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Análise da acessibilidade em unidades públicas de saúde do município de Pato Branco - PR em comparação com a NBR 9050/2015

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

EMILI BARRO RIETTA

ANÁLISE DA ACESSIBILIDADE EM UNIDADES PÚBLICAS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE PATO BRANCO-PR EM COMPARAÇÃO COM A NBR 9050/2015

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PATO BRANCO 2018

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EMILI BARRO RIETTA

Análise da Acessibilidade em Unidades Públicas de Saúde do Município de Pato Branco – PR em Comparação com a NBR 9050/2015

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação apresentado como requisito parcial para conclusão do Curso de Engenharia Civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Pato Branco.

Orientador: Profa. Esp. Cristiane

Compagnoni Valenga.

Co-orientador: Prof. Msc. José Valter Monteiro Larcher.

PATO BRANCO 2018

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus por me permitir viver este momento. À minha família por me apoiar, em especial à minha mãe, Marli, por fazer de tudo para que a minha formação fosse possível.

À minha orientadora, Professora Cristiane Compagnoni Valenga, pela dedicação, paciência e comprometimento durante a condução deste estudo. Ao meu coorientador, Professor José Valter Monteiro Larcher, por ter iniciado este trabalho comigo, sempre com muita atenção e dedicação.

Aos demais professores do curso de Engenharia Civil por todo o conhecimento teórico, prático e de vida passado ao longo dos últimos anos.

Ao meu namorado, Gustavo, pelo apoio durante praticamente todos os anos que passei na universidade. Obrigada por sempre estar ao meu lado com muito amor e paciência.

Aos meus amigos, de longa data e os que conheci na universidade, por participar desta jornada. Em especial às minhas amigas Jaqueline e Angélica, com quem dividi não somente a moradia, mas também a minha vida, obrigada por deixarem esse período mais leve e divertido.

À Secretaria de Obras e à Secretaria de Saúde do município de Pato Branco-PR por permitir o desenvolvimento deste estudo através da liberação de projetos e do acesso às unidades de saúde.

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RESUMO

RIETTA, Emili Barro. Análise da acessibilidade em unidades públicas de saúde

do município de Pato Branco – PR em comparação com a NBR 9050/2015.

2018. 138 f. Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Engenharia Civil – Departamento Acadêmico de Construção Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. Pato Branco, 2018.

Diante da crescente demanda pela inclusão, especialmente em espaços públicos, notou-se o aumento das exigências para que os ambientes sejam acessíveis. Com a revisão da NBR 9050 em 2015, foram incorporados novos critérios para promoção da acessibilidade. O presente trabalho tem como objetos de estudo duas unidades de saúde públicas do município de Pato Branco – PR, sendo que uma das unidades foi construída depois da atualização da norma e a outra é resultado de uma reforma executada antes da vigência da mesma. O objetivo é avaliar e diagnosticar as condições de acessibilidade, além de estabelecer comparação entre ambas por meio de critérios pré-definidos. Foram analisados os projetos das duas edificações e efetuadas avaliações in loco por meio de aplicação de check-list elaborado com base nos parâmetros especificados pela norma e pela legislação atual, criando, assim, um inventário de dados. A partir dos resultados do check-list foi possível diagnosticar os principais problemas de cada edificação com relação à acessibilidade. Com base nos resultados obtidos, buscou-se elaborar propostas de intervenção arquitetônica para ambientes de criticidade em ambas as unidades de modo a adequá-las aos aspectos da norma vigente. Apesar das características distintas para as unidades, constatou-se que ambas estão parcialmente adequadas à NBR 9050/2015, sendo que os pontos em desacordo com a norma são significativos para pessoas com deficiência.

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ABSTRACT

RIETTA, Emili Barro. Analysis of the accessibility in public health units in the

city of Pato Branco – PR in comparison with NBR 9050/2015. 2018. 138 f. Final

Project for Bachelor Degree in Civil Engineering – Academic Department of Civil Construction, Federal Technological University of Paraná – UTFPR. Pato Branco, 2018.

Facing the growing demand for inclusion, especially in public spaces, it was noted the increase in requirements for them to be accessible. With the revision of NBR 9050 in 2015, new criteria was incorporated to promote accessibility. The present worl has as objects of study two public health units in Pato Branco – PR. One of them was built after the update of the regulation, and the other one is the product of a renovation performed before the norm. The goal is to evaluate and diagnose the conditions of accessibility and establish comparison between both through pre-defined criteria, as well. To do so, the projects for both buildings were analyzed and it was performed on-site evaluations through application of a checklist, elaborated based on parameters specified by the norm and current legislation, creating, therefore, a data inventory. With the results of the checklist, it was possible to diagnose the main problems relative to accessibility in each unit. Based on the results obtained, the pursuit is to elaborate architectonic intervention proposals for critic spaces in both units, aiming to suit the criteria for current requirements. Although the distinct characteristics for the units, it was possible to verify that both were partially appropriate to NBR 9050/2015, since the points in disagreement with the regulation are significant for people with disabilities.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Pirâmide do Desenho Universal ... 22

Figura 2: Dimensões de referência para pessoas se deslocando com bengalas e andador ... 29

Figura 3: Dimensões de referência para pessoas se deslocando com muletas ... 30

Figura 4: Dimensões de referência para pessoas com bengala longa, cão guia e sem órtese ... 30

Figura 5: Módulo de referência ... 30

Figura 6: Área de manobra sem deslocamento... 31

Figura 7: Área de manobra com deslocamento em 90° ... 31

Figura 8: Alcance manual frontal para pessoa em pé ... 32

Figura 9: Alcance manual frontal para pessoa sentada ... 32

Figura 10: Alcance manual lateral para pessoa sentada ... 33

Figura 11: Faixas de uso das calçadas ... 34

Figura 12: Exemplo de vaga de estacionamento conforme a NBR 9050/2015 ... 35

Figura 13: Espaço livre em portas para deslocamento frontal e lateral ... 37

Figura 14: Instalação de corrimãos acessíveis ... 39

Figura 15: Disposição dos patamares para rampas, em corte e planta ... 40

Figura 16: Áreas de aproximação para bacia sanitária e lavatório ... 42

Figura 17: Exemplo de sanitário acessível conforme a NBR 9050/2015 ... 43

Figura 18: Exemplo de área de espera acessível conforme a NBR 9050/2015 ... 45

Figura 19: Diagrama de etapas da pesquisa ... 48

Figura 20: Edificação COAS antes da reforma... 51

Figura 21: UPA 24h ... 52

Figura 22: Relevo da região da UPA 24h ... 52

Figura 23: Estacionamento COAS ... 56

Figura 24: Desnível na entrada da unidade COAS ... 58

Figura 25: Área de circulação próximo dos sanitários UPA 24h... 61

Figura 26: Rota acessível UPA 24h ... 61

Figura 27: Sala de enfermagem COAS ... 63

Figura 28: Maca da sala de internação COAS ... 65

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Figura 30: Sanitário acessível UPA 24h, em planta ... 67

Figura 31: Elementos sanitários WC Feminino COAS ... 70

Figura 32: Sanitário da internação COAS utilizado de maneira inadequada ... 70

Figura 33: Sanitários comuns UPA 24h, em planta ... 71

Figura 34: Barras de apoio junto à bacia sanitária no WC acessível masculino COAS ... 72

Figura 35: Mobiliário da sala de coordenação COAS ... 73

Figura 36: Planta baixa recepção adulta e pediátrica UPA 24h ... 74

Figura 37: Disposição dos assentos na área de espera do consultório COAS ... 75

Figura 38: Sinalização de indicação dos ambientes UPA 24h ... 76

Figura 39: Sinalização existente COAS ... 77

Figura 40: Indicação dos itens em desacordo com a NBR 9050/2015 – COAS ... 79

Figura 41: Indicação dos itens em desacordo com a NBR 9050/2015 - UPA 24h .... 80

