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Material Didático n. 3 Direito Penal Parte geral

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2013

Material Didático n. 3

Direito Penal – Parte geral

Estudo do Concurso de Pessoas no Direito Penal

Brasileiro.

(2)

CONCURSO DE PESSOAS – Anexo II

INTRODUÇÃO

→ Conceito

O Concurso de Pessoas ocorre quando várias pessoas concorrem para a ocorrência do mesmo fato criminoso, ou seja, quando várias pessoas juntas cometem o mesmo crime.

→ Teoria Monista

O Brasil adota a Teoria Monista temperada, prevista no art. 29, caput do CP. De acordo com tal teoria todos que colaboram no concurso de pessoas respondem no mesmo tipo penal, na medida de sua culpabilidade. De maneira muito semelhante à teoria da Equivalência das Condições (em relação ao Nexo Causal), tal Teoria entende que não importa quantas causas o crime tenha, todas se equivalem. Assim, no Concurso de Pessoas todas as pessoas que contribuirem para a prática do fato criminoso irão responder pelo mesmo tipo penal, pois segundo a Teoria Monista, aqueles que concorrem para o mesmo crime, por mais que tenham contribuído de maneiras diferentes e uns mais do que outros,teriam a imputação da mesma infração.

→ Reforma do CP

A Legislação Penal Brasileira passou por uma reforma em 1984, sendo o Código Penal totalmente reformulado. Uma das partes reformuladas, foi a referente ao concurso de pessoas (Art. 29 CP). Antes de 1984, o Brasil já adotava a Teoria Monísta, mas neste momento, ainda não fazia distinção entre as pessoas que concorriam para a ocorrência do crime. Todos que contribuíram de alguma forma para o crime eram considerados autores, não havendo distinção entre os autores e partícipes. No entanto, isto esbarrava em um problema, em um Princípio Geral do Direito, pois se todos são considerados autores, todos deveriam ser punidos com a mesma quantidade de pena, o que feria o Princípio da Proporcionalidade e da Individualização da Pena. Ser acusado pelo mesmo tipo penal não é o problema, pois este varia entre pena máxima e pena mínima. Mas serem todos considerados autores impedia a aplicação de penas diferenciadas. Por este motivo, com a reforma do Código Penal de 1984, o legislador passou a admitir que em um mesmo crime podem estar presentes 2 espécies de pessoas: autores e partícipes.

Ex.: Em um crime de homicídio, por exemplo, praticado em concurso de pessoas: um agente deu o tiro, outro informou o local onde se encontrava a vítima, outro forneceu a arma e outro vigiou o local,. Neste caso as penas podem variar conforme a contribuição de cada uma das pessoas que constarão como autores ou partícipes, e conforme o grau de reprovabilidade que cada um mereça terão penas variadas, tendo em vista que a pena do crime varia de 6 a 20 anos. Ou seja, todos respondem pelo mesmo tipo penal (Homicídio – Art. 121 do CP), mas as penas a serem aplicadas podem ser diferentes, conforme a contribuição de cada agente (princípio da individualização da pena)

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REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS

1. Pluralidade de Pessoas

Em regra, a pluralidade de pessoas depende da presença de 2 pessoas ou mais.

Mas há exceções, pois nos Crimes Plurissubjetivos, a pluralidade de pessoas dependerá da quantidade de pessoas exigida no tipo penal; diferente dos Crimes Monossubjetivos, onde a pluralidade de pessoas será de 2 pessoas em diante. Por isso, observemos: Existem crimes na nossa legislação que são Crimes Monossubjetivos que são aqueles que para ocorrer só precisam de 1 sujeito ativo, consistindo na maioria dos crimes, tais como Roubo, Furto, Homicídio, Estupro, etc. Nestes crimes, para ocorrer concurso de pessoas deverão existir pelo menos 2 agentes.

No entanto, existem também os crimes que se chamam Crimes Plurissubjetivos, que são crimes de concurso obrigatório de pessoas, de forma que o tipo penal traz na sua descrição típica a obrigatoriedade do concurso de pessoas, pois caso ele não ocorra, não há o crime. A ocorrência do crime depende da pluralidade de pessoas, sendo o concurso de pessoas é obrigatório para a ocorrência do crime. Não ocorrendo o concurso de pessoas, não há crime. É o caso dos Crimes de Rixa (que exige no mínimo 3 pessoas), Quadrilha ou Bando ( que exige no mínimo 4 pessoas); Bigamia ( que exige no mínimo 2 pessoas).

