suas dívidas e acabavam vivendo, como muitos imigrantes, em cortiços. Essas moradias geraram problemas sociais e de saúde pública, pressionando as autoridades a tomar alguma atitude, e a solução encontrada foi a construção de Vilas Operárias.

As Vilas Operárias são casas feitas para o proletariado, com apenas elementos essenciais para garantir uma boa estrutura para os moradores, “para a construção de casas, para trabalhadores a imitação das conhecidas no Rio de Janeiro com o nome de Villas, isto é, com entrada para um pateo commum, porém em melhores proporções que as dos actuaes cortiços” (CORREIO PAULISTANO).

Em uma revisão do Código de Posturas de 1886, foi estabelecido como padrão a não permissão da construção de moradias coletivas dentro do perímetro comercial.

Com isso, era aparente a divisão de área residencial e área comercial, algo que hoje em dia, foi perdido na região.

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Planta da Vila Operária de Pinheiros. cerca de 1897. Coleção João Baptista de Campos Aguirra - Museu Paulista da USP (Acesso: 6 de setembro de 2021)

3 CARACTERÍSTICAS ARQUITETÔNICAS

As vilas operárias foram criadas com o intuito de fornecer moradia para os trabalhadores, por isso, as empresas faziam a construção dessas casas em conjunto, de maneira com que todas se assimilassem e tivessem as mesmas funcionalidades.

As casas eram separadas das adjacências do bairro, dando o aspecto fechado das vilas, provendo uma proteção de seus empregados e do patrimônio da empresa.

Tendo em vista o padrão imposto na construção desses imóveis, é possível entender as principais características arquitetônicas que compõem uma vila operária, e a principal delas é o pátio comum. O pátio comum era uma forma de integração dos vizinhos, um espaço onde dividiam o cotidiano, esses ambientes tinham pequenas divergências de acordo com o projeto arquitetônico do local.

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O pátio interno acesso da rua, rodeado por pequenas habitações unifamiliares, construídas nas três primeiras décadas do século XX, consideradas vilas de classe média receberam decorações de acordo com os fantasiosos estilos arquitetônicos, e às vezes receberam arborização na área comum. (SANTOS, p.5)

Outra característica marcante das vilas operárias é a constituição da moradia de pavimento atijolado e assoalho de madeira, em quarto, sala e cozinha, o que era considerado o essencial para uma boa vivência salubre para a população operária (SANTOS, p.4). As moradias eram sobrados, que possuíam sala e cozinha no andar de baixo, e subindo por escadas, geralmente de madeira ou granito, os quartos no andar superior.

Além disso, a mudança das famílias proletárias dos cortiços para as habitações operárias, trouxe também mais privacidade aos moradores, que agora tinham um espaço aberto menor, porém mais privado para a família (LUCCHESI, 2018, p.11).

Esses espaços eram os quintais, que possibilitavam os moradores a ter hortas e uma área de serviço.

4 VIVÊNCIA NO BAIRRO

Em meio a tantas discussões políticas, acabamos esquecendo que os lugares que estão sendo destruídos são não apenas casas, e sim lares de diversos indivíduos com histórias diferentes. Em virtude disso, foi feito uma entrevista com um morador de uma vila operária de Pinheiros, há mais de 60 anos.

Seu nome é Heinrich Waack, um alemão de 93 anos, que é por aqui chamado de Henrique. Ele vive em Pinheiros desde 1961, e conta das mudanças que foi acompanhando ao longo dos anos, como o sumiço dos bondes, a constituição das ruas e a destruição das casas.