Figura 42: Resumo dos critérios a serem alterados – COAS ... 84

Figura 43: Proposta de intervenção para sala de enfermagem – COAS ... 85

Figura 44: Proposta de intervenção para sala de preparo – COAS ... 86

Figura 45: Proposta de intervenção para consultório médico – COAS ... 87

Figura 46: Proposta para adequação do acesso ao COAS, em corte e planta ... 88

Figura 47: Resumo dos critérios a serem alterados – UPA 24h ... 89

Figura 48: Proposta de intervenção arquitetônica - UPA 24h... 90

Figura 49: Paredes a manter, demolir e construir para intervenção - UPA 24h ... 91

Figura 50: Posição das barras de apoio e Módulo de Referência para o lavatório ... 92

Figura 51: Módulo de Referência para bacia sanitária ... 93

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Condição dos vãos das portas em relação à NBR 9050/2015 ... 59 Gráfico 2: Condição dos elementos sanitários em relação à NBR 9050/2015 ... 69

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Acontecimentos relevantes sobre acessibilidade a partir de 1950 ... 17

Tabela 2: Classificação dos tipos de barreiras ... 20

Tabela 3: Caracterização de deficiência, incapacidade e desvantagem ... 25

Tabela 4: Classificação da sinalização conforme a NBR 9050/2015 ... 46

Tabela 5: Demais normativas relacionadas à acessibilidade ... 47

Tabela 6: Acessibilidade das calçadas das edificações ... 55

Tabela 7: Acessibilidade dos estacionamentos ... 57

Tabela 8: Características das salas de atendimentos ... 64

Tabela 9: Acessibilidade dos sanitários ... 68

Tabela 10: Classificação de elementos e ambientes críticos - COAS ... 81

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 13 1.1 OBJETIVOS ... 15 1.1.1 Objetivo Geral ... 15 1.1.2 Objetivos Específicos ... 15 1.2 JUSTIFICATIVA... 15 2 REVISÃO DA LITERATURA ... 17 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO ... 17 2.2 ACESSIBILIDADE ... 18 2.3 DESENHO UNIVERSAL ... 21

2.4 DEFICIÊNCIA E MOBILIDADE REDUZIDA ... 24

2.5 LEGISLAÇÃO RELATIVA À ACESSIBILIDADE ... 26

2.6 ASPECTOS TÉCNICOS PARA ACESSIBILIDADE NAS EDIFICAÇÕES .... 28

2.6.1 Parâmetros antropométricos e dimensões de referência ... 29

2.6.2 Circulação Externa ... 33

2.6.2.1 Calçadas ... 33

2.6.2.2 Estacionamento ... 35

2.6.3 Circulação Interna Horizontal ... 36

2.6.3.1 Rota Acessível ... 36

2.6.3.2 Portas e Aberturas ... 37

2.6.4 Circulação Interna Vertical ... 38

2.6.4.1 Rampas ... 39

2.6.4.2 Escadas ... 40

2.6.5 Instalações Sanitárias ... 41

2.6.6 Mobiliário ... 43

2.6.7 Sinalização ... 45

2.7 DEMAIS NORMAS A SEREM OBSERVADAS ... 47

3 METODOLOGIA... 48

4 CARACTERIZAÇÃO DOS LOCAIS DE ESTUDO ... 50

4.1 COAS ... 50

4.2 UPA 24H ... 51

5 RESULTADOS ... 54

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5.2 CONDIÇÕES DE CIRCULAÇÃO INTERNA ... 59

5.3 CONDIÇÕES DAS SALAS DE ATENDIMENTO ... 62

5.4 CONDIÇÕES DE INSTALAÇÕES SANITÁRIAS ... 66

5.5 CONDIÇÕES DE MOBILIÁRIO ... 72

5.6 CONDIÇÕES DE COMUNICAÇÃO NAS EDIFICAÇÕES ... 75

5.7 CONDIÇÃO GERAL DA ACESSIBILIDADE DAS EDIFICAÇÕES ... 78

6 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA ... 83

6.1 PROPOSTA PARA ADEQUAÇÃO – COAS ... 84

6.2 PROPOSTA PARA ADEQUAÇÃO – UPA 24H ... 88

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 96

REFERÊNCIAS ... 98

APÊNDICE A – CHECK-LIST MODELO PARA AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE EM UNIDADES DE SAÚDE ... 101

APÊNDICE B – APLICAÇÃO DO CHECK-LIST NO COAS ... 108

APÊNDICE C – APLICAÇÃO DO CHECK-LIST NA UPA-24 H ... 115

APÊNDICE D – APLICAÇÃO DO CHECK-LIST AO PROJETO ARQUITETÔNICO COAS... ... 122

APÊNDICE E – APLICAÇÃO DO CHECK-LIST AO PROJETO ARQUITETÔNICO UPA 24H ... 129

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1 INTRODUÇÃO

Para um espaço ser caracterizado como acessível, o mesmo deve possibilitar condições de percepção, entendimento e alcance de espaços, edificados ou não, bem como equipamentos, informações, e sistemas que nele estejam instalados, passíveis de utilização segura e autônoma para qualquer pessoa que dele utilize (ABNT, 2015).

As discussões acerca da acessibilidade em edificações passaram a ser mais apuradas depois da introdução de conceitos como o desenho universal e espaços inclusivos. No exterior o início se deu em 1963 com o nascimento do Barrier Free

Design (desenho livre de barreiras, em tradução livre), elaborado por profissionais

dos Estados Unidos, Japão e de algumas nações europeias (SÃO PAULO, 2012). No Brasil, no entanto, o debate surgiu apenas em 1981 com a instituição do Ano Internacional das Pessoas com Deficiência e, posteriormente, com a criação da primeira norma técnica voltada para acessibilidade, em 1985. (CARLETO e CAMBIAGHI, 2008).

A necessidade de legislação, discussão e melhoria da acessibilidade de locais de uso público é justificada pela presença significativa de pessoas com algum tipo de deficiência no país. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013 estima que, naquele ano, 7,2% da população brasileira com 14 anos ou mais possuía alguma deficiência intelectual, física, auditiva ou visual (IBGE, 2016). Isto significa que estes habitantes necessitam de instalações especiais para locomoção, aprendizado e atendimento médico. No município de Pato Branco, o IPARDES (2017) indica que, em 2010, 13.553 habitantes informaram algum tipo de deficiência quando consultados, representando cerca de 18,7% da população patobranquense.

Ainda, deve-se considerar que parte significativa da população apresenta mobilidade reduzida, caracterizada pela dificuldade de movimentação, além de restrição da flexibilidade, coordenação motora e percepção de forma permanente ou temporária. Encaixam-se nesse grupo pessoas idosas, obesas, gestantes, lactantes e pessoas acompanhadas por crianças de colo. (BRASIL, 2015). Estima-se que, em 2016, cerca de 11,75% da população brasileira possuía mais de 60 anos, com previsões de crescimento acelerado para os próximos anos (IBGE, 2017).

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Depois da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em 2007, foi decretada a inclusão de medidas que promovessem a garantia de direitos às pessoas portadoras de deficiência no Brasil em sua totalidade, como assinado previamente, através do Decreto 6.949 de 25 de agosto de 2009. De acordo com o Artigo 9 do decreto, ficou definida a implantação de medidas que conferissem acessibilidade a:

Acessibilidade:

I.a) Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras instalações internas e externas, inclusive escolas, residências, instalações médicas e local de trabalho;

I.b) Informações, comunicações e outros serviços, inclusive serviços eletrônicos e serviços de emergência.

Assim, frente a necessidade de espaços acessíveis que atendam a população, decidiu-se selecionar duas unidades de saúde implantadas no perímetro urbano da cidade de Pato Branco – PR, a fim de se observar e analisar as características relativas à acessibilidade dos locais.