2. Relevância Causal de Cada Conduta

Significa que cada pessoa tem que contribuir causalmente para a ocorrência do fato criminoso. E esta contribuição causal pode ser uma Contribuição Causal de Ordem Material (Ex.: dando os tiros, desligando um alarme, abrindo uma porta, etc.) ou de uma Contribuição Causal de Ordem Moral, que contribui, normalmente, induzindo ou instigando o agente a praticar o crime. Normalmente, aquele que contribui moralmente para a ocorrência do crime é considerado Partícipe.

3. Vínculo Psicológico entre os Participantes

Nada mais é do que o Dolo que une os autores e os partícipes. Trata-se do acordo de vontades comum, ou seja, da contribuição de todos, com vontade de atingir o mesmo objetivo, a saber, a prática da conduta criminosa.

Ex.: Maria é a maior fofoqueira do bairro. Certo dia, depois de tanto olhar a vida alheia descobre que o Sr. Manuel, da padaria, tinha o seguinte hábito: por volta das 18:00hs, o mesmo recolhia o caixa do dia, colocava em um saco de pão e levava o dinheiro direto para o banco para efetuar um depósito. Certo dia, Maria conversando com Marcelo, seu vizinho, conta tal fato para ele, e então Marcelo usa essa informação e rouba Manuel.

Pergunta-se: Maria contribuiu causalmente para o fato? Sim, mas o fez sem vinculo psicológico (Dolo), logo, não faz parte do concurso de pessoas para o crime ocorrido.

Observe: Este acordo de vontades não precisa ser anterior a prática das condutas que contribuem para o delito, embora, em regra seja. Podemos ter Acordo de Vontade por Adesão, que ocorre em situações em que as pessoas entram no concurso de pessoas pois simplesmente aderiram a vontade já em andamento de outros.

Exemplo: “A” vê “B” iniciando a prática de um crime, e decide colaborar com este, já que concorda com aquela vontade que já está em ação, mesmo que não conheça B, e não tenha combinado nada antecipadamente com esse, responderá pelo fato em concurso de pessoas com ele. Neste caso, havendo o acordo de vontades por adesão, haverá o concurso de pessoas.

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Ex.: João passa pela rua e vê 3 flamenguistas reunidos batendo em torcedores vascaínos. João, que é flamenguista, vê o fato e resolve aderir a vontade dos 3 flamenguistas, contribuindo para o ataque aos vascaínos. Neste caso, João passa a concorrer para a ocorrência daquele crime, contribuindo causalmente e subjetivamente(dolo) para o fato.

Ex.: Saques e Arrastões (Furto/Roubo), nos casos em que pessoas ingressam na multidão para executar também a mesma ação.

4. Identidade de Infração Penal para Todos

Significa que todos os que contribuíram para o mesmo fato criminoso responderão pelo mesmo tipo penal. Este quarto requisito reflete a adoção da Teoria Monista no Brasil, significando a Identidade no mesmo Tipo Penal para todos aqueles que contribuíram para a ocorrência do fato criminoso.

No entanto, existe no Brasil exceções a esta Teoria, que são chamadas de Exceções Pluralistas. Tratam-se das hipóteses em que os agentes estão em concurso de pessoas, estão concorrendo com vontade para o mesmo fato criminoso, mas a lei ao invés de criar um crime único, cria vários. As pessoas concorrem para o mesmo fato, havendo portanto concurso de pessoas, mas o legislador define tipos penais distintos para estas pessoas conforme a conduta contributiva desempenhada por cada um dos agentes, sendo punidos como autores de Tipos Penais distintos. Trata-se de fato excepcionalíssimo na Legislação Penal Brasileira.

São exceções à Teoria Monísta (exceções pluralistas): a) Aborto com Consentimento da Gestante: Neste crime, há duas pessoas envolvidas:

Gestante → Conduta Criminosa = Consentir o aborto, a ser realizado por um terceiro, sendo o seu dolo o de que o feto morra.