Meu nome é Heinrich, mas a gente chama normalmente de Henrique, porque quando cheguei aqui no Brasil, falaram que eu não poderia usar este nome porque as pessoas não sabem

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pronunciar, desde aquilo lá, aqui eu me chamo Henrique. Eu cheguei aqui (em Pinheiros) em 1961, desde daquela época eu moro nessa casa. Então o bairro aqui era um bairro mais residencial, menos comercial, como está hoje, inclusive aqui na Teodoro Sampaio era o fim de um bonde, aqui na Rua Inácio Pereira da Rocha, ali na baixada do cemitério, tinha uma ponte, porque por baixo aqui corre um rio, era uma ponte de madeira. Depois tudo mudou, até que a rua Teodoro Sampaio era uma rua mais comercial, até inclusive ela estava dividida em áreas, a parte mais para cima era mais música, depois mais para baixo era móveis e a outra parte mais para o Largo de Pinheiros, era mais diversa, roupas e alimentações, isso tudo mudou de novo, com a medida do tempo e agora é o que está hoje. Agora está sendo levantados prédios, antigamente não tinha, eram tudo casas mais baixas, aqui não tinha quase prédios. (WAACK, 2021)

O aumento da verticalização do bairro, impactou drasticamente o modo de vida dos moradores, as grandes mudanças na estrutura física e social do local, já são perceptíveis e causam incômodo para muitos que são impactados. Uma das modificações que muito impacta no cotidiano dos moradores, é a falta de sol e áreas verdes, que normalmente são acarretadas pela construção destes grandes empreendimentos imobiliários.

Além disso, outro fator que impacta muito são os barulhos de obra, a sujeira decorrente das demolições e dos materiais utilizados. Ademais o congestionamento causado pela movimentação de materiais e trabalhadores, gera grandes consequências no deslocamento dentro do bairro.

Essas consequências tendem a permanecer atuantes, uma vez que com a chegada de novos moradores, um lugar que antes poderia se situar 3 casas, hoje dará lugar a um prédio de 15 andares. Com isso, aumentará a quantidade de carros, a demanda de energia e internet, a produção de lixo, o uso de água e espaços de lazer.

E Pinheiros quer falar, [...] que está em excesso essa verticalização, que está tirando o sol, que está tirando permeabilidade do solo, que está tirando o que a gente chama de modus vivendi, que é uma maneira de se viver no bairro, com calçadas, famílias e cachorros, não dá para isso ser uma mudança tão drástica no bairro, como a que está sendo imposta no bairro.

(BILYK, 2021)

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As consequências estruturais e físicas são bem aparentes, porém o que não é visto por muitos que passam o bairro de Pinheiros, são os aumentos no custo de vida no local. Com a elitização do espaço, vêm também a elitização dos comércios e do preço da terra, com isso além dos estabelecimentos ficarem cada vez mais caros, os metros quadrados também ficam mais altos.

Estima-se hoje, que o bairro de Pinheiros esteja na sétima posição de bairros com o metro quadrado mais caro de São Paulo, isso impacta não só os moradores antigos do local, como também prejudica fortemente os comerciantes mais antigos.

Com o alto custo de vida, muitos optam por vender suas propriedades para as construtoras, com cada vez mais prédios subindo, as casas que resistiram, são desvalorizadas, uma vez que nenhuma construtora conseguirá construir nada no local, e a casa perde a vantagem de luminosidade do sol.

5 A DESCARACTERIZAÇÃO

No decorrer dos anos, as construções características de vilas operárias foram se tornando antiquadas dentro dos moldes capitalistas, que agora tinha fortes tendências à verticalização das cidades. Com isso, as incorporadoras viram o bairro de Pinheiros como uma região de interesse para o mercado imobiliário, uma vez que o local possuía muitos espaços de lazer e cultura.

Para entender como essas empresas funcionam, há dois termos de extrema importância, são eles especulação imobiliária e gentrificação. A especulação imobiliária é fazer um investimento em bens imóveis a fim de obter um lucro maior do em um momento futuro (DICIONÁRIO FINANCEIRO, 2021). Gentrificação é um processo de transformação urbana que “expulsa” moradores de bairros periféricos e transforma essas regiões em áreas nobres. A especulação imobiliária, aumento do turismo e obras governamentais são responsáveis por esse fenômeno (CRUZ, 2020).

