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Análisis sistémico de la contribución al enfoque de la relación sociedad-naturaleza

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Academic year: 2021

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A contribuição da análise sistêmica

para a abordagem da relação

sociedade – natureza*

Análisis sistémico de la

contribución al enfoque de la

relación sociedad-naturaleza

The contribution of systems analysis

for the approach of the society-nature

Analyse systémique de la

contribution au rapport

De l’ approche société-nature

Heitor Marcos Kirsch** Décio Souza Cotrim*** Rafael Campos Vieira**** Recibido: 2010-08-20

Aceptado: 2010-11-01 Publicado: 2010-12-30

* Este trabalho é resultado das discussões e reflexões ocorridas em um grupo de trabalho composto pelos autores para apresentação em seminário temático ocorrido em Porto Alegre (Brasil) no segundo semestre de 2006.

** Sociólogo, Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS) e Docente na UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso – Departamento de Zootecnia – Rodovia BR 174 – Zona Rural – Km 209 – Caixa Postal 181 – 78250-000 Pontes e Lacerda (MT) – Brasil, e-mail: heitor.kirsch@gmail.com *** Agrônomo, Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS), Doutorando em Desenvolvimento Rural

(UFRGS) – Av. João Pessoa, 31 – 90040-000 Porto Alegre (RS) – Brasil, e-mail: deciocotrim@yahoo. com.br

**** Geógrafo, Mestre em Desenvolvimento Rural (UFRGS) e Docente na QI Escolas e Faculdades - Avenida Independência Júlio de Castilhos, 435 – 90030-131 Porto Alegre (RS) – Brasil, e-mail: vieirapgdr@ yahoo.com.br

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Resumo

Este trabalho consiste em um esforço de revisão teórica e numa análise propositiva e teleológica para uma abordagem sistêmica da relação que se estabelece entre Socie-dade e Natureza. Assim, seu objetivo é contribuir na ampliação da compreensão das vantagens e limitações em seu uso. Buscou-se identificar a partir dos seus principais marcos teóricos algumas das contribuições e limitações teóricas e os elementos analíticos que remetem a um entendimento da abordagem sistêmica enquanto um qualificador do entendimento da relação do Homem com a Natureza para os estudos em diversas áreas da ciência, sobretudo em relação aos dos seres vivos.

Palavras-chave autores: Abordagem Sistêmica; Análise Causal; Relação

Homem--Natureza.

Palavras-chave descriptores:

Resumen

Este trabajo es un esfuerzo de revisión y análisis teórico de un enfoque proactivo e intencional de una relación sistémica establecida entre sociedad y naturaleza. Por lo tanto, su objetivo es contribuir a aumentar la comprensión de las ventajas y limitaciones en su uso. Tratamos de identificar desde sus marcos teóricos y algunas de las aportaciones y las limitaciones teóricas estos elementos, en las obras que se refieren a una comprensión analítica del enfoque sistémico, como calificador de la comprensión de la relación entre el hombre y la naturaleza, de los estudios en diversas áreas de la ciencia, particularmente en relación con los seres vivos.

Palabras clave autores: Enfoque de Sistemas; análisis causal, relación

hombre--naturaleza.

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Abstract

This work is an effort to review and theoretical analysis in a proactive and purposive approach to a systemic relationship established between Society and Nature. So, your objective is to contribute in increasing the understanding of the advantages and limitations in their use. We tried to identify from its main theoretical frame-works and some of the contributions and the theoretical limitations to an analytical understanding of the systemic approach as a qualifier of understanding of the rela-tionship between Man and Nature for studies in various areas of science, particularly in relation to living beings.

Key words authors: Systems Approach; Causal Analysis, Human-Nature, Relationship. Key words plus:

Résumé

Ce travail est un effort pour l’examen et l’analyse théorique dans une approche proac-tive et téléologique à une relation systémique établie entre société et nature. Donc, notre objectif est de contribuer à augmenter la compréhension des avantages et des limites à son emploi. Nous avons essayé d’identifier à partir de ses principaux cadres théoriques et quelques-unes des contributions et les limites théoriques ces éléments, dans les œuvres qui font référence à une compréhension analytique de l’approche systémique, en tant que qualificateur de la compréhension de la relation entre l’homme et la nature, des études dans divers domaines de la science, en particulier en ce qui concerne les êtres vivants.

Mots-clés auteurs: approche systémique; analyse des causes, relation homme-nature. Mots-clés plus:

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INTRODUÇÃO

A abordagem sistêmica é uma proposta de compreensão da realidade objeti-va cuja característica marcante é seu intento em transcender as fronteiras dis-ciplinares e conceituais reducionistas da teoria cartesiana e desta forma, pos-tula que todos os elementos estabelecem vínculos entre si e seus subsistemas influenciando e sendo influenciados reciprocamente, reforçando a tendência em direção a um processo integrador. Morin (2005) acredita queum estado de interrelação e interdependência são essenciais em todos os fenômenos, desta forma, a análise sistêmica se apresenta como um novo paradigma, compreen-dido aqui com um conjunto teórico explicativo uma área científica específica, tal como compreendido por Kuhn (2000).

Nesta linha, o objetivo deste trabalho consiste em suscitar um debate sobre os avanços propostos, bem como os limites persistentes, em sua base concei-tual por este novo paradigma. Essencialmente, ele se reporta a um resgate de aspectos do pensamento sistêmico tematizados por Bertalanffy, Morin, Capra, Maturana e Varela; e traz ainda ao debate, o uso deste enfoque na análise dos problemas ambientais, com as contribuições de Almeida.