Desta forma, o estudo em questão foi estruturado em capítulos, sendo que o primeiro contém a introdução, objetivos geral e específico, bem como a justificativa para a escolha do tema. No segundo capítulo será apresentada revisão bibliográfica e web gráfica, a fim de esclarecer e conceituar o tema. O terceiro capítulo será destinado a apresentar a metodologia utilizada para a realização do estudo. O quarto capítulo contemplará a caracterização dos locais de estudo analisados durante a elaboração deste trabalho, levando em consideração características físicas das edificações. No quinto capítulo serão apresentados os resultados obtidos através da análise dos projetos das edificações e das visitas aos locais avaliados. O sexto capítulo é destinado à proposta de adequação de espaços das unidades à NBR 9050/2015. Por fim, no sétimo capítulo serão expostas as conclusões alcançadas através desde estudo.

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1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Este estudo tem como objetivo geral levantar e identificar as condições de acessibilidade em duas unidades públicas de saúde do município de Pato Branco – PR, no que se refere à edificação e seu entorno. A análise das informações será confrontada com a NBR 9050/2015, legislação especifica sobre acessibilidade.

1.1.2 Objetivos Específicos

Para a concretização do objetivo geral pretende-se:

 Levantar literatura sobre o tema acessibilidade a fim de contextualizar e justificar o problema;

Estabelecer diretrizes no formato de um check-list baseado na NBR 9050/2015 e demais referências para a caracterização das condições de acessibilidade nos locais de estudo;

 Levantar dados no local de estudo através de medição, registro fotográfico e análise de projetos;

 Verificar se as informações coletadas nas edificações atendem às recomendações das diretrizes especificadas no check-list desenvolvido;

 Propor solução técnica para melhoria e adaptação da acessibilidade das unidades caso necessário.

1.2 JUSTIFICATIVA

Com o avanço tecnológico e aumento da qualidade e expectativa de vida, pessoas com algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida vêm conquistando seu espaço perante a sociedade e se fazendo presente nos mais diversos meios. Isso foi possível, em grande parte, por leis, decretos e normas, como a NBR 9050/2015 e a Lei 18.419 de 2015 do governo paranaense, que tornam obrigatória a aplicação de medidas que fazem com que as edificações, públicas e privadas, sejam espaços acessíveis a grupos com diferentes níveis de mobilidade.

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Apesar disso, se vê clara discrepância entre o que é recomendado e a real situação de edificações e seu entorno, não permitindo que as mesmas possam ser acessadas por qualquer usuário. Desta forma, tais propriedades não são capazes de cumprir sua função social, visto que impedem o direito básico de locomoção para todos os indivíduos, como previsto na Constituição Federal (BRASIL, 1988).

Ainda, o Art. 6° da Constituição Federal estabelece o acesso à saúde como um dos direitos sociais básicos (BRASIL, 1998), que deve ser ofertado à população em sua totalidade, independente do grau de mobilidade de cada pessoa. Do mesmo modo, espaços onde funcionam serviços de saúde devem ser projetados para atender, de maneira satisfatória, a todos os usuários e funcionários (BRASIL, 2000).

As unidades de saúde a serem estudadas neste trabalho são de propriedade municipal e necessitam de recursos públicos para garantir sua funcionalidade, além de serem de uso público. Portanto, é possível ressaltar a importância deste estudo, visto que o mesmo vincula dois direitos básicos da população brasileira, saúde e locomoção, com locais de interesse público e que têm por objetivo atender de forma eficiente pessoas de diferentes idades e grupos sociais.

Embora o assunto aqui tratado seja amplamente discutido, ainda há escassez de estudos que tratam do tema acessibilidade em unidades públicas de saúde no município de Pato Branco. Assim, nota-se a originalidade deste trabalho pois o mesmo promove um avanço na discussão sobre acessibilidade em edificações, além de contribuir para a inclusão de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida nos serviços públicos municipais.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO

Com criação da Organização das Nações Unidas, ONU, após o fim da Segunda Guerra Mundial, passou-se a debater o tema direitos humanos. Segundo Lopes (2010, p. 34), através da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948, “foi positivado um núcleo inderrogável de direitos inerentes a todo e qualquer ser humano, independentemente de sua nacionalidade, sexo, idade, raça, credo ou condição pessoal e social”. Assim, foi possível observar o isolamento conferido às pessoas com deficiência, atacando o valor de dignidade conferido por tal documento. A partir da década de 1950 ocorreu o início de pesquisas, discussões e concepção de resoluções por parte das entidades relacionadas à ONU com o intuito de se integrar pessoas portadoras de deficiência à sociedade como um todo (LOPES, 2010).

Na Tabela 1, abaixo, estão expostos os principais acontecimentos relacionados à acessibilidade a nível mundial e nacional desde a elaboração dos primeiros conselhos e documentos a partir de 1950, organizados em ordem cronológica.

Tabela 1: Acontecimentos relevantes sobre acessibilidade a partir de 1950 1950

A Assembleia Geral e o Conselho Econômico e Social da ONU iniciaram discussões e elaboração de resoluções sobre prevenção e reabilitação das deficiências (LOPES, 2010)

1955 Edição da recomendação sobre a Reabilitação de Pessoas Deficientes pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) (LOPES, 2010)

1961 Discussões sobre reestruturação e recriação da definição de “homem padrão” em reunião na Suécia (CARLETTO e CAMBIAGHI, 2008)

1963 Criação do Barrier Free Design em Washington, EUA (CARLETTO e CAMBIAGHI, 2008)

1975

Aprovação da Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes na Assembleia Geral da ONU. O documento prevê às pessoas com deficiência a garantia de direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais (LOPES, 2010)

1976 Proclamação do ano de 1981 como Ano Internacional das Pessoas Deficientes, sob o lema “Participação Plena e Igualdade” (LOPES, 2010) 1979

Criação do Comitê Consultivo pela ONU, com o objetivo de elaborar um plano de ação mundial, analisar obstáculos enfrentados por pessoas com deficiência e propor soluções para remoção dos mesmos (LOPES, 2010)

1981 Ano Internacional das Pessoas Deficientes 1983

Declaração, pela Assembleia Geral da ONU, do período de 1983 a 1992 como a Década das Nações Unidas para as Pessoas com Deficiência. O objetivo era encorajar os Estados a promover participação total e de forma igualitária das pessoas com

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deficiência na sociedade e no desenvolvimento dos países (LOPES, 2010) 1985

Criação da primeira norma técnica brasileira pautada na acessibilidade com o título “Acessibilidade a edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos à pessoa portadora de deficiência” (CARLETTO e CAMBIAGHI, 2008)

1989 Sanção da Lei n° 7.853, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência. 1990

A Comissão de Desenvolvimento Social, entidade pertencente à ONU, estabeleceu um grupo de trabalho, através de contribuições voluntárias, para elaborar diretrizes sobre a igualdade de oportunidades de crianças, jovens e adultos com deficiência (LOPES, 2010)

1993

Publicação do documento “Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência” pelo grupo criado através da Comissão de Desenvolvimento Social da ONU (LOPES, 2010)

1994

Declaração de Salamanca. Carta de cunho político orientando práticas de educação baseadas na sociedade inclusiva (LOPES, 2010)

Primeira revisão da NBR 9050 (CARLETTO e CAMBIAGHI, 2008) 1999

Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência, conhecida como Convenção de Guatemala. Primeira convenção a definir pessoa com deficiência fundamentando-se no modelo social de direitos humanos (LOPES, 2010)

2000

Conferência Mundial de ONGs relacionadas à deficiência em Pequim. Elaboração da Declaração de Beijing sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência no Novo Século (LOPES, 2010)

Introdução das Leis Federais n° 10.048 – Dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e dá outras providências. – e n° 10.098 – Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências (COSTA, MAIOR e LIMA, 2005)

2001

Criação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde (CIF) pela OMS. A entidade usa o termo “deficiência” para expressar um fenômeno multidimensional resultado da interação entre as pessoas e seus ambientes físicos e sociais (LOPES, 2010)

2004

Decreto n° 5.296 – Regulamenta as Leis n° 10.048 e 10.098.