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Para então essas grandes mudanças ocorrerem, é necessária a alteração das normas no Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo, que está presente nos artigos 39º e 40º do Estatuto da Cidade:

Um plano que, a partir de um diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e administrativa da cidade, do município e de sua região, apresentaria um conjunto de propostas para o futuro desenvolvimento socioeconômico e futura organização espacial dos usos do solo urbano, das redes de infraestrutura e de elementos fundamentais da estrutura urbana, para a cidade e para o município, propostas estas definidas para curto, médio e longo prazos, e aprovadas por lei municipal. (Villaça, 1999, p.238)

Todavia, por mais que as normas existam, a outorga onerosa é uma prática muito comum para as empresas imobiliárias, uma vez que, permitem construções indevidas para um local com a condição de que haja um pagamento. Um exemplo de construção indevida é a construção de apartamentos maiores e de vagas extras de garagem em edifícios localizados perto da infraestrutura de transportes coletivos. O arquiteto e urbanista Anderson Kazuo Nakano discute sobre o uso indevido desses espaços, como uma forma de contribuir com as desigualdades sociais:

Em primeiro lugar, reforça a elitização desses locais com a permissão de construção de apartamentos maiores, voltados para compradores de elevado poder de compra. Bloqueiam-se as áreas perto dos corredores e terminais de ônibus e das estações de trem e de metrô para as moradias das populações de baixa renda, que é quem mais usa transporte coletivo.

(NAKANO, [s.d])

6 MOVIMENTOS SOCIAIS

Em contrapartida, há também uma forma de resistência por parte dos moradores locais, que se unem em grupos para manifestar suas insatisfações perante as novas mudanças que veem ocorrendo no bairro. Esses grupos podem se classificar como movimentos sociais, são grupos de pessoas que defendem uma causa social e

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política, é uma forma da sociedade se expressar e explicitar suas demandas.

(PONCHIROLLI, 2019)

No bairro de Pinheiros, já é possível observar a formação de grupo que se manifestam contra a verticalização, o assédio por parte das incorporadoras e pedem pelo adiamento da revisão do Plano Diretor. O assédio por parte das incorporadoras seria a realização de propostas de compra de diversas casas em um mesmo quarteirão, para assim, a empresa ter a possibilidade de demolir e ter um grande terreno para execução do empreendimento.

Vila na rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto. Foto: Autoria Própria, 23 de setembro de 2021.

Antes:

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Rua Cardeal Arcoverde. Foto: Google Maps, julho de 2019. Disponível em:

https://www.google.com.br/maps/place/Rua+Cardeal+Arcoverde+-+Pinheiros,+S%C3%A3o+Paulo+- +SP,+88802-570/@-23.560299,-

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Atualmente:

Rua Cardeal Arcoverde. Foto: Autoria Própria, 23 de setembro de 2021.

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Avenida Dr. Arnaldo. Foto: Autoria própria, 27 de março de 2021.

O adiamento da revisão do Plano Diretor, vem em meio a pandemia da Covid- 19, que acarretou diversas complicações financeiras para muitas famílias. De acordo com uma das organizadoras do movimento ProPinheiros Verônica Bilyk, adiar a revisão do plano, para um outro momento após uma recuperação da crise, seria a melhor opção.

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Manifestação a favor do Adiamento da revisão do Plano Diretor. 10/08/2021 Disponível em:

https://www.instagram.com/p/CSZn4uyHs13/?utm_medium=copy_link (Data de acesso: 17 de setembro de 2021

Além disso, o grupo fala afirma que a chegada desses empreendimentos deve sempre trazer algum tipo de benefícios para os moradores antigos do local, assim podendo ser uma “via de mão dupla”. Atualmente, o que ocorre é um abuso por parte dessas construtoras que, chegam no bairro de maneira invasiva, sem se preocupar com a constituição e o funcionamento do local.

Diante disso, o grupo pretende tomar algumas atitudes perante esse fato:

Primeiro, a gente vai mapear todos esses empreendimentos novos e vai ver quais são as incorporadoras e construtoras, e depois nós vamos conversar com elas, dizendo: “Legal, vocês estão entrando no bairro, o que que vocês vão dar de contrapartida, vocês vão ampliar a área verde? Vocês vão dar uma área de lazer? Vocês tão melhorando a internet? O paralelepípedo precisa ser restaurado, vocês vão restaurar? No entorno, vocês tão respeitando as distâncias?”. (BILYK, 2021)

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Em suma, os movimentos querem explicitar que essas mudanças que estão ocorrendo, estão impactando drasticamente o funcionamento do local e descaracterizando o bairro. Mostrando-se assim, como um movimento de resistência, que pretende não só proteger as vilas de Pinheiros, como também os espaços verdes e construções de grande importância na caracterização do bairro.