O ponto de entrada, no entanto, e que compõe a primeira parte deste tra-balho, excetuando esta introdução, é uma caracterização dos princípios que regem a “ciência moderna” e os seus desdobramentos no tocante a relação que o homem estabelece com o meio ambiente. Ela é importante no sentido de qua-lificar algumas das limitações que o paradigma atualmente hegemônico.

A segunda parte consiste na identificação de características singulares da teoria dos sistemas proposta por Bertalanffy (1973) e Morin (2005). Nela, são relatas as principais contribuições destes.

Bertalanffy defende a idéia de que é possível aspirar a identificação de prin-cípios aplicáveis aos sistemas em geral, independentemente de sua natureza. Seu objetivo consistia na construção teórica de um instrumento e fosse útil e capaz de municiar os campos científicos de modelos a serem utilizados em dis-tintas dimensões e transferidos de uns para outros, salvaguardando ao mesmo tempo o perigo das analogias vagas, que inúmeras vezes prejudicam o progres-so nesses.

É preciso frisar inicialmente que uma das grandes limitações que persistem nesta proposta é o perigo em se incorrer em reducionismos e/ou simplificações na sua aplicação empírica, resultando em análises deterministas, tal como alerta Almeida (2003).

Morin (2005), por sua vez, assinala a necessidade da incorporação de uma proposição analítica na qual o universo é fundado não em uma unidade

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indi-visível, mas em um conjunto de sistemas complexos. Todos os objetos chaves constituem sistemas. Nosso mundo organizado é um arquipélago de sistema no oceano de desordem. O ser humano faz parte de um sistema social, no seio de um ecossistema natural, que esta no seio de um sistema solar, que esta no sistema galáctico. Ele é constituído de sistemas celulares, que são constituídos de sistemas moleculares, que são constituídos de sistemas atômicos. Outro conceito resgatado do autor é que a organização e os sistemas estão ligados e conectados por inter-relações.

A terceira parte da obra se diferencia pela abordagem de sistemas mais espe-cíficos, que tem como característica que os aproxima, tratarem de seres vivos.

A contribuição importante da obra de Capra (1982) neste trabalho consiste na proposição do principio da homeostase. Segundo este, os organismos vivos possuem um estado de “não-equilibrio”, portanto, estão sempre “em ativida-de”. Estes organismos tendem a um estado de estabilidade dinâmica, um equi-líbrio dinâmico, transacional, em que existe grande flexibilidade, que são ao mesmo tempo, complementares e contraditórios, demonstrando a qualidade de equilíbrio, onde há uma espécie de fixidez, imobilidade, permanência e re-sistência e ao mesmo tempo uma flexibilidade caracterizados pela adaptação, plasticidade mobilidade e elasticidade.

Já os aportes de Maturana e Varela (1997) contribuem com a noção da au-topoiese. Este termo é utilizado para indicar a habilidade intrínseca aos seres vivos de produzirem e reproduzirem a si próprios enquanto forma de uma or-ganização e regulação. Esta característica diferencia-os dos demais sistemas, enquanto um modo de operar circular e fechado de produção de componentes que produzem a própria rede de relações de componentes que a geram. Em sua relação e interação com o meio desencadeia no ser vivo apenas mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não por um agente externo. De uma lá há portanto, a característica da reprodução, imitação, mimese e doutro, a transformação, a novidade, a inovação e a metamorfose.

A opção pela incorporação das contribuições de Almeida (2003) neste tra-balho, que compõe a terceira parte, é motivada com o intuito de promover o debate sobre o uso do enfoque sistêmico na análise dos problemas ambientais. O autor é enfático em criticar trabalhos que tem recorte reducionista, mas se revestem do manto de holístico e sistêmico para ampliar sua aceitação. Ponde-ra que a teoria sistêmica é um avanço nos estudos sobre problemas ambientais, porém carece de maior esforço na operacionalização objetiva destes conceitos. Finalmente, a quarta e quinta seções, consistem numa tentativa de estabe-lecer aproximações e evidenciar as divergências entre as formulações teóricas

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dos autores reportados, bem como as conclusões no sentido de dotar a relação sociedade – natureza de um novo instrumental analítico.

Uma contextualização inicial

A sociedade moderna tem como uma de suas características marcantes uma visão de mundo fortemente apoiada no enfoque analítico. Este surge como uma oposição à visão característica na Idade Média, de um universo orgânico, vivo e espiritual, se estabelecendo como preponderante a partir do século XVII e se consolidando efetivamente com René Descartes (1596-1650).

As principais características do método proposto por Descartes poderiam ser resumidas nos princípios da: a) Evidência – que consistia em aceitar por verdadeiro somente aquilo que pode ser comprovado e testado objetivamente; b) Redução – a necessidade em dividir o objeto em partes mais simples para o estudo; c) Causalidade – estudar um problema a partir de sua parte mais fácil de solução; e d) Exaustão – possibilidade de estudo exaustiva dos desdobra-mentos de um problema.

Neste sentido, na abordagem analítica supõe-se que um objeto complexo permite ser decomposto em elementos e que devem ser isolados, o que remete a uma disciplinaridade e linearidade crescente nas ciências e cuja validação ocorre pela prova experimental. Há, portanto, o estabelecimento de uma in-dependência entre os meios e os resultados, que se constituem como o que de fato interessa.

