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Implicações cosmológicas de extensões do modelo padrão

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Academic year: 2021

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(1)

Universidade Estadual de Campinas

Instituto de F´ısica “Gleb Wataghin”

Cesar Peixoto Ferreira

Implica¸c˜

oes cosmol´

ogicas de extens˜

oes do modelo padr˜

ao

Campinas

2019

(2)

Cesar Peixoto Ferreira

Implica¸c˜

oes cosmol´

ogicas de extens˜

oes do modelo padr˜

ao

Tese apresentada ao Instituto de

F´ısica “Gleb Wataghin” da

Univer-sidade Estadual de Campinas como

parte dos requisitos exigidos para a

obten¸c˜

ao do t´ıtulo de Doutor em

Ciˆ

encias.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Moraes Guzzo

ESTE TRABALHO CORRESPONDE `A VERS ˜AO FINAL DA TESE DEFEN-DIDA PELO ALUNO CESAR PEI-XOTO FERREIRA, E ORIENTADA PELO PROF. DR. MARCELO MO-RAES GUZZO.

Campinas

2019

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Agˆencia(s) de fomento e no(s) de processo(s): CNPq, 141219/2014-9

Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Física Gleb Wataghin Lucimeire de Oliveira Silva da Rocha - CRB 8/9174 Ferreira, Cesar Peixoto,

F413i FerImplicações cosmológicas de extensões do modelo padrão / Cesar Peixoto Ferreira. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

FerOrientador: Marcelo Moraes Guzzo.

FerTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin.

Fer1. Cosmologia. 2. Matéria escura (Astronomia). 3. Extensões de modelo padrão. I. Guzzo, Marcelo Moraes, 1963-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Física Gleb Wataghin. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Cosmological implications of standard model extensions Palavras-chave em inglês:

Cosmology

Dark matter (Astronomy) Standard model extensions

Área de concentração: Física Titulação: Doutor em Ciências Banca examinadora:

Marcelo Moraes Guzzo [Orientador] Flávia Sobreira Sanchez

Alex Gomes Dias

Orlando Luis Goulart Peres Célio Adrega de Moura Junior

Data de defesa: 01-11-2019 Programa de Pós-Graduação: Física

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0002-8776-6441 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/4759094203248557

(4)

MEMBROS DA COMISSÃO JULGADORA DA TESE DE DOUTORADO DE CESAR

PEIXOTO FERREIRA – RA 70456 APRESENTADA E APROVADA AO INSTITUTO DE

FÍSICA “GLEB WATAGHIN”, DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, EM 01 / 11 / 2019.

COMISSÃO JULGADORA:

- Prof. Dr. Marcelo Moraes Guzzo – Orientador – DRCC/IFGW/UNICAMP - Prof. Dr. Orlando Luis Goulart Peres – DRCC/IFGW/UNICAMP

- Prof. Dr. Célio Adrega de Moura Júnior – CCNH/UFABC - Prof. Dr. Alex Gomes Dias – CCNH/UFABC

- Profa. Dra. Flávia Sobreira – DRCC/IFGW/UNICAMP

OBS.: Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

CAMPINAS 2019

(5)

Dedico este trabalho `a Simone dos Santos Carvalho e Margarida Maria de Arruda Peixoto. Em mem´oria de Antˆonio Nazara Ferreira, Jonas de Souza Peixoto e M´arcia Cristina Gon¸calves Trentin.

(6)

Agradecimentos

Como escrevi h´a 5 anos, no mestrado, para mim essa ´e a parte mais essencial do trabalho. Pois sem estas pessoas ele n˜ao existiria.

Agrade¸co primeiramente `a sociedade brasileira, que por interm´edio do CNPq no processo 141219/2014-9 financiou este trabalho, acreditando em sua importˆancia.

Agrade¸co ao meu Orientador, Marcelo Moraes Guzzo. Como pessoa, professor e pesquisa-dor, o Marcelo representa um espelho do que quero ser, profissional e eticamente. Tive grande sorte em tˆe-lo acompanhado a jornada para tornar-me um cientista, pela sua paciˆencia, co-nhecimento, empatia e responsabilidade. Sempre esteve disposto a ajudar com qualquer d´uvida, foi compreensivo quando passei por problemas comuns na p´os-gradua¸c˜ao e me serviu de inspira¸c˜ao para continuar. Mais que meu orientador, ele ´e hoje meu amigo, ao qual te-nho a esperan¸ca de continuar a conviver e trabalhar no futuro. Muito obrigado meu amigo, Marcelo.

Agrade¸co `a minha fam´ılia. Ao meu irm˜ao Rafael, ao meu pai Carlos e `a melhor irm˜a do mundo, Mariana. Mas um agradecimento especial vai para a minha m˜ae, Margarida. ´E certo que m˜aes, por sua pr´opria natureza, d˜ao tudo de si para os filhos. Mas ainda assim, ´e dif´ıcil imaginar uma m˜ae que tenha feito mais por seu filho do que a minha m˜ae fez por mim. Foi paciente, amiga, preocupada. Material e emocionalmente, sempre esteve l´a, a qualquer momento. Muito obrigado por tudo, m˜ae. Saiba que te amo muito, sempre te amei, e essa tese tamb´em ´e sua.

Agrade¸co aos meus amigos da gradua¸c˜ao e p´os-gradua¸c˜ao, os companheiros de batalha de todos estes anos: Pedro Pasquini, Jo˜ao Pinheiro, Kevin Liu, Heitor Jurkovich, Guilherme Gomes, Shadi Fatayer, entre tantos e tantos outros. S˜ao geniais, pessoas fant´asticas, cujos conhecimentos e amizade serviram de guia para terminar esta jornada.

Obrigado aos meus amigos de Rep´ublica, Tiago Machado, Alexandre Camargo, Luis Felipe e Evandro.

Infelizmente durante essa p´os-gradua¸c˜ao, meus avˆos Antˆonio e Jonas faleceram. Cada um deles deixou suas marcas em mim. Meu vˆo Antˆonio, com suas hist´orias e jeito engra¸cado, meu

(7)

vˆo Jonas com suas poesias e conhecimento. Eu sou o produto daqueles com quem convivi, e eles foram pessoas que definiram muito do meu jeito de ser. Queria que estivessem aqui para ver o cientista que virei. Mas eles estar˜ao vivos enquanto forem lembrados, e farei isso enquanto eu viver.

Obrigado `a minha eterna amiga, M´arcia, que deixou-me quando tinha apenas 16 anos. J´a se passaram 17 anos, mas at´e hoje me lembro de tudo o que ela me ensinou: A importˆancia da bondade e da humildade, o valor da amizade e da vida humana. Ela vive em mim, pois est´a presente em todas as minhas a¸c˜oes. E, por isso, esta tese tamb´em ´e dela.

Mas o agradecimento final, eu devo `a minha melhor amiga, ao meu amor, `a minha compa-nheira. `Aquela por quem sonho todos os dias, para quem meu sorriso se abre e meu cora¸c˜ao bate forte. `A minha noiva (e futura esposa!) Simone. Ela ´e tudo de mais importante para mim, e para ela e por ela que me esforcei al´em dos limites para terminar este trabalho.

A Si esteve comigo em todos os momentos bons desses anos. E, quando afundei em um buraco, foi a sua luz que me tirou do abismo da tristeza. Foi seu amor que me resgatou do oceano da desesperan¸ca. Se eu precisasse, eu sabia que ela estaria l´a, ao meu lado. E eu estarei ao lado dela, sempre, pois ´e l´a que tenho alegria de estar. Os seus sonhos, Si, tamb´em s˜ao meus sonhos, sempre te disse isso. Enquanto vocˆe realiz´a-los, eu estarei feliz. Essa tese tamb´em ´e sua. Essa vit´oria ´e nossa.

Eu lembro da frase de Freud, ao pensar em vocˆe, Si. “Se amo uma pessoa, ela tem de merecer meu amor de alguma maneira (...) Ela merecer´a meu amor, se for de tal modo se-melhante a mim, em aspectos importantes, que eu me possa amar nela; merecˆe-lo-´a tamb´em, se for de tal modo mais perfeita do que eu, que nela eu possa amar meu ideal de meu pr´oprio eu”. ´E por isso que lhe amo: Eu enxergo em vocˆe tudo o que eu gostaria ser.

Sem os percal¸cos, as vit´orias n˜ao s˜ao vit´orias. Essa tese foi assim: Foi dif´ıcil, sofrida. Teve desesperan¸ca e medo, mas tamb´em, justamente por isso, teve beleza e alegria. Nasceu enquanto eu renascia, e renasci gra¸cas a cada um de vocˆes.

Nesses tempos sombrios, quase medievais, vocˆes s˜ao as estrelas que me guiam nessa longa noite que vivemos, todos n´os. Vocˆes s˜ao luzes iluminando as trevas. E, assim, fico feliz em compartilhar este mundo e este tempo com vocˆes.

(8)

trevas. E lembrarei com saudade dos tempos, da escrita desta tese, em que meus amigos, minha fam´ılia e meu amor, n´os todos, `a sua maneira, lutamos para fazer deste mundo um lugar melhor. Um mundo baseado no amor e guiado pela raz˜ao. Um mundo bom. Um mundo justo. Um mundo s˜ao.

(9)

Tudo passa - sofrimento, dor, sangue, fome, peste. A espada tamb´em passar´a, mas as estrelas ainda permanecer˜ao quando as sombras de nossa presen¸ca e nossos feitos se tiverem desvanecido da Terra. N˜ao h´a homem que n˜ao saiba disso. Por que ent˜ao n˜ao voltamos nossos olhos para as estrelas? Por quˆe?

(10)

Resumo

Este trabalho versa sobre o uso de argumentos cosmol´ogicos para a imposi¸c˜ao de restri¸c˜oes a extens˜oes do Modelo Padr˜ao de Part´ıculas Elementares. Os modelos escolhidos para a an´alise foram o modelo 3L3R (uma vers˜ao Left-Right do 3-3-1) e o 3-3-1LHN, baseado no grupo de gauge SU (3)C ⊗ SU (3)L⊗ U (1)N. Em particular, estudou-se a viabilidade de candidatos `a

Mat´eria Escura (DM) propostos pelos mesmos.