Eleição do Brasil como um dos cinco países mais inclusivos das Américas pela organização IDRM (International Disability Rights Monitor) (COSTA, MAIOR e LIMA, 2005)

2006 Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência pela ONU (LOPES, 2010) 2009 Decreto n° 6.949 – Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência e seu Protocolo Facultativo

2015 Promulgação da Lei n° 13.146 – Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)

Fonte: Autoria própria, 2017.

2.2 ACESSIBILIDADE

De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, promovido pela Lei 13.149 de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 2015), a acessibilidade é definida como a “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliário, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e

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tecnologias” Entendendo-se, ainda, que esse princípio se estende a serviços e espaços, públicos ou não, posicionados em qualquer região e utilizados por quaisquer pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência.

Para Sarraf (2012 p. 62), “a acessibilidade é uma forma de concepção de ambientes que considera o uso de todos os indivíduos independente de suas limitações físicas e sensoriais”.

Melo (2006) entende que, apesar do impacto da existência de barreiras incidir diretamente sobre alguns grupos, medidas para fomentar acessibilidade devem ser aplicadas a produtos e serviços relativos à melhoria da qualidade de vida de qualquer indivíduo independente das habilidades e necessidades do mesmo. Isso se alinha com o pensamento de Sarraf (2012 p. 62), pois a aplicação do conceito de acessibilidade possibilita “melhoria da qualidade de vida da população com e sem deficiência, proporcionando liberdade de escolhas e abertura de horizontes pessoais, profissionais e acadêmicos”. Além disso, essa afirmação corrobora o conceito “acessível” apresentado pela NBR 9050/2015, apontado como “espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias ou elemento que possa ser alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa” (ABNT, 2015).

Ainda, para Melo (2006 p. 22), a temática acessibilidade se divide em seis preceitos, sendo eles:

a) Acessibilidade Arquitetônica: Não deve haver barreiras ambientais físicas nas casas, nos edifícios, nos espaços ou equipamentos urbanos e nos meios de transportes individuais ou coletivos;

b) Acessibilidade Comunicacional: Não deve haver barreiras na comunicação interpessoal, escrita e virtual;

c) Acessibilidade Metodológica: Não deve haver barreiras nos métodos e técnicas de estudo, de trabalho, de ação comunitária e de educação dos filhos;

d) Acessibilidade Instrumental: Não deve haver barreiras nos instrumentos, utensílios e ferramentas de estudo, de trabalho e de lazer ou recreação;

e) Acessibilidade Programática: Não deve haver barreiras invisíveis embutidas em políticas públicas e normas ou regulamentos;

f) Acessibilidade Atitudinal: Não deve haver preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações.

Em contrapartida à autonomia possibilitada pela acessibilidade nos ambientes, pode-se observar a presença de elementos que impedem a circulação e movimentação adequadas dos usuários. Estes obstáculos são chamados de barreiras e caracterizados pela Lei 13.146 de 2015 como:

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Qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros.

As barreiras são classificadas em quatro categorias, mostradas na Tabela 2 abaixo:

Tabela 2: Classificação dos tipos de barreiras Barreiras urbanísticas

Presentes nos espaços públicos e de uso coletivo, privados ou não, e nas vias de tráfego. Exemplos: Inexistência de rampa de acesso e piso podo tátil.

Barreiras arquitetônicas

Existentes em edificações públicas e privadas. Relacionadas com o projeto dos edifícios. Exemplos: Portas estreitas, banheiros sem equipamentos adaptados, mobiliário em altura incompatível, área de manobra não adequada.

Barreiras nos transportes

Existentes nos meios de transportes, especialmente públicos, bem como no sistema de transporte como um todo. Exemplos: Ônibus não adaptados para cadeirantes, falta de sinal sonoro nos meios de transporte.

Barreiras nas comunicações e informação

Observadas nas trocas de informação, por meio de sistemas de comunicação ou não, e nas sinalizações. Exemplos: Sinalização com letras muito pequenas, inexistência de sinalização em braile.

Fonte: Adaptado da Lei n° 13.146, 2015.

Percebendo-se a existência de barreiras e a impossibilidade de uso autônomo e seguro dos espaços, alguns ambientes requerem adaptações para atenderem aos critérios de acessibilidade necessários.

A NBR 9050/2015 aponta que todos os elementos que fazem parte de espaços, edificações, mobiliários e equipamentos urbanos são adaptáveis quando suas características são passíveis de alterações para que ser tornem acessíveis.

Assim, Férres (2006) propõe a classificação de espaços segundo sua acessibilidade, sendo eles:

a) Ambiente Acessível: quando o mesmo proporciona a utilização cômoda, segura e autônoma aos usuários;

b) Ambiente Praticável: onde o espaço não se ajusta a todas as diretrizes especificadas por lei, porém, permite que as pessoas o usem com autonomia;

c) Ambiente Adaptável: onde os espaços podem ser transformados em praticáveis, pelo menos, através de alterações que não afetem as conformações indispensáveis;

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d) Ambiente Não-Acessível: quando o ambiente não contempla as condições necessárias para que ocorra acessibilidade, mesmo com modificações.

Conforme Mace (1991), um projeto eficaz de edificações adaptáveis não resulta em inconvenientes às pessoas que não possuem deficiência visto que a maioria aprecia o fato de existir maior flexibilidade dos ambientes.

2.3 DESENHO UNIVERSAL

O conceito de Desenho Universal foi introduzido, primeiramente, pelo arquiteto americano Ronald Mace em 1987, que o definiu como “projetar todos os produtos, prédios e espaços exteriores para que sejam usáveis por todas as pessoas em toda a sua extensão” (MACE, 1991 p. 2). Isso, segundo Carletto e Cambiaghi (2008), significa inibir a necessidade de espaços distintos para acomodar pessoas que possuem mobilidade reduzida ou não. Ainda, para Mace (1991), a aplicação deste conceito deve considerar previamente as mudanças que possam ocorrer durante a vida de uma pessoa, como a perda de mobilidade devido à alguma doença, ao contrário de adaptar edificações já existentes, de forma custosa e com aparência clínica.

Seguindo este mesmo conceito, Goldsmith (2000) apresenta a ideia do

bottom-up design (projetar de baixo para cima, em tradução literal) associado à

pirâmide do desenho universal, mostrada na Figura 1. Nesse tipo de projeto, o arquiteto ajusta e expande as instalações para atender às necessidades de todos os seus usuários, dispensando-se acomodações especiais para pessoas com deficiência ou classificadas nas linhas mais acima na pirâmide.

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Figura 1: Pirâmide do Desenho Universal Fonte: Goldsmith, 2000.

Na Figura 1, as linhas de 1 a 8 se referem a grupos de pessoas de acordo com sua capacidade motora e representam os possíveis usuários de um espaço a ser projetado. As linhas 1 e 2 são ocupadas por jovens e adultos com habilidades consideradas normais e capazes de se adequar a qualquer tipo de projeto e espaço. Na linha 3 se encontram mulheres, também com habilidades normais, porém comumente esquecidas quando se discute a quantidade de banheiros em espaços públicos, resultando em grandes filas e longo tempo em pé. Acima, a linha 4, é preenchida por idosos e crianças, não considerados como deficientes, mas julga-se que podem apresentar dificuldades em espaços reduzidos e escadas, por necessitarem de apoio ou ajuda. A linha 5 é ocupada por pessoas que conseguem permanecer em pé, porém têm algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida e o período confortável de permanência em pé é também reduzido, como, por exemplo, pessoas que sofreram amputação e usam equipamentos de apoio para deslocamento. A linha 6 se refere a indivíduos que se locomovem com autonomia em cadeira de rodas, grupo que, na maioria das vezes, é usado como referência

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quando se fala em acessibilidade. Já na linha 7 são mostradas pessoas que também fazem uso de cadeira de rodas, mas não de forma autônoma, necessitando de ajuda por parte de outros. Por fim, a linha 8 é ocupada por indivíduos com total dependência para sua locomoção (GOLDSMITH, 2000).