Em outras palavras, as partes são analisadas isoladamente, setorialmente e uma independentemente da outra, para que a sua essência seja revelada através da soma na totalidade desta, como representado na Figura 1.

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Figura 1. Representação da Dinâmica de Análise pela Abordagem Cartesiana. Fonte: Elaborado pelos autores.

A superioridade do especialista no processo de transmissão do conhecimen-to e na solução de problemas, bem como a priorização dos aspecconhecimen-tos quantita-tivos e modelos fundamentados nas ciências matemáticas, remetem há uma posição em que o conhecimento é tratado como a descoberta do que já existe

a priori, ou seja, há a busca pelo conhecimento e identificação de “leis eternas

e universais”, que tornam o comportamento previsível, objetivo. Leis estas que sejam aplicáveis universalmente, passíveis de verificação a qualquer momento e lugar.

Na medida em que se estabelece um processo de naturalização e de frag-mentação, atribui-se uma causalidade aos fenômenos à nossa compreensão do mundo, dificultando a compreensão e o tratamento de problemas globais. Dificuldades estas que se objetivam nas tentativas ineficientes de estabelecer interconexões dos problemas globais, tanto nos níveis maiores da sociedade, como no nível local e mesmo do indivíduo. Como decorrência, há um efeito desumanizaste e individualizante, em que o homem passa a se outorgar como “dono e possuidor” da natureza e que está a seu dispor.

Se as abordagens lineares e causais do método cartesiano se fundaram em mecanismos adequados e suficientes a um contexto em que as concepções de mundo postulavam a realidade como algo mecânico e previsível, a realidade objetiva na qual vivemos e com a qual nos defrontamos atualmente, é marca-damente caracterizada pelo princípio da complexidade. Morin (2003) define este princípio como sendo aquele que busca distinguir, sem, contudo separar, ao mesmo que intenciona reunir. Assim para pensar a complexidade seria

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ne-cessário adotar um conjunto de sete princípios1. Esclarece ainda que esta

for-ma de abordagem relacional dialógica, que ao mesmo tempo é complementar e antagônica, não é necessariamente uma característica da época contemporâ-nea, remetendo ao pensamento da Antiguidade, obviamente com característi-cas próprias.

A análise desta realidade exige, portanto, um caráter metodológico e um conjunto de técnicas de pesquisa distintas, o que de modo algum significa ne-cessariamente em abdicar das contribuições que a abordagem disciplinar con-vencional pode oferecer. Há, portanto, uma perspectiva em que a abordagem seja marcadamente multidimensional, e não setorial e disciplinar, ainda que se reconheça a contribuição do caráter singular que cada campo de conhecimen-to pode oferecer.

Esta característica é essencial na medida em que o uso intensivo e preda-tório dos recursos naturais ao longo dos últimos séculos pelos homens sus-citou uma conjuntura que impõe a necessidade de formulação de projetos de reconstrução e métodos de análise e interpretação diferentes e inovadores nas diversas áreas de conhecimento humano. Um atributo intrínseco destas novas propostas é a necessidade delas se caracterizarem pela multidisciplinaridade.

Ela se apresenta como uma alternativa de articulação entre os conheci-mentos científicos e não-científicos frente às problemáticas socioambientais. A multidisciplinaridade oportuniza a perspectiva de uma “retotalização” do conhecimento fracionado e segmentado, onde o todo não é simplesmente o resultado da soma de suas partes, mas em algo com características distintas.

A multidisciplinaridade, sob uma ótica sistêmica, pode passar a se estabele-cer em um artifício metodológico para a produção de conhecimentos originais, através da constituição de uma trama entre os saberes disciplinas que buscam redeterminar o próprio objeto de conhecimento. A abrangência desta ação não se restringe tão somente a integração entre sociedade e natureza, mas na aber-tura de um espaço de confluência e da hibridização entre, ciência, tecnologia e saberes para a produção de novos paradigmas e sua articulação para modificar ontologicamente a natureza e a sociedade.

Certamente que a abertura deste espaço de confluência e hibridação pode ocasionar uma relação hierarquizada e verticalizada do conhecimento. No en-tanto, tal como aponta Morin (2003), esta segunda revolução científica, a sis-têmica, é recente e inacabada e portanto, susceptível a este fenômeno, muito embora, não desejável.

A percepção da imprescindibilidade de uma forma distinta de abordagem à cartesiana se materializou a partir do início da segunda metade do século XX,

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com a emergência dos efeitos colaterais, sobretudo nas dimensões social, am-biental e política, nas mais diversas partes do mundo, provocadas, sobretudo pelo fenômeno do industrialismo que se instaurou com a Revolução Industrial no Ocidente.

Esse movimento refletiu uma situação conflituosa do pensamento civili-zatório tradicional hegemônico, quando começou a ficar evidente que seria improvável e inexeqüível uma adequação global através dos procedimentos consagrados até este momento da economia e tecnologia. E são exatamente as peculiaridades desta abordagem distinta, que passamos a caracterizar a se-guir, mesmo que de forma parcial e incompleta.

Da teoria geral dos sistemas à noção de

sistemas dentro de sistemas

Os conceitos centrais da abordagem analítica começaram a ser pontual-mente questionamentos quanto a sua validade e capacidade explicativa ao fi-nal do século XIX, entretanto uma formulação alternativa a ela toma forma conceitual somente na metade do século XX com o biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy. Os seus trabalhos iniciais datam dos anos 20 e são sobre a abordagem orgânica. Com efeito, não concordava com a visão cartesiana do universo.