Terceiro → Realiza o aborto, sendo seu dolo o mesmo da gestante, a morte do feto.

Assim, ambos estão em concurso de pessoas, pois possuem vínculo psicológico, o mesmo dolo. No entanto, o legislador pune a gestante como autora da 2ª parte do Art. 124 do CP; e o terceiro que realizou o aborto com seu consentimento é punido como autor do caput do Art. 126 do CP.

b) Crime de Corrupção

Ocorre quando determinado sujeito oferece ou promete vantagem indevida ao funcionário público com o fim de determinar atos relacionados a sua função pública, e este por sua vez aceita. Neste crime, há duas pessoas envolvidas:

Corruptor: Aquele Particular que corrompe o funcionário publico. Corrompido: Funcionário Público que sesta sendo corrompido.

O dolo de ambos envolve a lesão à Administração Pública. No entanto, ao punir, o legislador previu dois crimes diferentes:  Corrupção Passiva (Art. 317 CP) : Crime do Funcionário Público

 Corrupção Ativa (Art. 333 do CP): Crime do Particular. 

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TEORIAS SOBRE A AUTORIA E A PARTICIPAÇÃO

No Brasil, não existe um conceito único sobre quem é autor e quem é participe. Atualmente, existem 3 Teorias:

1. Teoria subjetiva ou unitária de Autoria – Esta teoria não diferencia o autor do partícipe, entendendo que todo aquele que de qualquer modo contribui para a produção do resultado relevante penalmente é autor do crime, se fundando na teoria da equivalência das condições. Esta redação foi a adotada pelo Código Penal em sua redação de 1940.

2. Teoria Extensiva de Autoria - Esta Teoria, assim como a anteriror, se fundamenta na teoria da equivalência dos antecedentes causais, não distinguindo autor de partícipe. Não é mais utilizada no Brasil, pois expressa a Teoria Monista antes de 1984. Esta Teoria entendia que quem de qualquer modo contribuisse para o crime seria considerado autor, sendo assim, não não havia a figura do Partícipe. Todavia, era mais suave que a teoria anteiror, pois admitia diversos graus de autoria, dentre eles o cúmplice, o autor que concorria de forma menos importante.

3. Teoria objetiva ou dualista – São teorias que efetivam uma distinção entre autores e partícipes. Esta teoria foi adotada na reforma do CP de 84 (lei nº 7.209/84). Esta teoria se subdive em 3:

3.1 – Teoria objetivo-formal (conceito restritivo) - Para esta Teoria, so é Autor aquele que executa os elementos descritivos do tipo penal (núcleo “verbo” do tipo penal – conduta criminosa). Não é necessário praticar sozinho os elementos da definição típica, pode haver divisão de tarefas com outros agentes para execução do tipo penal. Neste caso os agentes serão Co-autores. Aquele que contribui para a prática do tipo penal sem executar os elementos do tipo penal é o Partícipe, podendo haver mais de um partícipe.

Ex.: Art. 121 CP → “Matar alguém “: A pessoa tem que estar matando para ser autor. Observação: Por esta teoria, mandante é partícipe, pois NÃO executa os elementos do tipo.

Ex.: Joana é casada com Antero, mãe de uma menina de 3 anos. Antero fez um seguro no nome da filha, de 3 anos, e a beneficiária é a mãe, Joana. Joana conhece um amante e decide fugir com ele. Para tanto, decide matar sua filha de 3 anos para receber o seguro, programando o homicídio da menina. Assim, forja um assalto, fingindo que alguém entrou em sua casa, bateu nela, e matou a menina. Intelectualmente, Joana planeja tudo isso. Ela e o amante planejam isso e contratam um terceiro para executar o crime. Ela mesma se bate. O terceiro entra na casa, leva coisas autorizadas por ela, e dá três tiros na menina. Trata-se de um homicídio qualificado por motivo torpe.

Por esta Teoria, o terceiro seria o autor; Joana e o amante seriam partícipes, pois para esta teoria, o mandante é partícipe. É um colaborador sem executar os elementos descritivos do tipo.

