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Goethe e Newton: a teoria das cores para a discussão entre arte e ciência

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

CAMILA REGINA ROSA KOPS

GOETHE E NEWTON: A TEORIA DAS CORES PARA A DISCUSSÃO

ENTRE ARTE E CIÊNCIA

DISSERTAÇÃO

PONTA GROSSA 2019

(2)

CAMILA REGINA ROSA KOPS

GOETHE E NEWTON: A TEORIA DAS CORES PARA A DISCUSSÃO

ENTRE ARTE E CIÊNCIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia como requisito parcial para obtenção de “Mestre em Educação” – Área de Concentração: Ensino de Ciência e Tecnologia, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Orientadora: Profa. Dra. Eloiza Aparecida

Silva Ávila de Matos

Coorientador: Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin

PONTA GROSSA 2019

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Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento de Biblioteca

da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Ponta Grossa n.37/20

Elson Heraldo Ribeiro Junior. CRB-9/1413. 04/05/2020. K83 Kops, Camila Regina Rosa

Goethe e Newton: a teoria das cores para a discussão entre arte e ciência. / Camila Regina Rosa Kops, 2020.

106 f.; il. 30 cm.

Orientadora: Profa. Dra. Eloiza Aparecida Silva Avila de Matos Coorientador: Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin

Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciência e Tecnologia) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2020.

1. Arte e ciência. 2. Arte - Estudo e ensino. 3. Cores - Estudo e ensino. 4. Goethe, Johann Wolfgang von, 1749-1832. 5. Newton, Isaac, Sir, 1642-1727. I. Matos, Eloiza Aparecida Silva Avila de. II. Miquelin, Awdry Feisser. III. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. IV. Título.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Título da Dissertação Nº 163/2019

GOETHE E NEWTON: A TEORIA DAS CORES PARA A DISCUSSÃO ENTRE ARTE E CIÊNCIA

por

Camila Regina Rosa Kops

Esta dissertação foi apresentada às 14:00 em 25/11/2019 como requisito parcial para a obtenção do título de MESTRE EM ENSINO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, com área de concentração em Ciência, Tecnologia e Ensino, do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia. O(a) candidato(a) foi arguido(a) pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo citados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Dr. Josie Agatha Parrilha da Silva (UEPG)

Prof. Dr. Rosemari Monteiro Castilho Foggiatto Silveira (UTFPR)

Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin (UTFPR) Prof. Dr. (UTFPR) – Eloiza Aparecida Ávila

de Matos

Prof. Dr. Eloiza Aparecida Ávila de Matos (UTFPR)

Coordenadora do PPGECT

A FOLHA DE APROVAÇÃO ASSINADA ENCONTRA-SE NO DEPARTAMENTO DE REGISTROS ACADÊMICOS DA UTFPR – CÂMPUS PONTA GROSSA

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pois está sempre presente em minha vida, me dando forças nos momentos tristes e felizes, e na elaboração desta pesquisa.

À Professora Drª Eloiza Aparecida Silva Avila de Matos e ao Professor Dr. Awdry Feisser Miquelin, por terem acreditado em mim. Com suas orientações, cresci como pessoa e profissionalmente, tornaram-se as pessoas nas quais irei me espelhar pelo

resto de minha carreira.

A todos os professores das disciplinas ministradas ao longo do mestrado, foi somente por seus esforços e preocupação conosco que foi possível chegar até aqui.

Também aos professores que fizeram parte da minha banca, que contribuíram para o enriquecimento deste trabalho.

À minha família, pelo companheirismo, compreensão e apoio mesmo antes de iniciar o mestrado, sempre incentivando as minhas decisões e desafios.

Em especial, às minhas amigas, Camila Gonçalves Klipan, Thais Angélica Castanho e Eliziane Ribeiro, por sempre estarem presentes em minha vida, pela amizade,

confiança, incentivo, cooperação e apoio.

A meu esposo, que sempre se mostrou compreensivo pelas minhas faltas, por motivos de estudos. Sempre me incentivando para conseguir concluir. A nossa

família que se forma a partir de agora, com a chegada da Isis.

A meus pais, que sempre me instigaram aos estudos.

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Assim como, por diversas razões, o artista deve respeitar o diletante, assim também, em questão científicas, o amador é capaz de contribuir om algo útil e agradável. Mais do que a arte, as ciências se baseiam na experiência, e muitas pessoas estão preparadas para ela. (GOETHE, Johann, 1940)

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RESUMO

KOPS, Camila Regina Rosa. Goethe e Newton: A Teoria das Cores para a discussão entre arte e ciência. 2019. 108 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciência e Tecnologia), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2019.

Esta dissertação destaca o Estudo das Cores de Newton e Goethe e analisa como ambas são abordadas no curso de Licenciatura em Artes Visuais numa Universidade Estadual do sul do Paraná. O objetivo geral foi analisar o Estudo das Cores de Goethe e Newton e suas contribuições no ensino de arte para compreensão da natureza da ciência. Quanto à abordagem, a pesquisa caracteriza-se como qualitativa, de natureza aplicada e, quanto aos procedimentos, um estudo de caso. Tem-se como universo de pesquisa 21 acadêmicos do 1° ano e 13 acadêmicos do 4° ano, de 2017. Para obtenção dos dados optou-se pelo uso de 3 questionários abertos (dois diagnósticos, inicial e final, e um para avaliação de conteúdo) e desenhos elaborados pelos acadêmicos. Os resultados obtidos nos 1° e 2° encontros com o 1° ano apontaram que: o Estudo das Cores é importante para a carreira profissional, evidenciou-se a dificuldade em esboçar uma relação entre ciência e cores, a maioria deles conhecia apenas o Estudo das Cores de Newton, Goethe é mais citado por sua obra literária, houve dificuldade em relacionar o estudo interdisciplinar entre Goethe e Newton. No 3° encontro, com o 4° ano, registraram que: o Estudo das Cores no curso de Artes Visuais é visto de maneira sucinta, Goethe é pouco mencionado ao longo do curso, têm maior conhecimento do Estudo das Cores de Newton; também indicaram que ambos estudos são importantes e se complementam e elencaram exemplos de práticas possíveis em sala de aula. Em vista desses apontamentos, organizou-se um jogo – Estudo das Cores: Goethe e Newton, a partir do software de criação de jogos digitais, Construct 2, para expor os dois estudos de maneira lúdica e complementar, a fim de elucidar as relações interdisciplinares, complementares, visando a melhor compreensão da natureza da ciência. O jogo foi configurado como produto educacional desta dissertação. Os acadêmicos consideram-no um instrumento pedagógico e didático de grande valia para auxiliar no Ensino das Cores no Ensino Fundamental. Os dados mostram que há necessidade de dar mais ênfase sobre o Estudo das Cores no curso de Artes Visuais. Por serem futuros professores trabalharão com o fenômeno Cor, que é algo subjetivo e depende da sensibilidade dos olhos para ser captada. Os acadêmicos consideraram que, aprender sobre os Estudos das Cores de Goethe e Newton em conjunto, auxilia na compreensão de como os cientistas e artistas utilizam a criatividade e a imaginação como recurso para explorar a compreensão de experimentos científicos e artísticos.

Palavras-chave: Arte e Ciência. Estudo das Cores. Goethe e Newton. Ensino de Arte.

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ABSTRACT

KOPS, Camila Regina Rosa. Goethe and Newton: The theory of color for the discussion between art and Science. 2019. 108 f. Dissertation (master’s in science and Technology Teaching), Federal Technology University - Paraná. Ponta Grossa, 2019.