Criticou a visão da crescente divisão das ciências em diferentes áreas de co-nhecimento cada vez mais específica, como na física, química, biologia, psi-cologia, etc., na medida em que princípios e conclusões de algumas ciências tem validade para outras. Propõe a idéia de que se deva estudar os fenômenos globalmente, de maneira a poder envolver todas as interdependências de cada parte com o todo, pois cada um dos elementos, ao serem reunidos para

cons-tituir uma unidade funcional maior, desenvolvem qualidades que não podem ser encontradas e percebidas em seus componentes isoladamente.

A Teoria Geral dos Sistemas proposta por Bertalanffy (1973) não busca, segundo ele, soluções práticas, mas somente teorias conceituais que possam criar condições de sua aplicação na realidade empírica.

Quanto a sua natureza, os sistemas podem ser percebidos de duas manei-ras; a) como fechados, que são os considerados como estando relativamente isolados de seu ambiente, notadamente os ligados a maquinarias e cujo esta-do final é determinaesta-do pelas suas condições iniciais, enquanto num segunesta-do tipo, b) os abertos, que são caracterizados por um contínuo fluxo de entrada e de saída de energia, matéria e informações, portanto num processo de inter-câmbio infinito com o ambiente e diferentemente dos sistemas fechados, seu

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estado final pode ser atingido por condições iniciais e de maneiras distintas, sendo que os sistemas vivos são uma de suas referências.

A comunicação e a organização dos/nos sistemas são conceitos igualmente centrais na proposição teórica de Bertalanffy (1973) e na compreensão do que chamou de complexidade organizada. Na medida em que poderíamos sinte-tizar sua formulação de sistema como sendo um conjunto de elementos in-terligados para formar um todo e que possui propriedades e características próprias, que não são encontradas em nenhum dos elementos tomados isola-damente, assim, formando um conjunto de objetos unidos por alguma forma de interação ou interdependência e cujas unidades são reciprocamente organi-zadas e relacionadas, há a necessidade um princípio organizativo e comunica-ção em todos os sistemas.

Assim, para ele, sistemas existem dentro de sistemas e cujas funções depen-dem essencialmente de sua estrutura, cuja constituição pode ser distinguida entre os de ordem físicos ou concretos (objetos, coisas reais) ou ainda os abstra-tos ou conceituais (conceiabstra-tos, planos, idéias), o que se certa forma o aproxima da concepção desenvolvida por Edgar Morin.

Concebeu o modelo de sistema aberto, definido como um complexo de ele-mentos em constante interação e intercâmbio com o ambiente externo, onde seus componentes constantemente inflenciam, assim como são inflenciados pela caracterização deste sistema, endogenamente e exogenamente.

Morin (2005) por sua vez amplia este conjunto de noções. Ele se posiciona como um crítico da ciência reducionista, pois ela nos retira a idéia sistêmica da vida. Cita, por exemplo, que a química isolou os elementos químicos cons-tituintes do objeto e desta forma criou a idéia de que o átomo é formado de partes indivisíveis e suas composições formam toda a matéria.

Para Morin, esta visão reducionista foi abalada pela descoberta de que o átomo não é mais a unidade primária e indivisível, mas na verdade ele é um sistema constituído de partículas em interação mútua. O átomo é considerado um campo de interações específicas e para defini-lo é preciso apelar para as interações que das quais ele participa e para as que tecem a organização deste átomo. Desta forma o universo é fundado não em uma unidade indivisível, mas em um sistema complexo.

Segundo Morin (2005) novamente, a partir da idéia de sistema complexo, pode-se dizer que todos os objetos chaves constituem sistemas. Nosso mundo organizado é um arquipélago de sistemas no oceano de desordem. O ser hu-mano faz parte de um sistema social, no seio de um ecossistema natural, que esta no seio de um sistema solar, que esta no sistema galáctico; ele é constituído

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de sistemas celulares, que são constituídos de sistemas moleculares, que são constituídos de sistemas atômicos.

Ele considera a “Natureza” como sendo a solidariedade de sistemas emba-ralhados edificando-se uns sobre os outros. A “Natureza” são os sistemas de sistemas em série, em galhos, em pólipos, em cascata, em arquipélagos. A vida é um sistema de sistemas, tal como representado na Figura 2 abaixo.

Figura 2. Representação da análise dos sistemas de Edgar Morin.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Um conceito reforçado pelo autor é o de organização. Este é considerado

como sendo o encadeamento de relações entre componentes ou indivíduos que produz uma unidade complexa. A organização transforma, produz, religa e mantém.

Os conceitos da organização e sistema estão ligados pelas inter-relações, desta forma toda inter-relação produz um caráter organizacional e produz um sistema. Os três termos são inseparáveis, porém a idéia de inter-ralação remete a forma da ligação entre indivíduos e o todo; a idéia de sistema remete a unida-de complexa da inter-relação; e a idéia unida-de organização remete a disposição das partes dentro do todo.