Vale lembrar que embora na maior parte das vezes o partícipe seja punido de forma menos rigorosa, isso só ocorre quando o partícipe tem uma participação de pequena importância, o que não ocorreu no exemplo acima, já que Joana tem uma conduta mais reprovável do que a do Autor, podendo ocorrer de ter uma pena igual ou até maior do que a do autor, pois ela possui agravantes que o Terceiro não terá (Prática de crime contra descendentes).

Observação:

- O Conceito Restritivo pode ser aplicado aos crimes dolosos e culposos.

- No crime culposo autor será aquele que executa a conduta descuidada dando causa sem vontade a um resultado injusto previsto em lei.

- Parte da doutrina entende pela não possibilidade do concurso de agentes nos crimes culposos, por se tratarem de tipos abertos, ou seja, onde não está descrita conduta no tipo. No entanto, uma outra parte admite o concurso, tanto na forma da co-autoria (Pessoas dividindo a execução do descuido), como na forma da autoria/participação (Alguém executando um descuido, estimulado por outrem, por exemplo)

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Tal conceito é adotado pelos doutrinadores mais tradicionais. No entanto, por entenderem que este conceito deixou algumas limitações, alguns autores utilizam-se, excepcionalmente, também do conceito 3 (Conceito Finalista).

3.2 – Teoria objetivo-material – Para esta teoria autor é aquele que presta a contribuição objetiva mais relevante para a produção do resultado, não necessariamente através da realização do núcleo do tipo penal. Partícipe, por sua vez, é quem colabora de forma menos relevante, ainda que mediante a realização do núcleo do tipo. Esta teoria não foi recepcionada. 4. Conceito Finalista ou Teoria do Domínio Final do Fato - Criada em 1939, por Hans Welzel, com a intenção de fazer uma intermediação entre as duas teorias anteriores, essencialmente no que se refere a questão do mandante. A Teoria do Domínio Final do Fato diz que:

→ Autor: É aquele que tem Domínio Final do Fato, ou seja, aquele domina finalisticamente o trâmite do crime, podendo decidir se o fato ocorrerá ou não, quando ocorrerá, as condições como ocorrerá, etc. Autor é quem domina finalisticamente o trâmite do crime e decide acerca da sua prática e demais circunstâncias.

→ Participe: Aquele que colabora, sem ter domínio do fato, e sem executar o núcleo do tipo.

Esta teoria ampliou o conceito de autor, definindo-o como aquele que tem o controle final do fato, apesar de não relizar o núcleo do tipo.

Por esta teoria podem existir 3 espécies de Autoria:

a) Autor Intelectual: É aquele que planeja o delito, com domínio do fato.

Observação.: Um engenheiro contratado somente para construir um plano de assalto ao banco é participe e não Autor Intelectual, pois não possui poder de decisão sobre a situação.

b) Autor Executor/Propriamente dito: É aquele admitido como autor no Conceito Restritivo, ou seja, aquele que executa os elementos descritivos do Tipo Penal, sendo óbvio que o mesmo possui domínio do fato. c) Autor Mediato: É muito parecido com o Autor Intelectual, pois em ambos os casos, trata-se de um Autor

Indireto, que se vale de alguém para executar o crime por ele. A diferença é que o Autor Mediato é que ele tem domínio do fato pois ele tem domínio sobre a pessoa que vai executar o ato por ele, visto ser esta pessoa uma pessoa não punível, por ausência de culpabilidade, ou por ausência de dolo ou culpa. Ou seja, é aquele que se vale de uma pessoa não punível para executar o ato por ele. Na autoria intelectual, este se valerá de pessoa punível para execução do delito.

Observação.: Para haver a Autoria Mediata, deve haver uma excludente para o Autor Executor, ou seja, ele não deve ser punível efetivamente. Caso não seja verificada a excludente do Autor Executor, haverá concurso de pessoas, sendo o sujeto indireto considerado Autor Intelectual e o direto, Autor Executor. Existem 4 situações em que ocorrem Autoria Mediata conforme o Conceito Finalista:

1ª) Alguém, utilizando inimputável para prática do crime

Ex: Se valer de menor de idade, de um portador de doença mental, de alguém com embriaguez acidental e completa para praticar um crime. Quando isso ocorre, a pessoa que utiliza o inimputável é autor mediato, e o inimputável é autor executor, porém não punível.