Para se praticar o bottom-up design de maneira satisfatória, o projetista precisa começar a planejar de modo que atenda aos indivíduos das linhas 1, 2 e 3 e, posteriormente, adequar o projeto às linhas seguintes, uma a uma, até que satisfaça as necessidades de todos os potenciais usuários do espaço em questão, como mostrado na coluna D (GOLDSMITH, 2000).

Na visão de Melo (2006), embora existam situações onde não se é possível atender a todos os níveis de mobilidade, os princípios do Desenho Universal podem direcionar o desenvolvimento, produção e avaliação de produtos, serviços e ambientes transformando-os em mais acessíveis.

Para se obter espaços adequados e plenamente acessíveis conforme o Desenho Universal, são propostos sete princípios adotados mundialmente (CARLETTO e CAMBIAGHI, 2008). São eles: uso equitativo; uso flexível; uso simples e intuitivo; informação de fácil percepção; tolerância ao erro; esforço físico mínimo; e dimensionamento de espaços para acesso e uso abrangente.

O uso equitativo prevê espaços, objetos ou produtos capazes de serem usados independente da capacidade dos usuários, evitando segregação e oferecendo segurança, privacidade e proteção aos usuários. O uso flexível é garantido por espaços e produtos passíveis de adaptações e adequações à diferentes necessidades. A fim de se assegurar o uso simples e intuitivo, o ambiente deve permitir fácil compreensão, eliminando-se barreiras complexas e desnecessárias. O princípio de informação de fácil percepção tem como base a utilização de meios de comunicação que maximizem a clareza e facilitem a utilização do ambiente, podendo-se aplicar símbolos, sinais sonoros e táteis, por exemplo. A tolerância ao erro pretende antecipar e prevenir situações de acidente utilizando-se equipamentos de segurança, como corrimãos, e controle de materiais de acabamento. Os objetos e espaços projetados para atender o princípio do esforço físico mínimo permitem que os mesmos sejam empregados de maneira segura, eficiente e confortável por todos os usuários. Por fim, o dimensionamento de espaços para acesso e uso abrangente prevê ambientes que abriguem de maneira

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satisfatória pessoas com mobilidade reduzida ou não, em pé ou sentadas, modelando-se às diferentes variações ergonômicas (SÃO PAULO, 2010).

Para que o Desenho Universal seja aplicado de forma satisfatória em edificações brasileiras, os seus princípios foram incorporados à NBR 9050 desde sua primeira publicação (CARLETTO e CAMBIAGHI, 2008).

2.4 DEFICIÊNCIA E MOBILIDADE REDUZIDA

De acordo com Lopes (2010), a partir da década de 1970 as entidades relacionadas às Nações Unidas passaram a definir o conceito de deficiência com viés voltado aos direitos humanos, focado na igualdade de direitos e dignidade. Como, por exemplo, a definição apresentada por Mace (1991), na qual deficiência se apresenta como qualquer dano de natureza física ou mental que limite ou dificulte de forma considerável atividades essenciais a um indivíduo.

Em contrapartida, as conotações utilizadas mais recentemente ainda se voltam aos parâmetros médicos, exemplificado pelas definições propostas no Decreto 3.298 de 1999:

Art 3° [...] considera-se:

I – deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;

II – deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e

III – incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade exercida.

Ou ainda a denotação dada por Saad (2011, p. 11), que leva em consideração aspectos técnicos, caracterizando deficiência como “redução, limitação ou inexistência das condições de percepção das características do ambiente ou de mobilidade e de utilização de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente”.

Algumas das considerações sobre deficiência são dadas pela Classificação Internacional de deficiências, incapacidades e desvantagens, ou CIDID, publicada em 1989 pela Assembleia da OMS. Tal resolução tornou-se um referencial único

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para a área clínica, levando em conta, também, o quesito de deficiência nos aspectos de saúde e doença. A Classificação caracteriza a deficiência como “perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiologia ou anatômica, temporária ou permanente”. Ainda, a CIDID cita mais dois termos importantes: a incapacidade, dada pela restrição, fruto de deficiência, das habilidades necessárias para a realização de atividades consideradas como normais; e a desvantagem, expressa pelo prejuízo à pessoa, limitando ou impedindo o desempenho de atividades como resultado de uma deficiência ou incapacidade (AMIRALIAN et al, 2000).

A distinção e exemplificação destes conceitos são mostradas na Tabela 3 a seguir.

Tabela 3: Caracterização de deficiência, incapacidade e desvantagem

Deficiência Incapacidade Desvantagem

Da linguagem

Da audição (sensorial) Da visão

De falar

De ouvir (de comunicação) De ver

Na orientação

Músculo-esquelética (física)

De órgãos (orgânica)

De andar (de locomoção)

De assegurar a subsistência no lar (posição do corpo e destreza) De realizar a higiene pessoal De se vestir (cuidado pessoal) De se alimentar

Na independência física Na mobilidade

Nas atividades da vida diária

Intelectual (mental) Psicológica

De aprender

De perceber (aptidões particulares) D memorizar De relacionar-se (comportamento) De ter consciência Na capacidade ocupacional Na integração social Fonte: Amiralian et al, 2000.

Da mesma maneira que a Tabela 3, o Art. 4° do Decreto 3.298 de 1999 mostra, por meio da legislação, como a deficiência pode ser dividida, considerando os segmentos que afeta, em cinco categorias. A classificação refere-se a:

a) Deficiência física, onde as funções físicas e motoras são comprometidas devido a alteração total ou não de membros ou partes do corpo. São exemplos a paraplegia, tetraplegia, amputações e paralisia cerebral; b) Deficiência auditiva, caracterizada pela perda total ou parcial da audição; c) Deficiência visual, quando ocorre perda de visão de maneira total ou não,

ou ainda diminuição no campo visual do indivíduo;

d) Deficiência mental, que ocorre quando o funcionamento intelectual é reduzido de maneira significativa, impondo limitações a habilidades necessárias às atividades consideradas normais;

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e) Deficiência múltipla, onde duas ou mais deficiências estão presentes.

Ainda, para se trabalhar acessibilidade, deve-se considerar o grupo das pessoas com mobilidade reduzida que, mesmo não apresentando deficiência alguma, têm dificuldade de se locomover ou movimentar, permanente ou temporariamente, afetando negativamente sua capacidade de deslocamento, percepção, flexibilidade e coordenação motora (SAAD, 2011). Se enquadram neste contexto idosos, gestantes, lactantes, pessoas acompanhadas de crianças de colo e pessoas obesas (BRASIL, 2015).

2.5 LEGISLAÇÃO RELATIVA À ACESSIBILIDADE

Dentre as legislações federais que apresentam o tema acessibilidade e pessoa com deficiência, existem decretos, leis, e portarias, além da Constituição Federal. A Constituição Federal de 1988 estabelece a equidade de direitos entre todos os cidadãos brasileiros, enquadrando-se os direitos humanos e os direitos sociais previstos no Art. 6°, como saúde, educação, segurança e moradia (BRASIL, 1988).

Tendo em vista a aplicação de critérios de acessibilidade, que convergem para a melhoria da qualidade de vida e o exercício da cidadania por pessoas portadoras de deficiência física e mobilidade reduzida, serão abordados leis e decretos que tratam deste assunto em específico, em detrimento das leis que asseguram aspectos sociais necessários aos deficientes.