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Do princípio de homeostase de Fritjof Capra à

noção de autopoiese de Maturana e Varela

Capra propõe o enfoque sistêmico como um novo paradigma onde a visão transcenda as fronteiras disciplinares e conceituais (típicas do mecanicismo de Newton), criando uma consciência do estado de inter-relação e interdepen-dência essencial em todos os fenômenos físicos, químicos, biológicos, sociais e culturais. Sugere que pensemos em uma “biologia de sistemas” encarando os organismos não como máquinas, mas como um sistema vivo.

A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e de integração. Os sistemas são integrados. A atividade dos sistemas envolve um processo de “transação” como sendo a interação simultânea e mutuamente interdependen-te entre múltiplos componeninterdependen-tes.

Na teoria geral dos sistemas (Bertalanffy, 1973) é enfatizada muito mais a relação do que as entidades isoladas. O pensamento sistêmico é o pensamento no processo, a forma torna-se associada ao processo, e os opostos são unifica-dos através da oscilação. O autor salienta que os “reducionismos” são impor-tantes no entendimento de alguns casos, mas são perigosos como explicação completa. Desta forma, o reducionismo e holísmo são enfoques complemen-tares.

Através do enfoque cartesiano a interpretação do mundo fica exemplificada por uma máquina como um relógio, por exemplo, onde a estrutura é determi-nante, existe um número definido de peças e o funcionamento é dado por uma cadeia linear de causa-efeito.

No enfoque sistêmico do mundo, ele é visto como constituído por orga-nismos vivos, nos quais suas estruturas orgânicas determinam o processo, e onde existe um grau de flexibilidade e plasticidade internas, e são guiados por modelos cíclicos e muitas vezes variáveis.

Capra acrescenta a esta abordagem a proposta do principio da auto-regu-lação nos organismos vivos, onde a plasticidade e a flexibilidade internas são controladas por relações dinâmicas e geram propriedades características como a “auto-renovação”, que é capacidade de renovar e reciclar, e a “auto-trans-cendência”, que a capacidade de dirigir-se para além das fronteiras físicas do aprendizado.

Os organismos vivos dentro do processo de metabolismo possuem um esta-do de não-equilíbrio, de estar sempre ‘em atividade’. Os organismos tendem a estar em estabilidade, porém uma estabilidade dinâmica. Desta forma, o con-ceito de homeostase proposto por Capra (1992) é um equilíbrio dinâmico e

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transacional, em que existe grande flexibilidade. Algo próximo como represen-tado na Figura 3 a seguir.

Figura 3. Representação da abordagem sistêmica de Fritjof Capra. Fonte: Elaborado pelos autores.

Para este autor, os sistemas organismos são capazes de três tipos de adapta-ções ao meio ambiente, sendo elas: a) A mudança ambiental que ocorre em um processo de pequena variação ambiental; b) a mudança fisiológica que ocorre para restabelecer flexibilidade; e c) a mudança somática como sendo a mais profunda e duradoura.

Pondera que a teoria sistêmica é centrada na dinâmica da auto-transcen-dência. Como exemplo, se imaginarmos que em um dado momento um siste-ma estiver em homeostase, quando ocorrer usiste-ma perturbação haverá a tendên-cia da manutenção da estabilidade por mecanismo de realimentação. Porém, se a perturbação for forte, acima da capacidade de resiliência do sistema, este

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buscará um novo patamar de estabilidade, uma estrutura nova, e outra home-ostase será alcançada.

O meio ambiente é em si um sistema vivo capaz de adaptação e evolução. Propõe um foco na co-evolução entre organismo e meio ambiente. O reforço interno as flutuações e o modo como o sistema atinge o ponto crítico ocorrem aleatoriamente e sua decisão para onde ir é aleatória. Desta forma a evolução não é linear, mas aberta e indeterminada.

Já o foco de análise de Maturana e Varela suscitam uma reflexão inicial so-bre o que há de comum em todos os sistemas vivos que permite identificá-los como tal, e, portanto, como distintos dos demais sistemas. Num sentido mais amplo, seus questionamentos consistem na tentativa de perceber característi-cas visando responder ao questionamento: “O que é afinal de contas um ser vivo?”

Suas formulações teóricas apontam para necessidade na compreensão de que os seres vivos têm uma condição de entes separados, autônomos, que exis-tem como unidades independentes, que se auto-reproduzem e auto-renovam, e que assim, são portadores de uma autonomia enquanto sistema.

A dinâmica destes sistemas, independentemente de sua natureza, quer seja ela interna ou relacional, tem como peculiaridade de se referirem como uni-camente a eles mesmos, na realização de si mesmos, ou seja, operam como sis-temas auto-referidos, onde tudo o que lhes acontece tem lugar neles mesmos.

Assim, a existência de um “ser vivo” se processa em duas dimensões, quais sejam: a) no seu operar como totalidade em seu espaço de interações como a totalidade e; b) no seu operar de seus componentes em sua composição, sem fazer referência à totalidade que constituem, que é o espaço onde se constitui, de fato, o ser vivo como sistema vivente.

O estabelecimento da distinção entre o que identificaram como sistemas auto-referidos, que consistem em sistemas nos quais seu operar somente faz sentido em relação a si mesmos, e sistemas alo-referidos, que caracterizam como sendo os que fazem sentido somente em relação a um produto ou algo distinto deles, tais como os elaborados pelos seres humanos, remetem a no-ção de que os seres vivos passam a serem entendidos, portanto, como entes autônomos e auto-referidos, onde o primordial não são as propriedades dos componentes deste “ser vivo” tomado individualmente, mas os processos e as relações que se estabelecem entre os processos realizados através de seus com-ponentes, definição que os aproximam da noção de aprendizado, desenvolvida por Capra.