Rua Harmonia. Foto: Produção autoral, 27 de março de 2021.

A insatisfação de muitos perante as mudanças, é manifestada através de protestos, iniciativas, projetos, artes e pelo meio digital. Já é possível perceber que as consequências da especulação imobiliária, incomoda e já está sendo criticada há muitos anos, não só por moradores de São Paulo, como de outras cidades pelo Brasil.

Tire as construções da minha praia. Não consigo respirar. As meninas de minissaia. Não conseguem respirar. Especulação imobiliária. E o petróleo em alto mar. Subiu o prédio eu ouço vaia.

(BAIANASYSTEM, 2016)

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8 CONCLUSÃO

Pinheiros, como bairro tradicional da cidade de São Paulo, carrega muita história através de sua arquitetura, e as casas características de construções de vilas operárias são bem presentes. Todavia, nos últimos anos, o local vem sofrendo um processo especulação imobiliária, trazendo diversas consequências para a memória arquitetônica do bairro.

As grandes construtoras assediam os moradores para venderem suas casas e assim conseguem grandes terrenos para a construção de novos empreendimentos.

Caso o morador não queira vender, a construtora retira a oferta, porém o imóvel do morador é desvalorizado pela grande quantidade de prédios ao redor.

Ademais, os novos empreendimentos não afetam apenas os moradores vizinhos, mas também os arredores da construção, já que as obras trazem barulhos, sujeiras e congestionamento. Além disso, depois de finalizados, os prédios tendem a trazer uma nova proposta para o bairro, elitizando cada vez mais os locais, deixando estabelecimentos e serviços mais caros.

Os moradores do bairro já se manifestam contra as ações das incorporadoras por meio da união de moradores em coletivos, em busca de uma voz popular. Eles lutam por suas moradias, por mais luz solar e área verde no bairro, pela preservação da memória arquitetônica e o bem-estar e qualidade de vida no bairro.

Diante dos pontos previamente apresentados, conclui-se que as incorporadoras, por meio dos grandes empreendimentos imobiliários, afetam não só a memória arquitetônica das vilas operárias de Pinheiros, como também a vivência dos moradores e a estrutura do bairro.

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9 TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS

9.1 VERONICA BYLIK 16 de agosto de 2021

Entrevistador: Fala seu nome e conta um pouco de como você entrou nesses coletivos e associações do bairro.

Verônica: Meu nome é Verônica Bylik, e eu sou presidente da Associação dos Moradores e Amigos dos Predinhos de Pinheiros, que são aqueles predinhos que fazem contorno do Fernão Dias, que são a Rua Simão Álvares, a Rua Benjamin Egas, Rua Sebastião Velho e perto da Rua Mourato Coelho.

Entrevistador: Esses que já são tombados?

Verônica: Essas foram tombadas, exatamente, por isso até que a gente criou essa associação. Para você imaginar, o tombamento deles começou há 15 anos, quando a Ivone, que é uma arquiteta e urbanista que morava lá viu a possível ideia de se pedir o tombamento, depois de 15 anos veio o tombamento. E eu tinha um restaurante polonês pequenininho ali na Simão Álvares chamado Polska, e por causa da minha movimentação com o restaurante. Porque também, na mesma época eu fui também eleita Conselheira Participativa Municipal, que é uma coisa muito legal de saber que existe, poucas pessoas sabem que existe, mas todos os moradores podem ser eleitos, ou comerciantes, podem ser eleitos num cargo que dura 2 anos, e você frequenta reuniões lá na subprefeitura, onde se debate todos os assuntos da vida de um bairro, então, asfalto, luz, segurança, pernilongos, paralelepípedos, a gente fez uma superdefesa dos paralelepípedos. Bom, desde então, apesar do meu restaurante ter fechado na pandemia, eu continuei sendo presidente dessa associação, porque eu não moro em Pinheiros, mas eu morava em Pinheiros quando eu tinha o restaurante porque eu não saía daí, só ia dormir na minha casa. Aí eu pensei, vou deixar de ser, aí o povo falou: “Não, você tá fazendo super bem tudo, fica aí”, nesse ‘fica aí’ eu continuei sempre acompanhando justamente os problemas né, pernilongo foi um