Caso o executor não prove sua inimputabilidade, o sujeito que dele se valeu será autor intelecutal e terá agravante de sua pena.(ART. 62, III, segunda parte, CP)

2ª) Coação Moral Irresistível.(Art.. 22, primeira parte, CP)

Nesse caso, o Autor Mediato será o coator, aquele que se vale do coagido para praticar o crime

O Coagido é o Autor Executor não punível, por não ser culpável, pois está sob a justificativa da Coação Moral Irresistível.

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Observação.: Vale ressaltar que se a Coação for Resistível, não há mais Autoria Mediata por parte daquele que usa outra pessoa para cometer o crime. Sendo a Coação resistível os agentes, no caso coator e coagido, estarão em Concurso de Pessoas. Nesta situação, pela Teoria do Domínio Final do Fato, o coator é Autor Intelectual (Circunstância agravante de pena – art. 62, II, do CP) e o Coagido será Autor Executor, mas agora Punível, por não haver a excludente da Coação Irresistível (Circustância atenuante do art. 65, III, c, primeira parte, do CP)

3ª) Obediência Hierárquica (Art.. 22, segunda parte, CP)

Trata-se de mais um caso de alguém usando outra pessoa não punível para praticar um crime.

Neste caso será o Superior Hierárquico o Autor Mediato e o Subordinado o Autor Executor não punível, desde que o subordinado cumpra os requisitos da excludente, caso contrário, entra em Concurso de Pessoas com seu Superior, sendo este autor intelectual (Circunstância agravante de sua pena – art. 62, III do CP), e aquele autor executor (Circunstância atenuante de pena – art. 65, III, c, segunda parte, do CP)

4º) Erro de Tipo provocado por Terceiro (Art. 20, § 2º, CP)

O Autor Mediato é o Terceiro que determinou o Erro de alguém. O indivíduo que executou o ato por Erro de Tipo, não será punível por ausência do dolo e da culpa, não havendo para ele fato típico.

5º) Erro de Proibição provocado por Terceiro (Art. 21, caput, CP)

Esta não é a posição mais tradicional em nossa doutrina, pois apresenta problemas para ser aplicada aos Crimes Culposos. Exatamente por isso, uma grande parcela da doutirna se filia ao Conceito Restritivo, em que pese hoje os Tribunais Superiores (STF e STJ) começarem também a se valer desta posição para punir como autores os mandantes. Esta foi a teoria utilizada pelo STF, na ação penal nº 470, conhecida como “julgamento do mensalão”, no entanto, alguns renomados doutrinadores aleguem ter sido ela aplicada de forma equivocada neste caso.

Concluindo, o legislador penal pátrio no art. 29, caput, acolheu a teoria restritiva (objetivo-formal), no entanto, os adeptos desta teoria vem adotando a teoria do domínio final do fato como complemento, especialmente no que se refer ao conceito de autoria mediata.

→ PARTICIPAÇÃO

Partícipe é todo aquele que colabora de forma secundária para prática de um crime. Analisar a participação de acordo com as teorias já estudadas. Requisitos: propósito de colaborar para a conduta do autor principal e colaboração efetiva.

Conceito de Partícipe nas 3 teorias

No Conceito Extensivo:

Não existe a figura do partícipe. Todos são autores.

No Conceito Restritivo:

Participe é quem colabora sem executar os elementos do tipo.

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Participe é quem colabora sem ter domínio final do fato.

Punibilidade do Partícipe:

O participe pode ser punido, ou seja, pode ser sancionado, desde que observadas as seguintes exigências:

1º - Deve o autor, para quem o Participe está colaborando, praticar o crime pelo menos da forma tentada Significa dizer que para que o Partícipe seja punido deve o autor ingressar ao menos nos atos executórios, tal como previsto no Art. 31 do CP.