This dissertation highlights the Study of Colors by Newton and Goethe and analyzes how both are addressed in the Visual Arts Degree course at a State University in southern Paraná. The overall objective was to analyze Goethe and Newton´s Study of Colors and their contributions to art teaching for understanding the nature of Science. Regarding the approach the research is characterized as qualitative, of applied nature, and as the procedures a case study. It has as research universe 21 students from the 1st year and 13 students from the 4th year, 2017. To obtain the data, we chose to use 3 open questionnaires (two diagnoses: initial and final and one for content evaluation). And drawings prepared by academics. The results obtained in the 1 st and 2nd meetings with the 1 st year indicated that the Study of Colors is important for the professional career; the difficulty in sketching a relationship between science and color was evidenced; most of them knew only Newton’s Color Study; Goethe is best cited for his literary work; There was difficulty in relating the interdisciplinary study between Goethe and Newton. At the 3rd meeting, with the 4 th year, they commented that the Study of Colors, in the Visual Arts course, is seen in a brief way; Goethe is little mentioned throughout the course; have greater knowledge of Newton’s Color Study; indicated that both are important and complement each other; listed examples of possible classroom practices. In view of these notes, a game was organized – Study of Colors: Goethe and Newton, from the digital game creation software, Construct 2, to expose both studies in a playful and complementary way, in order to elucidate interdisciplinary relations, complementary aiming at a better understanding of the nature of science. The game was configured as an educational product of this dissertation. Academics consider it a valuable pedagogical and didactic instrument to assist in the Teaching of Colors in Elementary School. The data show that there is a need for more emphasis on the Study of Colors in the Visual Arts course, as future teachers will work with the color phenomenon, which is subjective and depends on the sensitivity of the eyes to be captured. Scholars have found that learning about Goethe and Newton’s Color Studies together helps in understanding how scientists and artists use creativity and imagination as a resource for exploring understanding of experiments.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Johann Wolfgang von Goethe ... 19

Figura 2 – Ilustração da Doutrina das Cores ... 25

Figura 3 – Círculo Cromático ... 26

Figura 4 – O olho humano ... 28

Figura 5 – Raios de prismas cromáticos ... 29

Figura 6 – Imagens Preta e Branca para o olho ... 30

Figura 7 – Retrato de Sir Isaac Newton... 31

Figura 8 – Experimentações de Newton com o Prisma ... 34

Figura 9 – Página 11 – Livro de arte: experimento de Newton...35

Figura 10 – Página 277 – Livro de arte: Refração da luz...35

Figura 11 – Disco de Newton ... 38

Figura 12 – Brasil Político... 41

Figura 13 – Desenho do acadêmico 3 ... 74

Figura 14 – Desenho do acadêmico 4 ... 75

Figura 15 – Desenho do acadêmico 6 ... 76

Figura 16 – Desenho do acadêmico 16 ... ...76

Figura 17 – Quadro de desenhos dos acadêmicos, a favor da Doutrina das Cores de Goethe... 77

Figura 18 – Quadro de desenhos dos acadêmicos, a favor do Estudo das Cores de Newton ... 80

Figura 19 – Quadro de desenhos dos acadêmicos, neutros ao Estudo das Cores .. 80

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Questão 1, Primeiro e Segundo encontro ... 60

Gráfico 2 – Questão 2, Primeiro e Segundo encontro ... 62

Gráfico 3 – Questão 3, Primeiro e Segundo encontro ... 63

Gráfico 4 – Questão 4, Primeiro e Segundo encontro ... 65

Gráfico 5 – Questão 5, Primeiro e Segundo encontro...66

Gráfico 6 – Questão 1, Terceiro encontro ... 68

Gráfico 7 – Questão 2, Terceiro encontro ... 69

Gráfico 8 – Questão 3, Terceiro encontro...70

Gráfico 9 – Questão 4, Terceiro encontro...71

Gráfico 10 – Questão 5, Terceiro encontro...72

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...11

2 ESTUDO DAS CORES...17

2.1 JOHANN WOLFGANG VON GOETHE ... ...18

2.2 ISAAC NEWTON……….31

2.2.1 Índice de Refração...32

2.3 O OUTRO LADO DA CIÊNCIA...39

2.4 DISCUSSÃO SOBRE A COR: A RELAÇÃO ENTRE ARTE E CIÊNCIA...42

2.4.1 A Utilização da Cor...44

3 METODOLOGIA E ANÁLISE DOS DADOS ... ...48

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA... ... 49

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ... 50

3.3 ASPECTOS ÉTICOS... ... ...51

3.4 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO E CURSO...51

3.5 MOMENTOS DA PESQUISA DE CAMPO...52

3.5.1 Primeiro Momento - Contato com a Universidade...52

3.5.2 Segundo Momento - Aplicação com os Acadêmicos do Primeiro Ano ...52

3.5.3 Terceiro Momento - Aplicação com os Acadêmicos do Quarto Ano...54

3.5.3.1 Proposição do produto educacional...54

3.5.3.1.1 Construct 2...55

3.5.3.1.2 Jogo - Estudo das Cores: Goethe e Newton...55

3.5.3.1.3 Caracterização do jogo...56

3.5.3.2 Procedimentos de análise...58

3.5.3.3 Análise dos dados coletados - primeiro encontro...59

3.5.3.3.1 Análise dos dados coletados - segundo encontro...67

3.5.3.3.2 Análise dos dados coletados - desenhos...73

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... ...82 REFERÊNCIAS ... ...85 APÊNDICE A...88 APÊNDICE B...90 APÊNDICE C...92 APÊNDICE D...97 APÊNDICE E...101

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa engloba a Doutrina1 das Cores de Johann Wolfgang van

Goethe2, conhecido literário alemão, e o Estudo das Cores de Isaac Newton3, cientista

renomado. O Estudo das Cores de Newton, de forma resumida, associa a luz solar como sendo a responsável pelo surgimento das Cores. Em seus experimentos, depois de alguns ajustes fundamentais, Newton observou em um ambiente escuro e fechado, uma pequena faixa de passagem de luz adentrando o ambiente. Nessa experiência, percebeu que se dissolvia a luz solar nas sete Cores do arco-íris, através de um prisma, e julgou que as Cores eram correspondentes ao tamanho da partícula de luz. Já Goethe, em suas análises, não se limitou em reproduzir apenas os experimentos de Newton, em uma sala escura, pois não concordava com seus resultados. Estudou as Cores em ambientes abertos, com mais luz do que escuridão, e com essa experiência, Goethe observou que resultavam, dessa maneira, as Cores

1 Os estudos feitos por Goethe são abordados nesta pesquisa como Doutrina, por usar a tradução da

palavra “Farbenlehre”. Já, as pesquisas de Newton, são chamadas de Estudos.

2 Johann Wolfgang von Goethe (1749 - 1832) foi um escritor alemão e pensador que também fez

incursões pelo campo da ciência. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do romantismo europeu, nos finais do século XVIII e início do século XIX. Juntamente com Friedrich Schiller, foi um dos líderes do movimento literário romântico alemão Sturm und Drang. De sua vasta produção fazem parte: romances, peças de teatro, poemas, escritos autobiográficos, reflexões teóricas nas áreas de arte, literatura e ciências naturais. Além disso, sua correspondência epistolar com pensadores e personalidades da época é grande fonte de pesquisa e análise de seu pensamento. Através do romance Os Sofrimentos do Jovem Werther, Goethe tornou-se famoso em toda a Europa no ano de 1774. Mais tarde, com o amadurecimento de sua produção literária, e influenciado pelo também escritor alemão Friedrich Schiller, Goethe se tornou o mais importante autor do Classicismo de Weimar. Goethe é até hoje considerado o mais importante escritor alemão, cuja obra influenciou a literatura de todo o mundo.

Disponível em: <https://conhecimentos-verdadeiros.webnode.com/products/biografia-goethe/.> Acesso em: 01 mai. 2018.

3 Isaac Newton - Cientista inglês (1643-1727). Um dos maiores gênios da história. Trouxe uma nova

compreensão do Universo e dos fenômenos que ocorrem na Terra e nas estrelas. Ele nasceu em Woolsthorpe, Lincolnshire, Inglaterra, e estudou no Trinity College, em Cambridge. Antes de completar 24 anos de idade, ele já havia criado o teorema dos binômios e o cálculo funcional, descoberto o espectro da luz e escrito sua Teoria da Gravitação. Há quem afirme que ele teria elaborado esta teoria em 1665 ao observar a queda de uma maçã. Newton também inventou o telescópio refletor. No telescópio refletor, a luz não era simplesmente ampliada, mas refletida diretamente para o olho da pessoa por meio de um espelho grande e côncavo e de um espelho pequeno e plano, sem passar por lentes de vidro. Em 1667, com apenas 25 anos de idade, Newton foi eleito membro do Trinity College. Enquanto esteve em Cambridge, desenvolveu as famosas Três Leis do Movimento, uma façanha espetacular para uma pessoa ainda tão jovem. Em 1687, Newton publicou seus Princípios Matemáticos da Filosofia Natural. Neste trabalho, ele demonstrou a estrutura do Universo, o movimento dos planetas e calculou a massa do Sol, dos planetas e de algumas luas. Se Colombo e Magalhães haviam provado que a Terra era esférica, Newton demonstrou que a Terra não é uma esfera perfeita, mas um esferoide oblongo – ligeiramente achatada nos pólos pela força centrífuga de sua própria rotação. Seu trabalho teórico com luz e telescópios foi combinado num único compêndio, intitulado Óptica, publicado em 1704. Disponível em: <https://www.sohistoria.com.br/biografias/newton/> Acesso em: 21 jan. 2019.