Em 1985 foi promulgada a Lei n° 7.405, tornando obrigatório o uso do “Símbolo Internacional de Acesso” a quaisquer locais nos quais seja possível acesso e utilização de espaços e serviços por pessoas com deficiência. A lei se aplica a edificações e serviços, desde que os mesmos ofereçam condições de uso adequadas. O uso do símbolo é obrigatório em todos os espaços que são de interesse comunitário e coletivo, estabelecidos no Art. 4° da lei, como hospitais, estabelecimentos bancários e sedes de órgãos governamentais (BRASIL, 1985).

No ano de 2000 foi estabelecida a Lei n° 10.098, a qual determina os critérios para que seja promovida a acessibilidade de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Ela apresenta definições necessárias ao tema e especifica

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diretrizes para urbanização e espaços de uso público, uso coletivo e privados (BRASIL, 2000). Para garantir acessibilidade nesses locais, a lei aponta:

Art. 11. A construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.

[...]

I – nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a estacionamento de uso público, deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem pessoas portadoras de deficiência com dificuldade de locomoção permanente;

II – pelo menos um dos acessos ao interior da edificação deverá estar livre de barreiras arquitetônicas e de obstáculos que impeçam ou dificultem a acessibilidade de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;

III – pelo menos um dos itinerários que comuniquem horizontal e verticalmente todas as dependências e serviços do edifício, entre si e com o exterior, deverá cumprir os requisitos de acessibilidade de que trata esta Lei; e

IV – os edifícios deverão dispor, pelo menos, de um banheiro acessível, distribuindo-se seus equipamentos e acessórios de maneira que possam ser utilizados por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Posteriormente à Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promovida pela ONU em 2007, foi promulgada sua validade em território brasileiro através do Decreto n° 6.949. No artigo 9° do documento, estão dispostas as principais medidas a serem adotadas em direção à acessibilidade, como o desenvolvimento de normas que garantam a mínima acessibilidade a serviços e instalações abertas ao público (BRASIL, 2009).

Já em julho de 2015 foi instituída a Lei n° 13.146, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. A lei cita definições necessárias ao entendimento da mesma, como o significado de barreiras e desenho universal, além dos direitos garantidos às pessoas portadoras de deficiência, competência do poder público (BRASIL, 2015)

No âmbito estadual, a legislação máxima que trata de acessibilidade é o Estatuto da Pessoa com Deficiência do Estado do Paraná, instituído pela Lei 18.419 de 7 de janeiro de 2015, aplicável a todo o estado e nos municípios. Nele estão estabelecidas diretrizes visando promover e assegurar a equidade de direitos às pessoas com deficiência, além de garantir inclusão social e o exercício pleno de cidadania (PARANÁ, 2015). O Art. 5° da Lei 18.419 menciona os princípios

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fundamentais a serem considerados para sua implantação, dentre eles, a acessibilidade:

Art. 5.° São princípios fundamentais da Política Pública Estadual para Promoção dos Direitos e Inclusão de Pessoa com Deficiência:

I – o respeito à dignidade inerente, à autonomia individual, incluindo a liberdade de fazer suas próprias escolhas, e à independência das pessoas; II – a não discriminação;

III – a inclusão e participação plena e efetiva na sociedade;

IV – o respeito pela diferença e aceitação da deficiência como parte da diversidade e da condição humana;

V – a igualdade de oportunidades; VI – a acessibilidade;

VII – a igualdade entre homens e mulheres;

VIII – o respeito pela capacidade em desenvolvimento das crianças e adolescentes com deficiência.

Os objetivos propostos pelo estatuto paranaense se alinham com o Estatuto da Pessoa com Deficiência instituído pelo governo federal, visando promover a qualidade de vida, a assistência à saúde, a prevenção e a inclusão das pessoas com deficiência (PARANÁ, 2015).

A legislação do Município de Pato Branco – PR que trata de acessibilidade refere-se, basicamente, à Legislação de Padronização das calçadas na área urbana. A Lei 3.037 de 2008 tem como objetivo principal a adaptação das calçadas à norma de acessibilidade, além de promover a padronização visual para os usuários. Cada tipologia de calçada especificada e detalhada na lei municipal leva em consideração o fluxo de pedestres na via (PATO BRANCO, 2008). De acordo com a lei acima mencionada, as calçadas são classificadas em tipos, conforme o Art. 2°, item I, e deverão ser executadas com material antiderrapante, contendo correta aplicação de sinalização tátil alerta e direcional, com largura mínima dos passeios de 3,5 m, para loteamentos aprovados a partir daquele ano. A mesma estabelece, ainda, que as calçadas devem obedecer aos requisitos apresentados na NBR 9050/2015, observando-se inclinações transversais e longitudinais máximas.

2.6 ASPECTOS TÉCNICOS PARA ACESSIBILIDADE NAS EDIFICAÇÕES

Nesta seção serão levantados os principais aspectos técnicos para se garantir uma edificação acessível. Os critérios mostrados levam em consideração as especificações dadas pela NBR 9050/2015, Acessibilidade a edificações, mobiliário

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e equipamentos urbanos, além de exemplos apresentados por cartilhas e manuais com este tema.

Foram considerados como critérios principais: os acessos à edificação, englobando entradas, saídas e o entorno da edificação; a circulação horizontal dentro da edificação; a circulação vertical, incluindo escadas e rampas; as instalações sanitárias; o mobiliário; e a sinalização presente na edificação.

2.6.1 Parâmetros antropométricos e dimensões de referência

Para a elaboração da NBR 9050/2015 foram considerados parâmetros antropométricos e dimensões referenciais que, embora não compreendam toda a população brasileira, alcançam de 5% a 95% das pessoas, segundo uma distribuição normal de valores, excluindo, assim, mulheres com estatura muito baixa e homens com estatura muito elevada (SAAD, 2015).

Estas dimensões de referência levam em consideração o deslocamento de pessoas com auxílio de algum equipamento, como bengalas, andadores ou cadeiras de roda, considerando-se, então, o espaço ocupado pelo conjunto pessoa-equipamento, além do alcance manual para pessoas em pé e sentadas (CREA-SC, 2017)

Para pessoas se deslocando em pé com auxílio de equipamentos, a NBR 9050/2015 apresenta as dimensões referenciais mostradas nas Figuras 2, 3 e 4 a seguir:

Figura 2: Dimensões de referência para pessoas se deslocando com bengalas e andador Fonte: ABNT, 2015.

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Figura 3: Dimensões de referência para pessoas se deslocando com muletas Fonte: ABNT, 2015.

Figura 4: Dimensões de referência para pessoas com bengala longa, cão guia e sem órtese Fonte: ABNT, 2015.

De maneira similar, a norma estabelece medidas padronizadas para pessoas em cadeira de rodas, denominando-as “módulo de referência”. O módulo de referência é a projeção da cadeira de rodas junto com seu usuário, garantindo o espaço mínimo para a mobilidade do cadeirante (SÃO PAULO, 2012). Na Figura 5 é indicado o tamanho do módulo de referência para cadeiras de rodas motorizadas ou não, como definido pela NBR 9050/2015:

Figura 5: Módulo de referência Fonte: ABNT, 2015.

Ainda, a normativa define o espaço necessário para que os cadeirantes executem manobras de movimentação, aproximação, rotação e transferência, chamadas de áreas de manobra ou áreas de rotação (CREA-SC, 2017). As áreas de manobra sem deslocamento se aplicam a espaços como banheiros, próximo a

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bebedouros e a mobiliário, onde a tendência do cadeirante é girar em torno do seu próprio eixo, como apontado na Figura 6.

Figura 6: Área de manobra sem deslocamento Fonte: ABNT, 2015.

Para movimentação em corredores, rampas e demais acessos, são válidas as dimensões mostradas nas Figuras 7 e 8 abaixo:

Figura 7: Área de manobra com deslocamento em 90°

Fonte: ABNT, 2015.

Figura 8: Área de manobra com deslocamentos contínuos em 90° Fonte: ABNT, 2015.