Casos de impunibilidade

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

2º - Em relação a este ítem, há divergência Doutrinária

→ Para a Teoria Tripartida do Crime: Crime é Fato Típico, Ilícito e Culpável 1ª Corrente: Teoria da Acessoriedade Extremada

Por esta teoria, o Participe só pode ser punido se o fato praticado pelo autor com quem ele colaborou for Típico, Ilícito e Culpável. Se faltar um dos 3 elementos para o autor, transfere-se a falta desses mesmos elementos para o partícipe e não poderão ser punidos, nem o autor nem o partícipe. Faltando ilicitude para o autor, faltará também para o partícipe; faltando culpabilidade para o autor, faltará também para o partícipe; faltando fato típico para o autor, faltará também para o partícipe.

Ex.: Menor de idade é o autor e o partícipe trata-se de alguém penalmente reprovável. A não culpabilidade do autor se comunicaria para o partícipe, no fato praticado pelo inimputável.

→ Para a Teoria Bipartida do Crime: Crime é Fato Típico e Ilícito. A Culpabilidade seria somente

pré-requisito de Pena.

2ª Corrente: Teoria da Acessoriedade Limitada

São adeptos desta Teoria os defensores da corrente Bipartida, entendendo que para que o partícipe seja punido, basta que o autor com o qual colaborou pratique Fato Típico e Ilícito.

Caso o autor não seja culpável, isto não incidirá em favor do partícipe, ou seja, deverá ter suas próprias causas de ausência de culpabilidade, não podendo se valer daquelas referentes ao autor em seu favor. Para esta Teoria, se o autor que praticar o fato típico e ilícito, não for considerado culpável por ser menor de 18 anos, neste caso, não há transferência desta inimputabilidade para o partícipe, até porque estaremos diante de uma hipótese de autoria mediata. Este entendimento é o mais utilizado no Brasil.

Espécies de Partícipe

Estas espécies servem tanto para o Conceito Restritivo quanto para o Conceito Finalístico. Relembrando:

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→Para o Conceito Restritivo, Participes são aqueles que participam Sem Executar os Elementos do Tipo. →Para o Conceito Finalístico, Partícipes são aqueles que participam Sem ter Domínio do Fato.

1ª Partícipe Moral

É aquele que colabora dando apoio moral ao autor. Não faz nenhum tipo de contribuição material. Ele colabora com o autor induzindo ou instigando o crime, mas sem ter domínio do fato, caso contrário estaríamos diante do Autor Intelectual.

Partícipe Moral por Induzimento - Induzir: O autor não tinha a ideia do crime e o partícipe moral faz nascer no autor a ideia.

Partícipe Moral por Instigação - Instigar: Reforçar uma ideia que já existe no pensamento do autor. O autor tinha ideia do crime e o partícipe estimula o cometimento da infração.

2ª Partícipe Material

Trata-se da chamada “Participação Material”. Pressupõe uma participação efetiva, concreta, material, do partícipe para o autor. Mas, para o partícipe material ser partícipe, na Teoria do Domínio Final do Fato, ele não pode ter domínio do fato, e pelo Conceito Restritivo não pode executar os elementos do tipo. Se ele executar os elementos do tipo será autor nas 2 teorias.

Ex: Emprestar uma arma, vigiar local, dar informações, ensinar dosagem de veneno, deixar a porta aberta, desligar o alarme, matar os cachorros para dar acesso facilitado para o cometimento do crime.

3ª Partícipe do Partícipe (Participação da participação // Colaborador do colaborador)

Trata-se da hipótese em que há mais de um Partícipe, um colaborando com o outro.

Ex: Luis induziu João a instigar Otávio a matar a mulher. Luis não conhece Otávio, mas não gosta de sua mulher. Assim, induz o amigo de Otávio a convencê-lo de matar a mulher.

PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO PARTICIPAÇÃO NEGATIVA OU POR

CONVENIÊNCIA

Em ambos os Tipos de Participação, teremos uma pessoa antevendo um resultado lesivo contra um bem jurídico tutelado no Direito Penal, no entanto, se omite.

O que irá diferenciar um tipo de participação da outra é “quem é a pessoa que se omite”

- Se o omitente for um Garantidor (art. 13, parágrafo 2º do CP), trata-se de uma Participação por Omissão.