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complementares, resultantes do experimento de Newton. Diferente de Newton, Goethe considerou a luz e a escuridão essenciais para o surgimento das Cores.

Contempla-se, neste estudo, as peculiaridades encontradas nos Estudo das Cores de Goethe e de Newton. Sobre a comparação entre os Estudos Heisenberg (2015, p.211) salienta que:

Tornou-se claro, a todos aqueles que se ocuparam das doutrinas goethiana e newtoniana das cores nos tempos atuais, que obviamente não se ganha muito conhecimento mediante a investigação da pergunta sobre qual das duas doutrinas seria verdadeira ou falsa. Entretanto, em cada questionamento específico uma decisão deve ser tomada e, com isso, nos lugares onde há efetivamente uma oposição o método das ciências naturais de Newton torna-se vitorioso sobre a força intuitiva de Goethe. Mas, no fundo, ambas as teorias tratam de coisas distintas e permanece a pergunta sobre como é possível que tantos objetos distintos possam ser vinculados ao conceito.

De fato, ambos os Estudos se complementam e não se anulam, ainda que Goethe acreditasse, pois por trinta anos, até os últimos dias de sua vida, tentou mostrar que estava certo e Newton, errado. Os dois Estudos sobre as Cores se complementam, pelo fato de Goethe começar suas pesquisas onde Newton terminava. Ambos possuíam visões corretas sobre o fenômeno, sob maneiras de observações diferenciadas. Goethe e Newton, e seus respectivos Estudos, foram importantes para o desenvolvimento da ciência, cada um com o seu propósito. Por exemplo, Goethe defendia que a cor existia enquanto fenômeno além da física e preocupava-se com os aspectos fisiológicos na visão cromática. Já Newton, “analisou os fenômenos da dispersão e da composição da luz branca” (SILVEIRA, 2015, p.23). Brito e Reis (2016, p.297) argumentam sobre a importância de conhecer o contexto histórico de ambas as “Teorias”4:

As teorias de Goethe e Newton possuem uma relação, não necessariamente antagônicas, mas de certo modo complementar, tendo em vista que a teoria goetheana contempla aspectos que não são compreendidos pela teoria de Newton, como a interpretação das cores a partir das sensações causadas. Devemos levar em consideração que estas teorias partem de visões de mundo completamente distintas, baseadas em suas próprias filosofias e derivadas da necessidade pessoal de ambos.

Estes aspectos da teoria de Goethe e Newton são importantes para fazermos uma abordagem contextual do Ensino de Ciências em que o conhecimento da ciência não se basta em si mesmo, mas só ganha legitimidade na medida

4 Esta dissertação irá mencionar as pesquisas sobre as Cores de Newton como: Estudo das Cores e

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em que permite maior reflexão e compreensão do mundo onde a ciência é construída. Uma leitura científica da cultura, bem como uma leitura cultural da ciência são fundamentais para uma formação cidadã de estudantes da escola básica.

Ao pensar nesses aspectos de leitura científica da cultura e leitura cultural da ciência é que se constitui o problema de pesquisa: como a discussão do Estudo das Cores de Newton e Goethe no ensino de arte contribui para a compreensão da Natureza da Ciência? Esta pesquisa tem como objetivo geral: analisar a Teoria das Cores de Goethe e Newton e suas contribuições no ensino de arte para compreensão da Natureza da Ciência. E como objetivos específicos: investigar sobre a questão cor; levantar as percepções dos acadêmicos em relação à Teoria das Cores; averiguar de que maneira os profissionais de Artes Visuais estão trabalhando com a Teoria das Cores; elaborar um produto educacional destinado a ensinar a Teoria das Cores, para facilitar a compreensão da relação arte e ciência no Ensino Fundamental.

Para maior divulgação dos Estudos sobre as Cores e para usar a tecnologia de maneira a somar com a educação, se produz um jogo de natureza educacional, como ferramenta para aprimorar os conceitos dos Estudos de maneira lúdica, utilizando a Construct 25 para a produção do jogo. Com essa ferramenta é possível

alterar as questões a cada jogo, multiplicando conhecimento a cada questão, no jogo proposto aqui, as perguntas são sempre voltadas ao Estudo das Cores.

Sobre a quem pode interessar o Estudo sobre as Cores, o próprio Goethe justifica em sua obra, na introdução de Doutrina das Cores:

Nosso trabalho será bem-vindo ao técnico e ao colorista. Pois são justamente aqueles que refletiram sobre o fenômeno das cores e não se contentaram com a teoria até então válida: foram os primeiros a constatar a insuficiência da doutrina de Newton. Não é indiferente o lado pelo qual se aborda um saber, uma ciência, e faz muita diferença a porta por onde se entra. O fabricante, homem originalmente prático, que todos os dias têm inevitavelmente de lidar com as cores, cuja convicção é sensível ao lucro ou 5

De forma extremamente resumida, a Construct é um software criado para desenvolvimento de jogos digitais, popularmente conhecido como Game Engine. Ela foi projetada especificamente para criação de jogos 2D, baseados em HTML 5, no qual não se exige do usuário o conhecimento de programação, apenas lógica e que permite exportar para diversas plataformas. Toda a programação de um jogo na Construct é feita de modo visual utilizando o conceito de evento e ações, onde para cada evento se tem uma ou mais ações. Uma das suas principais características é o desenvolvimento extremamente rápido de um jogo, pois ela vem nativamente preparada com componentes e comportamentos prontos para uso. Basta criar um objeto, adicionar um comportamento para ele e programar seus eventos e ações, tudo de forma visual. Disponível em: <https://producaodejogos.com/conhecendo-construct-2/> Acesso em: 05 jan. 2019.

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prejuízo, à perda de tempo e dinheiro, e que deseja progredir e igualar ou ainda superar o que foi feito por outros. (GOETHE, 2013, p.75-76)

Na convicção de Goethe não bastava a explicação de Newton sobre as Cores surgirem da luz branca. Por isso, Goethe começou a fazer experimentos a partir das pesquisas feitas por Newton. O Estudo das Cores de Newton é o mais referido e muitas vezes só ele é estudado de fato.

Bach Junior (2016) explica o motivo pelo qual apenas Newton é mencionado:

Por ter se contraposto a Newton em sua teoria das cores, tanto a metodologia de Goethe quanto as suas obras científicas e na ótica, tiveram lenta aceitação ao longo da história da ciência, uma vez que não coadunaram com o paradigma da sua época. (BACH JUNIOR, 2016, p. 118)

Enquanto isso, a Doutrina das Cores de Goethe às vezes é citada, sendo possível nem ser mencionada. Em relação ao Estudo das Cores, o fato de serem bem aceitos pela sociedade os estudos de Newton, Mbarga e Fleury, (2016, p.95-96) exemplificam que: “em essência, isso significa que se um pensador grego famoso e de prestígio disse alguma coisa, então ela é válida para sempre”. É o que ocorre com o Estudo das Cores de Newton, por se tratar de uma figura conceituada ao meio científico, seu estudo é sempre referenciado.

No que se refere aos estudos cromáticos, os trabalhos de Newton são considerados atualmente um marco no desenvolvimento da ciência da cor. A chamada Ciência da cor contida na Teoria da Cor e é definida como o estudo dos aspectos físicos da cor. (SILVEIRA, 2015, p.24)

E, assim, Goethe escrevendo de maneira impolida, ou seja, tentando provar que Newton estava errado, sobre os experimentos de Newton, está em demérito, pois ambos trazem conhecimentos importantes para o Estudo das Cores.

O público alvo desta pesquisa são os acadêmicos do primeiro e último ano do curso de Licenciatura em Artes Visuais da instituição pesquisada, tem-se como procedimento um estudo de caso. Escolheu-se as duas turmas, para investigar o desenvolvimento do pensamento sobre as Cores, observando como entraram e como a formação neste curso mudou esse contexto, caso haja mudanças realmente.