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grande problema do verão, e já se ouvia falar dos prédios subindo, já se falava desse incomodo da verticalização, mas, eu não sei, nos últimos 2, 3 meses o medo bateu na porta muito forte das pessoas. Teve uma vila, em especial, em frente a Quitanda, na Rua Doutor Phidias de Barros Monteiro, e os moradores lá ficaram desesperados porque chegaram algumas pessoas recebendo boas ofertas e tal, aí essa moça de lá, a Rosane, ela entrou em contato comigo e falou: “Olha eu sei que você é boa de agitar as coisas, você precisa me ajudar a defender minha vila aqui”, aí eu fiquei realmente impressionada com a história que ela estava me contando, e contei assim no meu grupo da Associação de Predinhos, falei: “Tem uma moçada precisando da ajuda da gente, vamos lá manifestar com eles”, eu fui, levei cartaz e tudo mais, e a gente conseguiu uma vitória por ela, quando a gente percebeu isso, a gente falou “ Não, a gente tem que fazer isso com Pinheiros todo, porque em cada lugar em Pinheiros, Pinheiros é bem grande, mas tem seus micro bairros, alguém do meu grupo falou assim: “Você tem que se organizar, ir junto a prefeitura”. Aí eu fui sendo pilhada e pensei nisso de criar o ProPinheiros, então vamos falar com uma voz só, e sorte também que eu tenho bastante... Nisso de ser presidente da associação, e ter participado do conselho, eu conheci muita gente de Pinheiros que faz uma liderança super bonita. Tem um bairro também, que não sei se você conhece, que é Vila Ida, Jataí e Beatriz?

Entrevistador: Sim.

Verônica: Eles fazem um conjunto de bairros ali, por causa do Córrego das Corujas.

São super ambientalistas, eles fazem um trabalho fantástico. Esse fim de semana também fui lá me solidarizar com eles, pintar, porque eles pintam o asfalto dizendo assim: “Aqui passa o Córrego das Corujas”, isso que é superlegal Nina, porque a gente tem que lembrar que antes de mais nada a gente está em cima da água e da terra, a gente não pode sair fazendo qualquer coisa que a gente quer, entendeu? Tem que respeitar, porque além do mais, aquele é o bem mais precioso para a gente hoje em dia, a água é tudo. Então eu também fui abrindo meus olhos para essas questões, e eu acho agora que tem que pintar São Paulo inteiro, “O que que tá passando aqui embaixo?”. Aí, o ProPinheiros que você conheceu, ele existe acho, que não tem 1 mês que a gente conseguiu se inventar, se juntar, se organizar assim nos pleitos, o que que a gente está se preocupando. Primeiro, a gente vai mapear todos esses empreendimentos novos e vai ver quais são as incorporadoras e construtoras, e

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depois nos vamos conversar com elas, dizendo: “Legal, vocês estão entrando no bairro, o que que vocês vão dar de contrapartida, vocês vão ampliar a área verde?