Possivelmente a idéia central destes seja a introdução da idéia de “autopoie-se” como uma forma de organização sistêmica, onde os sistemas produzem

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e substituem seus próprios componentes, numa contínua articulação com o meio. Não somente estabelecem, mas também mantém uma fronteira que, si-multaneamente, os separa e conectam com o meio ambiente, entendidos assim como sistemas fechados.

Os seres vivos são, a partir deste entendimento, sistema autopoiéticos mole-culares, cuja classificação pode estruturada em sistemas em três ordens gerais, sendo que as células compõem os de primeira, e que existem, portanto, dire-tamente como sistemas autopoiéticos moleculares, os organismos, enquanto agregados moleculares, constituídos assim como de segunda ordem, e final-mente os de terceira, onde se incluem a família ou um sistema social, enquanto um agregado de organismos. Portanto, sua base de análise se dá a partir do sistema celular, já que este é o sistema autopoiético elementar dos seres vivos.

Assim os seres vivos realizam-se enquanto sistemas autopoiéticos molecula-res distintos, cuja dinâmica molecular da “autopoiese” ocorre, como fenômeno espontâneo, onde os processos moleculares acontecem numa determinação es-trutural local sem nenhuma referência a totalidade que constituem. Colocado que forma distinta, a existência dos seres vivos se dá no âmbito da dinâmica corporal e na dinâmica das relações com o meio que se inter-relacionam mutu-amente. Os seres humanos são uma exemplificação de sistemas autopoiéticos, na medida em que se reproduzem numa co-evolução contínua com o meio, assim as pessoas respondem às mudanças do ambiente e este responde à inter-venção humana.

Sistemismo: uma pretensa aplicação

científica da abordagem sistêmica

Tal como já alertado anteriormente, no processo de uma aproximação entre o arcabouço teórico e a experiência prática, há inúmeras evidências empíricas que se revestem enquanto reflexões sob o foco de um enfoque sistêmico, mas notadamente reducionistas e deterministas.

Almeida (2003) sugere a necessidade de uma reflexão sociológica do uso desta abordagem e do método, sobretudo nas ciências sociais e agrárias, in-tencionando superar os resultados que se apresentam como simplificadores e redutores da realidade social, o que não corrobora como um conjunto teórico alternativo e de oposição principalmente às abordagens de cortes analíticos cartesianos, tal proposto pelos seus formuladores e apresentado pelos autores deste trabalho.

Sugere ainda que o uso desta abordagem tende a conduzir os trabalhos a acepções de pouco rigor do ponto de vista teórico metodológico e cientifico,

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assim como tem colaborado para a criação de uma metáfora sistêmica, auto--explicativa e pretensamente portadora da chave para a compreensão do que os usuários julgam mais adequados da complexidade do real. Almeida (2003) define este fenômeno como “sistemismo”, e que difere sensivelmente dos prin-cípios da abordagem sistêmica

Outro aspecto ressaltado pelo autor refere-se ao fato de que são muito co-muns análises baseadas em no máximo duas disciplinas, no caso apontando a aspectos relacionados à economia e a agronomia, que visam determinar ou explicar o social por meio de instrumentos quantitativos, como por exemplo, modelos e simuladores para a tomada de decisão.

Percebe-se assim, a influência de reflexos estruturais funcionalistas na bus-ca em descobrir a coerência dos sistemas, confirmando uma tendência redu-cionista, revestida de sistêmica. Tal fato pode ser observado no momento em que aspectos de caráter não técnicos, como a forma de ocupação do espaço e a heterogeneidade social não são levadas em conta, dando ao técnico produtivo uma importância que isoladamente ele não possui.

No tocante ao confronto com o saber científico, o uso de tal abordagem contribuiu para o surgimento do fenômeno intitulado de populismo científi-co, segundo Almeida (2003)2. Tal fenômeno relacionou-se intimamente com o

advento dos movimentos de valorização do alternativo, que possuía como pre-dicados negativos uma tendência à idealização da figura do agricultor, ou em suas palavras, considera “(...) o termo populismo na sua acepção propriamente sociológica, ou seja, concebido como um certo tipo de relação social (ideoló-gica, moral, científica, política) ligando os intelectuais ao “povo”.” (Almeida, 2003, p. 49)

Para o autor, a abordagem sistêmica deve direcionar os agentes que a usam, no sentido de se construir novos saberes, a partir de um viés multidisciplinar como forma de se sair daquela proposta reducionista, que o discurso da análi-se sistêmica às vezes encobre, decorrendo em inúmeras vezes, numa apreensão compartimentada da realidade.

Almeida (2003) afirma que não obstante as suas críticas à forma como o método têm sido utilizado, reconhece as virtudes deste e propõe metas que devem ser alcançadas no aprimoramento na forma do uso desta abordagem, dentre as quais pode-se apontar: a) Ampliação do foco de análise para além do sistema de produção; b) Considerar a exigência multidisciplinar da investi-gação e da reflexão sobre o tema tratado; c) Despir-se do pensamento de que a

2 O autor faz referência à análise, segundo ele, descritiva e normativa em Silva Neto e Basso (2005) e suas conclusões restritas a uma perspectiva “economicista” do desenvolvimento rural.