A DM que surge no 3L3R ´e um neutrino est´eril, NL, concebido para estar com massa

da ordem de keV. A produ¸c˜ao t´ermica destes neutrinos permite relacionar sua temperatura de desacoplamento, TNLD, com seu impacto sobre ∆Nef f e ΩDM. Em 1σ, ∆Nef f exige

TNLD ≥ 198.5 MeV e implica MU ≥ 2.6 TeV para o mediador U

±. Se for Mat´eria Escura

Morna, ΩDM exige MNL entre 40 e 100 eV. Estes s˜ao valores em forte tens˜ao com os sugeridos

para este tipo de candidato na literatura, ainda que n˜ao exclu´ıdos.

Para o 3-3-1LHN, o candidato ´e um WIMP, N1. A an´alise conjunta de ΩDM, limites de

LHC e experimentos de detec¸c˜ao direta atuais (LUX e XENON1T) e projetados (XENONnT e DARWIN) permite a obten¸c˜ao de limites robustos para a massa do b´oson Z0 e da mat´eria escura, N1. Os limites atuais ditam MZ0 > 4.1 TeV e MN

1 > 1.8 TeV, que pode ser aumentado

para MZ0 > 4.9 TeV e MN

1 > 2.6 TeV quando os resultados de 2 anos de XENON1T forem

liberados. XENONnT e DARWIN elevam os valores m´ınimos para (MZ0 > 8 TeV, MN

1 > 4.2

TeV) e (MZ0 > 11.3 TeV, MN

1 > 6 TeV), respectivamente. Processos LFV mediados por N1

tamb´em s˜ao poss´ıveis, e satisfazem as restri¸c˜oes atuais se o produto das matrizes de mistura for UN1e∗UN1µ

(11)

Abstract

This thesis studies the use of cosmological arguments to impose restrictions to extensions of the Standard Model of Particle Physics. The chosen models are the 3L3R (a Left-Right version of the 3-3-1) and the 3-3-1LHN, based on the SU (3)C⊗ SU (3)L⊗ U (1)N gauge group.

In particular, the viability of Dark Matter candidates proposed by these models is analysed. The DM proposed by the 3L3R is a sterile neutrino, NL, conceived to be in keV mass

range. The thermal production of these neutrinos allows to relate its decoupling temperature, TNLD, with its impact on ∆Nef f and ΩDM. At 1σ, ∆Nef f demands TNLD ≥ 198.5 MeV,

and implies MU ≥ 2.6 TeV for the U± boson. If NL is Warm Dark Matter, ΩDM needs

MN ∈ [40, 100] eV. These masses are in strong tension with suggested values for this kind of

candidate in the literature, although not excluded.

For the 3-3-1LHN, the candidate is a WIMP, N1. The combined analysis of ΩDM, LHC

limits, current (LUX and XENON1T) and projected (XENONnT and DARWIN) Direct Detection Experiments gives robust limits for the Z0 and N1 mass. Current limits are MZ0 >

4.1 TeV and MN1 > 1.8 TeV. This can be enhanced to MZ0 > 4.9 TeV and MN1 > 2.6

TeV when the 2-year exposure results of XENON1T is published. XENONnT and DARWIN projections give stronger constraints, (MZ0 > 8 TeV, MN

1 > 4.2 TeV) and (MZ0 > 11.3 TeV,

MN1 > 6 TeV), respectively. LFV processes mediated by N1 are also possible, and satisfy

current constraints if the product of mixing matrices is UN1e∗UN1µ

(12)

Conte´

udo

1 Introdu¸c˜ao 14

2 Resultados e Parˆametros Cosmol´ogicos 18

2.1 O Modelo Cosmol´ogico Padr˜ao . . . 18

2.1.1 Componentes B´asicos do Universo e o Problema da Mat´eria Escura . 18 2.1.2 As Equa¸c˜oes de Friedmann e o Parˆametro de Abundˆancia . . . 21

2.2 N´umero Efetivo de Esp´ecies de Neutrinos . . . 24

2.3 Temperatura de Desacoplamento . . . 27

3 Limites Cosmol´ogicos ao Modelo 3L3R 29 3.1 O Modelo 3L3R . . . 31

3.2 Neutrinos no 3L3R . . . 36

3.2.1 Mecanismo Seesaw no 3L3R . . . 36

3.3 Limites cosmol´ogicos aos neutrinos NaL . . . 39

3.3.1 Temperatura de Desacoplamento de NaL . . . 39

3.3.2 Graus de Liberdade Efetivos . . . 40

3.3.3 Restri¸c˜oes fornecidas por ∆Nef f . . . 42

3.3.4 Restri¸c˜oes fornecidas por Abundˆancia . . . 47

4 Limites Cosmol´ogicos ao Modelo 3-3-1LHN 56 4.1 O Modelo 3-3-1LHN . . . 57

4.1.1 O Setor Fermiˆonico . . . 57

4.1.2 O Setor Escalar . . . 58

4.1.3 Os B´osons Mediadores . . . 60

4.1.4 Estabilidade dos candidatos a DM . . . 62

4.2 Limites de Abundˆancia de DM no 3-3-1LHN . . . 64

4.3 Limites advindos de aceleradores . . . 68

(13)

4.4.1 C´alculo da Se¸c˜ao de Choque de Espalhamento em DDE . . . 70 4.4.2 Espa¸co de Parˆametros permitidos por DDE’s . . . 72 4.5 Processos LFV no 3-3-1LHN . . . 81 4.5.1 Restri¸c˜oes Cosmol´ogicas a Viola¸c˜oes de N´umero Leptˆonico no 3-3-1LHN 83

5 Conclus˜ao 87

Bibliografia 90

A Anomalias do paradigma C-CDM 98

B Quantidades B´asicas 99

B.1 Densidade de Part´ıculas . . . 99 B.2 Densidade de Energia e Graus de Liberdade Relativ´ısticos . . . 100

C Raz˜ao entre Temperatura dos F´otons e Neutrinos Ativos 102

D O grupo SU (3) e as Matrizes de Gell-Mann 104

(14)

14

Cap´ıtulo 1

Introdu¸

ao

O s´eculo XX foi o per´ıodo de real nascimento e evolu¸c˜ao da f´ısica de part´ıculas. Se puder ser afirmado que ela nasce com a proposta de Thomson a respeito do el´etron (a primeira part´ıcula elementar), em 1897, percebe-se que em um prazo de menos de 100 anos saiu-se da quase completa ignorˆancia da natureza da mat´eria, at´e a atual formula¸c˜ao do Modelo Padr˜ao das Part´ıculas Elementares (Standard Model - SM)[1].

Pode-se dizer que os desenvolvimentos concomitantes de arcabou¸cos te´oricos e experimen-tais permitiram tal avan¸co. Quando Thomson faz a proposta do el´etron, a Mecˆanica Quˆantica e a Relatividade ainda n˜ao haviam sido propostas. E o m´etodo experimental padr˜ao de co-lis˜oes e espalhamentos de part´ıculas s´o seria executado pela primeira vez por Rutherford, em 1910.

Mas as descobertas seguiram-se em passos r´apidos. Mecˆanica Quˆantica e Relatividade Restrita foram unificadas nos 40 anos seguintes `a proposta de Thomson, dando origem `a Teoria Quˆantica de Campos (Quantum Field Theory - QFT). Experimentalmente, os avan¸cos se deram a partir dos anos 40, com a constru¸c˜ao e dissemina¸c˜ao dos primeiros aceleradores de part´ıculas[2]. A primeira QFT, a Eletrodinˆamica Quˆantica, foi um tremendo sucesso, e seu formalismo foi adaptado `as intera¸c˜oes nucleares fortes (Cromodinˆamica Quˆantica) e fracas, dando origem `as teorias n˜ao-abelianas.

Como m´erito adicional, a Cromodinˆamica Quˆantica permitiu, dentro da proposta dos Quarks feita por Murray Gell-Mann[3, 4] e George Zweig[5], dar ordenamento te´orico `a am-pla quantidade de novas part´ıculas descobertas em aceleradores nos anos 50. Nos anos 60, Glashow[6], Weinberg[7] e Salam[8] formalizaram o que se chama hoje de Unifica¸c˜ao Ele-trofraca, que usa do mecanismo de quebra espontˆanea de simetria de gauge proposta por Englert, Brout[9] e Higgs[10] como um dos pilares centrais do Modelo Padr˜ao, ao explicar a assimetria entre as intera¸c˜oes fracas e eletromagn´eticas. Por fim, as demonstra¸c˜oes de

(15)

renor-15

malizibilidade da teoria eletrofraca por ’t Hooft[11] e a explica¸c˜ao da liberdade assint´otica em intera¸c˜oes fortes por Gross, Wilkczec e Politzer[12] finalizam o cen´ario principal desta enorme revolu¸c˜ao.

Em todo esse per´ıodo, a f´ısica de part´ıculas dependeu basicamente de experimentos ter-restres para seu avan¸co. Mas a despeito do ritmo alucinante de descobertas obtidas do casamento entre teorias de gauge e aceleradores de part´ıculas, ao fim dos anos 60 dados as-tronˆomicos come¸cam a evidenciar fenˆomenos n˜ao indicados pelos aceleradores. Vera Rubin e colaboradores, em uma sequˆencia magistral de trabalhos[13, 14, 15, 16] mostra de forma contundente a existˆencia de um tipo de mat´eria no Universo at´e ent˜ao desconhecida: Mat´eria Escura (Dark Matter - DM). Este tipo de mat´eria j´a havia sido proposto por Fritz Zwicky[17] cerca de 35 anos antes, em 1933.

O que seria a Mat´eria Escura? Se ´e uma part´ıcula elementar, n˜ao havia, por certo, sido criada em aceleradores. Dentro do SM, a part´ıcula que satisfazia a maioria das condi¸c˜oes de DM era o neutrino, e por um tempo ele foi o principal candidato. Mas a ideia de o neutrino representar a totalidade da Mat´eria Escura j´a estava, de certa forma, morta antes mesmo da descoberta de Rubin. Em 1966, Gernstein e Zeldovich[18] publicam um resultado seminal, de que neutrinos com massas superiores a 400eV fechariam o Universo com sua densidade de energia. Resultado semelhante seria obtido no Ocidente apenas anos depois, em 1972, por Cowsik e McClleland[19]. Sem candidatos vi´aveis para resolver o problema, o SM encontrou na Cosmologia o primeiro advers´ario a mostrar sua necessidade de readequa¸c˜ao.