Há o fato de que o curso de Artes Visuais, na instituição pesquisada, trabalha com utilização das Cores, ao longo dos quatro anos propostos pela grade curricular,

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com os aspectos subjetivos e objetivos em determinadas obras, com a criatividade, e assim por diante. E mesmo neste contexto, não se exploram as essências trazidas na Doutrina das Cores de Goethe, assim como outros cursos o fazem, como arquitetura, publicidade e outros. Determina-se este tema, visando propiciar subsídios para Estudos de Cor relacionados às Artes Visuais e Natureza da Ciência.

A Natureza da Ciência (NdC), “possibilita a discussão de questões sobre a ciência, a forma como ela é produzida e suas características, conhecimentos importantes quando falamos de um Ensino de Ciência para a cidadania” (DURBANO, 2015, p.14).

Trata-se de mostrar aos acadêmicos a importância de verem os cientistas além de sua profissão, vê-los como seres humanos, que assim como qualquer outro, podem errar e/ou agir por interesses próprios. Transparecer que, muitas vezes, a ciência vincula-se a benefícios imediatos, com experimentos que irão beneficiar uma pequena parcela da população e que, sistematicamente, as pessoas que têm maior poder aquisitivo, iriam se beneficiar e a classe mais pobre, nem teria acesso.

Se pararmos para pensar em educação, principalmente a pública, onde os alunos mostram-se carentes em diversos aspectos, estudar a Doutrina das Cores de Goethe é preocupar-se com este indivíduo, na maneira como ele vê e sente o mundo. Mostrar para ele que houve uma pessoa que teve coragem de contrapor estudos de um cientista renomado, e que conseguiu apresentar resultados que também se tornaram importantes, os quais não foram abordados na pesquisa anterior, e que a complementam. É trabalhar Natureza da Ciência (NdC), pois instiga-se o aluno a desenvolver sua criatividade, pois ele não deve aceitar tudo o que estuda como uma verdade absoluta, e que algo é impossível de mudar e/ou evoluir.

Com essa reflexão o trabalho proposto busca referenciar a Doutrina de Goethe sobre as Cores, o qual cai em descrédito, por ter sido produzida com um método considerado não científico, diferente dos Estudos das Cores de Newton. Newton, por se tratar de um ilustre cientista, tem seu Estudo das Cores como o mais referenciado e estudado até hoje. Muitos nem questionam esse motivo e/ou nem sabem da existência da Doutrina das Cores de Goethe. E os que já ouviram falar, ainda assim, continuam apenas fazendo menção aos Estudos de Newton.

O capítulo 2 traz um referencial teórico focado na Cor, salientando que ela não tem existência material, ela é uma sensação, e que há alguns efeitos luminosos que fazem surgir a Cor. Como a Cor luz, a qual Newton estudava, e a Cor pigmento,

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que Goethe empregava em seus experimentos. Este capítulo se faz importante para entender a Cor, trabalhando com a alfabetização científica e tecnológica e a Natureza da Ciência.

No capítulo 3, descreve-se a metodologia deste trabalho. Compõe-se: Análise do Discurso, pesquisa de natureza aplicada, com abordagem qualitativa, quanto aos procedimentos um estudo de caso, como coleta de dados empregam-se questionários e desenhos.

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2 ESTUDO DAS CORES

No ensino básico, geralmente há referência apenas ao Estudo das Cores de Newton e, ainda de maneira simplificada, sem mencionar que ele teve que refazer muitas vezes o mesmo experimento, até conseguir colocar todos os aparatos utilizados em seu experimento, na posição exata, para chegar à conclusão conhecida hoje. Silva e Martins (2003, p.56) descrevem como se desenvolveu o experimento de Newton:

Em 1672 Newton apresentou seu conceito de que a luz é “uma mistura heterogênea de raios com diferentes refrangibilidades” cada cor corresponde a uma diferente refrangibilidade. Apresentou também vários experimentos para corroborar sua teoria. No primeiro, um feixe de luz solar passa através de um prisma, formando uma mancha em uma parede. Newton notou que a mancha não era circular como o disco solar – ela era alongada. Para explicar este efeito, assumiu que a luz branca do Sol era composta de muitos raios diferentes. Cada tipo de raio seria refratado em uma direção diferente e seria associado a uma cor diferente.

Depois de vários experimentos Newton fez o Experimentum Crucis, neste a luz passa por dois prismas. “O 1º prisma produzia um espectro colorido e o segundo era usado para estudar o desvio da cor. O experimento mostrou que cada cor não era separada pelo 2º prisma e que cada cor era desviada em um ângulo diferente” (SILVA; MARTINS, 2003, p. 56). Silva e Martins (2003, p, 59) comentam sobre um artigo produzido por Newton, onde Newton apresenta a sua conclusão correta, após vários experimentos:

Em seu artigo de 1672, Newton já havia chegado à conclusão “correta”: cada cor espectral tem propriedades fixas e imutáveis; e cada cor tem uma refrangibilidade específica. Essa ideia de Newton não é intuitiva. Ela não surgiu automaticamente em sua mente, mas sim lentamente, após um trabalho intenso. O ponto principal foi descobrir se as cores podem ser transformadas e criadas ou não. Este é o objetivo principal do Experimentum Crucis de Newton.

Goethe e Newton se diferem em seus conceitos mais simples, Heisenberg (2015, p. 209-210) discorre sobre essas diferenças:

Na teoria Newtoniana, o fenômeno mais simples é o raio de luz monocromático estritamente delimitado, depurado das luzes de outras cores e outras direções mediante dispositivos complexos. O conceito mais simples

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da doutrina de Goethe é a clara luz do dia que aflui a nós. Esse fenômeno fundamental da teoria newtoniana, tão estranho à nossa intuição, abre assim à matemática e à arte da medição o acesso aos fenômenos ópticos.

A Doutrina das Cores de Goethe dificilmente é citada, e quando é lembrada, na sua maioria é para fazer uma comparação negativa, quando comparada ao Estudo das Cores de Newton.

São vários os nomes de estudiosos sobre a Cor, como por exemplo: “Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Johann Wolfgang von Goethe, Michel-Eugène Chevreul”, (SILVEIRA, 2015, p. 4), entre outros. Mas, qual o motivo de tantos estudos referentes a um tema que parece ser bastante simples? Silveira, (2015, p. 15) explica um pouco dessa complexidade.

A cor participa da construção simbólica perspectiva de todas as pessoas, porém essas pessoas podem sentir essa construção de maneiras diferentes. Um espectador de televisão tem na cor um reforço para o canal de comunicação da informação que ele precisa perceber e entender nos acontecimentos da novela; uma criança ainda não tem toda a paleta de cores por onde a sua cultura transita; mas um idoso não só a tem como a manipula para se comunicar.

A Cor está ligada ao desenvolvimento cultural da população. Diversas áreas estudam os efeitos das Cores, como a publicidade, moda, comunicação, área da educação, prevenção de acidentes, medicina, arte, ciência, entre outras.

No Estudo das Cores de Goethe e de Newton, denota-se a preocupação em ordenar as Cores de maneira que elas fiquem organizadas conforme suas convicções, um pelo lado matemático e o outro pelo fisiológico. É importante o conhecimento de ambos, pelo fato de que os dois Estudos se preocupam com o surgimento e utilização da Cor, e as organizam de forma a expressar suas complexidades, cada um à sua maneira, porém um não é mais importante que o outro. Por isso os tópicos seguintes focam-se na Doutrina e no Estudo das Cores de Goethe e de Newton.

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Figura 1 – Johann Wolfgang von Goethe

Fonte: <https://www.martin-missfeldt.com/art-pictures/speed-paintings-2/johann-wolfgang-von-goethe.php> (2007)

Goethe (1749-1832) (Figura 1) foi um importante romancista, dramaturgo e filósofo alemão. Pertencia a uma família rica, estudou com o auxílio do seu pai e por tutores. Herdou de seu pai o interesse pelas artes e a ciência. Sua mãe, também, teve uma grande participação para seu gosto eclético, fazia leituras de estórias todas as noites para ele, despertando sua criatividade. Goethe cursou direito (1765-68), nessa mesma época mostrou interesse pela poesia, gravura em metal, xilogravura, desenho e pintura. “Em sua vida acadêmica fez amizades com acadêmicos de medicina, o que fez com que ele se interessasse por temas científicos, logo começou a frequentar aulas de anatomia” (ROSA, 2012, p. 13). Seu interesse pelas artes começou desde

muito jovem, tinha afeição por pinturas e desenhos. “Seu encanto por arquitetura começa com uma viagem à Itália, também nesta viagem há o encontro determinante entre a ciência e a arte em sua vida” (TEIXEIRA; KAMITA, 2015, p. 14).