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Além disso, na determinação das medidas referenciais, são consideradas as distâncias de alcance manual, para pessoa e pé e sentada, abrangendo os valores mínimos, máximos e confortáveis para ambas situações (SAAD, 2011). Na Figura 8 é mostrado o alcance frontal das mãos em diferentes posições, desde o braço totalmente relaxado e alinhado com o corpo até o alcance máximo confortável. Seguindo o mesmo critério, na Figura 9 são indicadas as situações para alcance manual frontal partindo do ponto mais baixo de alcance até o mais alto.

Figura 8: Alcance manual frontal para pessoa em pé Fonte: ABNT, 2015.

Figura 9: Alcance manual frontal para pessoa sentada Fonte: ABNT, 2015.

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Por outro lado, na Figura 10 são apresentadas as possibilidades e medidas, horizontais e verticais, de alcance manual lateral para uma pessoa sentada, seguindo o padrão antropométrico adotado pela NBR 9050/2015.

Figura 10: Alcance manual lateral para pessoa sentada Fonte: ABNT, 2015.

2.6.2 Circulação Externa

Segundo o CONFEA (2017), a circulação externa de uma edificação deve ser livre de barreiras ou obstáculos, permitindo movimentação de modo seguro e contínuo a todos os usuários. As rotas de circulação externa incorporam, dentre outros itens, as calçadas e estacionamentos, apresentados a seguir.

2.6.2.1 Calçadas

A NBR 9050/2015 prevê que as calçadas devem garantir a circulação de pedestres por uma faixa livre sem degraus, com inclinação transversal máxima de 3% e inclinação longitudinal que acompanhe o relevo (ABNT, 2015). Já o CONFEA (2017) e o CREA-SC (2017) recomendam que a inclinação longitudinal dos passeios em rotas acessíveis seja limitada a 8,33%, para que sejam ocupadas de forma autônoma por cadeirantes.

Do mesmo modo, a norma propõe que sejam utilizadas três faixas para compor as calçadas, sendo elas: a faixa de serviço, com largura de no mínimo 0,70 m, contendo canteiros, vegetação, sinalização e postes de iluminação; o passeio ou faixa livre, para a circulação de pedestres, obedecendo aos critérios de inclinação e

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continuidade, não apresentando obstáculos, com largura mínima de 1,20 m e altura livre de 2,10 m; e a faixa de acesso, onde se localizam rampas de acesso aos lotes, quando necessário, desde que a largura total da calçada seja superior a 2,00 m (ABNT, 2015). As dimensões estabelecidas pela norma podem ser observadas na Figura 11 a seguir:

Figura 11: Faixas de uso das calçadas Fonte: ABNT, 2015.

No município de Pato Branco – PR, a Lei 3037/2008 prevê que a largura mínima das calçadas seja de 3,50 m, para os loteamentos novos, que foram aprovados a partir do ano de 2008, o que possibilita a adoção das três faixas conforme o tipo especificado pela lei para o local da edificação (PATO BRANCO, 2008). Para as calçadas que pertencem aos loteamentos anteriores à lei, reduz-se a faixa de acesso.

Nos acessos entre via e calçada, devem existir guias rebaixadas, facilitando a utilização para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Dentre as possibilidades, o CREA-SC (2017) indica a construção de rampas de acesso com inclinação máxima para rampa e abas de 8,33% e garantindo largura livre de 1,20 m entre a parte superior da rampa e o alinhamento predial.

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2.6.2.2 Estacionamento

De acordo com a NBR 9050/2015 existem dois casos onde as vagas em estacionamentos são reservadas: para idosos e para deficientes. Estas vagas devem ser dispostas próximo à entrada das edificações, com percurso máximo igual a 50 m até a entrada destas, fazer parte da rota acessível de acesso, possuir piso regular e estável, além de sinalização adequada (ABNT, 2015). É indicado pelo CONTRAN (2008) que 5% do total de vagas sejam destinadas exclusivamente a idosos, desde que estejam sinalizadas e indicadas corretamente. Já a Lei 10.098 estabelece que 2% da totalidade das vagas são reservadas a veículos que transportem pessoa com deficiência (BRASIL, 2000). O CREA-SC (2017) sugere que as vagas reservadas tenham dimensões mínimas iguais a 5,00 m de comprimento e 2,50 m de largura e também atenda às condições propostas pela NBR 9050, como mostrado na Figura 12 abaixo:

Figura 12: Exemplo de vaga de estacionamento conforme a NBR 9050/2015 Fonte: CREA-SC, 2017.

Conforme Saad (2011), as vagas podem ter outras disposições, como lado a lado, caso seja necessário mais de uma vaga, perpendiculares à calçada ou com inclinação de 45°, desde que as considerações apontadas pela NBR 9050/2015 sejam respeitadas.

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2.6.3 Circulação Interna Horizontal

A circulação livre de obstáculos permite ligação entre espaços e serviços para todos os potenciais usuários. Para tanto, a circulação horizontal de uma edificação em concordância com a NBR 9050/2015 compreende as rotas acessíveis, corredores, portas e demais aberturas (SAAD, 2011).

2.6.3.1 Rota Acessível

Saad (2011, p. 13) caracteriza rotas acessíveis como “trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecta os ambientes externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser utilizado de forma autônoma e segura por todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência”. De maneira semelhante, Mace (1991, p. 15), define as rotas acessíveis como “um caminho claro conectando espaços acessíveis e espaços, não possuindo degraus ou escadas na entrada do prédio ou unidade, e que os ambientes necessários ao uso estejam em apenas um nível ou conectados por elevadores ou rampas”.

Para ambientes de uso público, uso coletivo e áreas de uso comum em habitações multifamiliares, é requerido pela NBR 9050/2015 que seja previsto ao menos uma rota acessível a qual conecte unidades autônomas caso necessário (ABNT, 2015).

Como os corredores são elementos que constituem as rotas acessíveis, estes também devem ser dimensionados seguindo as recomendações da NBR 9050/2015. A norma prevê as seguintes larguras mínimas livres conforme o comprimento dos corredores: até 0,4 m de comprimento, a largura livre mínima é 80 cm; de 0,4 m a 4,0 m em ambientes de uso comum, largura de 90 cm; de 4,0 m a 10,0 m e uso comum, largura igual a 120 cm; para corredores acima de 10,0 m de uso comum ou qualquer comprimento para uso público a largura mínima é igual a 150 cm; e, para fluxo de pessoas intenso, observa-se a largura mínima de 150 cm, conforme especificado pela norma (ABNT, 2015).

Ainda, para as edificações onde não é possível fazer adaptações nos corredores, é necessária a construção de áreas de manobra para retorno seguindo as dimensões de referência para rotação de 180°, ou seja, uma área com medidas de 150 cm x 120 cm, a cada 15,0 m (ABNT, 2015).

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2.6.3.2 Portas e Aberturas

A fim de garantir um ambiente acessível em espaços que oferecem serviços de saúde deve-se observar requisitos mínimos de projeto segundo a NBR 9050/2015. Primeiramente, para facilitar a abertura das portas, a norma recomenda maçanetas no modelo de alavanca e localizadas a uma altura de 90 cm a 110 cm do piso, podendo conter ainda puxadores horizontais na parte interna das portas de vestiários e sanitários (SAAD, 2011).

Com o objetivo de acomodar uma cadeira de rodas convencional, é necessário que as portas tenham vão livre mínimo de 80 cm, isto é, a largura total de passagem, não considerando o tamanho de batentes, vistas e dobradiças, inclusive para portas sanfonadas e de correr. Também, em portas vaivém, deve-se prever puxador vertical e visor de largura mínima igual a 20 cm, situado de 40 cm a 90 cm para sua parte inferior e a 150 cm para o limite superior em relação ao piso acabado (ABNT, 2015).