Ex.: Garantidor vendo um sujeito executando um crime comissivo

contra uma pessoa que ele deve proteger, por exemplo, um homicídio. Devendo e podendo agir para evitar tal crime, nada faz, deverá ser punido em tal crime comissivo, homicídio, com o qual contribuiu por sua omissão.

O agente que pratica o Crime Comissivo é Autor; e o Garantidor é Partícipe por Omissão deste Crime Comissivo

Em que pese o entendiemento acima exposto, há posição na doutrina de que o garantidor que se omite sempre será considerado autor.

- Se a pessoa a se omitir não for um garantidor, trata-se de uma Participação Negativa. Ou seja, tal omitente não é participante da infração comissiva a qual corresponde o resultado que não impediu, poderá no entanto, ser sujeito ativo de um crime omissivo próprio.

Ex.: Pessoa que passa por uma rua vendo uma menina ser

estuprada nada faz para impedir o crime. Se tal pessoa não é garantidora, não poderá ser considerada partícipe no crime comissivo, através de sua omissão. Podendo a ela ser imputado, se houver, algum delito omissivo próprio. No exemplo em tela, poderia ser Omissão de socorro (art. 135 do CP).

O omitente neste caso NUNCA será Participe no crime comissivo que não impediu, pois ele não é garantidor.

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4ª - Participação Sucessiva

Trata-se da hipótese em que o mesmo participe está, sucessivamente, colaborando de mais de uma forma. Geralmente, além de fazer uma Participação Moral também faz uma Participação Material, ou várias Participações Materiais.

5ª - Participação por Omissão e Participação Negativa ou Conivência

→ OUTRAS ESPÉCIES DE AUTORIA e COAUTORIA

1- Autoria Ignorada

É a total ausência de indícios de autoria de um fato criminoso.

Consequência Jurídica: Devido à falta de indícios da autoria não há possibilidade de ação penal, que só pode ser iniciada pela denúncia ou queixa, peças em que os referidos indícios são indispensáveis para serem formuladas.

2 - Autoria Colateral

Tal forma de autoria assemelha-se a uma hipótese de concurso de pessoas. Entretanto, não há neste caso o concurso de agentes em razão da ausência do vínculo psicológico entre os participantes. Os envolvidos não estão em acordo de vontades, caso estivessem responderiam ambos pelo mesmo resultado.

Na autoria colateral ocorre autorias paralelas, destinadas ao mesmo fim. Trata-se, portanto, de autorias que estão acontecendo no mesmo local, na mesma hora, contra a mesma vítima/objeto.

Nesta modalidade de autoria pode-se apurar qual dos agentes causou o crime na forma consumada.

Ex: Dois atiradores contratados para matar a mesma vítima, no mesmo local, mesmo dia, mesma hora, mas um não sabe da existência do outro. Quando a vítima sai de casa, ambos atiram e um deles a mata, conseguindo apurar quem foi ele. Punição:

 O que consumou é punido na forma consumada

O que não consumou é punido na forma tentada →Algo alheio à sua vontade o impediu de consumar o crime. 3- Autoria Incerta

Nesse caso também ocorrem autorias paralelas, tal como a Autoria Colateral, e assim como esta parece que o Crime está em hipótese de Concurso de Pessoas, no entanto não é o caso em razão da falta de requisito determinante para caracterizá-lo como Concurso de Pessoas: não há o vínculo psicológico entre os participantes. Os envolvidos não estão em acordo de vontades.

No entanto, diversamente da autoria colateral, neste caso, não é possível identificar quem consumou o crime. É possível saber os supostos autores, mas não é possível saber qual deles consumou o crime. Sabe-se que os dois tentaram, mas não é possível provar quem deu causa ao fato consumado.

Punição: A posição Majoritária da Jurisprudência é punir todos na forma Tentada, tendo em vista o preceito “in dubio pro reu”.

4 - Autoria Por Convicção

Ocorre nas hipóteses em que o agente conhece efetivamente a norma, mas descumpre por razões de consciência, que pode ser política, religiosa, etc..

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Ex: Caso das Testemunhas de Jeová, que não permitem a transfusão de sangue para evitar a morte de outrem. 5 - Coautoria parcial ou funcional

É aquela em que os diversos autores praticam atos de execução diversos, os quais, somados, produzem o resultado almejado. Ex. Armando segura a vítima, para que B esfaqueie causando a morte.