Com o passar dos anos, o aumento de precis˜ao de medidas cosmol´ogicas acabou por fornecer limites cada vez mais inescap´aveis. Qualquer extens˜ao do SM, conhecidas como BSM (Beyond Standard Model) precisa, hoje, satisfazer uma s´erie de restri¸c˜oes advindas da Cosmologia: Abundˆancia de Mat´eria Escura (ΩDM ∼ 0.25); N´umero Efetivo de Esp´ecies de

Neutrinos (Nef f ∼ 3); o fato do Universo ter uma densidade de energia cr´ıtica, que o torna

plano; a fra¸c˜ao de massa de H´elio (YP ∼ 0.25), etc.

Este trabalho versa sobre esta rela¸c˜ao entre Cosmologia e extens˜oes do SM em f´ısica de part´ıculas. Como a Cosmologia pode fornecer restri¸c˜oes a BSM? Quais s˜ao as propriedades que um BSM precisa ter, para estar de acordo com limites Cosmol´ogicos?

(16)

16

de explicar alguns de seus problemas em aberto, como Mat´eria e Energia Escura. Ao que tudo indica, precisa da f´ısica de part´ıculas para explicar estas quest˜oes. Por outro lado, o Universo primordial fornece densidades de energia inalcan¸c´aveis mesmo pelos mais poderosos aceleradores. De certa forma, ele ´e o ambiente perfeito no qual novas part´ıculas previstas em BSM podem ter existido, e quem sabe deixado marcas. Al´em disso, Cosmologia ´e muito sens´ıvel a como o Universo evolui, e isso depende principalmente da densidade de energia no mesmo. Portanto, suas restri¸c˜oes s˜ao relativamente independentes de modelo: Qualquer part´ıcula nova, tendo energia, impacta sua evolu¸c˜ao.

Se o problema geral a ser atacado ´e a imposi¸c˜ao de limites a BSM, o problema espec´ıfico adv´em da escolha de modelos a serem limitados. Escolheram-se aqui dois modelos associados `

a classe de extens˜oes 3-3-1: (1) O Modelo 3L3R, uma extens˜ao left-right do 1; e (2) O 3-3-1LHN, caracterizado por um l´epton neutro e pesado em sua terceira componente leptˆonica esquerda.

Ambos os modelos prop˜oem a existˆencia de candidatos a Mat´eria Escura, mas a natureza de cada candidato torna-os sujeitos a an´alises cosmol´ogicas distintas. O 3L3R prop˜oe uma part´ıcula relativamente leve (m ∼keV) e est´avel, um Warm Dark Matter - (WDM), produzida termicamente. J´a o 3-3-1LHN prop˜oe uma part´ıcula massiva fracamente interagente, um WIMP (Weakly Interacting Massive Particle). Por ser muito massiva (m > 1 GeV), sua abundˆancia correta implica em um m´etodo n˜ao-t´ermico de produ¸c˜ao.

Conforme restri¸c˜oes forem impostas, ver-se-´a que os valores de v´arios parˆametros em cada modelo precisar˜ao adequar-se para satisfazer `as mesmas. Em particular, constantes de acoplamento ou VEV’s (Vacuum Expectation Value) de multipletos escalares s˜ao suscet´ıveis a argumentos Cosmol´ogicos, uma vez que definem massas ou se¸c˜oes de choque. Uma das qualidades dos modelos em quest˜ao ´e o fato de boa parte das novas part´ıculas dependerem de um VEV espec´ıfico para suas massas. Ao se limitar a massa de uma, limita-se a massa ou constantes de Yukawa de outras, em um efeito cascata.

Esta tese est´a assim organizada:

• Cap´ıtulo 2: Far-se-´a uma breve an´alise de argumentos e limites te´oricos advindos de Cosmologia, que impactam os modelos escolhidos.

(17)

17

• Cap´ıtulo 3: An´alise de limites cosmol´ogicos no contexto do modelo 3L3R. • Cap´ıtulo 4: Imposi¸c˜ao destes limites ao modelo 3-3-1LHN.

• Cap´ıtulo 5: Conclus˜oes.

Ao fim do trabalho, est˜ao organizados os apˆendices necess´arios para um aprofundamento maior em algum tema tratado no corpo da tese.

(18)

18

Cap´ıtulo 2

Resultados e Parˆ

ametros

Cosmol´

ogicos

Neste cap´ıtulo, explica-se brevemente o Modelo Cosmol´ogico Padr˜ao, e explicita-se em quais elementos ele ´e suscet´ıvel a efeitos advindos de extens˜oes do SM. Tamb´em s˜ao enunciados resultados e parˆametros em cosmologia, que s˜ao necess´arios para a an´alise de cap´ıtulos vin-douros.

2.1

O Modelo Cosmol´

ogico Padr˜

ao

2.1.1

Componentes B´

asicos do Universo e o Problema da Mat´

eria

Escura

No Modelo Cosmol´ogico Padr˜ao, o Universo possui trˆes componentes b´asicas. Segundo a colabora¸c˜ao Planck[20], elas s˜ao:

• Radia¸c˜ao, com menos de 1% da densidade de energia total.

• Mat´eria n˜ao-relativ´ıstica, com 30.8% da densidade de energia total. • Energia Escura, com 69.2% da densidade de energia total.

No modelo, Energia Escura possui densidade de energia constante, e entra como uma Constante Cosmol´ogica nas equa¸c˜oes de Einstein. Ela ´e respons´avel pela expans˜ao acelerada do Universo no per´ıodo atual de sua evolu¸c˜ao, e sua natureza ´e completamente desconhe-cida. Tentativas de identificar Λ com energia de ponto zero de campos quˆanticos conhecidos revelaram-se infrut´ıferas at´e o momento[21]. O importante problema da energia escura n˜ao ser´a tratado neste trabalho.

(19)

2.1. O MODELO COSMOL ´OGICO PADR ˜AO 19

Por´em, Energia Escura n˜ao ´e a ´unica componente de natureza desconhecida no mo-delo. Mat´eria n˜ao-relativ´ıstica possui dois elementos principais, assim quantificados pela colabora¸c˜ao Planck:

• Mat´eria Bariˆonica: 4% do total. • Mat´eria Escura: 25.8% do total.

O problema da Mat´eria Escura ´e o principal desta tese. Ele esta relacionado `a detec¸c˜ao indireta (somente via efeitos gravitacionais) de um tipo de mat´eria, que constitui importante parcela da densidade de energia do Universo, chamada de Mat´eria Escura.

Entre as caracter´ısticas conhecidas da mesma, sabe-se que:

• N˜ao pode ser constitu´ıda por B´arions;

• ´E est´avel (ao menos em rela¸c˜ao ao tempo de vida atual do Universo); • N˜ao tem intera¸c˜ao eletromagn´etica;

• N˜ao tem intera¸c˜ao forte.

• ´E poss´ıvel que ela tamb´em possua intera¸c˜ao fraca, e tal possibilidade est´a na alma de Experimentos de Detec¸c˜ao Direta (DDE), que ter˜ao papel central no cap´ıtulo 41.

Al´em das propriedades listadas acima, os modelos de Mat´eria Escura mais aceitos con-sideram part´ıculas n˜ao-relativ´ısticas quando da forma¸c˜ao de estruturas, denotando assim o que se conhece por Mat´eria Escura Fria. Por fim, assume-se que DM tenha, se muito, auto-intera¸c˜ao extremamente pequena, o que a caracterizaria como uma Collisionless Cold Dark Matter, C-CDM.

1Observa¸oes do Bullet Cluster[22, 23, 24] indicam que ela interage, se muito, de forma extremamente

tˆenue com a mat´eria conhecida. O Bullet Cluster (1E0657-558, com redshift z = 0.296), ´e um aglomerado de gal´axias, dentro do qual observou-se a colis˜ao de gal´axias. Nele, percebe-se que a mat´eria vis´ıvel n˜ao coincide com uma grande quantidade de mat´eria detectada via lentes gravitacionais. A imagem parece ilustrar que esta mat´eria invis´ıvel (DM) n˜ao interage com a mat´eria bariˆonica durante o processo de colis˜ao. J´a os b´arions interagem entre si, emitindo raios-X e perdem energia.

(20)

2.1. O MODELO COSMOL ´OGICO PADR ˜AO 20

O paradigma C-CDM ´e o mais popular dentre as classes permitidas de DM, e tal po-pularidade n˜ao ´e desmerecida. Ele fornece bons ajustes para a evolu¸c˜ao do Universo em grandes escalas, preservando a forma¸c˜ao de estruturas. Tipicamente, n˜ao exige nenhum tipo de intera¸c˜ao muito diferente, bastando intera¸c˜oes an´alogas `a fraca para que se reproduzam resultados cosmol´ogicos observados. O tipo de candidato que satisfaz essas restri¸c˜oes recebe o nome de WIMP (Weakly Interacting Massive Particles).

Por´em, faz-se mister salientar que o paradigma C-CDM n˜ao est´a isento de problemas[26]. Mais informa¸c˜oes sobre eles est˜ao no apˆendice A.

Frente a este desafio, questiona-se se o 3-3-1, ou modelos nele inspirados, podem responder a esta quest˜ao, apresentando candidatos vi´aveis. A resposta, de maneira muito interessante, ´e positiva. De fato, o amplo espectro de part´ıculas do 3-3-1 e similares possibilita tal resposta.

Entre as classes de candidatos que existem neste tipo de modelo, lista-se:

• Mat´eria Escura Auto-Interagente (Self-Interacting Dark Matter - SIDM): Tipo de candidato proposto no ano 2000 por Spergel e Steinhardt[25] como forma de resolver problemas de forma¸c˜ao de estruturas em pequenas escalas (escalas gal´aticas ou menores) sem estragar as excelentes previs˜oes do paradigma CDM para grandes escalas. Esta auto-intera¸c˜ao n˜ao pode ser desprez´ıvel, e a maioria das observa¸c˜oes privilegia uma raz˜ao entre se¸c˜ao de choque e massa da ordem de ρdm/m ∼ 1g/cm2[26].

Em 2003, Fregolente e Tonasse[27] mostraram a existˆencia de candidatos SIDM no modelo 3-3-1 com L´eptons pesados, procurando no setor escalar neutro da teoria. No mesmo ano, Long e Lan[28] mostraram, por an´alise similar, a existˆencia de SIDM no 3-3-1RH, tamb´em encontrando candidatos no setor escalar neutro. As restri¸c˜oes sobre auto-intera¸c˜ao de DM impostas pelo Bullet Cluster, que exige ρdm/m ≤ 1g/cm2, s˜ao evadidas

considerando-se uma se¸c˜ao de choque de auto-intera¸c˜ao dependente da velocidade das part´ıculas. Atualmente, mat´eria escura auto-interagente ´e uma alternativa vi´avel em an´alise[29, 30].