Em 1786/88, Goethe viaja para Itália, nessa viagem ele teve contato com a arquitetura, obras de artes, culturas gregas e romanas, Renascimento, entre outros. Na Itália visitou, muitas vezes, a Catedral Gótica de Strasburg, a qual o deixou surpreendido pela sua grandiosidade, “Goethe pesquisa o âmbito da arte e o da ciência, e deixa sobre esta experiência um magnífico relato em Viagem à Itália” (POSSEBON, 2009, p. 8).

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Nesta viagem começaram a germinar as ideias que iriam conduzi-lo à elaboração de uma teoria das cores nos anos seguintes. Seu interesse pela arte e seu espírito criador orientaram sua pesquisa numa direção peculiar e com um tipo de aproximação aos fenômenos cromático distintos da ciência da sua época.

Interessa a Goethe uma explicação, um entendimento do modo como suscitam as cores, e que este venha a servir a todos os campos do conhecimento em que os homens tenham que lidar com o fenômeno cromático, e principalmente ao domínio da produção artística. Ele conhece a teoria vigente sobre as cores elaborada por Newton um século antes, mas ela não o satisfaz. (POSSEBON, 2009, p.9)

Viajar para Itália, fez Goethe perceber que os artistas, até então, não se mostravam preocupados com combinações das Cores, antes de iniciarem seus trabalhos, também não tinham nenhum método a ser seguido. Desde então, sentiu-se na necessidade de produzir um estudo mais profundo sobre as Cores. “Em suas pesquisas buscou mostrar que as Cores não são elementos da luz, e sim das trevas em conjunto com a luz, ou seja, a mistura do claro e do escuro” (ROSA, 2012, p.30). Para Goethe não bastava a explicação de Newton, sobre as Cores surgirem da luz branca. Defendia a ideia de que a Cor teria existência além da física. “Para ele não bastava concluir que a Cor surgia da luz branca, mas também a influência dos aspectos fisiológicos na visão cromática” (SILVEIRA, 2015, p. 25). Goethe e Newton tiveram métodos e critérios distintos em seus Estudos.

Teixeira e Kamita (2015, p. 36) comentam que “Goethe relaciona a arte e a ciência em suas pesquisas sobre as Cores, mas especificamente, em sua “teoria”, intitulada: Doutrina das Cores”. Escreveu o livro, Zur Farbenlehre6, publicado em 1810.

“A Doutrina das Cores oscila entre um discurso científico e uma linguagem poética” (GOETHE, 2013, p.49).

A questão da pintura na Farbenlehre compreende que a sensibilidade artística é reivindicada como princípio de investigação, em um pulso comum com a ciência, em um nível onde não se separam, em que não são somas de dimensões separadas, são uma mesma coisa. Arte e ciência, desta maneira, não podem ser unidas, apenas reunidas após uma separação. (TEIXEIRA e KAMITA, 2015, p. 43)

O estudo das obras de Goethe em relação às Cores tem grande importância artística e científica e, segundo Einführung (2012, não p.), “Goethe lançou um foco

6 Todas as traduções a que tive acesso (inglesa, espanhola e italiana) costumam verter Farbenlehre

por Teoria das Cores”. Embora mesmo no Brasil seja conhecida com esse título, procurei ser mais fiel a palavra Lehre, traduzida aqui por “Doutrina” (GIANNOTTI in GOETHE, 2013, p.7).

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diferente para o estudo científico, fugindo das abordagens tradicionais sobre o assunto Cor”.

Sua aversão a experimentos com lentes e prismas, no interior de um quarto escuro, ilustra bem essa nova postura diante do fenômeno cromático. A investigação ao ar livre, onde o olhar reencontra a natureza, é a única que parece fasciná-lo. (GOETHE, 2013, p. 45)

Goethe escreve sobre ciência de maneira poética, porém, com conhecimento científico. Em um artigo, Bach Junior (2016, p.126) explica o que seria desenvolver ciência para Goethe:

Significa colocar o próprio ser humano numa dinâmica evolutiva de suas faculdades cognitivas e perceptivas. Sua ciência de base fenomenológica pressupõe, então, um processo de educação intrínseco, onde o cogito cartesiano é substituído por outra referência ontológica. Na fenomenologia da natureza, o eu penso o fenômeno não está separado do eu participo no fenômeno. O primeiro grau de participação no fenômeno acontece via percepção. A ciência fenomenológica exige a instrução dos sentidos para a experiência da evidência da essência.

Goethe não elabora seus experimentos apenas utilizando prismas e lentes, pois ele propõe “uma interpretação das Cores a partir do órgão da visão” (GOETHE, 2013, p. 45). Goethe era a favor de experimentos sem aparatos de difícil acesso, gostava de utilizar objeto simples, que qualquer pessoa teria a possibilidade de conseguir, para realizar seus experimentos. Visava buscar as sensações que as Cores traziam para o indivíduo, e para isso estudava a luz e a escuridão. Segundo Possebon (2009, p. 54), Goethe estudava a turvação (trübung), o arque fenômeno, a luz e as trevas.

Turvação é um conceito básico utilizado por Goethe e não tem a conotação que tem em português, de sujeira. Ele indica, mais no sentido de opacidade. Portanto, turvação, para ele, está relacionada diretamente com a materialidade. Assim, todo meio que pode ser atravessado pela luz tem um grau de turvação. O ar, por exemplo, não é absolutamente transparente, sua materialidade, embora rarefeita, faz com que enxerguemos objetos distantes com cores alteradas. O vidro também tem seu grau de turvação, por mais cristalino que seja, assim como a água límpida, e assim por diante. A plena transparência só seria possível na ausência total da matéria.

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Ao estudar a turvação, Goethe considera ainda mais errado o Estudo das Cores de Newton, pois, para ele, jamais uma luz branca poderia se transformar em Cores mais escuras que ela mesma. Além de estudar as Cores, com uma postura científica distinta, busca deixar de lado “preposições e pré-julgamentos, para com autoisenção se aproximar do fenômeno. Deixa valer plenamente a percepção sensorial, e do seu pensar afora busca encontrar a explicação para a experiência observada” (POSSEBON, 2009, p. 24).

As sensações que Goethe valorizava tanto foram denominadas por ele de “Efeito-Sensível-Moral da Cor7”. Esse Efeito deve ser levado em conta para

estudantes das Cores de diversas áreas do conhecimento. A “fenomenologia de Goethe aprimorou a relação do ser humano com o sentido visual, isso o coloca em oposição aos princípios de Newton, o qual fazia a matematização da natureza, Goethe o criticou por isso” (BACH JUNIOR, 2016, p.126). “A análise fenomenológica de Goethe é uma análise conceitual e não pode nem definir a física, nem a contradizer” (GOETHE, 2013, p.51). Goethe não tinha a intenção de definir a cor fisicamente e sim estudar o efeito que a cor gera no olho. Repetiu diversas vezes os seus experimentos, assim como experimentou em diversas condições ambientais. “A preocupação principal de Goethe era pesquisar o universo das cores como fenomenológico” (BACH JUNIOR, 2016, p. 119). Sobre o aspecto fenomenológico, Bach Junior (2016, p.118) explanou:

Como fenomenologia da natureza, o método de pesquisa de Goethe tem implicação no campo da educação, ao fundamentar um processo de aquisição do conhecimento que não busca a dicotomização entre sujeito e objeto. Ao enfatizar a formação do sujeito em seu aperfeiçoamento em relação às impressões sensoriais, a fenomenologia da natureza possui desdobramentos para a prática educativa ao percorrer processos paradigmáticos diferenciados em comparação ao reducionismo dos modelos matemáticos, herdados do passado como referências referendas e estabelecidas. Nestes termos, a fenomenologia da natureza se apresenta como processo complementar aos métodos científicos vigentes, evitando, assim, absolutizações e unilateralidades presentes em qualquer formação reducionista. Deste modo, este estudo vem colaborar na proposição de um

7 “Efeito-Sensível-Moral das Cores” – Goethe afirma que as cores têm caráter próprio, que cada cor

tem uma atuação característica sobre o psiquismo humano: elas nos causam estados anímicos específicos e provocam em diferentes indivíduos sensações, reações e comportamentos similares. E ainda que se possa tomar a cor (na pintura, por exemplo) sob uma perspectiva simbólica, uma análise mais aprofundada revelará sempre um elemento objetivo, que é o caráter de cada cor, combinado ao simbólico denotado. Fonte: POSSEBON, Ennio. A teoria das cores de Goethe. 2009. Disponível em:

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processo educativo dialógico, tendo a natureza como parceira ativa e o método de pesquisa de Goethe como suporte dialógico e intermediador.