Além do exposto, para que o deslocamento de pessoas que dependem de equipamentos para sua movimentação não seja prejudicado, deve-se considerar espaços adicionais próximo a aberturas e portas, analisando as possíveis formas de aproximação (CREA-SC, 2017), como indicado na Figura 13 em seguida, cujas dimensões oferecem espaço suficiente para que os cadeirantes possam, facilmente, abrir e fechar portas de forma autônoma:

Figura 13: Espaço livre em portas para deslocamento frontal e lateral Fonte: ABNT, 2015.

Do mesmo modo, quando houver portas dispostas em sequência com abertura para o mesmo cômodo, é prescrito pela norma que exista um espaço de 1,50 m de distância entre as projeções horizontais das portas abertas, além de 60

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cm ao lado de cada maçaneta, de forma a permitir aproximação facilitada para pessoas em cadeira de rodas (ABNT, 2015).

A norma indica, ainda, que caso as distâncias de aproximação discutidas anteriormente não possam ser satisfeitas, pode-se dispensá-las desde que a abertura e fechamento das portas seja controlado por sensor ou botoeira (ABNT, 2015).

2.6.4 Circulação Interna Vertical

De acordo com o CREA-SC (2017, p. 54), “na circulação vertical, deve-se garantir que qualquer pessoa possa se movimentar e acessar todos os níveis da edificação com autonomia e independência”. Assim, serão tratados os requisitos para proporcionar circulação vertical não motorizada adequada, utilizando-se os elementos de rampas e escadas, comentados a seguir.

Apesar de se desejar uma superfície contínua, é provável que pequenos desníveis sejam encontrados nas edificações. Os possíveis desníveis existentes podem ser tratados como três situações diferentes: se menores que 5 mm dispensam correções; se possuírem dimensão entre 5 mm e 20 mm, devem ser tratados como pequenas rampas, com inclinação máxima de 50%; e, se maiores que 20 mm, quando inevitáveis, são considerados degraus (ABNT, 2015).

Os elementos comuns ao projeto de escadas e rampas acessíveis são os pisos e os corrimãos. Em ambos os casos, a norma prevê que o revestimento aplicado seja antiderrapante, com superfície firme, acabamento regular e estável em qualquer condição (ABNT, 2015).

É estabelecido na NBR 9050/2015 que os corrimãos precisam ser instalados em duas alturas, a 70 cm do piso e a 92 cm do piso medidos a partir da superfície superior da barra de apoio, e prolongados de 30 cm em ambas as extremidades. Isso assegura que tanto as pessoas utilizando cadeiras de rodas quanto as que estão em pé consigam utilizar o corrimão (ABNT, 2015). Na Figura 14, a seguir, é indicada a instalação correta dos corrimãos de acordo com a NBR 9050/2015.

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Figura 14: Instalação de corrimãos acessíveis Fonte: CREA SC, 2017.

Para sua correta alocação, Saad (2011) recomenda, em conformidade com a norma vigente, que os materiais devem ser fabricados com acabamento curvo, em material rígido, fixados em barras de sustentação ou na parede e dispostos nos dois lados do elemento que servem, além de possuírem superfície sem interrupção para evitar possíveis quedas.

2.6.4.1 Rampas

Em edificações novas, a NBR 9050/2015 aponta a utilização de diferentes inclinações admissíveis, em porcentagem, conforme o desnível a ser vencido: de 6,25 % e 8,33 % para desníveis máximos de 0,80 m, com no máximo 15 segmentos sucessivos; de 5,00 % a 6,25 % para desníveis de até 1,00 m; e de até 5,00 % para desníveis de, no máximo, 1,50 m Entre os segmentos de rampas, no início e final das mesmas devem ser previstos patamares com no mínimo 1,20 m medidos longitudinalmente (ABNT, 2015). A disposição dos patamares é exemplificada na Figura 15 abaixo.

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Figura 15: Disposição dos patamares para rampas, em corte e planta Fonte: Adaptada da NBR 9050/2015, 2018.

Em concordância com a NBR 9050/2015, o CREA-SC (2017) estabelece que é necessário considerar o fluxo de pessoas para se determinar a largura mínima das rampas, admitido 1,20 m, no mínimo, para rampas que não fazem parte de rotas acessíveis, e 1,50 m para rotas consideradas acessíveis.

Os principais erros no dimensionamento das rampas são a utilização de inclinações elevadas, corrimão inadequado, falta de sinalização de piso e revestimentos considerados derrapantes (CONFEA, 2017).

2.6.4.2 Escadas

Embora as escadas não sejam adequadas para a circulação vertical de cadeirantes, elas podem ser incluídas em rotas acessíveis, possíveis de serem utilizadas por pessoas com mobilidade reduzida, por exemplo (CREA-SC, 2017).

Da mesma maneira que nas rampas, a largura de escadas acessíveis deve ser dimensionada considerando-se o fluxo de pessoas, sendo no mínimo de 1,20 m e dotada de corrimãos em ambos os lados. Ainda, o dimensionamento de pisadas (p) e espelhos (e) deve seguir a seguinte equação, chamada de fórmula de Blondel:

0,63 𝑚 ≤ 𝑝 + 2𝑒 ≤ 0,65 𝑚

Além disso, são previstos patamares intermediários a cada 3,20 m de desnível ou na ocorrência de mudança de direção, com largura mínima seguindo o mesmo critério das escadas.

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Demais características das escadas acessíveis são mostradas pelo CREA-SC (2017), como a existência de piso podo tátil (direcional e alerta) no início e término das escadas, distância mínima de 0,30 cm entre os degraus de início e fim e a área de circulação, e sinalização de pisada e espelho em todos os degraus.

2.6.5 Instalações Sanitárias

O CREA-SC (2017) indica algumas recomendações para instalações sanitárias em concordância com os requisitos da NBR 9050/2015, dentre elas: a existência de, no mínimo, 5% de banheiros e vestiários acessíveis; rotas acessíveis que levem aos sanitários; áreas de transferência e de manobras adequadas; conter barras de apoio instaladas corretamente; acessórios e lavatórios de acordo com o alcance manual confortável, e acessos por portas de correr ou de giro que abram para fora do ambiente.

Para edificações novas e de uso público, a NBR 9050/2015 prevê a instalação de, no mínimo, um sanitário acessível para cada sexo em cada pavimento que conte com peças sanitárias, ou 5% do total de peças disponíveis. Ainda, estes devem estar integrados às rotas acessíveis e com distância máxima de caminhamento de 50 m contando a partir de qualquer ponto da edificação e contar com entrada independente (ABNT, 2015). Por outro lado, em edificações que prestam serviços de saúde é previsto que pelo menos 10% dos sanitários sejam acessíveis em cada andar em edificações que ofereçam tais serviços (SÃO PAULO, 2012).

As dimensões necessárias para que o banheiro seja acessível devem atender, no mínimo, às áreas de giro de 360°, transferência lateral, diagonal e perpendicular para aproximação em lavatório e bacia sanitária, conforme o módulo e as distâncias de referências mencionadas anteriormente. A distribuição das áreas é exemplificada na Figura 16 em seguida:

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Figura 16: Áreas de aproximação para bacia sanitária e lavatório Fonte: ABNT, 2015.

Como pode ser visualizado na Figura 16, o sanitário acessível também deve conter barras de apoio, posicionadas junto ao lavatório, à bacia sanitária, no deslocamento entre estes elementos e na face interna da porta. Seguindo as especificações dos corrimãos, é necessário que a barra de apoio seja fabricada em material resistente, sem arestas vivas e fixada firmemente (ABNT, 2015).

Ao contrário da sua versão de 2004, a NBR 9050/2015 recomenda a utilização de bacias sanitárias sem aberturas frontais, facilitando a transferência de cadeirantes para o assento, com altura proposta de 43 cm a 45 cm, descontando-se o assento, tal como exposto na Figura 17. O acionamento manual da descarga e demais acessórios, como a papeleira, devem atender ao alcance manual para pessoas em cadeira de rodas, caso contrário, é necessário que se utilizem mecanismos alternativos, como sensores (ABNT, 2015).

Referências

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