Modelos auto-interagentes de neutrinos[31, 32] tamb´em foram propostos como forma de permitir neutrinos da escala de eV compat´ıveis com restri¸c˜oes de forma¸c˜ao de es-truturas.

(21)

2.1. O MODELO COSMOL ´OGICO PADR ˜AO 21

• Part´ıculas Massivas Fracamente Interagentes (WIMP): Outro candidato popu-lar `a mat´eria escura s˜ao os chamados WIMP’s: Part´ıculas bastante massivas (da ordem de GeV) que interagem via intera¸c˜ao fraca com as demais. Estes tipos de candidatos s˜ao muito populares, em grande parte, devido ao fato de sua abundˆancia correta (da ordem de 25%) ocorrer somente se sua se¸c˜ao de choque estiver na ordem da escala eletrofraca. Este ´e o chamado ‘WIMP Miracle’.

• Neutrinos keV (Warm Dark Matter): Por fim, em alguns modelos de mat´eria escura, neutrinos keV surgem como candidatos vi´aveis de mat´eria escura[33]. Devido a sua escala de massa, elas s˜ao classificadas como ‘Mat´eria Escura Morna’ (WDM), e preservam estruturas em pequenas escalas, tal como observado, sem destruir resultados do paradigma CDM em grandes escalas.

Neste trabalho, os candidatos analisados s˜ao neutrinos keV (3L3R) e um WIMP (331LHN). A hip´otese SIDM n˜ao ser´a tratada.

2.1.2

As Equa¸

oes de Friedmann e o Parˆ

ametro de Abundˆ

ancia

O modelo padr˜ao em cosmologia ´e conhecido como Modelo Λ − CDM . Recebe este nome em virtude de seus dois principais componentes: Uma constante cosmol´ogica, Λ, e a Mat´eria Escura Fria (Cold Dark Matter -CDM).

O Λ − CDM ´e um modelo baseado na teoria da relatividade geral, regida pelas equa¸c˜oes de campo de Einstein: Rµν− 1 2Rgµν+ Λgµν = 8πG c4 Tµν. (2.1)

Estas equa¸c˜oes relacionam a m´etrica do espa¸co-tempo, gµν, com a distribui¸c˜ao de mat´eria/energia

no mesmo, dada pelo tensor energia-momento Tµν. R e Rµν s˜ao chamados de escalar de Ricci

e tensor de Ricci, quantidades constru´ıdas a partir da m´etrica. Λ ´e uma constante, chamada de Constante Cosmol´ogica.

Portanto, qualquer modelo Cosmol´ogico baseado em Relatividade Geral precisa especificar uma m´etrica e uma distribui¸c˜ao de mat´eria/energia para fazer previs˜oes quanto `a evolu¸c˜ao

(22)

2.1. O MODELO COSMOL ´OGICO PADR ˜AO 22

temporal do Universo. No Modelo Λ − CDM , as caracter´ısticas gerais da m´etrica s˜ao obtidas de um postulado b´asico, conhecido como Princ´ıpio Cosmol´ogico:

Princ´ıpio Cosmol´ogico: Em grandes escalas, o Universo ´e Homogˆeneo e Isotr´opico.

Como consequˆencia deste princ´ıpio, e das observa¸c˜oes de que o Universo est´a em expans˜ao, obt´em-se uma m´etrica, conhecida como FRW (Friedmann-Robertson-Walker), e definida por:

gµν =         −1 0 0 0 0 a(t) 0 0 0 0 a(t) 0 0 0 0 a(t)         , (2.2)

onde a(t) ´e o chamado fator de escala do Universo. Esta quantidade entra na defini¸c˜ao de distˆancia entre dois objetos no espa¸co-tempo. Logo, como possui dependˆencia temporal, implica na varia¸c˜ao desta distˆancia com o tempo. Em essˆencia, a m´etrica FRW descreve um Universo homogˆeneo, isotr´opico e em expans˜ao. Esta expans˜ao se d´a na mesma taxa em todas as dire¸c˜oes espaciais. J´a a coordenada temporal n˜ao sofre qualquer efeito desta expans˜ao, e ´e idˆentica `a componente temporal de um espa¸co-tempo de Minkowski. Em particular, o modelo Λ − CDM tamb´em especifica um Universo plano, sem curvatura.

J´a na distribui¸c˜ao de mat´eria/energia, as propriedades de homogeneidade e isotropia mostram-se consistentes com um fluido perfeito2, descritos pelo seguinte tensor

energia-momento: Tµν =         −ρ 0 0 0 0 p 0 0 0 0 p 0 0 0 0 p         . (2.3)

ρ ´e a densidade de energia do fluido, e p ´e a press˜ao.

A aplica¸c˜ao da m´etrica FRW e do tensor de fluido perfeito acima especificado implica nas

2Fluido caracterizado apenas por uma densidade de energia, ρ, em um referencial em repouso, e uma

press˜ao idˆentica em todas as dire¸c˜oes[34]. Fluidos perfeitos n˜ao possuem viscosidade e nem condu¸c˜ao de calor.

(23)

2.1. O MODELO COSMOL ´OGICO PADR ˜AO 23

chamadas equa¸c˜oes de Friedmann:  ˙a a 2 = 8πGρ 3 + Λc2 3 , (2.4) ¨ a a = − 4πG 3  ρ +3p c2  +Λc 2 3 .

Estas equa¸c˜oes ditam a evolu¸c˜ao do fator de escala com o tempo. Delas se obt´em solu¸c˜oes que apontam um Universo sem dimens˜ao espacial em um tempo finito no passado, que evoluiu expandindo a partir desta configura¸c˜ao. Tais classes de modelos receberam o nome de “Big Bang Cosmologies”: Modelos nos quais o Universo possui um in´ıcio.

A primeira express˜ao na eq. (2.4) pode ser reescrita da seguinte forma: H2

H2 0

= ΩRa−4+ Ωma−3+ ΩΛ. (2.5)

H ≡ ˙a/a ´e o chamado parˆametro de Hubble, e mede a taxa de expans˜ao. H0 ´e o valor

do parˆametro de Hubble hoje, H0 = 67.8 km/(s Mpc)[20]. Ωx representa uma raz˜ao entre

a densidade de energia da componente x com a densidade cr´ıtica, ρcrit, necess´aria para um

Universo plano: Ωx = ρx/ρcrit. Logo, ΩR, Ωm e ΩΛ representam as fra¸c˜oes da densidade de

energia cr´ıtica de Radia¸c˜ao, Mat´eria e da Energia Escura, respectivamente.

A equa¸c˜ao (2.5) representa o principal resultado da se¸c˜ao, pois explicita como a taxa de expans˜ao do Cosmo ´e dependente dos seus constituintes. Normalmente, BSM’s adicionam elementos ao conte´udo j´a conhecido de part´ıculas elementares. Dependendo da densidade de energia de tais part´ıculas e de seu tempo de vida, a forma como o Universo evolui pode ser afetada de maneira percept´ıvel. A referida equa¸c˜ao ´e, dita de outra forma, dependente da abundˆancia dos constituintes cosmol´ogicos. A abundˆancia ´e um parˆametro b´asico, que sempre deve ser obedecido por qualquer BSM.

Para efeitos de ilustra¸c˜ao, mostra-se na figura 2.1 as diferen¸cas de evolu¸c˜ao do fator de escala quando a composi¸c˜ao do Universo muda. Na medida em que ρR ∝ a−4, ρm ∝ a−3 e

ρΛ = constante, tempos iniciais, quando a(t) ´e pequeno, s˜ao mais sens´ıveis `a densidade de

radia¸c˜ao, enquanto tempos posteriores s˜ao mais suscet´ıveis `as demais componentes.

Para BSM’s, a previs˜ao de muitas part´ıculas relativ´ısticas, que afete significativamente ΩR, pode ser fatal. Idem para previs˜oes de part´ıculas est´aveis n˜ao-relativ´ısticas que n˜ao

(24)

2.2. N ´UMERO EFETIVO DE ESP ´ECIES DE NEUTRINOS 24 104 105 106 107 108 10-4 0.001 0.010 0.100 1 t (anos) a( t) 104 105 106 107 108 109 1010 10-4 0.001 0.010 0.100 1 t (anos) a( t)

Figura 2.1: : Evolu¸c˜ao do fator de escala em dois cen´arios modificados: ΩR10 vezes maior que em nosso Universo (esquerda, laranja) e ΩM = 0.8, ΩΛ= 0.2 (direita, roxo). A linha azul corresponde ao nosso Universo: ΩR= 9.16×10−5, Ωm= 0.317, ΩΛ= 0.68 (Colabora¸c˜ao Planck ). Percebe-se como a mudan¸ca de ΩRafeta a evolu¸c˜ao de a(t) para idades menores, enquanto ΩM, ΩΛ muda a(t) em idades maiores.

2.2

umero Efetivo de Esp´

ecies de Neutrinos

Outra quantidade que ´e comumente usada para dar limites a nova f´ısica est´a relacionada ao n´umero de graus de liberdade relativ´ısticos, presentes no in´ıcio do Universo. Tal grandeza afeta a evolu¸c˜ao do Universo em sua ´epoca inicial.