Goethe não distingue objeto e sujeito. “O que pulsa mais amplamente nas doutrinas goetheanas é uma ideia – e uma sensação – de vida, de natureza como vida e como existência” (TEIXEIRA; KAMITA, 2015, p. 30).

Se pararmos para pensar em educação, principalmente a pública, a qual os alunos mostram-se carentes em diversos aspectos. Estudar a Doutrina das Cores de Goethe é preocupar-se com este indivíduo, na maneira em que ele vê e sente o mundo. É essencial mostrar para eles que, houve uma pessoa que teve coragem de contrapor o Estudo de um cientista renomado e conseguiu apresentar resultados que também se tornaram importantes, os quais não foram vistos no Estudo anterior e que o complementavam. É trabalhar Natureza da Ciência (NdC), pois instiga-se o aluno a desenvolver sua criatividade, pois ele não deve aceitar tudo o que estuda, como uma verdade absoluta, e que algo é impossível de mudar e/ou evoluir. Sobre a importância da Doutrina das Cores de Goethe, Brito e Reis (2016, p. 288) salientam que:

O conhecimento dessa crítica goetheana representa uma boa oportunidade para apresentar a estudantes da escola básica uma outra visão sobre a natureza, possibilitando, dessa forma, uma visão mais crítica e rica sobre a produção do conhecimento científico. Ainda que a proposta de Goethe para a teoria das cores não tenha saído vencedora no campo científico é importante a sua discussão com os alunos para que a apropriação da ciência não seja meramente instrumental.

Brito e Reis descrevem uma “crítica goetheana”, fazendo menção à maneira que Goethe escreveu sobre o Estudo de Newton. Goethe tinha interesse em mostrar os aspectos subjetivos, os quais os Estudos de Newton não abordaram. Em sua Doutrina Goethe também expressa que arte e ciência têm muitas propriedades em comum.

O poeta alemão reuniu em si a criatividade poética e pesquisa científica, utilizando-se da arte para a compreensão do mundo, da mesma forma que é realizado, ainda que com maior rigor, pela ciência. Para o poeta, arte e ciência teria uma relação muito íntima. Em seu pensamento a arte parecia tão objetiva quanto a ciência, de modo que a visão artística de Goethe se encontrava complementada pela visão científica. (BRITO; REIS, 2016, p.289)

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Sua trajetória foi valorizada pela Bauhaus8 com Itten, Kandinsky, Paul Klee e

Joseph Albers. Cada um deles desenvolveu um modo diferenciado de trabalhar com a harmonização cromática de Goethe. “O trabalho deles consolidou uma base pedagógica para o aprendizado da Cor na Bauhaus e em todas as escolas que por ela foram influenciadas” (POSSEBON, 2009, p.17-18). Com isso, a Doutrina das Cores de Goethe trouxe uma nova compreensão das propriedades cromáticas em todas as escolas que foram por ela influenciadas.

Goethe sempre foi muito curioso e estudioso. Quando esteve doente na casa de seu pai, aproveitou a biblioteca vasta contando com livros de gêneros diversos como: filósofos gregos, literários, história da arte e ciência, para aprimorar seus conhecimentos. “Foram alvo da curiosidade do jovem enfermo, tais como: Giordano Bruno (1586-1600), Paracelso (1493-1541) e Argruppa de Nettesheim (1486-1535)” (BRITO; REIS, 2016, p. 289). Com estudos feitos sobre escritos de Giordano Bruno, Goethe dispôs uma concepção de o universo ser infinito.

Para entendermos as concepções de Goethe, é importante esclarecer o que se passava em seu cotidiano. Na época de Goethe, havia dois pontos de vista vigentes, a emanentista e a imanentista. A primeira diz respeito às teorias de Deus, nas quais o mundo seria o seu reflexo. E a segunda, na que Goethe se baseava, “acreditavam que o mundo por si só era divino na total autonomia de suas leis, não dependendo de um todo. Essa visão estaria voltada para um tipo de investigação baseada na harmonia dos fenômenos da natureza” (BRITO; REIS, 2016, p. 289).

8 A escola Bauhaus (que significa, em alemão, “Casa da Construção”) foi uma das mais expressivas e

influentes instituições de arte do século XX e tinha como eixo central de desenvolvimento artístico o design arquitetônico – agregando a isso as mais variadas expressões artísticas. O idealizador da Bauhaus, o arquiteto Walter Gropius (1883-1969), era fortemente influenciado pelas vanguardas modernistas europeias e ele próprio pretendia que a Bauhaus fosse um dos “carros-chefes” do modernismo. Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/artes/escola-arte-bauhaus.htm> Acesso em: 17 fev. 2019.

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Figura 2 – Ilustração da Doutrina das Cores.

Fonte: Goethe (2013)

Seu estudo foi publicado em 1810, denominado Farbenlehre (Doutrina das Cores) perdurou por mais de trinta anos, a qual apresenta a frustação, por não se preocupar com a cor enquanto fenômeno físico, a respeito do Estudo das Cores de Newton. Teve sua tradução, do alemão para o inglês, 30 anos após a sua edição. A figura 2 mostra “ao invés de descrever um comportamento físico da luz, o círculo cromático se torna um recurso para explorar as dimensões fisiológicas, psíquicas e espirituais da cor (GOETHE, 2013, p.26). Goethe contribuiu para a libertação do visível. E compreende que a sensibilidade artística deve ser investigada, assim como a ciência. A ciência estava presente na técnica de preparação do pigmento para o surgimento da Cor e a arte influenciava no sentimento que esta Cor trazia ao observador. Goethe também insistia que as Cores resultantes do experimento em que a luz do sol atravessa o prisma, resulta em Cores opacas, são elas: magenta, amarelo e ciano. Possebon, (2009, p. 21) relata como foi feito o experimento de Goethe, que fez com que ele pensasse que Newton estava equivocado:

Através deles demonstra, primeiro, que a luz solar não se decompõe pelo prisma, mas sim que um feixe de luz suficientemente largo, ao atravessá-lo, produz uma imagem deslocada em cujas bordas surgem cores. Ou seja, as cores surgem onde se estabelece o contraste entre claro e escuro, entre luz e trevas. De um lado da imagem produzida pelo feixe de luz surge uma faixa vermelha junto a uma auréola azul. E entre estas duas formações a luz branca permanece.

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Ao progredir com o experimento, diminuindo o tamanho do feixe de luz e distanciando o prisma, resulta o experimento de Newton. O que prova que não é sempre que o experimento de Newton acontece corretamente, tem uma posição certa para conseguir observar as Cores do Disco de Newton, logo, Newton não poderia generalizar e dizer que o feixe de luz branca gera as sete Cores do arco-íris. Sobre a Cor verde, Goethe também discordava de Newton. “Pois para ele, assim como os artistas de sua época, o verde era a Cor resultante da combinação das Cores, azul e amarelo, e não simples, espectral, como Newton propunha” (SILVEIRA, 2015, p.25). O Círculo Cromático (Figura 3) de Goethe foi organizado de maneira que as Cores ficassem opostas as suas complementares, como por exemplo, púrpura e verde, facilitando a combinação das Cores.

Figura 3 – Círculos Cromáticos

Fonte: Goethe (2013)

As Cores presentes na Doutrina de Goethe são: amarelo, azul, verde, roxo, vermelho (púrpura) e laranja. Brito e Reis (2016, p. 292) evidenciam que:

A teoria goetheana busca sintetizar cor e luz como um fenômeno único capaz de se revelar aos nossos olhos e por eles ser interpretados, ao passo que Newton compreende que as cores derivam da luz. A leitura de Goethe acerca dos fenômenos ópticos o levou a uma conclusão repleta de inspiração poética, ao mesmo tempo em que se centrava em suas concepções filosóficas. A luz deveria, portanto, ser observada a partir de sua completude que contemplava a luz e as cores em sua unidade.