6 - Coautoria direta ou material

É aquela em que os diversos autores executam igual conduta criminosa. Ex. A e B juntos esfaqueiam C, matando-o. 7 - Coautoria sucessiva

Em regra, os co-autores iniciam a empreitada criminosa juntos. Mas podem ocorrer casos em que, alguém ou um grupo, já tenha ingressado na Fase de Execução do inter criminis, quando outra pessoa adere à conduta criminosa e, agora unidos pelo vínculo psicológico, passam a praticar a infração penal.

Quando o acordo de vontades vier a ocorrer após o início da execução, fala-se em co-autoria sucessiva.

Ex: ‘A’ percebe que ‘B’ agride ‘C’ e já estando em andamento os atos executórios de agressão corporal, ‘A’ também começa agredir ‘C’ para ajudar ‘B’.Trata-se de co-autoria sucessiva.

Mas, até que ponto pode ser considerada a co-autoria sucessiva?

Suponhamos o Crime de Extorsão (Art. 158, CP). Uma pessoa que só se junta ao autor para receber a vantagem econômica indevida (ato situado após a consumação do crime, fase de mero exaurimento) pode ser co-autor sucessivo? O co-autor sucessivo responde por todos os atos do crime? Deve ser responsabilizado apenas pelo que ocorrer após o seu ingresso no crime?

Quando o co-autor sucessivo adere à conduta dos demais responderá pela infração penal que estiver em andamento, desde que todos os fatos anteriores tenham ingressado na sua esfera de seu conhecimento, e desde que eles não importem fatos que consistam em infrações mais graves consumadas.

Ver ainda: (Cleber Masson, p. 527-532)

 Coautoria em crimes próprios e crimes de mão própria.

 Executor de reserva.

 Coautoria em crimes omissivos.

 Autoria mediata e crimes culposos.

 Autoria mediata em crimes próprios e de mão própria.

 Autoria por determinação.

→COMUNICABILIDADE DE ELEMETARES E CIRCUNSTÂNCIAS NO CONCURSO DE PESSOAS

Elementares e Circunstâncias são dados contidos nos tipos penais. Podem ser de caráter obejetivo (referem-se ao fato criminoso: conduta, tempo do crime, lugar do crime, qualidades da vítima ou do objeto material do crime, meios de execução do crime, etc.) e de caráter subjetivo (referem-se a pessoa do criminoso).

As elementares estão disponíveis no tipo base, e as circunstâncias nos tipos derivados. De acordo com a regra do art. 30 do CP:

 Elementares e Circunstâncias de caráter objetivo sempre se comunicam no concurso de pessoas, desde que haja dolo/vontade/consciência.

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Ex. João e Marcelo mataram alguém e Eugênio colaborou vigiando o local. Neste caso a elementar objetiva “matar alguém”, comunica-se para Eugênio que não matou, mas colaborou, para que este responda no mesmo tipo penal dos demais.

 Circunstâncias de caráter subjetivo não se comunicam no concurso de pessoas.

Ex. Crime do art. 348, caput do CP. Em seu parágrafo 2º, existem circunstâncias subjetivas (qualidades do criminoso)

Digamos que o irmão do criminoso, ajuda este a fugir de uma pena de reclusão, e conta para tanto com a ajuda de um amigo seu de trabalho. A conduta do irmão e do amigo se amoldam no crime do art. 348, caput, do CP, sendo que o irmão do criminoso (circunstância subjetiva) tem direito a isenção da pena (parágrafo 2º do art. 348), o que não será estendido ao amigo que o ajudou, porque a circunstância subjetiva de um não pode se comunicar para o outro.

 Elementares de caráter subjetivo se comunicam no concurso de pessoas.

Tais elementares subjetivas (referem-se ao criminoso) e transferem-se do agente especial para o outro colaborador.

Ex. Infanticídio: A elementar subjetiva é ser mãe no estado puerperal. Caso alguém colabore com ela, terá transferida para si a qualidade de ser mãe no estado puerperal, com o fim de que em concurso de pessoas sejam responsabilizados no delito de infanticídio.

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Referências

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