As ´epocas de interesse para o trabalho ocorrem principalmente quando o Universo ´e domi-nado por radia¸c˜ao, e, por isso, tal componente acaba determinando a sua taxa de expans˜ao. Em particular, resolvendo-se as equa¸c˜oes de Friedmann neste regime, o parˆametro de Hubble obtido ´e: H(T ) = r 4π3G 45 g∗T 2 , (2.6)

uma vez que a densidade de energia de radia¸c˜ao ´e dada por: ρR= g∗

π2

30T

4, (2.7)

g∗ ´e o n´umero de graus de liberdade relativ´ısticos (que influenciam ρR). Assim como ρR ∝

T4, existe uma dependˆencia geral entre a densidade, n

i, de um tipo de part´ıcula i e sua

temperatura, se esta tiver distribui¸c˜ao t´ermica:

(25)

2.2. N ´UMERO EFETIVO DE ESP ´ECIES DE NEUTRINOS 25

Esta rela¸c˜ao entre densidade e temperatura ser´a usada extensivamente. Para mais deta-lhes, consultar apˆendice B.3

Recorrendo-se `a express˜ao para densidade de energia de part´ıculas relativ´ısticas (radia¸c˜ao) ρR, na eq. (2.7), a densidade de energia da radia¸c˜ao, logo ap´os a aniquila¸c˜ao el´etron-p´ositron,

´e dada por: ρR= ργ+ 3ρν = ργ " 1 + 7 8  4 11 4/3 3 # . (2.9) Onde o termo (4/11)4/3 = (T

ν/T )4, est´a relacionado `a temperatura dos neutrinos em

rela¸c˜ao a temperatura dos f´otons. A explica¸c˜ao da origem desta raz˜ao est´a no apˆendice C. Suponha-se agora que novas part´ıculas, n˜ao previstas pelo SM, existam, e que estas sejam relativ´ısticas na ´epoca em que a equa¸c˜ao (2.9) se aplica. Isso alterar´a a densidade de energia, e logo a forma da equa¸c˜ao dada acima. Denotemos por ρ0R esta nova densidade. Desvios de f´ısica padr˜ao, que contribuam para a taxa de expans˜ao, ser˜ao ent˜ao codificados no chamado N´umero Efetivo de Esp´ecies de Neutrinos, Nef f:

ρ0R= ργ+ 3ρν + X i,boson ρi+ X j,fermion ρj = ργ " 1 + 7 8  4 11 4/3 Nef f # . (2.10)

Usando-se todas as rela¸c˜oes entre (B.9) e (B.12), obt´em-se a forma expl´ıcita de Nef f,

dada por: Nef f = 3 + X boson,i gbi gγ  8 7   11 4 4/3 T bi T 4 + X fermion,j gf j gγ  11 4 4/3 T f j T 4 . (2.11)

Algumas considera¸c˜oes merecem ser feitas em rela¸c˜ao `a express˜ao (2.10): Primeiro, ´e relevante mencionar que uma medida deste parˆametro nada mais ´e que, em ´ultima instˆancia, medir a densidade de energia na forma de radia¸c˜ao do Universo primordial. Isso torna esta grandeza independente de modelos de part´ıculas espec´ıficos, ou seja, todos eles devem, de uma forma ou de outra, satisfazer esta restri¸c˜ao.

Outro fato a ser notado ´e que, apesar do nome, Nef f n˜ao est´a necessariamente relacionado

a novos neutrinos. Qualquer b´oson ou f´ermion relativ´ıstico adicional pode dar contribui¸c˜oes a essa quantidade, como pode ser visto na equa¸c˜ao (2.11). Em um sentido estrito, Nef f tenta 3E importante notar que a equa¸´ ao (2.7) n˜ao decorre da equa¸ao (2.8), embora ambas envolvam inte-gra¸c˜oes sobre a fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao do tipo de part´ıcula (f´ermion ou b´oson) analisada.

(26)

2.2. N ´UMERO EFETIVO DE ESP ´ECIES DE NEUTRINOS 26

quantificar os efeitos de novas part´ıculas na densidade de energia em termos de um efeito equivalente que novos neutrinos, com temperatura padr˜ao, gerariam na mesma. Por isso, Nef f pode ser um n´umero fracion´ario, a depender da temperatura da part´ıcula, ou do fato

dela seguir um espectro essencialmente t´ermico ou n˜ao.

Mudan¸cas na taxa de expans˜ao afetam observ´aveis cosmol´ogicos. Por exemplo, a chamada fra¸c˜ao de massa de H´elio (YP), que ´e a quantidade de H´elio produzidos primordialmente em

rela¸c˜ao ao n´umero de b´arions. Esta ´e uma quantidade prevista por Nucleoss´ıntese Primordial, e ´e uma das grandezas mais robustas previstas pelo modelo cosmol´ogico padr˜ao. No ΛCDM , YP ≈ 0.25. A figura (2.2) mostra como YP muda para mudan¸cas de densidade de energia no

plasma inicial que, como dito, ´e dominado por ρR nesta ´epoca.

Figura 2.2: : Mudan¸cas nas previs˜oes de BBN devido a mudan¸cas na densidade de energia. A figura foi retirada de [35].

(27)

2.3. TEMPERATURA DE DESACOPLAMENTO 27

Os dados mais recentes do PDG indicam um valor para Nef f4 de[20]:

Nef f = 3.13 ± 0.32. (2.12)

Um neutrino adicional (Nef f = 4.046) est´a exclu´ıdo em quase 3σ.5

2.3

Temperatura de Desacoplamento

As part´ıculas elementares que constituem o cosmos n˜ao interagem em um ambiente est´atico, mas sim em um Universo em expans˜ao. Desta feita, elas s´o mant´em contato entre si se sua taxa de intera¸c˜ao for maior que a taxa de expans˜ao do Universo. A taxa de intera¸c˜ao para um tipo de particula a, interagindo com uma part´ıcula b, ´e dada por,

Γa ∼ σvnb, (2.13)

onde v ´e a velocidade relativa de a e b, σ ´e a se¸c˜ao de choque na energia da rea¸c˜ao, e nb

´e a densidade de part´ıculas de tipo b. Na pr´atica, considera-se apenas a m´edia termalizada Γa=< σv > nb. Nestas condi¸c˜oes, quando a seguinte rela¸c˜ao ocorre,

Γa << H, (2.14)

a esp´ecie a ´e dita estar desacoplada do meio, n˜ao interagindo mais com as part´ıculas para as quais (2.14) se verifica. Em uma primeira aproxima¸c˜ao, a rela¸c˜ao Γa ∼ H indica a escala de

energia abaixo da qual a part´ıcula de interesse se desacopla das demais.

Para fins ilustrativos, a temperatura de desacoplamento dos neutrinos padr˜ao ser´a dedu-zida.

No SM, processos de espalhamento entre el´etrons e neutrinos os mantˆem em equil´ıbrio t´ermico com os el´etrons, via corrente carregada ou corrente neutra. Por consequˆencia, esse

4E comum se reescrever N´

ef f = 3 + ∆Nef f, onde ∆Nef f representa o desvio em rela¸c˜ao ao n´umero de

neutrinos conhecidos.

5Sem neutrinos adicionais, N

ef f = 3.046. Tal valor decorre do fato de que nem todos os neutrinos

desacoplam ao mesmo tempo, implicando que eles n˜ao possuam um espectro realmente t´ermico. Neutrinos que desacoplam mais tarde s˜ao aquecidos pela aniquila¸c˜ao e, e+, e ficam levemente mais energ´eticos que os

(28)

2.3. TEMPERATURA DE DESACOPLAMENTO 28

equil´ıbrio com os el´etrons tamb´em os deixam em equil´ıbrio com os f´otons. Para estes espa-lhamentos, < σv >= G2

FE2, onde GF ´e a constante de Fermi, e E ´e a energia. Assim:

Γν ∼< σv > ne = G2FE 2n e = G2F(T 2)(T3) = G2 FT 5, (2.15)

uma vez que ne ∝ a−3 ∼ T3. Como:

H(T ) = r 8πG 3 g∗ π2 30T 4 g ∗ T2 mpl , (2.16)

(na medida que mpl =

p

~c/G, e em unidades naturais ~c = 1) pode-se fazer a igualdade Γν =

H(T ) para se determinar a temperatura de desacoplamento, TνD, dos neutrinos, obtendo-se:

G2FTνD5 =√g∗ T2 νD mpl ⇒ TνD =  √g ∗ G2 Fmpl 1/3 ∼ g1/6 ∗ MeV. (2.17)

g∗ ´e dado pela equa¸c˜ao (B.14). No Modelo Padr˜ao, quando a temperatura est´a na ordem

de poucos MeV, g∗ = 10.75, chegando-se ao resultado desejado: TνD ∼ (10.75)1/6≈ 1 MeV.

Este resultado ´e relativamente gen´erico para part´ıculas que interagem apenas pela in-tera¸c˜ao fraca, e dele pode-se inferir que aumentos de g∗ levam a um aumento da temperatura

de desacoplamento. Isso significa que a part´ıcula em quest˜ao desacopla mais cedo, e quanto mais cedo o desacoplamento, menor ser´a a temperatura desta classe de part´ıcula frente `as demais.6 O efeito final ´e uma menor densidade, pois como pode ser visto no apˆendice B,

n ∝ T3 para part´ıculas termalizadas.

A mensagem final da se¸c˜ao, portanto, ´e: H´a uma dependˆencia entre a temperatura de de-sacoplamento e a densidade final de part´ıculas produzidas termicamente, como os candidatos a DM NaL do modelo 3L3R, que ser´a discutido no cap´ıtulo 3.

(29)

29

Cap´ıtulo 3

Limites Cosmol´

ogicos ao Modelo 3L3R

Um dos mais interessantes fatos da ub´ıqua liga¸c˜ao entre Cosmologia e F´ısica de Part´ıculas, atualmente, refere-se `a proposta de modelos de part´ıculas cuja inspira¸c˜ao, em todo ou em parte, adv´em de um problema cosmol´ogico em aberto.

O problema da natureza da Mat´eria Escura ´e, possivelmente, o maior inspirador de ex-tens˜oes do SM, uma vez que a existˆencia de DM ´e, junto com neutrinos massivos, um indicador claro de que o SM ´e incompleto. E o problema torna-se ainda mais premente na medida em que explica¸c˜oes alternativas `a DM – como modelos de gravita¸c˜ao modificada, MOND[36], sua variante relativ´ıstica TeVes[36, 37] e modelos f(R)[38] – tornam-se problem´aticos em explicar a ampla gama de fenˆomenos gravitacionais observados1.

Somado a demais evidˆencias, a proposta de DM enquanto uma part´ıcula, eletricamente neutra, n˜ao-relativ´ıstica, est´avel (em tempos cosmol´ogicos) e sem intera¸c˜ao nuclear forte tornou-se a explica¸c˜ao mais popular. Neste contexto, extens˜oes do SM s˜ao essenciais, na medida em que o pr´oprio n˜ao fornece nenhum candidato com tais caracter´ısticas.

O modelo 3L3R[39] surge, ent˜ao, como uma proposta que incorpora candidatos `a DM. Em essˆencia, o 3L3R ´e uma extens˜ao dos chamados modelos 3-3-1[40, 41, 42], cujo grupo de gauge ´e o SU (3)C ⊗ SU (3)L⊗ U (1)N. Estes modelos foram propostos inicialmente por

Pisano e Pleitez[40] em 1992, como uma extens˜ao econˆomica ao SM. O 3L3R adiciona uma componente direita aos grupos originais do 3-3-1, adotando o grupo de gauge:

SU (3)C⊗ SU (3)L⊗ SU (3)R⊗ U (1)N.