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Goethe levava em consideração sombra e luz em seus experimentos e as sensações causadas pelas Cores. A luz seria sentida em todas as Cores. Ele valoriza as impressões subjetivas. Seus experimentos recusam a ajuda de aparatos e instrumentos, para que o pesquisador pudesse experimentar as sensações geradas pelo experimento. Brito e Reis (2016, p. 291) explicam que para Goethe os “aparelhos utilizados em experimentos também poderiam falsificar a imagem do mundo. Estes aparelhos e os consequentes cálculos matemáticos eram responsáveis por violar a natureza”. Outro aspecto em que discordava de Newton é o fato de a luz ser dividida em luzes coloridas, para ele a luz era indivisível, sendo simples e homogênea, e a luz colorida sempre seria mais escura que uma luz incolor (SILVEIRA, 2015, p. 25).

De acordo com Goethe, havia três manifestações da aparência da Cor: Cores fisiológicas, as Cores químicas e físicas. Cores fisiológicas, “eram as que pertenciam aos olhos e que dependiam diretamente da sua capacidade de ação e reação” (SILVEIRA, 2015, p. 25). Os efeitos luminosos contêm radiação eletromagnéticas, que permitem-na induzir a sensação de Cor, os efeitos se dividem em dois grupos: Cores-pigmentos e Cores-luz. A primeira, também denominada química, se constitui de substâncias químicas que formam os objetos, ou o reflexo da luz em determinado objeto. “O que determina a cor- pigmento é a quantidade de luz refletida nas substâncias corantes” (ROSA, 2012. p.33-34). A segunda, bem como intitulada física, seriam fontes de luzes, solar ou artificial, refletidas pelos objetos coloridos. Em análise dos Estudos das Cores de Goethe e Newton, o primeiro estudava as cores-pigmento em síntese subtrativa, como o amarelo e o azul produzindo o verde. E o segundo, raciocinava sobre as Cores-luz, síntese aditiva (SILVEIRA, 2015, p.27).

Com a clássica parte das Cores Fisiológicas e, em certa medida, em toda extensão do livro, podemos dizer que Goethe faz algo como dar corpo às cores. Fundação de toda doutrina, segundo o próprio autor, esta seção introduz o olho na pesquisa do aparecimento da cor. Faz-se notar que, apesar deste desdobramento ser evidente, não é uma introdução do olhar na teoria, mas sim do órgão olho. Esta diferença sugere que o “olhar formal” ou “olhar artístico, cultivado intelectualmente” não é, em princípio uma prioridade para o autor; Goethe adentra sua fenomenologia pela porta da ciência, ao mesmo tempo, tem a clareza de que trazer a pesquisa para o olho carrega um sujeito (o leitor, “the beholder”) junto. (TEIXEIRA; KAMITA, 2015, p. 17)

Com observações da ação da retina (Figura 4) Goethe encontra correspondências com o funcionamento da luz. Na escuridão a retina está descansada, desconectada, já na presença da luz está atuante, conectada.

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Considera-se que nas duas situações o olho está cego. “O fato de o homem não enxergar na iluminação extrema é prova, para Goethe, de que as cores não existem na luz pura” (TEIXEIRA; KAMITA, 2015, p.18).

Figura 4 – O olho humano

Fonte: SILVEIRA (2015)

Segundo Silveira (2015, p. 80) “na retina se realiza a ligação entre o físico, o biológico e o psicológico da visão. É a parte do olho encarregada de transformar a energia radiante em impulsos nervosos, que são transmitidos ao cérebro através do nervo óptico”. A Doutrina das Cores ressaltava os aspectos perceptivos relacionados ao olho preocupado com a visão, “também com a característica fisiológica, tornando o seu trabalho contemporâneo” (GOETHE, 2013, p.14).

Para explicar sobre a importância da luz e a escuridão, Goethe faz os experimentos com o prisma (Figura 5), “estudo de Goethe sobre o prisma, na sua interação com a sombra, que diferem de Newton ao não representar as sete cores de espectro” (GOETHE, 1940, apud GIANNOTTI, 2013, p. 22), ele mostra a variação da refração com a utilização do prisma. Teixeira e Kamita, (2015, p. 20) esclarecem que:

O experimento de jogar luz branca sobre o prisma e testemunhar a decomposição desta luz em sete cores só acontece em exatidão com doses equilibradas de luz e escuridão; o ato isolado da refração não é suficiente para a aparição das cores. Esta observação abre, para Goethe, a possibilidade de mostrar as variações da refração possíveis com o prisma, de acordo com a distância da superfície branca e da presença de escuridão. Logo percebe que na parte mais próxima ao prisma aparecem apenas duas

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bordas de cor; uma vermelho-amarela e outra azul-violeta, enquanto a luz branca ainda aparece no centro, apenas com a distância e movimento, as duas bordas se sobrepõe formando o verde. Com este experimento Goethe comprova o que diz ser um fato conhecido por qualquer criança: o verde não é cor pura, como calcula Newton, apenas a mistura do amarelo com azul.

A refração é movimento, e para Goethe o movimento é muito importante, pois “é o deslocamento da luz sobre a escuridão que produz na borda deste contato as Cores” (TEIXEIRA; KAMITA, 2015, p. 21).

Figura 5 – Raios de prismas cromáticos

Fonte: Goethe (2013, p. 22)

Goethe fez vários experimentos, um deles foi verificar a sensação causada pelas Cores, quando mexem com determinado objeto, fazendo-o parecer maior ou menor (Figura 6). Esse experimento teve influências na astronomia, “Tycho Brahe (1546-1601) concluiu que a Luaem conjunção com o Sol, a Lua nova (mais escura), parece um quinto menor do que em oposição, a Lua cheia (mais clara)” (BRITO; REIS, 2016, p.294). Brito e Reis (2016, p. 294) descrevem o experimento:

Para demonstrar tal efeito, Goethe usou a ideia de dois círculos do mesmo tamanho, um deles na cor branca sobre um fundo preto e outro preto sobre um fundo branco.

De acordo com sua conclusão, esses círculos, quando observados simultaneamente, passam a impressão de que possuem tamanhos diferentes. Temos a impressão; ao observá-los, de que o círculo preto sobre o fundo branco é aproximadamente um quinto menor que o outro, sendo assim, se a imagem preta for aumentada nessa proporção eles parecerão iguais.

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Figura 6 – Imagens Preta e Branca para o olho

Fonte: Goethe (2013, p. 82)

Segundo a Doutrina goetheana, as Cores devem ser especificadas de maneira como elas ocorrem, ou seja, as Cores fisiológicas, sobre as quais Goethe discorre, são aquelas produzidas pela retina. Portanto, os olhos, para Goethe, são os objetos de estudo primordiais para entender como as Cores são produzidas fora (causas externas) e refletidas neles. Goethe não nega o fenômeno físico, o que ele ressalta com a sua Doutrina é que a ciência não se preocupa com a sensação causada pela Cor.

Newton, ao contrário de Goethe, preocupou-se somente em estabelecer os critérios para a produção da cor como fenômeno físico. Nesse aspecto, embora as críticas de Goethe se revelassem posteriormente inconsequentes, o principal mérito de sua análise é ter mostrado que a cor também existe como fenômeno que escapa à física. Assim, essas duas interpretações diversas do fenômeno cromático não devem ser pensadas como necessariamente incompatíveis, mas como pontos de vista que se baseiam em critérios, ou métodos de comparação, inteiramente distintos. (GOETHE, 2013, p.44-45)

As críticas feitas por Goethe foram consideradas inconsequentes, pela maneira como ele escreveu sobre Newton, pois ele não anula o Estudo de Newton e sim complementa. Goethe começou onde Newton parou. Mas, afinal, como é constituída a “teoria” de Newton, a qual Goethe queria até o final de sua vida, provar que estava errada? Na sessão seguinte, encontram-se os Estudos das Cores de Newton.