Vocês vão dar uma área de lazer? Vocês tão melhorando a internet? O paralelepípedo precisa ser restaurado, vocês vão restaurar? No entorno, vocês tão respeitando as distâncias?”. De qualquer forma, a gente já é super adepto ao fato de que a gente quer a adiamento da revisão do Plano Diretor Estratégico de São Paulo. O que acontece é que o Plano Diretor foi realizado em 2014 e dali a 7 anos é previsto uma revisão, e se for contar 7 anos, cai agora, em meio a pandemia, e o governo alega que eles tão fazendo consulta pública, porque tem um questionário na página da prefeitura, que a pessoa vai lá e responde, e a gente alega que isso não é consulta pública, é uma situação de pandemia, a maior parte das pessoas não tem acesso a internet, então essa conversa não vai correr da maneira certa, e também porque o Plano de Revisão vem para os moradores poderem falar: “ Olha a ideia ta dando certo aqui no meu bairro, ou a ideia não ta dando aqui no meu bairro”. E Pinheiros quer falar, tanto é que a gente tem uma hashtag “pinheiros quer falar”, que está em excesso essa verticalização, que está tirando o sol, que está tirando permeabilidade do solo, que está tirando o que a gente chama de modus vivendi, que é uma maneira de se viver no bairro, com calçadas, famílias e cachorros, não dá para isso ser uma mudança tão drástica no bairro como a que está sendo imposta no bairro. E muitas das pessoas não querem sair das suas casas porque ali é um projeto de vida, a gente não está brigando por mercado imobiliário e por dinheiro, as pessoas querem ficar sossegadas, e não querem sentir essa pressão de serem vendidas, e depois não querem ficar escravas de uma situação, então você é o único que não vende a sua casa e tem 10 prédios em volta de você. Existe uma comunidade representativa de cada uma dessas áreas que ta precisando se colocar, então basicamente é isso.

Entrevistador: Como vocês planejam suas iniciativas? Quais são as ações que vocês pretendem tomar?

Verônica: Isso que a gente está discutindo, algumas pessoas falam que algumas áreas deviam recorrer a tombamento, isso exige um processo super longo e detalhista, a gente mandando abaixo assinados, foi a primeira atitudes que nós tomamos foi o abaixo assinado pra essa vila na frente da Quitanda que eu falei, para parar com o que estava havendo ali, a história de paralisar a revisão do Plano Diretor também, a gente faz parte de um movimento que está acima da gente que se chama

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Frente São Paulo pela Vida, ele junta todos os movimentos como ProPinheiros, até o MTST está ali dentro. Uma coisa que eu não sabia também é que durante a pandemia não foram suspensos os despejos sabe, realmente a gente apoia que tenha que parar com isso, porque pelo amor de deus, nesse momento não dá para falar dessa história, vamos ver as coisas por partes. Mais audaciosamente a gente está querendo talvez criar um Plano de Bairro para Pinheiros, que eu não sabia que existia, estou aprendendo também sobre isso agora, que é dizer que Pinheiros quer ser assim, em tais lugares, tais alturas, gabaritos de alturas para cada reunião, adensamento para cada região, existem pessoas que estão indo em Pinheiros, calculando e dizendo:

“Adensamento aqui já atingiu”.

Entrevistador: Além do problema cultural e de espaço, tem toda a questão de lixo, esgoto, água também.

Verônica: Por isso que a gente fala que quer conversar com essas (incorporadoras) que já fizeram (empreendimentos), a gente quer perguntar: “Vocês tão ajudando na rede de esgoto, ajudando na malha elétrica?”, porque o negócio aqui já estava ruim, vocês vindo mais e mais vai ficar pior ainda.

Entrevistador: O que vocês veem como o problema e a solução?

Verônica: Eu não sou muito otimista, eu acho que essa fome de ganhar dinheiro do mercado imobiliário e do mercado financeiro acaba, no mundo inteiro, vencendo, eu acho que vai ter sempre uma resistência. Em Pinheiros a gente vai tentar, com todas as nossas forças, manter padrões de uma vida saudável, eu acho que é uma questão de saúde, tanto física quanto mental, para as pessoas continuarem morando num lugar onde traga benefícios, onde tenha sol batendo, não seja poluído, que tenha área verde, que tenha lugar para a bicicleta passar. Não acho possível dizer assim: “Um vai ganhar e o outro vai perder”, eu acho que no final das contas, os moradores vão acabar perdendo mais, vou ser bem sincera, infelizmente, por causa da força do capital, do dinheiro e da maneira como essas empreiteiras estão acostumadas a trabalhar sem muita lei, eles vão nos gabinetes... Mas a gente vai fazer bonito assim, como disse uma senhorinha na rua ontem que eu estava andando: “Se tudo der errado pelo menos a gente se conheceu melhor, a gente conversou, a gente teve essas ideias, a gente fez essas manifestações, a gente curtiu essas coisas” coisa que eles não vão ter, então a gente é o povo idealista. A gente vai contar essa história de que

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a gente tentou, mas é muito forte, a bancada imobiliária está fechada mesmo com o governo. Mas eu gosto de saber que eu estou lutando por ideais que são comuns à minha pessoa também, acho que todo mundo que está dentro dessa batalha é porque, pessoalmente, tem valores muito fortes do que é viver bem em sociedade de maneira saudável.