Do ponto de vista de um modelo de part´ıculas, o 3L3R implementa uma simetria Left-Right no 3-3-1, de forma an´aloga ao que executa o modelo de Pati e Salam [43] em rela¸c˜ao

1Embora permane¸cam vi´aveis, tais modelos foram enfraquecidos pela medi¸ao do chamado Bullet

(30)

30

ao SM. Modelos com simetria Left-Right possuem uma elegˆancia conceitual na explica¸c˜ao da assimetria quiral observada nas intera¸c˜oes fracas.

Essa escolha preserva boa parte das conquistas que motivaram os modelos 3-3-1 originais. Entre elas est˜ao:

• Resposta ao problema das gera¸c˜oes: Este problema versa sobre o porquˆe existirem t˜ao somente trˆes gera¸c˜oes de part´ıculas, ou se poderiam haver outras ainda n˜ao descobertas. O SM n˜ao pro´ıbe, a princ´ıpio, que existam mais que trˆes fam´ılias. Os modelos 3-3-1, por seu lado, exigem somente 3 fam´ılias devido a condi¸c˜ao de cancelamento de anomalias quirais.

• Resposta parcial ao problema da massa dos quarks: N˜ao existe nenhuma raz˜ao interna no SM que justifique o fato de a terceira fam´ılia de quarks ser t˜ao mais massiva que as demais. Tal como o SM, o 3-3-1 n˜ao ´e, em geral, capaz de dar motivos para valores espec´ıficos de massas de suas part´ıculas. Mas, no que se refere aos quarks, exige um tratamento assim´etrico nas representa¸c˜ao de uma das fam´ılias de quarks em rela¸c˜ao `

as demais. Este tratamento diferente ´e fruto da mesma exigˆencia de cancelamento de anomalias quirais que responde ao problema das gera¸c˜oes, e ´e um indicativo parcial dessa assimetria de massas.

A manuten¸c˜ao das conquistas do 3-3-1 no 3L3R o dota destas qualidades, ainda que seja muito complexificado em rela¸c˜ao `aquele.

Mas o 3L3R n˜ao ´e inspirado apenas em problemas surgidos nos modelos de part´ıculas. Conv´em mencionar uma das principais motiva¸c˜oes do modelo 3L3R, que ´e de origem cos-mol´ogica. A saber, ´e um modelo capaz de fornecer um candidato `a Mat´eria Escura Morna. Como mencionado no cap´ıtulo 2, este tipo de DM ´e consistente com as oberva¸c˜oes cos-mol´ogicas gerais, sem no entanto incorrer nos problemas surgidos em pequenas escalas com part´ıculas de Mat´eria Escura Fria.

Como ser´a explicado neste cap´ıtulo, tais part´ıculas de WDM s˜ao obtidas mediante o uso de um mecanismo Seesaw no 3L3R. A seguir, apresenta-se o modelo, e em seguida analisa-se os limites que a Cosmologia pode impor ao mesmo.

(31)

3.1. O MODELO 3L3R 31

3.1

O Modelo 3L3R

Ap´os seu grupo de simetria, o modelo come¸ca a ser especificado com a defini¸c˜ao do operador carga el´etrica. Este ´e escrito, como de h´abito, como uma combina¸c˜ao linear dos geradores diagonais do grupo do modelo:

Q = TL3 + TR3 − b T8 L+ T

8

R + N. (3.1)

Ti = λi/2, onde λi ´e a i-´esima matriz de Gell-Mann (ver apˆendice D). L e R referem-se aos geradores dos grupos SU (3)L e SU (3)R, respectivamente, e N ´e o gerador de U (1)N.

Como no 3-3-1, um operador mais gen´erico Q = a (TL3 + TR3) − b (TL8+ TR8) + N ´e proibido para valores de a 6= 1, uma vez que ele n˜ao reproduziria o dubleto do SM em baixas energias. Por´em, no 3L3R, o processo de quebra espontˆanea de simetria leva `a seguinte rela¸c˜ao entre a constante de acoplamento de U (1)N, gN, e a constante de SU (3)L,R, g:2

g2 N g2 = sin2θ W 1 − 2 (1 + b2) sin2θ W . (3.2)

θW ´e o ˆangulo de eletrofraco, introduzido por Glashow. Os valores b =

3 e b = 1/√3 s˜ao t´ıpicos nos modelos 3-3-1. Por´em, no 3L3R, nem todos os valores aceitos no 3-3-1 s˜ao permitidos.

Experimentalmente, sin2θ

W = 0.231 [20], e a rela¸c˜ao acima implica que sin2θW < 1/8

para b =√3 e sin2θ

W < 3/8 para b = 1/

3. Logo, o valor b =√3, usado no 3-3-1 m´ınimo, n˜ao ´e poss´ıvel aqui. Em realidade, apenas trˆes valores de b s˜ao realiz´aveis no 3L3R, como ´e discutido em profundidade no apˆendice E.

Logo, o operador carga el´etrica assume a forma:

Q = TL3+ TR3 − √1 3 T 8 L+ T 8 R + N. (3.3)

Os l´eptons do modelo s˜ao agrupados em tripletos. Em virtude da defini¸c˜ao de Q dada na eq. (3.3), a terceira componente de todos os tripletos do modelo ter´a carga nula.

2Aqui, assume-se a igualdade entre as constantes de acoplamento dos grupos SU (3)

Le SU (3)R, ou seja,

(32)

3.1. O MODELO 3L3R 32

Os tripletos leptˆonicos s˜ao:

ΨaL = (νaL, laL, NaL) T ∼ (1, 3, 1, −1/3) , (3.4) ΨaR = (νaR, laR, NaR) T ∼ (1, 1, 3, −1/3) , (3.5)

onde a = e, µ, τ s˜ao as 3 fam´ılias leptˆonicas. Os 4 n´umeros em parˆenteses indicam como os tripletos se transformam sob os grupos SU (3)C, SU (3)L, SU (3)R e o valor de sua carga N ,

respectivamente. Na s˜ao neutrinos pesados novos.

Os quarks seguem agrupamento similar:

QmL = (dmL, umL, DmL)T ∼ (3, 3∗, 1, 0) ,

Q3L = (u3L, d3L, U3L)T ∼ (3, 3, 1, 1/3) ,

QmR = (dmR, umR, DmR)T ∼ (3, 1, 3∗, 0) ,

Q3R = (u3R, d3R, U3R)T ∼ (3, 1, 3, 1/3) ,

onde m = 1, 2.

O elemento digno de nota dos tripletos quarkiˆonicos ´e a diferen¸ca de representa¸c˜ao adotada entre a terceira fam´ılia e as demais. Tal diferen¸ca decorre do requerimento do cancelamento das anomalias ABJ (Adler-Bell-Jackiw), tamb´em conhecidas como anomalias quirais[44, 45, 46].

O setor escalar segue o mesmo padr˜ao do setor fermiˆonico. Por´em, existem trˆes tripletos escalares associados ao grupo SU (3)L, e trˆes associados ao SU (3)R, totalizando seis:

χL=  χ0L, χ−L, χ0L0 T ∼ (1, 3, 1, −1/3) , χR=  χ0R, χ−R, χ0R0 T ∼ (1, 1, 3, −1/3) , ηL=  η0 L, η − L, η 00 L T ∼ (1, 3, 1, −1/3) , ηR=  η0 R, η − R, η 00 R T ∼ (1, 1, 3, −1/3) , ρL=  ρ+L, ρ0L, ρ0L+T ∼ (1, 3, 1, 2/3) , ρR=  ρ+R, ρ0R, ρ0R+T ∼ (1, 1, 3, 2/3) .

Das 10 componentes neutras listadas, apenas 6 adquirem um VEV (Vacuum Expectation Value) n˜ao-nulo (uma para cada tripleto)3:

3Chama-se a aten¸c˜ao aqui, para que n˜ao se confunda VEV’s com neutrinos ao longo deste trabalho.

(33)

3.1. O MODELO 3L3R 33

η

0 L

= ν

ηL

/

2,

η

R0

= ν

ηR

/

2,

ρ

0 L

= ν

ρL

/

2,

ρ

0R

= ν

ρR

/

2,

χ

00 L

= ν

χ0L

/

2,

χ

0R0

= ν

χ0 R

/

2.

Conv´em que se explicite o padr˜ao de quebra de simetria de gauge do modelo. O modelo 3L3R ´e, como dito, um modelo que exibe simetria Left-Right. Como esta n˜ao ´e percebida experimentalmente, sup˜oe-se que, se existe, a mesma s´o deve manifestar-se em energias muito altas. Em adi¸c˜ao a isso, o 3L3R pode ser visto como uma extens˜ao do modelo 3-3-1, que tamb´em n˜ao ´e observado em baixas energias. Isso indica, portanto, um padr˜ao de quebra em dois est´agios at´e o SM, da seguinte forma:

SU (3)L⊗ SU (3)R⊗ U (1)N −→ SU (3)L⊗ U (1)X −→ SU (2)L⊗ U (1)Y. (3.6)

A primeira quebra destr´oi a simetria Left-Right, e ´e conduzida pelos VEV’s n˜ao-nulos dos tripletos escalares associados ao SU (3)R, denotados de νφR. A quebra leva o modelo ao

grupo do 3-3-1.

Assume-se como pressuposto que a energia em que tal processo se d´a ´e muito elevada, da ordem da energia de Grande Unifica¸c˜ao: νφR ≈ 1015GeV. Muito superior `as energias nas

quais o 3-3-1 ou SM sejam dominantes.

A segunda quebra ´e executada pela terceira componente do escalar χL, cujo VEV n˜

ao-nulo espera-se estar na escala: νχ0

L ≈ TeV. ´E, em essˆencia, este VEV que d´a a massa das

novas part´ıculas associadas ao SU (3)L no 3L3R. Tanto a terceira componente dos f´ermions,

como os novos b´osons associados a este grupo, tˆem sua massa da ordem de νχ0

L. Por fim, ρL

e ηL, cujos VEV’s n˜ao-nulos νρL e νηL est˜ao na escala do VEV do Higgs, efetuam a quebra

do 3-3-1 ao SM.

Logo, νφR >> νφL, onde φ = η, ρ, χ. Com isso, duas escalas de energia distintas s˜ao

introduzidas: A escala de energia-R, associada aos tripletos escalares right, e a escala de energia-L, associada aos tripletos left.