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2.2 ISAAC NEWTON

Figura 7 – Retrato de Sir Isaac Newton

Fonte: https://www.pinterest.ca/pin/27866091428692983/. (2018)

Em 1665, Isaac Newton (1643-1727) (Figura 7) realizou o estudo com a intenção de apresentar a luz branca como sendo a mistura de raios com diferentes refrangibilidades, dando ênfase à luz solar e sobre a essência da óptica física. Os conteúdos constituídos de suas investigações “tornaram-se assuntos de um livro que é considerado fundamental para o estudo sobre a Cor: Óptica – um Tratado sobre a Reflexão, a Refração e as Cores da Luz” (ROSA, 2012, p.44). Seu livro foi publicado em 1704, relatou-se na obra o que foi exposto ao longo de seus experimentos, Newton denomina sua descoberta (raios luminosos e coloração de corpos) como Cores permanentes dos corpos naturais. Atualmente o Estudo é encontrado nos livros didáticos de maneira simples e direta. Sugere-se aqui a leitura do Trabalho de Conclusão de Curso de Fernanda Domingos (2017)9, que faz uma análise de 5 livros

didáticos e constata que eles abordam o Estudo sobre luz e Cores de Newton de maneira simplificada. Como se ele tivesse encontrado os resultados de seus estudos em um primeiro experimento e de maneira simples. Silva e Martins (2003, p.7) corroboram o fato de que não foi uma tarefa fácil, como os livros didáticos atuais dão

9 DOMINGOS, Fernanda Daniele de Souza. A teoria das cores de Newton no livro didático de física:

um enfoque epistemológico. Trabalho de conclusão de curso da Universidade Estadual da Paraíba. 2017. Disponível em: file:///C:/Users/Camila%20e%20Idevam/Downloads/PDF-%20Fernanda%20Daniele%20de%20Sousa%20Domingos%20(1).pdf. Acesso em: 20 dez. 2019.

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a entender. Se em relação ao Estudo das Cores de Newton, que é cientista conceituado, os livros, na sua maioria, apontam seu experimento de maneira simplificada, o que esperar em relação à Doutrina das Cores de Goethe?

Em seu artigo de 1672, Newton já havia chegado à conclusão “correta”, cada cor espectral tem propriedades fixas e imutáveis; e cada cor tem uma refrangibilidade específica. Essa ideia de Newton não é intuitiva. Ela não surgiu automaticamente em sua mente, mas sim lentamente, após um trabalho intenso. O ponto principal foi descobrir se as cores podem ser transformadas e criadas ou não. Este é o objetivo principal do Experimentum Crucis de Newton.

No seguimento do texto, evidencia-se o experimento de Newton com o(s) prisma(s) de vidro. Inicia-se falando sobre o Índice de Refração, que diz que a luz, quando passa de um meio para outro, gera uma reação.

2.2.1 Índice de Refração

Sobre o índice de refração, Silveira (2015, p.23) explica que:

Através das experimentações com o prisma, de vidro, triangular, Newton mostrou que a separação da luz branca nas suas componentes cores (espectros) se dá pelos diferentes desvios sofridos pelas componentes ao atravessar o prisma. Os desvios propriamente ditos se devem ao fenômeno da refração, enquanto as diferenças entre estes desvios se devem à dispersão do índice de refração do prisma (o índice de refração é uma função do comprimento de onda que está associado à cor da luz).

Silveira faz menção ao experimento de Newton com o prisma de vidro, este experimento é estudado nos dias atuais pelas disciplinas de física, ciências e artes. Na parte da física, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCE) (2008, p.72) traziam em nota de rodapé a indicação de um artigo intitulado “A teoria das cores de Newton: Um exemplo do uso da História da ciência em sala de aula”10. Ainda salientam

o que é referido no artigo, “questões que podem ser abordadas em sala de aula através da História da Ciência e alertam para os cuidados que devemos ter para não apresentarmos uma visão distorcida do método científico e uma ideia mística sobre ciência.” Na parte dos Conteúdos Estruturantes – Eletromagnetismo, nos Conteúdos Básicos em relação à Natureza da luz e suas propriedades é onde encontra-se

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referência sobre a Cor na Avaliação, onde o aluno deve “associar fenômenos cotidianos relacionados à luz como por exemplo: a formação do arco-íris, a percepção das Cores, a Cor do céu dentre outros, aos fenômenos luminosos estudados” (PARANÁ, 2008, p. 97). Em arte, a Cor encontra-se no Elemento Formal, a qual é estudada na História da Arte, nos Movimentos e Períodos. Em Ciências está nas avaliações do sétimo ano. Possebon (2009, p. 22) discursa sobre como os livros didáticos apresentam o Estudo das Cores de Newton:

A divulgação da Teoria newtoniana das cores nos livros didáticos, em geral, fala de um “raio de luz” que atravessa um prisma e se decompõe em um espectro de sete cores. Tal “raio de luz” que provinha de um furo na janela tinha, de acordo com os textos de Newton, a precisa dimensão de 1/3 de polegadas! Portanto não podemos falar em um raio adimensional, ou mesmo de ínfimas dimensões. O melhor e mais preciso é então sempre pensá-lo como um “feixe de luz.” A dimensão do feixe tem uma importância fundamental no experimento. E a alteração dela produz resultados visuais completamente distintos.

Neste recorte feito sobre o texto de Possebon percebe-se que o livro didático apresenta, de maneira simplificada, o Estudo das Cores de Newton. Sabe-se que Newton reproduziu várias vezes seu experimento, até localizar os seus aparatos na posição ideal e chegar à conclusão final. Mas, nos livros didáticos, apresentam o Estudo de Newton como algo simples, como se tivesse sido fácil chegar ao resultado que ele chegou. Sobre a Teoria de Newton, Possebon (2009, p.98) explica o que ele pretendia separar as cores com suas devidas refrangibilidades:

Através deste experimento Newton pretendeu que as características dos “raios” que ocasionaram as diversas cores são intrínsecas, e não modificáveis pela refração. E que a cada raio associa-se um grau específico de refrangibilidade. Cada “raio” de cor teria um desvio diferente através do prisma e não ocasionaria um novo espectro. Como consequência destas conclusões, ele irá afirmar a impossibilidade de se corrigir a aberração cromática nos telescópios, o que era um grande transtorno para os astrônomos da época. Nesta época, ele inventa o telescópio refletor (com espelhos ao invés de lentes) como solução para o problema da aberração. Um século, depois seriam inventadas as lentes acromáticas, que tornaram possível a construção de telescópios refratores, os quais, contrariando sua afirmação, não apresentavam mais a aberração cromática.

Possebon (2009, p. 101) salienta, também, que “os experimentos relatados irão demonstrar quanto Newton se afasta dos conceitos da óptica de imagem ao

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introduzi-lo na óptica física e nos fenômenos de dispersão.” O experimento desenvolveu-se da seguinte maneira:

Para provar que estava correto quanto a estes desvios, idealizou um experimento onde permitia que um estreito raio de sol entrasse por um pequeno orifício na janela do seu próprio quarto escurecido, passando pelo prisma e produzindo um espectro. Depois, usando um anteparo opaco, com um pequeno orifício, Newton separou deste espectro feixes de luz de uma só cor, deixando-os passar através de um segundo prisma.

Quando esta radiação monocromática passava pelo segundo prisma, emergia sem qualquer modificação de cor, levando-o a conclusão de que o segundo prisma apenas produzia outro desvio de direção, isto é, estas radiações não poderiam novamente se dividir em outras componentes com diferentes propriedades. (SILVEIRA, 2015, p. 23)

A figura 8 expõe o experimento com os prismas descrito por Silveira. Sobre o segundo prisma, Silveira (2015, p.23) salienta que, “apenas produzia outro desvio de direção, isto é, estas radiações não poderiam novamente se dividir em outras componentes com diferentes propriedades.” O Estudo das Cores de Newton, é considerado atualmente um marco no desenvolvimento da ciência da Cor. “A chamada Ciência da cor está contida na Teoria da Cor e é definida como o estudo dos aspectos físicos da cor” (SILVEIRA, 2015, p. 24).

Figura 8 – Experimentações de Newton com o Prisma

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Figura 9 – Página 11 – Livro de arte: experimento de Newton

Fonte: PARANÁ (2016, p. 11)

Figura 10 – Página 277 – Livro de arte: Refração da luz

Fonte: PARANÁ (2016, p. 277)

Os livros didáticos não discutem sobre a importância da posição de desvio mínimo, explicam como se fosse fácil chegar ao experimento da figura 8. As figuras 9 e 10 ilustram a maneira que o livro didático de 2016 apresenta o Estudo das Cores de

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