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realidade social é um sistema que determina e é determinado por dinâmicas mais ou menos conhecidas e esperadas, portanto, determinada.

Aproximações e inflexões analíticas

Inicialmente é importante destacar que os elementos argumentativos apro-priados no conjunto deste trabalho não se constituem em uma tentativa de negação quanto a validade e a utilidade da racionalidade cientifica cartesiana, mas, tão somente realçar que os parâmetros que ela oferece, não são suficientes e muitas vezes inadequados, para uma concepção apropriada no desenvolvi-mento do homem e na análise de sua relação com o ambiente

Uma das aproximações importantes que todos os teóricos aqui abordados estabelecem entre si, incide no fato de considerarem os componentes sistêmi-cos não essencialmente como “objetos”, unicamente dotados de característi-cas físicaracterísti-cas ou materiais. O primordial consiste na percepção de seus processos inter-relacionais. Há, portanto, a opção por um deslocamento, qualitativo, em termos analíticos, privilegiando as relações e os processos.

Muito embora existam princípios gerais que orientem a natureza desta for-ma de abordagem de ufor-ma for-maneira em geral, obviamente, assim como cada sistema apresenta elementos e características peculiares, únicas, tornando-o irreproduzível na composição de suas partes, os autores abordados também são marcados por esta característica, sobretudo quando há a pretensão em se discutir a relação que o homem estabelece com os recursos naturais.

Assim, a contribuição inicial oferecida por Bertalanffy para esta temática, apóia-se primordialmente em ter percebido a necessidade de uma abordagem interdisciplinar de fatos que se apresentam tipicamente multivariáveis, e que em decorrência disso, assumem características específicas, decorrentes de sua forma de organização. Consequentemente, não abordáveis pelo método cientí-fico tradicional de isolar e manipular as variáveis.

Uma segunda contribuição desta está na intenção de conceber modelos e identificar princípios gerais que pudessem ser aplicáveis a sistemas de qualquer natureza, indo além de vagas analogias ou adaptações conceituais de uma área de conhecimento para outra, igualmente comuns nesta época.

A contribuição que Morin possibilita neste debate, apóia-se na inclusão da noção de complexidade, conduzindo a uma abordagem onde a “natureza” e a “vida” são marcados como sendo sistemas de sistemas em série. Esta caracte-rística é importante porque rompe com a noção de sistema fechado, presente no pensamento de Bertalanffy, principalmente quando aplicado no estudo de sistemas vivos. Assim, independentemente do nível, todos os sistemas se

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inter-relacionam e de certa forma, se interconectam. Esta visão é formidável na medida em que permite a abordagem do meio ambiente ligando os aconteci-mentos, fatos ou fenômenos locais aos globais, ou mesmo extrapolando estes níveis.

Capra por sua vez, aponta na direção de outro conjunto de elementos singu-lares na análise da dinâmica da natureza que são os princípios de auto-regu-lação nos seres vivos Para ele, estes sistemas, diferentemente da concepção dos demais autores, são dotados de uma plasticidade e flexibilidade internas e são controladas por relações dinâmicas que resultam em características como a capacidade de renovar-se e reciclar-se, possibilitando outra singularidade que é a habilidade de dirigir-se para além das fronteiras físicas do aprendizado.

Os sistemas vivos possuem outra característica especial identificada por Ca-pra, e que por conseqüência, os distinguem dos sistemas mecânicos, é o fato de apresentarem invariavelmente um estado de não-equilíbrio, de estarem sem-pre em atividade, decorrente dos movimentos de metabolismo. Este princípio é semelhante, muito embora não idêntico ao da homeostasia apontado por Maturana e Varela.

Para eles, há um equilíbrio dinâmico entre as partes do sistema que estes têm inerentes a si, mas dotados de uma tendência a se adaptar, objetivando alcançar um equilíbrio interno, em face das variações externas do meio am-biente. Ou seja, quando os estímulos de elementos externos forçam as variáveis a adotarem valores que ultrapassem os limites da normalidade, quer sejam eles produzidos pelo homem ou não, os sistemas têm a capacidade manter e resta-belecer certas variáveis, dentro de limites toleráveis.

Este conjunto de características, complementares em vários momentos, mas igualmente refratários e até mesmo excludentes em outros, tem propicia-do à abordagem sistêmica uma condição heurística peculiar. É justamente esta condição que motiva as reflexões de Almeida, incorporadas precisamente por este motivo a este trabalho.

As distorções no uso de seus princípios enquanto ferramenta de análise na realidade empírica tem evidenciado distorções inquietantes merecedoras de atenção, como aponta Almeida, colaborando assim para a criação de uma me-táfora sistêmica, supostamente auto-explicativa.

Esta característica, possivelmente segundo ele, é proveniente do freqüente uso meramente instrumental deste enfoque na abordagem e intervenção em-pírica da realidade, destituído de um acompanhamento analítico de cunho teórico-científico.

Almeida aponta que esta característica tem subtraído justamente o cará-ter multidisciplinar na sua aplicação prática, um dos aspectos mais invocados

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pela grande maioria dos teóricos sistêmicos, levando novamente a uma análise reducionista e determinista, só que recoberto com o manto de sistêmica.

Este fato suscitado por Almeida é especialmente relevante quando se perce-be a real importância na presente discussão na relação que o homem estaperce-belece com o uso dos recursos naturais, sobretudo na atualidade.