Por simplicidade, a seguinte simetria ´e imposta aos tripletos escalares ρ e χ:

(34)

3.1. O MODELO 3L3R 34

com todos os demais campos inalterados sob as mesmas. Sob estas condi¸c˜oes, somado a necessidade de renormalizibilidade e invariˆancia de gauge, o potencial escalar mais geral poss´ıvel para o modelo escreve-se como:

V = X I µ2I  Φ†ILΦIL+ Φ†IRΦIR  + f ijk(χLiηLjρLk+ χRiηRjρRk + H.c) +X I λI   Φ†ILΦIL 2 +Φ†IRΦIR 2 +X IJ αIJ  Φ†ILΦIL   Φ†J RΦJ R  + 1 2 X J 6=I λIJ h Φ†ILΦIL   Φ†J LΦJ L  +Φ†IRΦIR   Φ†J RΦJ R i + 1 2 X J 6=I κIJ h Φ†ILΦJ L   Φ†J LΦIL  +Φ†IRΦJ R   Φ†J RΦIR i + 1 2 X J 6=I κ0IJhΦ†ILΦJ L   Φ†J RΦIR  +Φ†IRΦJ R   Φ†J LΦIL i , (3.8)

com Φ = (χ, η, ρ) um objeto de 3 componentes, que representa os 3 tipos de tripleto left e right.

Como usual, os b´osons de gauge s˜ao introduzidos no Modelo atrav´es de derivadas covari-antes, de maneira a preservar a requerida invariˆancia de gauge. Elas s˜ao dadas por:

DφLµ = ∂µ− ig λiL 2 W iL µ − igNNφBµ, DφRµ = ∂µ− ig λiR 2 W iR µ − igNNφBµ, Dµφ ≡ ∂µ− i g 2M L µ− i g 2M R µ. (3.9)

Ao final, o 3L3R prevˆe 16 b´osons massivos. 8 destes est˜ao associados ao grupo SU (3)L

e s˜ao os mesmos b´osons do modelo 3-3-1: 4 carregados WL±, UL±, 2 neutros n˜ao hermitianos, V0

L, VL0∗, e 2 b´osons neutros, ZL0, Z0 0

L. Os outros 8 b´osons restantes est˜ao associados ao grupo

SU (3)R, e seguem o mesmo padr˜ao dos b´osons anteriores: WR±, UR±, VR0, VR0∗, ZR0, Z0 0 R.4

Os b´osons U± fazem a media¸c˜ao dos f´ermions NaL com os f´ermions carregados, e s˜ao os

respons´aveis em manter NaL em equil´ıbrio t´ermico com o meio. A escala de sua massa ´e 4E importante frisar que os subescritos L e R nos b´´ osons apenas indica que est˜ao associados aos geradores

dos grupos SU (3)L e SU (3)R, introduzidos atrav´es do acoplamento m´ınimo indicado na equa¸c˜ao (3.9). N˜ao

(35)

3.1. O MODELO 3L3R 35

determinante neste processo, e sua express˜ao ´e dada por,

MU2 = g 2 4  νρ2 L+ ν 2 χ0L  . (3.10)

De particular importˆancia para os fins do modelo ´e o setor de Yukawa. O grupo de simetria adotado, conjugado `a necessidade de se obter termos que sejam singletos deste grupo, leva `a introdu¸c˜ao de operadores efetivos de dimens˜ao 5 para l´eptons,

Ll ef f = hlab ΛD ¯ ΨaLρL  ρ†RΨbR  +g D ab ΛD ¯ ΨaLχL  χ†RΨbR  +y D ab ΛD ¯ ΨaLηL  ηR†ΨbR  +g M ab ΛM h (ΨaL) c χ∗L χ†LΨbL  +(ΨaR) c χ∗R χ†RΨbR i (3.11) +y M ab ΛM h (ΨaL)cηL∗   η†LΨbL  +(ΨaR)cη∗R   ηR†ΨbR i + H.c.

Percebe-se que os operadores na eq. (3.11) d˜ao origem tanto termos de massa de Dirac,

mDirac = νΦiLνΦiRk D

abΨ¯aLΨbR,

quanto termos de massa de Majorana de campos left e right,

mMajL = νΦ2 iLk M ab(ΨaL)cΨbL, (left) mMajR = νΦ2 iRk M ab(ΨaR)cΨbR. (right)

k = h, g, y, e representa as matrizes de mistura de diferentes sabores. Os termos de Dirac est˜ao em azul e negrito, enquanto os de Majorana est˜ao em vermelho.

Para os quarks, por´em, existem apenas termos de massa de Dirac:

Lqef f = h u mn ΛD ¯ QmLρ∗L  ρTRQnR + hχu33 ΛD ¯ Q3LχL  χ†RQ3R  + h ηu 33 ΛD ¯ Q3LηL  ηR†Q3R  + hχdmn ΛD ¯ QmLχ∗L  χTRQnR + hηdmn ΛD ¯ QmLη∗L  ηRTQnR + hd33 ΛD ¯ Q3LρL  ρ†RQ3R  + hu m3 ΛD h ¯ QmLρ∗L  χ†RQ3R  + Q¯mRρ∗R  χ†LQ3L i + hχdm3 ΛD h ¯ QmLχ∗L  ρ†RQ3R  + Q¯mRχ∗R  ρ†LQ3L i . (3.12) ´

E relevante discutir as informa¸c˜oes trazidas pelas equa¸c˜oes (3.11) e (3.12): Duas escalas de energia apresentam-se. Uma, ΛD, est´a associada com termos de massa de Dirac. A outra,

(36)

3.2. NEUTRINOS NO 3L3R 36

ΛM, est´a associada a termos de massa de Majorana, existentes apenas para os neutrinos, na

segunda e terceira linhas da equa¸c˜ao (3.11).

Visando-se um mecanismo seesaw[47, 48] como o respons´avel pela gera¸c˜ao de massa dos neutrinos, ´e razo´avel supor que ΛM >> ΛD. No artigo original, ΛM est´a na escala de Planck,

e ΛD ´e alguma escala de grande unifica¸c˜ao, a ser escolhida mais a frente.

As equa¸c˜oes (3.11) e (3.12) tamb´em revelam que, em todos os termos de massa de Dirac de quarks e l´eptons, existe uma raz˜ao entre um VEV em escala de energia-R, e ΛD. Uma vez

que a massa de muitas dessas part´ıculas ´e conhecida (n˜ao sendo nem extremamente alta ou baixa), ´e razo´avel supor que os VEV’s assumem a rela¸c˜ao νηR ≈ νρR ≈ νχ0R ≈ ΛD. Com isso,

as massas de Dirac destes l´eptons passam a ser dependentes apenas dos VEV’s left-handed. Feitas essas considera¸c˜oes, percebe-se que os l´eptons carregados ganham suas massas devido ao VEV do tripleto ρL, os quarks conhecidos ganham massa devido a νηL e νρL, e os

f´ermions novos derivam sua massa de νχ0 L.

3.2

Neutrinos no 3L3R

Um dos principais aspectos da proposta em [39] ´e a obten¸c˜ao, de maneira natural, diferentes tipos de neutrinos, com pap´eis espec´ıficos a desempenharem na explica¸c˜ao de experimentos terrestres ou de evidˆencias cosmol´ogicas. No modelo, 12 tipos de neutrinos surgem, 2 para cada um dos 6 tripletos de l´eptons presentes. O objetivo desta se¸c˜ao ´e mostrar como o modelo determina a escala de massa dos diferentes neutrinos presentes, e o papel de cada um dentro de poss´ıveis explica¸c˜oes de problemas cosmol´ogicos.

3.2.1

Mecanismo Seesaw no 3L3R

Considere aqui os termos de massa dos neutrinos em (3.11), dados por todos os termos da equa¸c˜ao, `a exce¸c˜ao do primeiro (que d´a massa aos l´eptons carregados). Definindo-se a base 

ΨL, (ΨR)C



, com ΨL= (νL, NL) e (ΨR)C = νRC, NRC a matriz de massa dos neutrinos pode

(37)

3.2. NEUTRINOS NO 3L3R 37 Mν =   ML MD MT D MR  . (3.13)

Mν ´e uma matriz 12 × 12, constitu´ıda de 4 blocos de matrizes 6 × 6, e aparece em termos

de massa da lagrangeana de neutrinos da forma,

LM = − 1 2  ΨL ΨCR  Mν   ΨC L ΨR  + H.c. (3.14) MD em (3.13) ´e gerado pelo segundo e terceiro termos de (3.11) Na base de autoestados

de sabor, ´e dada por:

MD = 1 2ΛD   yDν ηLνηR 0 0 gDν χ0Lνχ0R  , (3.15)

e, na mesma base, as duas ´ultimas linhas geram os termos faltantes, ML,

ML= 1 ΛM   yMν2 ηL 0 0 gMν2 χ0L  , (3.16) e MR, MR= 1 ΛM   yMν2 ηR 0 0 gMν2 χ0R  . (3.17)

gM, gD, yM e yD ao matrizes 3×3, que indicam os acoplamentos de Yukawa dos diferentes

neutrinos na base de sabor com os tripletos escalares de interesse. ´

E aqui que o mecanismo seesaw entra em cena, devido `a hierarquia dos diferentes termos presentes em (3.13). Verifica-se que:

• Os termos presentes em ML (que fornecem massa de Majorana para os neutrinos left)

possuem uma raz˜ao do tipo, νφ2L/ΛM.

• Os termos presentes em MD (que fornecem massa de Dirac aos neutrinos) possuem

raz˜oes do tipo νφLνφR/ΛD.