9.2 HEINRICH WAACK 21 de setembro de 2021

Heinrich: Meu nome é Heinrich, mas a gente chama normalmente de Henrique, porque quando cheguei aqui no Brasil, falaram que eu não poderia usar este nome porque as pessoas não sabem pronunciar, desde aquilo lá, aqui eu me chamo Henrique. Eu cheguei aqui (em Pinheiros) em 1961, desde daquela época eu moro nessa casa. Então o bairro aqui era um bairro mais residencial, menos comercial, como está hoje, inclusive aqui na Teodoro Sampaio era o fim de um bonde, aqui na Rua Inácio Pereira da Rocha, ali na baixada do cemitério, tinha uma ponte, porque por baixo aqui corre um rio, era uma ponte de madeira. Depois tudo mudou, até que a rua Teodoro Sampaio era uma rua mais comercial, até inclusive ela estava dividida em áreas, a parte mais para cima era mais música, depois mais para baixo era móveis e a outra parte mais para o Largo de Pinheiros, era mais diversa, roupas e alimentações, isso tudo mudou de novo, com a medida do tempo e agora é o que está hoje. Agora está sendo levantados prédios, antigamente não tinha, eram tudo casas mais baixas, aqui não tinha quase prédios.

Entrevistador: Você se lembra muito da linha dos bondes?

Heinrich: Tinha bonde, aqui embaixo, porque tinha um laboratório, o laboratório Pinheiros.

Entrevistador: Como foi para você morar nessa casa?

Heinrich: A Vera (esposa) tinha parentes, um tio que morava aqui ao lado, ele tinha comprado a casa quando estava em construção, e era uma vila como hoje, só que o

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piso era cimento, e as casas normalmente tinham um jardinzinho, aqui tinha uma árvore na casa 1 e na casa 5. E era isso que ia acontecendo, essas modificações, a casa 1 mudou a casa, a casa 5 também, a casa 3 e a 4 construíram mais um banheiro em cima, a única casa que não mexeu na estrutura, foi a nossa. A nossa casa tem os dois dormitórios inteiros, não tem banheiro em cima, o banheiro tinha aqui. Como eu tinha dois filhos, era muito pouco, porque um banheiro para quatro faz fila né, então eu acabei fazendo um anexo atrás, e também é uma dispensa.

Entrevistador: E o que você mais gosta em morar em uma vila?

Heinrich: É mais sossegado, quando nós fomos morar em uma vila, nossos amigos falavam “ai nossa”, não era muito bem-visto, hoje em dia está procurado, muda né.

Entrevistador: E como foi sua vinda para cá?

Heinrich: Eu nasci na Alemanha, e cresci na Alemanha, eu vim para cá com 22 anos.

Eu tinha parentes aqui, eles me pagaram a viagem, a Alemanha estava muito difícil naquela época, a guerra estragou um monte de coisa, e o nazismo que era muito ruim, então eu fui embora.

Entrevistador: Quando você começou a enxergar as mudanças por aqui?

Heinrich: Meu vizinho aqui de trás queria puxar o muro mais para cima, quando ele começou eu falei que ele estava tirando o sol e a ventilação, aí ele colocou tijolos furados, mas não adianta nada. Muita coisa que hoje está sendo feito, aquelas casas antigas são derrubadas, para subir um monte de prédios, cada vez tem mais. O bairro ta crescendo em quantidade de gente, mas não em quantidade de ruas, essa nossa rua aqui é um absurdo, quase o dia inteiro está congestionado. Aqui era para ser uma avenida, a Sumaré, eles iam fazer até a Faria Lima, estava planejado isso aqui, eu estava no meio de uma reforma, eu fiquei louco, porque ia passar por aqui. E depois mudou, foi indo e indo, e o que que aconteceu, não dá mais para fazer, tem prédios demais no meio do caminho.

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Referências

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