Muito embora não consista do objetivo central deste trabalho, é importante identificarmos algumas vertentes contemporâneas, mesmo que de forma par-cial. Janssen et al. (2006), assinalam que os modelos formais utilizados para o estudo da resiliência e na relação que acontecem entre os sistemas sociais e ambientais, têm se caracterizado pelo fato de não haver uma inclusão explícita de características estruturais importantes destes tipos de sistemas.

Para superar esta limitação eles propõem a perspectiva de rede na sua aná-lise. Este fato, segundo estes, permite focar melhor a estrutura de interações entre os componentes identificáveis do sistema. Essa perspectiva de rede pode ser útil para o desenvolvimento de modelos formais e comparar estudos de caso de sistemas sociais e ecológicos.

Identificam essencialmente três tipologias de redes que denominam socio--ecológicas:

ƒ Os ecossistemas que estão conectados por pessoas por meio de fluxos de informações ou materiais;

ƒ Redes de ecossistemas que estão desconectados e fragmentados pelas ações das pessoas, e

ƒ Redes ecológicas artificialmente criadas pelas pessoas.

Cada um desses três arquétipos de rede obviamente se depara com proble-mas distintos que influenciam a resposta na medida em que há uma adição ou remoção de conexões, afetando assim a sua coordenação. As conseqüências desta característica apontam eles, é que as propriedades estruturais dos siste-mas são dependentes do contexto, e estaríamos tão somente na fase inicial em desvendar os seus detalhes.

Há, no entanto duas limitações que precisam ser superadas para que a abor-dagem na perspectiva de rede possa se torna realmente útil no estudo da rela-ção entre o homem e a natureza.

A primeira reside na necessidade de um levantamento sistemático com a identificação e caracterização de diferentes estudos de caso utilizando ao lon-go do tempo com esta abordagem. Já a segunda, está no fato de que novas cole-tas sistemáticas de dados desta natureza são necessárias para se chegar a uma compreensão aproximada da importância esperada de várias características das estruturas de rede.

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Walker, Gunderson, Kinzig, Folke, Carpenter e Schultz (2006) propõem como ponto de partida um conjunto de proposição intencionando justamente testar a aplicabilidade compreensão conceitual das mudanças que ocorrem em sistemas sócio-ecológicos complexos. Sugerem que os sistemas sócio-ecológi-cos não podem ser compreendidos como sendo seres humanos incorporados em um sistema ecológico, nem tampouco os ecossistemas integrados em sis-temas humanos (Westley, Carpenter, Brock, Holling & Gunderson, 2002), mas sim uma coisa completamente diferente. Uma dificuldade é que, embora os componentes sociais e ecológicos sejam identificáveis, eles não podem ser facil-mente analisados tanto para propósitos analíticos ou práticos.

Análise das contribuições da análise sistêmica

pra pensar a relação sociedade-natureza

Ao longo do trabalho, o que se buscou identificar como eixo central na abor-dagem teórica dos pensadores da análise sistêmica é o “problema fundamental do valor da ciência em geral e particularmente das ciências sociais e do com-portamento” [na medida em que] “as realizações da física são usadas para uma destruição cada vez mais eficiente.” (Bertalanffy, 1973, p. 79).

A abordagem analítica cada vez mais se apresenta limitada para o enten-dimento de uma realidade, que por sua vez, se configura continuamente mais complexa e imprevisível (Morin, 2005). O ser humano, continuamente sendo colocado como desvinculado em sua relação frente à natureza, em que cada vez mais é limitado no entendimento da sua interdependência com esta, acaba por colocar a sua própria sobrevivência como ente em risco.

O objetivo central deste trabalho consiste em incitar, mesmo que maneira parcial, a compreensão de como a analise sistêmica pode contribuir para uma nova reflexão a respeito da relação sociedade e natureza. O estudo das relações que se estabelecem entre sociedade, desenvolvimento e meio ambiente, tem merecido atenção especial, na medida em que o paradigma da confiança no progresso técnico e na racionalidade científica, enquanto elementos suficientes para a explicação e superação das problemáticas, inclusive as sociais, começam a sofrer um movimento mais articulado de crítica, reflexão e contestação, ma-terializada sob a forma do paradigma sistêmico.

Os princípios do paradigma cartesiano demonstraram sua utilidade para propor soluções das dificuldades encontradas numa sociedade distinta da con-temporânea, na medida em que seu foco estava essencialmente voltado a redu-zir os fenômenos ou objetos complexos, em simplificados. Não se pode ignorar que a ciência moderna mudou a concepção e a relação que o homem estabelecia

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com a natureza, na busca de formular leis universais, simples e imutáveis que dessem conta de explicar fenômenos naturais.

No entanto, é preciso que se perceba é uma necessidade crescente na consi-deração das inter-relações e interdependências nos diversos setores e áreas, tal como representado pela Figura 4.

Figura 4. Representação da Dinâmica de Análise pela Teoria dos Sistemas Fonte: Elaborado pelos autores.

A incorporação do princípio da multidisciplinaridade passa desta forma, a ser uma noção balizadora importante na abordagem e estudos das relações que se estabelecem entre desenvolvimento e meio ambiente.

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Referências

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Westley, F., Carpenter, S. R., Brock, W. A., Holling, C. S. & Gunderson, L. (2002). Why systems of people and nature are not just social and ecological systems. In L. H. Gunderson & C. S. Holling (Eds.), Panarchy: Understanding transformation. Human and natural systems (pp.

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