(38)

3.2. NEUTRINOS NO 3L3R 38

Como mencionado, as escalas de energia-R s˜ao muito maiores que as escalas de energia-L (νφR >> νφL), e ΛM >> ΛD. Isso implica que os termos em ML s˜ao muito pequenos frente

aos presentes em MRe MD. Com isso, MLpode ser desconsiderado, e a matriz (3.13) reduz-se

`

a forma exigida pelo mecanismo seesaw de tipo 1:

Mν ≈   0 MD MT D MR  , (3.18)

onde MD possui valores intermedi´arios entre 0 e os valores de MR. Esta ´e a essˆencia do

mecanismo seesaw: O fato de que, ao se diagonalizar uma matriz da forma de (3.18), com MR>> MD, duas hierarquias surgem entre os elementos na diagonal. Obt´em-se:

Mν0

L ≈ −MD(MR) −1

MDT, (3.19)

MνR ≈ MR. (3.20)

Os resultados acima mostram que a escala da massa dos neutrinos right ´e muito superior `

a dos neutrinos left, dada pela matriz Mν0

L. De forma aproximada, Mν 0 L ´e dada por, Mν0 L = − ΛM 4Λ2 D   yD yM−1 yDT ν2 ηL 0 0 gD gM−1 gDT ν2 χ0L  . (3.21) A matriz bloco diagonal em (3.21) d´a as massas dos neutrinos left do modelo. O primeiro bloco d´a as massas dos neutrinos ativos conhecidos do Modelo Padr˜ao, e o segundo bloco as massas dos novos neutrinos NL, est´ereis em rela¸c˜ao a SU (2)L. Escolhendo os valores de

ΛM = 1019GeV, ΛD = 1015GeV, νηL = 20 GeV e νχ0L = 2 × 10

3 GeV, chega-se a seguinte

ordem de grandeza para as massas,

MνL ≈ y D yM−1 yDT eV, (3.22) MNL ≈ 10g D gM−1 gDT keV. (3.23)

Por simplicidade, sup˜oe-se que gD ≡ g

D e gM ≡ gM s˜ao proporcionais `a matriz identidade

(39)

3.3. LIMITES COSMOL ´OGICOS AOS NEUTRINOS NAL 39

de fato estiverem nestas escalas, tem-se:

MνL = y2 D 400yM  νρ0 L GeV 2 eV, (3.24) MNL = 10g2 D 4gM νχ0 L TeV 2 keV. (3.25)

De forma natural, o mecanismo seesaw no 3L3R fornece a ordem de grandeza correta para a massa dos neutrinos ativos. Tamb´em, indica que os novos neutrinos est´ereis left do modelo possuem massas na escala de keV, o que os tornam candidatos ideais a Warm Dark Matter (WDM)[49]. De modo que, os neutrinos no 3L3R indicam candidatos diversos para a solu¸c˜ao dos seguintes problemas:

• 3 neutrinos(νaL), de massa na escala de eV, representando os neutrinos ativos at´e o

momento detectados.

• 3 neutrinos(NaL), na escala de keV, candidatos `a Mat´eria Escura Morna(WDM).

• 6 neutrinos(νaR, NaR), na escala de 1011 GeV, poss´ıveis candidatos `a Leptogˆenese no

in´ıcio do Universo.

3.3

Limites cosmol´

ogicos aos neutrinos N

aL

Uma vez identificada a capacidade do modelo 3L3R fornecer part´ıculas com caracter´ısticas de DM na escala keV, ´e necess´ario verificar o que a Cosmologia pode dizer a respeito deste tipo de candidato.

A an´alise de viabilidade depende principalmente de dois parˆametros: Nef f e abundˆancia.

Ambos dependem da temperatura de desacoplamento de NaL do plasma primordial, que ´e

determinada a seguir.

3.3.1

Temperatura de Desacoplamento de N

aL

Para se determinar a Temperatura de Desacoplamento para os neutrinos est´ereis, procedi-mento an´alogo ao da se¸c˜ao 2.3 ´e adotado. Por´em, um fato importante deve ser levado em conta: Os neutrinos NaL n˜ao interagem via os b´osons de gauge do SM, W±, Z, mas sim via

(40)

3.3. LIMITES COSMOL ´OGICOS AOS NEUTRINOS NAL 40

novos b´osons, U±, (V0)∗ e Z0. Todos estes, tem massas determinadas principalmente pelo valor de νχ0

L, que assume-se ser da ordem de TeV.

A constante de Fermi, associada `a intensidade das intera¸c˜oes fracas, ´e definida em termos da massa do b´oson W [2]: GF = √ 2 8  g MWc2 2 (~c)3. (3.26)

Assim, definir-se-´a uma constante de acoplamento an´aloga, denotada G0F, para rea¸c˜oes que envolvam NL e l´eptons carregados, escrita em termos da massa do b´oson intermediador

U : G0F = √ 2 8  g MUc2 2 (~c)3 = MW MU 2 GF. (3.27)

Como a MU >> MW, espera-se que G 0

F seja pequeno, o que reduz ΓNL e aumenta TNLD.

Refazendo o procedimento da se¸c˜ao 2.3 para esta constante modificada, deduz-se que:

TNLD =

 MU

MW

4/3

g1/6. (3.28)

Este ´e o resultado anal´ıtico para a temperatura de desacoplamento aproximada para os neutrinos est´ereis. Como pode-se perceber, este resultado ´e modificado em rela¸c˜ao ao obtido para neutrinos ativos, νL, dada na equa¸c˜ao (2.17), e depende fortemente da raz˜ao MU/MW.

3.3.2

Graus de Liberdade Efetivos

Nos apˆendices B e C, as equa¸c˜oes (B.14) e (C.4) definem os chamados graus de liberdade relativ´ısticos, de energia e entr´opicos, das part´ıculas relativ´ısticas presentes no plasma pri-mordial. Em essˆencia, s˜ao parˆametros usados para se calcular a densidade de energia e de entropia deste conjunto de part´ıculas, e depende dos graus de liberdade interno de cada uma, seu tipo (b´oson ou f´ermion) e de sua temperatura em rela¸c˜ao aos f´otons.

Estas express˜oes, por´em, s˜ao aproxima¸c˜oes, uma vez que desconsideram a massa das part´ıculas. As massas tipicamente pouco contribuiem no regime relativ´ıstico, mas sua re-levˆancia se torna maior quanto mais kBT → m. A considera¸c˜ao da massa tamb´em implica

(41)

3.3. LIMITES COSMOL ´OGICOS AOS NEUTRINOS NAL 41

o que permite o c´alculo de uma varia¸c˜ao cont´ınua de g∗ e gs em fun¸c˜ao da temperatura do

plasma (f´otons).

Portanto, definem-se os chamados graus de liberdade efetivos de energia e press˜ao do j-´esimo tipo de part´ıcula[50]:

g∗ef fj (u, zj) = 15gj π4 Z ∞ zj u2qu2− z2 j eu± 1 du, (3.29) gpef f j (u, zj) = 15gj π4 Z ∞ zj (u2 − z2 j)3/2 eu± 1 du. (3.30) u = kE BT, zj = mjc2

kBT , e gj ´e o grau de liberdade interno do tipo de part´ıcula j. (±) especifica

se a part´ıcula possui uma distribui¸c˜ao de Fermi-Dirac (+) ou Bose-Einstein (−). Os graus de liberdade entr´opicos efetivos s˜ao derivados dos dois anteriores:

gsef f(u, zj) =

3gef f∗j (u, zj) + 4g ef f pj (u, zj)

4 . (3.31)

Conforme se percebe das express˜oes (3.29) − (3.31), as integrais s˜ao cont´ınuas, e d˜ao contri-bui¸c˜oes cada vez menores conforme E → mc2, o que ´e equivalente a u → z

j.

A referˆencia [50] mostra um gr´afico, reproduzido aqui na figura 3.1, da varia¸c˜ao dos graus de liberdade efetivos em fun¸c˜ao da temperatura do plasma. Tal gr´afico ´e obtido ap´os a soma dos graus de liberdade efetivos de todas as part´ıculas do SM.

A referˆencia[50] fornece, em sua tabela B.1, os valores de cada um destes graus de li-berdade para 36 temperaturas diferentes. Por simplicidade, para os prop´ositos desta tese, tais valores s˜ao suficientes para se tra¸car gr´aficos de gef f

∗ e gsef f atrav´es de interpola¸c˜ao de

primeira ordem. Tal procedimento n˜ao retorna o valor exato, mas os erros s˜ao pequenos e logo n˜ao inviabilizam previs˜oes.

Uma adapta¸c˜ao, por´em, ´e necess´aria para o uso deste resultado na presente tese: [50] calcula os graus efetivos para o SM. No 3L3R, os neutrinos NaL supostamente est˜ao na

escala keV, e portanto s˜ao relativ´ısticos nas temperaturas de interesse. Assim ´e necess´ario adicionar gef f

∗j de NaL aos graus efetivos totais g ef f

∗ do SM. Como a massa deles ´e pequena,

para a maioria das temperaturas em realidade a contribui¸c˜ao ´e idˆentica ao caso sem massa da equa¸c˜ao (B.14): gef f

∗j (NaL, ¯NaL) = 5.25. S´o come¸ca a ocorrer alguma divergˆencia mensur´avel

quando T ∼ 100 keV para maL = 10 keV, e ainda assim, para T ∼ 10 keV, g∗ef fj (NaL, ¯NaL) =

(42)

3.3. LIMITES COSMOL ´OGICOS AOS NEUTRINOS NAL 42

Figura 3.1: Graus de liberdade efetivos de energia (g∗), press˜ao (g∗p), entropia (g∗s) e densidade (g∗n)

em fun¸c˜ao da temperatura do plasma. Todos s˜ao muito pr´oximos entre si, e a evolu¸c˜ao depende fortemente da temperatura de hadroniza¸c˜ao dos quarks e gl´uons. Aqui, adota-se THad = 214 MeV. Figura obtida da

referˆencia [50].

As curvas para os graus efetivos de liberdade usadas nesta an´alise s˜ao mostradas nas figuras5 3.2 e 3.3.

3.3.3

Restri¸

oes fornecidas por ∆N

ef f

∆Nef f ´e um dos parˆametros f´ısicos que devem ser obedecidos pelo modelo 3L3R para que

se mostre vi´avel. A escala de massa prevista para os neutrinos NaL fatalmente

tornam-os relativ´ıstictornam-os na ´epoca em que Nef f ´e medido, o que afeta seu valor. Nesta se¸c˜ao, o

procedimento de c´alculo de ∆Nef f ´e mostrado.

Parte-se da equa¸c˜ao 2.11, que relaciona os graus de liberdade internos de NaL e sua 5E importante comentar que a figura 3.2 conta todas as part´ıculas, desacopladas ou n˜´ ao. Por´em o uso de gef f

s na an´alise desta tese depende de conserva¸c˜ao de entropia separadamente das esp´ecies desacopladas e

acopladas. Em outras palavras, a grandeza relevante ´e o valor de gef f

s das part´ıculas acopladas ao plasma na

temperatura de desacoplamento de NaL, e isto a figura 3.2 representa bem, sem necessidade de se adicionar

gef fs (NaL, ¯NaL). H´a divergˆencia apenas ap´os o desacoplamento de neutrinos ativos, o que n˜ao gera problemas

uma vez que NaLdesacoplam antes disto. Tal constata¸c˜ao n˜ao vale para g∗ef f, uma vez ´e sens´ıvel a todas as

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